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APOSTILA FITOTERAPIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
FUNDAMENTOS DA FITOTERAPIA VETERINÁRIA 
 
DENISE BOTELHO DE OLIVEIRA BRAGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2013
2 
 
HISTÓRICO DA FITOTERAPIA 
Denise Botelho de Oliveira Braga
1
, Marília Botelho de Oliveira Chaudon
1
, 
Alcir das Graças Paes Ribeiro 2 
 
 A história da medicina começa com a fitoterapia. As plantas foram os 
primeiros medicamentos utilizados pelo Homem. Os estudos arqueológicos, através 
dos vestígios deixados pelos nossos antepassados de Neanderthal, constatam que 
há mais de 3.000 anos as ervas eram utilizadas com fins terapêuticos. 
 Todas as civilizações, em todos os continentes, deixaram registros das 
virtudes das plantas para fins alimentícios, medicinais e cosméticos. Um papiro 
egípcio de 1.600 a.C. descreve muitas plantas, animais e remédios inorgânicos. 
Alguns como o coentro, o funcho, o alho, o sene e o absinto são usados ainda hoje. 
Existe uma clara evidência de ópio produzido a partir da papoula cultivada na 
Mesopotâmia, foi a primeira experiência do Homem na área da preparação de 
medicamentos. 
 Na China, as referências ao uso de plantas medicinais, encontradas nos 
“oráculos dos ossos” (meios de gravação de informação), são anteriores à Dinastia 
Ming (1.500 a.C.). 
 Até o século XIX os medicamentos eram formulados basicamente a partir de 
plantas, entretanto, com a industrialização no início do século XX, surgiram os 
medicamentos sintéticos, que aos poucos substituíram as plantas, e que hoje 
dominam o mercado farmacêutico. A fitoterapia atualmente existe principalmente no 
mercado informal, o que representa um grande perigo à saúde da população, pois 
neste há a comercialização de drogas vegetais sem controle fitosanitário e de 
identidade e pureza. Há a necessidade de um controle maior e melhor desse ramo 
farmacêutico, pois os fitoterápicos representam uma alternativa economicamente 
mais viável à população e por razões de resgate histórico do conhecimento. No 
Brasil, apenas em 1995 passou a existir normatização oficial sobre a fitoterapia. 
 Acredita-se que o conhecimento das propriedades curativas das plantas foi, 
no início, meramente intuitivo, ou observando os animais que, quando doentes, 
buscavam nas ervas a cura para seus males. Com esse comportamento, passando 
 
1
 Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF. 
2
 Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio 
3 
 
de geração a geração, adquiriram gradualmente mais conhecimento, tornando-os 
capazes de utilizar as diferentes plantas e ervas. 
 Por mais de 5.000 anos a arte da cura tem sido uma doutrina crescente e em 
constante mudança, entretanto ao se comparar a história da medicina em várias 
civilizações podemos perceber muitos paralelos. 
 
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA 
 A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) compreende diversas técnicas 
terapêuticas que são usadas em associação ou isoladamente no tratamento das 
doenças, conforme cada caso. Entre estas técnicas, a fitoterapia destaca-se como a 
principal para tratamento de doenças internas e divide com a acupuntura os méritos 
de serem os pilares da MTC. 
 Os tratados médicos de fitoterapia chinesa (Ben Cao Jing, cuja tradução é 
Tratado de Árvores e Ervas) incluem não só substâncias do reino vegetal, mas 
também, produtos minerais e animais. Como as plantas são a maioria absoluta dos 
produtos usados medicinalmente, no ocidente esta técnica é chamada de fitoterapia, 
entretanto o nome mais correto seria naturopatia. 
 A MTC é um termo que engloba também as outras medicinas da Ásia, como 
os sistemas médicos tradicionais do Japão, da Coréia, do Tibete e da Mongólia e 
constitui-se num dos sistemas médicos com a tradição mais antiga (+ 5.000 anos) de 
que se tem conhecimento. Nesta evolução milenar, a fitoterapia chinesa foi se 
organizando, se estruturando e se tornando o sistema terapêutico mais avançado do 
mundo no fim do século XX. Este conhecimento começou a difundir pela Europa no 
século II d.C, trazido por exploradores famosos como Marco Polo. 
 A MTC se fundamenta numa estrutura teórica sistemática e abrangente, de 
natureza filosófica, na qual utiliza três princípios para explicar alguma mudança na 
saúde do corpo humano: a) os cinco elementos: a madeira, o fogo, a terra, o metal e 
a água; b) a relação entre Yin e Yang e c) a circulação da energia Qi (energia ou 
força vital) pelos meridianos. 
 O sistema médico chinês, tendo como base o reconhecimento das leis 
fundamentais que governam o funcionamento do organismo humano e sua interação 
com o ambiente segundo os ciclos da natureza, procura aplicar esta compreensão 
tanto ao tratamento das doenças quanto à manutenção da saúde através de 
4 
 
diversos métodos. A doença é causada por um desequilíbrio num ou mais canais ou 
áreas do corpo. 
 
 
Figura 1- Os cinco elementos, a relação Yin/Yang, os meridianos. Fonte: Wikipédia 
 
MEDICINA AYURVÉDICA 
 Ayurveda é o nome dado ao conhecimento médico desenvolvido na Índia há 
cerca de 7 mil anos, o que faz dela um dos mais antigos sistemas medicinais da 
humanidade. Ayurveda significa, em sânscrito, ciência (veda) da vida (ayur) e tem-se 
difundido por todo o mundo como uma técnica eficaz de medicina tradicional. 
Também usa muitas plantas para o tratamento das doenças. 
 A MTC e a medicina ayurvédica são consideradas as duas linhas da medicina 
que se mantiveram praticamente inalteradas com o passar dos anos. Não se sabe 
ao certo quando a medicina ayurvédica começou. 
 A doença, para a Ayurveda, é muito mais que a manifestação de sintomas 
desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. A Ayurveda, como ciência 
integral, considera que a doença inicia-se muito antes de chegar à fase em que ela 
finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar 
com o passar do tempo, se não forem corrigidos, originando a enfermidade muito 
antes de podermos percebê-la. O conceito de equilíbrio numa pessoa e também no 
seu ambiente é novamente a teoria central. 
 A medicina ayurvédica também reconhece o conceito de força vital 
(denominado prana) e se baseia em cinco elementos: a terra, o ar, o fogo, a água e 
o etéreo. Toda a matéria que existe no universo provém destes 5 elementos, 
inclusive o corpo humano (que além da matéria, também é formado por buddhi - 
discernimento, ahamkara - ego e manas - mente). De acordo com o Ayurveda, 
5 
 
quando algum dos 5 elementos está em desequilíbrio no corpo do indivíduo, inicia-
se o processo da doença. 
 Segundo essa tradição, os seres humanos são influenciados pelos 5 
elementos através do dosha (a possibilidade de combinação dos cinco elementos 
da natureza no Homem). Os doshas são vata, regido por ar e éter, pitta, regido por 
fogo e água, e kapha, regido por terra e água. Todas as pessoas possuem os três 
doshas, mas em diferentes proporções. No momento da nossa concepção a nossa 
constituição é definida, isto é, os doshas que estão presentes em maior quantidade 
no nosso organismo. Ao nascermos, tal proporção está em equilíbrio (prakrti), mas 
com o tempo e a vida desregrada surge o desequilíbrio em um ou mais desses 
doshas (vikrti), contribuindo para o surgimento e desenvolvimento de doenças. 
 
MEDICINA GREGA 
 No ocidente, a medicina pode ser rastreada desde o tempo dos gregos. No 
Século V a.C. Empédocles descreveu quatro elementos que asseguravam a vida: a 
terra, o ar, o fogo e a água. Acreditou-se que se relacionavam a quatro humores do 
corpo, nomeadamente bílis preta, sangue, bílis amarela e muco. O princípio era de 
que um desequilíbrio em algum desses elementos causava a má saúde. Antes deste 
ponto, no ocidente, acreditava-se que a doença e a morte eram causadas pela 
influência de demônios e outras entidades sobrenaturais. Com ateoria de 
Empédocles foi a primeira vez que um conceito de saúde chegou a dominar a 
medicina no ocidente. 
 A medicina como ciência, baseada na interpretação natural da doença, surgiu 
no século V a.C, com Hipócrates (460-375 a.C.), indiscutivelmente o médico mais 
conhecido do seu tempo e também referido como o Pai da Medicina. Ele usou uma 
gama de 300 remédios diferentes que, juntamente com uma mudança no estilo de 
vida e dieta, foram usados para corrigir desequilíbrios no corpo. Ele é também 
recordado por utilizar as massagens e a aquaterapia. 
 Hipócrates acreditava que “É mais importante conhecer o tipo de pessoa que 
tem a doença, do que conhecer o tipo de doença que a pessoa tem”. A medicina 
holística tem assim uma história muito longa. 
 Hipócrates criticou o princípio racionalista, propôs seu método e traçou a 
origem e evolução da medicina. A crítica foi dirigida àqueles que, partindo 
inicialmente de uma hipótese, derivam dela uma causa única para todas as doenças. 
6 
 
Da mesma forma como os filósofos pré-socráticos partiam de um pequeno número 
de elementos fundamentais para explicar a diversidade do mundo, muitos médicos 
do século V a.C. pretendiam fundar a arte da medicina sobre um ou dois princípios 
que sistematizam toda a patologia. Assim, Hipócrates criticou a medicina “filosófica” 
e afirmou a autonomia da arte médica em relação à filosofia. 
 A partir desta crítica, Hipócrates expôs seu método: a medicina deve apoiar-
se sobre observações e fatos. Afirmou que “as doenças não são consideradas 
isoladamente e como um problema especial, mas é no homem vítima da 
enfermidade, com toda a natureza que o rodeia, com todas as leis universais que a 
regem e com a qualidade individual dele, que o médico se fixa com segura visão”, ou 
seja, o corpo humano, para ser conhecido, deve ser estudado em relação com o 
meio ambiente. As causas das doenças, portanto, deveriam ser buscadas não 
apenas no órgão ou mesmo no organismo enfermo, mas também e principalmente 
no que há de essencialmente humano no homem, a alma, esse componente 
espiritual que distingue o homem dos outros organismos vivos do planeta. Mais do 
que um biólogo, mais do que um naturalista, o médico deveria ser, 
fundamentalmente, um humanista. Um sábio que, na formulação do seu diagnóstico, 
leva em conta não apenas os dados biológicos, mas também os ambientais, 
culturais, sociológicos, familiares, psicológicos e espirituais. 
 Hipócrates introduziu a avaliação metódica dos sinais e sintomas como base 
fundamental para o diagnóstico. Em termos de tratamento, advogava que dois 
métodos terapêuticos poderiam ser utilizados com sucesso: a "cura pelos contrários" 
(Contraria Contrariis Curentur), consolidada por Galeno (129-199 d.C.) e Avicena1 
(980-1037), que é a base da medicina alopática; e a "cura pelos semelhantes" 
(Similia Similibus Curentur), reavivada no século XVI por Paracelso2 (1493-1591) e 
consolidada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, quando este criou a 
Homeopatia. Hipócrates dizia que essas duas formas de tratamento eram eficazes 
no restabelecimento da saúde, portanto a lei dos contrários e a lei dos semelhantes 
 
1
AVICENA (Ibn Sina) é considerado um dos maiores sábios do Islã, sendo reconhecido 
principalmente por seu trabalho filosófico (síntese crítica das obras de Platão, Aristóteles e Plotino). 
Já aos 16 anos, Avicena era bastante conceituado por seu talento como médico, tendo sido um dos 
grandes difusores da obra de Galeno. 
 
