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Distúrbio de Atenção e Hiperatividade - Teoria e Terapia

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O DISTÚRBIO DA ATENÇÃO E 
HIPERATIVIDADE EM QUESTÃO 
 
TEORIA E TERAPIA 
 
 
Heloísa Miguens de Araújo 
 
2000 
Atualizado 
Registro BN 199375-340-34 
Rio de Janeiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INDICE 
 
 
Introdução ................................................................. 4 
Distúrbio do Déficit da Atenção e Hiperatividade (DDA-H).. 6 
Desatenção ................................................................ 6 
Hiperatividade e Impulsividade....................................... 7 
Formas secundárias ou resultantes do DDA ..................... 8 
Tamborilando, Batendo os Pés, Movimentando-se ............ 9 
O Que Você Disse Mesmo? .......................................... 11 
O adulto com DDA-H .................................................. 12 
Trabalhos Mais Indicados Para Portadores de DDA-H....... 14 
Temperamento Não é Destino.................................. ... 15 
Pessoas Conhecidas com DDA-H .................................. 16 
Uma Questão de Adaptação .................................... .... 19 
Qual É A Chave? ....................................................... 22 
Conversando Com A Criança ....................................... 24 
A Atenção ................................................................ 26 
Afinal o que é a Atenção? ........................................... 26 
Treinamento da Atenção ............................................ 27 
O Cérebro Aprende pela Repetição................................ 29 
Controle do Impulso .............................................. ... 31 
Sinal de Trânsito ....................................................... 32 
Auto-controle ........................................................... 34 
Conhecendo Nossas Emoções ..................................... 36 
Lidando Com As Emoções........................................... 38 
O Truque da Tartaruga .............................................. 39 
Algumas Considerações ............................................. 41 
Aprendizagem........................................................... 43 
Distúrbio da Aprendizagem......................................... 47 
Aos Pais e Professores ............................................... 49 
Algumas Formas De Ajudar As Crianças com DDA-H....... 51 
O Papel Da Escola ..................................................... 54 
 
 
 
 3
A Escola .................................................................. 56 
Atitudes Que Ajudam Escolas, Professores e Crianças...... 58 
Medicação................................................................. 61 
A Memória ................................................................ 63 
Pequenos Recursos De Memória .................................. 67 
A Leitura .................................................................. 69 
A Cópia Na Sala De Aula ............................................. 71 
Encorajando Comportamentos ..................................... 73 
Associações De DDA-H No Brasil .................................. 75 
Minha História ........................................................... 76 
Tia Aloísia ................................................................ 79 
Joana ...................................................................... 81 
Relato de Caso.......................................................... 82 
Consultas via email ................................................... 85 
Perguntas Mais Freqüentes ........................................ 92 
Bibliografia .............................................................. 96 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalho é um vôo e um mergulho nos sintomas, na 
compreensão e no treinamento do Distúrbio do Déficit de Atenção. 
 
Não sou escritora. Considero-me uma treinadora de crianças, 
adolescentes e adultos com o chamado Distúrbio da Atenção e 
Hiperatividade. Na verdade eu mesma faço parte deste grupo. 
 
Sou fonoaudióloga no Rio de Janeiro, trabalho com distúrbios da 
Aprendizagem há mais de 20 anos. Estou sempre sensível às 
crianças, familiares e adultos que me chegam com suas queixas, 
dificuldades e sofrimentos. Estou sempre pesquisando qual o 
caminho, o que é melhor, o que vai efetivamente ajudar para 
obtenção do melhor resultado. 
 
O primeiro momento é definir o problema, fazer o levantamento de 
cada sintoma, conscientizar, esclarecer, identificar o distúrbio da 
atenção e a hiperatividade. 
Começando por compreender o problema já é boa parte da “cura”, 
além de ajudar a “baixar a poeira”. O segundo passo é buscar as 
soluções, conforme cada caso e seus sintomas. O treinamento de 
cada sintoma visa chegar à aptidão. 
 
Afinal o que é a atenção? Como é ter atenção, quem está atento, o 
que vê, o que ouve, o que faz e o que pensa e o que sente? Como 
posso saber quando estou atento? Quais são os sintomas da atenção, 
afinal? O que é a hiperatividade? Quando ela é boa e quando é 
problema? Como lidar com ela? Como controlar o impulso e os 
comportamentos indesejados? 
Da mesma forma, trabalharemos com o treinamento da memória, da 
leitura e da escrita. Conversar com a criança sobre o distúrbio da 
 
 
 
 5
atenção é um trabalho importante, pois afinal ela tem também direito 
de saber e opinar sobre o assunto, já que é a maior interessada e 
atingida pelo problema. Também uma abordagem da escola, 
ajudando-a a entender e lidar com o problema, sugerindo 
treinamento e atividades facilitadoras, de como ajudar a criança, 
lembrando que todos estão diretamente envolvidos no trabalho: 
médico-terapeuta-criança-família-escola que devem funcionar 
juntando suas forças na mesma direção. 
 
Depois da compreensão, fica mais fácil buscar as soluções e descobrir 
novos caminhos, novas fórmulas. Eu sei que cada um também 
descobrirá a sua fórmula. 
 
Agradeço a motivação deste trabalho, em especial a cada criança que 
chegou ao meu consultório com suas dificuldades, a sua mãe ou pai 
preocupados e sofridos, ao estudante ou adulto que vieram em busca 
de ajuda para melhorar. Foi por eles que senti a necessidade e a 
obrigação de escrever sobre este assunto, que espero seja útil 
também às escolas, aos médicos e aos terapeutas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 6
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DISTÚRBIO DA ATENÇÃO 
 
 
O Distúrbio do Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDA-H) é 
caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas, significativos, 
pela intensidade que ocorrem, na criança e no adulto com base na 
dificuldade de auto-controle. Se caracteriza pela dificuldade de 
concentrar a atenção ou de manter a atenção focalizada por um 
período de tempo maior, sem deixar que estímulos externos ou 
internos desviem sua atenção; pela impulsividade e em alguns casos 
pela hiperatividade. As falhas de atenção, impulsividade e 
hiperatividade podem aparecer juntas ou isoladamente; e não são de 
caráter ocasional, mas uma constante na vida do indivíduo. 
 
 
 
 
DESATENÇÃO 
 
 
É caracterizada pela dificuldade de focalizar a atenção por períodos 
maiores de tempo. 
Crianças ou adultos podem apresentar significantes problemas com 
algumas das seguintes características: 
- Dificuldade de concentrar a atenção numa atividade por 
períodos maiores de tempo; 
- Deixa de prestar atenção a detalhes, então comete muitos erros; 
- Tem dificuldade de planejar e iniciar tarefas; 
- Dificuldade na organização das tarefas diárias; 
- Dificuldade em terminar as tarefas ou as
atividades que começou; 
- Tem dificuldade em lembrar o que planejara; 
- Tem dificuldade de ignorar fatores de distração; 
- A criança esquece ou perde o material escolar, brinquedos, etc. 
 
 
 
 7
- A criança não copia os deveres escolares, 
- Parece não escutar quando lhes falam, está pensando em outra 
coisa, distraída... 
- A criança não termina as tarefas escolares; 
- Perde as coisas facilmente; 
- Se distrai facilmente com qualquer estímulo externo ou interno; 
- Tem dificuldade em seguir instruções 
 
 
OBS: muitos autores falam em falhas de memória. A criança como o 
adulto não sabem onde colocaram suas coisas, esquecem o que 
estavam fazendo, o que acabaram de ler. Acredito que isto ocorra 
mais por falta de atenção e automatização do que propriamente por 
falha de memória. 
 
 
 
Hiperatividade e Impulsividade 
 
A criança ou adulto com Hiperatividade e Impulsividade tem as 
seguintes características: 
- É agitada 
- Não consegue ficar sentada muito tempo; 
- Está sempre correndo; 
- A criança tem dificuldade de brincar tranqüilamente; 
- Parece que tem “mola no pé”; 
- Tem dificuldade em terminar o que começa; 
- É impaciente; 
- É facilmente irritável; 
- Responde às perguntas antes de serem completadas; 
- Tem dificuldade de esperar sua vez; 
- Interrompe sempre os assuntos das outras pessoas; 
- Age impensadamente; 
 
 
As formas mais comuns de Distúrbio do Déficit de Atenção: 
1. Déficit de atenção por Desatenção 
2. Déficit de atenção por Hiperatividade e Impulsividade 
3. Déficit de atenção combinado (desatenção + 
 Hiperatividade - DDA-H) 
 
 
Alguns autores consideram este quadro uma patologia, e 
encontramos sua descrição no DSM-IV, livro da sociedade médica 
americana que lista e descreve as patologias. É interessante 
 
 
 
 8
mencionar que algumas patologias entram e saem do quadro do 
DSM-IV, de tempos em tempos, como o alcoolismo, tabagismo etc. 
 
Outros autores consideram estes sinais e sintomas descritos como 
Distúrbio da Atenção como constitucional; apenas uma característica 
do indivíduo, configurando um jeito de ser uma forma de processar e 
não uma doença. 
 
 
 
 
 
FORMAS SECUNDÁRIAS OU RESULTANTES DO 
DÉFICIT DE ATENÇÃO: 
 
- Dificuldade de aprendizagem - será um quadro secundário da má 
adaptação escolar. Como a escola não sabe bem lidar com estas 
crianças, estas não têm suas necessidades atendidas. A forma de 
aprender da criança não está compatível com a forma de ensinar 
da professora ou do método utilizado. 
 
- Dificuldades quanto aos relacionamentos sociais, prejudicados 
pela inconstância, impulsividade, baixa capacidade de tolerar 
frustrações e pela impaciência. 
 
- Imaturidade no desenvolvimento psico-afetivo. 
 
- A desordem de conduta acontece quando não se adapta bem ao 
 ambiente e não consegue conviver bem com ele, tomando 
 atitudes de oposição. 
 
 
Mais e mais o conceito de “déficit de atenção” está mudando, de 
“desordem” pela inclusão de uma série de qualidades como a 
criatividade, alta inteligência, habilidade de fazer muitas coisas ao 
mesmo tempo, e por um forte senso de intuição. 
 
