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Revisão iconográfica: o design ergonômico de pegas e empunhaduras Iconografic revision: the ergonomic design of handles and grips Fábio Alexandre Moizés Mestrando em Desenho Industrial, Projeto do Produto PPGDI/FAAC/UNESP – Campus Bauru – fabiomoizes@terra.com.br Paula da Cruz Landim Doutora em Arquitetura e Urbanismo PPGDI/UNESP- Campus Bauru-paula@faac.unesp.br Luis Carlos Paschoarelli Doutor em Engenharia de Produção PPGDI/FAAC/UNESP – Campus Bauru- lcpascho@faac.unesp.br pesquisa iconográfica, ergonomia, pegas, empunhaduras. O presente trabalho realiza uma breve pesquisa iconográfica sobre os aspectos ergonômicos e de usabilidade das pegas e empunhaduras. Apresenta referências da mão humana no contexto histórico e algumas situações de usabilidade no dia a dia. Abrange aspectos ergonômicos, projetuais e alguns materiais com suas características para uma adequação no desenvolvimento de novos projetos, e com isso pretende minimizar as diferenças entre as interfaces do homem-ambiente artificial, mais precisamente as pegas e empunhaduras dos produtos. Iconographic research, Ergonomics, handles, grips. The present work carries through one briefing searches iconographic on the ergonomic aspects and of usability of the handles and empunhaduras. It presents references of the hand human being in the historical context and some situations of usability in the day the day. It encloses ergonomic, projetuais aspects,e some materials with its characteristics for an adequacy in the development of new projects, and with this it intends to minimize the differences between the interfaces of the artificial man-environment, more necessarily the handles and grips of the products. 1. Introdução Na usabilidade de ferramentas manuais e do manejo dos objetos, as pegas e empunhaduras sempre foram caracterizadas por suas adequações. Suas manipulações e acionamentos sempre fizeram parte das tarefas dos indivíduos no exercício do seu entorno do ambiente artificial. Apesar da evolução desses objetos e ferramentas, ainda ocorrem muitos acidentes de trabalho no manuseio das mesmas, normalmente devido à falta de aspectos ergonômicos ou de critérios de usabilidade. Segundo o INSS (2002 e 2003), anualmente no Brasil ocorrem perto de 780.000 acidentes de trabalho, sendo 640.000 especificamente “manuais”. Em uma pesquisa feita pelo SEADE/ FUNDACENTRO (1997 a 1999, apud TEIXEIRA & FREITAS, 2003), anualmente no Estado de São Paulo são registrados próximo de 58.200 acidentes de trabalho, sendo que próximo a 51.600 envolvem atividades manuais. Os traumatismos e os distúrbios osteo- musculares as principais causas de doenças. Teixeira & Freitas (2003) afirmam que, pela CNAE (Classificação Nacional de Atividade Econômica), no interior do estado de São Paulo 49,9% dos acidentes estão relacionados com o uso de ferramentas manuais de força e precisão. Quanto às doenças do trabalho, 94,5% envolvem aspectos físicos e biomecânicos, como torções, mau jeito, movimentos severos entre outros. Mesmo com a evolução dos instrumentos manuais, fica evidente a necessidade de desenvolvimento de produtos com maiores características ergonômicas. Este estudo propõe uma análise baseada em uma abordagem iconográfica dos aspectos fisiológicos da mão, fatores ergonômicos e de uso de materiais, que poderão contribuir no desenvolvimento de projetos de dispositivos, manejos e ferramentas manuais. 2. Revisão Histórica Na história da humanidade, desde a era paleolítica o homem utilizava-se da arte rupestre para simbolizar os seus costumes, na qual suas mãos aparecem figuradas nessas manifestações (Figura 1). Muitas dessas representações demonstram uma série de traços digitais, com destaque para a falta das falanges dos dedos, o que já demonstram naquela época os primeiros sintomas de deformações das mãos, possivelmente decorrente da grande exigência das mesmas para a sobrevivência. Figura 01 - Série de traços digitais, La Grotte Cosquer, e na La Grotte Chauvet Pont-d’Arc (Espanha e França, 30.000 a.C. a 25.000 a.C. ). Na história do desenvolvimento tecnológico humano, observa-se um constante uso de utensílios e instrumentos manuais para a sobrevivência, incluindo as necessidades de objetos cortantes para a sua alimentação ou vasilhames com suas pegas peculiares (Figura 2). Figura 02 - Indústria Neolítica, encontrada em Merimdebeni-Salamé, no baixo Egito (pré-história). Desse modo, os objetos foram evoluindo conforme a evolução dos costumes e culturas humanas, sendo que nos últimos dois séculos, observa-se uma aceleração nesse crescimento, principalmente a partir da revolução industrial, com as novas máquinas e os novos materiais. Nas últimas décadas do século XX, as várias tarefas no ambiente artificial trouxeram produtos e equipamentos manuais diferenciados para o cotidiano das pessoas, principalmente nas atividades do trabalho, e isso gerou, conseqüentemente, maiores problemas de usabilidade. 