2
 PARACELSO (Aureolus-Phillippe-Teophrastus Bombast von Hohenhein) nasceu na Suíça. Seu pai 
era médico e o instruiu desde cedo nos segredos da arte de curar. Entretanto, Paracelso logo se 
rebela contra estes ensinamentos – considerados por ele antiquados – tornando-se um dos mais 
controversos médicos e alquimistas de todos os tempos. 
7 
 
não se opunham em seu pensamento. Ele sempre tratava o paciente de forma 
abrangente e raramente se referia a enfermidade de maneira isolada. 
 Hipócrates traçou a origem e a evolução da medicina a partir da evolução da 
alimentação humana. O nascimento da medicina confunde-se com a descoberta do 
regime alimentar. É o desenvolvimento da culinária adaptada aos diferentes tipos de 
doentes que marca o início da medicina propriamente dita. A medicina primitiva 
seria, portanto, uma espécie de culinária personalizada. Mas ela é precedida pelo 
desenvolvimento da alimentação dos indivíduos sadios, ou seja, da culinária como 
tal, que consiste em adaptar o alimento à natureza humana por meio de múltiplos 
preparos, como o cozimento e a mistura. Esta dupla descoberta permitiu a 
passagem da vida selvagem, quando o homem se alimentava como os animais, 
para a vida civilizada. É neste passado que se encontra o ponto de partida da 
medicina. A simples hipótese em substituição à realidade observada é erro que 
transforma a ciência em especulação sem fundamento. Desta forma, em 
conformidade com o pensamento do século V a.C, Hipócrates colocou a medicina 
em bases racionais e a atribui aos homens, e não aos deuses, como relatado no 
Prometeu acorrentado, de Ésquilo (525-456 a.C.). 
 O uso das ervas medicinais e plantas era provavelmente empírico naquele 
momento, mas no Século III a.C., o primeiro livro sobre ervas ocidentais era 
produzido por Theophrastus. Este livro descrevia 455 plantas medicinais, muitas das 
quais ainda são utilizadas. 
 
MEDICINA ROMANA 
 Os romanos foram os primeiros a fazer um avanço impressionante quanto aos 
cuidados com a saúde. Estabeleceram a importância do uso de água limpa, 
dispuseram de sistema de esgotos e consequentemente de higiene. Esta foi a 
primeira forma de medicina preventiva. Os romanos também aceitaram a idéia de 
isolar quem estava com determinadas doenças. 
 O uso das ervas floresceu durante o Império Romano, usando o 
conhecimento que provavelmente foi obtido dos Gregos. Celsus (5 a.C. a 57d.C.) 
escreveu um guia para a prática médica que incluía plantas e minerais, também 
venenos como mercúrio, arsênico e chumbo. Dioscórides (40-90 d.C) fez um 
herbário descrevendo 600 plantas, ilustrado a cores. Galeno (129 a 200 d.C) 
empreendeu a primeira forma de controle de qualidade, incentivando os funcionários 
8 
 
públicos romanos a fiscalizarem o conteúdo dos remédios. (Não há registros de 
como faziam este controle). Galeno também foi o primeiro a combinar ervas na 
prática médica ocidental. Estas misturas de ervas eram conhecidas como galênicas, 
um termo que ainda é utilizado nos dias de hoje. 
 
MEDICINA PERSA/ÁRABE 
 O declínio do Império Romano reduziu o avanço do conhecimento na Europa. 
Este período é recordado na história como a “Idade das Trevas”, onde o trabalho 
científico e cultural ficou estagnado. Também, os avanços na teoria médica e herbal 
declinaram. Entretanto o conhecimento sobre o uso das ervas foi mantido vivo pelos 
monges. Eles estavam numa posição privilegiada podendo ser capazes de manter 
registros escritos disponíveis e manterem o conhecimento médico e herbal 
relativamente intacto durante este período. A lacuna deixada pelo colapso do 
Império Romano era preenchido pelo surgimento do Islã e a proeminência do 
Império Muçulmano que perdurou dez séculos. Os persas e os árabes mantiveram 
as idéias de Galeno, mas adicionaram os seus próprios remédios como a cânfora e 
o bórax. No Século XI uma enciclopédia médica chamada “The Canon Medicinae” foi 
escrita pelo médico Avicena (980-1037). Esta tornou-se a base para o conhecimento 
no Ocidente por muitos séculos. 
 
MEDICINA NO OCIDENTE 
 Como todos os grandes impérios, a força do Império Muçulmano declinou, 
dando caminho para o renascimento da cultura européia e o Período da 
Renascença. Este foi o período das descobertas, com as viagens de Cristóvão 
Colombo, numerosas invenções e o começo das bases físicas e químicas. Aspectos 
científicose culturais no mundo ocidental progrediram com grande velocidade. 
 Com a invenção da impressão nos Séculos XVI e XVII, viu-se a produção de 
muitos trabalhos sobre ervas. Havia também traduções de trabalhos médicos do 
grego clássico para muitas línguas. Durante este tempo, o conhecimento de plantas 
aumentou com o trabalho de William Turner (1568), Jonh Parkinson (1640) e 
Nicholas Culpepper (1652). Estes herbalistas estabeleceram o lugar para muitas das 
ervas que nós usamos hoje. 
 No século XVI um médico que chamava a si próprio Paracelsus (significando 
literalmente melhor do que Celsus) começou por questionar os antigos conceitos e 
9 
 
opiniões dos humores, e o desequilíbrio dos humores no corpo. Viu a doença como 
um evento externo e sugeriu que as plantas tinham ingredientes ativos que poderiam 
influenciar tais eventos. Esta foi a época onde epidemias como a peste bubônica, a 
malária e a sífilis tiveram que ser enfrentadas. Entretanto, o passo mais significativo 
na medicina ocidental foi o renascimento durante o Século XVIII, da idéia de higiene 
e saúde, que os romanos introduziram séculos antes. O escocês Jenner, o francês 
Pasteur e o alemão Koch, foram os primeiros a reconhecer que microorganismos 
poderiam ser responsáveis por doenças infecciosas e que muitas doenças e 
epidemias eram transmitidas de pessoa para pessoa e pela falta de higiene. Lister 
foi o primeiro a esterilizar instrumentos cirúrgicos. No Ocidente, as ervas foram 
usadas geralmente como medicamentos entre os Séculos XV e XIX. 
 
MEDICINA MODERNA 
 Em 1785, o Doutor William Whithering registrou a descoberta da Digitalis 
(dedaleira), útil no tratamento da hidropisia (hoje utilizada para problemas 
cardíacos). O alívio da dor era um dos maiores interesses durante o Século XIX, e 
foi conseguido usando substâncias naturais como álcool, ópio e hioscina. O 
clorofórmio (obtido a partir da destilação do álcool) foi usado para anestesia e alívio 
da dor durante o parto e em pequenas (ou mesmo grandes) cirurgias. 
 A história registra um episódio interessante sobre um pioneiro japonês que 
aprendeu a arte de usar as ervas ocidentais. Ele queria testar a eficácia de uma 
mistura herbal contendo plantas com alcalóides tipo hioscina, para efeito anestésico. 
A sua idosa mãe voluntariou-se para a experiência, já que julgava morrer logo. O 
pioneiro, entretanto, decidiu administrar esta mistura na mulher, e de comum acordo 
entre os três; pois poderia encontrar uma nova mulher, mas nunca poderia ter outra 
mãe. 
 Assim como a ciência progrediu, muitos tiveram a ambição de extrair das 
plantas os ingredientes que eram responsáveis pela sua ação, algo que Parecelsus 
tinha previsto séculos antes. Em 1903, o alemão Friedrich Sertuner, um 
farmacêutico com 20 anos, foi bem sucedido ao isolar uma substância particular do 
ópio, à qual não colocou nome. Alguns anos mais tarde a atropina foi isolada da 
Beladona e a quinina (antimalárica) foi isolada da Cinchona spp (os gêneros com 
maior teor de quinina são C. ledgeriana e C. officinalis). Em 1860 a cocaína era 
10 
 
extraída das folhas da coca, tornando-se popular como um anestésico local para 
pequenas cirurgias. 
 Os cientistas prosseguiram então para a etapa seguinte sintetizando estas 
substâncias no laboratório. Primeiro prepararam-se para copiar a estrutura química 
do ingrediente natural ativo e então produziram estas estruturas químicas novas e 
similares, mas não encontradas na natureza. 
 Um exemplo notável é a conhecida aspirina. Por muitos séculos, a medicina 
tradicional francesa usou a casca de salgueiro, que continha o ingrediente ativo 
salicina. Em 1827, um químico francês isolou o mesmo componente da erva barba-
de-bode e meio século mais tarde, em 1899, a salicina era usada como a base para 
formar o ácido acetilsalicílico (Aspirina). O Homem aprendeu deste modo a copiar a 
natureza e a isolar componentes ativos que estavam presentes e adaptá-los. Foi o 
nascimento da indústria farmacêutica. 
 Durante o Século XX, mais e mais componentes foram descobertos, isolados 
das plantas e copiados. Com a grande compreensão da fisiologia humana durante a 
segunda metade do século a indústria farmacêutica foi-se desenvolvendo cada vez 
mais. 
 A fisiologia também é a base na qual os fitoterapeutas modernos explicam a 
função de uma planta como um todo e os seus extratos. Cada vez mais, estamos 
utilizando este conhecimento para nos ajudar a compreender como usar as plantas 
na medicina moderna. Diferente dos gregos e romanos que não tinham um claro 
entendimento de como o corpo humano funcionava, a Fitoterapia moderna tem as 
vantagens das descobertas feitas durante o século XX. 
 
