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Autor: Prof. Eduardo Francisco Balceiro Colaboradores: Profa. Patrícia Scarabelli Prof. José Carlos Morilla Projeto do Objeto (Ergonomia e Acessibilidade) Professor conteudista: Eduardo Francisco Balceiro Especialista em Design de Interiores pela Metrocamp Campinas, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Paulista (UNIP) de Campinas. Atua como profissional autônomo desde 1999 em projetos residenciais e comerciais. Professor desde 2007. Atualmente, leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade Max Planck de Indaiatuba. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B174p Balceiro, Eduardo Francisco. Projeto do Objeto (Ergonomia e Acessibilidade) / Eduardo Francisco Balceiro. São Paulo: Editora Sol, 2020. 92 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Ergonomia. 2. Sistemas de objetos. 3. Normas. I. Título CDU 74.011 U505.17 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice‑Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice‑Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice‑Reitor de Pós‑Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice‑Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Marcilia Brito Elaine Pires Sumário Projeto do Objeto (Ergonomia e Acessibilidade) APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 DEFINIÇÃO DE ERGONOMIA ..........................................................................................................................9 1.1 Objetivo da ergonomia ....................................................................................................................... 11 1.1.1 Ergonomia – linha do tempo ............................................................................................................. 13 1.1.2 Ergonomia no Brasil............................................................................................................................... 16 1.2 Conceito de sistemas de objetos .................................................................................................... 17 1.2.1 Antropometria .......................................................................................................................................... 18 1.2.2 Medidas antropométricas ................................................................................................................... 21 1.3 Análise sincrônica e análise diacrônica de objetos ................................................................ 24 1.3.1 Sincrônica .................................................................................................................................................. 24 1.3.2 Diacrônica .................................................................................................................................................. 24 2 ANTROPOMETRIA APLICADA À ERGONOMIA ...................................................................................... 25 2.1 Estudo de caso de objeto .................................................................................................................. 29 Unidade II 3 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE OBJETOS .......................................... 36 3.1 Funil de decisões ................................................................................................................................... 41 3.1.1 Gerenciamento das atividades do projeto .................................................................................... 43 3.2 Concepção de projetos com foco nas tarefas e nos usuários ............................................ 46 3.2.1 Análise de postos de trabalho ........................................................................................................... 47 4 INTERFACE DA ERGONOMIA COM O PROJETO DE SISTEMAS DE OBJETOS ............................. 54 Unidade III 5 LEGISLAÇÃO E NORMAS NA CONCEPÇÃO DE PROJETOS DE SISTEMAS DE OBJETOS ...................64 5.1 Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) .................................................................. 65 5.2 Benefícios das normas no emprego de produtos ................................................................... 66 6 DESENHO TÉCNICO ......................................................................................................................................... 70 6.1 Imagem 3D .............................................................................................................................................. 75 Unidade IV 7 MEMORIAL DESCRITIVO ............................................................................................................................... 82 7.1 Memorial descritivo para design de interiores ......................................................................... 83 8 NORMA REGULAMENTADORA ................................................................................................................... 83 8.1 Norma Regulamentadora 17 (NR 17) .......................................................................................... 84 8.2 Detalhamento técnico do projeto do objeto ............................................................................ 