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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS - FACIC Parte I – Abordagem GECON Prof. Ernando Reis. Uberlândia [MG] 2014 FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS - FACIC Disciplina: Controladoria – Professor Ernando Reis. - PLANO DE CURSO - EMENTA Introdução; Abordagem GECON; Teoria das Restrições (TOC); Controladoria e Valor da Empresa: Gestão Baseada em Valor (VBM); Balanced Scorecard (BSC). CONTEÚDO 1. Introdução à Controladoria 2. Abordagem GECON 2.0. Principais Fundamentos 2.1. Capitalização 2.2. Investimento em Ativo Permanente 2.3. Compra de Materiais 2.4. Produção 2.5. Venda de Produtos 2.6. O Tratamento dos Gastos Fixos 2.7. Aplicações e Captações Financeiras 2.8. Evento Tempo-Conjuntural 2.9. Venda do Imobilizado 2.10. Avaliação de Desempenho 3. Teoria das Restrições (TOC) 3.1. Principais Fundamentos 3.2. Processo de Otimização Contínua 3.3. Exemplos e Aplicações 4. Controladoria e Valor da Empresa: Gestão Baseada em Valor (VBM) 4.1. Principais Fundamentos 4.2.Exemplos e Aplicações 5. Balanced Scorecard (BSC) 5.1. Principais Fundamentos 5.2. Construção e Uso do BSC OBJETIVOS Condicionar um processo de reflexão sobre o papel da CONTROLADORIA, sendo esta focalizada sob o prisma de FUNÇÃO ORGANIZACIONAL e também enquanto RAMO DO CONHECIMENTO. Neste contexto, propõe-se, com a disciplina, apresentar e discutir os mais recentes conceitos e modelos gerenciais desenvolvidos para o apoio ao processo decisório das organizações contemporâneas. METODOLOGIA Acompanhamento da bibliografia por parte dos discentes; exposição dos temas pelo professor; desenvolvimento de exercícios e estudos de casos. AVALIAÇÃO Instrumento Forma Valor � 01 Trabalho Grupo 10 pontos � 03 Avaliações Individual 30 ponto/cada BIBLIOGRAFIA CATELLI, A. (Coord.). Controladoria: uma abordagem da gestão econômica - GECON, 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. FIGUEIREDO, S. & CAGGIANO, P. C. Controladoria: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 1993. GOLDRATT, E. M. A síndrome do palheiro: garimpando informação num oceano de dados. São Paulo: Educator, 1992. GOLDRATT, E. M. & COX, J. A meta. 17. ed. São Paulo: Educator, 1994. GUERREIRO, R. A meta da empresa: seu alcance sem mistérios. São Paulo: Atlas, 1996. KAPLAN, R. S. & NORTON D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. PELEIAS, I. R. Controladoria: gestão eficaz utilizando padrões. São Paulo: Saraiva, 2002. RAPPAPORT, A. Gerando valor para o acionista: um guia para administradores e investidores. São Paulo: Atlas, 2001. SANTOS, R. V. Controladoria: Uma Introdução ao Sistema de Gestão Econômica. São Paulo: Saraiva, 2005. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 3 AULA DATA ATIVIDADE RESPONSÁVEL 1 14-abr SEG Apresentação do Plano de Curso Ernando Reis 2 16-abr QUA 1.0. Introdução à Controladoria Ernando Reis 3 21-abr SEG Recesso UFU 4 23-abr QUA 2.0. Abordagem GECON: Principais Fundamentos Ernando Reis 5 28-abr SEG 2.1. Capitalização Ernando Reis 6 30-abr QUA 2.2. Investimento em Ativo Permanente Ernando Reis 7 5-mai SEG 2.2. Investimento em Ativo Permanente Ernando Reis 8 7-mai QUA Exercícios 2.01 e 2.02 Alunos 9 12-mai SEG 2.3. Compra de Materiais Ernando Reis 10 14-mai QUA Exercícios 2.03 e 2.04 Alunos 11 19-mai SEG 2.4. Produção Ernando Reis 12 21-mai QUA Exercícios 2.05 e 2.06 Alunos 13 26-mai SEG Estudo de Caso - Parte I - Apresentação Ernando 14 28-mai QUA Estudo de Caso - Parte I - Seminários (Cap+Inv+Mat) Grupos I e II 15 2-jun SEG Estudo de Caso - Parte I - Seminários (Produção) Grupos III 16 4-jun QUA 2.5. Venda de Produtos Ernando Reis 17 9-jun SEG 1ª Avaliação Individual - [até Evento Produção] Alunos 18 11-jun QUA 2.5. Venda de Produtos Ernando Reis 19 16-jun SEG Exercícios 2.07 e 2.08 Alunos 20 18-jun QUA 2.6. Gastos Fixos Ernando Reis 21 23-jun SEG Recesso UFU 22 25-jun QUA 2.7. Aplicações e Captações Financeiras Ernando Reis 23 30-jun SEG 2.8. Evento Tempo-Conjuntural Ernando Reis 24 2-jul QUA 2.8. Evento Tempo-Conjuntural Ernando Reis 25 7-jul SEG Exercícios 2.09 e 2.10 Alunos 26 9-jul QUA 2.10. Mensuração e Avaliação de Desempenho Ernando Reis 27 14-jul SEG Exercício 2.11 Alunos 28 16-jul QUA Recesso UFU 29 21-jul SEG Estudo de Caso - Parte II - Seminários (Venda+GF+ACF+TC1) Grupos IV e V 30 23-jul QUA Estudo de Caso - Seminários (TC2+AD) Grupos VI e VII 31 28-jul SEG 3.1. TOC - Teoria das Restrições - Introdução Ernando Reis 32 30-jul QUA 2ª Avaliação Individual - [até Av. Desempenho] Alunos 33 4-ago SEG 3.1. TOC - Teoria das Restrições - Exemplos e Aplicações Ernando Reis 34 6-ago QUA 3.2. VBM - Gestão Baseada no Valor Ernando Reis 35 11-ago SEG 3.2. VBM - Gestão Baseada no Valor Ernando Reis 36 13-ago QUA 3.3. BSC - Balanced Scorecard Ernando Reis 37 18-ago SEG 3.3. BSC - Balanced Scorecard Ernando Reis 38 20-ago QUA Estudo de Caso - Parte III - Seminários (TOC + VBM) Grupos VIII e IX 39 25-ago SEG 3ª Avaliação Individual - [TOC + VBM + BSC] Alunos 40 27-ago QUA Vista da 3ª Avaliação Alunos Controladoria: Cronograma de Atividades - 1º Semestre de 2014 -Integral P ro f . Ernando A nto nio R eis FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 4 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 5 1.1. VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA E MISSÃO ............................................................................................................ 5 1.2. A EFICÁCIA DA EMPRESA E O RESULTADO ECONÔMICO .................................................................................. 7 1.3. O PROBLEMA DO RECONHECIMENTO CONTÁBIL DO LUCRO ............................................................................ 8 1.3.1. As Relações Sociais e o Ambiente Econômico ........................................................................... 8 1.3.2. O papel da Contabilidade .............................................................................................................. 9 1.3.3. O Conceito de Lucro .................................................................................................................... 10 1.4. O PROCESSO DE OBTENÇÃO DA EFICÁCIA/RESULTADO ................................................................................ 13 1.4.1. Gestão e Modelo de Gestão ........................................................................................................ 14 1.4.2. Processo de Gestão ...................................................................................................................... 16 1.4.3. O Processo Decisório e a Necessidade de Informação ........................................................... 16 1.5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 17 2. A CONTROLADORIA SOB A PERSPECTIVA DA ABORDAGEM GECON .....................................18 2.1. INFORMAÇÃO SOB MEDIDA PARA OS GESTORES INTERNOS ..................................................................................... 18 2.2. CONTROLADORIA: DEFINIÇÃO, MISSÃO E OBJETIVOS .............................................................................................19 2.2.1. Ramo do conhecimento versus unidade administrativa ......................................................... 19 2.2.2. Missão e objetivos ........................................................................................................................ 19 2.3. A ABORDAGEM GECON .................................................................................................................................. 20 2.4. MENSURAÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO E DO VALOR DA EMPRESA ..................................................................... 21 2.4.1. Integralização do capital ..................................................................................................................... 21 2.4.2. Investimento em ativos permanentes ................................................................................................. 22 2.4.3. Compra de materiais ........................................................................................................................... 24 2.4.4. Produção ............................................................................................................................................. 