SITUAÇÃO ATUAL DA FITOTERAPIA 
 O reconhecimento das potencialidades das plantas medicinais gerou 
crescente interesse em todo o mundo pelos assuntos ecológicos e pelos remédios 
naturais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% da 
população mundial consomem remédios à base de ervas e plantas medicinais. No 
Brasil, estima-se que quatro milhões de brasileiros lancem mão de alguma forma de 
terapia complementar para tratar doenças. 
 As plantas medicinais são usadas a partir de informações provenientes da 
tradição. No Brasil, além da biodiversidade da flora brasileira, a fitoterapia é 
enriquecida pela miscigenação das culturas indígena, negra e européia. 
11 
 
 Por algum tempo a fitoterapia foi marginalizada e classificada de “medicina 
empírica”, entretanto, cerca de 45% dos remédios usados pela medicina 
convencional são feitos a partir de substâncias extraídas de vegetais. É com grande 
ironia que muitas companhias mandam seus cientistas por todo o mundo, procurar 
nas plantas e nas medicinas tradicionais indícios de como as plantas podem ajudar 
na doença e tentar isolar estes componentes ativos. O exemplo mais recente e 
extensamente difundido sobre isto é o Taxol, extraido de casca de “Taxus 
breviafolia”. O taxol é um diterpenóide, da família dos taxanos. A sua estrutura 
invulgar e a sua forte atividade anticancerígena, despertaram a atenção para o 
mundo científico, e esta talvez tenha sido a molécula mais estudada nos últimos 20 
anos. Atualmente, uma formulação semi-sintética do Taxol é prescrita para tratar 
alguns cancros de ovário e da mama. 
 O respaldo científico e a importância econômica vêm inserindo a Fitoterapia 
como prática regular no sistema de saúde público e privado. 
 O mercado brasileiro é carente em profissionais com uma sólida formação 
para trabalhar com a fitoterapia. Faz-se necessário capacitar profissionais, através 
de uma formação técnica e científica atualizada, a fim de atender a população e 
mudança de hábitos do mercado, que vem gradualmente valorizando soluções mais 
naturais e saudáveis 
 Ainda há muito que conhecer sobre as plantas. Muitas delas utilizadas pela 
medicina tradicional precisam ser identificadas e testadas para comprovar suas 
utilidades terapêuticas. A destruição dos habitats naturais causa grande 
preocupação para muitos no campo da fitoterapia. Das 400 plantas medicinais 
comercializadas no Brasil, 75% são de origem extrativa, coletadas diretamente de 
seu habitat na Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga e Cerrado, sem qualquer manejo, 
o que gera grande pressão ambiental no ecossistema causando problemas na 
sustentabilidade e risco de extinção. Na Conferência de Chiang-Mai (OMS, 1987) 
fez-se um pedido para “salvar as plantas que salvam vidas”, em um alerta contra o 
extrativismo desordenado. 
 
FITOTERAPIA NA MEDICINA VETERINÁRIA 
 Apenas 1% do mercado de fitoterápicos no país é voltado ao segmento 
veterinário, mas a maior parte se destina a grandes animais, como bovinos e 
12 
 
eqüinos. Porém, é o setor que mais cresce: cerca de 25% ao ano (DIÁRIO DO 
COMÉRCIO & INDÚSTRIA, 2004). 
 Algumas vantagens da fitoterapia em relação à alopatia são: a diversidade 
florística (facilidadeem obter as plantas), o baixo custo na aquisição e a alta eficácia 
com baixa toxicidade e efeitos colaterais. 
 Na medicina veterinária a fitoterapia é utilizada na produção agroecológica, na 
agricultura familiar e em pequenos animais. 
 
Produção agroecológica 
 Na produção animal há uma demanda cada vez maior por produtos 
agropecuários livres de resíduos químicos (antibióticos, parasiticidas e outros) que, 
quando desprezados os períodos de carências para eliminação metabólica deste 
produtos, acabam por atingir também o ser humano. A manipulação de produtos 
tóxicos podem provocar danos à saúde, por mais que estejam disfarçados sob o 
nome de “defensivos agrícolas” ou de “remédios”. 
 Nos últimos 4 anos, o mercado brasileiro foi um dos que mais cresceram no 
mundo, com taxas de 35 a 50% ao ano. Entretanto, no mercado de produtos 
orgânicos, a produção de carnes (aves, bovinos, suínos e ovinos), produtos lácteos e 
mel, quando comparada à produção de vegetais, representa aproximadamente 5%. 
 
Agricultura familiar 
 Na agricultura familiar, quando um médico veterinário, deixa um receituário 
com uma lista enorme de medicamentos (conhecimento terapêutico-mercadológico), 
não adequado à baixa renda do proprietário, gera: perdas econômicas pela 
permanência da enfermidade e, consequentemente, perda da produção; perdas 
sociais pelas conseqüências negativas na saúde física e emocional, que a baixa 
condição econômica provoca. Esta situação não deve induzir à conclusão de que 
recorrer ao uso plantas medicinais direciona-se unicamente aos produtores em 
situação de exclusão sócio-econômica, mas para mostrar que muitas tecnologias 
reforçam esta exclusão. 
 Cerca de 30% dos produtores rurais não podem arcar com os tratamentos de 
seus animais, comercializando derivados (carne, leite, queijo, pele e lã) muitas vezes 
abaixo do nível de competitividade no mercado. Isto porque o abate acaba sendo 
feito com animais doentes, a pele fica fraca e o leite perde em qualidade nutricional. 
13 
 
 A grade curricular da maioria das faculdades de veterinária no Brasil é voltada 
para o agronegócio, entretanto o CENSO IBGE ( 2006) revelou os seguintes dados: 
a) 84,4% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares, o 
que significa 12,3 milhões de pessoas em cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos 
familiares; 
b) na produção nacional, a Agricultura Familiar foi responsável por 58% do leite, 
59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos; 
c) 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária são produzidos por agricultores 
familiares. 
 
Pequenos animais 
 O uso de fitoterapia em pequenos animais ocorre, normalmente, quando o 
proprietário tb usa terapias naturais. 
 O Brasil é o terceiro do mundo no mercado pet. Existem mais de 45 milhões 
de cães, mais de 11 milhões de gatos, 4 milhões de pássaros e, ainda, 500 mil 
aquários espalhados por todo o Brasil. 
 
 Na Medicina Veterinária, a fitoterapia não significa apenas intervir no 
processo de cura de doenças. A teoria da ecologia médica - a qual vê o ser como 
um microcosmo que deve estar em equilibrio consigo mesmo e com o meio que o 
cerca, o macrocosmo - enfatiza a relação estabelecida entre os componentes da 
chamada tríade epidemiológica (agente causal, hospedeiro e ambiente). Fritjof 
Capra, físico e escritor austríaco, em seu livro A teia da vida - uma nova 
compreensão científica dos sistemas vivos, lançado em 1996, propôs a visão de 
uma interligação ecológica de todos os eventos que ocorrem na Terra e da qual 
fazemos parte, de forma fundamental e afirmou que a arte de curar é algo mais 
integrador dos aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais, ambientais e 
espirituais. 
 A fitoterapia juntamente com a acupuntura e a homeopatia são exemplos de 
medicinas holísticas, pois se baseiam na relação do indivíduo com todo o universo. 
A cura não se trata apenas de eliminar os sintomas, mas sim achar a causa da 
doença. 
14 
 
 É comum encontramos profissionais da área médica e proprietários 
completamente refratários ao tratamento com plantas medicinais, mas quando 
deparam com resultados eficazes mudam de opinião. O preconceito ocorre pela falta 
de conhecimento das potencialidades das ervas medicinais, pela aquisição em 
fontes duvidosas, pela preparação errada (usando partes sem princípio ativo) e uso 
inadequado (quantidade insuficiente ou exagerada), comprometendo a eficácia e 
gerando efeito adverso ou tóxico (via de administração errada). 
 
REFERÊNCIAS 
AMARAL, M.T.C.G. Produção de orgânicos no Brasil. Disponível em 
<http://www.homeopatiaveterinaria.com.br/producao_organicos_Brasil.htm>. Acesso 
em: 25 maio 2010. 
 
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Editora Ltda. 1995. 550p. 
 
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fitofármacos. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.6, n.3, p.11-14, 2004. Disponível em 
<http://www.ibb.unesp.br/servicos/publicacoes/rbpm/pdf_v6_n3_2004/artigo_3_v6_n
3.pdf>. Acesso em: 13 maio 2010. 
 
EXPOCAPRI traz palestra sobre fitoterapia em caprinos. Univasf faz estudos sobre o 
assunto. Gazeta do Araripe. Pernambuco. Disponível em <http://www.gazetado 
araripe.com.br/regional/expocapri_salgueiro.htm>. Acesso em: 30 ago. 2010. 
 
GROSS, E. Um breve painel sobre os produtos orgânicos e a agroecologia. 
Disponível em <http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo30.htm>. Acesso em 25 
maio 2010. 
 
IBGE. Censo Agropecuário - Agricultura Familiar 2006. Disponível em 
<http://www.ibge.com.br/ home/default.php>. Acesso em: 25 maio 2010. 
 
MARTINS, S.A.A. Taxol: sua história e isolamento a partir da árvore de "Yem". 2004. 
Disponível em: <http://www.dq.fct.unl.pt/cadeiras/docinf/main/Trabalhos2003%20 
PDF/Sofia%20Martins%20taxol.PDF>. Acesso em: 30 ago. 2010. 
 
PORTAL SÃO FRANCISCO. Fitoterapia. Disponível em <http://portalsaofrancisco. 
com.br/alfa/bem-estar-fitoterapia/fitoterapia-8.php>. Acesso em: 16 jun. 2010. 
 
RAMOS, A. Negócios pet. Disponível em <http://espacomercadopet.blogspot.com>. 
Acesso em: 25 maio 2010. 
 
