Buscar

Santos-2011-(Desconstruindo-a-menoridade)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

43
DESCONSTRUINDO A MENORIDADE: 
A PSICOLOGIA E A PRODUÇÃO DA CATEGORIA MENOR 1
Érika Piedade da Silva Santos
A psicologia e o menor: ruídos no processo de silenciamento
Como psicólogos, habituamo-nos a pensar que o principal instru-
mento de nosso trabalho é a escuta subjetiva, a atenção ao “sujeito”. Natu-
ralizamos o “indivíduo psicológico”, enquanto subjetividade intimizada2, 
consciente de si e de seus sentimentos, e assim neutralizamos que sua própria 
constituição está diretamente relacionada às práticas políticas, econômicas e 
sociais da Modernidade (FIGUEIREDO, 1999).
Em consonância com a análise desenvolvida por Foucault (2002), 
consideramos que a Psicologia se constitui enquanto discurso e, como tal, 
depende estreitamente do campo sociopolítico em que se insere. Nessa pers-
pectiva, o surgimento do discurso psicológico emergiu como um aconteci-
mento possível na composição de forças constituintes do mundo moderno.
Sob o prisma arqueológico, no qual reflete sobre a importância dos 
registros discursivos na produção de realidades sociais, Foucault delineia 
a noção de épistèmé como a rede de ligações que se estabelecem, em cada 
período histórico, entre os discursos científicos e as produções sociais daí 
decorrentes, relacionando à cultura os modos de pensar dominantes em 
1 Agradeço aos professores Jorge Coelho e Luís Antônio Baptista, orientadores do mestrado e doutorado, 
e à professora Lília Lobo, com carinho e admiração pelo aprendizado de que, enquanto as práticas cien-
tíficas se guiam pela ótica de que “navegar [deve ser] preciso (exato)”, as práticas “psi” devem se guiar por 
uma ética nos encontros, já que “viver não é preciso (acabado)”. 
2 “Intimizar a vida quer dizer colocá-la para dentro, destituí-la da história das práticas humanas esvaziando 
sua multiplicidade de formas e de conexões” (BAPTISTA, 1999: 34).
Érika Piedade da Silva Santos
44
determinado contexto3. As ciências humanas – a sociologia, a análise das 
literaturas e dos mitos e a psicologia – nasceram ao final do século XVIII, 
com a Épistèmé Moderna, como consequência da fragmentação do campo 
representacional da Epistèmé Clássica4 e da concomitante assunção do para-
digma da racionalidade empírica. 
Do novo modelo empírico derivaram a Economia, enquanto saber 
que analisa a produção das riquezas a partir do trabalho humano concebido 
como a origem de todo o valor objetivo; a Biologia, na forma de um saber 
que supera a História Natural e apresenta-se capaz de sistematizar e nomear 
semelhanças e diferenças entre os seres, constituindo-se como uma ciência 
sobre a vida que toma o homem como ser singular e privilegiado, o único 
dotado de consciência de si mesmo; e a Filologia, na qual a linguagem passa 
a assumir papel central na concepção do homem como ser singular, posto 
que o único dotado da palavra. 
Portanto, no enfoque discursivo, considera-se que as ciências 
humanas (FOUCAULT, 2002) só foram possíveis no século XIX a partir 
da emergência da figura do homem como duplo empírico-transcendental, 
ou seja, desde o momento em que ele passa a ser visto tanto como sujeito 
do conhecimento quanto como objeto a ser conhecido, inaugurando uma 
nova forma de pensamento.
Na mesma obra, Foucault também se preocupa com os atravessa-
mentos existentes entre as ciências empíricas e as ciências humanas, consi-
derando que a Psicologia articula-se à Economia enquanto conhecimento 
sobre o comportamento individual: que tem substancial importância para 
a produção laboral, justamente no momento histórico em que o valor 
das coisas passa a ser medido levando em conta a quantidade de trabalho 
despendido em sua fabricação. Já a Biologia impacta os saberes psicológicos 
com a noção evolucionista, tomada como paradigma de desenvolvimento e 
também influente na própria determinação da conduta.
Na verdade, o pensamento de Foucault se inclina para a análise das 
práticas, sejam elas discursivas (como as epistemológicas5), sejam não discur-
3 “O descontínuo – o fato de que em alguns anos, por vezes, uma cultura deixa de pensar como fizera até 
então e se põe a pensar outra coisa e de outro modo (...). Em última análise, (...) as relações do pensamento 
como cultura” (FOUCAULT, 2002: 69).
4 No modelo epistemológico clássico, as ideias de ordenação, medição e representação estavam na base 
da relação com o mundo. Naquele contexto, a tarefa do ego cogito consistia em “reproduzir a ordem do 
mundo e não produzi-la” (CASTRO, 2009: 121).
5 Por práticas discursivas compreendemos “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
45
sivas, quer dizer, dispositivos interligados especialmente às relações de poder 
que se estabelecem em determinado sistema social. 
Atentando para as relações dos dispositivos com a arquitetura do 
poder, Foucault (2000) indica que a repetição de pequenas práticas insig-
nificantes e descontínuas transborda na disseminação das grandes institui-
ções e dos paradigmas sociais. Como eloquente exemplo desse surgimento 
vil e ordinário, Foucault discorre sobre o nascimento da prisão, que não 
emerge das grandes teorias penalistas do século XVII6, mas está atrelado 
à difusão de duas práticas: as “lettres de cachet”7 e as clausuras, práticas que 
regulavam o confinamento nos conventos, o regime integral de perma-
nência dos corpos dos operários nas fábricas e dos “doentes” nos hospitais 
(FOUCAULT, 2003B).
Entre os séculos XVII e XVIII, foi inventada uma nova mecânica de 
poder, em princípio incompatível com a teoria da soberania (FOUCAULT, 
2005a): a disciplina. Os mecanismos de poder que caracterizavam a sobe-
rania vinculavam-se à terra e aos seus produtos, ao deslocamento e à apro-
priação dos bens e da riqueza, enquanto que a disciplina se exerce sobre os 
corpos e sobre o que eles fazem, constrangendo-os no tempo e no trabalho 
e sistematizando contínua e permanentemente a vigilância sobre cada 
indivíduo (FOUCAULT, 2005a). 
Apesar da separação entre os registros jurídicos e disciplinares, do 
alheamento das práticas disciplinares frente ao discurso legal, da diferença 
entre norma e lei (FOUCAULT, 2005a), houve uma espécie de deslizamento 
e conjugação entre os dois registros na segunda metade do século XIX, no 
que Foucault (2005b: 41) considera “jogo da dupla qualificação médica e 
judiciária”, no qual as circunstâncias atenuantes, a qualificação, a apreciação 
e o diagnóstico do criminoso e a associação entre crime e loucura passaram 
a prevalecer sobre a ocorrência do crime, emprestando relevo ao criminoso 
no tempo e no espaço, que definiram para uma época dada e para uma área social, econômica, geográfica ou 
linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa” (FOUCAULT apud CASTRO, 2009: 337). 
6 Que pensavam primordialmente nas penas de morte, de suplício e humilhação, de talião e de degredo, 
como formas exemplares de castigo.
7 As lettres de cachet, que em português poderiam ser traduzidas como “cartas de encarceramento”, eram 
práticas em que pessoas comuns demandavam ao soberano que seus desafetos fossem presos, encar-
cerados até “aprenderem seu erro” e modificarem seu comportamento. Assim, filhos que colocassem em 
risco a honra do clã, devedores etc., seriam submetidos a tal procedimento, que, na época, não era iden-
tificado com uma pena, mas como estratégia de correção eficaz. A disseminação do modelo prisional 
procede, portanto, de práticas sociais que originariamente não foram pensadas juridicamente, tendo uma 
origem totalmente diversa.
Érika Piedade da Silva Santos
46
e entrelaçando as práticas jurídicas e disciplinares aos discursos médicos, 
psiquiátricos e psicológicos. 
A junção entre os dois tipos de discurso – o judiciário e o médico – 
circunscreve e inventa o indivíduo perigoso, ou seja, aquele que nemé louco 
e nem criminoso, mas que eventualmente pode ser perigoso. Além disso, 
também consolida a noção de perversidade em relação à loucura, ou seja, uma 
série de constantes biográficas conceituadas no exame médico-legal, como 
maldade, orgulho ou obstinação, que se organizam através de modelos de 
moral e família:
... a junção do médico com o judiciário implica e só pode ser 
efetuada pela reativação de um discurso essencialmente parental-
pueril, parental-infantil, que é o discurso dos pais com os filhos, 
que é o discurso da moralização mesma da criança. (...) é o discurso 
que não apenas se organiza em torno do campo da perversidade, 
mas igualmente em torno do problema do perigo social: isto é, 
ele será também o discurso do medo, um discurso que terá por 
função detectar o perigo e opor-se a ele. (...) um discurso cuja 
organização epistemológica [é] toda ela comandada pelo medo e 
pela moralização. (FOUCAULT, 2005b: 44)
Assim, no cumprimento de dupla estratégia de controle diante do 
perigo social pressentido nas massas e de moralização das condutas, o amál-
gama médico-jurídico revelou-se estratégia bastante potente na mecânica de 
poder do século XIX. 
Da articulação entre os discursos jurídicos e psicológicos no século 
XIX, centrados na imagem do “indivíduo”, bem como na necessidade de 
controle do “social”, do conhecimento sobre a psicologia do “criminoso”, 
da “testemunha” e da “vítima”, podemos depreender que a constituição da 
psicologia como saber esteve, desde o início, atravessada por demandas jurí-
dicas e morais (FOUCAULT, 2005b; BRITO, 1993).