85 7 APRESENTAÇÃO Qual a importância da ergonomia no nosso dia a dia? Os objetos que manipulo diariamente foram pensados projetualmente para propor um fácil entendimento no seu manuseio? O meu local de trabalho é adequado para a função que exerço? O espaço público que eu frequento está adequado para o uso da população? As respostas para essas perguntas você encontrará neste livro-texto. O profissional que trabalha com ergonomia, chamado de ergonomista, vai propor um planejamento para a reformulação dos espaços e equipamentos de trabalho considerando: • As pessoas e suas diversidades, como a idade, o tamanho, a força, a habilidade cognitiva, a cultura etc. • A máquina, que consiste no mobiliário, nos equipamentos e nas instalações. • O ambiente, que deve ser pensado a partir do conforto de temperatura, dos ruídos, das luzes, das cores etc. • A informação e como ela é transmitida. • A organização do sistema produtivo, como os horários, os turnos e as equipes. • As consequências do trabalho, que envolvem erros, fadigas e estresse, ocasionado muitas vezes os acidentes. A ergonomia é normatizada pela Norma Regulamentadora 17, que tem o objetivo de zelar pela saúde dos funcionários nas mais diversas áreas de produção. Este livro-texto abordará a ergonomia e a sua atuação no processo projetual de um produto. Por isso, visa proporcionar os conhecimentos básicos necessários para que o aluno conceba projetos de design de objetos, utilizando metodologias projetuais com ênfase na usabilidade dos objetos. Também são objetivos desta disciplina proporcionarcondições de análise, reflexão e integração dos objetos no projeto arquitetônico de edificações e de áreas públicas, assim como capacitar o aluno tanto para o desenvolvimento de projetos de sistemas de objetos, utilizando técnicas de desenvolvimento de projetos de produtos, quanto para o detalhamento técnico construtivo nos projetos de design para ambientes públicos e privados. INTRODUÇÃO Diariamente estamos em contato com inúmeros artefatos de manuseio operacional, e é fundamental para a nossa saúde física que eles sejam bem projetados e adequados para o nosso uso. 8 Este livro-texto abordará especificamente o projeto de objeto e os postos de trabalho. O conforto ambiental é fundamental para que possamos desempenhar nossa função no trabalho de forma adequada, por isso é ligado diretamente à ergonomia e aos equipamentos que necessitamos para realizar nossas atividades ocupacionais. Esta disciplina tem como objetivo apresentar ao aluno a importância da aplicabilidade da ergonomia em objetos projetados por designers. Para entender a ergonomia através da sua definição, uma breve história será apresentada por meio de uma linha do tempo que também abordará como essa ciência auxilia no nosso cotidiano e no processo projetual de objetos e espaços. O estudo da ergonomia nasceu logo após a Segunda Guerra Mundial e, desde então, vem avançando e sendo aplicado em diversas áreas, dentre elas a arquitetura e o design. Também trataremos a respeito de como surgiu a ergonomia no Brasil, assim como a relação entre a antropometria e a ergonomia. Será apresentada a metodologia para o desenvolvimento de produtos de design, desde os conceitos do produto até o desenho final de produção do objeto. Abordaremos como resolver as problemáticas do projeto através do funil de decisões, pensando o projeto com foco no seu uso e no consumidor final e veremos exemplos reais de projetos conhecidos do nosso cotidiano e como foram pensados e resolvidos ergonômica e esteticamente. Depois, vamos discutir sobre as legislações vigentes no Brasil, como elas surgiram, quais são seus reais objetos e como são empregadas na solução projetual de produtos, apresentando o desenho técnico e a sua importância na representação do projeto do objeto. Trataremos da Norma Regulamentadora 17, uma norma brasileira que auxilia o emprego da ciência ergonômica e tem como objetivo estabelecer regras referentes à segurança e à medicina do trabalho, proporcionando um ambiente de acordo com as regras e consequentemente com melhores condições para a execução de tarefas. Finalmente, abordaremos o projeto técnico detalhado, quais desenhos o compõem e como deve ser representado. 9 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Unidade I 1 DEFINIÇÃO DE ERGONOMIA A palavra ergonomia tem origem nas palavras gregas ergon e nomos, que respectivamente significam trabalho e leis/preceitos. Assim, ergonomia é uma ciência do trabalho científica e multidisciplinar, voltada ao estudo dos aspectos da atividade humana, das relações entre o homem e a máquina, visando a segurança e a eficiência decorrentes do modo como interagem. Busca também otimizar as condições de trabalho humano, por meio da tecnologia e do desenho industrial. Abrange as seguintes áreas: • Organização do trabalho, medicina, fisiologia e psicologia do trabalho. • Psicologia cognitiva. • Psicologia da percepção visual. • Sociologia. • Antropologia e antropometria. • Teoria da informação. • Engenharias (produção, industrial, segurança, sistemas, entre outras). • Arquitetura e urbanismo. • Design (moda, produto, gráfico, interiores, entre outros). • Comunicação social. • Tecnologias (informática, cibernética, telemática, robótica, entre outras). • Normas nacionais e internacionais (ABNT, ISO, SAE, DIN, entre outras). Por exemplo, a má postura e o mau posicionamento diante de um computador podem trazer consequências à nossa saúde em longo prazo. A figura a seguir demonstra algo que é rotina para muitos no dia a dia: 10 Unidade I Figura 1 A ergonomia é aplicada em diversos campos, como: • Na indústria, contribuindo para melhorar a eficiência e a qualidade das operações, aperfeiçoando o sistema homem-máquina e organizando e melhorando as condições de trabalho. • No setor de serviços, criando postos de trabalhos inexistentes, na concepção de novos produtos que atendam às novas tecnologias, em bancos, em escolas etc. • No nosso cotidiano, contribuindo para melhorar a qualidade de vida através de meios de transporte mais seguros e confortáveis, de mobiliário e equipamentos domésticos mais eficientes e seguros, e da adequação à mobilidade do espaço urbano. De acordo com as condições em que as tarefas são desempenhadas e com o tempo durante o qual o homem permanece na mesma posição, realizando determinadas atividades, podem surgir problemas como desconforto e fadiga. Esforços repetitivos e postura inadequada causam lesões e, para evitá-las, é necessário analisar a adequação do trabalho ao ser humano. Essa análise é o cerne da criação da ergonomia, disciplina que essencialmente integrava as ciências biológicas (antropologia, psicologia, fisiologia, medicina etc.) e a engenharia (CORRÊA; BOLETTI, 2015, p. 2). Nos dias de hoje, ela deixou de ser somente uma ciência do trabalho, sendo aplicada em qualquer produto ou objeto para garantir que o projeto, seja ele de produto ou de equipamentos, tenha condições de uso, ofereça facilidades no manuseio e adaptação ao usuário. 