TESKE, M.; TRENTINI, A.M.M. Compêndio de fitoterapia. 3. ed. Curitiba: 
Herbarium Laboratório Botânico. 1999. 317p. 
15 
 
FUNDAMENTO DAS TERAPIAS NATURAIS 
Denise Botelho de Oliveira Braga
1
, Marília Botelho de Oliveira Chaudon
1
, 
Alcir das Graças Paes Ribeiro2 
 
 As terapias naturais são fundamentadas no Vitalismo, princípio filosófico 
caracterizado por postular a existência de um impulso vital sem o qual a vida não 
poderia ser explicada. Trata-se de uma força específica, distinta da energia, 
estudada pela Física e outras ciências naturais, que atuando sobre a matéria 
organizada daria como resultado a vida. Nesta concepção o corpo físico dos seres 
vivos é animado e dominado por um princípio imaterial chamado força vital, cuja 
presença distingue o ser vivo dos corpos inanimados e sua falta ou falência 
determina o fenômeno da morte. 
 A força vital, também denominada de energia vital ou princípio vital, é definida 
como a unidade de ação que rege a vida, que antecede a atividade mecânica e 
elétrica do organismo e que, na verdade, é sua mantenedora. Este princípio 
dinâmico, imaterial, distinto do corpo e do espírito, integra a totalidade do organismo 
e rege todos os fenômenos fisiológicos. O seu desequilíbrio gera as sensações 
desagradáveis e as manifestações físicas a que chamamos doença. No estado de 
saúde mantém as partes do organismo em harmonia. Sua natureza não pôde até 
hoje ser comprovada, mas admite-se que estaria próxima de outras manifestações. 
 A mais sólida das explicações vitalistas é o animismo de Aristóteles: qualquer 
corpo vivo goza de uma forma substancial única, essencialmente superior à dos 
corpos inanimados, chamada princípio vital ou até alma vegetativa, que forma com a 
matéria primeira deste corpo, uma substância viva de tal espécie que nos animaise 
no homem, se identifica com a alma sensível e intelectual (H. Collin, Manual de 
Filosofia Tomista). 
 O Vitalismo influenciou a Medicina até o século XIX, quando a mentalidade 
mecanicista ofereceu novas explicações ditas racionais para a compreensão dos 
fenômenos vitais, banindo-o das concepções médicas. A partir desses avanços 
considerados científicos, os postulados vitalistas sofreram ataques imediatos dos 
antivitalistas, chamados mais tarde de materialistas, que consideravam um 
 
1 Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF. 
2
 Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio. 
16 
 
retrocesso científico-ideológico atribuir aos fenômenos da vida às conotações 
metafísicas do Vitalismo. 
 
O VITALISMO NA MILENAR CULTURA CHINESA 
 O tratado de Medicina mais antigo que se conhece, o de Nei King, atribuído 
ao imperador Hoang Ti, da dinastia Han, data de 500 a.C., já mencionava que o 
corpo humano funcionava devido à presença de forças ocultas, estabelecendo as 
primeiras concepções de Vitalismo. Desde a sua origem, concebeu a existência de 
uma energia vital dividida em uma potência positiva (yang) e uma negativa (yin) de 
cujo equilíbrio dependeria a saúde. Suas afirmações foram preponderantes para o 
sustento do pensamento filosófico e médico da China antiga até os nossos dias e 
sua história se confunde com a do Taoísmo, do Confucionismo e da Acupuntura. 
 
O VITALISMO NA GRÉCIA ANTIGA 
HIPÓCRATES (460-377 a.C.) - fundou a escola médica da ilha de Cós, considerada 
a primeira escola formalmente instituída de Medicina na História. O pai da Medicina 
pregava uma ciência que priorizava o enfermo como uma unidade. A doença era 
vista como uma perturbação deste e não como processos independentes de seus 
órgãos. A escola de Cós, como ficou conhecida, procurava ressaltar os aspectos do 
temperamento e da constituição na concepção da enfermidade, preconizando a 
existência de doentes e não de doenças. Esta escola esboçou a idéia de um 
princípio unificador e diretor do organismo, chamado de “eidolon” que fazia parte da 
natureza e era considerada a psiquê individual trazendo a mesma conceituação que 
hoje se dá à alma. 
 Hipócrates dizia que havia na natureza dos seres vivos um duplo dinamismo 
que os faziam crescer e movimentar-se, um princípio de ação que seria a alma – o 
ânima, aquilo que anima, que atuaria através do cérebro, nutrindo e animando o 
corpo. Essa alma se desprenderia com a morte. Era um sopro (pneuma) que vem de 
fora e opera as maravilhas do pensamento, uma espécie de ar que penetrava no 
corpo ao nascer, animando-o de vida, e preenchia em graus de qualidades 
diferentes, sendo mais pura no cérebro, onde produzia o pensamento. Assim 
segundo este pensador, a vida é produto da alma. Estabeleceu ainda que a alma 
impunha a vis medicatrix nature (expressão latina que significa poder curativo do 
próprio corpo) como o impulso que opera em todos os seres vivos para a 
17 
 
manutenção da saúde, trazendo em si a possibilidade da própria cura. O médico 
deveria limitar-se a agir como servidor dessa força natural. Para ele a alma e força 
vital eram um só princípio, o ânima, tendo sido o fundador do pensamento animista, 
que admite a alma como entidade que organiza e dinamiza, vivificando, todo o 
organismo. 
 O que resta das suas obras testemunha a rejeição da superstição e das 
práticas mágicas da "saúde" primitiva, direcionando os conhecimentos em saúde no 
caminho científico. Hipócrates fundamentou a sua prática (e a sua forma de 
compreender o organismo humano, incluindo a personalidade) na teoria dos quatro 
humores corporais (sangue, fleugma1 ou pituíta, bílis amarela e bílis negra) que, 
consoante às quantidades relativas presentes no corpo, levariam a estados de 
equilíbrio (eucrasia) ou de doença e dor (discrasia). Esta teoria influenciou Galeno e 
dominou o conhecimento até o século XVIII. 
 A teoria humoral (ou teoria dos quatro humores, também conhecida por 
teoria humoral hipocrática ou galénica) constituiu o principal corpo de explicação 
racional da saúde e da doença entre o século IV a.C. e o século XVII . Segundo 
esta teoria existiam no organismo quatro humores (sangue, fleugma, bílis amarela e 
bílis negra, procedentes, respectivamente, do coração, sistema respiratório, fígado 
e baço.) que se relacionavam com os quatro elementos da natureza (terra, água, ar 
e fogo) e com as quatro qualidades (calor, secura, frio e humidade). Os humores 
davam origem a temperamentos, que resultam da relação entre os quatro humores. 
Segundo o predomínio natural de um destes humores na constituição dos 
indivíduos, teríamos os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o 
bilioso ou colérico e o melancólico (figura 1). 
A saúde resultava do equilíbrio entre os quatro humores. Já a doença 
resultava de um desequilíbrio ou da combinação incorreta entre eles. As causas 
destas doenças podiam ser externas, nomeadamente o clima, a alimentação e os 
parasitas; ou ainda internas, das quais são exemplo o sexo, a idade, e as doenças 
congênitas. 
 
1
 A fleuma (flegma ou fleugma) é um muco secretado pelas membranas mucosas de humanos e 
outros animais. Sua definição é limitada aos mucos produzidos pelo sistema respiratório, excluindo as 
“cacas de nariz” e o fluido da tosse. Sua composição varia, dependendo do clima, da genética, e do 
estado do sistema imunológico, mas é basicamente um gel d’água consistindo de glicoproteínas, 
leucócitos, lipídeos, e etc. A fleuma pode ter mũitas côres. 
18 
 
 
 
Figura 1 - No sentido horário, a 
partir da figura superior direita: 
colérico, melancólico, sanguíneo, 
fleumático. 
 
 Para Hipócrates, o trabalho do médico era restaurar e harmonia dos quatro 
humores, através da administração do humor em falta ou pela eliminação do humor 
em excesso. No entanto, esta intervenção só ocorria caso a natureza por si só não 
restabelecesse esse equilíbrio, ou com o intuito de acelerar esse restabelecimento. 
 A expulsão de humores do organismo poderia ocorrer através de várias vias, 
através da boca, do nariz, do recto, das vias urinárias e ainda através de sangrias. 
Dietas apropriadas e medicamentos que promovessem a extração de humores eram 
os recursos mais utilizados no restabelecimento dos humores. Os medicamentos 
existentes tinham as funções de diuréticos, purgantes, sudoríferos, eméticos e 
soníferos. Alguns exemplos de diuréticos são o alho, a cebola e melancia; de 
purgantes são a escamónea e heléboro; de sudoríferos são bebidas quentes e 
farinha cozida; no caso dos eméticos são exemplos o heléboro-branco e hissopo, e 
por último alguns exemplos de soníferos são a mandrágora, a dormideira e o 
meidendro. 
 Teoria humoral moderna - embora a associação dos temperamentos com 
fluidos corporais seja obsoleta, a teoria dos quatro humores foi adaptada por outros 
pesquisadores, muitos sem usar os nomes originais, e muitos acrescentaram a 
extroversão como um novo fator, que determinaria os relacionamentos interpessoais 
(quadro 1). 
 
 
 
19 
 
Quadro 1 - Os quatro humores e seus equivalentes modernos são apresentados a seguir: 
Humor Elemento Nome antigo Nome moderno MBTI* 
Características 
antigas 
Sangue Ar Sanguíneo Artesão SP 
Corajoso, prestativo, 
amoroso 
Bílis amarela Fogo Colérico Idealista NF Irritadiço, agressivo 
Bílis negra Terra Melancólico Racional NT 
Desanimado, 
inquieto, irritadiço 
Fleuma Água Fleumático Guardião SJ Calmo, racional 
MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) é um instrumento utilizado para identificar características e preferências pessoais. 
Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers desenvolveram o indicador durante a Segunda Guerra Mundial, 
inspiradas nas teorias de Carl Jung sobre os Tipos Psicológicos.O indicador é frequentemente utilizado nas áreas de 
aconselhamento de carreira, pedagogia, dinâmicas de grupo, orientação profissional, treino de liderança, aconselhamento 
matrimonial e desenvolvimento pessoal, entre outros. Muitos psicólogos acadêmicos têm criticado o indicador, afirmando que 
"carece de dados válidos convincentes”. S=sensoriais; P=percepção; N= intuitivo; F=emocionais; T=racionliatas; J=julgadores 
 
PLATÃO (427-347 a.C) – estabeleceu um pensamento dualista, admitindo a alma 
como entidade separada do corpo. Além disso, a dividiu em três porções: razão, 
emoção e animalidade, que residiam no cérebro, no tórax e no abdome, 
respectivamente. 
 