No Brasil, as primeiras ideias “psi” estão associadas ao encontro com as 
práticas jurídicas e judiciárias, seja no universo da tipificação do louco/crimi-
noso nas primeiras décadas do século passado, seja na classificação e exame 
dos “menores” por psicologistas pouco após a promulgação da primeira lei 
sobre menores, em 1927. Expressando a ambição científica do período em 
conhecer o homem e a sociedade, a psicologia esteve a serviço de distinguir 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
47
o indivíduo “normal” e controlar o “desviante”8. Na consideração de que o 
saber psicológico se inscreve nos discursos que construíram historicamente 
o homem na sociedade moderna, cabe pensar forçosamente que as teorias 
e práticas psicológicas participam ativamente na constituição de cenários 
sociais que valorizam alguns comportamentos e repudiam outros. Em outros 
termos, considerar que a psicologia se constituiu enquanto discurso depen-
dente do campo sociopolítico é radicalmente diferente de pensar que o 
conhecimento psicológico represente a verdade sobre o sujeito.
Nessa perspectiva, a intenção do presente texto é conhecer alguns 
sentidos das práticas psicológicas que estiveram e estão historicamente 
presentes nas Varas de Infância e Juventude. Que práticas e alianças vêm 
sendo hoje construídas pela Psicologia face ao adolescente em conflito com a 
lei? É possível problematizar novas formas de inserção dos discursos “psi” 
ou continuaremos acriticamente perpetuando a existência de infâncias desi-
guais em nosso país? Privilegiaremos os impactos da produção da categoria 
menor no Brasil e sua oposição à noção de criança, mapeando os discursos 
psicológicos na construção desses perfis. 
Crianças e Menores no Brasil 
Para compreendermos a invenção de práticas diferentes para as 
crianças e para os menores no Brasil, é necessário que retrocedamos ao século 
XIX para conhecermos a intrincada e complexa trama tutelar que o Estado 
brasileiro modelou para as crianças e os jovens em nosso país.
No Brasil, as primeiras menções à expressão menor estão presentes 
no Código Criminal do Império, definindo as penas aplicáveis no caso de 
cometimento de crimes “por menores de idade”. A expressão resvalou do 
universo jurídico para o social ao final do século XIX, passando a designar as 
crianças nascidas nas camadas mais baixas da pirâmide social. Nesse trajeto, 
do jurídico ao social, a expressão assume conotação de controle, pois, ao 
segmentar setores sociais, cria categorias de crianças consideradas “suspeitas” 
e “potencialmente perigosas”, na associação entre o perigo e a pobreza, tal 
8 A esse respeito, consultar as duas edições de Clio-psyché – Histórias da Psicologia no Brasil, ambas orga-
nizadas por Jacó-Vilela, Jabur e Conde Rodrigues; a primeira foi publicada em 1999 pela EdUERJ e a 
segunda, em 2001 pela Relume-Dumará. Ver ainda a coletânea organizada por Brito, Temas de Psicologia 
Jurídica, publicada em 1999 pela Relume-Dumará.
Érika Piedade da Silva Santos
48
como sonhara a Epistéme Moderna e tal 
como o Higienismo propôs logo a seguir.
Importante destacar que as dinâ-
micas sociais presentes no Brasil Colônia, 
e mesmo no Brasil Império, se caracteri-
zavam pela supremacia do poder decisório 
dos patriarcas familiares, com ínfima parti-
cipação do poder público (notadamente 
da Igreja Católica)9 no âmbito privado. 
Segundo Lobo (2008), mesmo com 
a vinda da Corte para o Brasil os hábitos 
coloniais permaneceram inalterados em 
grande parte do país durante o século 
XIX (com exceção do Rio de Janeiro e da 
Bahia). Predominavam as pequenas vilas 
com as habitações parcamente mobiliadas; 
o convívio indiferente com a sujeira, fosse 
como estratégia para proteção contra 
maus-olhados e feitiçarias, fosse porque 
aqui ainda não se desenvolvera uma sensibilidade higiênica; os hábitos fami-
liares de reclusão nos espaços das varandas, “tão isoladas do mundo como se 
encontrassem nas profundezas de uma floresta...” (PRIORE, 2000: 86-87). 
Até a transferência da Corte, as famílias da elite pouco iam às ruas, perma-
necendo no interior das residências com camisolões, pés descalços, seios 
nus, camisas desabotoadas e chinelas, o que contrastava com o exagero de 
enfeites nas raras ocasiões em que saíam de casa, quando se cobriam com 
joias, rendas, sedas e mantilhas (LOBO, 2008). 
Naquele contexto, a imagem da criança, inventada pela Modernidade, 
não existia. Postman (2002) considera que, apesar da crescente importância 
que o conceito de infância assumiu nos países protestantes europeus desde o 
século XVI, nos países católicos a instituição infância só apareceu muito mais 
9 No período colonial o Tribunal da Inquisição esteve presente por três vezes no Brasil, em 1591 e 1618 
na Bahia e em 1763 no Grão Pará, objetivando o controle sobre os cristãos-novos, detentores de riquezas 
que interessavam ao Reino português, além de também pretender evitar a “perdição da alma” das classes 
dirigentes que aqui habitavam, em contato direto com gentios e ex-judeus (LOBO, 2008: 77-78).
Perigo e pobreza foram paulatinamente 
associados pelas ciências humanas 
(antropologia, sociologia, psicologia) 
pois, desde o advento das Revoluções 
Burguesas, os aglomerados populacio-
nais e as multidões nas ruas passaram 
a ser percebidas como potencialmente 
perigosas e desestabilizadoras da ordem. 
O higienismo, como discurso médico 
específico, será peça fundamental na 
conjugação entre pobreza e risco social, 
na medida em que se preocupava com 
a invenção do conceito de saúde, dife-
renciando-se da medicina clássica, que 
atuava diante do surgimento da doença. 
Assim, visando à saúde das populações, 
o higienismo criou toda uma sistemática 
de cuidados e controle dos corpos por 
especialistas em higiene social, o que 
incidiu na desqualificação dos comporta-
mentos dos mais pobres e na produção 
de estratégias de controle sobre tais 
grupos. (COIMBRA e NASCIMENTO, 2003)
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
49
tarde, com a perpetuação medieval da invisibilização da criança, precocemente 
associada ao adulto10 ou, então, vista como um ser sem expressão social.
Essa digressão nos permite compreender o choquecultural de Luccock 
no Brasil do século XIX, ao presenciar o funeral de uma criança:
Foi ouvida uma mãe que assim se exprimia: “Ó como estou feliz! Ó 
como estou feliz, pois que morreu o último dos meus filhos! Que 
feliz estou! Quando eu morrer e chegar diante dos portões do céu, 
nada me impedirá de entrar, pois que ali estarão cinco criancinhas 
a me rodear e a puxar-me pela saia, exclamando: Entra, Mãe, entra! 
Ó que feliz estou!”, repetiu ainda, rindo à grande. Se isso fosse um 
exemplo isolado dos sentimentos maternais estranhos poderia ser 
considerado efeito de um desvio mental passageiro, o caso porém, é 
que a satisfação em tais momentos é geral demais... (LUCCOCK, 
1820, apud LOBO, 2008: 309)
Segundo Postman, o surgimento da infância está diretamente relacio-
nado à invenção da tipografia e à disseminação do livro impresso: 
...o Homem Letrado (...) [foi criado]. E ao chegar deixou para trás 
as crianças. Pois no mundo medieval, nem os jovens e nem os velhos 
sabiam ler e seu interesse era pelo aqui e agora, o “imediato e local’, 
como disse Munford. (...) Mas quando [surgiu] a prensa tipográfica 
(...), uma nova espécie de idade adulta [foi inventada]. (...) Depois 
da prensa tipográfica, os jovens teriam de aprender a ler (...) e para 
realizar isso precisariam de educação. Portanto a civilização européia 
reinventou as escolas. E, ao fazê-lo, transformou a infância numa 
necessidade. (POSTMAN, 2002: 50)
Para o mesmo autor, a consolidação da infância seguiu trajetórias 
distintas nos países católicos e nos países protestantes em razão da valori-
zação da capacidade de ler a Bíblia na língua nacional pelos últimos, opos-
tamente às sociedades em que predominava o catolicismo e, portanto, asso-
ciavam a leitura às práticas hereges dos reformadores religiosos que contes-
tavam os dogmas oficiais.
10 Freyre nos conta que, no Brasil Colônia, meninas e meninos, tão logo cumpriam o sacramento da primeira 
comunhão, eram automaticamente considerados adultos, podendo inclusive se casar (FREYRE, 2000). 
Érika Piedade da Silva Santos
50
Em meados do século dezesseis os católicos começaram a se afastar 
da alfabetização socializada, vendo a leitura como um agente desinte-
grador (...) e a leitura foi equiparada à heresia. (...) Um dos resultados 
do desinteresse dos católicos pela tipografia e da aliança que fizeram 
com ela os protestantes foi uma assombrosa inversão da geografia 
intelectual da Europa. (...) Entre outras coisas (...) a infância evoluiu 
desigualmente, porque após a filtragem das complexidades históricas, 
surge uma equação bastante simples: onde a infância foi sempre alta-
mente valorizada, havia escolas e, onde havia escolas, o conceito de 
infância desenvolveu-se rapidamente. (POSTMAN, 2002: 51-53)
Ratifica essa hipótese a constatação de que a escolarização não era 
valorizada no Brasil colônia, embora a vinda da família real tenha produ-
zido mudanças nesse panorama. Segundo Lobo (2008), a mudança da 
comitiva real trouxe consigo os primeiros autores que reconheciam a impor-
tância do processo educacional, principalmente no período do 2º Império. 