27 2.4.5. Venda de produtos .............................................................................................................................. 29 2.4.6. O tratamento dos gastos fixos ............................................................................................................ 31 2.4.7. Aplicações e captações financeiras ..................................................................................................... 32 2.4.8. Evento tempo-conjuntural ................................................................................................................... 33 2.4.9. Venda do imobilizado .......................................................................................................................... 40 2.4.10. Mensuração de desempenho ......................................................................................................... 40 2.4.11. Valor da empresa ........................................................................................................................... 42 2.4.12. Considerações finais ....................................................................................................................... 42 2.4.13. Referências bibliográficas ............................................................................................................... 42 2.4.14. Exercícios ........................................................................................................................................ 44 2.4.15. Estudo de Caso ............................................................................................................................... 47 FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 5 1. Introdução 1.1. Visão Sistêmica da Empresa e Missão O processo de transformação de recursos em produtos e/ou serviços, de reconhecida importância para a sobrevivência do homem em sociedade, é mais eficaz quando realizado no âmbito da empresa, do que através da ação individual dos seres humanos. A empresa, por sua vez, pode ser visualizada como um sistema. Sob o ponto de vista sistêmico, a empresa é constituída de partes denominadas subsistemas. Para Catelli (2001, p. 55-56), o sistema empresa apresenta, formal ou informalmente, seis componentes ou subsistemas fundamentais que, de forma resumida, assim se caracterizam: a) Subsistema institucional: formado por um conjunto de crenças, valores e expectativas dos proprietários da empresa que orientam os demais subsistemas e norteiam o comportamento de todos os gestores; b) Subsistema físico-operacional: compreende todo o aparato material existente na empresa, tais como instalações, imóveis, máquinas, veículos, estoques etc; c) Subsistema social: refere-se ao conjunto de pessoas componentes da empresa e seus diversos aspectos comportamentais envolvidos, tais como: necessidades individuais, criatividade, motivação, treinamento etc; d) Subsistema organizacional: refere-se à forma pela qual a empresa está organizada em termos de agrupamento das atividades em departamentos, de estrutura (vertical ou horizontal) utilizada, de amplitude administrativa, de grau de delegação, de poder, e de atribuição de autoridades/responsabilidades. e) Subsistema de gestão: refere-se à forma pela qual o empreendimento deve ser conduzido pelos gestores em direção à missão da empresa e envolve planejamento, execução e controle; f) Subsistema de informação: constitui-se no sistema capaz de interligar-se com todos os demais subsistemas, através do recebimento, processamento e geração de informações. Como todo sistema, a empresa tem objetivos que justificam a sua existência. Afinal, a empresa tornou-se uma instituição viável, em função de sua capacidade de potencializar a satisfação de necessidades humanas que, de outra forma, na condição de ser individual e isolado, o homem não lograria êxito. Neste sentido, o objetivo maior do sistema empresa, apresentado em vasta literatura, sob a denominação de missão, constitui-se na satisfação de alguma necessidade humana; essa é a razão da existência da empresa e, o seu êxito depende de sua capacidade de bem realizar o seu papel. Segundo Stoner (1985, p. 70), A missão de uma organização é a finalidade peculiar que diferencia a organização de outras de seu tipo (...) cada organização escolhe sua própria missão que lhe é peculiar e que pode ser descrita em termos do produto e mercado - ou do serviço e do cliente atendido. O sucesso empresarial depende, fundamentalmente, do processo de cumprimento da missão que, envolve a captação de recursos, a transformação dos mesmos em produtos FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 6 e/ou serviços e a respectiva transferência destes últimos para o mercado, por intermédio da venda. A empresa se relaciona dinamicamente com o ambiente, captando recursos e devolvendo bens e/ou serviços processados e, nesse contexto, a correta percepção acerca da dimensão da responsabilidade social da empresa requer a consideração de uma questão essencial, qual seja: o problema da escassez. Os bens e os serviços processados pela empresa, denominados produtos, são decorrentes da transformação de outros bens e serviços, denominados recursos econômicos, encontráveis no mercado em quantidade limitada. Por outro lado, as necessidades humanas são ilimitadas, ou seja, não há um estoque máximo de bens e serviços processados capaz de esgotar ou saciar todas as necessidades e/ou desejos sociais. Parece ocorrer justamente o inverso, isto é, sem entrar no mérito da discussão sobre as condições criadoras das necessidades humanas, percebe-se de modo permanente o seu crescimento exponencial. Em conseqüência das condições apresentadas, a escassez de recursos, de um lado, e as necessidades ilimitadas, de outro, emerge a figura da concorrência, tanto no mercado de recursos, como no de produtos. No mercado de recursos, a possibilidade de que os mesmos bens e/ou serviços sejam combinados, de formas alternativas, para o processamento dos vários produtos, e a sua condição de escassez, garantem as bases para o exercício da competição entre diversos agentes (empresas) preocupados em garantir seu domínio sobre uma parcela dos recursos existentes, a fim de cumprir sua missão. No mercado de produtos, a competição se apresenta em decorrência, primeiramente, da existência de necessidades humanas ilimitadas e, também, da condição de liberdade econômica em que se encontram os agentes no mercado. Ou seja, se por um lado, há um grande número de potenciais consumidores, por outro, qualquer indivíduo, de forma isolada ou conjunta, pode tomar a iniciativade atendê-lo, e, não havendo regulamentação imposta e nem um plano central, características de uma economia liberal, muitos agentes tendem a atender as mesmas necessidades, geralmente, aquelas que lhes parecem mais atrativas. Evidencia-se, neste âmbito, uma nova condição de concorrência, pois a quantidade de produtos é limitada pela escassez de recursos. O cumprimento da missão empresarial apresenta-se, portanto, revestido de um caráter nobre, pois, ao procurar oferecer produtos, para a satisfação das necessidades humanas ilimitadas, há que se proceder da melhor maneira possível, ou seja, buscando a melhor combinação para os recursos. Essa é uma imposição da dupla concorrência que caracteriza a atuação da empresa. A captação de recursos deve estar amparada por uma combinação ótima, pois, a combinação alternativa desprezada representa um custo de oportunidade para a alternativa eleita. Os produtos decorrentes da combinação dos recursos devem ser preferíveis àqueles preteridos, e a constatação dessa verdade é verificada exatamente no mercado. É ele que, em última instância, vai eleger entre os que ofertam os mesmos produtos, ou que visam satisfazer as mesmas necessidades, aquele(s) que melhor atende(m) às expectativas sociais. Se a empresa existe para cumprir sua missão, ela deve, em primeiro lugar, manter-se viva, isto é, somente na perenidade de suas atividades é que pode satisfazer FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 7 continuamente as necessidades sociais. Para cumprir sua missão, sendo contínua, a empresa deve, necessariamente, estar em consonância com os parâmetros que emanam do ambiente em que ela se insere como sistema, causando impacto e recebendo, ao mesmo tempo, os impactos de variáveis ambientais diversas, que incluem forças sociais, econômicas, políticas, tecnológicas entre outras. O complexo processo que permeia o sublime esforço de cumprimento da missão é caracterizado pela necessidade de alcance do êxito empresarial, pois, somente quem apresentar postura otimizadora, na combinação de recursos, tem o reconhecimento e aprovação do mercado. Qualquer empresa, preocupada com seu futuro, deve acompanhar, regularmente, o seu grau de aderência ao êxito. Com esse intento, muitas empresas acreditam que o simples fato de estarem vivas evidencia uma condição de êxito, embora, no longo prazo, isso pode não ser verdade. Tais empresas podem estar caminhando em direção ao fracasso e, por não disporem de um melhor termômetro para medir sua condição atual, mostram-se incapazes de perceberem o seu destino. Tão importante quanto alcançar o êxito empresarial, é ter conhecimento dele e saber medi-lo, através do que Churchman (1972, p. 68) denominou de medida de rendimento do sistema. A empresa é um sistema que procura realizar certos objetivos e, consequentemente, necessita de alguma medida de rendimento ou, mais especificamente, de uma medida do êxito empresarial. 