ARISTÓTELES (384-322 a.C.) – discípulo de Platão, acreditava que a alma não é o 
corpo, mas não pode existir sem ele, assim como não há luz sem objeto luminoso. 
As funções da alma seriam a nutrição e o pensamento. Mas há uma unidade entre 
corpo e alma, diferentemente do dualismo platônico. Junto com Hipócrates 
representa os principais pensadores animistas. A alma forma e dá vida ao corpo, 
diferenciando-o da matéria bruta. Aristóteles confere ainda à alma uma concepção 
de substância. 
 Historia Animalium, De Partibus Animalium e De Genetatione Animalium são 
alguns dos tratados dedicados à classificação, comportamento, fisiologia, anatomia 
comparada, embriologia e patologia animal. “A vida dos animais pode, então, ser 
dividida em dois atos: procriação e alimentação; pois é nestes dois atos que se 
concentram todos os seus interesses e toda a sua vida. O seu alimento depende em 
muito da substância principal da sua constituição; pois a fonte do seu crescimento, 
em qualquer caso, será esta substância. E como tudo o que é conforme com a 
natureza é agradável, todos os animais buscam o prazer, mantendo a sua natureza.” 
20 
 
GALENO (130-200 d.C) - médico romano de origem grega, baseado pela doutrina 
Hipocrática, esquematizou pela primeira vez a teoria dos quatro humores. Segundo 
Galeno o corpo humano era constituído por partes simples, ou seja, formadas por 
matéria de natureza próxima, e por partes compostas que eram resultado a união de 
várias partes simples. Estas partes simples eram formadas pelos componentes 
elementares da matéria (terra, água, ar e fogo) e comunicavam entre eles as suas 
qualidades (calor, secura, frio e humidade), de acordo com a esquematização da 
teoria dos humores hipocráticos (a bílis amarela, a bílis negra o sangue e a linfa). De 
acordo com o esquema feito por Galeno (figura 2) há uma relação entre os quatro 
humores, as quatro qualidades e os quatro componentes elementares da matéria. 
Cada elemento relaciona-se com duas propriedades e assim: 
 a água seria fria e húmida, 
 o ar seria húmido e quente, 
 o fogo seria quente e seco, 
 a terra seria seca e fria. 
Cada um destes elementos e de acordo com as suas propriedades 
relacionavam-se com os quatro humores, e portanto: 
 a água (por ser fria e húmida) relacionava-se com a linfa, 
 o ar (por ser húmido e quente) relacionava-se com o sangue, 
 o fogo (por ser quente e seco) relacionava-se com a bílis amarela, 
 a terra (por ser quente e fria) relacionava-se com bílis negra. 
 
 Cada um dos humores predominava numa determinada parte do corpo e 
consequentemente a linfa predominava no cérebro, o sangue no coração, a bílis 
amarela no fígado e a bílis negra no braço. 
 Em teoria, um organismo saudável cumpria algumas condições. Em primeiro 
lugar um todas as partes simples teriam que estar em proporções ideais e por outro 
lado os diferentes espíritos (vital, localizado no coração; natural localizado no fígado; 
animal localizado no cérebro) responsáveis pelas funções fisiológicas tinham que 
exercer correcta e adequadamente a sua função. No entanto, alguns humores 
tinham um certo ascendente sobre outros, algumas funções encontravam-se 
desreguladas gerando certos temperamentos: 
21 
 
 nos Coléricos predominava a bílis amarela e eram normalmente representados por 
uma espada, 
 nos Sanguíneos predominava o sangue, estes eram considerados hiperactivos 
sexualmente, 
 nos Fleugmáticos predominava a linfa, estes eram tidos como calmos e racionais 
sendo frequentemente representados a ler, 
 nos Melancólicos predominava a bílis negra, estes eram relacionados com a 
melancolia e são frequentemente representados na cama. 
 Esta relação entre humores, propriedades e elementos era fundamental para 
compreender a doença e adequar a cura. 
 Os humores formavam-se a partir dos alimentos e ao se converterem em 
humores permaneciam deste modo para sempre, ou seja, não poderiam regredir de 
novo a alimentos. Estes alimentos podiam ser convertidos a humores de forma 
corrupta, o que iria gerar doença, por factores externos, como por exemplo a 
ingestão de um alimento estragado. A corrupção de humores também poderia 
ocorrer devido a regimes de vida desadequados ou ao clima 
 
 
Figura 2 - Esquema da teoria dos humores sistematizada por Galeno. Fonte: <http://pt.ars-
curandi.wikia.com/wiki/Teoria_dos_quatro_humores>. 
 
 As doenças, segundo este autor, eram relacionadas com as estações do ano 
(as doenças na primavera eram preferencialmente por excesso de sangue, as do 
22 
 
verão por excesso de bílis amarela, as do outono por excesso de bílis negra e as do 
inverno por excesso de linfa), com a idade (na infância grande parte das doenças 
deviam-se a um excesso de sangue, na juventude e idade adulta por um excesso de 
bílis negra e amarela e na velhice por um excesso de linfa), localização geográfica e 
hereditariedade. Um homem podia então estar doente por causas externas, internas 
e conjuntas. 
 Para restabelecer a saúde existiam várias opções: ou através da cirurgia, ou 
através de uma alimentação adequada ou ainda com o recurso a alguns fármacos. 
Na aplicação de qualquer um destes métodos Galeno tinha sempre presente alguns 
princípios Hipocráticos, nomeadamente o Primum non nocere e o Contraria 
Contrariis. O primeiro princípio significa que não se deve prejudicar o doente, ou 
seja, caso o próprio organismo esteja a expulsar os humores em excesso por si só o 
médico não deve interferir com essa resposta do organismo. O segundo princípio 
significa que o tratamento deve consistir em provocar efeitos contrários aos 
sintomas. 
 O recurso de Galeno a fármacos foi substancial e a área da farmacoterapia 
conheceu um grande desenvolvimento nesta época. Foi feita a distinção entre 
alimento, veneno e medicamento. Aplicou pela primeira vez um conceito do 
medicamento semelhante ao actual, ou seja, em que coexistiam substâncias que 
tinham propriedades terapêuticas, as que tinham acção correctiva das 
características organoléticas e ainda os excipientes. 
 
O VITALISMO NA IDADE MÉDIA 
 Durante a Idade Média (séc. V a início do séc. XV), no entanto, o médico 
deveria tratar o corpo, a alma era assunto da Igreja e nesta não lhe cabia meter-se. 
Talvez por isso, a medicina galênica tenha prevalecido com o apoio da Santa Sé. A 
teoria dos humores foi largamente empregada, onde se via nos doentes excessos ou 
falta dos quatro elementos constituintes da natureza. Para retirá-los empregava-se 
as sanguessugas, os vesicatórios, os purgativos e as sangrias. O conhecimento 
hipocrático ficou restrito aos mosteiros, mantido pelos monges ao longo da noite 
escura da Idade Média. Os principais pensadores que influenciaram a evolução da 
concepção vitalista neste período foram: 
 
23 
 
AL-RAZI OU RHAZES (864-930) - Como alquimista, filósofo e médico, buscava a 
cura de seus pacientes receitando especialmente dietas equilibradas e com 
alimentos corretos, aliada a fatores psicológicos na saúde. Era profundo conhecedor 
da arte da medicina dos antigos gregos e dos ensinamentos dos persas e hindus. 
Concebeu seu próprio sistema filosófico cujos elementos básicos eram: o criador, o 
espírito, a matéria, o espaço eo tempo. 
 
AVICENA (980-1037) – médico e filósofo persa autor do “Cânon da Medicina”, o livro 
em que se baseou a Medicina européia até o século XVII. Admitia a existência da 
alma, que mantinha as relações do corpo com a mente, obedecendo a princípios 
teleológicos. 
 
SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225-1274) – “Doutor da Igreja”, considerava a unidade 
do homem, dizendo que todas as almas são na verdade uma só que tanto controla a 
razão como a vida vegetativa do homem. 
 
PARACELSUS (1493-1541) – médico suíço que ressuscitou os ensinamentos de 
Hipocrates, voltando-se à visão unitária do homem, sendo considerado o precursor 
da Homeopatia. Seguiu também o mesmo raciocínio de Venetus, admitindo um 
princípio ativo e organizador dos seres vivos, mas expandiu esse conceito para 
todos os corpos da natureza. Por isso considerava o espírito do sal, do enxofre, do 
mercúrio, dos cristais, etc. No corpo ele dividiu o princípio vital em arqueus, as almas 
menores que presidem as funções dos órgãos. Aproximou seu pensamento da lei 
dos semelhantes de Hipocrates e criou a Lei das signaturas – uso de plantas 
orientado pela forma aproximada do órgão doente (princípio dos florais). 
Considerado o pai da bioquímica, foi um dos primeiros médicos medievais a rejeitar 
a teoria dos humores de Galeno. Influenciou o pensamento de Hahnemann que 
incorporou a concepção de uma força oculta no homem, capaz de amplas ações em 
todo o organismo, inclusive na mente. 
 