Multiplicaram-se os internatos para meninos ricos, justificados por argu-
mentos médico-pedagógicos que avaliavam positivamente o afastamento 
das crianças de suas famílias pois tais núcleos, recentemente emersos do 
universo colonial, ainda apresentavam características consideradas nocivas 
ao desenvolvimento da nova elite que os higienistas se propunham a formar, 
elite essa que deveria zelar pelos valores burgueses em ascensão.
Afastar as crianças dos pais e do mundo externo significava, também, 
afastá-las da cidade, lugar das aglomerações e dos abafamentos. As 
regras de higiene prescreviam as condições de salubridade dos colé-
gios, a começar pela localização longe do centro da população, em 
situação mais elevada, em edifício espaçoso, vizinho à vegetação. 
(LOBO, 2008: 312)
Além disso, no Brasil Colônia, o espaço das ruas era ocupado apenas 
pelos escravos e desclassificados; foi a chegada da nobreza portuguesa 
que tornou imperativo construir uma dimensão pública na qual as classes 
dominantes pudessem transitar. Em resposta a tal necessidade, os discursos 
higienistas estabeleceram concomitantemente a urgência da repressão dos 
desviantes e desclassificados nos espaços coletivos (que deveriam estar libe-
rados para o trânsito das famílias de bem) e a valorização dos espaços privados 
associada ao cultivo da interioridade (ARIÈS, 1981; SENNETT, 1999).
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
51
Não por acaso, a presença das camadas mais pobres nos espaços 
públicos, comum no período colonial, passou a ser vista como potencial-
mente conflitiva, violenta e contestadora da ordem instituída. A crimina-
lização dos pobres e a patologização dos locais públicos expressavam os 
temores das classes dominantes e revelaram-se estratégias eficazes para a 
liberação daqueles lugares para a elite.
Ao mesmo tempo, era imperativo investir na construção de um novo 
imaginário do trabalho, até então amplamente desqualificado pela população 
livre e branca, que identificava o trabalho como coisa de negro. Assim, fazia-se 
frente às resistências da população branca em trabalhar e construía-se um 
sentimento de identidade nacional, visto que era comum, ainda no Brasil 
Império, que a população se identificasse regionalmente. Ser gaúcho, mineiro 
ou baiano era referência mais central que ser brasileiro (BAPTISTA, 1999).
A montagem de sucessivas estratégias discursivas foi crucial para 
destacar o valor positivo do trabalho (“Deus ajuda quem cedo madruga!”); 
a disposição do brasileiro para o trabalho, exaltada na frase “Brasileiro é um 
povo trabalhador!”, parecia ignorar a franca contradição com o fato de que, 
por mais de três séculos, só os escravos trabalhavam no país. Outras expres-
sões buscavam mais diretamente a coesão e a identidade brasileiras: a frase 
“Brasileiro é honesto, brasileiro é alegre”, queria deixar para trás as formas 
mais tradicionais de reconhecimento que apelavam para os regionalismos. 
No período marcado pela Independência, pela passagem à República, 
pela abolição da escravatura e pelos grandes impactos potenciais dessas 
mudanças políticas, dominava a preocupação com o controle e com a ordem. 
Nessa conjuntura, o controle dos escravos recém-libertos e a preocupação 
com a temática da infância se mesclaram nas dimensões médicas, pedagó-
gicas, policiais e jurídicas.
O sistema de trabalho abandonava o escravagismo e exigia o disci-
plinamento das massas, sobretudo porque a oferta de postos de trabalho 
atraía imigrantes europeus, entre eles os descontentes com a disciplina por lá 
exigida (RAGO, 1985). A caracterização da irracionalidade das massas e das 
(psico)patologias sociais se tornaram estratégias de controle dessa multidão 
populacional que exigia o ingresso no cenário público. 
Ademais, é importante enfatizar a contribuição de alguns argumentos 
eugenistas no incentivo da imigração européia, pois tais teóricos defendiam 
Érika Piedade da Silva Santos
52
a importância da melhoria da raça brasileira, que eles avaliavam ter grandes 
riscos de degenerescência em função da quantidade de negros no país (cerca 
de ¾ da população), estimulando a entrada de imigrantes brancos que pode-
riam depurar a descendência (LOBO, 2008). Ao mesmo tempo, destacavam 
a incapacidade dos negros para se qualificarem pela aprendizagem, conside-
rando-os incapazes para exercerem o trabalho livre, dificultando, ou quase 
inviabilizando, sua assimilação como mão-de-obra paga, principalmente nas 
cidades, empurrando-os para o trabalho braçal nas zonas rurais. 
Delineia-se, portanto, o impacto dos discursos científicos na natu-
ralização das diferenças sociais. Assim, a pobreza foi associada a certos 
grupos ou indivíduos: a ociosidade,a indolência e os vícios seriam inerentes 
aos pobres, de modo que a miséria que os afetava seria derivada de sua 
preguiça e de sua inferioridade. Falamos aqui de um tempo que popula-
rizou a antropometria, a medição de ossos, crânios e cérebros, tecnologia que 
identificava nos corpos os sinais tangíveis da inferioridade dos mais pobres 
(COIMBRA e NASCIMENTO, 2003).
Assim, os impactos dos saberes científicos que estavam sendo cons-
truídos sobre a infância, dentre eles a pediatria, a pedagogia, a puericultura 
e as influências da Escola Positiva de Cesare Lombroso e de suas noções 
biodeterministas – a degenerescência, a predisposição ao crime, as tendên-
cias antissociais e a transmissão hereditária – revelaram-se fundamentais na 
diferenciação entre crianças (filhas das famílias ricas) e menores (filhos dos 
pobres), respaldando e naturalizando a lógica de dominação política pelo 
viés da anormalidade, da disfuncionalidade e da doença. 
Essas distinções visavam o enorme contingente de ex-escravos que 
passou a ocupar as ruas e a preocupar as classes mais altas (SANTOS, 2000b). 
De fato, a apropriação dos saberes médicos, psicológicos e antropológicos 
revelou-se estratégia eficaz para controlar esse contingente populacional e 
tranquilizar as famílias da elite, assustadas com o que os filhos de suas mães-
pretas lhes poderiam fazer (BATISTA, 2003).
Nesse percurso, o corpo biológico é transformado em corpo (e 
problema) político, já que é expressão e face visível de algo que é da ordem 
da interioridade, mas que não pode mais fugir nem do escrutínio da ciência 
nem dos imperativos do controle. 
Na verdade, como já considerava Donzelot (1986), a distinção entre 
os conceitos criança e menor expressa origens de classe, sendo a infância niti-
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
53
damente uma construção burguesa. No Brasil, as famílias provenientes da 
elite econômica e intelectual foram cooptadas e adestradas pelos discursos 
médico e pedagógico, que as identificaram com os ideais de conduta que se 
propunham implementar. Os segmentos mais pobres da população foram 
atingidos de forma distinta, através da captura de seus comportamentos 
e do controle de seus corpos pelos registros policiais e jurídicos. Dessa 
forma, durante todo século XX, a expressão menor preencheu a necessi-
dade de diferenciar os bem-nascidos e os potencialmente perigosos para 
a sociedade, introduzindo um traço diferencial entre crianças e menores em 
situação irregular, a estes últimos creditando riscos sociais de ruptura da 
ordem. Em função dos riscos que evidenciavam, os menores foram sistema-
ticamente internados, afastados de suas famílias, enquanto que as crianças 
– que no século XIX tinham sido enviadas para os grandes internatos – 
passaram a ser educadas junto aos seus núcleos familiares de origem, após 
o disciplinamento das famílias da elite pelos apelos higienistas (RIZZINI 
e RIZZINI, 2004; AYRES, 2001).
Na identificação das diferenças entre os grupos familiares de acordo 
com sua origem social, os discursos psicológicos que começavam a influen-
ciar os meios acadêmicos europeus e norte-americanos instituíram parâ-
metros de normalidade. As condutas boas e saudáveis eram assimiladas aos 
modelos familiares dos mais ricos, ao passo que os padrões de conduta das 
camadas mais pobres passaram a ser vistos como desviantes, patológicos ou 
irregulares, como ocorreu com a condenação da liberalidade sexual e afetiva 
comum entre os ex-escravos e pessoas pertencentes aos grupos mais baixos 
do estrato social. 
A preocupação do projeto preventivista foi o trabalho e a família. 
(...) Nas fábricas, o cotidiano operário, devido ao grande número de 
negros e mestiços, foi convertido em risco e necessitado de atenção. 