11 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Quadro 1 – Definições das principais associações de ergonomia Fonte Definição Ergonomics Research Society (Sociedade de Pesquisa em Ergonomia) – hoje Institute of Ergonomics and Human Factors (BROWNE et al., 1950). Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu ambiente de trabalho, equipamento e ambiente, e principalmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. International Ergonomics Association (20--?) (Associação Internacional de Ergonomia). A ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina que se ocupa em compreender a interação entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, bem como a profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Associação Brasileira de Ergonomia (2004). Se pudermos caracterizar a ergonomia como uma disciplina que busca articular conhecimentos sobre a pessoa, sobre a tecnologia e a organização para sustentar sua prática de mudança dos determinantes e condicionantes da atividade profissional e do uso e manuseio de produtos ou sistemas, então o objetivo da disciplina e da prática em ergonomia é facilmente compreensível: trata-se de realizar uma transformação positiva na configuração da situação de trabalho e no projeto dos produtos. Fonte: Corrêa e Boletti (2015, p. 3). O tempo e a evolução dos estudos fizeram com que surgissem diferentes terminologias da palavra ergonomia pelo mundo. Por exemplo, em países como Brasil, Austrália, Nova Zelândia e no continente Europeu a palavra ergonomia é utilizada, já os japoneses adotaram o termo ergologia, e, nos EUA, o termo usado é human factors (fatores humanos). É importante saber que os termos ergonomia e fatores humanos são sinônimos, mas vemos distinção entre eles quando são empregados no uso popular. O termo fatores humanos tem sido utilizado para referir-se às áreas de percepção, como a memória (cognição), e o termo ergonomia está direcionado ao leiaute do ambiente e ao conforto ambiental (temperatura, ruído, cor etc.), ou seja, refere-se aos aspectos físicos. 1.1 Objetivo da ergonomia A ergonomia tem como objetivo estudar, analisar e adequar o trabalho ao ser humano dentro de um ambiente (espaço), de modo a organizar o desempenho de atividades com eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade e durabilidade.Tais aspectos estão relacionados a segurança, saúde, conforto, facilidade de uso, satisfação, interesse no trabalho etc. Esses objetivos estão integrados à tarefa (o que se deve fazer) e à atividade (o que é feito), ou seja, como projetar um ambiente para receber uma atividade que será executada por uma pessoa. No projeto de produto, a ergonomia garante ao usuário que o uso de um objeto ou equipamento seja adequado e sem esforço físico. 12 Unidade I Segundo Iida (2005), o objetivo da ergonomia será atingindo quando o projeto considerar: • O homem: entende-se por homem o usuário de determinado objeto/equipamento. Deve-se levar em consideração a idade, a força, a habilidade cognitiva, a experiência, a cultura e os objetivos. • A máquina: são as ferramentas, o mobiliário, os equipamentos e as instalações. • O ambiente: refere-se ao conforto ambiental, como temperatura, ruído, luz, cor etc. • A informação: diz respeito ao modo de transmitir as informações. • A organização: refere-se ao sistema de produção, como horário, turnos e equipes envolvidas. • As consequências do trabalho: referem-se a tudo que pode proporcionar erros, acidentes, fadiga e estresse. Nesse sentido, o design é uma ferramenta capaz de projetar com um alto padrão de qualidade e tecnologia a ergonomia dos objetos e produtos. Na figura a seguir, Corrêa e Boletti (2015) exemplificam o trabalho do ergonomista, que é certificar-se de que tarefas, profissões, produtos, ambientes e sistemas estejam ajustados conforme a necessidade do usuário. Produtos ProfissõesTarefas Ergonomia Organizações Ambientes Figura 2 13 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) 1.1.1 Ergonomia – linha do tempo Analisando a ergonomia dentro de uma linha do tempo, pode-se dizer que ela data da era primitiva, em que o homem construía seus próprios objetos, no entanto, passa pela Idade Média, com o surgimento de avanços técnicos (engenharia e novos materiais); por Leonardo da Vinci com as suas descobertas na época Renascentista; pela Revolução Industrial; pela Primeira e a Segunda Guerra Mundial; e segue até o surgimento dos primeiros órgãos de estudos de ergonomia, a partir da década de 1940. A ergonomia está no nosso dia a dia, nas tarefas domésticas e de trabalho, no nosso andar, no nosso lazer e nos espaços públicos projetados adequadamente para esses usos. Mas o grande salto do estudo da ergonomia enquanto ciência ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, viu-se a necessidade de adequar as armas e artefatos militares, aparelhos de comunicação entre outros objetos utilizados na guerra, para melhorar o desempenho de trabalho dos soldados. Aqui a palavra trabalho precisa ser compreendida na esfera do uso de determinados equipamentos para a execução de um determinado trabalho. Um grupo de profissionais da área de engenharia, medicina e psicologia uniram-se para encontrar soluções para os equipamentos que necessitavam de execução e decisão rápida e precisa. Com o fim da Segunda Guerra Mundial os estudos sobre ergonomia continuaram e foram estendidos para outros segmentos, como a indústria. Instituições, centros de pesquisas e laboratórios foram surgindo em decorrência do estudo e do aprimoramento da ergonomia. Nos Estados Unidos, a ergonomia surgiu com o nome human factors. A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e ambientes de trabalho. Seu objetivo é elaborar, com a colaboração das diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, numa perspectiva de aplicação, deve ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de produção e dos ambientes de trabalho e de vida (FALZON, 2007, p. 4). A seguir apresentaremos, brevemente, esses períodos: Pré‑história • Pedra adaptada ao uso. • Ferramentas para caça e defesa. • Descoberta do fogo, surgem os utensílios domésticos feitos de madeira e pedra. 