1.2. A Eficácia da Empresa e o Resultado Econômico Catelli & Guerreiro (1994, p. 4) enfocam a eficácia empresarial “(...) como a competência da empresa em ter continuidade em um ambiente dinâmico e cumprir a sua missão”. A garantia da continuidade da empresa passa, necessariamente, pela renovação contínua do processo de combinação de recursos e geração de produtos, ou seja, a empresa é eficaz quando esse processo é continuamente validado pelo mercado. Os fatores que, se satisfeitos, contribuem para a eficácia empresarial, de acordo com aqueles estudiosos, são: a) produtividade: envolve a otimização de volumes de bens e serviços demandados, tendo em vista uma determinada capacidade instalada; b) eficiência: envolve o consumo ótimo de recursos, considerando os volumes de produção de bens e serviços demandados pelo mercado; c) satisfação dos agentes envolvidos na cadeia de relacionamentos: abrange o atendimento das necessidades das pessoas com as quais a empresa se relaciona, tais como: clientes, fornecedores, governo, entre outros, em termos de qualidade, preço, prazo, pagamento de impostos etc.; d) adaptabilidade: envolve a capacidade dos gestores de agir em um ambiente dinâmico, com características extremamente mutáveis, de modo a aproveitar as oportunidades e a evitar as ameaças proporcionadas continuamente; e) desenvolvimento: envolve a melhoria constante e a excelência em todos os aspectos da empresa, a partir da adoção de novas tecnologias, novos processos e técnicas, treinamento e capacitação das pessoas, enfim, uma ampliação do conhecimento e competência da empresa. A observação dos fatores acima relacionados conduz a empresa à condição de eficaz transformadora de recursos escassos em produtos adequados à satisfação de necessidades ilimitadas. O mercado escolhe uma empresa, como fornecedora, quando FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 8 ela apresenta os cinco fatores citados, ou a melhor combinação deles, uma vez que nem sempre é possível a presença de todos, sendo alguns privilegiados em detrimento de outros. Entretanto, apesar de caracterizarem adequadamente a empresa eficaz, os fatores mencionados são de difícil mensuração individual, e o que é pior, a sua combinação ótima, embora apreciada pelo mercado, não pode se evidenciar adequadamente em uma análise teórica. Se tais fatores não parecem passíveis de mensuração, fica comprometida a necessária verificação do estágio de êxito em que se encontra determinada empresa. A eficácia, materializada na ocorrência de fatores incomensuráveis, parece não se prestar como medida do êxito empresarial. No entanto, tais fatores são apreciados pelo mercado, mesmo que de maneira intuitiva, quase irracional, na seleção diária dos bens e serviços transacionados. O mercado, de certa forma, elege a empresa eficaz ao comprar seus produtos, não apenas esporadicamente, porém, continuamente, confirmando a sua demanda esperada, e permitindo, assim, a reprodução do fluxo perene naquela empresa. Quando isso ocorre, o processo é caracterizado pela geração do lucro, ou resultado econômico, que decorre da agregação de valor ao longo da transformação de recursos em produtos. Na compra dos produtos, o mercado reconhece que houve acréscimo de utilidade aos recursos consumidos e, portanto, a empresa é merecedora do lucro. Se determinada empresa não é eficaz, o mercado seleciona um concorrente seu, validando o mérito deste, e reprovando a ineficácia daquela. A eficácia é, portanto, capaz de parametrizar o êxito empresarial e, o resultado econômico apresenta-se como a melhor e mais consistente medida da eficácia da empresa. O problema transfere-se agora para a correta identificação, mensuração e informação do lucro, cuja solução deve ser oferecida pelo arcabouço contábil. 1.3. O Problema do Reconhecimento Contábil do Lucro 1.3.1. As Relações Sociais e o Ambiente Econômico Os agentes econômicos dispõem de fatores de produção oriundos, primariamente, da natureza ou da própria ação humana. Esses fatores são combinados, historicamente, no âmbito das relações sociais de produção, cuja resultante é a oferta de bens e serviços que visam satisfazer necessidades humanas. Os fatores de produção, ou recursos econômicos, podem ser classificados, de maneira simples, em quatro classes, a saber: a) Terra; b) Capital; c) Trabalho; e d) Capacidade empresarial. Em uma sociedade caracterizada pela propriedade privada dos recursos econômicos - sociedade capitalista - cada um dos fatores supramencionados submete-se a um proprietário que detém o direito de utilizá-lo, ou de auferir um rendimento pela cessão do direito de uso a outrem. Nesse caso, o rendimento pelo uso da Terra é denominado Renda da Terra, o rendimento pelo uso do Capital é denominado Juro, o rendimento pelo uso do fator Trabalho é denominado Salário,e a recompensa pelo uso da Capacidade empresarial é o Lucro. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 9 Existem várias teorias que procuram explicar o Lucro, sendo que a remuneração por utilizar a capacidade empresarial, no processo de combinação dos demais fatores, é o fundamento de uma delas. Tendo em vista que, cada fator (terra, capital e trabalho) recebe uma recompensa pela sua participação na produção, o resultado da combinação dos fatores, na relação social de produção e consumo, é superior à soma de seus rendimentos, dando lugar a uma quarta recompensa: o Lucro - a recompensa paga pelos indivíduos às entidades de negócio pela sua produtividade (...) que atua como a força motivacional em uma economia de livre mercado (BEDFORD, 1965, p. 23-24). Na sociedade capitalista, portanto, cada agente econômico participa das relações de produção e consumo, ofertando e demandando recursos, remunerando e auferindo rendimentos. A preocupação concernente ao melhor uso dos fatores, cuja quantidade é limitada (problema da escassez), entre diversas alternativas possíveis tem sido objeto das Ciências Econômicas. Nesse contexto, o Lucro apresenta-se como um referencial para orientar as decisões dos agentes, tornando imprescindível o seu estudo no âmbito das operações. O estudo do lucro, por seu turno, requer uma quantificação lógica do resultado das operações do empreendimento e de seu reflexo sobre o patrimônio das entidades. Essa problemática constitui o campo de ação das Ciências Contábeis. Teoricamente, é perceptível o alto grau de correlação existente entre as duas áreas do conhecimento. Porém, o desenvolvimento histórico tem evidenciado diferentes bases e pressupostos na aplicação prática de alguns conceitos comuns às duas áreas, tal como se observa com relação ao Lucro, figura fundamental na efetivação do uso adequado dos fatores de produção. Em resumo, este tópico procurou tornar evidente que, em uma sociedade cuja produção de bens e serviços, para satisfação das necessidades humanas, é organizada a partir da propriedade privada dos fatores de produção e, considerando também a limitação de recursos, há que se optar por alternativas ótimas de combinação dos fatores, segundo escalas de valores. Nesse contexto, as Ciências Econômicas apresentam teorias para explicar os fenômenos relacionados com a produção de valores subjetivos. Às Ciências Contábeis cabe o papel de expressá-los de maneira objetiva e sistemática, traduzindo-os em informações voltadas para usuários específicos. 