O VITALISMO NA IDADE MODERNA (séc. XV a XVIII) 
 Até meados do século XVII dominavam a medicina os mesmos pensamentos 
que moviam a Idade Média, subordinando-a a um empirismo dogmático, destituído 
de qualquer sustento lógico. A cirurgia era exercida pelos barbeiros e a teoria dos 
24 
 
humores ainda era a única a favorecer algum subsídio para as práticas médicas. No 
século XVIII a escola vienense de Medicina passou a dominar o pensamento médico 
da época, trazendo uma forte necessidade de se implantar uma metodologia no 
estudo desta disciplina. Nesta época foram criados os ambulatórios, as enfermarias 
e a teoria dos humores começou a ser contestada. 
 Na mesma ocasião, floresceram duas outras escolas médicas: a alemã e a 
francesa. A escola francesa, defendida pelos Enciclopedistas, oriundos do 
Iluminismo, pregava também a necessidadede se racionalizar o estudo médico. Os 
iluministas lutavam para libertar o pensamento científico das imposições religiosas, 
passando a caminhar por vias livres e divergentes dos teólogos medievais. Nasce a 
metodologia científica nesta época, com a necessidade de se chegar ao 
conhecimento pelas vias da experimentação objetiva. Surge aí o Movimento 
Mecanicista e Materialista da Medicina, defendido por Renné Descartes1 (1596-
1650), que estrutura a visão do organismo como uma máquina, em obediência a 
separação da ciência e da fé, e refletindo a mentalidade moderna que se apoiava 
em raciocínios objetivos, exigentes de lógica. Surge a necessidade da busca de 
novas etiologias para as doenças, segundo a compreensão mecanicista do homem, 
nascendo a nosologia, ao se estabelecer critérios para a classificação metodológica 
das enfermidades. Estava dado o primeiro passo para as especializações médicas. 
O organismo humano era destituído definitivamente da alma, apartando-se a 
Medicina do vitalismo hipocrático. O lado humano, as emoções e os 
relacionamentos foram ignorados. As pessoas eram consideradas preguiçosas e 
ineficientes e precisavam ser controladas e estimuladas financeiramente para que 
cumprissem suas obrigações. 
 Em biologia, mecanicismo refere-se às teorias que afirmam que todos os 
fenômenos que se manifestam nos seres vivos são mecanicamente determinados e, 
em última análise, essencialmente de natureza físico-química. 
 A escola alemã, embasada pelos idealistas e influenciados por Leibniz, 
mantinha a visão do ser humano como uma unidade de funcionamento, baseada no 
magnetismo animal. Era a única que ainda fomentava fortemente o Vitalismo, 
 
1
 René Descartes (1596-1650) – filósofo francês que propôs resolver os grandes enigmas da filosofia 
e da ciência com o uso da razão e com ela alcançar a verdade. Via o corpo humano como uma 
máquina funcionando com a força motriz gerada pelo calor que vinha do coração. Identificando na 
alma a essência do pensamento, proferiu a sua famosa frase: “penso, logo existo”. 
25 
 
mantendo-se uma escola universalista, vendo o ser humano como uma totalidade e 
com tendências naturalistas, imitando nos procedimentos terapêuticos as ações da 
natureza, em consonância com o pensamento hipocrático. 
 Seguindo a história do vitalismo no pensamento médico, nesta época se destacam: 
 
LEIBNIZ (1646-1716) – este importante filósofo alemão manteve-se no pensamento vitalista, 
sendo considerado o maior animista da filosofia moderna. O corpo estaria sob a ação da 
mônada, o “eu” feito de também de uma substância, porém de essência puramente 
imaterial. 
 
ERNEST STAHL (1660-1734) – este filósofo seguiu Leibniz, aplicando o Vitalismo à 
Medicina na Alemanha, partindo da idéia de que a vida não é produto de um funcionamento 
mecânico e o ser vivo não é uma máquina, reagindo contra a Medicina mecanicista e 
química que nascia do pensamento cartesiano. 
 
VON HALLER (1708-1777) - pertenceu à Escola Médica de Montpellier que foi o centro 
máximo de produção e sustentação das teses vitalistas entre os séculos XVII e XIX. Com 
ele o Vitalismo encontrou uma observação experimental renovada. Suas observações 
terminaram apontando para a necessidade de uma nova ordem de conhecimento em 
Medicina. Propôs a experimentação dos medicamentos no homem, para se estudar os seus 
efeitos que, no entanto, não chegou a praticar. Sua veemente crença no Vitalismo ajudou a 
mantê-lo vivo nas escolas médicas da época e dizem que exerceu positiva influência em 
Hahnemann. 
 
PAUL JOSEF BARTHEZ (1734-1806) – médico da escola de Montpellier, filósofo e poeta 
francês promoveu uma separação entre Animismo e Vitalismo. Em seu trabalho “Ensaio 
para um novo princípio para o homem” concebeu um princípio vital que anima e confere vida 
ao homem. Princípio, no entanto que não é idêntico à alma, o que coincide com a visão do 
Vitalismo hahnemaniano. Considera-se que seja ele o criador do conceito de princípio vital. 
 
SAMUEL HAHNEMANN (1755-1843) – de origem presbiteriana, nasceu em meios às 
diferenciadas visões que iniciavam a morte do Vitalismo, a exceção da Medicina alemã que 
ainda se mantinha na mesma idéia, sustentada por Leibniz. Contam seus biógrafos que ele 
se encantou de início com o Corpus Hipocráticus e ressuscitou-o com a Homeopatia. Pela 
observação ele logo notou a presença dos miasmas contagiantes nos barbeiros que 
drenavam abscessos e nas parturientes que se contaminavam pela falta de assepsia. Em 
1790, no entanto, é que inicia a Homeopatia, ao traduzir a obra de Culen que descrevia os 
26 
 
efeitos curativos da quina na malária, imputando sua ação ao fato de ser um tônico para o 
estômago. Hahnemann, não estando de acordo com essa explicação, decidiu procurar outra 
e resolveu experimentar em si mesmo os efeitos da quina, sendo acometido, para surpresa 
sua, de um acesso febril. Recordou-se então de Hipocrates que já anunciara o princípio do 
semelhante: uma doença se cura por uma droga capaz de produzir os seus mesmos 
sintomas. Juntou ao fato a sua observação de que as doenças semelhantes se excluíam 
mutuamente e não podiam conviver simultaneamente no organismo. Por exemplo, um 
episódio agudo de diarréia trata uma colite crônica, a vacina curava e prevenia a varíola 
pelos mesmos motivos. Hahnemann criou então a experimentação no homem são, 
estabelecendo assim um dos princípios fundamentais da Homeopatia. E graças a isso 
chegou ao estudo do psiquismo humano, o que não conseguiria com experimentações em 
animais.Desta forma, foi o precursor do método experimental em Medicina, iniciando-as no 
homem antes mesmo de Claude Bernard instituí-las nos animais. 
 
HERMANN LUDWIG FERDINAND VON HELMHOLTZ (1821-1894) – médico alemão, 
criador do oftalmoscópio e professor da Faculdade de Medicina de Berlin. No ano de 1813 
realizou estudos de termodinâmica, eletrodinamismo e movimentação de fluídos, concluindo 
e afirmando que nenhuma força de natureza espiritual atua no organismo humano, senão as 
forças físico-químicas conhecidas. Excluiu assim, das escolas médicas, o que ainda restava 
de Vitalismo, como se simplesmente por não enxergá-lo com seus grosseiros métodos de 
pesquisas, ele não fosse uma realidade. A escola alemã, onde o pensamento de Leibniz 
mantinha vivo as idéias animistas, teve assim abolida todas as práticas médicas que 
visavam estimular estas pretensas forças, como o magnetismo. 
 
CLAUDE BERNARD (1813-1878) – fisiologista francês que procurou estabelecer um 
neovitalismo imaginando que a força vital seria somente uma força legislativa e não 
executiva. Foi o pai da fisiologia moderna. Seu primeiro trabalho, datado de 1843, concluiu 
pela inexistência do Vitalismo ou qualquer força de natureza espiritual que atue no interior 
do homem, de forma invisível e material. Todas as forças que atuam no organismo podem 
ser conhecidas e seriam provenientes de agentes físicos. Considera-se que foi o iniciador do 
método experimental em Medicina, introduzindo os testes em animais, dando origem à 
técnica de conhecimento da ação dos medicamentos em cobaias, tal como hoje é realizada, 
onde se pretende conhecer apenas a sua ação puramente fisiológica e material, mesmo no 
plano mental. Os conhecedores da Homeopatia, no entanto, sabem que a primazia de tal 
método pertence, merecidamente, a Hahnemann. 
 
27 
 
 A Era Moderna, com o advento destes pensadores, assistiu, paulatinamente, às 
idéias mecanicistas dominarem o campo médico, extinguindo o que ainda havia de 
vitalismo. Com o predomínio do pensamento materialista, o Vitalismo é nesta época 
definitivamente banido da Medicina. As escolas de Berlin e Viena se juntam nesta nova idéia 
à escola francesa, influenciando de modo decisivo todo o pensamento médico moderno, na 
Inglaterra e nos Estados Unidos. O Vitalismo começou a ser combatido na Alemanha e 
Hahnemann se refugiou na França, em 1835. A escola francesa, embora embalada pelas 
novas idéias mecanicistas, felizmente sempre teimou em fazer ao contrário do que seus 
amigos anglo-saxônicos e deu guarida ao maior representante do Vitalismo na época: 
Hahnemann. Acolheu-o depois que sua presença foi indesejada na Alemanha, mantendo a 
Medicina Homeopática em suas escolas e dando o impulso inicial à Homeopatia, que dali se 
difundiu para todo o mundo. Os oito últimos anos de Hahnemann foram vividos em Paris, 
para onde se mudou e aonde veio a falecer. A Homeopatia unicista, com seus avançados 
postulados, foi basicamente formulada na fase francesa da vida de Hahnemann, quando se 
dedicou a escrever sobre as doenças crônicas. 
 
O VITALISMO NA ATUALIDADE 
EDWARD BACH (1886-1936) - médico inglês, acreditava que a personalidade da pessoa 
deve ser tratada e não a doença. A doença seria o resultado do conflito da alma (Eu 
Superior - a parte mais perfeita do Ser) e da personalidade (Eu Inferior - o que nós somos, 
no nosso dia-a-dia). Ele dizia: "O sofrimento é mensageiro de uma lição, a alma envia a 
doença para nos corrigir e nos colocar no nosso caminho novamente. O mal nada mais é do 
que o bem fora do lugar". Entendeu que a origem das doenças seria proveniente de sete 
defeitos: Orgulho, Crueldade, Ódio, Egoísmo, Ignorância, Instabilidade Mental, Cobiça e 
Gula. Apontou sete caminhos do equilíbrio emocional, que seriam: Paz, Esperança, Alegria, 
Fé, Certeza, Sabedoria, Amor. E o seu conceito de saúde seria: Harmonia, Integração, 
Individualidade, Integridade. 
 
