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História da Escravidão e do Negro no Brasil

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Edro Tenório é graduando em História pela Universidade Estadual de Alagoas e 
bolsista no NEAB - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros - com o projeto de pesquisa 
Música e Identidade nas Religiões de Matriz Africana da Cidade de Arapiraca 
 
ó ã
A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o 
indivíduo (escravo/cativo) é propriedade de outro, propriedade no sentido literal da 
palavra podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado, 
violentado e todo tipo de má sorte que um ser humano poderia imaginar. Legalmente 
o escravo geralmente não detinha direitos, já que o direito à vida e poderia, 
eventualmente, entrar com ação contra seu senhor em caso de “abuso” por parte do 
mesmo. 
Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram 
ao Brasil. À tese mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário 
de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos. Tanto 
Gorender (2010) como Luna (1976) já comentam sobre a chegada dos primeiros 
cativos em solo colonial português. Invariavelmente eles eram capturados nas terras 
onde viviam em África e trazidos à força para as Américas, em navios que levavam o 
nome da morte (tumba) os tumbeiros, que fazia a travessia do Atlântico em 
condições miseráveis e desumanas. Muitos morriam durante a viagem vítimas de 
doenças, de maus tratos e da fome. 
O bojo dos navios da danação e da morte era o ventre da besta 
mercantilista: uma máquina de moer carne humana, funcionando 
incessantemente para alimentar as plantações e os engenhos, as minas e 
as mesas, a casa e a cama dos senhores – e, mais do que tudo, os cofres 
dos traficantes de homens. (BUENO, 2003. p.112) 
Os escravos que sobreviviam à travessia, ao chegar ao Brasil, eram logo 
separados do seu grupo linguístico e cultural, sendo misturados com outros de 
etnias diferentes para que não pudessem se comunicar. Seu papel de agora em 
diante seria servir de mão-de-obra para seus senhores, fazendo tudo o que lhes 
ordenassem, sob a pena de castigos violentos, no início era dada uma surra para 
acalmar o Boçal (designação para os africanos recém-chegados que ainda não 
dominavam a língua nem os modos cristãos da época). Além de terem sido trazidos 
de sua terra natal, de não terem nenhum direito, os escravos tinham que conviver 
com a violência e a humilhação em seu dia-a-dia. Alguns autores priorizaram este 
tema o elevando a categorias centrais, sendo interpretados como não dialéticos e 
“conservadores” de uma vitimização exacerbada, porém, com o centenário da
 
2 
 
abolição houve um grande movimento referente ao tema e hoje podemos 
afirmar que os escravos, também, foram atores sociais importantes em sua 
sociedade. 
A minoria branca, a classe dominante socialmente, justificava essa condição 
através de ideias religiosas e racistas que afirmavam a sua superioridade e os seus 
privilégios. As diferenças étnicas funcionavam como barreiras sociais. O escravo 
tornou-se a mão-de-obra fundamental nas plantações de cana-de-açúcar, de tabaco 
e de algodão, nos engenhos, e mais tarde, nas vilas e cidades, nas minas e nas 
fazendas de gado. Além de mão-de-obra, o escravo representava riqueza: era uma 
mercadoria, que, em caso de necessidade, podia ser vendida, alugada, doada e 
leiloada e o “escravo funcionava, em certas ocasiões, como dinheiro em sentido 
estrito, como meio de troca ou meio de circulação” (GORENDER. 2010, p. 212). O 
escravo era visto na sociedade colonial também como símbolo do poder e do 
prestígio dos senhores, cuja importância social era avalizada pelo número de 
escravos que possuíam, diferentemente do que se via nas regiões entre São Paulo e 
Minas onde o senhor tinha reconhecido o seu poder através da quantidade de 
“arcos” que dominava. 
A escravidão negra foi implantada durante o século XVI e se intensificou entre 
os anos de 1700 e 1822, sobretudo pelo grande crescimento do tráfico negreiro. O 
comércio de escravos entre a África e o Brasil tornou-se um negócio muito lucrativo. 
O apogeu do afluxo de escravos negros pode ser situado entre 1701 e 1810, quando 
1.891.400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais e os anos que 
antecederam a sua proibição. Nem mesmo com a independência política do Brasil, 
em 1822, e com a adoção das idéias “liberais” pelas classes dominantes o tráfico de 
escravos e a escravidão foram abalados. Neste momento, os senhores só 
pensavam em se libertar do domínio português que os impedia de expandir 
livremente seus negócios. Ainda era interessante para eles preservar as estruturas 
sociais, políticas e econômicas vigentes já que o escravo era a base que sustentava 
esta sociedade. Ainda foram necessárias algumas décadas para que fossem 
tomadas medidas para reverter à situação dos escravos. Por ora, vale lembrar que 
não eram todos os escravos que se submetiam passivamente à condição que lhe foi 
imposta. As fugas, as resistências e as revoltas sempre estiveram presentes durante 
 
