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O DISTÚRBIO DA ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM QUESTÃO TEORIA E TERAPIA Heloísa Miguens de Araújo 2000 Atualizado Registro BN 199375-340-34 Rio de Janeiro 2 INDICE Introdução ................................................................. 4 Distúrbio do Déficit da Atenção e Hiperatividade (DDA-H).. 6 Desatenção ................................................................ 6 Hiperatividade e Impulsividade....................................... 7 Formas secundárias ou resultantes do DDA ..................... 8 Tamborilando, Batendo os Pés, Movimentando-se ............ 9 O Que Você Disse Mesmo? .......................................... 11 O adulto com DDA-H .................................................. 12 Trabalhos Mais Indicados Para Portadores de DDA-H....... 14 Temperamento Não é Destino.................................. ... 15 Pessoas Conhecidas com DDA-H .................................. 16 Uma Questão de Adaptação .................................... .... 19 Qual É A Chave? ....................................................... 22 Conversando Com A Criança ....................................... 24 A Atenção ................................................................ 26 Afinal o que é a Atenção? ........................................... 26 Treinamento da Atenção ............................................ 27 O Cérebro Aprende pela Repetição................................ 29 Controle do Impulso .............................................. ... 31 Sinal de Trânsito ....................................................... 32 Auto-controle ........................................................... 34 Conhecendo Nossas Emoções ..................................... 36 Lidando Com As Emoções........................................... 38 O Truque da Tartaruga .............................................. 39 Algumas Considerações ............................................. 41 Aprendizagem........................................................... 43 Distúrbio da Aprendizagem......................................... 47 Aos Pais e Professores ............................................... 49 Algumas Formas De Ajudar As Crianças com DDA-H....... 51 O Papel Da Escola ..................................................... 54 3 A Escola .................................................................. 56 Atitudes Que Ajudam Escolas, Professores e Crianças...... 58 Medicação................................................................. 61 A Memória ................................................................ 63 Pequenos Recursos De Memória .................................. 67 A Leitura .................................................................. 69 A Cópia Na Sala De Aula ............................................. 71 Encorajando Comportamentos ..................................... 73 Associações De DDA-H No Brasil .................................. 75 Minha História ........................................................... 76 Tia Aloísia ................................................................ 79 Joana ...................................................................... 81 Relato de Caso.......................................................... 82 Consultas via email ................................................... 85 Perguntas Mais Freqüentes ........................................ 92 Bibliografia .............................................................. 96 4 INTRODUÇÃO Este trabalho é um vôo e um mergulho nos sintomas, na compreensão e no treinamento do Distúrbio do Déficit de Atenção. Não sou escritora. Considero-me uma treinadora de crianças, adolescentes e adultos com o chamado Distúrbio da Atenção e Hiperatividade. Na verdade eu mesma faço parte deste grupo. Sou fonoaudióloga no Rio de Janeiro, trabalho com distúrbios da Aprendizagem há mais de 20 anos. Estou sempre sensível às crianças, familiares e adultos que me chegam com suas queixas, dificuldades e sofrimentos. Estou sempre pesquisando qual o caminho, o que é melhor, o que vai efetivamente ajudar para obtenção do melhor resultado. O primeiro momento é definir o problema, fazer o levantamento de cada sintoma, conscientizar, esclarecer, identificar o distúrbio da atenção e a hiperatividade. Começando por compreender o problema já é boa parte da “cura”, além de ajudar a “baixar a poeira”. O segundo passo é buscar as soluções, conforme cada caso e seus sintomas. O treinamento de cada sintoma visa chegar à aptidão. Afinal o que é a atenção? Como é ter atenção, quem está atento, o que vê, o que ouve, o que faz e o que pensa e o que sente? Como posso saber quando estou atento? Quais são os sintomas da atenção, afinal? O que é a hiperatividade? Quando ela é boa e quando é problema? Como lidar com ela? Como controlar o impulso e os comportamentos indesejados? Da mesma forma, trabalharemos com o treinamento da memória, da leitura e da escrita. Conversar com a criança sobre o distúrbio da 5 atenção é um trabalho importante, pois afinal ela tem também direito de saber e opinar sobre o assunto, já que é a maior interessada e atingida pelo problema. Também uma abordagem da escola, ajudando-a a entender e lidar com o problema, sugerindo treinamento e atividades facilitadoras, de como ajudar a criança, lembrando que todos estão diretamente envolvidos no trabalho: médico-terapeuta-criança-família-escola que devem funcionar juntando suas forças na mesma direção. Depois da compreensão, fica mais fácil buscar as soluções e descobrir novos caminhos, novas fórmulas. Eu sei que cada um também descobrirá a sua fórmula. Agradeço a motivação deste trabalho, em especial a cada criança que chegou ao meu consultório com suas dificuldades, a sua mãe ou pai preocupados e sofridos, ao estudante ou adulto que vieram em busca de ajuda para melhorar. Foi por eles que senti a necessidade e a obrigação de escrever sobre este assunto, que espero seja útil também às escolas, aos médicos e aos terapeutas. 6 O DISTÚRBIO DA ATENÇÃO O Distúrbio do Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDA-H) é caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas, significativos, pela intensidade que ocorrem, na criança e no adulto com base na dificuldade de auto-controle. Se caracteriza pela dificuldade de concentrar a atenção ou de manter a atenção focalizada por um período de tempo maior, sem deixar que estímulos externos ou internos desviem sua atenção; pela impulsividade e em alguns casos pela hiperatividade. As falhas de atenção, impulsividade e hiperatividade podem aparecer juntas ou isoladamente; e não são de caráter ocasional, mas uma constante na vida do indivíduo. DESATENÇÃO É caracterizada pela dificuldade de focalizar a atenção por períodos maiores de tempo. Crianças ou adultos podem apresentar significantes problemas com algumas das seguintes características: - Dificuldade de concentrar a atenção numa atividade por períodos maiores de tempo; - Deixa de prestar atenção a detalhes, então comete muitos erros; - Tem dificuldade de planejar e iniciar tarefas; - Dificuldade na organização das tarefas diárias; - Dificuldade em terminar as tarefas ou as atividades que começou; - Tem dificuldade em lembrar o que planejara; - Tem dificuldade de ignorar fatores de distração; - A criança esquece ou perde o material escolar, brinquedos, etc. 7 - A criança não copia os deveres escolares, - Parece não escutar quando lhes falam, está pensando em outra coisa, distraída... - A criança não termina as tarefas escolares; - Perde as coisas facilmente; - Se distrai facilmente com qualquer estímulo externo ou interno; - Tem dificuldade em seguir instruções OBS: muitos autores falam em falhas de memória. A criança como o adulto não sabem onde colocaram suas coisas, esquecem o que estavam fazendo, o que acabaram de ler. Acredito que isto ocorra mais por falta de atenção e automatização do que propriamente por falha de memória. Hiperatividade e Impulsividade A criança ou adulto com Hiperatividade e Impulsividade tem as seguintes características: - É agitada - Não consegue ficar sentada muito tempo; - Está sempre correndo; - A criança tem dificuldade de brincar tranqüilamente; - Parece que tem “mola no pé”; - Tem dificuldade em terminar o que começa; - É impaciente; - É facilmente irritável; - Responde às perguntas antes de serem completadas; - Tem dificuldade de esperar sua vez; - Interrompe sempre os assuntos das outras pessoas; - Age impensadamente; As formas mais comuns de Distúrbio do Déficit de Atenção: 1. Déficit de atenção por Desatenção 2. Déficit de atenção por Hiperatividade e Impulsividade 3. Déficit de atenção combinado (desatenção + Hiperatividade - DDA-H) Alguns autores consideram este quadro uma patologia, e encontramos sua descrição no DSM-IV, livro da sociedade médica americana que lista e descreve as patologias. É interessante 8 mencionar que algumas patologias entram e saem do quadro do DSM-IV, de tempos em tempos, como o alcoolismo, tabagismo etc. Outros autores consideram estes sinais e sintomas descritos como Distúrbio da Atenção como constitucional; apenas uma característica do indivíduo, configurando um jeito de ser uma forma de processar e não uma doença. FORMAS SECUNDÁRIAS OU RESULTANTES DO DÉFICIT DE ATENÇÃO: - Dificuldade de aprendizagem - será um quadro secundário da má adaptação escolar. Como a escola não sabe bem lidar com estas crianças, estas não têm suas necessidades atendidas. A forma de aprender da criança não está compatível com a forma de ensinar da professora ou do método utilizado. - Dificuldades quanto aos relacionamentos sociais, prejudicados pela inconstância, impulsividade, baixa capacidade de tolerar frustrações e pela impaciência. - Imaturidade no desenvolvimento psico-afetivo. - A desordem de conduta acontece quando não se adapta bem ao ambiente e não consegue conviver bem com ele, tomando atitudes de oposição. Mais e mais o conceito de “déficit de atenção” está mudando, de “desordem” pela inclusão de uma série de qualidades como a criatividade, alta inteligência, habilidade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e por um forte senso de intuição. Os aspectos negativos são: a desorganização, a distração, o esquecimento, a dificuldade de completar tarefas, a falta de senso de horário e a bagunça. Crianças com “déficit de atenção”, quando adultas, permanecem hiperativas e com dificuldades em ficar paradas por muito tempo. 