Os aspectos negativos são: a desorganização, a distração, o 
esquecimento, a dificuldade de completar tarefas, a falta de senso de 
horário e a bagunça. 
 
Crianças com “déficit de atenção”, quando adultas, permanecem 
hiperativas e com dificuldades em ficar paradas por muito tempo. 
 
 
 
 
 9
Os aspectos negativos do déficit de atenção são objeto de nosso 
estudo neste livro, assim como o seu treinamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TAMBORILANDO, BATENDO OS PÉS MOVIMENTANDO-SE... O 
QUÊ VOCÊ DISSE MESMO? 
 
 
MENTE HIPERATIVA NUM CORPO HIPERATIVO 
De alguma forma é como se você fosse super cobrado o tempo todo. 
Você tem que agir o tempo todo, mostrar o que você sabe, mas você 
tem na cabeça outra idéia antes de acabar com a primeira; então 
você vai para esta outra idéia, mas certamente a terceira idéia 
intercepta a segunda, e você tem que segui-la e logo as pessoas o 
estão chamando de desorganizado e impulsivo e toda espécie de 
palavras desagradáveis que mostram a total falta de compreensão da 
situação, porque você está trabalhando e se esforçando. 
 
 
Inquietos, não sabem esperar a vez. São rápidos! 
A criança ou adulto com hiperatividade e déficit de atenção está aqui, 
ali, em todo lugar, fica tamborilando, batendo os pés; 
movimentando-se, cantando, assobiando, olhando aqui e ali, 
coçando-se, espreguiçando, rabiscando e as pessoas acham que ela 
não está prestando atenção. Ela se perde no tempo. As coisas 
acontecem todas ao mesmo tempo. Vendo televisão ela muda de 
canal a todo instante. Não tem capacidade de esperar na fila. Tem 
sempre o impulso de se movimentar, agir... Durante uma conversa, 
“sai do ar” A chave é a distração. Gosta de correr riscos. Gosta de 
desafios. Ela é cinestésica, muito sensível. “Pode ver e sentir a luz”. 
Está na frente, tirando conclusões e inventando soluções. A forma de 
cognição é qualitativamente diferente da maioria das pessoas. 
É freqüentemente rotulada de “lenta”, “teimosa” , voluntariosa, 
destruidora, impossível, tirana, cabeça dura, estúpida ou má. 
 
Quando não compreendidas, ou não tratadas devidamente, essas 
crianças (até adultos) são freqüentemente derrubadas pelo sistema. 
 
 
 
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Tornam-se enfraquecidas, desanimadas, acabam vencidas pelas 
escolas, empresas, etc.. 
 
Elas têm seus próprios ritmos. Cabeças de caleidoscópio, pensando 
muitas coisas, juntando idéias, mil idéias ao mesmo tempo. 
 
Fazer o diagnóstico ajuda a acalmar o barulho e a culpa . É 
importante ajudá-las a organizar-se . Trabalhar durante períodos 
curtos, dividir as tarefas em partes, ajudá-las quando necessitem. 
Criar limites externos aos seus impulsos. Medicamentos podem 
ajudar, mas não solucionam o problema. 
 
Déficit de atenção é um estilo de vida, mais que um punhado de 
sintomas. Depois que o diagnóstico é feito, fica mais fácil achar novas 
possibilidades de mudanças reais. 
 
A criança pode manter atenção por muito tempo? É preciso aceitar 
seu ritmo. 
 
Os portadores de “déficit de atenção” possuem 3 características ou 
componentes: 
- distração 
- impulsividade 
- gostam de riscos / desafios 
 
O déficit de atenção e hiperatividade são características. Quando 
adultos, podem ter diminuídos estes sintomas, pelo ambiente 
favorável em que vivem e pela aprendizagem e pelo treinamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O QUÊ VOCÊ DISSE MESMO? 
 
 
São freqüentemente confundidas com inabilidade as dificuldades das 
crianças ou dos adultos de prestar atenção a algo específico. Mesmo 
assim, são capazes de prestar muita atenção ou “hiperfocalizar” o 
que lhes interessa. Não existe déficit de atenção em frente a um 
videogame. 
 
O fato é que não prestam atenção a “alguma coisa”, mas prestam 
atenção a “todas as coisas”. “Quando na sala de aula, percebem o 
movimento fora da sala, pela janela ou pela porta, as outras crianças 
que se distraem, a mosca que voa, etc...” 
 
No meio de uma conversa, às vezes, percebemos que a sua atenção 
não está mais aqui, por onde andará??? Quando ele percebeu, já 
tinha pensado muitas outras coisas, já tinha pensado nas soluções do 
que você estava falando... tinha me lembrado de outra situação 
passada... “Eu estava pensando numa outra coisa...” Temos que 
falar tudo novamente. 
 
Meu pai teve que aprender a conviver com duas pessoas hiperativas e 
impulsivas: eu e minha mãe. Ele acabou nos treinando assim: toda 
vez que estava contando alguma coisa, ou dando uma informação e o 
interrompíamos adiantando o que achávamos que ele queria dizer, 
ele pedia a palavra e começava a falar
tudo novamente desde o 
comecinho... e mais uma vez, e mais uma vez. Até concluirmos que 
era preciso ouvir até o fim o que ele queria dizer, porque nem sempre 
era o que queríamos crer... mas de vez em quando acontece... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ADULTO COM DDA-H 
 
 
Os sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade são mais 
evidentes na criança, durante a fase escolar. Entretanto agora se 
sabe que estes continuam na fase adulta. A criança tratada, será um 
adulto mais produtivo, terá mais recursos. Mesmo as crianças 
tratadas com problemas de comportamento, aprendizagem e de 
autocontrole, podem apresentar algumas dessas dificuldades na 
adolescência e na fase adulta. 
 
Relativamente poucos adultos são identificados. Passam 
desapercebidos ou enfrentam muitos problemas, pois não têm ajuda, 
desconhecem ou muitas vezes superam sozinhos suas dificuldade, a 
duras penas e a custo de muito sofrimento e esforço. Se perdem 
muitas vezes com problemas de relacionamento, organização, 
dificuldades profissionais, problemas de abuso de drogas e no 
controle de impulsos. 
 
Também famílias, profissionais, amigos e quem mais convivem 
diariamente com os indivíduos não diagnosticados com DDA-H, 
sofrem muitas vezes pela má compreensão do problema e devido a 
desinformação. 
 
Adultos diagnosticados saberão conviver melhor com o problema, 
colaborar no manejo dos sintomas melhorando seu desempenho, pois 
se estiverem conscientes de suas dificuldades específicas, saberão 
que este conjunto de sintomas é passível de treinamento e controle 
no sentido de minorá-los, poderão buscar técnicas e soluções. 
 
Os adultos de hoje cresceram num tempo em que clínicas, 
educadores e família não sabiam nada sobre o que agora se sabe. 
 
 
 
 13
Como resultado, adultos, especialmente os não diagnosticados, não 
tratados ou treinados, sofrem experiências desagradáveis e 
enfrentam muitos problemas decorrentes da desordem e outros 
sintomas que incluem: 
- distração 
- desorganização 
- esquecimentos 
- impulsividade 
- falta de iniciativa 
- variações constantes de humor 
- ansiedade 
- conduta de oposição 
- depressão 
- baixa auto-estima 
- inquietação 
- abuso de drogas 
- problemas de relacionamento 
- comportamento compulsivo 
- comportamento obsessivo 
- comportamento agressivo 
- comportamento impulsivo 
 
O diagnóstico é baseado no histórico médico familiar e de 
observação, ou mesmo através de testes psicológicos. 
 
O diagnóstico pode ajudar, porque o indivíduo pelas dificuldades, 
desenvolveu baixa auto-estima e uma perspectiva negativa de si 
mesmo resultante de dificuldades escolares, sociais e vocacionais. 
Muitos foram rotulados de lentos, mau comportamento, baixa 
aprendizagem, agressivos, desmotivados, egoístas e lunáticos. 
 
O tratamento empregado ou treinamento desenvolvido refere-
se a acomodações de trabalho, medicamentos e treinamento, 
determinados conforme os sintomas e severidade. 
 
O adulto deve conscientizar o problema, listar os sintomas e 
intensidade. Os problemas podem afetar somente uma ou algumas 
áreas de atuação do indivíduo tais como trabalho, família, social etc. 
Algumas pessoas podem por exemplo conseguir um bom nível de 
concentração somente quando muito motivadas. Alguns podem ser 
sempre os atrasados, ou anti-sociais, outros têm dificuldade de 
começar atividades, principalmente se não lhes trazem prazer 
imediato. 
 
Sabendo de seus pontos fracos ou limitações, podem valer-se de 
recursos como adotar agendas, fazer listas, notas para si mesmo, 
 
 
 
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usar código de cores, rotinas. Selecionar atividades regulares 
favoritas como forma de liberar energia. Partir tarefas em etapas 
menores, priorizar tarefas, usar períodos de descanso para “tomar 
ar”, técnicas para se acalmar quando exaltados, reformular para 
ganhar nova perspectiva quando zangados ou decepcionados, 
técnicas de desassociação quando necessário. Usar humor, aprender 
a ver certos sintomas com humor, brincando com eles com amigos, 
buscar treinamento, ler livros , falar com profissionais, buscar a 
melhor forma de lidar com determinados sintomas ou situações. 
 
 
 
TRABALHOS MAIS INDICADOS PARA DDA-H 
 
 
Trabalhos mais indicados para pessoas com hiperatividade e déficit de 
atenção serão as atividades que requeiram criatividade e energia, 
capacidade de resolver problemas, pensamento e resoluções rápidas; 
enfrentar desafios, situações que exijam muita adrenalina; projetos 
de curta duração, diversidade. 
 
Atividades adequadas ou que exijam habilidades que as pessoas já 
tenham permitem deixá-las mais felizes e realizadas. São atividades 
adequadas às dos professores, pesquisadores, engenheiros, 
profissionais de marketing, políticos, analistas financeiros. 
 