14 Unidade I Figura 3 – Machadinha utilizada pelo homem primitivo Idade Média • Avanço da engenharia. • Uso de novos materiais na execução de objetos. Figura 4 Renascimento • Leonardo da Vinci: Homem Vitruviano, desenho da anatomia (antropometria). • Bernardinho Ramazzini: primeiros estudos das doenças do trabalho. • Wojciech Jastrzebowski: surge pela primeira vez o termo ergonomia no seu trabalho A ciência do trabalho. 15 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Figura 5 – Homem Vitruviano Observação O Homem Vitruviano é um desenho idealizado por Leonardo da Vinci, por volta de 1490, a partir dos conceitos e de estudos de medidas e proporções desenvolvidos pelo arquiteto romano Marcos Vitrúvio. Revolução Industrial • Inicia-se na Inglaterra, no século XVIII. • Avanço tecnológico e mudança no processo de produção. • Incorporação da ergonomia ao novo regime de trabalho. • Taylorismo: surgem os estudos do homem e do ambiente de trabalho. Primeira Guerra Mundial • Avanço dos estudos na indústria bélica. • Década de 1940. • Equipamentos técnicos complexos. • Surge a Ergonomia como disciplina científica. 16 Unidade I Segunda Guerra Mundial • A pesquisa sobre a inscrição de pessoas, equipamentos e ambientes é iniciada. • A ergonomia avança ao projeto de produtos destinados aos consumidores. 1949 • Surge a primeira sociedade de Ergonomia: Ergonomics Research Society (ERS). 1977 • A ERS passa a ser chamada Ergonomics Society (ES). 2009 • A ES passa a chamar-se Institute of Ergonomics and Human Factors. 1.1.2 Ergonomia no Brasil No Brasil a ergonomia data do início dos anos 1960. Moraes e Frisoni (2001) afirmam que o responsável pela introdução da ergonomia no Brasil foi o professor Sergio Augusto Penna Kehl, do curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Outras instituições foram surgindo com o passar dos anos e avançando nos estudos ergonômicos. São elas: • Coope (Universidade Federal do Rio de Janeiro): curso de pós-graduação. • Esdi (RJ): desenvolvimento de projeto de produtos. • USP de Ribeirão Preto: desenvolvimento de estudos sobre psicologia da percepção. • Fundação Getulio Vargas (RJ): 1º seminário de ergonomia no Brasil. No Brasil seguimos a Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), responsável por elaborar as Normas Brasileiras (NBR). A ABNT é um órgão brasileiro, fundado na década de 1940, responsável pela normalização técnica em diversas áreas. 17 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) A NBR 9050/2015 tem o objetivo de estabelecer critérios e parâmetros técnicos para construção, instalação e adaptação de um espaço físico às condições de acessibilidade e ergonomia. Entende-se por acessibilidade todo o espaço e/ou ambiente que pode ser acessado por qualquer usuário independentemente de qualquer limitação. Lembrete No Japão a palavra ergonomia é definida pelo termo ergologia. Nos EUA é usado o termo human factors (fatores humanos). 1.2 Conceito de sistemas de objetos Pensar objetos requer o conhecimento de alguns conceitos sobre a antropometria. É importante saber que quando falamos em objeto, de uma forma geral, estamos fazendo referência a todo uso de objetos que fazemos em nosso dia a dia, seja ele na nossa casa, no trabalho ou no lazer. Em todos esses espaços citados é importante que objetos, móveis etc. estejam de acordo com as dimensões antropométricas. Quando essas medidas não são respeitadas haverá prejuízo para a saúde do usuário, afetando o desempenho de uma determinada tarefa, por exemplo. Por isso é necessário ter o conhecimento sobre as medidas do corpo humano, para projetar espaços, equipamentos e objetos. Observação Os locais de trabalho, também chamados de postos de trabalho, devem ser projetados ou adaptados às medidas do corpo humano, sempre respeitando o tipo de função que será exercida no local, para uma adequada mobilidade do trabalhador. Carpes Jr. (2014, p. 53) diz que as perguntasa seguir devem ser respondidas para avaliar o levantamento dos requisitos ergonômicos: Quais serão as dimensões do corpo humano necessárias para o dimensionamento do produto? Os alcances estarão dentro da possibilidade do usuário? Qual é o biotipo físico dos futuros usuários? Haverá conforto físico? 18 Unidade I Quais serão as cargas e solicitações impostas pelo produto ao usuário? Quais tipos de mostradores serão utilizados? Quais serão as chances de erro de leitura? Serão adequados ao ambiente? Serão adequados aos operadores? Em que número? Quais tipos de comandos serão utilizados? Em que número? Como será a iluminação no ambiente de uso? O produto terá iluminação própria? Haverá utilização de cores na iluminação? Quais serão utilizadas? Com qual objetivo? Qual será a duração do ciclo de operação do produto ou o tempo médio de utilização? Na operação, haverá excesso ou pouco estímulo? O usuário estará sujeito a fadiga ou a monotonia? Haverá automação na operação? Haverá ruídos? De qual frequência e intensidade? A que tipo de vibrações o usuário estará sujeito? 