3 
 
o longo período da escravidão, o escravo era inimigo visceral do trabalho. Existiram 
centenas de quilombos ou mocambos dos mais variados tipos, tamanhos e 
durações. Os quilombos eram criados por escravos negros fugidos que procuraram 
manter-se afastado da sociedade que queria a todo custo reificá-los. O quilombo 
mais famoso pela sua duração e resistência, foi o de Palmares, estabelecido no 
interior do atual estado de Alagoas, na Serra da Barriga, sítio arqueológico tombado 
recentemente. Este quilombo se organizou em diferentes aldeias interligadas, sendo 
constituído por milhares de habitantes e possuindo forte organização político-militar. 
Como Era Tratado O Escravo 
Antes de romper o sol, isso lá para 4 ou 5 da madrugada, os negros eram 
despertados através das badaladas de um sino e formados em fila no terreiro para 
serem contados pelo feitor e seus ajudantes, que após a contagem rezavam uma 
oração que era repetida por todos os negros. Após ingerirem um gole de cachaça e 
uma xícara de café como alimentação da manhã, os negros eram encaminhados 
pelo feitor para os penosos labores nas roças, e às dez ou onze horas da manhã o 
almoço era trazido por um dos camaradas do sitio em um grande balaio que 
continha a panela de feijão que era cozido com gordura e misturado com farinha de 
mandioca, o angu esparramado em largas folhas de bananeiras, abóbora moranga, 
couve rasgada e raramente um pedaço de carne de porco fresca ou salgada que era 
colocada no chão, onde os negros acocoravam-se para encher as suas cuias e iam 
comer em silêncio, após se saciarem os negros cortavam o fumo de rolo e 
preparavam sem pressa o seus cigarros feitos com palha de milho, e após o 
descanso, os negros continuavam a labuta até o sol sumir, onde eram conduzidos 
de volta à fazenda onde todos eram passados em revista pelo feitor e recebiam um 
prato de canjica adoçada com rapadura como ceia e eram recolhidos a senzala. 
E em suas jornadas diárias, os negros também sofriam os mais variados tipos 
de castigo, nas cidades o principal castigo era os açoites que eram feitos 
publicamente nos pelourinhos que se constituíam em colunas de pedras ou madeira 
erguidas em praças pública e que continha na parte superior algumas pontas 
recurvadas de ferro onde se prendiam os infelizes escravos. E cujas condenações à 
pena dos açoites eram anunciadas pelos rufos dos tambores para uma grande 
multidão que se reunia para assistir ao látego do carrasco abater-se sobre o corpo 
 
4 
 
do negro escravo condenado para delírio da multidão excitada que aplaudia, 
enquanto o chicote abria estrias de sangue no dorso nu do negro escravo que ficava 
à execração pública. Em outro métodode punição dado aos negros foi o castigo dos 
bolos que consistia em dar pancada com a palmatória nas palmas das mãos 
estendidas dos negros, e que provocavam violentas equimoses e ferimentos no 
epitélio delicado das mãos. 
Em algumas fazendas e engenhos, as crueldades dos senhores de engenho e 
feitores atingiram a extremas e incríveis métodos de castigos ao empregarem no 
negro o anavalhamento do corpo seguido de salmoura, marcas de ferro em brasa, 
mutilações, estupros de negras escravas, castração, fraturas dos dentes a 
marteladas e uma longa e infinita teoria de sadismo requintado. No sul do Brasil, os 
senhores de engenhos costumavam mandar atar os punhos dos escravos e os 
penduravam em uma trava horizontal com a cabeça para baixo, e sobre os corpos 
inteiramente nus, eles untavam de mel ou salmoura para que os negros fossem 
picados por insetos. 
E através de uma série de instrumentos de suplícios que desafiava a 
imaginação das consciências mais duras para a contenção do negro escravo que 
houvesse cometido qualquer falha, e no tronco que era um grande pedaço de 
madeira retangular aberta em duas metades com buracos maiores para a cabeça e 
menores para os pés e as mãos dos escravos, e para colocar-se o negro no tronco 
abriam-se as suas duas metades e se colocavam nos buracos o pescoço, os 
tornozelos ou os pulsos do escravo e se fechava as extremidades com um grande 
cadeado, o vira mundo era um instrumento de ferro de tamanho menor que o tronco, 
porém com o mesmo mecanismo e as mesmas finalidades de prender os pés e as 
mãos dos escravos, o cepo era um instrumento que consistia num grosso tronco de 
madeira que o escravo carregava à cabeça, preso por uma longa corrente a uma 
argola que trazia ao tornozelo. 
O Libambo era um instrumento que prendia o pescoço do escravo numa 
argola de ferro de onde saía uma haste longa. Que poderia terminar com um 
chocalho em sua extremidade e que servia para dar o sinal quando o negro andava, 
ou com as pontas retorcidas com a finalidade de prender-se aos galhos das árvores 
para dificultar a fuga do negro pelas matas, as gargalheiras eram colocadas no 
 