CONSTANTIN HERING (1880-1880) - o Vitalismo no final do século XIX acompanhou as 
peripécias deste médico austríaco. Por ser um brilhante aluno, foi encarregado por um de 
seus professores a defender uma tese contra a Homeopatia. No entanto, após estudá-la 
detidamente, deixa-se convencer pela sua veracidade e passa a defendê-la ardorosamente, 
tornando-se um homeopata. Era um missionário presbiteriano e por isso foi enviado em 
missão religiosa para as Guianas, trazendo consigo a Homeopatia para a América. Das 
Guianas mudou-se para os EUA e na Filadélfia criou a primeira escola americana de 
Homeopatia, no início do século, a Post-Graduate School of Homeopathy. Posteriormente 
28 
 
transferiu-se para Chicago, onde fundou a Hahnemann Medical College and Hospital e 
depois a Hering Medical College. 
 
JAMES TYLER KENT (1849- 1916) - formado na Hering Medical College, foi um dos mais 
eminentes e conhecidos homeopatas depois de Hahnemann. Criou a sua própria escola de 
Homeopatia em Nova York, deixando como seguidores nomes como Timoty Allen e Pablo 
Paschero, o famoso homeopata argentino. 
 
JOHN HENRY ALLEN (1854 - 1925) - outro renomado homeopata que nos legou 
importantes obras (Diseases and Therapeutics of the Skin, Chronic Miasms, Chronic 
Miasms), formou-se também na escola médica de Hering, onde passou a lecionar. 
 
 
REFERÊNCIAS 
CHAPERMANN, R. - Vitalismo e Homeopatia. Disponível em 
<www.homeopatiabrasil. org.br>. Acesso em : 23 maio 2010. 
 
ORVALHO FARMÁCIA HOMEOPÁTICA. Conceito. Disponível em 
<http://www.orvalho farmaciahomeopatica.com.br/html/conceito.html>. Acesso em : 
23 maio 2010. 
MARTINS, L. A.P.; SILVA, P.J.C.; MUTARELLI, S.R.K. A teoria dos 
temperamentos: do corpus hippocraticum ao século XIX. Disponível em 
<http://www.fafich.ufmg.br/~ memorandum/a14/martisilmuta01.pdf>. Acesso em : 25 
maio 2010. 
 
WIKPÉDIA. Teoria humoral. Disponível em 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_humoral>. Acesso em : 23 maio 2010. 
29 
 
CONCEITOS E FUNDAMENTOS EM FITOTERAPIA 
Denise Botelho de Oliveira Braga
1
, Marília Botelho de Oliveira Chaudon
1,
 
Alcir das Graças Paes Ribeiro 2 
 
 Para melhor compreensão dos assuntos abordados em fitoterapia, é 
necessário entender alguns conceitos e fundamentos que norteiam o uso de plantas 
medicinais. 
 
FITOTERAPIA 
 É um método de tratamento caracterizado pela utilização de plantas 
medicinais em suas diferentes preparações, sem a utilização de substâncias ativas 
isoladas, ainda que de origem vegetal. 
 
AROMATERAPIA 
 É a ciência que estuda os óleos essenciais e sua aplicação terapêutica. Pode 
ser considerada uma disciplina especializada da fitoterapia. 
 Foi recentemente “redescoberta”, entretanto, desde a Antiguidade os óleos 
essenciais eram utilizados como conservantes de alimentos e para preparar 
perfumes. 
 
MEDICINA COMPLEMENTAR 
 É a medicina praticada por médicos que utilizam todos os recursos 
disponíveis da medicina convencional e a complementam utilizando métodos 
terapêuticos e propedêuticos (análise clínica) não convencionais, porém de eficácia 
comprovada. Complementar, conforme os dicionários, quer dizer preencher, suprir a 
deficiência de outro. 
 
MEDICINA ALTERNATIVA 
 É aquela praticada por aqueles que utilizam uma opção diferente, uma 
alternativa à medicina convencional. Alternativa, neste caso, dá idéia de exclusão; 
de substituição ao sistema estabelecido. 
 
 
 
1
 Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF. 
2
 Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio 
30 
 
MEDICINA CONVENCIONAL 
 É a medicina que aprendemos nas escolas médicas. É a medicina oficial da 
maioria dos países ocidentais. Todo médico que pratica a medicina complementar - 
segundo a Associação Brasileira de Medicina Complementar - deve conhecer 
profundamente a medicina convencional. 
 
MEDICINA TRADICIONAL 
 É aquela praticada tradicionalmente por uma sociedadeou cultura. É a soma 
total do conhecimento, habilidades e práticas com bases nas teorias, crenças das 
diversas culturas, sendo explicáveis ou não, usadas na manutenção da saúde bem 
como em sua prevenção. Também pode ser chamada de medicina popular. São 
exemplos de medicinas tradicionais: medicina chinesa, medicina Ayurvédica, ervas 
da tradição cabocla brasileira, etc. 
 
MEDICINA HOLÍSTICA 
 Indica somente que as pessoas são tratadas como um todo: corpo-mente-
espírito. Tanto a medicina complementar quanto a medicina convencional pode 
empregar essa abordagem. 
 
MEDICINA ETNOVETERINÁRIA 
 É a ciência que envolve a opinião e o conhecimento das práticas populares 
utilizadas para o tratamento ou prevenção das doenças que acometem os animais 
(MATHIUSMUNDY e MCCORKLE, 1989). Dentre os ramos desta ciência milenar 
está a Fitoterapia. A etnoveterinária tem como um de seus objetivos validar os 
conhecimentos de diversas comunidades na utilização de medicamentos elaborados 
a partir de plantas medicinais, principalmente em países em desenvolvimento, que 
necessitam de alternativas economicamente viáveis visando o bem-estar animal. 
 
 Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo tratamento que não é 
integrado ao sistema de saúde predominante de um país é medicina 
alternativa/complementar. Vale lembrar que o que é chamado de “complementar” ou 
“alternativo” em um país, pode ser “tradicional” ou “convencional” em outro. 
Acreditamos que o termo Medicina Tradicional seja mais adequado, pois é uma 
forma de tratamento profundamente arraigada no conhecimento local da população. 
31 
 
DROGA VEGETAL 
 Planta medicinal ou suas partes, que contenham as substâncias, ou classes 
de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta, 
estabilização e/ou secagem, podendo ser íntegra, rasurada (cortada), triturada ou 
pulverizada. 
 
PLANTA MEDICINAL 
 Espécie vegetal cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos (OMS, 
2003). Chama-se planta fresca aquela coletada no momento de uso e planta seca a 
que foi precedida de secagem, equivalendo à droga vegetal. 
 
MATÉRIA-PRIMA VEGETAL 
 Planta fresca, droga vegetal ou seus derivados: extrato, tintura, óleo, cera, 
suco e outros. 
 
REMÉDIO 
 É um cuidado utilizado para curar ou aliviar os sintomas das doenças, como 
um banho morno, uma bolsa de água quente, uma massagem, um medicamento, 
entre outras coisas. 
 Remédio caseiro de origem vegetal é a preparação caseira com plantas 
medicinais, de uso extemporâneo (para uso imediato), que não exija técnica 
especializada para manipulação e administração. 
 
FITOTERÁPICO 
 Produto obtido de planta medicinal, ou de seus derivados, exceto substâncias 
isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa. 
 Os fitoterápicos podem ser produzidos a partir de planta fresca (sucos e 
alcoolaturas) ou planta seca (infusos, decoctos, extratos, tinturas, óleos medicinais). 
 As formas físicas de apresentação do fitoterápico são as formas 
farmacêuticas, as quais podem ser classificadas em líquidas (tinturas, xaropes, 
soluções, extratos fluidos), sólidas (extratos secos, comprimidos, cápsulas) e semi-
sólidas (extratos moles, pomadas, géis, cremes). 
 O fitoterápico industrializado para ser comercializado necessita ser registrado. 
Os destinados a uso humano devem ser registrados na Agência Nacional de 
32 
 
Vigilância Sanitária (ANVISA - Ministério da Saúde) e os de uso veterinário no 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O fitoterápico 
manipulado é uma preparação magistral e/ou oficinal, sob orientação de um 
farmacêutico. 
 Tanto o fitoterápico industrializado quanto o manipulado devem seguir as 
Boas Práticas de Fabricação/Manipulação (BPF/BPM). 
 
PREPARAÇÃO MAGISTRAL 
 É aquela preparada na farmácia, a partir de uma prescrição de profissional 
habilitado, destinada a um paciente individualizado, e que estabeleça em detalhes 
sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar. 
 
PREPARAÇÃO OFICINAL 
 É aquela preparada na farmácia, cuja fórmula esteja inscrita na Farmacopéia 
Brasileira, no Formulário Nacional ou em Formulários Internacionais reconhecidos 
pela ANVISA ou MAPA. 
 
EXSICATAS 
 É uma amostra de planta seca e prensada numa estufa (herborizada), fixada 
em uma cartolina de tamanho padrão (no Brasil, o tamanho mais econômico e usual 
é o de 42 x 28cm) acompanhadas de uma etiqueta ou rótulo contendo informações 
sobre o vegetal e o local de coleta, para fins de estudo botânico. Exsicatas são 
normalmente guardadas num herbário. 
 Uma exsicata deve ter todos os elementos para sua classificação (raiz, caule, 
folhas, flores e frutos). No caso de plantas de pequeno porte, devem ser retiradas 
inteiras, junto com a raiz. No caso de arbustos ou árvores, devem ser coletados 
ramos com cerca de 30 cm, onde estão as flores e frutos. 
 A secagem do material deve ser feita à sombra, com o material prensado em 
jornal, e se a secagem for realizada a temperatura ambiente, o jornal deve ser 
trocado todos os dias, para evitar o crescimento de fungos. 
 Após a secagem, a planta deve ser fixada em papel ou cartolina, de 
preferência com linha e agulha, reservando-se o canto inferior direito para a etiqueta. 
Na etiqueta deve conter o máximo de informações sobre a coleta da planta, tais 
como: nome popular, nome cientifico, família, local e data da coleta, nome do coletor 
33 
 
e o nome do botânico que a identificou. Feito isso, coloca-se esta cartolina numa 
capa de papel pardo resistente (padrão no Brasil, o dobro da medida anterior), que 
envolve a cartolina com função de proteger o material. 
 