1.3.2. O papel da Contabilidade Considerando o contexto focalizado no tópico precedente, a Contabilidade apresenta- se, no âmbito das entidades - organizações sociais que combinam fatores - com a finalidade de amparar/suprir os diversos gestores, com informações capazes de orientá- los, no processo de escolha entre as diversas alternativas de uso dos recursos disponíveis. A Contabilidade procura cumprir essa tarefa a partir do tratamento organizado dos dados relacionados com as operações econômicas da sociedade, entre os quais se destacam: a capitalização, a compra de materiais, a produção de bens e serviços, a venda de produtos etc. A Contabilidade deve registrar, apresentar e interpretar os fatos econômicos, traduzindo-os em informações úteis: resultado das ações passadas e elementos para predição, aos usuários internos e externos à entidade. De acordo com Iudícibus (1993, p. 18), os principais tipos de usuários e seus respectivos interesses pela informação contábil, em resumo, são: FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 10 a) Acionistas: interessam-se pelo fluxo de dividendos, valor de mercado da ação, Lucro por ação; b) Credores: preocupam-se com a capacidade de geração de caixa; c) Entidades Governamentais: interessam-se pelo valor agregado, produtividade, Lucro tributável; d) Empregados: preocupam-se com a capacidade de caixa que assegure bons aumentos ou manutenção de salários; e) Média e alta administração: interessam-se pelo retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimônio líquido, situação de liquidez e de endividamento confortáveis. Em suma, são diversas as necessidades de informação a que a classificação contábil pretende atender. A estrutura contábil, desenvolvida historicamente, parece ter-se condicionado a tais necessidades, atendendo-as conforme o direcionamento das exigências conjunturais. Por isso, alguns aspectos relevantes foram preteridos, em função de outros interesses materializados a partir de normas, convenções, consenso profissional etc. Entretanto, a Contabilidade não deve deixar de atender um ou vários de seus usuários. É necessário que seu arcabouço contemple um data-base capaz de responder, ao seu tempo, cada um de seus clientes. Dessa maneira, cada usuário, ao requerer um aspecto da informação contábil, pode dispor de diferentes formas de apresentação dos dados, ou seja, diferentes relatórios. Porém, o que não parece coerente é a existência de diversas interpretações para as mesmas categorias econômicas, tais como o conceito de Lucro. Embora não seja objeto deste estudo, vale ressaltar que, no desenvolvimento pragmático da Contabilidade, muitos dos conceitos parecem ter tido suas aplicações deturpadas, em função de algumas características denominadas qualitativas, tais como a objetividade e o conservadorismo. 1.3.3. O Conceito de Lucro O estudo do Lucro considera duas grandes vertentes de análise, quais sejam: a) Lucro Econômico; b) Lucro Contábil. O conceito de Lucro Econômico, privilegiado neste estudo, refere-se, basicamente, à abordagem de Hicks (1946, p. 172), que considera o Lucro como a quantia que uma determinada pessoa pode consumir durante um período de tempo e estar, no final do período, tão bem como estava no início. Esse conceito foi adaptado para uma entidade de negócio, por Solomons (1961, p. 376) que considera Lucro: (...) a quantia pela qual seu patrimônio líquido aumentou durante o período, devida permissão sendo feita para qualquer novo capital contribuído pelos seus donos ou para qualquer distribuição feita pela empresa para seus proprietários. A característica fundamental considerada no conceito econômico de Lucro refere-se ao incremento do patrimônio líquido, seja ele decorrente das operações da entidade, seja decorrente da valorização dos ativos comandados por ela. Segundo Guerreiro (1986, p. 202-203): FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 11 A otimização do resultado econômico se dá: (1) em nível do processo de transformação de insumos em produtos e serviços (agregação de valor) e (2) em nível do aproveitamento das oportunidades de ganhos pela valorização de determinados tipos de ativos, proporcionados pelo mercado. Ainda nesse enfoque, de acordo com Kam (1986, p. 131-132), Lucro é: (...) o acréscimo no valor econômico do capital entre dois pontos do tempo (...) A avaliação de ativos e passivos, por um lado, e determinação do lucro de outro, são simplesmente dois diferentes lados da mesma moeda. Nota-se que o conceito econômico de Lucro preconiza a avaliação de ativos e passivos, segundo o valor presente de seu fluxo futuro de serviços. O conceito do Lucro Contábil tem suas raízes filosóficas, conforme apresenta Guerreiro (1989, p. 186), nos conceitos econômicos de Lucro, Capital e Manutenção do Capital ou da Riqueza. Porém, distancia-se do conceito econômico, na medida em que, no afã de privilegiar o aspecto da objetividade, submete-se a algumas condições práticas e dogmáticas. Nesse contexto, o conceito de ‘incremento’, para o reconhecimento do Lucro, é substituído pela noção de ‘acontecimento crucial’, que requer uma evidência de transferência externa - abordagem da transação - para considerar o referido reconhecimento. Dessa forma,ganha ênfase o ‘Princípio da Realização da Receita’, cujo ponto de reconhecimento ideal é aquele em que o produto, ou serviço, é transferido de uma entidade produtora ao seu consumidor, ponto esse que, normalmente, coincide com o momento da venda. O Lucro Contábil, nesse caso, é o resultado do confronto entre a Receita realizada e a Despesa incorrida, sendo evidenciado, integral e tão somente, via de regra, no momento da transferência. Os contadores relutam em aceitar o conceito econômico de Lucro em virtude, principalmente, de duas limitações de ordem prática, conforme apresenta McCullers (1982, p. 48): a) Subjetividade em função da incerteza quanto aos fluxos futuros de entrada e saída de caixa, referentes aos ativos e passivos; b) Desconhecimento do fator de desconto a ser utilizado no cálculo do valor presente dos respectivos fluxos. O conceito de Lucro e a noção de avaliação do patrimônio (ativos e passivos), enquanto faces de uma única moeda, enfatizam, respectivamente, a questão da expressão do valor gerado nas operações da entidade e, o saldo acumulado de valor (poder de compra) comandado por ela. A avaliação de cada um dos aspectos - operações e patrimônio - é realmente subjetiva, haja vista que depende da validação do mercado, sendo essa, caracteristicamente dinâmica e sensível a variações, conforme as mudanças de expectativas dos agentes econômicos. Há que se considerar, nesse caso, a possibilidade de a Contabilidade acompanhar e mensurar tais variações, para reconhecimento do Lucro. A operacionalização dessa possibilidade, atualmente, é notoriamente difícil, porém há que se aceitá-la como resposta teórica mais coerente com a realidade econômica. Não apenas isso, mas procurar meios de viabilizá-la. Se o homem, durante séculos, não sonhasse com a viagem à lua, certamente, até hoje não teria realizado aquela “missão impossível”. Cabe sempre o questionamento quanto à relevância da manutenção de critérios objetivos, preconizados pelo conceito de Lucro Contábil, porém sem a devida utilidade. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 12 Conforme observa Canning, citado por Chang (1962, p. 637), “o lucro então mensurado é simplesmente a figura que resulta quando o contador termina de aplicar o procedimento que ele adota”. Nesse sentido, nota-se que o melhor enfoque para abordagem do Lucro é o econômico, no qual desponta a noção do incremento e do valor presente de fluxos de serviços futuros. Escolher a abordagem econômica de lucro implica admitir a subjetividade que é peculiar ao processo de avaliação de riqueza, em detrimento da objetividade perseguida pela Contabilidade. Nesse contexto, o lucro refere-se ao valor agregado pela entidade, seja através dos produtos que transforma ou através dos ativos que mantém em seu portfólio de investimentos. Parece não haver, nesse caso, outro momento para reconhecimento do lucro, senão aquele em que a validação pelo mercado é constatada, de forma continua. Evidentemente que os valores oscilam, positiva ou negativamente, e a Contabilidade deve acompanhar e registrar o “carrossel” desses valores. Refletir a constante oscilação de valores não é um defeito contábil, mas uma conseqüência do sistema econômico e, o “objetivo do contador de um valor estável para os ativos da firma é no melhor dos casos uma miragem” (BODENHOR, 1961, p. 585-586).. Finalmente, considerando a Contabilidade uma Ciência Social imbuída da função pragmática de expressar os valores criados pela sociedade civil, não parece adequado admitir, no limite teórico, critérios diversos para a realização de tal finalidade, mas, certamente, um único procedimento que reflita a verdade dos fatos, mesmo que seja uma verdade relativa1, consubstanciada na validação do mercado através de seus mecanismos próprios. Afinal, em se tratando das relações econômicas essa é a verdade que importa. O enfoque contábil de reconhecimento do lucro não cumpre esse papel, merecendo, pois, ser repensado, dando lugar ao enfoque econômico. Certamente que formas de operacionalização do enfoque econômico devem ser encontradas, sob pena de ocorrer, conforme adverte Solomons (1961, p. 383), o “crepúsculo da mensuração do lucro”. Nesse contexto, a grande questão se refere à forma de identificação, mensuração e informação do lucro econômico. Se o lucro é concebido, sob o ponto de vista de Hicks, como a diferença de patrimônio em dois períodos de tempo, a sua identificação está necessariamente relacionada a toda ocorrência que provoque algum impacto patrimonial. Essa ocorrência é denominada evento e a característica de provocar alteração patrimonial revela a sua dimensão econômica. Os eventos ocorrem, continuamente, em toda empresa, sendo alguns provocados por ela, pela ação de seus agentes, enquanto outros são decorrentes de alterações no ambiente. A Compra de materiais, a produção de bens e serviços e a venda de produtos são exemplos de eventos causados pela organização, enquanto que a variação específica de preços, a variação geral de preços e o valor do dinheiro no tempo são exemplos de eventos provenientes do ambiente. Sejam os eventos provocados pela empresa ou emanados do ambiente, são eles que permeiam todo o processo administrativo empresarial, aqui denominado processo de gestão. Ou seja, o processo de transformação de recursos em produtos, fisicamente observável na execução das diversas atividades, é, na sua percepção mais profunda, um encadeamento sucessivo de eventos. 1 A ideia de verdade relativa é bastante discutida em metodologia, uma vez que a ciência procura explicar a verdade, embora sabendo que a verdade absoluta é praticamente inatingível pelo homem. Daí a necessidade de estabelecimento de verdades relativas ou provisórias, que melhor respondam sobre os fatos observados. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 13 Logo, a atuação da empresa, na busca da eficácia, deve voltar-se para a otimização dos eventos, levando em consideração a sua dimensão econômica, tendo em vista toda a argumentação anterior sobre o papel do resultado econômico na mensuração do êxito empresarial. Finalmente, a mensuração e a informação do lucro devem considerar a alternativa de valorização que envolve o valor presente do fluxo de benefícios futuros provocados pelo evento, cuja comunicação, no momento de sua ocorrência, seja direcionada aos usuários interessados. Portanto, as decisões tomadas nas empresas referem-se a eventos operacionais, cuja dimensão econômica deve ser identificada, mensurada e informada com base nos conceitos mais adequados. O somatório de todos os impactos patrimoniais dos eventos ocorridos, ao longo da existência de qualquer empresa, compõe o seu patrimônio. Assim, é possível representar o patrimônio da empresa ao longo do tempo, condição necessária para apuração do lucro econômico, segundo a abordagem hickisiana. Quadro 1.01. Diferenças fundamentais entre o Lucro Contábil e o Lucro Econômico LUCRO CONTÁBIL LUCRO ECONÔMICO 1. Maior Objetividade 1. Maior subjetividade 2. Apurado pelo confronto entre receitas realizadas pelas vendas e custos consumidos (ativos expirados) 2. Apurado pelo incremento no valor presente do patrimônio líquido 3. Os ativos são avaliados na base de custos originais 3. Os ativos são avaliados pelo valor presente do fluxo de benefícios futuros 4. O patrimônio Líquido aumenta pelo lucro 4. O lucro deriva do aumento do patrimônio líquido da entidade 5. Ênfase em Custos 5. Ênfase em valores 6. Não reconhece ganhos não realizados 6. Reconhecimento de ganhos realizados e não realizados 7. Não se efetuam ajustes em função de mudanças nos níveis de preços dos bens na economia 7. São efetuados ajustes devidos a mudanças nos níveisde preços dos bens na economia 8. “Amarração” do lucro à condição de distribuição de dividendos 8. “Amarração” do lucro à condição de aumento da riqueza, independentemente da condição de distribuição de dividendos 9. Não reconhecimento do Goodwill 9. Reconhecimento do Goodwill 10. Utilização de regras e de critérios dogmáticos 10. Utilização de regras e critérios econômicos Fonte: Adaptado de GUERREIRO, Reinaldo. Modelo Conceitual de Sistema de Informação de Gestão Econômica: Uma Contribuição à Teoria da Contabilidade.Tese (Doutorado), FEA-USP, 1989, p. 196-197. 1.4. O Processo de Obtenção da Eficácia/Resultado As discussões precedentes são fundamentais para o entendimento do processo administrativo de toda e qualquer empresa, no cotidiano de suas operações. O seu objetivo maior e que constitui a razão de sua existência é o cumprimento da sua missão. Para realizá-lo e tornar-se contínua, a empresa tem necessidade de ser eficaz, o que ocorre, quando o resultado de suas atividades é recompensado com o lucro econômico, sendo este evidenciado em cada evento econômico. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 14 O referido processo administrativo, também denominado processo de gestão é, em síntese, um conjunto de processos de decisão sobre eventos necessários ao cumprimento da missão. Considerando-se que a empresa persegue a eficácia, em um ambiente caracterizado pelo risco e pela incerteza, o processo de gestão não pode se desenvolver aleatoriamente, mas deve ser conduzido da melhor maneira possível. Isto é, deve permitir que, no futuro, seja atingida uma situação presumivelmente melhor do que a atual. Para isso, algumas condições ideais devem ser respeitadas. Algumas delas são discutidas abaixo. 1.4.1. Gestão e Modelo de Gestão O primeiro aspecto, fundamental, para o alcance da eficácia consiste na consideração do conceito de gestão. Neste sentido, gerir ganha uma conotação diferente de administrar, quando se procura enfatizar o aspecto pró-ativo do tomador de decisão. No contexto da eficácia, o administrador não pode ser um mero expectador das ocorrências que o cercam, mas deve ser capaz de equacioná-las, provocando eventos que elevem o valor da empresa, prevendo aqueles decorrentes do ambiente, buscando aproveitar as oportunidades e evitar/minimizar as ameaças geradas pelos mesmos. Segundo Nakagawa (1987, p. 50-51), neste contexto, gestão “é a atividade de se conduzir uma empresa ao atingimento do resultado desejado (planejado) por ela, apesar das dificuldades”. Na literatura disponível sobre gestão econômica, é bastante comum a expressão tridimensionalidade da gestão para evidenciar os seus distintos aspectos: operacional, econômico e financeiro. Neste sentido, Beuren (1994, p. 89) sintetiza: O aspecto operacional refere-se às características de volume, qualidade e cumprimento de prazo na execução das atividades. Já a caracterização do aspecto econômico da atividade ocorre no momento em que atribui- se valores econômicos aos recursos (custos) e produtos e serviços gerados (receitas). Finalmente, o aspecto financeiro da atividade caracteriza-se pelos prazos de pagamento e de recebimento dos valores envolvidos no consumo de recursos e geração de produtos e serviços. Porém, além dos três aspectos citados, o professor Catelli ensina, nas diversas disciplinas que ministra nos cursos de pós-graduação da FEA/USP, que existe uma quarta dimensão que considera o aspecto patrimonial, que reflete o impacto do evento sobre as diversas contas de ativo, passivo, e patrimônio líquido da entidade. Esse quarto aspecto não é discutido na maioria da literatura sobre a gestão econômica. A dimensão denominada gestão patrimonial apresenta uma formatação própria e sutilmente diferenciada da