Os trabalhos menos indicados são os longos, monótonos e 
repetitivos, pois não trarão desafios nem requerem as habilidades 
que essas pessoas possuem. Não são próprios os trabalhos em banco 
e contabilidade; atividades mecânicas de produção em série das 
fábricas e linhas de montagem e também a agricultura. Os trabalhos 
burocráticos também não são os mais indicados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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TEMPERAMENTO NÃO É DESTINO 
 
 
 
Temperamento não é destino. Pode-se domar a amígdala 
superexcitável, com as experiências certas. O que faz a diferença são 
as lições e respostas emocionais que as crianças aprendem enquanto 
crescem. 
 
Conforme Golemann, cerca de um em três bebês que vêm ao mundo 
com todos os sinais de amigdala superexcitável já perdeu a timidez 
quando chegou ao jardim de infância. De observações dessas 
crianças mais medrosas em casa , fica claro que os pais, sobretudo as 
mães, desempenham um papel importante para determinar se uma 
criança vai tornar-se mais ousada com o tempo, ou continuará a 
esquivar-se da novidade e perturbar-se com os desafios da vida. 
 
Uma equipe de pesquisa do Dr. Golemann constatou que algumas 
mães se atinham à filosofia de que deviam proteger os bebes tímidos 
de qualquer coisa perturbadora, outras mães achavam mais 
importante ajudar seu bebe tímido a enfrentar esses momentos e 
com isso adaptar-se para as pequenas brigas da vida. A crença 
protetora parece ter endossado o medo, provavelmente privando as 
crianças de oportunidades de aprender a superar os medos. A 
filosofia do aprender a adaptar-se na criação dos filhos parece ter 
ajudado as crianças medrosas a tornarem-se mais corajosas. Da 
mesma forma como devemos adaptar crianças com DDA-H. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PESSOAS CONHECIDAS COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E 
HIPERATIVIDADE 
 
 
Pesquisadores encontraram, nas mais diferentes áreas, pessoas 
conhecidas com fortes características de déficit de atenção, 
impulsividade ou de hiperatividade: 
 
Steven Spielberg 
Thomas Edson 
Einstein 
Leonardo da Vinci 
Walt Disney 
John Lenon 
Louis Pasteur 
Darcy Ribeiro 
Ziraldo (e seu personagem Menino Maluquinho) 
 
 
Vemos os filmes de Spilberg muito criativos, carregados de cenas de 
muita ação, caracterizando sua hiperatividade. 
 
Leonardo Da Vinci, mostrou também seu caráter hiperativo e 
dispersivo quanto ao foco de atenção, tão variada, “tinha interesse 
em todas as coisas”. Deixou muitos escritos com estudos variados e 
não realizava tudo que planejava. 
“Mal tinha começado um projeto, já estava começando o próximo. 
Tinha imaginação sem limites... Deixou um trabalho variadíssimo nas 
artes com pinturas, esculturas. Na música foi professor e inventou 
tambores, instrumentos de sopro e instrumentos de cordas. Deixou 
trabalhos inacabados como o Cavalo de Bronze. Inventou máquinas 
voadoras, que nunca voaram mas são protótipos dos atuais 
helicópteros
e pára-quedas. Inventou barcos impulsionados por rodas 
de pás, inventou moinhos, escafandros. Fez estudos de canhões, 
navios de guerra, túneis etc.” Vê-se aí a qualidade da dispersão, 
 
 
 
 17
como desfocalizava a atenção de uma coisa e chegava em outra e 
mais outra. Vemos também a qualidade da hiperatividade. 
Certamente nesta época o ensino não era de massa, era mais no 
ritmo da pessoa. Bem canalizado e adaptado pode desenvolver-se e 
desenvolver seu trabalho. Arrumou o seu jeito para despistar seu 
trabalho variado e escrevia em espelho, dificultando a fiscalização 
que a igreja fazia na época. Certamente tanta atividade não partiria 
de uma mente pouco ativa e muito centrada, focalizada. 
 
Thomas Edson, considerado portador de déficit de atenção, mostra o 
caráter de distração do foco de atenção, quando disse uma vez como 
combinava distração com impulsividade ao transformar e inventar. 
Ele disse: “Olhe, eu começo aqui com a intenção de ir lá (desenhando 
uma linha imaginária) num experimento, para aumentar a velocidade 
do cabo Atlântico, mas quando eu tinha chegado num ponto na minha 
linha reta, eu encontrei um fenômeno e me dirigi em outra direção, 
para uma coisa totalmente inesperada”. 
 
Einstein também teve a chamada “dificuldade de aprendizagem” , 
pensamento rápido e dispersivo, que também podia hiperfocalizar em 
determinados momentos. 
Mais de um professor disse-lhe, em diferentes momentos, que ele 
não aprenderia nada na vida. 
 
Conheci pouco de Darci Ribeiro, mas era só ouvi-lo falar para notar 
sua hiperatividade, expressa inclusive em sua variada obra. 
 
Também Milôr Fernandes, escritor e humorista, com sua obra 
variada, numa entrevista para um jornal carioca dizia que só 
trabalhava sob pressão e encomenda. E em um determinado 
momento um jornalista descreve-o como pessoa de pensamento e 
fala rápidos, a voz tinha que correr para poder pegar o pensamento, 
mencionando ainda que interrompia a frase no meio, voltava ao 
assunto anterior, e logo já estava em outro lugar. O próprio Millôr se 
descrevia como tendo natureza eclética... 
 
O escritor hiperativo Ziraldo, revela o seu personagem O Menino 
Maluquinho no livro, descrevendo-o como tendo “fogo no rabo”, 
“vento nos pés”, umas enormes pernas que davam pra abraçar o 
mundo” e referindo-se aos pensamentos “e macaquinhos no sótão”: 
“Ele era um menino impossível, a única coisa que não sabia era como 
ficar quieto”, logo já estava lá, cantava lá, e logo já estava aqui”. 
Perdia o caderno no colégio, perdia um caderno todo dia. Tirava zero 
em comportamento. “A pipa que soltava era a mais maluca, 
rodopiava lá no céu, adoidado ”.(pipa hiperativa!), era desajeitado, 
pintava e bordava. “fazia canções, versinhos, batalhas” . Qualquer 
 
 
 
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semelhança com nossas crianças hiperativas e desatentas é mera 
coincidência? 
 
Concluindo, vemos nestas pessoas famosas as características de 
hiperatividade, desconcentração num foco de atenção. Imaginamos 
as épocas em que viveram ou vivem e as dificuldades enfrentadas 
em seus ambientes, e como teriam convivido com estas 
características, se estariam adaptados ou inadaptados em seus 
tempos, assim como se teriam superado suas dificuldades, ao mesmo 
tempo que questionamos dificuldades ou adaptação? 
 
O jogador Edmundo, conhecido pelo apelido de “animal” que mostra 
bem sua forte característica de impulsividade e agressividade. 
Arranja sempre confusões por agir impensadamente, por impulso. 
Joga muito bem, destacou-se. A mesma força impulsora, a mesma 
agressividade quando bem canalizada, leva-o a destacar-se no 
futebol, a jogar como um “animal”, coloca-o em situações muito 
difíceis quando não controlada e bem dirigida, criando situações 
desfavoráveis quando, por exemplo, interrompido desonestamente 
em um passe por um jogador adversário, tem uma reação violenta e 
impulsiva como esbofetear ou cuspir em seu adversário. Este 
comportamento impulsivo tem sido usado inteligentemente por seus 
adversários que tiram proveito desta situação de falta de auto-
controle do jogador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UMA QUESTÃO DE ADAPTAÇÃO 
 
 
Thon Hartmann volta no tempo, fazendo uma comparação com a era 
do homem caçador e a era da agricultura. O caçador primitivo, que 
não estivesse num estado mental de alerta a tudo, observando todos 
os mínimos movimentos do seu meio ambiente, estaria em grande 
desvantagem. Aquele pequeno movimento disperso poderia ser um 
coelho que necessitaria para seu almoço; ou o tigre ou urso 
esperando para fazer dele seu lanche... Se ele focalizasse sua 
atenção para um ponto intensamente, no caminho, poderia perder 
um outro detalhe no seu habitat, e fatalmente perderia sua caça ou 
seria ele próprio a caça. 
 
A sociedade moveu-se da caça para a agricultura, o homem 
necessita agora semear, regar e colher, tudo em sua época, e em sua 
rotina. 
O agricultor não poderia perder sequer um único dia e passa a fixar 
sua atenção neste serviço e não podia se distrair dele, sob pena de 
perder a sua colheita. 
 
A Impulsividade tem duas manifestações. O impulso que é no mundo 
de hoje o agir sem pensar, no passado refletia um rápido 
julgamento, ou rápida decisão. 
 
O outro aspecto da impulsividade é a impaciência. Um caçador pré-
histórico descreveria a impulsividade como habilidade de agir e 
decidir, e desejo de explorar novas e inexploradas áreas. 
 
Para um agricultor primitivo, a impaciência e impulsividade seriam 
um desastre. Se ele deixasse de diariamente acompanhar o 
crescimento da plantação, poderia perder a colheita. 
 
Por outro lado os que gostam de correr riscos possuem a 
característica mais perigosa nos tempos atuais. Encontram-se muitos 
portadores de déficit de atenção na população carcerária, com 
 
 
 
 20
grande número de problemas sociais, incluindo os delinqüentes 
juvenis e adultos desempregados. 
 
Para o caçador primitivo o risco e a auto-estimulação eram 
necessários como parte de sua vida diária. Se caçadores evitassem a 
adrenalina, não caçariam. Na verdade, o desejo da adrenalina alta 
seria necessária entre os membros da sociedade caçadora. Já se um 
agricultor gostasse de correr riscos, fazer mudanças, inovar, colocaria 
em risco o alimento para sua sociedade. 
 