9 Os aspectos negativos do déficit de atenção são objeto de nosso estudo neste livro, assim como o seu treinamento. TAMBORILANDO, BATENDO OS PÉS MOVIMENTANDO-SE... O QUÊ VOCÊ DISSE MESMO? MENTE HIPERATIVA NUM CORPO HIPERATIVO De alguma forma é como se você fosse super cobrado o tempo todo. Você tem que agir o tempo todo, mostrar o que você sabe, mas você tem na cabeça outra idéia antes de acabar com a primeira; então você vai para esta outra idéia, mas certamente a terceira idéia intercepta a segunda, e você tem que segui-la e logo as pessoas o estão chamando de desorganizado e impulsivo e toda espécie de palavras desagradáveis que mostram a total falta de compreensão da situação, porque você está trabalhando e se esforçando. Inquietos, não sabem esperar a vez. São rápidos! A criança ou adulto com hiperatividade e déficit de atenção está aqui, ali, em todo lugar, fica tamborilando, batendo os pés; movimentando-se, cantando, assobiando, olhando aqui e ali, coçando-se, espreguiçando, rabiscando e as pessoas acham que ela não está prestando atenção. Ela se perde no tempo. As coisas acontecem todas ao mesmo tempo. Vendo televisão ela muda de canal a todo instante. Não tem capacidade de esperar na fila. Tem sempre o impulso de se movimentar, agir... Durante uma conversa, “sai do ar” A chave é a distração. Gosta de correr riscos. Gosta de desafios. Ela é cinestésica, muito sensível. “Pode ver e sentir a luz”. Está na frente, tirando conclusões e inventando soluções. A forma de cognição é qualitativamente diferente da maioria das pessoas. É freqüentemente rotulada de “lenta”, “teimosa” , voluntariosa, destruidora, impossível, tirana, cabeça dura, estúpida ou má. Quando não compreendidas, ou não tratadas devidamente, essas crianças (até adultos) são freqüentemente derrubadas pelo sistema. 10 Tornam-se enfraquecidas, desanimadas, acabam vencidas pelas escolas, empresas, etc.. Elas têm seus próprios ritmos. Cabeças de caleidoscópio, pensando muitas coisas, juntando idéias, mil idéias ao mesmo tempo. Fazer o diagnóstico ajuda a acalmar o barulho e a culpa . É importante ajudá-las a organizar-se . Trabalhar durante períodos curtos, dividir as tarefas em partes, ajudá-las quando necessitem. Criar limites externos aos seus impulsos. Medicamentos podem ajudar, mas não solucionam o problema. Déficit de atenção é um estilo de vida, mais que um punhado de sintomas. Depois que o diagnóstico é feito, fica mais fácil achar novas possibilidades de mudanças reais. A criança pode manter atenção por muito tempo? É preciso aceitar seu ritmo. Os portadores de “déficit de atenção” possuem 3 características ou componentes: - distração - impulsividade - gostam de riscos / desafios O déficit de atenção e hiperatividade são características. Quando adultos, podem ter diminuídos estes sintomas, pelo ambiente favorável em que vivem e pela aprendizagem e pelo treinamento. 11 O QUÊ VOCÊ DISSE MESMO? São freqüentemente confundidas com inabilidade as dificuldades das crianças ou dos adultos de prestar atenção a algo específico. Mesmo assim, são capazes de prestar muita atenção ou “hiperfocalizar” o que lhes interessa. Não existe déficit de atenção em frente a um videogame. O fato é que não prestam atenção a “alguma coisa”, mas prestam atenção a “todas as coisas”. “Quando na sala de aula, percebem o movimento fora da sala, pela janela ou pela porta, as outras crianças que se distraem, a mosca que voa, etc...” No meio de uma conversa, às vezes, percebemos que a sua atenção não está mais aqui, por onde andará??? Quando ele percebeu, já tinha pensado muitas outras coisas, já tinha pensado nas soluções do que você estava falando... tinha me lembrado de outra situação passada... “Eu estava pensando numa outra coisa...” Temos que falar tudo novamente. Meu pai teve que aprender a conviver com duas pessoas hiperativas e impulsivas: eu e minha mãe. Ele acabou nos treinando assim: toda vez que estava contando alguma coisa, ou dando uma informação e o interrompíamos adiantando o que achávamos que ele queria dizer, ele pedia a palavra e começava a falar tudo novamente desde o comecinho... e mais uma vez, e mais uma vez. Até concluirmos que era preciso ouvir até o fim o que ele queria dizer, porque nem sempre era o que queríamos crer... mas de vez em quando acontece... 12 O ADULTO COM DDA-H Os sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade são mais evidentes na criança, durante a fase escolar. Entretanto agora se sabe que estes continuam na fase adulta. A criança tratada, será um adulto mais produtivo, terá mais recursos. Mesmo as crianças tratadas com problemas de comportamento, aprendizagem e de autocontrole, podem apresentar algumas dessas dificuldades na adolescência e na fase adulta. Relativamente poucos adultos são identificados. Passam desapercebidos ou enfrentam muitos problemas, pois não têm ajuda, desconhecem ou muitas vezes superam sozinhos suas dificuldade, a duras penas e a custo de muito sofrimento e esforço. Se perdem muitas vezes com problemas de relacionamento, organização, dificuldades profissionais, problemas de abuso de drogas e no controle de impulsos. Também famílias, profissionais, amigos e quem mais convivem diariamente com os indivíduos não diagnosticados com DDA-H, sofrem muitas vezes pela má compreensão do problema e devido a desinformação. Adultos diagnosticados saberão conviver melhor com o problema, colaborar no manejo dos sintomas melhorando seu desempenho, pois se estiverem conscientes de suas dificuldades específicas, saberão que este conjunto de sintomas é passível de treinamento e controle no sentido de minorá-los, poderão buscar técnicas e soluções. Os adultos de hoje cresceram num tempo em que clínicas, educadores e família não sabiam nada sobre o que agora se sabe. 13 Como resultado, adultos, especialmente os não diagnosticados, não tratados ou treinados, sofrem experiências desagradáveis e enfrentam muitos problemas decorrentes da desordem e outros sintomas que incluem: - distração - desorganização - esquecimentos - impulsividade - falta de iniciativa - variações constantes de humor - ansiedade - conduta de oposição - depressão - baixa auto-estima - inquietação - abuso de drogas - problemas de relacionamento - comportamento compulsivo - comportamento obsessivo - comportamento agressivo - comportamento impulsivo O diagnóstico é baseado no histórico médico familiar e de observação, ou mesmo através de testes psicológicos. O diagnóstico pode ajudar, porque o indivíduo pelas dificuldades, desenvolveu baixa auto-estima e uma perspectiva negativa de si mesmo resultante de dificuldades escolares, sociais e vocacionais. Muitos foram rotulados de lentos, mau comportamento, baixa aprendizagem, agressivos, desmotivados, egoístas e lunáticos. O tratamento empregado ou treinamento desenvolvido refere- se a acomodações de trabalho, medicamentos e treinamento, determinados conforme os sintomas e severidade. O adulto deve conscientizar o problema, listar os sintomas e intensidade. Os problemas podem afetar somente uma ou algumas áreas de atuação do indivíduo tais como trabalho, família, social etc. Algumas pessoas podem por exemplo conseguir um bom nível de concentração somente quando muito motivadas. Alguns podem ser sempre os atrasados, ou anti-sociais, outros têm dificuldade de começar atividades, principalmente se não lhes trazem prazer imediato. Sabendo de seus pontos fracos ou limitações, podem valer-se de recursos como adotar agendas, fazer listas, notas para si mesmo, 14 usar código de cores, rotinas. Selecionar atividades regulares favoritas como forma de liberar energia. Partir tarefas em etapas menores, priorizar tarefas, usar períodos de descanso para “tomar ar”, técnicas para se acalmar quando exaltados, reformular para ganhar nova perspectiva quando zangados ou decepcionados, técnicas de desassociação quando necessário. Usar humor, aprender a ver certos sintomas com humor, brincando com eles com amigos, buscar treinamento, ler livros , falar com profissionais, buscar a melhor forma de lidar com determinados sintomas ou situações. TRABALHOS MAIS INDICADOS PARA DDA-H Trabalhos mais indicados para pessoas com hiperatividade e déficit de atenção serão as atividades que requeiram criatividade e energia, capacidade de resolver problemas, pensamento e resoluções rápidas; enfrentar desafios, situações que exijam muita adrenalina; projetos de curta duração, diversidade. Atividades adequadas ou que exijam habilidades que as pessoas já tenham permitem deixá-las mais felizes e realizadas. São atividades adequadas às dos professores, pesquisadores, engenheiros, profissionais de marketing, políticos, analistas financeiros. Os trabalhos menos indicados são os longos, monótonos e repetitivos, pois não trarão desafios nem requerem as habilidades que essas pessoas possuem. Não são próprios os trabalhos em banco e contabilidade; atividades mecânicas de produção em série das fábricas e linhas de montagem e também a agricultura. Os trabalhos burocráticos também não são os mais indicados. 