1.2.1 Antropometria A antropometria é um braço da ergonomia nos estudos das medidas do corpo humano. Não há como pensar ergonomia sem primeiro estudar as relações dessas medidas de tamanho, massa e proporções do corpo. Há relatos de que a atenção dada às medidas do corpo humano data desde a Antiguidade. Independentemente da época, o homem procurava adaptar o seu corpo ao meio em que ele vivia. Figura 6 A seguir apresentaremos um breve histórico sobre a passagem da antropometria em diversas fases da civilização humana. 19 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Antiguidade • Nos séculos XXXV e XXII a.C., egípcios e gregos estudavam a relação das medidas do corpo humano. • Do século VII ao V a.C. atenienses e espartanos faziam estudos antropométricos para preparação militar. Figura 7 Idade Moderna • Leonardo da Vinci estuda as proporções humanas e analisa as várias partes do corpo humano, constituindo a harmonia entre as medidas e o que seria a medida do homem ideal. Idade Contemporânea • 1775: Dr. Johann F. Blumenbach faz uma tese de doutorado sobre os dados antropométricos. • 1841: Lambert A. J. Quetelet, matemático, é considerado o pai da antropometria científica por aplicar métodos estatísticos aos estudos dos seres humanos. • 1879: Alphonse Bertillon cria um sistema de medição das características faciais. Foi o início da antropometria forense, usada nos EUA e na Europa para identificar criminosos. • 1940: desenvolvimento da indústria e da produção em massa intensificando o trabalho dos operadores de máquinas. 20 Unidade I Figura 8 As medidas do corpo humano diferem de acordo com a etnia. Por exemplo, a estatura e o porte físico do corpo humano da população europeia são diferentes das medidas dos brasileiros, que, por sua vez, são diferentes das medidas do povo oriental, que são diferentes dos africanos. Figura 9 Para adaptar a antropometria ao projeto de objetos, Carpes (2014) diz que é necessário definir o tipo biofísico e para qual faixa da população o produto é feito. Vivemos num mundo onde produtos são projetados com as mesmas características e medidas em uma esfera global, o que é um grande desafio para o projetista. Nesse sentido, a antropometria tem o objetivo de auxiliar o projetista na idealização de um novo objeto. Saiba mais Aumente seu conhecimento sobre antropometria lendo o artigo a seguir: QUESITOS da função prática: antropometria. UFRGS. Disponível em: http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/499_antrpm.pdf. Acesso em: 15 mar. 2019. 21 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) 1.2.2 Medidas antropométricas Segundo a ABNT, NBR 9050/2015, no Brasil foram consideradas como referências de medidas antropométricas a faixa de 5% a 95 % da população. Isso significa que foram coletadas as medidas dos extremos da população, entre a baixa e a alta estatura. Na figura a seguir, observe as principais medidas corporais: A C B D E Figura 10 – A) Massa corporal; B) Estatura; C) Perímetro; D) Dobras cutâneas; E) Diâmetro ósseo A antropometria quando ligada à ergonomia é dividida em estática, dinâmica e funcional. 22 Unidade I A antropometria estática está ligada às medidas das dimensões físicas do corpo humano em repouso. É mais usada em projetos cuja a mobilidade do produto é pouca ou reduzida. A antropometria dinâmica prioriza o movimento corporal de forma individual, com movimentos que não requerem esforço físico, considerando o conforto, a segurança e o bem-estar físico. A antropometria funcional é aplicada nos projetos em que há execução de tarefas específicas, por exemplo, rotação do tronco, inclinação das costas etc. Lembrete Na antropometria e na ergonomia o homem é o objeto de estudo na referência de medidas de qualquer objeto. As imagens a seguir são referências de medidas antropométricas para a execução de tarefas em pé e sentado, determinadas pela ABNT e extraídas do capítulo 4 da NBR 9050/2015. G1 = 0,50 a 0,55 A1 = 0 ,6 5 a 0, 75 B1 = 0 ,7 2 a 0, 82 C1 = 0 ,9 0 a 1, 00 D1 = 1 ,1 5 a 1, 25 E1 = 1 ,4 0 a 1, 55 a lc an ce m áx . c on fo rt áv el F1 = 0,25 45º 45º Legenda A1 altura de centro da mão estendida ao longo do eixo longitudinal do corpo B1 altura do piso até o centro da mão, com o antebraço formando ângulo de 45º com o tronco C1 altura do centro da mão, com o antebraço em ângulo de 90º com o tronco D1 altura do centro da mão, com o braço estendido paralelamente ao piso E1 altura do centro da mão, com o braço estendido formando 45º com o piso = alcance máximo confortável F1 comprimento do antebraço (do centro do cotovelo ao centro da mão) G1 comprimento do braço na horizontal, do ombro ao centro da mão Dimensões em metros Figura 11 – Alcance manual frontal em pé 23 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Dimensões em metros A2 = 0 ,5 3 a 0, 63 B2 = 0 ,3 8 a 0, 43 C2 = 0 ,1 8 a 0, 26 D2 = 0 ,5 0 a 0, 60 E2 = 0 ,6 5 a 0, 75 F2 = 0 ,8 0 a 1, 00 G2 = 1 ,2 0 al ca nc e m áx . c on fo rt áv el H2 = 1 ,3 5 al ca nc e m áx . e ve nt ua l I2 = 0,42 a 0,51 J2 = 0,52 a 0,65 Legenda A2 altura do ombro até o assento B2 altura da cavidade posterior do joelho (popliteal) até o piso C2 altura do cotovelo até o assento D2 altura dos joelhos até o piso E2 altura do centro da mão, com o antebraço em ângulo de 90º com o tronco F2 altura do centro da mão, com o braço estendido paralelamente ao piso G2 altura do centro da mão, com o braço estendido formando 30º com o piso = alcance máximo confortável H2 altura do centro da mão, com o braço estendido formando 60º com o piso = alcance máximo eventual I2 profundidade da nádega à parte posterior do joelho J2 profundidade da nádega à parte anterior do joelho 60º 30º Figura 12 – Alcance manual frontal sentado Saiba mais Para consultar a NBR 9050/2015, acesse: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. 2015. Disponível em: http://www.ufpb.br/cia/contents/manuais/abnt-nbr9050-edicao-2015. pdf/@@download/file/ABNT%20NBR9050%20Edi%C3%A7%C3%A3o%20 2015.pdf. Acesso em: 15 mar. 2019. 