Na evolução da história humana, os caçadores foram postos de lado, 
isolados, mortos ou exilados. Os britânicos enviaram os 
“inadaptados” para a América e Austrália. Hoje, em algumas escolas, 
crianças com déficit de atenção são estigmatizadas ao invés de 
treinadas ou trabalhadas em suas dificuldades. 
 
Certamente a sociedade atual dá preferência aos “agricultores”, e as 
crianças quietas são recompensadas, no modelo do comportamento 
dos agricultores. 
 
Com a revolução industrial e a introdução dos mecanismos de 
repetição, a sociedade complementou o estilo agricultor. À primeira 
vista, ser agricultor na sociedade atual é desejável, as agendas são 
acompanhadas, as etapas de uma fábrica são também 
desempenhadas dia após dia, regularmente e sem alterações. 
 
São, entretanto, os “caçadores” os instrumentos sociais de mudança 
e liderança. Sociedades com poucos caçadores, necessitam de 
grandes cataclismos para estimular mudanças. 
 
Na língua japonesa não há palavra para líder, pois a noção de estar 
fora da multidão, em seu próprio caminho e desafiando instituições 
existentes é completamente fora da cultura japonesa. Os japoneses 
são reconhecidamente bons agricultores. 
 
Entre os caçadores e guerreiros do norte da Índia e Europa, rituais 
religiosos eram desenvolvidos e iriam ensinar a focalizar a atenção e 
a concentração. Isto também acontece na religião católica, com a 
repetição do terço, servindo de feedback, lembrando constantemente 
o que
deve ser feito, não deixando a mente vagar. Mantras e 
meditações, também eram repetidos em todos os momentos. As 
pessoas com déficit de atenção ou altamente distraídas, também 
criariam concentração com os rituais religiosos, o que as ajudaria a 
focalizar a atenção. 
 
Seria então uma disfunção induzida pela cultura? 
 
 
 
 21
Recentemente, no congresso de neuropsicologia, um famoso médico 
paulista Dr. José Salomão Schwartzman, fez a seguinte proposição: 
Imaginem-se 2 crianças igualmente ativas. Uma é filha de um 
lenhador no Canadá, ganha prêmios anuais pela derrubada de 
árvores e é congratulada por causa disso. Imagine uma menina de 15 
anos, filha de um colecionador de artes, que mora num apartamento 
pequeno em Tóquio. 
Qual das crianças hiperativas, estará bem adaptada e qual terá que 
enfrentar muitos problemas, devido às mesmas características? 
 
Da mesma forma, a criança bem adaptada na escola terá condições 
de desenvolver suas habilidades, treinar e melhorar seus pontos 
fracos, terá sua auto-estima preservada, se sentirá mais feliz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 22
 
 
 
 
 
 
QUAL É A CHAVE? 
 
 
Estímulos mais fortes vêm de suas idéias e emoções. 
 
O estímulo mais forte é o cinestésico (sensação, sentimento e 
movimento). Somente com interesse intenso ou rápida atividade 
eles podem conservar suas mentes “paradas”, num foco único, ou 
ver mais detalhes. 
 
A neurociência nos mostra que podemos desenvolver nosso cérebro 
através do exercício. 
 
Há uma corrente que diz que déficit de atenção é uma desordem do 
cérebro, embora não seja este o nosso pensamento. Entretanto, o 
que é importante é o cuidado que se dará ao assunto, para treinar 
seus pontos fracos. Deve-se levantar a história clínica e a história 
familiar das crianças com déficit de atenção. Verificaremos outros 
casos na família, com tais características. 
 
Não é difícil constatar que alguns portadores do déficit de atenção, 
especialmente aqueles com hiperatividade, têm um diagnóstico de 
déficit de neurotransmissores como a norepinefrina, e fazem uso de 
medicamentos estimulantes ou alguns antidepressivos, embora isto 
não resolva o problema. 
 
É necessário ter compreensão, determinação, perseverança e 
paciência por parte dos familiares e educadores, e juntar esforços na 
mesma direção visando a reeducação e o treino da criança. 
 
Pela inteligência, criatividade, persistência e grande “força de 
vontade”, alguns portadores de “déficit de atenção” (ADD) superam 
seus sintomas sozinhos. As dificuldades são intensificadas com as 
expectativas da sociedade. 
 
A terapia de biofeedback explora a possibilidade de que a atenção e a 
vigília podem ser treinadas pelas pessoas, reduzindo as ondas lentas 
(teta) da atividade cerebral, enquanto executam tarefas de atenção. 
 
 
 
 
 23
Deve-se aumentar a habilidade de focalizar a atenção em tarefas 
maçantes. É como exercitar um músculo. Você o exercita e ele fica 
mais forte. Gradativamente! 
 
Deve-se modelar o comportamento apropriado, construindo a auto- 
estima e trabalhando no auto-controle. 
 
Os objetivos do tratamento são: 
Desenvolver e treinar o auto-controle 
Treinar as suas habilidades (percepção, leitura, escrita, 
etc) 
Regular o impulso 
Controle das emoções 
Estabilizar o humor, pelo auto-conhecimento e exercícios 
de controle. 
Integrar sentimentos 
Focalizar a atenção 
Colocação de limites, aprendendo desde cedo as regras; o que 
pode e o que não pode fazer. 
Melhorar a auto-estima e o humor 
Melhorar o comportamento e as relações familiares 
Aprender a tolerar frustrações 
Aprender a recuperar-se de desapontamentos e adaptar-se às 
mudanças do ambiente. 
 
Estas etapas de aprendizagem e desenvolvimento poderão em alguns 
casos apresentar problemas maiores para as crianças com déficit de 
atenção, como uma reação emocional exagerada, do tipo “tudo ou 
nada”, ou ainda dificuldade em acalmarem-se sozinhas. 
 
Crianças muito pequenas, na fase pré-escolar, tem às vezes 
dificuldades de distinguir entre o real e a fantasia, e desta forma 
necessitam compreensão do problema e ajuda para entender, lidar 
com as dificuldades e acalmar-se. 
Essas crianças podem apresentar dificuldades em algumas áreas da 
vida, como aprendizagem, relacionamento, auto-estima, mau-humor, 
comportamento e relações familiares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 24
 
 
 
 
CONVERSANDO COM A CRIANÇA 
 
 
As crianças com déficit de atenção são, às vezes, levadas ao 
pediatra, neurologista, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, 
etc. A criança é levada de um especialista a outro. Vêem suas vidas 
sendo comentadas, criticadas sem entenderem direito o que está 
acontecendo. Sabem que há alguma coisa que deve estar errada. 
Esquecemos que são as maiores interessadas no problema e 
normalmente não lhes dizemos nada. Devemos esclarecer a situação, 
para que possam participar diretamente na solução dos problemas. 
 
Elas acabam imaginando que têm uma deficiência muito séria, e 
ninguém fala disso com elas. Podem supor que são burrinhas, moles 
ou então fantasiam que estão muito mal. O pior de tudo é se 
acreditarem mesmo nisto, pois passarão a assumir este papel, 
passando a render assim, às vezes para sempre, ou até que uma 
situação muito forte mude esta crença. 
 
A criança percebe que algo não vai bem com ela. Acaba pensando 
que é um estorvo, que não tem nenhuma qualidade, só defeitos. 
Entretanto, quando falamos diretamente com ela, franca e 
amorosamente sobre suas dificuldades, evitando palavras 
contaminadas como mole, desorganizada, impulsiva, descuidada, 
bagunceira, esquecida, etc., envolvemos a criança na sua terapia e 
treinamento, obtendo um novo conhecimento, melhor informação, 
cooperação e participação. 
 
Afinal, ela também deve fazer parte do time, ajudando inclusive na 
busca de soluções e atuando mais atenta e cuidadosamente. A 
criança pode acompanhar sua própria evolução, observando quando 
já consegue fazer coisas que antes não conseguia. “Antes eu sempre 
queimava a língua tomando meu café com leite, agora já sei esperar 
ele esfriar” disse-me certa vez uma criança. 
 
Ajudando a planejar seu dia, sua rotina e listando suas tarefas, 
seguindo a ordem delas, ou mesmo “ticando” (marcando com um 9) 
o que já foi feito. 
 
Os sucessos e fracassos devem ser conversados com a criança, assim 
como o planejamento. “De outra vez que você passar por essa 
 
 
 
 25
mesma situação, qual você acha que deve ser a sua melhor forma de 
reagir? O quê será melhor fazer? ” Ensinar à criança com que 
recursos deve contar para melhor realizar as suas tarefas. 
 
Nós não ajudamos a criança quando a mantemos desinformada do 
que está acontecendo com ela. Crianças que têm mais informações 
sobre suas dificuldades serão mais cooperativas e participantes 
quanto a seu treinamento e terapia. Elas se empenharão mais, a fim 
de resolver ou superar seus problemas do que aquelas que ignoram 
suas dificuldades, têm uma vaga idéia do problema, ou acham que 
são incapazes. 
 
Se a criança está familiarizada com a definição e a natureza do déficit 
de atenção, contribuímos para o esclarecimento e manutenção de 
uma atitude positiva e consciente de suas dificuldades e preservamos 
sua auto-estima. 
 
Quando oferecemos à criança recursos e estratégias para 
desempenhar suas tarefas, estamos preservando seu bem-estar, 
principalmente porque ela experiência o mundo com falhas e erros. 
Assim, damos à criança um senso de perspectiva e controle de lidar 
com obstáculos. Ela terá que lidar com os desafios do dia a dia em 
relação a escola, aos relacionamentos, etc. 
 
 
As crianças podem contribuir com suas próprias idéias e sugestões.
Não é uma vergonha ter déficit de atenção. Elas também têm 
qualidades e potencial que outros não têm. 
 
A criança pode ver listadas suas dificuldades e qualidades, para que 
possa trabalhar em cima dessas dificuldades, quanto a freqüência, 
controle e progressos. Exemplos: 
- dificuldade de aguardar a sua vez 
- dificuldade de completar o trabalho escolar 
- dificuldade de manter a atenção no trabalho que está 
 fazendo 
- dificuldade em manter arrumado seu material escolar, 
 brinquedos, quarto ou outros 
- esquecer de realizar algumas atividades 
- dificuldade de controlar seu comportamento quando numa 
 discussão ou briga com seus amigos. 
 