5 
 
pescoço dos escravos e dela partiam uma corrente que prendiam os membros do 
negro ao corpo ou serviam para atrelar os escravos uns aos outros quando 
transportados dos mercados de escravos para as fazendas, e através das algemas, 
machos e peias os negros eram presos pelas mãos aos tornozelos o que impedia do 
escravo de correr ou andar depressa, com isto dificultava a fuga dos negros, e para 
os que furtavam e comiam cana ou rapadura escondido era utilizado a mascara, que 
era feita de folhas de Flandres e tomava todo o rosto e possuía alguns orifícios para 
a respiração do negro, com isto o escravo não podia comer nem beber sem a 
permissão do feitor, os anjinhos eram um instrumento de suplicio que se prendiam 
os dedos polegares da vitima em dois anéis que eram comprimidos gradualmente 
para se obter a força a confissão do escravo incriminado por uma falta grave. 
Já no início do século XIX era possível verificar grandes transformações que 
pouco a pouco modificavam a situação da colônia e o mundo a sua volta. Na 
Europa, a Revolução Industrial introduziu a máquina na produção e mudou as 
relações de trabalho. Formaram-se as grandes fábricas e os pequenos artesãos 
passaram a serem trabalhadores assalariados. Na colônia, a vida urbana ganhou 
espaço com a criação de estaleiros e de manufaturas de tecidos. A imigração em 
massa de portugueses para o Brasil foi outro fator novo no cenário do Brasil colonial. 
Mesmo com todos esses avanços foi somente na metade do século que 
começaram a serem tomadas medidas efetivas para o fim do regime de escravidão. 
Alguns fatores que contribuíram para a abolição: 
1850 - promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que acabou definitivamente 
com o tráfico negreiro intercontinental. Com isso, caiu a oferta de escravos, já que 
eles não podiam mais ser trazidos da África para o Brasil. 
1865 - Cresciam as pressões internacionais sobre o Brasil, que era a única 
nação americana a manter a escravidão. 
1871 - Promulgação da Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre 
Livre, que estabeleceu a liberdade para os filhos de escravas nascidos depois desta 
data. Os senhores passaram a enfrentar o problema do progressivo envelhecimento 
da população escrava, que não poderia mais ser renovada. 
 
6 
 
1872 - O Recenseamento Geral do Império, primeiro censo demográfico do 
Brasil, mostrou que os escravos, que um dia foram maioria, agora constituíam 
apenas 15% do total da população brasileira. O Brasil contou uma população de 
9.930.478 pessoas, sendo 1.510.806 escravos e 8.419.672 homens livres. 
1880 - O declínio da escravidão se acentuou nos anos 80, quando aumentou 
o número de alforrias (documentos que concediam a liberdade aos negros), ao lado 
das fugas em massa e das revoltas dos escravos, desorganizando a produção nas 
fazendas. 
1885 - Assinatura da Lei Saraiva-Cotegipe ou, popularmente, a Lei dos 
Sexagenários, pela Princesa Isabel, tornando livres os escravos com mais de 60 
anos. 
1885-1888 - o movimento abolicionista ganhou grande impulso nas áreas 
cafeeiras, nas quais se concentravam quase dois terços da população escrava do 
Império. 
13 de maio de 1888 - assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel. 
No Brasil, o regime de escravidão vigorou desde os primeiros anos logo após 
o descobrimento até o dia 13 de maio de 1888, quando a princesa regente Isabel 
assinou, utilizando uma caneta de ouro e pedras preciosas, oferecida pelos 
abolicionistas, a Lei 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, libertando os escravos. 
A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido 
abolida há 125 anos, não pode ser apagada e suas consequências não podem ser 
ignoradas. A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e 
pode ajudar a planejar o futuro. 
"Declara extinta a escravidão no Brasil. A princesa imperial regente em nome 
de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do 
Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte: 
Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. 
Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário. 
 
7 
 
Manda, portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução 
da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente 
como nela se contém. 
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras 
Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, 
do Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr. 
Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da 
Independência e do Império. 
Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto da 
Assembleia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no 
Brasil, como nela se declara. 
“Para Vossa Alteza Imperial ver". 
Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel aboliu a escravidão no Brasil, 
colocando nas ruas milhares de negros que, de uma hora para outra, ficaram sem 
destino. Com isso agradou a abolicionistas, bateu de frente com escravocratas e 
para muitos historiadores começou a escrever o epílogo do reinado de seu pai, 
Pedro II, que cairia pouco mais de um ano mais tarde. Até hoje aplaudida por muitos 
pelo fim e criticada por outros pelos meios utilizados e também pelos fins, a abolição 
da escravidão no país ainda é um assunto que encerra muitas discussões. Não 
houve, como nos Estados Unidos, uma guerra civil dividindo alas contrárias ao tema, 
não se disparouum tiro sequer (porém, não faltaram tentativas de homicídio de 
capangas de senhores de escravos contra abolicionistas) para que os escravos 
ficassem livres ou continuassem presos a grilhões na senzala, mas também não 
houve uma discussão séria e definitiva sobre o caso. Claro, havia os fóruns de 
debates, principalmente nas páginas dos jornais, nas quais brilhava a verve de José 
do Patrocínio. Mas muitos acreditam que a atitude de Isabel foi mais emocional do 
que prática. Afinal, não houve preparação suficiente para o fato, ricos senhores de 
terra que investiram muito em seus escravos ficaram, de uma hora para outra, sem 
eles e os governos pós-abolição não souberam utilizar o ato da princesa a favor de 
melhorias sociais. 
 