A casa ‘promíscua’, o botequim como foco desencadeador do alco-
olismo, as praças freqüentadas por vadios, os jogos, o ócio, tudo foi 
motivo de preocupação; em resumo, a produção científica da época e 
os programas de higiene mental localizaram no cotidiano das classes 
populares hábitos nocivos ao equilíbrio urbano. O ‘povo’ sem a tutela 
médica trouxe o caos à cidade. (BAPTISTA, 1999: 120)
Érika Piedade da Silva Santos
54
A tessitura das leis e instituições dirigidas ao menor
Como visto, os conceitos médico-pedagógicos predominaram na 
definição da criança, enquanto os atravessamentos jurídico-policiais foram 
fundamentais para a categorização do menor. Não por acaso, a assimi-
lação jurídica dos preceitos higienistas realizou-se, no Brasil, através da 
construção da Doutrina da Situação Irregular. Essa Doutrina foi a prer-
rogativa legal utilizada para embasar os dois Códigos de Menores que 
vigiram no Brasil: o primeiro promulgado em 1927 e o segundo, em 1979. 
Ressalte-se que, coincidentemente, ambos tiveram suas trajetórias ligadas 
a ditaduras políticas, sendo que o primeiro antecedeu em poucos anos o 
Estado Novo de Vargas, enquanto que o segundo foi promulgado em plena 
Ditadura Militar. 
Ambos caracterizavam-se por partilhar o entendimento de que apenas 
os menores em situação irregular seriam alvo do Poder Tutelar do Estado – o 
que, na prática, elegia os menores abandonados, delinquentes, pervertidos 
ou em perigo de o ser, ou seja, os mais pobres. Esta concepção doutrinária 
identificava os menores como objeto do Direito (ARANTES, 2000) e criava 
mecanismos que permitiam ao Estado atuar diretamente nesses núcleos 
familiares: a suspensão do pátrio poder do pai ou da mãe que, por abuso 
de autoridade, negligência, incapacidade ou impossibilidade de exercer o 
seu poder, faltasse habitualmente ao cumprimento dos deveres paternos 
(RIZZINI e PILOTTI, 2009).
Aqui, convém salientar que a ação destinada à menoridade era reco-
nhecida, no próprio círculo jurídico, como uma atuação menor, pois, segundo 
alguns juristas, seus parâmetros não correspondiam aos princípios mais 
basilares do Direito. Essa avaliação serve como crivo analítico da prática 
proposta pelo modelo da Situação Irregular: intervenção sobre o menor, 
enquanto categoria forjada à parte da infância, e sobre sua família de origem, 
sem qualquer referência aos direitos de um ou de outro; em síntese, uma 
desqualificação da própria ideologia da igualdade perante a lei. 
Alegavam os defensores da Doutrina da Situação Irregular que a 
intervenção do Juiz seria sempre supostamente protetiva, o que garantiria a 
preservação dos interesses de seus tutelados sem a necessidade do recurso ao 
contraditório, à ampla defesa ou aos prazos de representação e contestação 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
55
da sentença. Esses argumentos, contudo, ignoravam o interesse da ordem 
na criminalização do jovem pobre e na privação de sua liberdade através da 
internação (BATISTA, 1998), interesse forjado no olhar criminal do século 
XIX e perpetuado no modelo da Situação Irregular.
Não por coincidência, as primeiras referências à utilização do discurso 
“psi” na sociedade brasileira datam das primeiras décadas do século XX, 
pouco após a criação do primeiro Juízo de Menores, em 1923, e da promul-
gação do Código de Menores de 1927, na corrente de preocupações com 
o destino que deveria ser dado à infância desadaptada e às crianças difíceis. 
A partir de então, os instrumentos de avaliação e diagnóstico psicológicos 
foram sendo paulatinamente incorporados pelas instituições de abrigo e/ou 
correção de menores, a despeito da própria profissão de psicólogo não ser 
ainda reconhecida à época11.
Dito de outro modo, o discurso e a prática psicológica sobre a infância 
caracterizaram-se no Brasil como instrumento de adaptação e controle da 
menoridade, constituindo-se o menor como um dos primeiros objetos de 
estudo que se conhece na história da psicologia brasileira (COIMBRA, 2002).
Nesse momento, é importantedestacar que, durante todo o século 
XVIII, na constituição das teorias do Direito Penal Positivo, emergiu como 
principal objeto desta ciência definir o que é o crime, visto como alguma 
forma de transgressão efetiva a uma norma escrita e codificada. Em contra-
partida, durante o século XIX, outro objeto foi sendo paulatinamente elabo-
rado, qual seja, o valor do conhecimento e da identificação da figura do 
criminoso (FOUCAULT, 2003), sendo secundário o efetivo cometimento 
da infração à lei. Pretendeu-se, assim, atuar sobre o criminoso em potencial, 
sobre sua identidade interior e perigosa, controlando-o antes de qualquer 
ato criminoso, o que no Brasil foi sancionado através da apreensão por atitude 
suspeita no início do século XX:
Na linguagem policial, a expressão ‘atitude suspeita’ não foi nunca 
usada para indicar que o jovem estivesse fazendo algo suspeito, mas 
para indicar que ele era considerado automaticamente suspeito 
pelos sinais de sua identificação com um determinado grupo social. 
(BARATTA, 1998: 12)
11 A profissão “psicólogo” só viria a ser reconhecida legalmente no Brasil em 1962.
Érika Piedade da Silva Santos
56
O Laboratório de Biologia Infantil, inaugurado no Rio de Janeiro em 
1936, pretendeu constituir critérios para a institucionalização de menores 
e oferecer subsídios para os programas desenvolvidos nos estabelecimentos 
correcionais, apresentando os fatores psíquicos, sociais, intelectuais e orgâ-
nicos que estariam na gênese do comportamento delinquente. Em outras 
palavras, o Laboratório queria estabelecer as bases científicas para a desti-
nação asilar e para o tratamento dos menores qualificados em situação irregular 
e submetidos à tutela estatal. O que se pretendia era constituir um conjunto 
de critérios científicos para embasar as decisões judiciais, numa época em que 
a sociedade conferia grande crédito à ciência (OLIVEIRA, 2001). É digno de 
nota que, na composição da equipe do Laboratório de Biologia Infantil, esti-
vesse representada a nata da intelectualidade de então; por seu intermédio, a 
sociedade brasileira foi apresentada às teorias mais avançadas da época, incor-
poradas do pensamento europeu com claros propósitos de controle social. 
Entre outros saberes, a psicanálise era, nas palavras de Nunes (1992: 72), 
valorizada enquanto um saber que poderia se tornar um instrumento útil para os 
programas de eugenia (...). O que interessava era a possibilidade que alguns de seus 
postulados abririam para o projeto de controle e transformação dos indivíduos.
Com a anexação do Laboratório de Biologia Infantil ao Instituto Sete 
de Setembro em 1938, torna-se ainda mais claro seu modelo de ação: inves-
tigar e classificar social, médica, pedagógica e psiquicamente o menor, como 
meio de promover o resgate do “desviante, enquadrando-o à normatividade dos 
registros de mão-de-obra infanto-juvenil” (OLIVEIRA, 2001: 240). Vê-se 
assim que a apropriação de discursos psicológicos foi útil para capturar, obje-
talizar e adestrar os menores.
As décadas que se seguiram assistiram à crise do complexo tutelar de 
assistência à infância, nos moldes propostos pelo Código de Menores de 
1927. Essa crise tinha raízes tanto na crítica contundente aos parâmetros 
de exclusão e repressão que imperavam nas políticas para a infância quanto 
na necessidade de desonerar um sistema que se havia agigantado. Outra 
crítica relacionava-se à extrapolação da ação dos Juízos de Menores para 
além da esfera judicial, através da atuação no que seria (ou deveria ser) de 
competência executiva.
No plano das práticas, as instituições alteraram a forma de tratamento 
destinado às famílias dos internos, passando a reinvesti-las de autoridade. 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
57
O discurso oficial passou a defender a internação como último recurso e a 
postular que os menores fossem mantidos junto a seus familiares. Paralela-
mente, as primeiras ideias de defesa da importância da adoção de crianças 
passaram a ser apresentadas à sociedade, pela primeira vez desvinculando a 
adoção de um cunho patrimonial e dando-lhe caráter assistencial.
Na realidade, a proposta de que as famílias “abrissem seus corações” a 
novos membros não era habitual entre os brasileiros das primeiras décadas 
do século XX, que normalmente utilizavam o recurso jurídico da adoção 
para legitimar filhos bastardos, diante da inexistência de filhos legítimos, 
evitando-se que os bens familiares fossem herdados por outros que não os 
membros da família. 
Em 1959, a ONU sanciona a Declaração de Direitos da Criança, cujos 
efeitos, embora não tenham sido imediatos, marcarão as gerações futuras do 
pensamento sociojurídico brasileiro.
Pouco depois da elaboração da Carta da Assembleia das Nações 
Unidas, aconteceu o Golpe Militar no Brasil, em 1964. A Política de Segu-
rança Nacional pautava todas as ações federais e, neste contexto, também 
a menoridade foi alçada à condição de problema de segurança máxima. O 
regime militar proclamava que os grupos de menores que circulavam livre-
mente pelas vias públicas colocavam em risco a segurança coletiva, pois parti-
cipavam ostensivamente de crimes contra o patrimônio, seriam autores de 
homicídios (BAZÍLIO, 1985) e por isso deveriam ser controlados e contidos. 
Em consequência, o Estado passou a adotar um conjunto de medidas que tem 
por alvo a conduta antissocial do menor, como o recolhimento de jovens pela 
polícia e seu posterior encaminhamento à Fundação Nacional do Bem-Estar 
do Menor (FUNABEM), criada em 1964.