 
 
 
 
 
 
 26
 
 
 
A ATENÇÃO 
 
 
AFINAL O QUE É A ATENÇÃO?! 
 
Significa “Aplicar cuidadosamente a mente a alguma coisa”, segundo 
o dicionário Aurélio. “Ação de fixar o seu espírito sobre alguma 
coisa”, conforme o dicionário Koogan/Houaiss 
 
“Estou escutando 
Escutando com os olhos e ouvidos 
Escutando com a alma 
Com todos os sentidos 
Escutando com o coração 
Escutar a mensagem que se esconde entre as palavras, entre os 
fatos. 
Descobrir. Apreender... 
 
Estou aprendendo a ver 
Ver com os olhos e os ouvidos... 
Ver com a alma... 
Ver com os sentidos... 
Ver com o coração” 
(autor desconhecido) 
 
É uma soma de ver e ouvir com interesse. Podemos ainda dizer que 
escutamos o mesmo que vemos, percebendo com a mente, com o 
coração e com a alma. A chave é o que capta nosso interesse. 
 
O que define a minha atenção? O que me interessa? O que me 
motiva? 
O que encanta a minha atenção? O que seqüestra a minha atenção? 
 
O mundo está tão rico e variado de informações. Nos oferece opções 
ilimitadas em todas as áreas... como selecionar o que focalizar a 
atenção?! Ou por outra, o quê determina essa seleção?! 
 
O mundo infantil, com mil histórias, televisão, canais infantis, 
bonecos japoneses, Disney Word, net, internet, esportes, clubes, 
músicas, mp3 e escola. Quanta variedade... Eu só presto atenção ao 
que me interessa, e você? 
 
 
 
 
 27
A escola está interessante e competitiva com o mundo infantil 
atual?! Esse é o grande desafio nosso, dos educadores. 
Em meio a tanta variedade como se tornar interessante para captar a 
atenção infantil? E, muitas vezes, em face de nossas limitações e 
dificuldade de ensino... fica mais fácil transferir o problema para o 
lado mais fraco, o lado da criança, fica assim definido e resolvido: 
DISTÚRBIO DA ATENÇÃO! 
 
 
 
TREINANDO A ATENÇÃO 
 
 
ATENÇÃO DO TIGRE 
Imagine-se um animal selvagem como um tigre ou um leão faminto, 
no meio de uma selva. Sinta-se por um instante como um destes 
animais. Veja-se no alto de uma pedra ou um monte, a espreita de 
uma caça. Imagine o alimento preferido chegando, passando por 
perto. O tigre coloca-se em postura de “vou comer AGORA!!!” 
Seus olhos estão atentos, fixos na presa, sem desviarem-se um só 
segundo. Seus ouvidos estão atentos, completamente voltados para o 
alvo. Sua postura está completamente atenta envolvida e voltada 
para o alvo. Sua mente estará totalmente fixada no alvo. Sua 
vontade estará completamente voltada, para o alvo. E quando o tigre 
finalmente decide pular em cima de sua presa, certamente não irá 
hesitante, mas certeira e decididamente. Isto é o máximo da 
atenção! No exercício de atenção do tigre, sinta ao mesmo tempo a 
postura, a respiração, o olho brilhando e o ouvido pulsando de 
atenção! Faça ainda uma pressão nas mãos ou num dedinho, como 
fixando, intensificando, ancorando este estado máximo de atenção. 
Sinta este estado, intensifique este estado máximo de atenção, repita 
várias vezes, treinando a atenção do tigre. Este treinamento e esta 
repetição forma um caminho neurológico da atenção. Este deve ser o 
treinamento da atenção! Conscientizar o que é a atenção, como é ter 
atenção, para que serve ter atenção, quando vou decidir usá-la com 
inteligência voltada para o que é importante para mim, ou seja para o 
meu alvo. Definir os alvos a serem atingidos. Observar quando me saí 
bem, tive atenção completa, ou dizendo melhor, quando tive atenção 
completa me saí bem numa tarefa. Aprender isto e levar as crianças 
a aprender, verbalizar e treinar, sentirem como um tigre em estado 
de atenção! 
 
Fazer uma análise do que é a atenção, é envolver os sentidos, 
concentrar todos os sentidos possíveis, estão voltados para o mesmo 
alvo, para o que estou fazendo 
 
 
 
 28
a-g-o-r-a. É inteligente dirigir toda a minha vontade para o que 
estou fazendo agora, seja para me livrar logo disso ou para me sair 
bem nisto, porque senão eu vou me dar mal, porque esperam isto de 
mim, porque é minha obrigação, etc. Agora estamos falando da 
capacidade de motivarmos a nós mesmos. Lembrar que motivar é 
buscar um forte interesse para fazermos alguma coisa. Esta 
compreensão de buscar um motivo é muito importante, já que muitas 
vezes a criança ou nós mesmos não temos muito claro o porquê das 
coisas, os motivos que nos levam a agir. Devemos ver isto com as 
crianças e muitas vezes conosco mesmos. 
 
Então, atenção é envolver simultaneamente a mente, a visão, a 
audição, a respiração, ação e sentimentos (de alegria, prazer, 
confiança, satisfação por aprender, vencer desafios, barreiras etc.) 
com o mesmo objetivo. 
 
Sempre que entramos em uma atividade divididos, pensando em 
outra coisa ou com a atenção dividida, perdemos uma boa execução. 
 
Um paciente meu, campeão de jiu jitsu, uma vez contou-me porque 
deixou de lutar. Num campeonato, estava lutando, e estava saindo-se 
bem, quando o pai orgulhoso tirou uma foto dele enquanto lutava. 
Numa fração de segundos o flash, o distraiu (dividiu sua atenção) e 
ele se descuidou e foi surpreendido pelo seu adversário, perdendo a 
luta “bobamente”. Estudando com ele o que é atenção, vimos que se 
ele fosse um tigre, naquele dia teria perdido sua caça, seu jantar, 
pela falta de atenção. É importante vermos ou levarmos as crianças 
a verbalizar, analisar diversas situações ou exemplos próprios ou de 
outras crianças, quando fizeram coisas certas porque estavam muito 
atentas, ou ligadas ou se deram mal porque não estavam atentas ou 
ligadas. Esta atividade leva as crianças a analisarem e “fazerem a 
cabeça”, “dirigir o foco” para a atenção. 
 
Temos que fazer um treinamento (o cérebro aprende pela repetição!) 
de atenção, dirigir o foco de atenção para o que se está fazendo. Ter 
isso consciente. “Eu vou fazer esta tarefa ou este dever como um 
tigre” . Eu vou ler este livro durante 15 minutos, durante meia hora! 
Lembre-se de que a aquisição do tempo de foco de atenção também 
deve ser gradual. Deve-se também respeitar o tempo, que não deve 
ser muito longo, no caso de pessoas ou crianças hiperativas. 
 
Atenção significa também estar presente no que se está fazendo, não 
estar dividido. Quantas vezes nos pegamos em diversas situações 
completamente divididos. Estamos lendo um livro nos lembrando de 
uma conversa que tivemos com alguém. Estamos na praia pensando 
que deveríamos estar em casa estudando. Estamos estudando, 
 
 
 
 29
imaginando que poderíamos estar na praia. Estamos numa festa ou 
no cinema, pensando em como estarão se comportando as crianças 
em casa. Estamos fazendo supermercado pensando na reunião do 
escritório logo mais, depois nos assustamos de observar que muitas 
coisas esquecemos de comprar que tinham de ser compradas! 
Estamos sempre com a nossa atenção dividida! Estamos sempre 
fazendo as coisas insatisfatoriamente! Está sempre faltando alguma 
coisa! O que está faltando? Consciência, treinamento de atenção, 
estar presente no que se está fazendo, atenção! Precisamos todos de 
treinar nossa atenção em nossa vida diária, no nosso mundo. E nos 
surpreendemos porque as crianças fazem a mesma coisa com a 
escola,
suas roupas, seus brinquedos, suas tarefas. Crianças também 
e, principalmente, são seres que estão em formação. Antes de tanta 
repreensão precisamos compreender, localizar o problema, quais as 
dificuldades e depois treiná-las! 
 
 
 
O CÉREBRO APRENDE PELA REPETIÇÃO 
 
 
Os católicos repetem as mesmas orações Ave Maria, Pai Nosso e 
outras, diariamente. Por que? De que outra forma colocar os fiéis na 
“ trilha” de pensamentos e preceitos da igreja, e fazê-los memorizar 
estes? Os adeptos da meditação, repetem mantras constantemente. 
Por que? Quando preciso guardar um número de telefone, repito-o 
várias vezes para mim mesma até que o tenha memorizado. Por que? 
Parece claro agora que precisamos da repetição para aprender, 
colocar algo em nossa mente; “fazermos a cabeça” . Nossa cidade 
precisa urgentemente de uma campanha para que não joguemos lixo 
nas ruas. Nessas campanhas é necessária a repetição de uma 
mensagem muitas vezes, até que as pessoas formem aquele hábito. 
Nosso cérebro precisa de repetição para fixação de algo. Às vezes, a 
mensagem é dita de uma forma, não surte muito efeito, é repetida 
com uma pequena variação, ou de outra forma, então, algo acontece: 
há a fixação da mensagem, do hábito, do número do telefone, ou 
outra coisa qualquer. Ninguém acendeu um cigarro pela primeira 
vez e já ficou viciado. Foi necessária a repetição do ato de fumar para 
se formar o hábito de fumar... Assim também acontece com o andar 
de bicicleta, aprender a fazer um laço nos sapatos, etc. 
 
Muito interessante a citação de Jeffrey Zeig, sobre o psiquiatra e 
hipnólogo Dr. Milton Erickson. Disse a Zeig direta e indiretamente 
que ele não deveria fumar, que não ficava bem fumando, que um 
homem ficava muito desajeitado segurando um cigarro entre os 
dedos, que era estranho chupar a fumaça de um cigarro etc. 
 