8 
 
Problemas Da Elite 
Afinal, a escravidão dominou todos os aspectos da vida brasileira durante o 
século XIX. O final dessa instituição parecia ter aberto novas portas para uma 
sociedade mais justa e menos dividida. Mas a libertação dos escravos não podia 
deixar de ter consequências importantes e profundas para as finanças, tanto 
públicas quanto particulares. "Infelizmente, a irresponsabilidade financeira dos 
governos após a abolição transformou essa grande oportunidade para a reforma 
social em um desastre econômico. Esses políticos provocaram inflação, afugentaram 
investidores nacionais e estrangeiros e arrebentaram a onda de otimismo que se 
seguiu à emancipação", explica Schulz. "Em um sentido mais amplo, os ajustes 
necessários à introdução do trabalho livre resultaram numa crise que durou quase 
três décadas", diz o historiador. 
Segundo ele, a crise financeira da abolição começou gradativamente. Vários 
anos poderiam, de acordo com Schulz, servir para o começo desse estudo: 1871, 
quando a Lei do Ventre Livre determinou que nenhum escravo nasceria no Brasil, ou 
1880, quando começou a campanha abolicionista. "Ou, ainda, 1884, quando o 
Banco do Brasil parou de conceder hipotecas garantidas por escravos", diz o autor, 
que escolhe o ano de 1875 como o primeiro a detonar o processo de crise 
financeira, quando o Brasil sofreu sua última crise como país escravagista. Essa tal 
crise, explica Schulz, teve como causa externa o início da "grande depressão" 
mundial do século XIX, e como causa interna a suspensão do Banco Mauá, o que 
levou muitos brasileiros à bancarrota, criando um sério problema para as elites, que 
a abolição só veio agravar. 
"A crise financeira da abolição pode ser dividida em três partes: um mal-estar 
pré-abolição, uma 'bolha' chamada Encilhamento e um período de tentativas 
frustradas de estabilização que sucederam ao colapso da bolha", diz Schulz, 
elencando outros problemas que advieram à abolição. "O ministério que realizou a 
abolição entendeu que seria necessário tomar providências financeiras para 
satisfazer aos fazendeiros e acabou sendo um dos gabinetes mais atuantes do 
século. A magnitude da mudança, porém, aos olhos dos fazendeiros, merecia 
medidas ainda mais enérgicas. Os três governos, um monarquista e dois 
republicanos, que se seguiram ao gabinete abolicionista, triplicaram a moeda em 
 
9 
 
circulação, estimularam a especulação na bolsa de valores e tentaram de todas as 
maneiras conseguir o apoio dos grandes fazendeiros", conta o historiador. "Essas 
ações irresponsáveis criaram uma bolha especulativa chamada de Encilhamento. 
Embora o estouro dessa bolha tenha sido bastante dramático, a crise continuou por 
uma década após o Encilhamento." Ou seja: o que poderia e deveria ser uma 
alavancada para o progresso do País a partir da extirpação de um mal - a 
escravidão - acabou se tornando um mal adjacente, devido à incompetência dos 
administradores do governo brasileiro. Qualquer economista recém-formado sabe 
que multiplicar o número da moeda circulante, apoiar a especulação na bolsa e não 
conter os gastos resulta em uma palavra que mais se assemelha a um dragão voraz: 
inflação. 
A crise econômica que se seguiu à abolição, então, é muito bem trabalhada 
por Schulz em seu estudo, mostrando desde o problema do sistema financeiro 
internacional e a crise com os cafeicultores até as tentativas de estabilização da 
economia e a crescente inflação. Para ilustrar todas suas idéias e explicações, o 
autor ainda elenca uma série de tabelas, apresentando os gastos governamentais, a 
capitalização da Bolsa do Rio e o serviço da dívida brasileira. Para quem tem 
curiosidade sobre o assunto e deseja se aprofundar nesse tema que até hoje gera 
polêmica, o trabalho de Schulz publicado pela Edusp é um belo instrumento de 
apoio ao estudo. Talvez, inclusive, explique muita coisa que aconteceu até um 
passado muito recente e que está de uma forma ou outra, apenas adormecida. Link 
para o estudo de John Schulz: A Crise da Abolição 
Afro-Descendência, Mestiçagem e o Negro no Brasil. 
De um lado, o africano se tornou ladino e tornou seus filhos crioulos e 
mestiços de várias espécies: mulato, pardo, cabra, caboclo. A crioulização e a 
mestiçagem são temas inevitáveis da história do negro no Brasil. De outro lado, 
raros são os aspectos de nossa cultura que não trazem a marca da cultura africana. 
O assunto já foi muito tratado por historiadores e antropólogos, que estudaram os 
negros, a família, a língua, a religião, a música, a dança, a culinária e a arte popular 
em geral. 
Epopeia Do Negro No Brasil 
 