15 TEMPERAMENTO NÃO É DESTINO Temperamento não é destino. Pode-se domar a amígdala superexcitável, com as experiências certas. O que faz a diferença são as lições e respostas emocionais que as crianças aprendem enquanto crescem. Conforme Golemann, cerca de um em três bebês que vêm ao mundo com todos os sinais de amigdala superexcitável já perdeu a timidez quando chegou ao jardim de infância. De observações dessas crianças mais medrosas em casa , fica claro que os pais, sobretudo as mães, desempenham um papel importante para determinar se uma criança vai tornar-se mais ousada com o tempo, ou continuará a esquivar-se da novidade e perturbar-se com os desafios da vida. Uma equipe de pesquisa do Dr. Golemann constatou que algumas mães se atinham à filosofia de que deviam proteger os bebes tímidos de qualquer coisa perturbadora, outras mães achavam mais importante ajudar seu bebe tímido a enfrentar esses momentos e com isso adaptar-se para as pequenas brigas da vida. A crença protetora parece ter endossado o medo, provavelmente privando as crianças de oportunidades de aprender a superar os medos. A filosofia do aprender a adaptar-se na criação dos filhos parece ter ajudado as crianças medrosas a tornarem-se mais corajosas. Da mesma forma como devemos adaptar crianças com DDA-H. 16 PESSOAS CONHECIDAS COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE Pesquisadores encontraram, nas mais diferentes áreas, pessoas conhecidas com fortes características de déficit de atenção, impulsividade ou de hiperatividade: Steven Spielberg Thomas Edson Einstein Leonardo da Vinci Walt Disney John Lenon Louis Pasteur Darcy Ribeiro Ziraldo (e seu personagem Menino Maluquinho) Vemos os filmes de Spilberg muito criativos, carregados de cenas de muita ação, caracterizando sua hiperatividade. Leonardo Da Vinci, mostrou também seu caráter hiperativo e dispersivo quanto ao foco de atenção, tão variada, “tinha interesse em todas as coisas”. Deixou muitos escritos com estudos variados e não realizava tudo que planejava. “Mal tinha começado um projeto, já estava começando o próximo. Tinha imaginação sem limites... Deixou um trabalho variadíssimo nas artes com pinturas, esculturas. Na música foi professor e inventou tambores, instrumentos de sopro e instrumentos de cordas. Deixou trabalhos inacabados como o Cavalo de Bronze. Inventou máquinas voadoras, que nunca voaram mas são protótipos dos atuais helicópteros e pára-quedas. Inventou barcos impulsionados por rodas de pás, inventou moinhos, escafandros. Fez estudos de canhões, navios de guerra, túneis etc.” Vê-se aí a qualidade da dispersão, 17 como desfocalizava a atenção de uma coisa e chegava em outra e mais outra. Vemos também a qualidade da hiperatividade. Certamente nesta época o ensino não era de massa, era mais no ritmo da pessoa. Bem canalizado e adaptado pode desenvolver-se e desenvolver seu trabalho. Arrumou o seu jeito para despistar seu trabalho variado e escrevia em espelho, dificultando a fiscalização que a igreja fazia na época. Certamente tanta atividade não partiria de uma mente pouco ativa e muito centrada, focalizada. Thomas Edson, considerado portador de déficit de atenção, mostra o caráter de distração do foco de atenção, quando disse uma vez como combinava distração com impulsividade ao transformar e inventar. Ele disse: “Olhe, eu começo aqui com a intenção de ir lá (desenhando uma linha imaginária) num experimento, para aumentar a velocidade do cabo Atlântico, mas quando eu tinha chegado num ponto na minha linha reta, eu encontrei um fenômeno e me dirigi em outra direção, para uma coisa totalmente inesperada”. Einstein também teve a chamada “dificuldade de aprendizagem” , pensamento rápido e dispersivo, que também podia hiperfocalizar em determinados momentos. Mais de um professor disse-lhe, em diferentes momentos, que ele não aprenderia nada na vida. Conheci pouco de Darci Ribeiro, mas era só ouvi-lo falar para notar sua hiperatividade, expressa inclusive em sua variada obra. Também Milôr Fernandes, escritor e humorista, com sua obra variada, numa entrevista para um jornal carioca dizia que só trabalhava sob pressão e encomenda. E em um determinado momento um jornalista descreve-o como pessoa de pensamento e fala rápidos, a voz tinha que correr para poder pegar o pensamento, mencionando ainda que interrompia a frase no meio, voltava ao assunto anterior, e logo já estava em outro lugar. O próprio Millôr se descrevia como tendo natureza eclética... O escritor hiperativo Ziraldo, revela o seu personagem O Menino Maluquinho no livro, descrevendo-o como tendo “fogo no rabo”, “vento nos pés”, umas enormes pernas que davam pra abraçar o mundo” e referindo-se aos pensamentos “e macaquinhos no sótão”: “Ele era um menino impossível, a única coisa que não sabia era como ficar quieto”, logo já estava lá, cantava lá, e logo já estava aqui”. Perdia o caderno no colégio, perdia um caderno todo dia. Tirava zero em comportamento. “A pipa que soltava era a mais maluca, rodopiava lá no céu, adoidado ”.(pipa hiperativa!), era desajeitado, pintava e bordava. “fazia canções, versinhos, batalhas” . Qualquer 18 semelhança com nossas crianças hiperativas e desatentas é mera coincidência? Concluindo, vemos nestas pessoas famosas as características de hiperatividade, desconcentração num foco de atenção. Imaginamos as épocas em que viveram ou vivem e as dificuldades enfrentadas em seus ambientes, e como teriam convivido com estas características, se estariam adaptados ou inadaptados em seus tempos, assim como se teriam superado suas dificuldades, ao mesmo tempo que questionamos dificuldades ou adaptação? O jogador Edmundo, conhecido pelo apelido de “animal” que mostra bem sua forte característica de impulsividade e agressividade. Arranja sempre confusões por agir impensadamente, por impulso. Joga muito bem, destacou-se. A mesma força impulsora, a mesma agressividade quando bem canalizada, leva-o a destacar-se no futebol, a jogar como um “animal”, coloca-o em situações muito difíceis quando não controlada e bem dirigida, criando situações desfavoráveis quando, por exemplo, interrompido desonestamente em um passe por um jogador adversário, tem uma reação violenta e impulsiva como esbofetear ou cuspir em seu adversário. Este comportamento impulsivo tem sido usado inteligentemente por seus adversários que tiram proveito desta situação de falta de auto- controle do jogador. 19 UMA QUESTÃO DE ADAPTAÇÃO Thon Hartmann volta no tempo, fazendo uma comparação com a era do homem caçador e a era da agricultura. O caçador primitivo, que não estivesse num estado mental de alerta a tudo, observando todos os mínimos movimentos do seu meio ambiente, estaria em grande desvantagem. Aquele pequeno movimento disperso poderia ser um coelho que necessitaria para seu almoço; ou o tigre ou urso esperando para fazer dele seu lanche... Se ele focalizasse sua atenção para um ponto intensamente, no caminho, poderia perder um outro detalhe no seu habitat, e fatalmente perderia sua caça ou seria ele próprio a caça. A sociedade moveu-se da caça para a agricultura, o homem necessita agora semear, regar e colher, tudo em sua época, e em sua rotina. O agricultor não poderia perder sequer um único dia e passa a fixar sua atenção neste serviço e não podia se distrair dele, sob pena de perder a sua colheita. A Impulsividade tem duas manifestações. O impulso que é no mundo de hoje o agir sem pensar, no passado refletia um rápido julgamento, ou rápida decisão. O outro aspecto da impulsividade é a impaciência. Um caçador pré- histórico descreveria a impulsividade como habilidade de agir e decidir, e desejo de explorar novas e inexploradas áreas. Para um agricultor primitivo, a impaciência e impulsividade seriam um desastre. Se ele deixasse de diariamente acompanhar o crescimento da plantação, poderia perder a colheita. Por outro lado os que gostam de correr riscos possuem a característica mais perigosa nos tempos atuais. Encontram-se muitos portadores de déficit de atenção na população carcerária, com 20 grande número de problemas sociais, incluindo