 
 
 30
Erickson falou durante muito tempo sobe isso. Zeig não sabe explicar 
bem como ao chegar em casa resolveu parar de fumar. E também 
ficou impressionado, pois não imaginava que havia tantas formas 
diferentes e criativas de dizer a uma pessoa a mesma coisa. 
O CÉREBRO APRENDE PELA REPETIÇÃO. 
 
A repetição de palavras chaves, palavras que marcam a idéia, são 
também importantes na fixação das mensagens. 
 
Não se deve pretender com as repetições provocar uma mudança 
imediata, mas uma mudança gradual de sentimentos, 
comportamentos e hábitos. 
 
Assim também a criança, um ser em formação, terá que ser treinada, 
ouvir de várias formas e também repetir para sí mesma, tantas vezes 
quantas sejam necessárias, dia a dia, assim como nosso “Pai Nosso-
Ave Maria” ou mantras, as suas tarefas diárias, escovar os dentes, 
tomar banho, fazer o dever e todas as coisas que a mãe já está 
acostumada a repetir. A chave é mesmo repetir, repetir, 
repetir...Motivar, motivar, motivar. 
 
Da mesma forma que a mãe e a professora devem como atividade 
diária verificar se as crianças fizeram as tarefas da escola e de casa, 
até que a criança esteja bem conscientizada e habituada em realizar 
as tarefas, até que esteja convencida e os comportamentos 
estabelecidos. Até que pela compreensão, repetição e monitoração, 
tenha integrado estas etapas. Algumas crianças precisam mais, 
outras menos ajuda e repetições... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 31
 
 
CONTROLE DO IMPULSO 
 
 
O significado de impulso no dicionário Aurélio é : “Ímpeto. Grandeza 
que indica o comportamento de um foguete e que é igual ao empuxo, 
dividido pela quantidade de combustível consumido por segundo. 
Impulsão específica, empuxo específico”. A idéia é exatamente esta: 
a de um foguete que precisa ser parado, impulsionado, direcionado 
ou controlado. 
 
O impulso está ligado a uma emoção e à razão. Uma emoção ou 
estado é como uma força muito grande, que pode e deve ser bem 
direcionada para benefício e segurança do indivíduo e de outras 
pessoas. As emoções podem ser: raiva, indignação, revolta, amor, 
vontade, tristeza, preguiça, ou outras. 
Daniel Goleman em seu interessante livro sobre Inteligência 
Emocional, nos dá a chave do controle do impulso, e do uso 
adequado das emoções a nosso favor e não contra nós. Isto é usar a 
emoção com inteligência. 
 
É importante tomar conhecimento das sensações do corpo 
(enrubescimento, tensão dos músculos), observar os sentimentos 
(alegria, tristeza, medo, raiva) e o comportamento, como sinais de 
reação a uma situação em que nos encontramos para que possamos 
interromper o impulso inadequado de agir; e a seguir pensar na 
melhor resposta àquela situação. 
 
Controlar as emoções para poder controlar as ações. 
A crianças pode aprender a resolver seus conflitos sem recorrer a 
violência. Pode ser treinada e aprender lidar com as situações difíceis, 
como brigas, provocações, contrariedades. Aprender e treinar expor 
sua posição e buscar as melhores soluções. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 32
SINAL DE TRÂNSITO 
 
 
Um exercício muito eficiente é o do Sinal de Trânsito. 
 
O objetivo é desenvolver um sinal de trânsito mentalmente: 
 
 
 
 
 
- O sinal VERMELHO indica: PARE E ACALME-SE ANTES DE 
 AGIR/SEGUIR. É o famoso 
 “pare e pense”de nossos avós. 
 
- O sinal AMARELO indica: 1. Identifique o problema e 
 como você se sente em 
 relação a ele. 
 
 2. Estabeleça uma mente 
 positiva. 
 
 3. Pense em muitas soluções 
 da forma se x então. 
 (Se eu fizer assim então 
 vai acontecer tal coisa, se 
 fizer A , tão a 
 conseqüência será B). 
 
- O Sinal VERDE abre o caminho: SIGA e tente o melhor 
 plano, a melhor solução. 
 
Observar as vezes em que a estratégia foi usada adequadamente e 
as vezes em que não se conseguiu realizar algumas das etapas. 
Quais foram as conseqüências, o que se ganhou e o que se perdeu 
com o comportamento inadequado ou o adequado. Observar o 
aumento progressivo do controle dos impulsos. 
 
Numa ocasião, um paciente contou-me que fora fazer uma prova na 
escola e chegara um pouquinho atrasado, mas a tempo de ver outro 
 
 
 
 33
aluno também atrasado entrar na escola. Logo depois que o aluno 
entrou, teve sua passagem impedida no portão. Ele então forçou e 
acabou entrando “na marra” , em vez de argumentar com o porteiro. 
Dessa forma, usando a violência, acabou envolvendo no seu ato, a 
direção da escola e acabou sendo expulso. Ele mesmo falando sobre 
o problema, depois, viu duas ou três outras formas de melhor 
resolver o problema, minorando os “prejuízos”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34
 
 
 
AUTO-CONTROLE 
 
 
Além da técnica citada de controle do impulso como um sinal de 
trânsito vermelho, amarelo e verde, outras técnicas ajudam a 
controlar nosso comportamento. São pequenos lembretes de que se 
pode lançar mão sempre que necessário. Cada pessoa prefere uma 
ou outra técnica; você descobrirá a sua. 
 
Movimento dos Olhos - Posso desviar meus olhos para longe da 
cena, lugar ou situação, desviando assim a minha atenção, ou 
desfocalizando propositalmente a minha atenção, quando este foco 
não me interessa. Isto me fará segurar
meu comportamento 
convenientemente. Dessa forma eu fujo da situação ou ação que 
quero evitar. 
 
Contar até Dez – Muito conhecido e praticado, o contar até dez 
antes de “tomar uma atitude” ajuda a esfriar a cabeça e dá tempo 
para o cérebro pensar na melhor escolha de agir. Se você estiver 
nervoso ou ansioso conte até 10; se estiver muito nervoso ou 
ansioso, conte até 100! 
 
Respiração – Já aprendemos com nossos avós e este recurso 
funciona muito bem: respirar fundo 5 a 10 vezes antes de tomar uma 
atitude precipitada. Ou ainda respirar fundo e mergulhar renovado e 
descansado no que estava fazendo, redobrando a atenção. 
 
Contração Voluntária de um Músculo – Substituir o impulso 
indesejado, a ação ou a fala indesejada por uma contração de um 
músculo qualquer do corpo, como contrair o pé, os quadris ou apertar 
dois dedos da mão. Dessa forma eu evito um ato que me levará ao 
arrependimento ou me prejudicará futuramente. 
 
 
Pressionar a língua no céu da boca antes de fazer ou falar o que 
não é bom e não convém. 
 
Pássaro ou Balão - Uma experiência desagradável ou um 
pensamento indesejado posso fazê-lo voar para bem longe como um 
pássaro ou fazê-lo subir e sumir dentro de um balão. Posso imaginar 
estas situações sempre que necessárias. 
 
 
 
 
 35
Dissociação - Significa sair “na minha imaginação” do próprio corpo 
ou de uma situação e poder observar “do lado de fora”, o que está 
acontecendo. Assumimos o papel de um observador, sem 
envolvimento direto no caso e sem a emoção forte de quem está 
sofrendo a ação ou a situação. Esta dissociação nos leva a ver, sentir 
e analisar, isenta e inteligentemente, o acontecimento, possibilitando 
a escolha da melhor opção de sentimento, pensamento ou 
comportamento. 
 
Imaginação – para enfrentar uma situação desagradável ou 
agüentar alguma situação necessária, posso imaginar o que melhor 
convém para o momento. Lembro um relato dramático que lí sobre 
um seqüestro de um rico produtor de vinho na Itália que foi 
conduzido de uma cidade a outra dentro de um caixão. Ele disse que 
se imaginava voltando e andando por entre os verdes campos de sua 
fazenda, por entre as lindas parreiras. 
Posso igualmente também imaginar a alegria que vou sentir ao 
concluir uma tarefa ou a nota maravilhosa que vou tirar por estar 
estudando muito uma matéria. 
 
Dizer-se Algo - Para motivar-me ou para interromper algo, posso 
dizer ou repetir frases ou uma palavra chave. Posso, por exemplo, 
repetir para mim mesma a palavra “calma”, quando costumo 
enfrentar situações que exijam calma. Posso repetir para mim a 
palavra atenção, sempre que estou fazendo uma coisa que exija 
cuidado; posso dizer “vamos lá” para me incentivar a terminar uma 
tarefa; ou ainda “falta pouco”. Procure a sua palavra mágica, aquela 
que, repetida como mantra, vai ajudá-lo a fazer o que deseja. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 36
CONHECENDO NOSSAS EMOÇÕES 
 
 
Estudar as emoções através da face, através da voz, através da 
postura, nos possibilita conhecer mais as outras pessoas e a nós 
mesmos. Fica mais fácil aprender a ser solidários com os outros e a 
controlar a nós mesmos. Isso faz com que melhore a nossa relação, 
com a gente mesmo e com os outros. Desenvolver esse treinamento 
desde criança será muito benéfico. Poupará muitas “guerras” internas 
e interpessoais. 
 
Podemos desenvolver programas nas escolas para ensinar as crianças 
a lidar melhor com as emoções. Posemos desenvolver com a criança 
recortes de revistas ou desenhos de faces com diversos tipos de 
emoções. 
 
Podemos aprender e ensinar que todos nós sentimos emoções. 
Emoções boas e más. Elas são naturais, estão dentro de todos nós. 
Não é errado sentir as emoções que sentimos... Todos nós sentimos 
amor, felicidade, compaixão e também, raiva, medo, inveja, tristeza, 
ansiedade etc,. Todos os sentimentos estão certos. Os 
comportamentos é que podem estar certos ou não. Precisamos 
aprender a separar o sentimento do comportamento. Precisamos é 
aprender a lidar com as emoções, não deixar que elas nos dominem 
e devemos aprender a pensar em muitas opções para lidar com esses 
sentimentos e situações que enfrentamos no nosso dia a dia. 
Precisamos desenvolver uma mente alerta. 
 