dimensão econômica. Na verdade, o resultado patrimonial, ou variação patrimonial, é exatamente igual ao resultado econômico. Afinal, o conceito de resultado econômico envolve a diferença de um patrimônio em dois momentos distintos do tempo. A variação patrimonial, sob o ponto de vista da dimensão econômica, corresponde ao resultado econômico e a demonstração do resultado é o detalhamento de sua formação. Mas, sob o ponto de vista da dimensão patrimonial, a variação envolve todas as contas do ativo, passivo e patrimônio líquido que foram afetadas pelo evento. A equação que evidencia a variação, sob a ótica patrimonial, é a demonstração das contas envolvidas pelo evento, segundo o tradicional método das partidas dobradas, ilustrado no quadro abaixo: FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 15 Quadro 1.02. Dimensão Patrimonial DEBITA: Conta de Ativo CREDITA: Conta de Passivo CREDITA: Conta do PL A dimensão patrimonial da gestão, ausente da bibliografia sobre o assunto, parece apresentar notória importância, principalmente no que tange ao modelo de decisão dos usuários. Vale ressaltar, inicialmente, que a equação acima está apresentada em linguagem contábil, necessitando ser traduzida, na sua operacionalização, para um formato compreensível aos diversos gestores. A equação patrimonial evidencia o impacto do evento sobre as diversas contas do Ativo, Passivo e PL. A nova ótica de visualização, por si só, apresenta uma vantagem complementar para o modelo de decisão, porém, sua importância é crucial em situações práticas bastante comuns, onde os resultados econômicos de várias alternativas são idênticos. Por exemplo, existindo três alternativas de captação de um insumo: compra à vista, compra a prazo e arrendamento, pode acontecer que o valor presente de todas seja exatamente o mesmo e, consequentemente, qualquer opção deve produzir um resultado econômico idêntico. Nesse caso, a equação patrimonial, ao apresentar as diferentes combinações de ativos e passivos decorrentes de cada alternativa, oferece novas bases para a decisão do gestor. Este, considerando a igualdade de resultados e a sua preferência (aversão ao risco etc.) em relação a cada tipo de ativo/passivo, tem melhor subsídio para tomar sua decisão, focalizando a dimensão patrimonial do evento. O gestor deve preocupar-se com os quatro aspectos apresentados e, para que a gestão seja eficaz, é imprescindível a existência de um conjunto de princípios, normas e conceitos para a condução da empresa, capazes de orientar as ações dos gestores, estabelecendo algumas regras chave que, segundo Catelli2, caracterizam o modelo de gestão e envolvem: a) estilo de gestão; b) processo de gestão; c) papeis e posturas dos gerentes; d) restrições com relação à autoridade; e) critérios de avaliação dos gestores; f) cronograma de interações. É fundamental o delineamento das regras supracitadas, em razão, principalmente, da separação existente, nas empresas contemporâneas, entre proprietário e gestor. O modelo de gestão, claramente definido e evidenciado, é que vai permitir a melhor interação dos gestores com os anseios dos proprietários, e direcionar a gestão eficaz. 2 CATELLI, Armando. Anotações de aula da disciplina Controladoria ministrada no Programa de Pós-graduação em Controladoria e Contabilidade da FEA/USP, 1º sem/96. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 16 1.4.2. Processo de Gestão A eficácia da empresa é visualizada na passagem para uma situação futura objetivada, presumivelmente melhor do que a atual, a partir de um conjunto encadeado de processos de decisão sobre eventos, e que caracteriza o processo de gestão. As decisões atuais, tomadas em t0, apresentam, portanto, desdobramentos futuros, em tn, sendo que apenas neste último momento o impacto patrimonial se efetiva. Nesse caso, considerando-se que as empresas não dispõem de um recurso semelhante a bola de cristal para anteciparemo futuro, devem buscar a maneira de minimizar os riscos desconhecidos que, potencialmente existem no intervalo considerado. Por essa razão, faz-se necessário um Planejamento Estratégico, capaz de montar um cenário mais provável do futuro, identificando nele as oportunidades e ameaças, e, que, a partir da interação de seus impactos sobre os pontos fortes e fracos da empresa, produza um conjunto de diretrizes estratégicas, de caráter qualitativo, que garanta a continuidade da empresa e o cumprimento da sua missão. Para complementar, é necessária a existência de um Planejamento Operacional que, a partir das diretrizes estratégicas, possibilite a escolha do melhor curso de ação que assegure a otimização do resultado econômico no curto, no médio e no longo prazo, cujos objetivos e metas sejam consubstanciados em um plano quantitativo. Com base no plano operacional, a Execução deve ser empreendida a partir da busca pela otimização de cada evento realizado. E, finalmente, o Controle completa o processo de gestão considerando, instantaneamente, a revisão dos planos e/ou a correção dos desvios, quando da ocorrência de divergências entre o planejado e o realizado, garantindo o direcionamento no sentido da situação objetivada. 1.4.3. O Processo Decisório e a Necessidade de Informação O processo de gestão, em análise no tópico anterior, pode ser entendido como um conjunto de processos de tomada de decisão, uma vez que, em cada uma de suas fases, o gestor se submete a uma série de escolhas entre alternativas de ação. Nota-se, pois, a importância do entendimento racional do referido processo decisório que permeia, integralmente, o processo de gestão. Nessa direção, teóricos de diversas áreas de conhecimento têm envidado esforços no sentido de oferecer um arcabouço conceitual para o processo decisório, a fim de propiciar uma estrutura formalizada para o tomador de decisão. Segundo Guerreiro (1989, p. 40), “uma estrutura formalizada para o tomador de decisão para representar e avaliar alternativas no processo de seleção é provida pela teoria da decisão.” Não se pretende aqui discorrer sobre os avanços conceituais introduzidos pela Teoria da Decisão, mas, apenas observar que o ato cotidiano de tomada de decisão deve ser entendido como um processo lógico e racional. Inicialmente, é importante destacar que decisão, segundo Kepner & Tregoe (1971, p. 54), “é sempre uma escolha entre várias maneiras de se fazer uma determinada coisa ou de se atingir um determinado fim”. É a escolha constante, realizada pelo gestor, entre os diversos cursos alternativos de ação que se apresentam ao longo do processo de cumprimento da missão. Nesse sentido, o escopo da Teoria da Decisão, ao evidenciar uma estrutura lógica e racional do processo de decisão, está em auxiliar na determinação de uma alternativa que vá maximizar o ganho, ou minimizar a perda para o alcance do objetivo perseguido. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 17 A partir dos estudos realizados no âmbito da Teoria da Decisão, nota-se que o processo de decisão engloba, sumariamente, as seguintes fases: a) identificação do problema; b) caracterização do problema; c) formulação de alternativas; d) avaliação de alternativas; e) escolha da alternativa que melhor atenda ao objetivo perseguido. Observações empíricas sobre a realidade das empresas contemporâneas possibilitam evidenciar a utilização do processo de decisão pelos gestores, mesmo que de maneira inconsciente e parcial. As ações realizadas nas organizações emanam do processo decisório. Cada necessidade de decisão aciona um processo, porém, a maneira de cada gestor realizá-lo não é única. Há uma diversidade de entendimentos e formas de agir diante de determinados problemas que são próprios de cada gestor, em função de seu desenvolvimento genético e cultural. Nesse contexto, é relevante a noção de modelos de decisão que, segundo Van Gigch, citado por Almeida (1986, p. 76-77): (...) permitem que as várias alternativas e seus correspondentes resultados sejam avaliados de uma maneira consistente, num contexto de estrutura formal que possa ser aplicada a todas as alternativas e resultados, provendo um procedimento uniforme ou lógico pelo qual insumos e produtos, custos e receitas, lucros e perdas e outros atributos relacionados com a eficácia/eficiência do sistema possam ser moldados e comparados (...) À luz das conclusões acima, a abordagem Gecon propõe um determinado modelo de decisão para os principais eventos empresarias, com o propósito de orientar os diversos gestores para a otimização do resultado econômico da empresa. 