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A REINVENÇÃO DO AUTOMÓVEL

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A REINVENÇÃO DO AUTOMÓVEL��
Resumo
Em 1886, Karl Benz rodou na Alemanha no primeiro automóvel movido a gasolina. A inovação deu origem a um ramo de negócios que seria chamado de “a indústria das indústrias”. Em 2002, a General Motors apresentou no Salão do Automóvel de Paris seu protótipo operacional de um automóvel movido a hidrogênio. A economia do hidrogênio dava seus primeiros passos, enquanto a era do petróleo chegava ao fim.
O automóvel a gasolina
Cerca de 100 anos depois do passeio de Benz, havia cerca de 500 milhões de automóveis no planeta. Em 1997, o número era quase 700 milhões. Previa-se que haveria cerca de 800 milhões em 2003. Em 2020, o número de veículos poderia crescer para 1,1 bilhões, se 15% dos habitantes do planeta pudessem ter um automóvel. No final do Século XX, das 50 maiores empresas do setor de transformação, em todo o mundo, 13 eram empresas automobilísticas, que empregavam 2,5 milhões de trabalhadores. Outros 7,5 milhões de trabalhadores estavam empregados nos demais segmentos da cadeia produtiva (postos de serviços, oficinas mecânicas e nos fornecedores da indústria automobilística). Apesar desses números, a indústria automobilística estava em uma encruzilhada.
O mercado havia parado de crescer, enquanto a capacidade de produção se expandia. As fábricas operavam apenas 70% de sua capacidade. A população envelhecia e a taxa de crescimento populacional diminuía, principalmente nos Estados Unidos, Europa e Japão, onde rodavam 75% de todos os automóveis. A expansão do mercado dependeria dos países emergentes. As empresas automobilísticas esperavam que 60% do crescimento nas vendas de carros novos, nos próximos 10 anos, ocorressem na China, Brasil, Índia, Coréia, Rússia, México, Polônia e Tailândia.
Problemas como o custo da infra-estrutura viária, a poluição atmosférica e sonora, a ocupação do solo, os acidentes e congestionamentos passaram a ser apontados como custos sociais que obscureciam os benefícios econômicos do automóvel e da indústria automobilística. Em um estudo de 1996, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos afirmava a respeito do automóvel: “É um grande consumidor de uma fonte crítica e limitada de energia fóssil, em muitos países é o principal responsável pelo efeito estufa provocado pelo homem, traz grande quantidade de chumbo ao contato humano, é a principal causa da névoa urbana, é barulhento e congestiona as cidades, e suas fábricas produzem uma série de emissões, incluindo as produzidas por minas e usinas siderúrgicas e até a pintura dos veículos.”
Apesar de as empresas fabricantes haverem conseguido cortar a emissão de poluentes em mais de 90%, a produção continuada de monóxido de carbono continuava a preocupar, por causa de seu impacto negativo sobre o clima do planeta. Diversos países haviam criado restrições para a emissão de poluentes. Em 2001, o governo da Califórnia aprovou uma lei que obrigava os veículos a ter emissão zero de poluentes em 2003.
Nos Estados Unidos, ocorriam 2 milhões de acidentes com veículos, dos quais 45 mil produziam vítimas fatais. No Brasil, os custos com acidentes alcançavam 5 bilhões de dólares em 2002.
Os executivos das empresas automobilísticas afirmavam que muitos dos problemas do automóvel dependiam de outros e não deles. Por exemplo: os motoristas poderiam ser mais responsáveis, dirigindo com cuidado para evitar acidentes e usando racionalmente o combustível; os gestores dos sistemas viários poderiam trabalhar para reduzir congestionamentos.
O fim do petróleo
O principal problema do automóvel a gasolina, no entanto, era o próprio suprimento de gasolina. No final do Século XX, 98% da energia usada para movimentar automóveis vinham do petróleo. Aproximadamente 2/3 do petróleo importado pelos Estados Unidos eram usados nos transportes. A maior parte do petróleo era produzida pelo Oriente Médio, uma região problemática. 
Em 2003, restavam 35 anos de petróleo barato, talvez não mais que 20 anos. No México, o limite chegaria em 2010 e esse país transformar-se ia de exportador em importador. Inevitavelmente, o preço do petróleo subiria. As empresas petrolíferas já se preparavam para um futuro sem petróleo. Empresas como a Shell e a Exxon tinham cedido sua liderança na produção do petróleo para empresas estatais de países como Venezuela, Brasil e Noruega. Sua estratégia havia mudado, da produção para o refino, a distribuição e a venda em postos de gasolina. A Shell e a BP, sabendo que poderiam ter o mesmo papel em um novo cenário, já tinham investido centenas de milhões de dólares na tecnologia de produção e armazenamento de hidrogênio. (BP, a British Petroleum, havia mudado seu nome para Beyond Petroleum, que significa Além do Petróleo.)