10 
 
1454: A bula Papal editada por Nicolau V dá aos portugueses a exclusividade 
para aprisionar negros para o reino e lá batizá-los. 
1549: Tomé de Souza desembarca no Bahia. Com ele vieram provavelmente 
os primeiros escravos brasileiros. 
1630-80: Data provável da formação do Quilombo dos Palmares. Palmares 
ocupou a maior área territorial de resistência política à escravidão. Ela foi uma das 
maiores lutas de resistência popular nas Américas. 
1693: Morre a rainha Nznja, tuerreira, aujoiava 
1695: Morte de Zumbi dos Palmares. Zumbi dirigiu Palmares num dos seus 
momentos mais dramáticos. As forças chefiadas pelo bandeirante Domingos Jorge 
velho destruíram o Quilombo e, depois, assassinaram Zumbi. 
1741: Alvará determina que os escravos fugitivos sejam marcados com ferro 
quente com a letra "F" carimbada nas espáduas. 
1835: Levante de negros urbanos de Salvador. Segundo historiadores, a 
Revolta dos Malês foi a mais importante revolta urbana de negros brasileiros, pelo 
número de revoltosos, grau de organização e objetivos militares. Elas se inscrevem 
entre as grandes revoltas assistidas pela cidade no século XIX: 1807, 1809, 1813, 
1826, 1828,1830 e 1844. 
1830: É enforcado o Oulomboja Manuel Gonga em Vassouras - RJ. 
1833: É fundado o Jornal "O Homem de cor" por Paula Brito, é o primeiro 
jornal brasileiro a lutar pelos direitos do negro. 
1838: O governo do Sergipe proíbe que portadores de moléstias contagiosas 
e africanos, escravos ou não frequentem escolas públicas. 
1850: É editada a Lei Euzébio de Queiroz. Ela põe fim ao tráfico de escravos. 
Nesse mesmo ano, é editada a lei da terra. A partir dessa lei era proibido ocupar 
terras no Brasil. Para possuir terra era necessário comprá-la do governo. 
1854: Decreto proíbe o negro de aprender a ler e escrever. 
 
11 
 
1866: O império determina que os negros que serviam no exército seriam 
alforriados. 
1869: Proibidas a venda de escravos debaixo de pregão e com exposição 
pública. A lei proíbe a venda de casais separados e de pais e filhos. 
1871: É editada a lei do ventre livre. Com ela os filhos de escravos seriam 
libertos, depois de completarem a maioridade. 
1882: Morre o abolicionista Luiz Gama. Sua mãe, Luiza Mahin foi um das 
principais lideranças na Revolta dos Malês, em Salvador. 
1883: Primeira libertaçãocoletiva de escravos negros no Brasil. 
1884: Abolição da escravatura negra na província do Amazonas. 
1885: É editada a Lei do Sexagenário. A lei Saraiva-Cotegipe liberta os 
escravos com mais de 65 anos de idade. Segundo dados, a vida útil de um escravo 
era 15 anos, em média. 
1886: O governo proíbe o açoite dos castigos aos escravos. 
1888: Promulgada a Lei Áurea. Ela extingue a escravidão no Brasil. O país é o 
último a abolir a escravidão do ocidente. 
1890: Decreto sobre a imigração veta o ingresso no país de africanos e 
asiáticos. O ingresso de imigrantes europeus era liberada pelo governo. 
1910: João Cândido, o Almirante negro, lidera a revolta da esquadra (Revolta 
das Chibatas) contra os castigos físicos praticados contra os marinheiros. 
1914: Surge em Campinas a 1° organização sindical de negros. Dela 
participaram de forma expressiva e determinante as mulheres negras. 
1915: Surge o Manelick, o primeiro jornal de negros da capital paulista. 
1916: É criado o Centro Cívico Palmares, em São Paulo. 
1929: Surge o jornal Quilombo, na cidade do Rio de Janeiro. 
 