24 Unidade I 1.3 Análise sincrônica e análise diacrônica de objetos Sincronia e diacronia são conceitos distintos e complementares para indicar diferentes perspectivas de estudo de um objeto. Os dois estão ligados ao tempo e à mudança realizada, ou em um espaço de tempo, ou ao longo de vários tempos, ou seja, a sincronia estuda um momento específico de um objeto, enquanto a diacronia estuda esse mesmo objeto através do seu tempo. Por exemplo, os períodos Renascentista e Barroco passaram por mudanças significativas no seu tempo, mas essas mudanças acabaram se perdendo quando surgiram novos movimentos de estilo. Observação A diacronia estudaa mudança, e a sincronia examina as consequências dessa mudança. 1.3.1 Sincrônica Um estudo sincrônico de um objeto acerta as características que o objeto apresenta durante um período do tempo, visando: • Estudar um momento específico do processo evolutivo do objeto e não sua evolução no tempo. • Apresentar características estáticas e descritivas, mencionando o estado do objeto num determinado momento. • Estudar as variações do objeto que convivem numa determinada época, analisando suas variações regionais, sociais e de situação. • Analisar o produto como um conjunto fechado que apresenta regularidade e homogeneidade próprias de uma determinada época. 1.3.2 Diacrônica Um estudo diacrônico do objeto acontece nas mudanças que o objeto irá apresentar ao longo do tempo, visando: • A evolução sofrida através do tempo, analisando as transformações ocorridas até o objeto atual. • As características dinâmicas e históricas, retomando a origem do objeto. • As comparações sobre o processo evolutivo do objeto. 25 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) O tradicional ônibus londrino é um ícone de design nas ruas de Londres. Inconfundível pela predominância da cor vermelha e por possuir dois andares. A figura a seguir é um exemplo de design que evoluiu ao longo do tempo e pela qual se pode entender melhor o conceito de diacronia. O novo ônibus apresenta mudanças significativas e um design contemporâneo feito a partir da releitura do modelo antigo. Figura 13 Saiba mais Sobre a análise diacrônica e sincrônica, leia o artigo a seguir que traz um estudo da cadeira de rodas padrão: BERTONCELLO, I.; GOMES, L. V. N. Análise diacrônica e sincrônica da cadeira de rodas mecanomanual. Revista Produção, v. 12, n. 1, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prod/v12n1/v12n1a06. Acesso em: 15 mar. 2019. 2 ANTROPOMETRIA APLICADA À ERGONOMIA A sociedade de consumo tem o poder de influenciar no princípio de um objeto quanto ao seu uso e à sua forma de design. Atualmente, possuir determinado objeto é sinônimo de status social. O apelo do marketing sobre um determinado produto faz elevar o seu consumo. O consumidor contemporâneo, mais exigente do que há algumas décadas, antes de adquirir um objeto avalia, além do design, a sua ergonomia. O autor Löbach (2011) defende essa postura como o princípio de configuração simbólico-funcional ou o princípio da estética simbólico-funcional. Ou seja, hoje o objeto não pode ser somente um item decorativo, tem que ser funcional e ergonomicamente de fácil manipulação. Desde a Idade Média até o princípio da era industrial reinou a chamada sociedade de classes. Os componentes do clero, da nobreza e do povo (camponeses burgueses) procuravam distinguir-se uns dos outros, 26 Unidade I exibindo certos símbolos de status. São muitos os meios de expressar o status dentro de uma sociedade. Além de determinadas expressões de comportamento, de linguagem, de vestimentas, pode-se simbolizar o status social mediante o uso de produtos adequados. Isto é tanto mais impressionante quanto maiores forem as qualidades simbólicas dos produtos utilizados (LÖBACH, 2011, p. 91). Até o início da era industrial os produtos ou objetos de uso eram peças feitas a mão por artesões que moravam no campo. Nesse momento o design de objetos tinha uma característica prático-funcional ou simbólico-funcional, não havia uma preocupação com a forma e a ergonomia do objeto. A forma dos produtos e o seu uso eram adaptados à classe social do usuário. Os objetos com características mais funcionais apresentavam uma aparência livre de adornos e eram utilizados pelos camponeses e burgueses. Enquanto os membros do clero e da nobreza utilizavam de objetos com adornos caros e que, muitas vezes, tornava até difícil identificar a função específica do objeto. “O uso destes produtos era uma afirmação de riqueza, poder político e nível cultural frente aos grupos de classes sociais inferiores. Seu uso colocava em evidencia e dava segurança à posição social do clero e da nobreza” (LÖBACH, 2011, p. 91). Nas imagens a seguir podemos observar objetos feitos à mão: A B Figura 14 – A) Jarra de latão com função prática de 1780 por Lübeck; B) Jarra de prata com função simbólica de 1745 por Augsburgo Ainda nos dias de hoje, ter um determinado produto é símbolo de prestígio e status social. Com o advento da indústria, os objetos que antes eram feitos por artesãos começaram a ser produzidos em grande quantidade, a partir da linha de produção. Desse modo, os produtos passam a ser acessíveis para a população. Assim, compete ao designer elaborar as funções estéticas de um produto atendendo às necessidades ergonômicas desse usuário. 