O segundo Código de Menores surge no período da abertura política 
e se constitui numa tentativa de responder às críticas ao modelo repressivo 
em vigor, que ecoavam discussões internacionais sobre o garantismo legal e 
a criminologia crítica. Cedendo a essas críticas apenas em questões menores 
e em aspectos pouco relevantes, a lei Nº 6.697 – promulgada em 1979 – 
manteve a concepção de menor como objeto jurídico, na perspectiva doutri-
nária da Situação Irregular. O texto abria mão da classificação da infância em 
abandonada ou delinquente, mas disfarçava a categoria abandonado na análise 
das condições sociais e econômicas da família, defendendo a falta de condi-
Érika Piedade da Silva Santos
58
ções materiais da família como argumento jurídico para a cassação, tempo-
rária ou definitiva, do pátrio poder. Com base em tais paradigmas, o Código 
de 1979 ampliou em muito o poder dos magistrados, praticamente centrali-
zando sobre os juízes o poder de acusar, defender e sentenciar os processos 
sobre sua responsabilidade.
As críticas ao Código de 1979 evidenciaram-se desde a sua promul-
gação e, na esteira do processo de redemocratização da sociedade brasileira, 
movimentos sociais se manifestaram a favor da publicação de um novo texto 
para a infância e juventude, articulando-se através do Fórum dos Direitos 
da Criança e do Adolescente (o Fórum DCA), cujo principal alvo polí-
tico era a Reforma Constitucional. Esse movimento conquistou importante 
vitória ao inscrever, no texto constitucional de 1988, pela primeira vez na 
história brasileira, a concepção da criança e do adolescente como cidadãos 
e sujeitos de direitos sociais, políticos e jurídicos. O Estatuto da Criança 
e do Adolescente (ECA, Lei 8069/90) é o texto legal que consolida esses 
direitos constitucionais. 
A Doutrina da Proteção Integral é a principal inspiração do ECA e 
se insere no contexto em que o Brasil assume – diante da comunidade inter-
nacional – o compromisso de implementar e defender a Declaração dos 
Direitos da Criança de 1959 e a Convenção dos Direitos da Criança de 1989. 
Destaque-se que o Brasil foi o primeiro país da América Latina a considerar 
tais normativas na constituição de uma lei para a infância e a adolescência. 
Dentre as inúmeras inovações introduzidas pelo ECA, enfatiza-sea submissão do texto legal aos princípios, regras, técnicas e conceitos da 
ciência jurídica: ao Juiz, cumpre compor litígios; ao Ministério Público, 
incumbe fiscalizar a lei e a titularidade das ações protetiva e socioeduca-
tiva; o advogado ou o defensor público devem representar a criança e o 
jovem no interior do processo legalmente constituído; as questões da Polí-
tica Social passam à responsabilidade das administrações locais; além de ser 
nítida a valorização das avaliações da equipes técnicas interprofissionais, 
introduzindo o profissional psicólogo no quadro institucional das Varas 
de Infância e Juventude.
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente restituíram às crianças e aos menores brasileiros, ao menos na letra da 
lei, a igualdade jurídica. 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
59
Apesar da importância dos dispositivos mencionados, no início da 
década de 1990 assistimos à entrada dos discursos neoliberais no cenário 
político brasileiro, o que, na prática, representou enorme entrave para que os 
princípios e ideais constitucionais e estatutários fossem efetivamente apli-
cados. Assim, o neoliberalismo redimensionou o papel do Estado, desquali-
ficando a participação estatal nas políticas sociais de base (saúde, educação, 
trabalho etc.) e propugnando a filosofia do Estado Mínimo, caracterizada 
pelo retraimento nas ações sociais e incremento de sua face penal. 
Apesar da nova legislação propor a substituição do termo estigma-
tizante menor pelas expressões criança e adolescente, estas não são usadas 
ainda pela maior parte dos operadores do Direito (BULCÃO, 2002). Esse 
pode ser considerado um sinal de que, em que pese a promulgação do ECA, 
prevalece entre os operadores jurídicos o imaginário menorista. Obser-
vamos ainda que algumas ações estrategicamente dificultaram a efetivação 
do Estatuto , como ocorreu com o Juízo de Menores no Rio de Janeiro, 
criado em 1923 e que, em 1989, foi desmembrado em duas varas, sendo 
a 2ª Vara da Infância e Juventude formada com a competência exclusiva 
de processar e julgar os atos infracionais praticados por adolescentes. Tal 
ato tem sido alvo de vários questionamentos pois, se um dos principais 
pressupostos do Estatuto é a superação da distinção histórica entre as cate-
gorias menor e criança, a criação de um Juizado com a competência exclu-
siva de examinar os feitos relacionados à infração e ao delito termina por 
ratificar espaços de segregação, estigmatização e exclusão social, remetendo 
o jovem autor de infração penal a um atendimento jurídico diferenciado. 
Dessa forma, tal desmembramento choca-se com a concepção doutrinária 
da Proteção Integral, construindo (ou mantendo) estruturas que se pautam 
no discurso penalista e criminalista (CURY, SILVA e MENDEZ, 1996). 
Com essa separação, o Tribunal de Justiça Fluminense assumiu posi-
cionamento que deu margem a interpretações judiciais que cindiram a 
aplicabilidade das medidas protetivas e socioeducativas de acordo com a 
clientela atendida. Como desdobramento desse entendimento, a dimensão 
protetiva seria aplicável aos carentes, enquanto que somente a medida socio-
educativa seria cabível aos infratores, interpretação que contradiz a própria 
lei 8069/90 (ECA), que estabelece a garantia de aplicação de medidas 
protetivas ao adolescente, ainda que cometa atos infracionais.
Érika Piedade da Silva Santos
60
Além disso, ancorado na inimputabilidade penal prevista no artigo 
228 da Constituição Federal, o cometimento de infrações por adolescentes 
deverá ser compreendido através dos princípios previstos na Doutrina 
Proteção Integral, ou seja, deve-se avaliar e considerar quais sejam as medidas 
protetivas e socioeducativas mais adequadas para transformar positivamente 
a conduta dos jovens, pugnando por sua reeducação e ressocialização. Assim, 
contrapondo-se à segregação, estigmatização e penalização dos Códigos de 
Menores, o ECA propõe a inclusão social, a defesa de direitos das crianças e 
jovens e a aplicação de medidas protetivas e socioeducativas.
Todavia, a perspectiva criminalizante e punitiva prevista nos Códigos 
de Menores inspira ainda parte expressiva das práticas institucionais que se 
dirigem aos adolescentes que cometem atos infracionais. 
Por sua vez, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança 
(CONANDA), órgão responsável pela deliberação e fiscalização de políticas 
de atenção a crianças e adolescentes em nível nacional, instituiu em 2006 
o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), disposi-
tivo que padroniza nacionalmente os procedimentos jurídicos que devem ser 
seguidos para os adolescentes em conflito com a lei, desde a apuração do 
ato infracional até a aplicação das medidas socioeducativas. Dentre outras 
transformações no atendimento, o SINASE prevê alterações na arquitetura 
das unidades de internação do sistema socioeducativo, que deverão atender, 
no limite, a 90 adolescentes por vez, em quartos para no máximo três jovens. 
Outro ponto destacado é a horizontalidade das construções, bem como prio-
rização do direito à educação, saúde, lazer, cultura, esporte e profissionalização. 
Além disso, corroborando os resultados de pesquisas internacionais que asso-
ciam elevados índices de reincidência à maior institucionalização, o SINASE 
prioriza as medidas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e 
liberdade assistida) em detrimento das restritivas de liberdade (semiliberdade 
e internação em estabelecimento educacional), na perspectiva de que as duas 
últimas só devam ser aplicadas excepcionalmente e de forma breve.12
O Estatuto da Criança e do Adolescente contempla as mais modernas 
reflexões na área: seus princípios pautam-se na adoção plena de institutos 
12 As discussões internacionais contemporâneas têm ressaltado a importância da descriminalização dos 
jovens, em particular no cometimento de "delitos de bagatela”. Entende-se que delitos menores, quando 
praticados por jovens, inscrevem-se em um processo amplo de descoberta de limites e testagem da 
autoridade. Além disso, estudos recentes mostram que a repressão do Estado não reduz sua incidência. 
Ao contrário, faz com que ela aumente (SANTOS, 2000: 169-179).
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
61
jurídicos de defesa de direitos; oferecem as diretrizes e os meios para a 
formulação e a implementação de políticas públicas em prol da dignidade, da 
igualdade e da liberdade das crianças e jovens brasileiros; tratam o ato infra-
cional segundo os mais modernos parâmetros internacionais. Contudo, sua 
implementação efetiva requer condições para o exercício pleno da cidadania. 
Essas ainda não estão dadas. Desse contraste decorre o discurso recorrente 
segundo o qual não se instituiu a aplicação integral do texto legal. A distância 
entre as assertivas legais e as práticas em curso é preenchida pelos diversos 
atores segundo as formas como a sociedade consegue assimilar as propostas 
de mudança. Essa assimilação, por sua vez, é atravessada pelo impacto da 
mídia, que frequentemente conclama à punição, à prisão ou à internação dos 
jovens infratores, em particular se são pobres, fomentando a cultura do medo 
e a projeção paranoica dos temores sobre os destituídos.
Nesse sentido, é importante analisarmos um discurso que vem 
ganhando fortes adeptos entre os juristas: aquele que prega que o inadequado 
funcionamento do sistema socioeducativo é derivado da ausência de um 
Direito Processual Penal Juvenil 13. Alega-se que a constituição de um ramo 
de direito especializado garantiria a execução correta das Medidas Socioe-
ducativas (MSE) que, aí sim, pugnariam pela ressocialização e reeducação. 