12 
 
1931: Nasce a Frente Negra Brasileira (FNB) que chegou a reunir mais de 100 
mil em diversos estados do país. A organização pleiteava sua transformação em 
partido político. No ano de 1937, com a instalação do Estado Novo, a FNB é 
colocada na ilegalidade. 
1932: É formado em São Paulo, o Clube do Negro de Cultura Social. Seus 
dirigentes editavam o jornal O Clarim da Alvorada, um dos mais importantes na 
história do periodismo racial. 
1935: Surge no Rio de Janeiro, O Movimento Brasileiro Contra o Preconceito 
Racial. 
1936: Laudelina de Campos Mello funda na cidade de Santos a primeira 
Associação de Empregadas Domesticas no Brasil 
1938: É organizada em São Paulo a União Nacional dos Homens de Cor 
1944: Abdias Nascimento funda no Rio de Janeiro o Teatro Experimental do 
Negro. 
1945: Renasce o Movimento Negro no país. Surge em São Paulo a 
Associação do Negro Brasileiro, fundada por ex-militantes da FNB. No Rio de 
Janeiro é organizado o Comitê Democrático Afro-Brasileiro com o objetivo de 
defender a constituinte, a anistia e o fim do preconceito racial e de cor. Realiza-se a 
primeira Convenção Negro Brasileiro com representantes do Rio de Janeiro, Minas 
Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo, em São Paulo. 
1948: Surgem as entidades, Frente Negra Trabalhista e Cruzada Social do 
Negro Brasileiro (São Paulo); Turma Auriverde e Grêmio Literário Cruz e Souza 
(Minas Gerais) e União Cultural dos Homens de Cor (Rio de Janeiro). 
1949: Realiza-se no Rio de Janeiro o Conselho Nacional de Mulheres Negras. 
1950: No Rio é aprovada a Lei Afonso Arinos, que condena como 
contravenção penal a discriminação de raça, cor e religião, também é criado o 
conselho nacional de mulheres negras. 
1954: É fundada em São Paulo a Associação Cultural do Negro. 
 
13 
 
1969: O governo do general Emílio G. Médici proíbe a publicação de noticias 
sobre movimento negro e a discriminação racial. 
1971: Surge em Porto Alegre o Grupo Palmares. 
1974: Morre o poeta Solano "Vento Forte Africano" Trindade. É fundado em 
Salvador o bloco afro Ilé - Aiê. 
1975: No Congresso das Mulheres Brasileiras, realizado no Rio de Janeiro, 
mulheres negras denunciam as discriminações racial e sexual a que estão 
submetidas. Realiza-se em São Paulo a Semana do Negro na Arte e na Cultura. O 
movimento articula apoio às lutas de libertação nacional travadas no continente 
africano. Surgem várias entidades de combate ao racismo. Em São Paulo surgem o 
Centro de Estudos da Cultura e da Arte Negra (Cecan), a Associação cristã 
Beneficente, Movimento Teatral Cultural Negro, Grupo de Teatro Evolução, 
Associação Cultural e Recreativa Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos 
Africanistas (IBEA), Federação das Entidades Afro-brasileiras do Estado de São 
Paulo. No Rio de Janeiro surge Grupo Latino- Americano, Instituto de Pesquisas da 
Cultura Negra (IPCN), Escola de Samba Gran Quilombo, Sociedade de Intercâmbio 
Brasil-África. 
1976: O governo da Bahia suprime a exigência de registro policial para os 
templos de ritos afro-brasileiros. 
1977: É assassinado Robson S. Luz. Quatro jovens atletas são discriminados 
no Clube Regatas Tietê. Nos rastros dessas denuncias surge o Movimento Negro 
Unificado contra a Discriminação Racial, mais tarde, Movimento Negro Unificado 
(MNU). Na assembleia nacional do MNU é aprovada a comemoração do Dia 
Nacional de Consciência Negra, em 20 de novembro em celebração a memória do 
herói negro Zumbi dos Palmares. Surge o Movimento de Mulheres Negras. 
1978: Consolidação do MNU Movimento Negro Unificado - São Paulo, é 
declarado pelo MNU o dia 20 de novembro o dia da consciência negra. 
1979: O quesito cor é incluído no recenseamento do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatísticas (IBGE) por pressão de sociólogos e pesquisadores e 
segmentos da sociedade. 
 
14 
 
1982: Morre em Salvador Mestre Pastinha, é também tombado o primeiro 
terreiro de candomblé do Brasil; o terreiro da Casa Branca ile axê ia nasso oka 
Bahia. 
1986: Tombamento da serra da Barriga local onde se desenvolveu o quilombo 
dos palmares, a gaúcha Deise Nunes de Souza é coroada Miss Brasil é a primeira 
Miss Brasil negra. 
1987: Fundado o instituto do negro em São Paulo. 
1989: Nasce no mês de novembro o jornal Umbandomblé que passou a ser 
Umbanda & Candomblé, Ciência, Cultura e Magia e hoje conhecido por U&C, 
Ciência, Cultura e Magia. 
1990: É inaugurado no município de Volta redonda - RJ o memorial zumbi dos 
palmares. 
A Cultura Afro-Brasileira 
A inserção da população negra na sociedade brasileira se deu pelo trabalho, 
base da organização econômica e da convivência familiar, social e cultural. A 
miscigenação avança, com um número cada vez maior de mulatos. Nasce uma 
religiosidade popular em torno das irmandades católicas e dos terreiros de umbanda 
e candomblé. Em 1800, cerca de dois terços da população do país – 3 milhões de 
habitantes – eram formados por negros e mulatos, cativos ou libertos. A cultura afro-
brasileira é uma das que mais se destacam no cenário do sincretismo religioso no 
Brasil e o país tem no exterior sua imagem ligada diretamente a cultura 
afrodescendente, algo que se inverte dentro do próprio país. A música e a dança dos 
descendentes africanos são exemplos vivos do que é o patrimônio cultural do 
continente negro amadurecido ao longo do milênio. Uma história antiga e valiosa 
pode ser contada através da música, da dança, do teatro, do artesanato, da 
indumentária e das tradições. 
Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os 
orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e 
familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticada, milhões de 
seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil. Também é possível 
 