os delinqüentes juvenis e adultos desempregados. Para o caçador primitivo o risco e a auto-estimulação eram necessários como parte de sua vida diária. Se caçadores evitassem a adrenalina, não caçariam. Na verdade, o desejo da adrenalina alta seria necessária entre os membros da sociedade caçadora. Já se um agricultor gostasse de correr riscos, fazer mudanças, inovar, colocaria em risco o alimento para sua sociedade. Na evolução da história humana, os caçadores foram postos de lado, isolados, mortos ou exilados. Os britânicos enviaram os “inadaptados” para a América e Austrália. Hoje, em algumas escolas, crianças com déficit de atenção são estigmatizadas ao invés de treinadas ou trabalhadas em suas dificuldades. Certamente a sociedade atual dá preferência aos “agricultores”, e as crianças quietas são recompensadas, no modelo do comportamento dos agricultores. Com a revolução industrial e a introdução dos mecanismos de repetição, a sociedade complementou o estilo agricultor. À primeira vista, ser agricultor na sociedade atual é desejável, as agendas são acompanhadas, as etapas de uma fábrica são também desempenhadas dia após dia, regularmente e sem alterações. São, entretanto, os “caçadores” os instrumentos sociais de mudança e liderança. Sociedades com poucos caçadores, necessitam de grandes cataclismos para estimular mudanças. Na língua japonesa não há palavra para líder, pois a noção de estar fora da multidão, em seu próprio caminho e desafiando instituições existentes é completamente fora da cultura japonesa. Os japoneses são reconhecidamente bons agricultores. Entre os caçadores e guerreiros do norte da Índia e Europa, rituais religiosos eram desenvolvidos e iriam ensinar a focalizar a atenção e a concentração. Isto também acontece na religião católica, com a repetição do terço, servindo de feedback, lembrando constantemente o que deve ser feito, não deixando a mente vagar. Mantras e meditações, também eram repetidos em todos os momentos. As pessoas com déficit de atenção ou altamente distraídas, também criariam concentração com os rituais religiosos, o que as ajudaria a focalizar a atenção. Seria então uma disfunção induzida pela cultura? 21 Recentemente, no congresso de neuropsicologia, um famoso médico paulista Dr. José Salomão Schwartzman, fez a seguinte proposição: Imaginem-se 2 crianças igualmente ativas. Uma é filha de um lenhador no Canadá, ganha prêmios anuais pela derrubada de árvores e é congratulada por causa disso. Imagine uma menina de 15 anos, filha de um colecionador de artes, que mora num apartamento pequeno em Tóquio. Qual das crianças hiperativas, estará bem adaptada e qual terá que enfrentar muitos problemas, devido às mesmas características? Da mesma forma, a criança bem adaptada na escola terá condições de desenvolver suas habilidades, treinar e melhorar seus pontos fracos, terá sua auto-estima preservada, se sentirá mais feliz. 22 QUAL É A CHAVE? Estímulos mais fortes vêm de suas idéias e emoções. O estímulo mais forte é o cinestésico (sensação, sentimento e movimento). Somente com interesse intenso ou rápida atividade eles podem conservar suas mentes “paradas”, num foco único, ou ver mais detalhes. A neurociência nos mostra que podemos desenvolver nosso cérebro através do exercício. Há uma corrente que diz que déficit de atenção é uma desordem do cérebro, embora não seja este o nosso pensamento. Entretanto, o que é importante é o cuidado que se dará ao assunto, para treinar seus pontos fracos. Deve-se levantar a história clínica e a história familiar das crianças com déficit de atenção. Verificaremos outros casos na família, com tais características. Não é difícil constatar que alguns portadores do déficit de atenção, especialmente aqueles com hiperatividade, têm um diagnóstico de déficit de neurotransmissores como a norepinefrina, e fazem uso de medicamentos estimulantes ou alguns antidepressivos, embora isto não resolva o problema. É necessário ter compreensão, determinação, perseverança e paciência por parte dos familiares e educadores, e juntar esforços na mesma direção visando a reeducação e o treino da criança. Pela inteligência, criatividade, persistência e grande “força de vontade”, alguns portadores de “déficit de atenção” (ADD) superam seus sintomas sozinhos. As dificuldades são intensificadas com as expectativas da sociedade. A terapia de biofeedback explora a possibilidade de que a atenção e a vigília podem ser treinadas pelas pessoas, reduzindo as ondas lentas (teta) da atividade cerebral, enquanto executam tarefas de atenção. 23 Deve-se aumentar a habilidade de focalizar a atenção em tarefas maçantes. É como exercitar um músculo. Você o exercita e ele fica mais forte. Gradativamente! Deve-se modelar o comportamento apropriado, construindo a auto- estima e trabalhando no auto-controle. Os objetivos do tratamento são: Desenvolver e treinar o auto-controle Treinar as suas habilidades (percepção, leitura, escrita, etc) Regular o impulso Controle das emoções Estabilizar o humor, pelo auto-conhecimento e exercícios de controle. Integrar sentimentos Focalizar a atenção Colocação de limites, aprendendo desde cedo as regras; o que pode e o que não pode fazer. Melhorar a auto-estima e o humor Melhorar o comportamento e as relações familiares Aprender a tolerar frustrações Aprender a recuperar-se de desapontamentos e adaptar-se às mudanças do ambiente. Estas etapas de aprendizagem e desenvolvimento poderão em alguns casos apresentar problemas maiores para as crianças com déficit de atenção, como uma reação emocional exagerada, do tipo “tudo ou nada”, ou ainda dificuldade em acalmarem-se sozinhas. Crianças muito pequenas, na fase pré-escolar, tem às vezes dificuldades de distinguir entre o real e a fantasia, e desta forma necessitam compreensão do problema e ajuda para entender, lidar com as dificuldades e acalmar-se. Essas crianças podem apresentar dificuldades em algumas áreas da vida, como aprendizagem, relacionamento, auto-estima, mau-humor, comportamento e relações familiares. 24 CONVERSANDO COM A CRIANÇA As crianças com déficit de atenção são, às vezes, levadas ao pediatra, neurologista, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, etc. A criança é levada de um especialista a outro. Vêem suas vidas sendo comentadas, criticadas sem entenderem direito o que está acontecendo. Sabem que há alguma coisa que deve estar errada. Esquecemos que são as maiores interessadas no problema e normalmente não lhes dizemos nada. Devemos esclarecer a situação, para que possam participar diretamente na solução dos problemas. Elas acabam imaginando que têm uma deficiência muito séria, e ninguém fala disso com elas. Podem supor que são burrinhas, moles ou então fantasiam que estão muito mal. O pior de tudo é se acreditarem mesmo nisto, pois passarão a assumir este papel, passando a render assim, às vezes para sempre, ou até que uma situação muito forte mude esta crença. A criança percebe que algo não vai bem com ela. Acaba pensando que é um estorvo, que não tem nenhuma qualidade, só defeitos. Entretanto, quando falamos diretamente com ela, franca e amorosamente sobre suas dificuldades, evitando palavras contaminadas como mole, desorganizada, impulsiva, descuidada, bagunceira, esquecida, etc., envolvemos a criança na sua terapia e treinamento, obtendo um novo conhecimento, melhor informação, cooperação e participação. Afinal, ela também deve fazer parte do time, ajudando inclusive na busca de soluções e atuando mais atenta e cuidadosamente. A criança pode acompanhar sua própria evolução, observando quando já consegue fazer coisas que antes não conseguia. “Antes eu sempre queimava a língua tomando meu café com leite, agora já sei esperar ele esfriar” disse-me certa vez uma criança. Ajudando a planejar seu dia, sua rotina e listando suas tarefas, seguindo a ordem delas, ou mesmo “ticando” (marcando com um 9) o que já foi feito. Os sucessos e fracassos devem ser conversados com a criança, assim como o planejamento. “De outra vez que você passar por essa 25 mesma situação, qual você acha que deve ser a sua melhor forma de reagir? O quê será melhor fazer? ” Ensinar à criança com que recursos deve contar para melhor realizar as suas tarefas. Nós não ajudamos a criança quando a mantemos desinformada do que está acontecendo com ela. Crianças que têm mais informações sobre suas dificuldades serão mais cooperativas e participantes quanto a seu treinamento e terapia. Elas se empenharão mais, a fim de resolver ou superar seus problemas do que aquelas que ignoram suas dificuldades, têm uma vaga idéia do problema, ou acham que são incapazes. Se a criança está familiarizada com a definição e a natureza do déficit de atenção, contribuímos para o esclarecimento e manutenção de uma atitude positiva e consciente de suas dificuldades e preservamos sua auto-estima. Quando oferecemos à criança recursos e estratégias para desempenhar suas tarefas, estamos preservando seu bem-estar, principalmente porque ela experiência o mundo com falhas e erros. Assim, damos à criança um senso de perspectiva e controle de lidar com obstáculos. Ela terá que lidar com os desafios do dia a dia em relação a escola, aos relacionamentos, etc. As crianças podem contribuir com suas próprias idéias e sugestões. Não é uma vergonha ter déficit de atenção. Elas também têm qualidades e potencial que outros não têm. A criança pode ver listadas suas dificuldades e qualidades, para que possa trabalhar em cima dessas dificuldades, quanto a freqüência, controle e progressos. Exemplos: - dificuldade de aguardar a sua vez - dificuldade de completar o trabalho escolar - dificuldade de manter a atenção no trabalho que está fazendo - dificuldade em manter arrumado seu material escolar, brinquedos, quarto ou outros - esquecer de realizar algumas atividades - dificuldade de controlar seu comportamento quando numa discussão ou briga com seus amigos. 