Em nosso entendimento, contrariamente, o precário funcionamento 
do sistema socioeducativo se articula à continuidade do olhar penalsobre 
o adolescente em conflito com a lei, ou seja, a prevalência da convicção de 
que o adolescente que comete algum ato infracional é um criminoso e que a 
internação nada mais é do que uma prisão juvenil.
Importante frisar que o sistema jurídico brasileiro tem como pilares 
as normativas ditadas pela Constituição Federal de 1988 e que o artigo 228 
esclarece que “são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos 
às normas da legislação especial”, ou seja, a Carta Magna determina que os 
adolescentes jamais possam ser considerados como criminosos, o que é distor-
cido todos os dias nas práticas jurídicas e policiais que apresentam atos infra-
cionais a partir das leis penais, mencionando os artigos do Código Penal 
(lei 2.848/1940) e da Lei de Entorpecentes (lei 11.343/2006), em flagrante 
contradito com o texto constitucional.
13 Tramita atualmente no Congresso Nacional projeto de lei sobre a Execução das Medidas Socioeduca-
tivas nesta perspectiva (GOMES NETO e RUIZ DIAZ, s/d; ARANTES, 2004).
Érika Piedade da Silva Santos
62
Alegam tais atores que esta prática se justifica pelo artigo 112 do 
ECA, onde o ato infracional é definido como análogo ao crime ou à contra-
venção penal. Cabe aí a compreensão do que seja analogia ou comparação, 
ou seja, estratégias de aproximação de sentido, mas jamais de formação de 
identidade. Assim, na comparação estabelecida pelo legislador, o ato infra-
cional não é tornado idêntico ao crime ou à contravenção penal, devendo-
se considerar inclusive a abissal distância existente entre os princípios que 
regem a pretensão punitiva do direito penal e a concepção de proteção inte-
gral da pessoa em desenvolvimento – base doutrinária e principiológica que 
atravessa todo e qualquer processo que incida sobre crianças e adolescentes 
em nosso país.
Por outro aspecto, mesmo que queiramos utilizar o Direito Penal 
como referência judicativa, esta não se sustenta no momento de caracteri-
zação do ato infracional praticado por adolescentes, pois os princípios exis-
tentes na perspectiva penalista consideram que, na hipótese de existência de 
duas leis que rejam um ato criminoso, deverá forçosamente prevalecer aquela 
que possa favorecer ao réu sobre todas as demais (POLASTRI, 2009), o que, 
no caso em análise, indiscutivelmente é o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente. Outro princípio jurídico que pode ser invocado deriva da ideia de 
que, entre uma lei geral e uma lei especial, prevalecerá a lei especial, ou seja, 
novamente, o ECA. 
Consoante o que dispõe o SINASE, não é demais destacar que há de 
se priorizar sempre que a criança e o adolescente que cometam um ato infra-
cional sejam inseridas em medidas efetivamente protetivas e socioeducativas 
que pugnem por sua ressocialização e reeducação, não se concebendo, na 
correta interpretação dos princípios do ECA, que o caráter penal se disse-
mine para esta faixa etária.
Donde cabe produzir os questionamentos a seguir:
1. Por que, no julgamento de segunda instância de processos de atos 
infracionais praticados por adolescentes, a competência para julgar recai 
sobre Câmaras Criminais14? 
14 O Judiciário brasileiro tem constitucionalmente a previsão de que as pessoas insatisfeitas com as 
decisões de primeira instância dos juízes monocráticos (chamadas sentenças) podem recorrer a uma 
instância superior, hipótese em que seus processos serão julgados por grupos de desembargadores, que 
se reúnem em Câmaras, sendo suas decisões nomeadas como acórdãos. Em nosso país, a regra é de que 
os recursos derivados de processos de Varas de Infância sejam julgados em Câmaras Cíveis, com exceção 
dos atos infracionais praticados por adolescentes que, como no Rio de Janeiro, podem ser remetidos para 
Câmaras Criminais. Conforme já problematizado, essa prática considera subliminarmente a aplicabilidade 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
63
2. Não seriam tais práticas afrontas ao preceito constitucional de inim-
putabilidade, na medida em que naturalizam a perspectiva criminal para os 
constitucionalmente inimputáveis? 
3. Por que não criar turmas recursais próprias para a apelação de 
processos oriundos dessas varas, principalmente na concepção da especifici-
dade da lei e do sistema de atendimento nas dinâmicas que se relacionam à 
questão da infância e juventude? 
Em suma, acreditamos que, apesar de hoje já ser fato suficientemente 
conhecido que as penas privativas de liberdade fracassam de forma reiterada 
em suas proposições preventiva e corretiva – o que, na análise de Baratta 
(1999), parece estar articulado a objetivos velados do próprio sistema penal 
–, o propósito punitivo permanece como emblema-mor da rede penal, sendo 
amplamente divulgado pela mídia formadora de opinião. 
De forma eloquente a perspectiva penal vem prevalecendo atual-
mente. Muito embora pretenda, como na primeira metade do século XX, 
o controle dos corpos e espaços potencialmente úteis para o mercado de 
trabalho, a prisão objetiva na nova lógica social a posse do tempo daqueles 
que são privados de sua liberdade (VIRILIO, 1996). Tal transformação 
é exemplificada na transformação dos clamores sociais diante da ideia da 
prisão. Assim, verificamos claramente que a profissionalização dos apenados 
perdeu sua razão de ser, ao passo que as demandas se repetem para que 
os prisioneiros permaneçam, pura e simplesmente, mais tempo presos, não 
para serem transformados positivamente nesse período, mas controlados no 
tempo em que a pena durar. 
Em todo caso, os questionamentos sobre o alcance das leis sobre os 
adolescentes não devem se restringir aos juristas, devendo ser exercício de 
cidadania de todo brasileiro e especificamente dos profissionais que traba-
lham com este público.
Alguns caminhos vêm se revelando mais receptivos à diferença, e 
veremos, a seguir, a formação do paradigma da Justiça Restaurativa no Brasil 
e como esse modelo pode nos apontar diretrizes que compatibilizem o prin-
cípio da Proteção Integral e a aplicação das medidas socioeducativas.
do olhar penal ao adolescente em conflito com a lei, mesmo em contradição com o texto constitucional.
Érika Piedade da Silva Santos
64
Justiça Restaurativa no Brasil: o ECA e a responsabilização do 
adolescente em conflito com a lei 
O Brasil vem assistindo, desde 2003, à consolidação de três experiên-
cias pioneiras de práticas restaurativas, através da parceria estabelecida entre 
o Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvol-
vimento (PNUD) (SLAKMON, VITTO e PINTO, 2005). A proposta do 
projeto “Promovendo Práticas Restaurativas no Sistema de Justiça Brasi-
leiro” é participar da constituição do processo restaurativo como meio alter-
nativo à resolução de conflitos no país. 
A iniciativa brasileira encontra amparo nas Resoluções promulgadas 
pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas 
(26/1999; 14/2000 e 12/2002), que estabelecem princípios para construção 
de programas restaurativos no âmbito da Justiça Criminal, bem como na 
Declaração sobre os Princípios Básicos de Justiça para Vítimas de Crimes 
e Abusos de Poder, produzida pelo ONU em 1985, que apresenta de forma 
inédita a ideia de que a atenção e cuidado com a vítima também sejam parte 
das políticas criminais.
Nas Resoluções mencionadas, a ONU apresenta uma base ampla 
de princípios, procedimentos e resultados que definem o que se espera das 
práticas restaurativas, mas sem limitar as possibilidades de experimentação 
e constituição de processos díspares em função das diversidades regionais e 
culturais. Assim, merecem destaque as várias modalidades de aplicação dos 
processos restaurativos em países como a Argentina, Colômbia, África do 
Sul, Nova Zelândia, Austrália, Canadá e Estados Unidos.
Atualmente, estão em curso no Brasil os projetos-piloto de São 
Caetanodo Sul, Brasília e Porto Alegre (PINTO, 2005). Dentre estes, dois 
especificamente abordam dinâmicas envolvendo adolescentes em conflito 
com a lei: São Caetano do Sul e Porto Alegre. Apesar de tratarem da mesma 
população-alvo, os projetos de São Caetano do Sul e de Porto Alegre são 
substancialmente diferentes entre si, não obedecendo a um único modelo. 
Na primeira cidade, as intervenções acontecem nas escolas da rede 
municipal de ensino e consistem basicamente na formação de círculos 
restaurativos em que se fazem presentes adolescentes envolvidos em 
conflitos no ambiente escolar (ofensores e vítimas), um facilitador, uma 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
65
liderança pedagógica, conselheiros tutelares e familiares dos adolescentes 
envolvidos. Apesar do apoio prestado pela Vara da Infância e Juventude 
local, os encontros e procedimentos ocorrem fora do espaço do Fórum, 
priorizando-se o ativismo comunitário.
Em Porto Alegre, todavia, o foco é distinto, pois as práticas restaura-
tivas acontecem no interior da Vara de Infância e Juventude, com a presença 
de facilitadores (normalmente membros das equipes técnicas interprofissio-
nais do Juízo, ou seja, psicólogos e assistentes sociais), adolescentes (autores) 
que já tenham processo de ato infracional instaurado naquele juízo, as 
vítimas dos atos praticados e familiares de ambas as partes. O procedimento 
apresenta consequentemente cunho judiciário, embora seja protagonizado 
por todos os interessados no deslinde do conflito.