15 
 
encontrar o chamado povo do santo em outros países como Uruguai, Argentina, 
Venezuela, Colômbia, Panamá, México, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha. 
Cada nação africana tem como base o culto a um único orixá. A junção dos 
cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, 
agrupados nas senzalas nomeavam um zelador de santo também conhecido como 
babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres. 
A religião que tem por base a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto 
chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como 
escravos, juntamente com seus Orixás/Nkisis/Voduns, sua cultura, e seus idiomas, 
entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando 
suas religiõesem terras brasileiras, portanto foram os africanos que implantaram 
suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para sobrevivência das 
mesmas. Mas o elemento africano resistiu e criou uma forma de cultuar seus deuses 
através do sincretismo com os santos católicos. 
Mesmo levando em conta a pressão social e religiosa, os negros cativos e 
livres conseguiram reinstalar na colônia portuguesa as crenças e práticas religiosas 
que trouxera da África, pois, a igreja católica estava cansada do esforço despendido 
na criação de irmandades de negros como tentativa de anular toda sua cultura, que 
se fortalecia cada vez que um navio negreiro ancorava nos portos brasileiros, 
trazendo ainda mais adeptos ao culto aos Orixás. 
Por volta de 1830 três negras conseguiram fundar o primeiro templo de sua 
religião na Bahia, conhecida como Ylê Yá Nassó, casa da mãe Nassó. (Nassó seria 
o título de princesa de uma cidade natal da costa da África). Esta seria a primeira a 
resistir às opressões católicas, desta casa se originam mais três que sobrevivem até 
hoje e que fazem parte da história do candomblé da Bahia, sendo elas: O Engenho 
velho ou Casa Branca, Gantóis, cuja ilustre dirigente foi mãe menininha do Gantóis 
(falecida em 1986) e do Araketu. 
Os Candomblés se diversificaram desde 1830, à medida que a religião dos 
nagôs se firmava, primeiro entre os escravos e for fim, no seio do povo. Hoje há uma 
variada gama de nações presentes no Candomblé sendo as nações Kêtu, Jêje, 
Nagô e Angola. 
 
16 
 
O Candomblé baseia-se no culto aos Orixás Os Orixás/Inquices/Voduns 
recebem homenagens regulares, com oferendas de animais, vegetais e minerais, 
cânticos, danças e roupas especiais. Mesmo quando há na mitologia referência a 
uma divindade criadora, essa divindade tem muita importância no dia-a-dia dos 
membros do terreiro, mas não são cultuados em templo exclusivo, é louvado em 
todos os preceitos e muitas vezes é confundido com o Deus cristão. 
Os Orixás da Mitologia Ioruba foram criados por um deus supremo, Olorun 
(Olorum) dos Iorubas; 
Os Voduns da Mitologia Fon foram criados por Mawu, o deus supremo dos 
Fon; 
Os Nkisis da Mitologia Bantu, foram criados por Zambi, Zambiapongo, deus 
supremo e criador. 
 Sua manifestação básica para os seres humanos se dá por meio da 
incorporação. O ser escolhido pelo orixá, um dos seus descendentes, é chamado de 
elegum, aquele que tem o privilégio de ser montado por ele. Torna-se o veículo que 
permite ao orixá voltar à Terra para saudar e receber as provas de respeito de seus 
descendentes que o evocaram. Cada orixá tem as suas cores, que vibram em seu 
elemento, seus animais, suas comidas, seus toques (cânticos), suas saudações, 
suas insígnias, as suas preferências e suas antipatias, e aí daquele que devendo 
obediência os irrita. 
A síntese de todo o processo seria a busca de um equilíbrio energético entre 
os seres materiais habitantes da Terra (aiê) e a energia dos seres que habitam o 
(orum), o suprareal (que tanto poderia localizar-se no céu - como na tradição cristã - 
como no interior da Terra, ou ainda numa dimensão estranha a essas duas, de 
acordo com diferentes visões apresentadas por nações e etnias diferentes). Cada 
ser humano teria um orixá protetor, ao entrar em contato com ele por intermédio dos 
rituais, estaria cumprindo uma série de obrigações. Em troca, obteria um maior 
poder sobre suas próprias reservas energéticas, dessa forma teria mais equilíbrio. 
Cada pessoa tem vários Orixás. Um deles mantém o status de principal, é 
chamado de orixá de cabeça, que faz seu filho revelar suas próprias características 
 