HERBÁRIO 
O herbário é uma coleção de exsicatas, que serve como material de pesquisa 
para todas as áreas da ciência que utilizam os vegetais como seu objeto de estudo 
ou como comprovante das classificações já feitas. Dele pode-se extrair, utilizar e 
adicionar informação sobre cada uma das populações e/ou espécies conhecidas ou 
novas. Portanto, num herbário, a sua coleção está em constante atualização. 
Regularmente são feitas novas colheitas de exemplares, acompanhadas com 
informações adicionais sobre a evolução do habitat, do clima, da vegetação e outras 
informações que se considerarem relevantes. Se corretamente conservadas, um 
espécie-tipo pode durar centenas de anos. 
Uma espécie de planta num herbário é uma fonte insubstituível de registro da 
biodiversidade das plantas. 
 
BANCO DE GERMOPLASMA 
 São unidades conservadoras de material genético (animal, vegetal, 
microorganismos), de uma ou de várias espécies, de uso imediato ou com potencial 
de uso futuro. Geralmente consiste de base física, em centros ou instituições 
públicas e/ou privadas. 
 Existem várias formas de conservação de germoplasma vegetal, são elas: 
sementes, explantes ou plantas a campo. 
 Podem ser classificados em "bancos de base" ou em "bancos ativos". Os 
bancos de base são aqueles em que se conserva o germoplasma em câmaras frias 
(conservação de 1ºC até -20ºC), in vitro (conservação de partes vegetais em meio 
de cultura de crescimento) ou em criopreservação (conservação em nitrogênio 
líquido a -196ºC), por longos prazos, podendo até mesmo ficar longe do local de 
trabalho do melhorista genético. São considerados "bancos ativos" aqueles que 
estão próximos ao pesquisador, nos quais ocorre o intercâmbio de germoplasma e 
plantios freqüentes para caracterização, o que proporciona a conservação apenas a 
curto e médio prazos. 
 
34 
 
HORTO MEDICINAL 
 Destina-se à identificação, à propagação e ao cultivo de plantas de interesse 
medicinal, com o propósito de preservar as espécies e resgatar o uso popular, 
valorizando e divulgando a sabedoria tradicional. Podem ser classificados em: 
a) Horto didático - destinado a identificação e estudo das espécies medicinais. Nele 
se cultiva uma grande variedade de espéciesem pequena quantidade. 
 
b) Horto comercial/produtivo - tem o objetivo de produzir plantas medicinais em 
escalas maiores, seja para mudas, plantas secas ou para produção de fitoterápicos, 
sendo ainda utilizado para pesquisas de práticas agrícolas. Geralmente são 
cultivadas poucas espécies em maior quantidade. 
 
c) Horto caseiro/doméstico - pode ser grande ou pequeno, tendo como objetivo 
produzir plantas medicinais para suprir as necessidades da família. Normalmente as 
plantas são cultivadas junto com as hortaliças. 
 
FARMÁCIA VIVA 
 Compreende a estrutura e a prática de cultivo de plantas medicinais nativas 
ou aclimatadas, com perfil químico definido, para dispensação de planta fresca e/ou 
seca, podendo ter acoplada uma Oficina Farmacêutica de Fitoterápicos. 
 Geralmente é instalada em pequenas comunidades, escolas, empresas, 
postos de saúde ou hospitais. 
 
OFICINA FARMACÊUTICA DE FITOTERÁPICOS 
 Área física acoplada ou não, aos canteiros de plantas medicinais, aparelhada 
com equipamentos destinados à rasura e moagem de plantas medicinais e 
manipulação de medicamentos fitoterápicos magistrais e oficinais. 
 
DISPENSAÇÃO 
 Ato de fornecimento e orientação ao consumidor de planta medicinal, droga 
vegetal e/ou medicamentos fitoterápicos magistrais ou oficinais, mediante 
apresentação da prescrição. 
 
 
35 
 
MANIPULAÇÃO 
 É o conjunto de operações com a finalidade de elaborar medicamentos 
fitoterápicos, seja magistral ou oficinal. 
 
PRODUTO ACABADO 
 É a matéria prima vegetal, integral ou suas partes, droga vegetal ou 
medicamento fitoterápico magistral ou oficinal embalado e etiquetado, pronto para 
consumo. 
 
PRINCÍPIO ATIVO 
 É a substância ou grupo de substâncias contidas no vegetal, responsável por 
desencadear diversas reações nos organismos vivos, determinando a atividade 
curativa ou tóxica daquele vegetal. 
 Ao contrário dos medicamentos convencionais, que possuem quantidades 
conhecidas de princípios ativos isolados, ou seja, das substâncias responsáveis 
pelos efeitos, nos fitoterápicos os princípios ativos não são isolados. Eles coexistem 
com uma série de outras substâncias presentes na plantas. Em cada planta, apenas 
uma parte é utilizada para a formulação de medicamentos. A diversidade de 
substâncias existentes nessas partes é chamada de fitocomplexo, que é 
responsável pelo efeito terapêutico mais suave e pela redução dos efeitos colaterais. 
O efeito terapêutico da valeriana1, por exemplo, só é atingido quando se administra o 
fitocomplexo. Quando o princípio ativo é administrado isoladamente, não há efeito 
significativo. 
 Os princípios ativos são classificados em função de vários aspectos, como: 
classe química, classe terapêutica, alvo molecular ou especificidade. 
 Quanto à especificidade, existem apenas duas classes: a dos fármacos 
específicos e a dos inespecíficos. Os específicos correspondem à maioria dos mais 
de sete mil fármacos constantes no arsenal terapêutico, tais como analgésicos e 
antiinflamatórios, os agentes cardiovasculares, anti-histamínicos, hormônios, 
agentes antiparasitários diversos etc. Os inespecíficos são em número bastante 
reduzidos. Não atuam seletivamente sobre determinados receptores. A ação 
 
1
 Valeriana officinalis - vem sendo usada no tratamento de insônia e, ao contrário dos medicamentos 
convencionais, não provoca dependência nem tolerância. No entanto, se ingerida em grandes 
quantidades e por tempo prolongado, ela pode ser tóxica para o fígado. 
36 
 
farmacodinâmica desta classe depende apenas de suas propriedades físico-
químicas, sendo estes pouco vulneráveis às modificações estruturais. Entre os 
fármacos inespecíficos mais comumente manipulados temos os, rubefacientes, 
adstringentes, emolientes, umectantes, hidratantes, queratoplásticos anti-sépticos, 
queratolíticos e cáusticos. 
 
FARMACOPÉIA BRASILEIRA 
 A Farmacopéia Brasileira é o Código Oficial Farmacêutico do País, onde se 
estabelecem, dentre outras coisas, os requisitos mínimos de qualidade para 
fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. 
 É elaborada pela Comissão Permanente de Revisão da Farmacopéia 
Brasileira (CPRFB), uma comissão oficial nomeada pelo Diretor-Presidente da 
ANVISA, caracterizando-se como uma entidade particular. 
 Além da publicação da Farmacopéia Brasileira, a CPRFB publicou a 2ª edição 
da Farmacopéia Homeopática Brasileira e a edição atual das Denominações 
Comuns Brasileiras (2003). 
 A escolha dos medicamentos a serem incluídos na Farmacopéia não é feita 
ao acaso. Em primeiro lugar, são escolhidos os medicamentos que constam da 
Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais (RENAME) ou da lista da OMS. 
São, também, elaboradas em caráter de prioridade as monografias dos 
medicamentos de escolha dos programas especiais de saúde e os produtos novos 
de grande interesse terapêutico. 
 Para elaborar monografias para a Farmacopéia Brasileira, a subcomissão 
pertinente, ou um membro da CPRFB com sua equipe, ou um órgão oficial de 
controle de qualidade (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 
[INCQS] e o Instituto Adolfo Lutz [IAL]) ou uma indústria farmacêutica propõem a 
monografia para um fármaco. Esta não é uma monografia simples, devendo ser 
submetida à uma série de estudos especiais, que comprovam o cumprimento de 
todas as exigências de um estudo químico (validação). Após a elaboração da 
monografia, a CPRFB faz a avaliação e se for julgada adequada, ela é remetida para 
outros colaboradores da Farmacopéia nos três segmentos que a compõem: órgãos 
oficiais de controle de qualidade, indústria farmacêutica e universidades, para fins de 
certificação (verificar se a metodologia funciona e fornece resultados iguais em 
diferentes laboratórios). Caso os resultados encontrados sejam adequados, essa 
37 
 
monografia é reavaliada pela CPRFB e, sendo aprovada, é colocada em Consulta 
Pública durante três meses para que a comunidade científica se manifeste. Somente 
após esse período é que a monografia (caso não ocorram manifestações contrárias) 
é enviada à apreciação e oficialização da ANVISA. 
 As subcomissões da CPRFB são criadas, em áreas específicas de 
conhecimento, com a finalidade de elaborar trabalhos direcionados. Assim sendo, a 
Subcomissão de Homeopatia deve elaborar a Farmacopéia Homeopática Brasileira, 
a Subcomissão do Formulário Nacional deve elaborar o Formulário Nacional, a 
Subcomissão de Imunobiológicos deve elaborar monografias de soros, vacinas, e 
outros produtos imunobilógicos, a Subcomissão de Material de Referência deve 
coordenar a elaboração dos padrões de referência da Farmacopéia Brasileira, e 
assim por diante. Todas as subcomissões são subordinadas à CPRFB. 
 O primeiro código do Brasil Colônia foi a Farmacopéia Geral para o Reino e 
os Domínios de Portugal, sancionada em 1794 e obrigatória em nosso país a partir 
de 1809. Após a Independência, foram utilizados, além desta, o Codex 
Medicamentarius Gallicus francês e o Código Farmacêutico Lusitano, hoje 
considerado como a 2ª edição da Farmacopéia Portuguesa. Isto, até que o Decreto 
n° 8.387, de 19/01/1082, estabeleceu que "para o preparo dos medicamentos oficiais 
seguir-se-á a Farmacopéia Francesa, até que seja composta uma farmacopéia 
brasileira..." 
 Em 1926, as autoridades sanitárias do país aprovaram a proposta de um 
Código Farmacêutico Brasileiro, apresentada pelo Farmacêutico e Professor de 
Farmácia Rodolpho Albino Dias da Silva. Aprovado pelas autoridades sanitárias da 
época, este Código foi oficializado em 1929 e tornou-se a primeira edição da 
Farmacopéia Brasileira. Obra de um único autor, a primeira edição da Farmacopéia 
Brasileira equiparava-se às Farmacopéias dos países tecnologicamente 
desenvolvidos, porém diferenciava-se das demais por conter descrições de mais de 
200 plantas medicinais,

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