26 A ATENÇÃO AFINAL O QUE É A ATENÇÃO?! Significa “Aplicar cuidadosamente a mente a alguma coisa”, segundo o dicionário Aurélio. “Ação de fixar o seu espírito sobre alguma coisa”, conforme o dicionário Koogan/Houaiss “Estou escutando Escutando com os olhos e ouvidos Escutando com a alma Com todos os sentidos Escutando com o coração Escutar a mensagem que se esconde entre as palavras, entre os fatos. Descobrir. Apreender... Estou aprendendo a ver Ver com os olhos e os ouvidos... Ver com a alma... Ver com os sentidos... Ver com o coração” (autor desconhecido) É uma soma de ver e ouvir com interesse. Podemos ainda dizer que escutamos o mesmo que vemos, percebendo com a mente, com o coração e com a alma. A chave é o que capta nosso interesse. O que define a minha atenção? O que me interessa? O que me motiva? O que encanta a minha atenção? O que seqüestra a minha atenção? O mundo está tão rico e variado de informações. Nos oferece opções ilimitadas em todas as áreas... como selecionar o que focalizar a atenção?! Ou por outra, o quê determina essa seleção?! O mundo infantil, com mil histórias, televisão, canais infantis, bonecos japoneses, Disney Word, net, internet, esportes, clubes, músicas, mp3 e escola. Quanta variedade... Eu só presto atenção ao que me interessa, e você? 27 A escola está interessante e competitiva com o mundo infantil atual?! Esse é o grande desafio nosso, dos educadores. Em meio a tanta variedade como se tornar interessante para captar a atenção infantil? E, muitas vezes, em face de nossas limitações e dificuldade de ensino... fica mais fácil transferir o problema para o lado mais fraco, o lado da criança, fica assim definido e resolvido: DISTÚRBIO DA ATENÇÃO! TREINANDO A ATENÇÃO ATENÇÃO DO TIGRE Imagine-se um animal selvagem como um tigre ou um leão faminto, no meio de uma selva. Sinta-se por um instante como um destes animais. Veja-se no alto de uma pedra ou um monte, a espreita de uma caça. Imagine o alimento preferido chegando, passando por perto. O tigre coloca-se em postura de “vou comer AGORA!!!” Seus olhos estão atentos, fixos na presa, sem desviarem-se um só segundo. Seus ouvidos estão atentos, completamente voltados para o alvo. Sua postura está completamente atenta envolvida e voltada para o alvo. Sua mente estará totalmente fixada no alvo. Sua vontade estará completamente voltada, para o alvo. E quando o tigre finalmente decide pular em cima de sua presa, certamente não irá hesitante, mas certeira e decididamente. Isto é o máximo da atenção! No exercício de atenção do tigre, sinta ao mesmo tempo a postura, a respiração, o olho brilhando e o ouvido pulsando de atenção! Faça ainda uma pressão nas mãos ou num dedinho, como fixando, intensificando, ancorando este estado máximo de atenção. Sinta este estado, intensifique este estado máximo de atenção, repita várias vezes, treinando a atenção do tigre. Este treinamento e esta repetição forma um caminho neurológico da atenção. Este deve ser o treinamento da atenção! Conscientizar o que é a atenção, como é ter atenção, para que serve ter atenção, quando vou decidir usá-la com inteligência voltada para o que é importante para mim, ou seja para o meu alvo. Definir os alvos a serem atingidos. Observar quando me saí bem, tive atenção completa, ou dizendo melhor, quando tive atenção completa me saí bem numa tarefa. Aprender isto e levar as crianças a aprender, verbalizar e treinar, sentirem como um tigre em estado de atenção! Fazer uma análise do que é a atenção, é envolver os sentidos, concentrar todos os sentidos possíveis, estão voltados para o mesmo alvo, para o que estou fazendo 28 a-g-o-r-a. É inteligente dirigir toda a minha vontade para o que estou fazendo agora, seja para me livrar logo disso ou para me sair bem nisto, porque senão eu vou me dar mal, porque esperam isto de mim, porque é minha obrigação, etc. Agora estamos falando da capacidade de motivarmos a nós mesmos. Lembrar que motivar é buscar um forte interesse para fazermos alguma coisa. Esta compreensão de buscar um motivo é muito importante, já que muitas vezes a criança ou nós mesmos não temos muito claro o porquê das coisas, os motivos que nos levam a agir. Devemos ver isto com as crianças e muitas vezes conosco mesmos. Então, atenção é envolver simultaneamente a mente, a visão, a audição, a respiração, ação e sentimentos (de alegria, prazer, confiança, satisfação por aprender, vencer desafios, barreiras etc.) com o mesmo objetivo. Sempre que entramos em uma atividade divididos, pensando em outra coisa ou com a atenção dividida, perdemos uma boa execução. Um paciente meu, campeão de jiu jitsu, uma vez contou-me porque deixou de lutar. Num campeonato, estava lutando, e estava saindo-se bem, quando o pai orgulhoso tirou uma foto dele enquanto lutava. Numa fração de segundos o flash, o distraiu (dividiu sua atenção) e ele se descuidou e foi surpreendido pelo seu adversário, perdendo a luta “bobamente”. Estudando com ele o que é atenção, vimos que se ele fosse um tigre, naquele dia teria perdido sua caça, seu jantar, pela falta de atenção. É importante vermos ou levarmos as crianças a verbalizar, analisar diversas situações ou exemplos próprios ou de outras crianças, quando fizeram coisas certas porque estavam muito atentas, ou ligadas ou se deram mal porque não estavam atentas ou ligadas. Esta atividade leva as crianças a analisarem e “fazerem a cabeça”, “dirigir o foco” para a atenção. Temos que fazer um treinamento (o cérebro aprende pela repetição!) de atenção, dirigir o foco de atenção para o que se está fazendo. Ter isso consciente. “Eu vou fazer esta tarefa ou este dever como um tigre” . Eu vou ler este livro durante 15 minutos, durante meia hora! Lembre-se de que a aquisição do tempo de foco de atenção também deve ser gradual. Deve-se também respeitar o tempo, que não deve ser muito longo, no caso de pessoas ou crianças hiperativas. Atenção significa também estar presente no que se está fazendo, não estar dividido. Quantas vezes nos pegamos em diversas situações completamente divididos. Estamos lendo um livro nos lembrando de uma conversa que tivemos com alguém. Estamos na praia pensando que deveríamos estar em casa estudando. Estamos estudando, 29 imaginando que poderíamos estar na praia. Estamos numa festa ou no cinema, pensando em como estarão se comportando as crianças em casa. Estamos fazendo supermercado pensando na reunião do escritório logo mais, depois nos assustamos de observar que muitas coisas esquecemos de comprar que tinham de ser compradas! Estamos sempre com a nossa atenção dividida! Estamos sempre fazendo as coisas insatisfatoriamente! Está sempre faltando alguma coisa! O que está faltando? Consciência, treinamento de atenção, estar presente no que se está fazendo, atenção! Precisamos todos de treinar nossa atenção em nossa vida diária, no nosso mundo. E nos surpreendemos porque as crianças fazem a mesma coisa com a escola, suas roupas, seus brinquedos, suas tarefas. Crianças também e, principalmente, são seres que estão em formação. Antes de tanta repreensão precisamos compreender, localizar o problema, quais as dificuldades e depois treiná-las! O CÉREBRO APRENDE PELA REPETIÇÃO Os católicos repetem as mesmas orações Ave Maria, Pai Nosso e outras, diariamente. Por que? De que outra forma colocar os fiéis na “ trilha” de pensamentos e preceitos da igreja, e fazê-los memorizar estes? Os adeptos da meditação, repetem mantras constantemente. Por que? Quando preciso guardar um número de telefone, repito-o várias vezes para mim mesma até que o tenha memorizado. Por que? Parece claro agora que precisamos da repetição para aprender, colocar algo em nossa mente; “fazermos a cabeça” . Nossa cidade precisa urgentemente de uma campanha para que não joguemos lixo nas ruas. Nessas campanhas é necessária a repetição de uma mensagem muitas vezes, até que as pessoas formem aquele hábito. Nosso cérebro precisa de repetição para fixação de algo. Às vezes, a mensagem é dita de uma forma, não surte muito efeito, é repetida com uma pequena variação, ou de outra forma, então, algo acontece: há a fixação da mensagem, do hábito, do número do telefone, ou outra coisa qualquer. Ninguém acendeu um cigarro pela primeira vez e já ficou viciado. Foi necessária a repetição do ato de fumar para se formar o hábito de fumar... Assim também acontece com o andar de bicicleta, aprender a fazer um laço nos sapatos, etc. Muito interessante a citação de Jeffrey Zeig, sobre o psiquiatra e hipnólogo Dr. Milton Erickson. Disse a Zeig