Em ambos os projetos, os resultados são muito positivos, indicando 
que a reincidência é praticamente inexistente e que o nível de satisfação 
das pessoas envolvidas é bastante elevado: ao término dos círculos ou 
reuniões restaurativas, os participantes vêm expressando que se sentiram 
atendidos em suas necessidades, entendendo que alcançaram a solução mais 
justa e viável para todos. Para que isso ocorra, parece fundamental que o 
ofensor possa encontrar apoio no grupo, conseguindo ressignificar seus atos, 
compreendendo-os do ponto de vista da vítima e reorientando seus posicio-
namentos; igualmente essencial é que a vítima também se sinta amparada 
e acolhida, de forma a poder expressar seus sentimentos e elaborar suas 
vivências traumáticas.
O paradigma da Justiça Restaurativa é bastante oportuno na 
formação de uma nova cultura jurídica e social mais comprometida com o 
que ECA preconiza há quase vinte anos. Na ênfase da responsabilização, da 
participação ativa e do protagonismo juvenil, detectamos valiosos instru-
mentos para consecução das metas almejadas pela lei especial, ou seja, a 
reeducação, a ressocialização e a ressignificação pelo adolescente dos atos 
que vier a cometer.
Além disso, a Justiça Restaurativa conclama toda a sociedade a se 
coresponsabilizar por construir uma realidade mais digna e mais justa, na 
acepção mais abrangente do que seja justiça social.
Érika Piedade da Silva Santos
66
Psicologia e Direito: Desafios do Presente
Em 1992, na então recém-criada Vara para atendimento exclusivo 
de adolescentes em conflito com a lei (a 2ª Vara da Infância e Juventude, 
sob titularidade do MM Juiz Siro Darlan), foi criado o primeiro Núcleo 
de Psicólogos atuantes no Tribunal de Justiça do Estado, através do desvio 
de função de profissionais concursados para outros cargos. O Núcleo se 
manteve até fevereiro de 1999 e foi politicamente atuante, inclusive inter-
pondo-se tecnicamente à naturalização de algumas dinâmicas institucionais 
para o adolescente em conflito com a lei.
Em 1998, no Rio de Janeiro, foi realizado o primeiro concurso de 
psicólogos para o Tribunal de Justiça do Estado, sendo os primeiros profis-
sionais “psi” convocados, em fevereiro de 1999, para atuarem em Varas de 
Família; de Infância e Juventude e na Vara de Execuções Penais. A entrada 
dos psicólogos concursados no sistema foi atravessada por peculiaridades das 
Varas de Justiça em que foram lotados, caracterizando-se o início das ativi-
dades pela existência, ou não, de alianças com as assistentes sociais, com os 
funcionários dos cartórios, com a rede de recursos existentes e, também, com 
os juízes. Tão logo ocorreu a inserção dos primeiros psicólogos, delinearam-
se diversas demandas a este grupo profissional, principalmente a elaboração 
de laudos periciais anteriores ao momento das audiências judiciais, de modo 
a melhor embasar a decisão do magistrado. Além disso, solicitações de 
acompanhamentos posteriores às audiências e encaminhamentos para a rede 
também se tornaram reiteradas.
Desde então, uma série de questionamentos sobre os alcances e limites 
éticos que atravessam as práticas psicológicas vem se constituindo, o que se 
torna nítido nos diversos encontros promovidos pela categoria em todo o 
Estado, ocasiões em que se discutiu desde a importância da devolução das 
entrevistas aos sujeitos atendidos (inclusive quando em conflito com a lei), 
a problematização sobre o que um laudo deve conter (preservando o sigilo 
sobre temas e questões que não tenham relação com o processo) e, ainda, 
sobre a implicação dos sujeitos nos processos em que estão envolvidos.
Efetivamente, reconhecer que uma das principais contribuições do 
psicólogo consista em resgatar a autoria dos envolvidos na dinâmica proces-
sual é assunto exaustivamente explorado por psicólogos que atuam nas Varas 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
67
de jurisdição voluntária. Mas o que dizer sobre a possibilidade de as pessoas 
participarem de processos de jurisdição não voluntária – quando o Estado 
inicia a ação, como é o caso dos processos de atos infracionais praticados por 
adolescentes – e se tornarem sujeitos nessas situações, podendo transformar 
o processo judicial em um instrumento de afirmação e potência subjetivas? 
Para tanto, o reconhecimento do potencial político da psicologia é essencial 
para pôr em marcha algumas práticas que apontam para a resolução desse 
impasse, tais como: cursos de sensibilização dos cartorários e funcionários 
das instituições que trabalham com Varas de Infância e Juventude diante da 
mudança de paradigma trazida pelo ECA; formação de alianças e de práticas 
alternativas ao projeto penal-represssivo, como a Justiça Restaurativa; além 
da própria utilização do laudo como instrumento político de marcação de 
singularidade e afirmação da diferença.
Sobre esse último aspecto, e sem qualquer pretensão de construir 
modelos, partilhamos uma interessante experiência sobre a qual foi deman-
dada a confecção de um laudo psicológico há alguns anos. Foi solicitado 
que produzíssemos um estudo psicológico sobre o adolescente Antônio15, 
13 anos, com vistas à sua transferência para uma unidade de semiliberdade.
O adolescente ficou abrigado desde os sete meses, permanecendo na 
primeira instituição asilar que funcionava sob regime de casa lar até os 9 anos, 
sendo depois transferido para outras três instituições, dada a dificuldade de 
vagas para meninos em sua cidade natal. Apesar do abandono familiar que 
vivenciou desde bebê, o processo de Destituição de Poder Familiar só foi 
proposto quando a criança já estava com 9 anos, o que dificultou sua colo-
cação em família adotiva, tendo sido realizada uma única e fracassada tenta-
tiva de adoção, aos 12 anos. Antônio já havia retornado há sete meses para o 
abrigo quando fugiu da instituição, sendo encontrado na estrada rodoviária 
que circundava o município. Ao ser encaminhado para o Conselho Tutelar, 
Antônio disse que se chamava João, que se perdera de sua família, que era 
muito feliz com seus pais e que desejava reencontrá-los.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, a direção do abrigo solicitou que 
o adolescente fosse transferido para uma “instituição para menores infra-
tores”, posto que havia cometido “crime de falso testemunho”e que já teriam 
tido problemas com Antônio anteriormente, já que o jovem teria solicitado 
15 Os nomes das pessoas foram trocados com o objetivo de preservação das identidades.
Érika Piedade da Silva Santos
68
uma camisa de presente de aniversário e depois a teria “destruído”, levando-a 
para o colégio, onde a roupa foi assinada por todos de sua classe. Essa decisão 
foi ratificada pelo parecer da equipe técnica.
O pedido de elaboração do estudo à equipe técnica do Juizado procu-
rava manter um olhar punitivo que se dirigia sobre o menino e não construía 
uma relação com o mesmo. Na elaboração do texto, procuramos destacar o 
quanto Antônio era invisível na instituição em que estava há quase um ano 
e que não conseguia dimensioná-lo em sua complexidade, atentando para 
alguns de seus comportamentos e ignorando outros.
Assim, o desejo de uma outra história (tal como a que contou 
para o conselheiro tutelar) e a vontade de tornar seu um objeto que lhe 
foi dado (tal como fez com a camisa que lhe deram) eram condutas iden-
tificadas negativamente pelo abrigo, tomadas como comportamentos 
destrutivos e até “criminosos”.
Anteriormente ao laudo e à posterior devolução verbal que fizemos, 
o abrigo não questionara a responsabilidade do Estado na longa institu-
cionalização daquele adolescente e, principalmente, no que o próprio 
Antônio pensava sobre tudo aquilo. Na intervenção, procuramos desmontar 
a produção do perfil delituoso que estava sendo imputado ao adolescente, 
implicando o abrigo nesse processo e demarcando a escolha de lentes que 
montaram um olhar de desconfiança e culpa sobre aquele jovem. 
Concluindo de forma não conclusiva
A ciência é formada por repetições, padrões e assujeitamentos e o 
discurso psicológico há muito oscila entre a sedução do cientificismo e a 
assunção de posicionamentos mais críticos e políticos no mundo. Proble-
matizar as articulações entre as aspirações científicas no discurso psicoló-
gico e a trajetória das práticas, que historicamente vem sendo constituídas 
pela psicologia frente à infância e juventude brasileiras, foi o propósito do 
presente texto.
No atendimento às demandas da instituição judiciária, há sempre o 
risco de ratificarmos o entendimento estereotipado de um certo discurso 
jurídico sobre as pessoas que são as “partes” nos processos, impondo a elas 
os efeitos do saber psicológico, sem que efetivamente atuemos na defesa da 
subjetividade e da singularidade. Atentos às filigranas no processo avaliativo 
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
69
dos indivíduos, escapa-nos justamente que, na repetição da relação de poder, 
“objetalizamos” os sujeitos que supostamente deveríamos acolher e escutar.
Como perpetuadores de uma visão (clássica) da psicologia, consi-
deramos muitas vezes que a qualidade da prática psicológica depende da 
capacidade de estabelecer diagnósticos através do recurso a técnicas formais. 
Nessa concepção, o psicólogo trabalha acriticamente diante da positividade 
da lei, distante e inatingível, que não deve ser questionada ou sequer conhe-
cida, não sendo parte do conhecimento “psi”16.