As emoções vêm e passam. Geralmente não ficam com a gente. Elas 
passam... vão embora, não ficam para sempre, ao contrário do que 
nos parece, algumas vezes. “Os pensamentos são cheios de emoções 
e as emoções são cheias de pensamentos.” 
 
Estudar as emoções ajuda a controlar as nossas reações, os nossos 
comportamentos e os nossos pensamentos. 
 
É muito difícil controlar a emoção no exato momento em que ela 
ocorre. É necessário um treinamento, uma familiarização, uma 
compreensão dos estados emocionais. Aprender a perceber quando 
aquela emoção ruim vem chegando, assim fica mais fácil lidar com 
ela. Aprender a detectar os primeiros sinais para poder lidar melhor 
com ela ou mesmo evitar os seu aparecimento. Aprender a 
desenvolver recurso para lidar com as emoções, desenvolvendo 
novos pensamentos, novos sentimentos e novos comportamentos. 
 
 
 
 
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Muitas vezes a gente tem uma forte emoção, e em conseqüência 
disso faz algo ruim, destrutivo ou inadequado e se arrepende depois. 
Aprender que isso é um mecanismo ajuda, e podemos decidir fazer 
um esforço para mudar esse padrão, mudar esse comportamento. 
 
A educação emocional consiste em ao invés de os pais e professores 
punirem as crianças por estas apresentarem uma emoção ou um 
comportamento inadequado e destrutivo, como raiva, agressão, 
violência, devem ensinar (estar preparados para ensinar ) às crianças 
que é normal sentirmos essas emoções e que temos que aprender a 
lidar melhor com estes sentimentos evitando comportamentos que 
nos prejudiquem a nós mesmos ou a outras pessoas. 
 
Em primeiro lugar podemos e devemos ajudar a criança a se acalmar. 
Podemos ensinar a criança a identificar o tipo de emoção. Podemos 
discutir abertamente os sentimentos como forma de resolver as 
dificuldades que a criança está tendo com o colega, amigo, com o 
professor, escola, etc. Ou ainda a aprender a pensar com 
antecipação, identificando os sinais e evitando as situações difíceis, 
perigosas ou aquelas que se repetem. Analisar como nosso 
comportamento atinge os outros. Aprender a se colocar no lugar do 
outro. Aprender a separar o sentimento do comportamento. Ensinar 
que só se pode pensar depois de se acalmar, só assim podemos ver 
com clareza. 
 
Estou com raiva (identificar o sentimento). Estar consciente do 
sentimento já diminui sua intensidade. Questionar-se: por que estou 
com raiva? O quê está me dando raiva? Lembrar de tratar os outros 
como queremos ser tratados. Aprender a ver o problema de uma 
outra posição – da posição do outro, ou até de um observador (do 
pai, da mãe, do professor ou de um amigo). Perguntar-se, como 
fulano veria isso ou esse problema? Como ele agiria se estivesse no 
meu lugar? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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LIDANDO COM AS EMOÇÕES 
 
 
Queremos reconhecer e levar inteligência à emoção. Nosso desafio é 
controlar nossa vida emocional com inteligência. Para melhor ou 
para pior a inteligência não é nada, desaparece, quando as emoções 
dominam. 
 
O sentimento muito forte esmaga toda a realidade. Também as 
emoções nocivas põem em risco nossa saúde física. Já o equilíbrio 
emocional nos ajuda a proteger nossa saúde e bem-estar. 
 
Muito se tem falado, hoje em dia, em Alfabetização Emocional. Assim 
como aprendemos as letras e a escrita, aprendemos também a ler as 
emoções e lidar com elas. 
 
Identificar as emoções e os sentimentos no momento em que eles 
estão acontecendo, comigo e com outro; com a criança e com o 
colega, é importante para o bom relacionamento
e nosso bom 
desempenho no dia-a-dia. Desenvolver a habilidade de colocar-se 
também na posição do outro, ter empatia. Aprender a ver os fatos, 
as situações numa terceira posição, a de um observador, isento. Isto 
é um treinamento e uma aprendizagem como é a alfabetização. 
 
O professor ou treinador pode desenvolver uma atividade 
individualmente ou em grupo de dar nome aos sentimentos. 
 
Procurar fotos em revista com situações de tristeza, preocupação, 
excitação, felicidade, alegria, zanga, raiva etc. 
 
Cada criança pode dar sugestões de como acalmar-se, como motivar-
se, etc. 
 
Diga a melhor maneira de lidar com a: 
Tensão 
Ansiedade 
Raiva 
Medo 
 
Imaginar ou dramatizar momentos ou situações de briga, disputas e 
a melhor forma de resolver estas situações. 
 
Descreva uma resposta adequada para ajudar um amigo a resolver 
um conflito sobre determinado assunto. 
 
 
 
 
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Como você se sente quando está: 
Frustrado 
Ofendido 
Irado 
Ansioso 
 
Ensinar as crianças: 
Autocontrole 
Persistência 
Motivar-se 
 
Conhecimentos a aprender 
1. confiança 
2. curiosidade 
3. intencionalidade 
4. auto controle 
5. relacionamento e entendimento 
6. capacidade de comunicar-se verbalmente 
7. cooperação 
 
Dar exemplos de situações com casos, representando histórias, etc. 
 
 
 
 
O TRUQUE DA TARTARUGA 
 
 
Era uma vez uma tartaruga. Ela gostava de brincar com seus amigos. 
Às vezes gostava de brincar sozinha. Outras vezes tinha dificuldades 
na escola, com os professores ou com seus colegas. Às vezes ela 
ficava tão irritada que não sabia o que fazer, como lidar com essa 
emoção, como lidar melhor com seus professores, na sala de aula ou 
com seus amigos. 
Ela sofria muito com isso. Ficava com os sentimentos à flor da pele. 
Um dia ela conheceu uma velha tartaruga, de 300 anos. Era uma 
tartaruga muita sabida. A tartaruguinha lhe perguntou o que fazer 
nesses momentos difíceis? A velha tartaruga lhe ensinou que quando 
se sentisse assim com muita raiva, irritada, sem saber o que fazer, 
deveria entrar bem depressa para dentro do seu casco. “Enfie os 
braços, as pernas e a cabeça dentro do casco. Lá dentro é tranqüilo e 
ninguém vai poder lhe incomodar, até que possa se acalmar. Respire 
fundo e pense qual é o problema e qual é a melhor coisa para fazer”. 
 
 
 
 
 40
Os pais e professores podem ensinar a criança a fazer este 
treinamento, identificando a emoção “Estou vendo que você está com 
raiva. Vamos nos acalmar juntos, vamos juntos respirar fundo. 
Vamos ver qual é a melhor forma para resolver o problema”. As 
crianças dessa forma vão aprendendo e treinando a controlar melhor 
suas emoções. Elogiar a criança é uma das formas mais eficazes de 
se corrigir comportamentos e de motiva-las na busca de um 
comportamento mais saudável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 41
 
 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 
 
 
O feedback ou retorno, tem que ser imediato, assim como a avaliação 
do comportamento e suas conseqüências. Se você fizer isso 
acontecerá isso, se você fizer tal coisa, acontecerá tal coisa... 
 
O castigo isolado não tem nenhum efeito de aprendizagem, porque a 
criança não conseguirá fazer uma correta correlação com o 
comportamento indesejado e o castigo. 
 
O castigo sem justificativa reforça condutas negativas e leva a 
caminhos mais hostis e de retaliação. 
 
Devemos entender que estas crianças hiperativas recebem mais 
represálias que reforço positivo no dia-a-dia em relação a outras 
crianças. Essas represálias constantes acabam por levar a alterações 
da área emocional como auto-estima, quadros de ansiedade, 
depressão, etc., aumentados à medida que os professores e a escola 
enfatizam as dificuldades dessas crianças, sem dar um suporte para 
superar estas deficiências. 
 
É necessário levar a escola e os professores a entenderem 
as características dos portadores do déficit de atenção, e considerar o 
seu preparo no manejo dessas crianças, assim como sua colaboração 
com o tratamento. Convém ainda adaptar os professores e suas 
atitudes às necessidades reais dessas crianças. 
 
A escola deve gerar um ambiente escolar propício, para o êxito e 
reforço positivo dessas crianças. 
 
O professor deve fazer um esforço adicional para modificar seu estilo 
a fim de atender à necessidade delas e promover a motivação como 
elemento primordial na sala de aula e conduta que estimule idéias e 
criatividade. 
 
A criança deve ser colocada preferencialmente perto do professor, na 
sala de aula, o que inibirá distrações e comportamentos indesejados. 
Deve ser facilitado o contato destas crianças com outras de bom 
entendimento, ajuda e respeito. O professor deve ajudar a monitorar 
as condutas ou dificuldades da criança. 
 
 
 
 
 42
Deve-se enfatizar a importância da participação do professor no plano 
de tratamento com remédios, através de observações e comentários 
que possam ajudar a melhor monitorar o tratamento, assinalando 
uma melhora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 43
 
APRENDIZAGEM 
 
 
A inteligência humana é fruto de seu vasto potencial e do ambiente 
de estimulação. Nosso potencial individual genético não é limitado 
pelo dos nossos pais e avós. Nosso potencial genético é o da raça 
humana. É o mesmo de Bach, Sheakespeare, Michelangelo e 
Einstein.” 
(Glen Domman) 
 
A aprendizagem se faz através dos sentidos. Desenvolvemos a 
habilidade de aprender. Os cinco meios pelos quais o homem obtém 
informação do seu meio ambiente, ou reage a ele, são: a visão, o 
tato, a audição, o olfato e o paladar. Existem outros sentidos de 
grande importância como o equilíbrio e o da posição, a capacidade 
motora ou expressiva necessária para executar um movimento de 
apanhar um objeto, por exemplo. 
 