direta e indiretamente que ele não deveria fumar, que não ficava bem fumando, que um homem ficava muito desajeitado segurando um cigarro entre os dedos, que era estranho chupar a fumaça de um cigarro etc. 30 Erickson falou durante muito tempo sobe isso. Zeig não sabe explicar bem como ao chegar em casa resolveu parar de fumar. E também ficou impressionado, pois não imaginava que havia tantas formas diferentes e criativas de dizer a uma pessoa a mesma coisa. O CÉREBRO APRENDE PELA REPETIÇÃO. A repetição de palavras chaves, palavras que marcam a idéia, são também importantes na fixação das mensagens. Não se deve pretender com as repetições provocar uma mudança imediata, mas uma mudança gradual de sentimentos, comportamentos e hábitos. Assim também a criança, um ser em formação, terá que ser treinada, ouvir de várias formas e também repetir para sí mesma, tantas vezes quantas sejam necessárias, dia a dia, assim como nosso “Pai Nosso- Ave Maria” ou mantras, as suas tarefas diárias, escovar os dentes, tomar banho, fazer o dever e todas as coisas que a mãe já está acostumada a repetir. A chave é mesmo repetir, repetir, repetir...Motivar, motivar, motivar. Da mesma forma que a mãe e a professora devem como atividade diária verificar se as crianças fizeram as tarefas da escola e de casa, até que a criança esteja bem conscientizada e habituada em realizar as tarefas, até que esteja convencida e os comportamentos estabelecidos. Até que pela compreensão, repetição e monitoração, tenha integrado estas etapas. Algumas crianças precisam mais, outras menos ajuda e repetições... 31 CONTROLE DO IMPULSO O significado de impulso no dicionário Aurélio é : “Ímpeto. Grandeza que indica o comportamento de um foguete e que é igual ao empuxo, dividido pela quantidade de combustível consumido por segundo. Impulsão específica, empuxo específico”. A idéia é exatamente esta: a de um foguete que precisa ser parado, impulsionado, direcionado ou controlado. O impulso está ligado a uma emoção e à razão. Uma emoção ou estado é como uma força muito grande, que pode e deve ser bem direcionada para benefício e segurança do indivíduo e de outras pessoas. As emoções podem ser: raiva, indignação, revolta, amor, vontade, tristeza, preguiça, ou outras. Daniel Goleman em seu interessante livro sobre Inteligência Emocional, nos dá a chave do controle do impulso, e do uso adequado das emoções a nosso favor e não contra nós. Isto é usar a emoção com inteligência. É importante tomar conhecimento das sensações do corpo (enrubescimento, tensão dos músculos), observar os sentimentos (alegria, tristeza, medo, raiva) e o comportamento, como sinais de reação a uma situação em que nos encontramos para que possamos interromper o impulso inadequado de agir; e a seguir pensar na melhor resposta àquela situação. Controlar as emoções para poder controlar as ações. A crianças pode aprender a resolver seus conflitos sem recorrer a violência. Pode ser treinada e aprender lidar com as situações difíceis, como brigas, provocações, contrariedades. Aprender e treinar expor sua posição e buscar as melhores soluções. 32 SINAL DE TRÂNSITO Um exercício muito eficiente é o do Sinal de Trânsito. O objetivo é desenvolver um sinal de trânsito mentalmente: - O sinal VERMELHO indica: PARE E ACALME-SE ANTES DE AGIR/SEGUIR. É o famoso “pare e pense”de nossos avós. - O sinal AMARELO indica: 1. Identifique o problema e como você se sente em relação a ele. 2. Estabeleça uma mente positiva. 3. Pense em muitas soluções da forma se x então. (Se eu fizer assim então vai acontecer tal coisa, se fizer A , tão a conseqüência será B). - O Sinal VERDE abre o caminho: SIGA e tente o melhor plano, a melhor solução. Observar as vezes em que a estratégia foi usada adequadamente e as vezes em que não se conseguiu realizar algumas das etapas. Quais foram as conseqüências, o que se ganhou e o que se perdeu com o comportamento inadequado ou o adequado. Observar o aumento progressivo do controle dos impulsos. Numa ocasião, um paciente contou-me que fora fazer uma prova na escola e chegara um pouquinho atrasado, mas a tempo de ver outro 33 aluno também atrasado entrar na escola. Logo depois que o aluno entrou, teve sua passagem impedida no portão. Ele então forçou e acabou entrando “na marra” , em vez de argumentar com o porteiro. Dessa forma, usando a violência, acabou envolvendo no seu ato, a direção da escola e acabou sendo expulso. Ele mesmo falando sobre o problema, depois, viu duas ou três outras formas de melhor resolver o problema, minorando os “prejuízos”. 34 AUTO-CONTROLE Além da técnica citada de controle do impulso como um sinal de trânsito vermelho, amarelo e verde, outras técnicas ajudam a controlar nosso comportamento. São pequenos lembretes de que se pode lançar mão sempre que necessário. Cada pessoa prefere uma ou outra técnica; você descobrirá a sua. Movimento dos Olhos - Posso desviar meus olhos para longe da cena, lugar ou situação, desviando assim a minha atenção, ou desfocalizando propositalmente a minha atenção, quando este foco não me interessa. Isto me fará segurar meu comportamento convenientemente. Dessa forma eu fujo da situação ou ação que quero evitar. Contar até Dez – Muito conhecido e praticado, o contar até dez antes de “tomar uma atitude” ajuda a esfriar a cabeça e dá tempo para o cérebro pensar na melhor escolha de agir. Se você estiver nervoso ou ansioso conte até 10; se estiver muito nervoso ou ansioso, conte até 100! Respiração – Já aprendemos com nossos avós e este recurso funciona muito bem: respirar fundo 5 a 10 vezes antes de tomar uma atitude precipitada. Ou ainda respirar fundo e mergulhar renovado e descansado no que estava fazendo, redobrando a atenção. Contração Voluntária de um Músculo – Substituir o impulso indesejado, a ação ou a fala indesejada por uma contração de um músculo qualquer do corpo, como contrair o pé, os quadris ou apertar dois dedos da mão. Dessa forma eu evito um ato que me levará ao arrependimento ou me prejudicará futuramente. Pressionar a língua no céu da boca antes de fazer ou falar o que não é bom e não convém. Pássaro ou Balão - Uma experiência desagradável ou um pensamento indesejado posso fazê-lo voar para bem longe como um pássaro ou fazê-lo subir e sumir dentro de um balão. Posso imaginar estas situações sempre que necessárias. 35 Dissociação - Significa sair “na minha imaginação” do próprio corpo ou de uma situação e poder observar “do lado de fora”, o que está acontecendo. Assumimos o papel de um observador, sem envolvimento direto no caso e sem a emoção forte de quem está sofrendo a ação ou a situação. Esta dissociação nos leva a ver, sentir e analisar, isenta e inteligentemente, o acontecimento, possibilitando a escolha da melhor opção de sentimento, pensamento ou comportamento. Imaginação – para enfrentar uma situação desagradável ou agüentar alguma situação necessária, posso imaginar o que melhor convém para o momento. Lembro um relato dramático que lí sobre um seqüestro de um rico produtor de vinho na Itália que foi conduzido de uma cidade a outra dentro de um caixão. Ele disse que se imaginava voltando e andando por entre os verdes campos de sua fazenda, por entre as lindas parreiras. Posso igualmente também imaginar a alegria que vou sentir ao concluir uma tarefa ou a nota maravilhosa que vou tirar por estar estudando muito uma matéria. Dizer-se Algo - Para motivar-me ou para interromper algo, posso dizer ou repetir frases ou uma palavra chave. Posso, por exemplo, repetir para mim mesma a palavra “calma”, quando costumo enfrentar situações que exijam calma. Posso repetir para mim a palavra atenção, sempre que estou fazendo uma coisa que exija cuidado; posso dizer “vamos lá” para me incentivar a terminar uma tarefa; ou ainda “falta pouco”. Procure a sua palavra mágica, aquela que, repetida como mantra, vai ajudá-lo a fazer o que deseja. 36 CONHECENDO NOSSAS EMOÇÕES Estudar as emoções através da face, através da voz, através da postura, nos possibilita conhecer mais as outras pessoas e a nós mesmos. Fica mais fácil aprender a ser solidários com os outros e a controlar a nós mesmos. Isso faz com que melhore a nossa relação, com a gente mesmo e com os outros. Desenvolver esse treinamento desde criança será muito benéfico. Poupará muitas “guerras” internas e interpessoais. Podemos desenvolver programas nas escolas para ensinar as crianças a lidar melhor com as emoções. Posemos desenvolver com a criança recortes de revistas ou desenhos de faces com diversos tipos de emoções. Podemos aprender e ensinar que todos nós sentimos emoções. Emoções boas e más. Elas são naturais, estão dentro de todos nós. Não é errado sentir as emoções que sentimos... Todos nós sentimos amor, felicidade, compaixão e também, raiva, medo, inveja, tristeza, ansiedade etc,. Todos os sentimentos estão certos. Os comportamentos é que podem estar certos ou não. Precisamos aprender a separar o sentimento do comportamento. Precisamos é aprender a lidar com as emoções, não deixar que elas nos dominem e devemos aprender a pensar em muitas opções para lidar com esses sentimentos e situações que enfrentamos no nosso dia a dia. Precisamos desenvolver uma mente alerta. As emoções vêm e passam. Geralmente não ficam com a gente. Elas passam... vão embora, não ficam para sempre, ao contrário do que nos parece, algumas vezes. “Os pensamentos são cheios de emoções e as emoções são cheias de pensamentos.” Estudar as emoções ajuda a controlar as nossas reações, os nossos comportamentos e os nossos pensamentos. É muito difícil controlar a emoção no exato momento em que ela ocorre. É necessário um treinamento, uma familiarização, uma compreensão dos estados emocionais. Aprender a perceber quando aquela emoção ruim vem chegando, assim fica mais fácil lidar com ela. Aprender a detectar os primeiros sinais para poder lidar melhor com ela ou mesmo evitar os seu aparecimento. Aprender a desenvolver recurso para lidar com as emoções, desenvolvendo novos pensamentos, novos sentimentos e novos comportamentos. 