Consideramos fundamental atentarmos para a importância e urgência 
do questionamento ético-político das nossas práticas, o que implica inclusive 
o conhecimento da lei e de sua efetividade na sociedade. Além disso, já é hora 
de refletirmos sobre as crescentes demandas que são lançadas aos psicólogos 
do Judiciário em todo o país, pois entendemos que a instituição judiciária é 
palco de várias relações de poder, sendo evidente que o discurso psicológico 
forçosamente expressa posições diante das relações que ali se constelam, seja 
ratificando o instituído e docilizando os corpos na malha judiciária17, seja 
colocando-se a favor, consoante as palavras de Basaglia, da “positivação e 
politização da criatividade [como] estratégias de enfrentamento ao silêncio 
e à indiferença” (BAPTISTA, 1999: 117). 
Será possível construirmos uma realidade de práticas de liberdade e 
não de assujeitamento dentro da instituição Judiciária, ou nos amansaremos 
através de constructos assépticos que constroem a “patologia do adolescente”, 
a “imaturidade parental” ou a “repetição de padrões familiares”? 
Na indagação preciosa de Mello, 
...será possível olhar as pessoas, sentir o cheiro das gentes, molhar-
se com as águas da pobreza das ruas e ainda assim estar falando de 
psicologia? (...) Podemos, num ato voluntário de reconhecimento, 
aproximarmo-nos da humanidade que procura se furtar aos olhares 
carregados de desprezo e ou indiferença? (MELLO, 1999: 10)
16 A criminologia crítica, desde a década de 1970, alerta sobre a seletividade do sistema penal, que torna 
criminosas algumas condutas, enquanto naturaliza outras. Coimbra e Ayres tecem interessante análise 
sobre o papel que a criminalização da pobreza desempenhou na separação entre crianças e seus respon-
sáveis no Brasil recente. Embora desde o advento da Constituição Federal de 1988 a miséria não possa 
mais ser elencada como razão para ruptura de laços familiares, a culpabilização dos núcleos familiares mais 
pobres continua agora sob a chancela da “violência doméstica” e da “negligência” (COIMBRA e AYRES, 2009).
17 Recordamo-nos nesse momento das palavras de Ramos e Shaine que, na apresentação do trabalho do 
psicólogo em São Paulo, referem-se à ideia de que é demandado ao psicólogo que “cozinhe” os conflitos, 
demarcando que, na acomodação dos primeiros psicólogos no Fórum de São Paulo, os locais escolhidos 
foram a cozinha e a copa (RAMOS e SHAINE, 1994).
Érika Piedade da Silva Santos
70
Acreditando que é possível a militância no espaço público e o estra-
nhamento à indiferença e apatia dominantes, implicamo-nos na construção 
de um presente e um futuro em que a atenção à singularidade seja o norte-
ador do trabalho diante de crianças, adolescentes e suas famílias, pois apos-
tamos no encontro, como no dizer do poeta: 
Estou preso à vida e olho meus companheiros, 
estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Carlos Drummond de Andrade, Mãos Dadas.
Bibliografia
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara-
Koogan, 1981. 
ARANTES, Esther Maria de Magalhães. Envolvimento de adolescentes com o uso 
e tráfico de drogas no Rio de Janeiro. In: BRITO, Leila Maria Torraca. Jovens em 
conflito com a lei. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2000.
__________. Estatuto da Criança e do Adolescente: treze anos depois. In: Radicali-
zação democrática – Revista do MMFD. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
AYRES, Lygia Santa Maria. Os especialistas e a instituição adoção no contexto das 
políticas públicas de proteção à criança e ao adolescente. In: JACÓ-VILELA, 
Ana Maria; JABUR, Fábio e CONDE RODRIGUES, Heliana de Barros. Clio-
psyché ontem. Fazeres e dizeres psi na história no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 2001, p. 249-253.
BAPTISTA, Luís Antônio. A cidade dos sábios. São Paulo: Summus, 1999.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal. Rio de Janeiro: 
Freitas Bastos, 1999.
__________. Prefácio. In: BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: drogas e 
juventude pobre no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Crimino-
logia & Freitas Bastos, 1998, p. 12.
BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de 
Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia & Freitas Bastos, 1998.
__________. O medo na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
Desconstruindo a menoridade: a psicologia e a produção da categoria menor
71
BAZÍLIO, Luiz Cavalieri. O menor e a ideologia de segurança nacional. Belo Hori-
zonte: Vega-Novo Espaço, 1985.
BRASIL. Lei 6697/1979 (Código de Menores). Disponível em http://www.glin.
gov/download.action?fulltextId=12021&documentId=10802&glinID=10802.Acesso em 24/09/2009.
BRITO, Leila Maria Torraca. Se-pa-ran-do: um estudo sobre a atuação do psicólogo nas 
varas de família. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.
__________. Temas de Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1999.
BULCÃO, Irene. A produção de infâncias desiguais: uma viagem na gênese dos 
conceitos “criança” e “menor”. In: NASCIMENTO, Maria Lívia. Pivetes. A 
produção de infâncias desiguais. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 2002, p. 61-73.
CASTRO, Edgardo. Vocabulário de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
COIMBRA, Cecília Maria Bouças. Potentes misturas, estranhas poeiras: desassos-
segos de uma pesquisa. In: NASCIMENTO, Maria Lívia. Pivetes. A produção 
de infâncias desiguais. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 2002, p. 34-51.
COIMBRA, Cecília Maria Bouças e NASCIMENTO, Maria Lívia. Jovens pobres: 
o mito da periculosidade. In: Jovens em tempo real. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. 
COIMBRA, Cecília Maria Bouças e AYRES, Lígia Santa Maria. Da moralidade 
e situação irregular à violência doméstica: discursos da (in)competência. In: 
COIMBRA, Cecília Maria Bouças; AYRES, Lygia Santa Maria e NASCI-
MENTO, Maria Lívia. Pivetes: encontros entre a Psicologia e o Judiciário. Curitiba: 
Juruá, 2009.
CURY, Munir; SILVA, Antônio Fernando do Amaral e MENDEZ, Emílio Garcia. 
Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. São Paulo: Malheiros Ed., 1996.
DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a genealogia e a história. In: Ditos e escritos II. Rio 
de Janeiro: Forense Universitária, 2000, p. 260-281.
__________. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 
__________. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU Ed., 2003a.
__________. Estratégia, poder-saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003b.
__________. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005a.
__________. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2005b.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala em quadrinhos. Adaptação PINTO, Estevão. 
Rio de Janeiro: Letras e Expressões, 2000.
GOMES NETO, Gercino Gérson; RUIZ DIAZ, Gustavo Mereles. Proposta da 
Lei de Diretrizes Sócio-Educativas. Redução da idade penal para doze anos. 
Disponível em http://www.mp.rn.gov.br/caops/caopij/doutrina/doutrina_dire-
trizes_socio_educativas.pdf. Acesso em 25/04/2010.
Érika Piedade da Silva Santos
72
LOBO, Lília Ferreira. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio 
de Janeiro: Lamparina, 2008.
MELLO, Sylvia Leser. Apresentação. In: BAPTISTA, Luís Antônio. A cidade dos 
sábios. São Paulo: Summus, 1999.
NUNES, Sílvia Alexim. Da medicina social à Psicanálise. In: BIRMAN, Joel. Percursos 
da história da Psicanálise. Rio de Janeiro: Taurus, 1992.
OLIVEIRA, Leila. O laboratório de biologia infantil: discurso científico e assistência 
no Juízo de Menores. In: JACÓ-VILELA, Ana Maria; CEREZZO, Antônio 
Carlos, RODRIGUES, Heliana de Barros Conde. Clio-Psyché – ontem / fazeres e 
dizeres psi na história do Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001, p. 237-242. 
PINTO, Renato Sócrates Gomes. A construção da Justiça Restaurativa no Brasil, o 
impacto no sistema de Justiça criminal. Disponível em http://jus2.uol.com.br/
doutrina/texto.asp?id=9878 . Acesso em 15/11/2009.
POLASTRI, Marcellus. Manual de Processo Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2009.
POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 2002. 
PRIORE, Mary Del. O cotidiano da criança livre no Brasil entre a Colônia e o 
Império. In: PRIORE, Mary Del. História das crianças no Brasil. São Paulo: 
Contexto, 2000: 84-106.
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar – Brasil 1890-1930. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
RAMOS, Magdalena e SHAINE, Sidney. A família em litígio. In: RAMOS, Magda-
lena (org.) Casal e família como paciente. São Paulo: Escuta, 1994, p. 98-99.
RIZZINI, Irene e RIZZINI, Irma. A institucionalização de crianças no Brasil. São 
Paulo: Loyola, 2004.
RIZZINI, Irene e PILOTTI, Francisco. A arte de governar crianças. São Paulo: 
Cortez, 2009.
SANTOS, Juarez Cirino. O adolescente infrator e os direitos humanos. In: Discursos 
sediciosos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, nº 9/10, 1º semestre de 2000a, p. 169-179.
SANTOS, Marco Antônio. Criança e criminalidade no início do século. In: PRIORE, 
Mary Del. História das crianças no Brasil. SP: Contexto, 2000b, p. 210-230.
SENNETT, Richard. O declínio do homem público. As tiranias da intimidade. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1999.
SLAKMON, Catherine; VITTO, Renato Campos Pinto de e PINTO, Renato 
Sócrates Gomes. Justiça Restaurativa. Brasília: Ministério da Justiça e Programa 
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005.
VIRILIO, Paul. Velocidade e política. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

Continue navegando