27 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) O estudo científico da antropometria e da ergonomia é o resultado de uma evolução das condições do modo de viver da humanidade. Evolução essa que aconteceu no ambiente domiciliar, urbano e de trabalho, gerando novas expectativas de convivência. De uma forma simplificada, pode-se dividir a antropometria em: • Antropometria funcional: as medidas antropométricas são estudadas em função de uma tarefa específica, que considera o alcance das mãos e envolve também o movimento dos ombros, a rotação do tronco e a inclinação das costas, como um profissional de odontologia. Figura 15 • Antropometria estática: ligada às medidas das dimensões física do corpo humano em repouso. É mais usada em projetos cuja a mobilidade do produto é pouca ou reduzida, como um trabalhador operando um painel de controle, que exige pouco uso de força e pouco movimento. Figura 16 • Antropometria dinâmica: prioriza o movimento corporal de forma individual, com movimentos que não requerem esforço físico, considerando o conforto, a segurança e o bem-estar físico, por exemplo, a cabine de comando de um avião. 28 Unidade I Figura 17 Saiba mais Um exemplo atual sobre antropometria dinâmica são os exoesqueletos. Conheça mais sobre o tema lendo a matéria a seguir: CAPUTO, V. Fiat indica futuro do trabalho com uso de exoesqueletos. Exame, dez. 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/tecnologia/ fiat-indica-futuro-do-trabalho-com-uso-de-exoesqueletos/. Acesso em: 18 mar. 2019. O estudo desses três tipos de antropometrias deve ser feito em função das características funcionais de cada uso. Por exemplo, se for um posto de trabalho, deve ser realizado um estudo das medidas antropométricas num contexto global, levando em consideração as diversidades de raça e sexo, a fim de adaptar a sua função ao contexto de uso. Como geralmente não é possível projetar o espaço de trabalho para atender as pessoas de dimensões extremas (muito grandes ou muito pequenas), temos que nos contentar em satisfazer as necessidades da maioria, tomando como base as medidas que são representativas da maioria da população. Se a decisão for projetar para 90% de um dado grupo, enquadram-se as pessoas maiores que os 5% menores (na dimensão corporal considerada) e menores que os 5% maiores; em outras palavras, excluem-se os 5% menores e os 5% maiores da população (MORAES; FRISONI, 2001, p. 38). 29 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Tabela 1 – Medidas de antropometria estática de trabalhadores brasileiros Medidas de antropometria Homens Estática (cm) – Brasil 5% 50% 95% 1 Corpo em pé 1.1 Peso (kg) 52,3 66 85,9 1.2 Estatura, corpo ereto 159,5 170 181 1.3 Altura dos olhos 149 159,5 170 1.4 Altura dos ombros 131,5 141 151 1.5 Altura do cotovelo 96,5 104,5 112 1.6 Comprimento do braço com dedos 79,5 85,5 92 1.8 Profundidade do tórax 20,5 23 27,5 1.9 Largura dos quadris 29,5 32,4 35,8 2 Corpo sentado 2.1 Altura da cabeça do encosto 82,5 88 94 2.2 Altura dos olhos ao assento 72 77,5 83 2.3 Altura dos ombros ao assento 55 59,5 64,5 2.4 Altura do cotovelo ao assento 18,5 23 27,5 2.5 Altura do joelho sentado 49 53 57,5 2.6 Altura poplítea sentado 39 42,5 46,5 2.8 Comprimento nádega-poplítea 43,5 4853 2.9 Comprimento nádega-joelho 55 60 65 2.12 Largura entre cotovelos 39,7 45,8 53,1 2.13 Largura dos quadris, em pé 29,5 32,4 35,8 3 Pés 3.1 Comprimento do pé 23,9 25,9 28 3.2 Largura do pé 9,3 10,2 11,2 Fonte: Corrêa e Boletti (2015, p. 40). Lembrete O projeto de objetos, ambientes e locais de trabalho deve estar adequado para o contexto do uso, obedecendo às medidas antropométricas que englobam o usuário independentemente do seu porte físico (estatura e peso). 2.1 Estudo de caso de objeto A Plastek, empresa americana do setor de plástico, fez um estudo de diferentes marcas de descascador de batatas com o objetivo de lançar um novo modelo desse produto que aliasse a ergonomia e o design (BAXTER, 2011). Nesse estudo, pode-se observar que o mesmo tipo de descascador era usado de maneiras distintas. Enquanto uns faziam o movimento no sentido de puxar o descascador na sua direção, outros faziam o movimento inverso, de empurrar o descascador (BAXTER, 2011). 30 Unidade I Figura 18 Também foi observado que a parte da ponta da lâmina, responsável por cortar o “olho” da batata, ergonomicamente estava em posição errada, dificultando o manuseio (BAXTER, 2011). Observando o trabalho com o descascador de batatas foi possível descobrir modos distintos de manipular o objeto. Enquanto algumas pessoas descascam a batata a seco, outras preferem descascar a batata na água, mergulhadas em tigelas (BAXTER, 2011). O problema relatado no modo seco é o incomodo de colocar a babata a todo momento embaixo da torneira, e o problema do corte molhado era a água de cor turva dentro da tigela (BAXTER, 2011). O resultado desse estudo resultou em três novos conceitos para o descascador de batatas. A lamina de corte de dois fios, um descascador com mangueira que se conecta à torneira e o novo posicionamento da ponta de corte do “olho” da batata (BAXTER, 2011). Figura 19 31 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Foram analisado mais de 100 produtos similares e apenas quatro modelos serviam realmente para descascar batatas. Os modelos foram especificados por tipos de lâminas e pelo posicionamento em relação ao cabo (BAXTER, 2011). Entrevistas feitas com consumidores revelaram características como rapidez no corte e conforto no manuseio. Teriam que ser higiênicos, não acumulando resíduos após o uso. A cor do cabo não poderia ser escura afim de não se confundir com as cascas das batatas (BAXTER, 2011). Essas respostas firmaram uma lista de necessidades do consumidor: rapidez no corte, facilidade de corte e ergonomia. Figura 20 Resumo Inicialmente, abordamos a ergonomia e a sua importância no desenvolvimento do projeto do objeto, apresentando um breve histórico sobre seu surgimento e a sua evolução. A ambientação foi exemplificada a partir de como deve ser a proposta projetual de um ambiente de trabalho. Também estudamos a importância das análises sincrônica e diacrônica para entender a história e o avanço de um objeto. Sobre a metodologia de projeto, aprendemos que pensar um produto é dar soluções para o produto e pensar em todas as etapas que envolvem esse processo de projeto. Abordamos a antropometria, a partir dos estudos das medidas do corpo humano, de sua evolução no tempo e de como a antropometria é aplicada à ergonomia, por meio de exemplos. Ainda, sobre antropometria foi apresentada uma tabela com as medidas dos trabalhadores brasileiros. Por fim, expusemos o estudo de caso do descascador de batatas da Plastek. 