Uma criança de 18 meses, pelo modo como age, podemos dizer que é 
hiperativa, e que é incapaz de prestar atenção, mas o fato é que 
presta atenção a tudo. Só que esta atenção dura muito pouco tempo, 
porque há muito que aprender, ver, ouvir, cheirar e provar! Não há 
outro meio de aprender, a não ser pelo uso dos sentidos. Quando 
restringimos sua capacidade de arrastar-se, engatinhar, inibimos o 
desenvolvimento dos seus sentidos, e consequentemente do seu 
desenvolvimento neurológico. Sua motivação é natural por laços 
afetivos: a criança quer copiar, espelhar e modelar a mãe e desta 
forma assimilar o mundo. É uma questão de sobrevivência. 
 
A motivação é a preparação para a aprendizagem. À medida que os 
alunos aprendem, se sentem bem consigo mesmos. 
 
À medida que se sentem bem, aprendem melhor e mais. Este é o 
efeito bola de neve. É importante promovermos um alto grau de 
motivação, evitando-se os bloqueios, as dificuldades e os problemas 
que possam interferir no caminho da aprendizagem. 
 
É importante levar a criança ou o indivíduo a vivenciar. 
A maneira mais eficaz de criarmos uma representação interna de que 
se pode fazer uma coisa (atitude) é fazê-la. Se o indivíduo for bem 
sucedido uma vez, é bem mais fácil agir, formando um ciclo retro-
alimentador de ação, de potencial, de resultado e atitude favorável ao 
aprendizado. 
 
 
 
 
 44
Aprendendo a ler, a criança treina e amadurece seu trajeto visual, 
treina seu cérebro. Dessa maneira, a inteligência visual e auditiva da 
criança cresce conforme a oportunidade de aprender grande número 
de fatos. Quando se melhora uma função do cérebro, melhoram-se 
todas as funções. Não é verdade que a criança se torna mais 
inteligente à medida que escreve melhor, lê melhor, aprende melhor 
e fica mais desembaraçada, é exatamente o contrário: à medida que 
treina mais, desenvolve melhor. 
 
Existem
três meios para assegurar a transmissão de estímulos ao 
sistema nervoso central. Deve-se ampliar os estímulos em 
freqüência ( o cérebro aprende pela repetição), intensidade 
(envolvendo um maior número de canais sensoriais) e duração. 
Proporcionando à criança estimulação visual, auditiva e tátil com 
mais freqüência, maior intensidade e maior duração, oferecendo 
oportunidades ilimitadas de exercitar suas funções, desenvolvemos 
suas habilidades e sua aprendizagem. 
 
A função determina a estrutura. A falta de função impedirá que suas 
vias visuais amadureçam mais cedo. O cérebro, ao que parece, 
desenvolve-se pelo uso. Toda a metade posterior do cérebro e a 
medula são inteiramente formadas pelos cinco canais sensoriais de 
entrada. Podemos literalmente fazê-la crescer fornecendo à criança 
informação visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa com maior 
freqüência, intensidade e duração. Esses são os canais pelos quais 
adquirimos toda a informação, ou seja, aprendemos o mundo. 
Mobilizando os três sistemas representacionais: auditivo, o visual e o 
cinestésico, envolvemos o sistema límbico por suas mensagens, 
assim mobilizaremos o cérebro inteiro no processo de aprendizagem. 
 
O desenvolvimento da habilidade visual ou inteligência visual começa 
com a inabilidade do bebê em ver funcionalmente no nascimento, até 
a criança média que lê aos 6 anos; e vai até a habilidade superior do 
adulto que lê em grande velocidade, tem memória fotográfica ou 
ainda o pintor que cria obras de arte: pinturas e esculturas. 
 
A habilidade auditiva tem o primeiro estágio no nascimento, quando a 
criança estremece reflexamente ao ouvir um ruído forte; vai da 
inabilidade do bebê de ouvir de maneira compreensível, quando 
nasce e evolui até os 6 anos quando compreende uma conversa, 
chegando ao adulto que ouve e compreende acima da média; ou aos 
indivíduos que possuem grande habilidade no aprendizado de línguas, 
ou grandes músicos e compositores. 
 
A habilidade ou inteligência tátil começa ao nascer quando a criança 
apresenta movimentos reflexos, sente de forma útil, reconhece 
 
 
 
 45
objetos pelo tato, é hábil em suas ações e movimentos, indo à 
habilidade superior dos grandes atletas. 
 
A capacidade verbal tem início com o choro, como forma de 
comunicar necessidades básicas de fome, sono, etc. A criança 
desenvolve a emissão de sons inespecíficos; posteriormente, por 
volta de 15 meses, possui vocabulário de mais ou menos 20 palavras. 
Aos 2 anos forma frases, e aos 3 anos possui cerca de 3000 palavras. 
Cada vez mais cedo, com ajuda dos meios de comunicação, 
desenvolve-se mais, adquirindo vocabulário completo. A habilidade 
ou inteligência lingüística superior é a do indivíduo que sabe se 
expressar como grande orador, transmitindo seus pontos de vista, 
posições e idéias de maneira clara e convincente. 
 
Depende da percepção visual (córtex cerebral visual, na região 
occipital), da percepção auditiva (córtex auditiva, região temporal), 
área de linguagem (temporal esquerda), áreas de associação, a 
percepção do mundo, aprendizagem da linguagem, da leitura e da 
escrita. Ler é uma função do cérebro. Depende da análise e síntese 
destas áreas para que a criança associe a palavra ou fonema ao som 
que tem o seu significado. O leitor experiente capta somente o 
contorno geral da palavra e a configuração característica das letras 
mais importantes que constituem sua raiz. A partir daí, advinha o 
significado das palavras em sua totalidade. Palavras pouco familiares 
se lêem pela análise e síntese dos componentes sonoros, enquanto as 
palavras familiares têm reconhecimento imediato. A análise auditiva 
desempenha um papel importante na identificação das primeiras 
letras. Os esquemas articulatórios permitem ao leitor encontrar o 
significado preciso de uma letra dada e diferenciá-la dos outros sons 
foneticamente similares a ela e se articularem de forma parecida. Em 
geral a capacidade de ler melhora com o desenvolvimento da leitura 
em voz alta. 
 
O cérebro em desenvolvimento é uma estrutura extremamente 
plástica, o córtex cerebral é sensível às influências tanto internas 
quanto ambientais. 
Diz o neurolinguísta Luria que todo estímulo forte ou biologicamente 
significante evoca uma forte resposta, enquanto todo estímulo débil 
evoca resposta débil. 
 
O cérebro está mudando constantemente, tanto de maneira física 
quanto funcional, tanto para melhor, quanto para pior, conforme a 
aprendizagem. Assim como pessoa, que desempenha uma atividade 
física média, tem um desenvolvimento muscular médio, e a que faz 
pouco exercício físico tem pouco desenvolvimento muscular. Também 
 
 
 
 46
é verdade que a falta de função produz uma estrutura pobre. A 
função faz o órgão. 
 
Técnicas avançadas de medição da intensificação do fluxo sanguíneo 
nas áreas cerebrais corticais, que se produz durante atividades 
sensoriais, motoras e mentais específicas, através de um aumento da 
intensidade de consumo de oxigênio e aumento do metabolismo da 
glicose, permitem a localização das funções do córtex cerebral 
normal. Quando o indivíduo está desperto, em repouso, 
comodamente e de olhos fechados, mostra que o fluxo sanguíneo não 
é uniforme, permanece mais elevado na região frontal do córtex 
cerebral, cerca de 20 a 30%. A intensidade do fluxo na região frontal, 
no indivíduo em repouso, sugere um estado de auto consciência. 
Quando o indivíduo abre os olhos, acontece um aumento de fluxo de 
cerca de 20% do córtex de associação visual localizado na zona do 
occipital. A estimulação da audição, de ruído sem significado 
específico, provoca um aumento de fluxo sanguíneo na região 
superior e posterior do lóbulo temporal de cada lado do cérebro, onde 
se localiza o córtex auditivo. 
 
As funções que exigem certo esforço ativam ao mesmo tempo certas 
áreas corticais mais amplas, através de vias difusas que se excitam. 
Tudo indica que para que o cérebro compreenda o mundo que o 
rodeia, perceba seu significado e atue no desenvolvimento das 
funções difíceis, deve ativar-se o córtex cerebral não só na forma 
localizada mas também na sua totalidade. 
 
O fracasso é resultado de alta motivação. Fracasso é resultado de 
falta de motivação. O que os cientistas descobriram é que crianças 
muito elogiadas se tornam mais inteligentes do que aquelas muito 
criticadas. 
 
O aprendizado será melhor quanto mais sentidos envolvermos nele, 
além da alta motivação e da satisfação de aprender. 
 
Entretanto, muitas vezes, o que chamamos de dificuldade de 
aprendizagem é na verdade dificuldade de ensino. Encontramos 
muitas vezes um sistema educacional despreparado para iniciar a 
criança na arte de aprender. 
 
Ao contrário do que é feito, deveríamos ter professores muito bem 
treinados e com elevado grau de preparo para iniciar as crianças no 
aprendizado, pois dependerá deste início, praticamente, todo seu 
futuro escolar. Sabemos que um professor motiva o gosto pela 
matéria como também desestimula o aprendizado. Apesar dos 
esforços de modernização, os programas de ensino encontram-se 
 
 
 
 47
muito defasados. Além de o ensino ser muito verbalizado. O professor 
fica em pé na sala falando, falando, muitas vezes sem perceber o 
desinteresse dos alunos. A escola ainda é muito verbal e pouco 
prática, assim como no século passado. 
 
O sucesso dos computadores se dá pelo fato da interatividade (o 
computador interage com o indivíduo) e do sistema não ser só verbal, 
mas também visual. Um outro ponto muito importante é que o 
programa do computador não vai adiante na etapa se o indivíduo não 
cumprir determinados requisitos ou procedimentos, sem criticar, 
ofender, chamar atenção negativamente, diminuindo a auto-estima. 
Os países mais desenvolvidos adotam programas de aprendizagem 
mais de acordo com a nossa atualidade e mais

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