37 Muitas vezes a gente tem uma forte emoção, e em conseqüência disso faz algo ruim, destrutivo ou inadequado e se arrepende depois. Aprender que isso é um mecanismo ajuda, e podemos decidir fazer um esforço para mudar esse padrão, mudar esse comportamento. A educação emocional consiste em ao invés de os pais e professores punirem as crianças por estas apresentarem uma emoção ou um comportamento inadequado e destrutivo, como raiva, agressão, violência, devem ensinar (estar preparados para ensinar ) às crianças que é normal sentirmos essas emoções e que temos que aprender a lidar melhor com estes sentimentos evitando comportamentos que nos prejudiquem a nós mesmos ou a outras pessoas. Em primeiro lugar podemos e devemos ajudar a criança a se acalmar. Podemos ensinar a criança a identificar o tipo de emoção. Podemos discutir abertamente os sentimentos como forma de resolver as dificuldades que a criança está tendo com o colega, amigo, com o professor, escola, etc. Ou ainda a aprender a pensar com antecipação, identificando os sinais e evitando as situações difíceis, perigosas ou aquelas que se repetem. Analisar como nosso comportamento atinge os outros. Aprender a se colocar no lugar do outro. Aprender a separar o sentimento do comportamento. Ensinar que só se pode pensar depois de se acalmar, só assim podemos ver com clareza. Estou com raiva (identificar o sentimento). Estar consciente do sentimento já diminui sua intensidade. Questionar-se: por que estou com raiva? O quê está me dando raiva? Lembrar de tratar os outros como queremos ser tratados. Aprender a ver o problema de uma outra posição – da posição do outro, ou até de um observador (do pai, da mãe, do professor ou de um amigo). Perguntar-se, como fulano veria isso ou esse problema? Como ele agiria se estivesse no meu lugar? 38 LIDANDO COM AS EMOÇÕES Queremos reconhecer e levar inteligência à emoção. Nosso desafio é controlar nossa vida emocional com inteligência. Para melhor ou para pior a inteligência não é nada, desaparece, quando as emoções dominam. O sentimento muito forte esmaga toda a realidade. Também as emoções nocivas põem em risco nossa saúde física. Já o equilíbrio emocional nos ajuda a proteger nossa saúde e bem-estar. Muito se tem falado, hoje em dia, em Alfabetização Emocional. Assim como aprendemos as letras e a escrita, aprendemos também a ler as emoções e lidar com elas. Identificar as emoções e os sentimentos no momento em que eles estão acontecendo, comigo e com outro; com a criança e com o colega, é importante para o bom relacionamento e nosso bom desempenho no dia-a-dia. Desenvolver a habilidade de colocar-se também na posição do outro, ter empatia. Aprender a ver os fatos, as situações numa terceira posição, a de um observador, isento. Isto é um treinamento e uma aprendizagem como é a alfabetização. O professor ou treinador pode desenvolver uma atividade individualmente ou em grupo de dar nome aos sentimentos. Procurar fotos em revista com situações de tristeza, preocupação, excitação, felicidade, alegria, zanga, raiva etc. Cada criança pode dar sugestões de como acalmar-se, como motivar- se, etc. Diga a melhor maneira de lidar com a: Tensão Ansiedade Raiva Medo Imaginar ou dramatizar momentos ou situações de briga, disputas e a melhor forma de resolver estas situações. Descreva uma resposta adequada para ajudar um amigo a resolver um conflito sobre determinado assunto. 39 Como você se sente quando está: Frustrado Ofendido Irado Ansioso Ensinar as crianças: Autocontrole Persistência Motivar-se Conhecimentos a aprender 1. confiança 2. curiosidade 3. intencionalidade 4. auto controle 5. relacionamento e entendimento 6. capacidade de comunicar-se verbalmente 7. cooperação Dar exemplos de situações com casos, representando histórias, etc. O TRUQUE DA TARTARUGA Era uma vez uma tartaruga. Ela gostava de brincar com seus amigos. Às vezes gostava de brincar sozinha. Outras vezes tinha dificuldades na escola, com os professores ou com seus colegas. Às vezes ela ficava tão irritada que não sabia o que fazer, como lidar com essa emoção, como lidar melhor com seus professores, na sala de aula ou com seus amigos. Ela sofria muito com isso. Ficava com os sentimentos à flor da pele. Um dia ela conheceu uma velha tartaruga, de 300 anos. Era uma tartaruga muita sabida. A tartaruguinha lhe perguntou o que fazer nesses momentos difíceis? A velha tartaruga lhe ensinou que quando se sentisse assim com muita raiva, irritada, sem saber o que fazer, deveria entrar bem depressa para dentro do seu casco. “Enfie os braços, as pernas e a cabeça dentro do casco. Lá dentro é tranqüilo e ninguém vai poder lhe incomodar, até que possa se acalmar. Respire fundo e pense qual é o problema e qual é a melhor coisa para fazer”. 40 Os pais e professores podem ensinar a criança a fazer este treinamento, identificando a emoção “Estou vendo que você está com raiva. Vamos nos acalmar juntos, vamos juntos respirar fundo. Vamos ver qual é a melhor forma para resolver o problema”. As crianças dessa forma vão aprendendo e treinando a controlar melhor suas emoções. Elogiar a criança é uma das formas mais eficazes de se corrigir comportamentos e de motiva-las na busca de um comportamento mais saudável. 41 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O feedback ou retorno, tem que ser imediato, assim como a avaliação do comportamento e suas conseqüências. Se você fizer isso acontecerá isso, se você fizer tal coisa, acontecerá tal coisa... O castigo isolado não tem nenhum efeito de aprendizagem, porque a criança não conseguirá fazer uma correta correlação com o comportamento indesejado e o castigo. O castigo sem justificativa reforça condutas negativas e leva a caminhos mais hostis e de retaliação. Devemos entender que estas crianças hiperativas recebem mais represálias que reforço positivo no dia-a-dia em relação a outras crianças. Essas represálias constantes acabam por levar a alterações da área emocional como auto-estima, quadros de ansiedade, depressão, etc., aumentados à medida que os professores e a escola enfatizam as dificuldades dessas crianças, sem dar um suporte para superar estas deficiências. É necessário levar a escola e os professores a entenderem as características dos portadores do déficit de atenção, e considerar o seu preparo no manejo dessas crianças, assim como sua colaboração com o tratamento. Convém ainda adaptar os professores e suas atitudes às necessidades reais dessas crianças. A escola deve gerar um ambiente escolar propício, para o êxito e reforço positivo dessas crianças. O professor deve fazer um esforço adicional para modificar seu estilo a fim de atender à necessidade delas e promover a motivação como elemento primordial na sala de aula e conduta que estimule idéias e criatividade. A criança deve ser colocada preferencialmente perto do professor, na sala de aula, o que inibirá distrações e comportamentos indesejados. Deve ser facilitado o contato destas crianças com outras de bom entendimento, ajuda e respeito. O professor deve ajudar a monitorar as condutas ou dificuldades da criança. 42 Deve-se enfatizar a importância da participação do professor no plano de tratamento com remédios, através de observações e comentários que possam ajudar a melhor monitorar o tratamento, assinalando uma melhora. 43 APRENDIZAGEM A inteligência humana é fruto de seu vasto potencial e do ambiente de estimulação. Nosso potencial individual genético não é limitado pelo dos nossos pais e avós. Nosso potencial genético é o da raça humana. É o mesmo de Bach, Sheakespeare, Michelangelo e Einstein.” (Glen Domman) A aprendizagem se faz através dos sentidos. Desenvolvemos a habilidade de aprender. Os cinco meios pelos quais o homem obtém informação do seu meio ambiente, ou reage a ele, são: a visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar. Existem outros sentidos de grande importância como o equilíbrio e o da posição, a capacidade motora ou expressiva necessária para executar um movimento de apanhar um objeto, por exemplo. Uma criança de 18 meses, pelo modo como age, podemos dizer que é hiperativa, e que é incapaz de prestar atenção, mas o fato é que presta atenção a tudo. Só que esta atenção dura muito pouco tempo, porque há muito que aprender, ver, ouvir, cheirar e provar! Não há outro meio de aprender, a não ser pelo uso dos sentidos. Quando restringimos sua capacidade de arrastar-se, engatinhar, inibimos o desenvolvimento dos seus sentidos, e consequentemente do seu desenvolvimento neurológico. Sua motivação é natural por laços afetivos: a criança quer copiar, espelhar e modelar a mãe e desta forma assimilar o mundo. É uma questão de sobrevivência. A motivação é a preparação para a aprendizagem. À medida que os alunos aprendem, se sentem bem consigo mesmos. À medida que se sentem bem, aprendem melhor e mais. Este é o efeito bola de neve. É importante promovermos um alto grau de motivação, evitando-se os bloqueios, as dificuldades e os problemas que possam interferir no caminho da aprendizagem. É importante levar a criança ou o indivíduo a vivenciar. A maneira mais eficaz de criarmos uma representação interna de que se pode fazer uma coisa (atitude) é fazê-la. Se o indivíduo for bem sucedido uma vez, é bem mais fácil agir, formando um ciclo retro- alimentador de ação, de potencial, de resultado e atitude favorável ao aprendizado. 