32 Unidade I Exercícios Questão 1. (Enade 2008) Person’s well-being Person Task Workstation design • Furniture • Equipment • Environment Work postures Work activities Output performance KROEMER, K. H. E. Interactions among person, task, workstations design, and performance, 1994. A figura apresentada mostra, esquematicamente, os fatores que interagem entre si e que devem ser considerados em um projeto ergonômico de um posto de trabalho, que visa alcançar um bom desempenho. A partir dessas informações e tendo como referência o diagrama apresentado na figura, é correto afirmar que: I – O mobiliário adequado deve considerar as características da pessoa e da tarefa a ser realizada. II – Deve-se melhorar as condições do ambiente de produção sempre que for necessário e possível. III – Uma pessoa motivada apresenta desempenho superior, mesmo com as condições ambientais desfavoráveis. IV – A pessoa torna-se mais produtiva quando adota postura sentada em vez da postura ereta, em pé. Estão corretas apenas as afirmativas: A) I e II. B) I e III. C) II e III. D) II e IV. E) III e IV. Resposta correta: alternativa A. 33 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a ergonomia física estuda os aspectos da anatomia humana, da antropometria, da fisiologia e da biomecânica relacionados com a atividade física, tais como a postura do trabalho, o manuseio de materiais, os movimentos repetitivos, os distúrbios musculoesqueléticos, o projeto de postos de trabalho, a segurança e a saúde do trabalhador. Assim, o mobiliário deve considerar as características da pessoa e da tarefa. II – Afirmativa correta. Justificativa: o mobiliário adequado deve considerar as características da pessoa e da tarefa a ser realizada e, sempre que necessário e possível, as condições do ambiente de produção devem ser melhoradas. De acordo com a NR 17 as condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: as condições ambientais do trabalho influenciam no desempenho das pessoas. Isto está relacionado com a ergonomia cognitiva. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: a afirmativa “a pessoa torna-se mais produtiva quando adota postura sentada em vez da postura ereta, em pé” não está contemplada na figura do enunciado, que não faz referência explícita ao tipo de postura, se de pé ou sentada. Considerando o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº 17, o item não pode ser considerado correto, pois qualquer postura mantida de maneira prolongada é mal tolerada. A alternância de posturas deve ser sempre privilegiada, pois permite que os músculos recebam seus nutrientes e não fiquem fatigados. Questão 2. (Enade 2014) Do ponto de vista ergonômico, é sempre desejável a adaptação individual da altura de trabalho. Ao invés de soluções improvisadas, como estrados para os pés ou o aumento das pernas das mesas, uma mesa com altura regulável é o mais recomendável. Na figura a seguir são mostradas as alturas de trabalho desejáveis para atividades em pé, em relação à altura das pessoas, sendo que a linha de referência corresponde à altura do cotovelo a partir do chão, que é em média 1050 mm para os homens e 980 mm para as mulheres. 34 Unidade I (a) (b) (c) 1000-1100 950-1050 900-950 850-900 750-900 700-850 +200 mm +100 mm 0 linha de referência -100 mm -200 mm -300 mm mm Homens mm Mulheres KROEMER, K. H. E.; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005 (com adaptações). Considerando o texto e a figura, avalie as afirmativas a seguir. I – Durante o trabalho em pé, se há muita exigência de emprego de força, como em trabalhos pesados de montagem, a altura da superfície de trabalho deve ser mais baixa: entre 150 e 300 mm abaixo da altura do cotovelo, conforme a posição (c) da figura. II – Para um trabalho delicado, por exemplo, desenho, é desejável um apoio de cotovelos, sendo a altura adequada entre 50 e 100 mm acima da altura do cotovelo, conforme a posição (a) da figura. III – Para trabalhos manuais realizados em pé, as alturas recomendadas são de 50 a 100 mm abaixo da altura do cotovelo, conforme a posição (b) da figura. VI – Em atividades manuais com necessidade de espaço para ferramentas, materiais e recipientes variados, a altura de trabalho adequadaé a da posição (c) da figura, em torno de 100 a 150 mm abaixo da altura do cotovelo. V – Para trabalhos de precisão, como manuseio de componentes eletrônicos, podem ser consideradas como adequadas as posições (a) e (b) da figura, que vão desde 50 mm acima da altura do cotovelo a 50 mm abaixo da altura do cotovelo. É correto apenas o que se afirma em: A) I, II e III. B) I, III e IV. C) I, IV e V. 35 PROJETO DO OBJETO (ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE) D) II, III e V. E) II, IV e V. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: como é possível observar na figura, a altura da superfície de trabalho para trabalhos pesados deve ficar entre 150 e 300 mm abaixo da altura do cotovelo. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: para os trabalhos de precisão, a altura da superfície de trabalho deve estar na linha dos cotovelos. III – Afirmativa correta. Justificativa: para os trabalhos leves, a superfície de trabalho deve estar entre 50 e 100 mm abaixo da linha dos cotovelos. IV – Afirmativa correta. Justificativa: como é possível observar na figura, a altura da superfície de trabalho para trabalhos pesados deve ficar entre 150 e 300 mm abaixo da altura do cotovelo. V – Afirmativa incorreta. Justificativa: para trabalhos de precisão, apenas a posição (a) da figura da questão é recomendada.
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