O automóvel a hidrogênio
Em contraste com esse cenário, o motor a hidrogênio prometia um futuro livre de poluição, do barulho e da dependência do petróleo do Oriente Médio. Empresas de energia e praticamente todos os fabricantes de automóveis trabalhavam para desenvolver o hidrogênio como fonte de energia. Os motores a hidrogênio usam as células de combustível, que são pilhas elétricas de carregamento renovável. As células convertem os elétrons do hidrogênio em eletricidade para movimentar o veículo. Os íons restantes do hidrogênio são combinados com o oxigênio, para produzir apenas vapor de água, em vez dos poluentes do motor a gasolina. A idéia básica para a produção de células de combustível já existia em meados do Século XIX. No começo da década de 1960, a General Electric construiu um protótipo operacional. Cerca de 60% da energia produzida pelas células são usados para movimentar o veículo, em contraste com a eficiência máxima de 30% conseguida no motor a gasolina. 
No início do III Milênio, veículos experimentais a hidrogênio (como ônibus e veículos de serviços de algumas municipalidades) já rodavam em muitos lugares. A cidade de Los Angeles alugou da Honda cinco modelos para teste. A União Européia pretendia substituir 20% da gasolina até 2020 e incentivar o desenvolvimento da tecnologia do hidrogênio. Em 2002, a General Motors apresentou um modelo com inovações que poderiam tornar-se o padrão da indústria automobilística do futuro.
O produto que o consumidor poderia comprar era um chassis com as células de combustível. Qualquer carroceria poderia ser colocada em cima do chassis. O número de células de combustível poderia variar, dependendo da necessidade de energia de cada veículo, não sendo mais necessário fazer um motor específico para cada tipo de veículo. 
Para guiar, frear, acelerar e desempenhar outras funções na condução do automóvel havia sistemas eletrônicos, comandados por software. No futuro, quando o carro se popularizasse, o software teria que ser periodicamente renovado. Sem o pesado motor a gasolina e sem os elementos mecânicos, e com o conceito da carroceria substituível, os fabricantes ficariam livres para criar modelos totalmente novos, que custariam muito menos para desenvolver, uma vez que as partes do veículo seriam projetadas independentemente. Não seria mais necessário projetar o veículo completo. 
A possibilidade de trocar o chassis ou os demais módulos substituiria a necessidade de trocar de carro periodicamente. Financiamentos de longo prazo tornariam essa tecnologia acessível mesmo às classes de baixa renda.
O carro era uma usina móvel de energia. Quando parado, poderia ser usado como fonte de energia. Os proprietários poderiam conectá-los a suas casas para usar sua eletricidade. À noite, com os proprietários dormindo, os carros continuariam produzindo energia elétrica e realimentando a rede. Se todos os carros dos Estados Unidos fossem movidos a células de combustível, e se 25% deles fossem conectados à rede de energia, não haveria necessidade de usinas geradoras. A geração de energia seria totalmente descentralizada. As empresas vendedoras de energia elétrica já tinham percebido esse futuro.
A Internet seria o mecanismo de comando e controle para reorganizar todas as redes
de energia do mundo em apenas uma. O excedente de energia gerado pelas pessoas seria enviado pelo software da rede para qualquer lugar, em tempo real. Um estudo de uma empresa de consultoria previa que esse seria um ramo de negócios de 1,7 trilhão de dólares no ano 2020.
Quando os automóveis a hidrogênio se tornassem comuns, seriam necessários 20 anos para que toda a frota de automóveis a gasolina fossem completamente substituídos.
A reinvenção dos negócios
O automóvel a hidrogênio provocaria a invenção de diversos ramos de negócios: a própria indústria automobilística, o comércio de peças de reposição e a produção de energia. No entanto, a disseminação do automóvel a hidrogênio esbarrava em algumas dificuldades. A principal era a falta de suprimento da matéria prima. A indústria do hidrogênio precisaria ser inventada.
Diversas possibilidades estavam sendo consideradas. O hidrogênio já era produzido industrialmente pelas próprias refinarias de petróleo, que poderiam ser convertidas em plantas de uma nascente rede de distribuição da nova matéria prima. A General Motors planejava uma estratégia de transição. A idéia era vender geradores de energia movidos a hidrogênio para residências e empresas. Quando se popularizassem, esses geradores poderiam ser usados para fornecer hidrogênio aos veículos.