44 Aprendendo a ler, a criança treina e amadurece seu trajeto visual, treina seu cérebro. Dessa maneira, a inteligência visual e auditiva da criança cresce conforme a oportunidade de aprender grande número de fatos. Quando se melhora uma função do cérebro, melhoram-se todas as funções. Não é verdade que a criança se torna mais inteligente à medida que escreve melhor, lê melhor, aprende melhor e fica mais desembaraçada, é exatamente o contrário: à medida que treina mais, desenvolve melhor. Existem três meios para assegurar a transmissão de estímulos ao sistema nervoso central. Deve-se ampliar os estímulos em freqüência ( o cérebro aprende pela repetição), intensidade (envolvendo um maior número de canais sensoriais) e duração. Proporcionando à criança estimulação visual, auditiva e tátil com mais freqüência, maior intensidade e maior duração, oferecendo oportunidades ilimitadas de exercitar suas funções, desenvolvemos suas habilidades e sua aprendizagem. A função determina a estrutura. A falta de função impedirá que suas vias visuais amadureçam mais cedo. O cérebro, ao que parece, desenvolve-se pelo uso. Toda a metade posterior do cérebro e a medula são inteiramente formadas pelos cinco canais sensoriais de entrada. Podemos literalmente fazê-la crescer fornecendo à criança informação visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa com maior freqüência, intensidade e duração. Esses são os canais pelos quais adquirimos toda a informação, ou seja, aprendemos o mundo. Mobilizando os três sistemas representacionais: auditivo, o visual e o cinestésico, envolvemos o sistema límbico por suas mensagens, assim mobilizaremos o cérebro inteiro no processo de aprendizagem. O desenvolvimento da habilidade visual ou inteligência visual começa com a inabilidade do bebê em ver funcionalmente no nascimento, até a criança média que lê aos 6 anos; e vai até a habilidade superior do adulto que lê em grande velocidade, tem memória fotográfica ou ainda o pintor que cria obras de arte: pinturas e esculturas. A habilidade auditiva tem o primeiro estágio no nascimento, quando a criança estremece reflexamente ao ouvir um ruído forte; vai da inabilidade do bebê de ouvir de maneira compreensível, quando nasce e evolui até os 6 anos quando compreende uma conversa, chegando ao adulto que ouve e compreende acima da média; ou aos indivíduos que possuem grande habilidade no aprendizado de línguas, ou grandes músicos e compositores. A habilidade ou inteligência tátil começa ao nascer quando a criança apresenta movimentos reflexos, sente de forma útil, reconhece 45 objetos pelo tato, é hábil em suas ações e movimentos, indo à habilidade superior dos grandes atletas. A capacidade verbal tem início com o choro, como forma de comunicar necessidades básicas de fome, sono, etc. A criança desenvolve a emissão de sons inespecíficos; posteriormente, por volta de 15 meses, possui vocabulário de mais ou menos 20 palavras. Aos 2 anos forma frases, e aos 3 anos possui cerca de 3000 palavras. Cada vez mais cedo, com ajuda dos meios de comunicação, desenvolve-se mais, adquirindo vocabulário completo. A habilidade ou inteligência lingüística superior é a do indivíduo que sabe se expressar como grande orador, transmitindo seus pontos de vista, posições e idéias de maneira clara e convincente. Depende da percepção visual (córtex cerebral visual, na região occipital), da percepção auditiva (córtex auditiva, região temporal), área de linguagem (temporal esquerda), áreas de associação, a percepção do mundo, aprendizagem da linguagem, da leitura e da escrita. Ler é uma função do cérebro. Depende da análise e síntese destas áreas para que a criança associe a palavra ou fonema ao som que tem o seu significado. O leitor experiente capta somente o contorno geral da palavra e a configuração característica das letras mais importantes que constituem sua raiz. A partir daí, advinha o significado das palavras em sua totalidade. Palavras pouco familiares se lêem pela análise e síntese dos componentes sonoros, enquanto as palavras familiares têm reconhecimento imediato. A análise auditiva desempenha um papel importante na identificação das primeiras letras. Os esquemas articulatórios permitem ao leitor encontrar o significado preciso de uma letra dada e diferenciá-la dos outros sons foneticamente similares a ela e se articularem de forma parecida. Em geral a capacidade de ler melhora com o desenvolvimento da leitura em voz alta. O cérebro em desenvolvimento é uma estrutura extremamente plástica, o córtex cerebral é sensível às influências tanto internas quanto ambientais. Diz o neurolinguísta Luria que todo estímulo forte ou biologicamente significante evoca uma forte resposta, enquanto todo estímulo débil evoca resposta débil. O cérebro está mudando constantemente, tanto de maneira física quanto funcional, tanto para melhor, quanto para pior, conforme a aprendizagem. Assim como pessoa, que desempenha uma atividade física média, tem um desenvolvimento muscular médio, e a que faz pouco exercício físico tem pouco desenvolvimento muscular. Também 46 é verdade que a falta de função produz uma estrutura pobre. A função faz o órgão. Técnicas avançadas de medição da intensificação do fluxo sanguíneo nas áreas cerebrais corticais, que se produz durante atividades sensoriais, motoras e mentais específicas, através de um aumento da intensidade de consumo de oxigênio e aumento do metabolismo da glicose, permitem a localização das funções do córtex cerebral normal. Quando o indivíduo está desperto, em repouso, comodamente e de olhos fechados, mostra que o fluxo sanguíneo não é uniforme, permanece mais elevado na região frontal do córtex cerebral, cerca de 20 a 30%. A intensidade do fluxo na região frontal, no indivíduo em repouso, sugere um estado de auto consciência. Quando o indivíduo abre os olhos, acontece um aumento de fluxo de cerca de 20% do córtex de associação visual localizado na zona do occipital. A estimulação da audição, de ruído sem significado específico, provoca um aumento de fluxo sanguíneo na região superior e posterior do lóbulo temporal de cada lado do cérebro, onde se localiza o córtex auditivo. As funções que exigem certo esforço ativam ao mesmo tempo certas áreas corticais mais amplas, através de vias difusas que se excitam. Tudo indica que para que o cérebro compreenda o mundo que o rodeia, perceba seu significado e atue no desenvolvimento das funções difíceis, deve ativar-se o córtex cerebral não só na forma localizada mas também na sua totalidade. O fracasso é resultado de alta motivação. Fracasso é resultado de falta de motivação. O que os cientistas descobriram é que crianças muito elogiadas se tornam mais inteligentes do que aquelas muito criticadas. O aprendizado será melhor quanto mais sentidos envolvermos nele, além da alta motivação e da satisfação de aprender. Entretanto, muitas vezes, o que chamamos de dificuldade de aprendizagem é na verdade dificuldade de ensino. Encontramos muitas vezes um sistema educacional despreparado para iniciar a criança na arte de aprender. Ao contrário do que é feito, deveríamos ter professores muito bem treinados e com elevado grau de preparo para iniciar as crianças no aprendizado, pois dependerá deste início, praticamente, todo seu futuro escolar. Sabemos que um professor motiva o gosto pela matéria como também desestimula o aprendizado. Apesar dos esforços de modernização, os programas de ensino encontram-se 47 muito defasados. Além de o ensino ser muito verbalizado. O professor fica em pé na sala falando, falando, muitas vezes sem perceber o desinteresse dos alunos. A escola ainda é muito verbal e pouco prática, assim como no século passado. O sucesso dos computadores se dá pelo fato da interatividade (o computador interage com o indivíduo) e do sistema não ser só verbal, mas também visual. Um outro ponto muito importante é que o programa do computador não vai adiante na etapa se o indivíduo não cumprir determinados requisitos ou procedimentos, sem criticar, ofender, chamar atenção negativamente, diminuindo a auto-estima. Os países mais desenvolvidos adotam programas de aprendizagem mais de acordo com a nossa atualidade e mais
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