3. Parâmetros antropométricos, biomecânicos e ergonômicos. Patologias nas extremidades dos membros superiores podem ser decorrentes do uso de instrumentos manuais inadequados, em condições severas, incluindo posturas e postos de trabalho inadequados, entre outros fatores. Os DORTs, Distúrbios osteo-musculares relacionados ao trabalho, se caracterizam por doenças com vários quadros clínicos, com destaque para aquelas decorrentes do uso de instrumentos manuais inadequados: Síndrome do Túnel do Carpo, Doença de Quervian, Dedo em Gatilho, Síndrome do Escrivão, Tenossinovite dos extensores dos dedos e do carpo, entre outras. Portanto, o desenvolvimento de instrumentos manuais deve incluir os procedimentos para avaliação de uso, com a aplicação de diferentes técnicas, com destaque para a avaliação do cálculo de forças com o uso de dinamômetros (ARMSTRONG, 1997); o registro de movimentos, amplitudes e freqüência (PASCHOARELLI & COURY, 2000); bem como o uso de técnicas não paramétricas para avaliação desconforto e usabilidade (PASCHOARELLI, 2003). No que trata a configuração e dimensionamentos de pegas e empunhaduras de instrumentos manuais, os dados antropométricos são as principais referências para se obter bons resultados. Paschoarelli & Coury (2000), afirmam que fatores étnicos, sexo e idades, devem ser considerados, com destaque para “as características físicas (biótipo, sexo e idade); populacionais (origem etnia e época); e os elementos humanos dessa interface, observando as atividades desenvolvidas pelos mesmos”. Quanto aos parâmetros biomecânicos, deve-se levar em consideração os aspectos da anatomia da mão, das posturas do punho, os movimentos, os alcances, e os tipos preensão. Iida (1990), diz que a biomecânica “se preocupa com a relação do homem em seu trabalho, relacionando os movimentos dos músculos- esqueletais envolvidos e suas conseqüências”. Com base no seu manual de goniometria, Marques (1997), através de estudos, define alguns limites para os movimentos da mão humana: flexão palmar; flexão dorsal ou extensão; supinação; pronação; desvio radial ou abdução; desvio ulnar ou adução (Figura 3). Figura 03 - Representação dos principais movimentos das mãos baseado em Marques (1997). Bullinger & Solt (1979, apud PASCHOARELLI & COURY, 2000), apresentam uma taxonomia das pegas e empunhaduras possíveis (Figura 04): a - Contato (toque/aperto); b - Pega (extremos dos dedos envolvidos nos componentes); c - Empunhadura (envolvimento palmar em torno dos componentes). Figura 04 - Manejo por contato, pegas e empunhaduras. Napier (1956, apud LEWIS & NARAYAN, 1993), distinguiu dois tiposde sistemas de manejo: a) pega de precisão ou preensão de precisão (os dedos envolvem o objeto como uma pinça), b) pega de força ou preensão de força (sistema de envolvimento completo por todos os dedos de um lado e o polegar do outro, incluindo a região metacárpica). Figura 05 - Preensão de pinça e preensão de força. Zerbetto (2002), cita que “outro fator da biomecânica que não poderia deixar de ser mensurado, é a manutenção da posição neutra das articulações durante uma atividade”. Figura 06 - Posição neutra das mãos. Iida (1990), define os vários tipos de manejo, o manejo fino, grosseiro, geométrico e o antropomorfo. Figura 07 - Manejo fino e grosseiro Figura 08 - Empunhaduras prismáticas e circulares. Figura 09 - Manejo geométrico e antropomorfo. Cutkosky & Whight (1986, apud KINOSHITA et al, 1986) dividiram o manejo em 2 categorias: empunhaduras circulares e empunhaduras prismáticas, as circulares tem discos, esferas, mínimo de três dedos trabalhando, as prismáticas, o polegar se opõe aos outros dedos. Kinoshita et al (1986, apud ZERBETTO, 2002), realizaram experimentos com indivíduos do gênero feminino e masculino, todos saudáveis, e foram observados que conforme o peso dos objetos, maior a força total exercida. Nas forças de aperto, Greenberg & Chaffin (1997, apud MCCORMICK & SANDERS), indicam que as forças máximas ocorrem quando a abertura dos eixos estiver entre 66 e 85 mm. Quanto aos canhotos, Barsley (1970, apud MCCORMICK & SANDERS, 1972) afirma a necessidade de se considerada as particularidades dessa faixa da população no desenho de instrumentos manuais. Pheasant (1996), define os diâmetros de pegas e empunhaduras, em ação. Pega cilíndrica em movimento axial, de 30 a 50mm (a), pega cilíndrica em movimento rotacional, de 50 a 65 mm (b), pega esférica em movimento rotacional, 65 a 75 mm(c), pega disco em movimento rotacional, 90 a 130 mm (d) (Figura 10). Figura 10 - Medidas para pegas cilíndricas. Para abertura de dedos e passagem de dedos, devem ser considerados 35 mm para a inserção, rotação e extração do indicador; e 115 mm e 50 mm conforme um retângulo de referência, para alças de bagagem (PHEASANT, 1996). Nas pegas antropomorfas, Iida (1990), diz que as empunhaduras antropomorfas têm maior firmeza, transmissão e distribuição de forças, mas não possibilitam variações. Fraser (1983, apud PASCHOARELLI & COURY, 2000) afirma que a textura permite diminuir a força de preensão; aumenta a fricção entre a mão e a ferramenta, dependo da atividade a textura pode acumular sujeira (Figura 11). Figura 11 - Textura nas empunhaduras. Para o design de facas, Cochran & Riley (1986, apud PASCHOARELLI & COURY, 2000), indicam a necessidade de uma proteção entre o cabo e a lâmina de facas, evitando-se assim a ocorrência de acidentes com o uso de facas. Para empunhaduras cilíndricas, Lewis & Narayan (1993), definem que os dedos devem envolver esse cilindro e deve-se preencher com cantos não agudos. Para cabos de chaves de fenda deve se estender o comprimento para distribuir as forças de aperto da mão. Para o design de martelos, Konz (apud PASCHOARELLI & COURY, 2000), em seus estudos de três diferentes tipos de martelo, constatou-se a preferência pôr cabos com inclinação de 10º (Figura 12). Figura 12 - Inclinação de 10º para martelos. O design de alicates. Tchauer (1976, apud MCCORMICK & SANDERS, 1992), observaram que no uso de alicates a mão deve obedecer à posição neutra (Figura 13). Figura 13 - Postura neutra no uso de alicates. Para o desenvolvimento de cabos de ferramentas, que necessitam de resistência a impactos, como martelos, marretas e machados, o bambu laminado colado (BLC – Figura 14) é hoje uma alternativa de grande importância, além de ser ecologicamente correto, ou seja renovável, e ainda possui grandes qualidades e características físicas e mecânicas que favorecem o uso nesse tipo de produto (GONÇALVES, et al, 2000). Figura 14. BLC, Bambo Laminado Colado. Pereira (2003), afirma que estão sendo realizados testes com bambu na forma de laminado colado visando o desenvolvimento de cabos de ferramentas agrícolas, e ainda ressalta que além de ser de baixo custo, é perene, leve, resistente e de rápido crescimento, podendo substituir a madeira. 4. Discussão e Considerações Finais. Este estudo abordou alguns aspectos sobre a ergonomia e usabilidade de pegas e as empunhaduras e o manejo dos instrumentos manuais de uma forma prática através de imagens e considerações. Pode-se concluir que o design ergonômico, e seus aspectos biomecânicos, antropométricos e cognitivos devem contribuir para minimizar os problemas causados na interface dos produtos manuais, sendo que o designer deve ter atenção especial nos requisitos essenciais para o desenvolvimento de um projeto de pegas e empunhaduras. O fato da mão humana, ser um dos mais complexos sistemas do corpo, evidencia os cuidados com o desenvolvimento de produtos de uso manual. Algumas especialidades e considerações são necessárias e servem de referência para essa finalidade de projetos. Através da atuação do homem na interface e os objetivos dela com a satisfação dos usuários, torna-se justificável e importante, relacionar os aspectos como: a ergonomia, as formas e medidas mais adequadas e considerações e apontamentos sobre o tema. Para se obter um maior nível de usabilidade e não causar doenças decorrentes do uso de instrumentos manuais, a Sandvik (1997), faz algumas considerações quanto ao projeto de pegas e empunhaduras: evitar cantos agudos e ressaltos; proteger a estrutura das mãos contra impactos e temperaturas; ser aderente; ter peso equilibrado; minimizar as tensões musculares; apresentar pega extensa quanto necessária para diminuir pressões; transmitir maior força com menos esforço e outros. 5. Bibliografia BONSIEPE, Gui. Estrutura e estética do produto. Brasília, CNPQ-Coordenação Editorial, 1986. DUL, J. & WEERDMEESTER, B.. Ergonomia Prática. São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda, 1995. IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda, 1990. MARQUES, A. P., Manual de Goniometria. 1997. PASCHOARELLI, Luis. C., GIL COURY, H. J. C. Aspectos ergonômicos e de usabilidade no design de pegas e empunhaduras. In Revista Estudos em Design, Número 1, v. 8, pp. 79-101, 2000. PEREIRA, Marcos A. dos R. Características hidráulicas de tubos de bambu gigante. In XXIX Congresso brasileiro de engenharia agrícola-Conbea, Fortaleza, Ceará, 2000. PEREIRA, Marcos A. dos R. Ensaios de resistência mecânica em peças laminadas de bambu. In XXIX Congresso brasileiro de engenharia agrícola-Conbea, Fortaleza, Ceará, 2000. TCHAUER, E. Biomechanics sustains occupational safety and health. Industrial Engineering, 1976. ZERBETTO, Cristiane A. A. Aspectos ergonômicos que envolvem o manejo dos produtos – uma revisão histórica. In Anais do P & D Design 2002. Vol. 4. 2AB Editora. Fábio Alexandre Moizés Doutora em Arquitetura e Urbanismo PPGDI/UNESP- Campus Bauru-paula@faac.unesp.br
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