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de maneira marcada. O segundo orixá, ou ajuntó, apesar de distinção hierárquica, 
tem uma revelação de poder muito forte e marca seu filho, mas de maneira mais 
sutil. Um seria a personalidade mais visível exteriormente, assim como o corpo de 
cada pessoa, enquanto o outro seria a face oculta de sua personalidade, menos 
visível aos que conhecem a pessoa superficialmente, e às potencialidades físicas 
menos aparentes. 
Como qualquer outra religião do mundo, o Candomblé possui cerimoniais 
específicos para seus adeptos. No seu caso particular, porém, esses ritos mostram 
singularidades especialíssimas, como a leitura de búzios (um primeiro e ocular 
contato com os Orixás), a preparação e entrega de alimentos para cada uma das 
entidades ou as complexas e prolongadas iniciações dos filhos-de-santo. Através da 
observância desses procedimentos é que o Candomblé religa os humanos aos seres 
astrais, proporcionando àqueles o equilíbrio desejado na existência. O candomblé e 
demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do 
Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: 
candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no 
Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro. A 
organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso 
do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo 
Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram 
fixadas, sobretudo, nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse 
período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e 
socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num 
processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições 
sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a 
formação de grupos de culto organizados. 
Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas 
continuavam a serem religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos 
escravos. No início deste século XX, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com 
o espiritismo kardecista trazido da França no final do século XIX propiciou o 
surgimento de outra religião afro-brasileira: a Umbanda, que tem sido 
reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, 
 
18 
 
nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e 
católicas. 
Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o 
catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, 
numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões 
africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas as regiões do País, 
sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o país passou a conhecer, pelo 
menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc. 
O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada, sobretudo 
na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda 
uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a 
mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como 
acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também 
voltada para segmentos da população de origem não africana. Assim o candomblé 
deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma 
religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também 
para fora do Brasil. 
Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das 
grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o 
bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se 
iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se 
estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais “tradicionais” de 
culto aos orixás. Nestemovimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, 
sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como 
sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e 
embranquecida descendente, a umbanda. 
Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então 
preservadas em vários pontos do País encontraram excelentes condições 
econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos 
ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse 
período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia 
 
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ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, 
estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi 
bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia, Pernambuco e Maranhão. Ir 
O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito 
favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de 
instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos terreiros de 
orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de 
todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os 
terreiros cresceram às centenas. O termo candomblé designe vários ritos com 
diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome de "nações" (Lima, 
1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais 
para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje 
estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região 
sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubas e os ewê-fons, 
circunscritos principalmente aos atuais territórios da Nigéria e Benin. Mas estas 
origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana, sendo 
o termo tradição usado de forma equivocada ao que tange a um conhecimento exato 
das suas origens e maneiras de se fazer o culto as suas obrigações. 
 
Considerações Finais 
A escravidão foi o meio que os portugueses encontraram para tirar maior lucro 
do Brasil. Além do tráfico e do comércio de algumas essências naturais, em especial 
o pau-brasil (que deu origem ao nome do país), eles recorreram também à 
agricultura de açúcar, na época um produto raro, comercializado pelos árabes e 
vendido em gramas a preço de ouro, como se vendem hoje os remédios nas 
farmácias. 
De modo geral, o atual povo brasileiro é proveniente de quatro continentes: 
América, Europa, África e Ásia. Eles trouxeram em suas bagagens e memórias 
coletivas elementos representativos dessas culturas. É por isso que o Brasil, como 
país e como povo, oferece o melhor exemplo de cultura e civilizações. Por esta 
razão, aprender a conhecer o Brasil é aprender a conhecer a história e cultura de 
 
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cada um desses componentes. Para entender "nossa" história "nossa" identidade é 
preciso começar pelo estudo de todas suas matrizes culturais. Em relação à matriz 
africana, na maioria dos livros didáticos que conhecemos, o ensino sobre a África e 
seus povos é geralmente ausente ou apresentado de maneira distorcida ou 
estereotipada. A Lei 10.639/03 propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da 
história e cultura afro-brasileira e africana. Por exemplo, os professores devem 
ressaltar em sala de aula a cultura afro-brasileira como constituinte e formadora da 
sociedade brasileira, na qual os negros são considerados como sujeitos históricos, 
valorizando-se, portanto, o pensamento e as ideias de importantes intelectuais 
negros brasileiros, a cultura (música, culinária, dança) e as religiões de matrizes 
africanas. 
Com a Lei 10.639/03 também foi instituído o dia Nacional da Consciência 
Negra (20 de novembro), em homenagem ao dia da morte do líder quilombola negro 
Zumbi dos Palmares. O dia da consciência negra é marcado pela luta contra o 
preconceito racial no Brasil. Sendo assim, como trabalhar com essa temática em 
sala de aula? Os livros didáticos já estão quase todos adaptados com o conteúdo da 
Lei 10.639/03, mas, como as ferramentas que os professores podem utilizar em sala 
de aula são múltiplas, podemos recorrer às iconografias (imagens), como pinturas, 
fotografias e produções cinematográficas.

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