A Islândia pretendia ser o “Iraque do hidrogênio”, vendendo a matéria prima para a Europa e os Estados Unidos. A Islândia tem uma geologia singular e é uma usina feita pela natureza. A água quente corre pelo solo vulcânico, sendo usada para gerar eletricidade fornecida a 90% das edificações em sua capital. O vapor produzido pela água quente pode gerar eletricidade suficiente para movimentar máquinas que separam o hidrogênio. Em seguida, o hidrogênio pode ser comprimido, engarrafado e usado para movimentar células de combustível. Em 2000, a Islândia anunciou que se tornaria o primeiro país livre do petróleo no mundo.
No início de 2003, a empresa de planejamento Global Business Network (www.gbn.org) formulou um plano de 10 anos para viabilizar uma economia do hidrogênio, que livrasse os Estados Unidos da dependência do petróleo importado. O plano tinha cinco pontos e custaria 100 bilhões de dólares, equivalentes ao mesmo valor gasto pelo programa que havia colocado um americano na Lua na década de 1960.
Os cinco pontos da Global Business Network eram os seguintes:
Resolver o problema do tanque de hidrogênio. Havia diversas alternativas para armazenar e transportar o hidrogênio, mas as empresas não conseguiam estabelecer um padrão.
Estimular a produção em massa de veículos movidos a hidrogênio. Os fabricantes deveriam ser financiados e apoiados no desenvolvimento dos motores e veículos.
Converter a infra-estrutura do abastecimento de veículos para o hidrogênio. Uma rede de postos de hidrogênio teria que ser construída. A rede de distribuição de gás natural poderia ser modificada para transportar hidrogênio, que chegaria diretamente às residências. Em seguida, geradores de eletricidade movidos a hidrogênio poderiam ser vendidos para empresas, lares, hospitais e centros de processamento de dados. A eletricidade excedente, produzida por esses geradores, poderia ser vendida de volta ao sistema de distribuição de energia.
Aumentar a produção de hidrogênio. Há várias fontes de hidrogênio, “sujas” (como gás natural e gasolina) e “limpas” (como energia produzida por hidrelétricas e reatores nucleares de nova geração), que poderiam ser usadas para fazer a separação do hidrogênio da água.
Fazer uma campanha promocional para vender a idéia da economia do hidrogênio. Uma campanha publicitária muito vigorosa seria necessária para convencer os políticos e as pessoas a aderir à era do hidrogênio.
Questões
Quais são os principais problemas (como a falta de petróleo) enfrentados e provocados pelo automóvel, no limiar do III Milênio? Desses problemas, quais continuarão a existir em uma era do hidrogênio? Qual sua proposta para resolvê-los?
Avalie o plano da Global Business Network para viabilizar a economia do hidrogênio, apontando seus pontos fortes e fracos.
Suponha que você fosse integrante de um grupo de estudos, no qual estivessem pessoas do governo (federal, estadual e municipal), das empresas automobilísticas, de organizações de defesa do ambiente e outras instituições à sua escolha. Quais seriam seus planos para viabilizar a era do hidrogênio?
Quais seriam seus planos se você fosse executivo de uma empresa de energia elétrica? E se você fosse executivo da indústria petrolífera? Como você viabilizaria seus planos?
À sua escolha, analise um outro aspecto da transição da era do petróleo para a era do hidrogênio, que envolva conceitos e técnicas de administração de empresas. Por exemplo: o impacto do comportamento das pessoas sobre a degradação do meio ambiente, a reorganização dos departamentos de design das montadoras e assim por diante. 
� Fontes: (1) Vehicle of Change, Lawrence D. Burns, J. Byron McCormick, Christopher E. Borroni-Bird, Scientific American, October 2002, páginas 40-49. (2) Adeus, petróleo. Entrevista de Jeremy Rifkin a AméricaEconomia, 28 de março a 10 de abril, 2003, páginas 43-45. (3) The Hydrogen Economy, Peter Schwartz, Doug Randall, Special Wired Report – Life in 2013, páginas 3-13. (4) O automóvel, um condenado? Jorge J. Okubaro, São Paulo, Editora Senac, 2000.
� MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru, Teoria Geral da Administração, 4ª. edição. São Paulo: Editora Atlas, 2004. Pode ser reproduzido e utilizado desde que citada a fonte.

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