1.5. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Lauro B. de. Estudo de um Modelo Conceitual de Decisão, Aplicado a Eventos Econômicos, sob a Ótica da Gestão Econômica. Dissertação (Mestrado). FEA-USP, 1986. BEDFORD, Norton M. Income Determination Theory: An Accounting Framework. Addison-Wesley, 1965. BEUREN, Ilse Maria. Modelo de Mensuração do Resultado de Eventos Econômicos Empresariais: Um Enfoque de Sistema de Informação de Gestão Econômica. Tese (Doutorado). FEA/USP, 1994. BODENHOR, Diran. An Economist Looks at Industrial Accounting and Depreciation. The Accounting Review, October 1961. CATELLI, Armando & GUERREIRO, Reinaldo. GECON - Gestão Econômica: Administração por resultados econômicos para otimização da eficácia da empresa. Anais do XVII Congresso Argentino de Professores Universitarios de Costos, 1as. Jornadas Iberoamericanas de Costos y Contabilidad de Gestion, Argentina, Out. 1994. CHANG, Emily Chen. Business Income in Accounting and Economics. The Accounting Review, October 1962. CHURCHMAN, C. W. Introdução à Teoria dos Sistemas. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1972. GUERREIRO, Reinaldo. Modelo conceitual de sistema de informação de gestão econômica: Uma contribuição à teoria da comunicação da contabilidade. Tese (Doutorado). São Paulo: Universidade de São Paulo, 1989. HICKS, John. Value and Capital. 2ª ed. London: Oxford University Press, 1946. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1993. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 18 KAM, Vernon. Accounting Theory. New York: John Wiley & Sons, 1986. KEPNER, Charles H. & TREGOE, Benjamin B. O Administrador Racional. São Paulo: Atlas, 1971. MCCULLERS, Levis D. & SCHROEDER, Richard G. 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Como o próprio nome esclarece, os gestores são os responsáveis pela gestão, administração ou processo de tomada de decisão. A gestão corresponde analiticamente ao processo de planejar, executar e controlar. Observa-se que o papel dos gestores deve ser pró-ativo no sentido de contribuir para o alcance dos objetivos empresariais. Neste caso, é de se esperar que o seu processo de decisão esteja devidamente amparado por adequados sistemas de informação. Neste sentido, Guerreiro (1999b: 317)afirma que: Os gestores têm grande dependência do recurso 'informação'. A informação é a matéria- prima do processo de tomada de decisão. Informação útil é a que atende às necessidades específicas dos gestores, segundo as áreas que atuam, operações que desenvolvem e conceitos que lhes façam sentido lógico. Os sistemas de informações contábeis devem ser configurados de forma a atender eficientemente às necessidades informativas de seus usuários, bem como incorporar conceitos, políticas e procedimentos que motivem e estimulem o gestor a tomar as melhores decisões para a empresa. Dois pontos merecem destaque na citação anterior. Em primeiro lugar, o autor associa a utilidade da informação à sua capacidade de atender necessidades específicas dos usuários, logo, a sua configuração deve levar em conta a particularidade de cada gestor. Em segundo lugar, nota-se que a informação tem o poder de motivar e estimular a decisão do gestor. Por isso, a definição de um sistema de informações gerenciais deve privilegiar conceitos e metodologias capazes de orientar decisões ótimas a partir de coerente identificação das contribuições individuais dos gestores para o desempenho global da empresa. Guerreiro (1999b: 317) afirma que: Os gestores competentes necessitam conhecer como está se desenvolvendo sua performance, e normalmente desejam conhecer como seu desempenho está contribuindo para o desempenho global da empresa. Os gestores, via de regra, têm grande preocupação no sentido de que seu desempenho não seja influenciado pelas ações de outros gestores, ou de variáveis fora de seu controle. A partir dessas considerações, Guerreiro (1999b: 318) conclui que "as informações contábeis destinadas a usuários externos não suprem adequadamente os modelos FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 19 decisórios dos usuários internos", conclusão corroborada por Johnson & Kaplan (1996: 1): Atualmente, as informações de contabilidade gerencial, condicionadas pelos procedimentos e pelo ciclo do sistema de informes financeiros da organização, são atrasadas demais, agregadas demais e distorcidas demais para que sejam relevantes para as decisões de planejamento e controle dos gerentes. Desta forma, abre-se uma lacuna para o desenvolvimento de instrumentos voltados à gestão interna das organizações. 2.2. Controladoria: definição, missão e objetivos A lacuna identificada no tópico anterior parece conduzir ao delineamento da controladoria, como se pode verificar na citação de Catelli (2001, p. 344): Como uma evolução natural desta Contabilidade praticada [tradicional] identificamos a Controladoria, cujo campo de atuação são as organizações econômicas, caracterizadas como sistemas abertos inseridos e interagindo com outros num dado ambiente. Em seguida, para explicar melhor o papel da controladoria, o autor sugere cindi-la em dois vértices: ramo do conhecimento e unidade administrativa. 2.2.1. Ramo do conhecimento versus unidade administrativa Enquanto ramo do conhecimento, a controladoria é sugerida como a responsável pelo estabelecimento das bases teóricas necessárias para a construção e manutenção de sistemas de informação voltados para a gestão econômica, abrangendo a adequada identificação, mensuração e informação do lucro. Sob o enfoque de unidade administrativa, cabe à controladoria, no mundo real, coordenar e disseminar a tecnologia de gestão econômica e também atuar como órgão aglutinador e direcionador de esforços dos demais gestores da empresa. 2.2.2. Missão e objetivos Um dos pressupostos admitidos no âmbito da abordagem Gecon é uma velha sentença segundo a qual “os ótimos locais não conduzem necessariamente ao ótimo global”. Isto é, ainda que cada gestor, totalmente comprometido com o desempenho de sua área, faça o melhor possível em sua alçada, o desempenho global da empresa poderá ficar aquém do melhor resultado possível. Isto se deve a existência de um natural desequilíbrio entre as capacidades das diversas áreas. Por isso, é possível que o ótimo de uma área dependa da utilização de sua capacidade máxima (a produção, por exemplo, pode atingir seu ótimo ao produzir 1.000 unidades de seu produto) que, por sua vez, pode ser superior à capacidade de uma área seguinte finalizar o processo (a área de vendas, por exemplo, pode apresentar capacidade de escoar somente 500 unidades do produto). Neste caso, para alcançar seu desempenho ótimo, a área de produção compromete o resultado global da empresa, produzindo uma quantidade de produtos que não serão vendidos imediatamente. A conseqüência óbvia são os elevados custos de armazenagem e financiamento de estoques. Cabe, portanto, à controladoria, portanto, a missão de “assegurar a otimização do resultado econômico da organização” CATELLI (2001, p. 346). Ainda que, para isso, alguma das partes tenha que trabalhar abaixo do ótimo local. Trata-se, pois, de um papel sinérgico, apoiado na integração das áreas e na indução às melhores decisões para a empresa como um todo. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 20 2.3. A abordagem Gecon Não se pretende, neste estudo, realizar uma reflexão profunda acerca da história da abordagem Gecon, bem como examinar os pormenores de seus pressupostos fundamentais e de sua arquitetura básica3. Objetiva-se, tão somente, focalizar o modo como são empreendidos os esforços de identificação, mensuração e informação do resultado econômico e, ao mesmo tempo, do patrimônio empresarial. Assim, o interesse presente neste estudo é o de evidenciar os conceitos e as metodologias empregados no modelo Gecon para a avaliação simultânea do desempenho organizacional e do valor da empresa. A partir da delimitação anunciada, é prudente apresentar, nas breves palavras de seu idealizador, pelo menos, o que é o GECON e quais são os seus princípios básicos: O sistema de gestão econômica - GECON - tem sido desenvolvido por uma equipe de pesquisadores do NÚCLEO GECON com apoio da Fipecafi, uma fundação ligada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. É um modelo gerencial de vanguarda já testado em algumas grandes empresas do país, contemplando o sistema de gestão e o sistema de informações que lhe dá o necessário suporte. O sistema de gestão no modelo GECON diz respeito ao processo de planejamento, execução e controle operacional das atividades e é estruturado com base na missão da empresa, em suas crenças e valores, em sua filosofia administrativa e em um processo de planejamento estratégico que busca em última instância a excelência empresarial e a otimização do desempenho econômico da empresa. No sistema de informações, o sistema GECON utiliza fundamentalmente conceitos e critérios que atendem às necessidades informativas dos diversos gestores da empresa para seu processo de tomada de decisão específico e que impulsionam as diversas áreas a implementar ações que otimizam o resultado global da companhia. Uma preocupação básica do sistema é espelhar em termos econômico-financeiros o que ocorre nas atividades operacionais da empresa. O sistema é decomposto em diversos módulos, tais como Vendas, Produção, Compras, Manutenção, Investimento, Finanças, Serviços de Apoio, Estocagem etc. O sistema está voltado não só para a eficiência, mas sobretudo para a eficácia empresarial. Dessa forma, os eventos das atividades relevantes da empresa são mensurados por receitas e custos e geram resultados econômicos. A figura tradicional do centro de custo é substituída pelo centro de resultado e área de responsabilidade. Os relatórios do sistema voltam-se, portanto, para a avaliação de resultados de produtos/serviços gerados pelas diversas atividades, e para a avaliação de desempenho das áreas organizacionais que executam tais atividades.Nesse processo, o sistema utiliza conceitos gerenciais fortes, tais como resultado econômico, custo de reposição, custo de oportunidade, preço de transferência, margem de contribuição e outros. Catelli (1999: 30) Alguns dos princípios de gestão utilizados pelo GECON, citados por Catelli (1999: 31- 32), que o diferenciam dos modelos existentes são: � a eficácia da empresa é a função da eficácia das áreas. O resultado da empresa é igual à soma dos resultados das áreas; � as áreas somente são debitadas/creditadas por eventos sobre os quais tenham responsabilidade; as eficiências/ineficiências não são transferíveis para outras áreas e nem repassadas aos produtos/serviços; � as áreas tratadas como empresas, seus gestores como os respectivos ‘donos’ e a avaliação dos mesmos envolvem não só os recursos consumidos (custos), como também 3. Maiores detalhes podem ser encontrados em Catelli (1999) e Guerreiro (1996) FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 21 os produtos/serviços gerados (receitas). Assim sendo, objetiva-se destacar e valorizar posturas empreendedoras – fazer acontecer sem desculpas; � a função/missão definida para cada área, mais do que um ‘clichê’ organizacional, é a base para a avaliação da gestão e, principalmente, um implementador da eficácia da empresa. Por exemplo, se a função da Manutenção for consertar equipamentos, seu resultado será apurado com base no valor do reparo e, nesse caso, quanto pior o serviço executado, mais os equipamentos quebrarão e mais essa atividade lucrará, enquanto a empresa perderá. Se for manter os equipamentos disponíveis para o uso, cobrará os serviços pelo valor do aluguel por hora e seu resultado dependerá da produtividade e da eficiência operacional, contribuindo e assegurando, também, a eficácia da empresa; � os resultados das decisões financeiras tomadas pelos diversos gestores operacionais (investidores, condições de venda a prazo, condições de compras a prazo, tempo de estocagem, tempo de processamento de produtos/serviços etc.) são imputados às áreas respectivas, separadamente dos resultados das decisões operacionais; � a área financeira é o ‘banco’ interno, financiando/captando os recursos requeridos pelas áreas. Seu resultado decorrerá do valor de seus serviços menos os custos financeiros efetivamente incorridos. 2.4. Mensuração do resultado econômico e do valor da empresa Com base no arcabouço conceitual delineado anteriormente, são evidenciados neste tópico, os modelos de identificação e mensuração dos principais eventos econômicos, sob a ótica da Gestão Econômica. Para esse fim, um exemplo ilustrativo da Cia. Virtual, empresa hipotética que visa transformar insumos (Couro) em produtos (Bolsas e Cintos), é apresentado e discutido ao longo dos tópicos seguintes. Os conceitos e metodologias empregados no desenvolvimento do exemplo se apoiam em Catelli et. al. (1996). 2.4.1. Integralização do capital A integralização do capital é, via de regra, o primeiro evento que se percebe em um empreendimento. Refere-se à disposição de recursos monetários (dinheiro, em espécie) e/ou físicos (máquinas, instalações etc.), por parte dos investidores para que a empresa cumpra sua missão e, ao mesmo tempo, proporcione retornos satisfatórios. A Companhia Virtual prevê apenas uma capitalização no início de suas operações, período 0, no valor de R$230.000,00. Na continuidade das atividades da empresa, qualquer capital adicional deve ser obtido na forma de empréstimos de curto prazo. Por outro lado, toda sobra de capital deve proporcionar uma aplicação de curto prazo. No momento de sua ocorrência, o evento capitalização produz os impactos destacados no quadro 2.01, quando a UMC (Unidade Monetária Constante)4 corresponde à R$2,30. Quadro 2.01. Evento Capitalização: impacto patrimonial IMPACTOS PATRIMONIAIS - em UMC Período 0 ITENS SDO INICIAL MOVIMENTO SDO FINAL ATIVO 0 100.000 100.000 Circulante 0 100.000 100.000 Caixa 0 100.000 100.000 PASSIVO + PL 0 100.000 100.000 Patrimônio Líquido 0 100.000 100.000 Capital 0 100.000 100.000 4 UMC é o índice que permite a conversão da moeda R$ para moeda constante. FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 22 Em uma análise simplista, a capitalização não gera resultado econômico no momento de sua ocorrência. Após a integralização do capital, porém, com a passagem do tempo no evento denominado Tempo-Conjuntural, em análise posterior, há que se reconhecer um encargo sobre o seu valor: o juro sobre o capital próprio (o custo de oportunidade do acionista). Sob um ponto de vista mais abrangente, é de se esperar que, no momento da capitalização, algum valor econômico possa ser gerado. Supondo, por exemplo, que a capitalização tenha sido feita na forma de um equipamento, cujo valor seja expresso contratualmente com base no preço de mercado do bem, ao se avaliar o potencial de benefícios para a empresa, conforme metodologia em destaque no evento investimento em ativos, pode-se obter um resultado econômico. Da mesma forma, quando os acionistas (imaginando-se que também sejam gestores) fazem o aporte de seu capital na forma monetária e, adicionalmente, trazem para a empresa o seu conhecimento do negócio, seus vínculos com fornecedores e clientes etc., é de se esperar que a empresa tenha, inicialmente, um valor que supera o montante de dinheiro que, juridicamente, é a materialização de seu capital. 2.4.2. Investimento em ativos permanentes Na abordagem Gecon, o valor de um ativo permanente adquirido para uso não corresponde ao seu preço (de aquisição ou de reposição). A compra de um equipamento, por exemplo, representa uma alternativa à contratação de serviços de terceiros para realização de um determinado processo. Neste caso, o valor de um equipamento se expressa pelo potencial de serviços que dele se espera utilizar. Segundo Reis (1997: 95), no momento da aquisição do ativo, os responsáveis pela decisão, à luz dos cenários prováveis, desenvolvem um plano de benefícios futuros que deve conter: a) Fluxo de Benefícios: abrange o valor dos serviços evitados e o valor residual do ativo. O valor dos serviços evitados corresponde à economia que a utilização do ativo adquirido proporciona durante a sua vida útil desenvolvendo os serviços que seriam contratados caso o ativo não fosse adquirido. O valor residual corresponde ao preço de venda do ativo ao final de sua vida útil. b) Fluxo de Desembolsos: abrange o valor da aquisição do ativo adicionado de todos os gastos necessários para colocá-lo em funcionamento, bem como todos os gastos de manutenção esperados para sua vida útil. A diferença entre o Fluxo de Benefícios e o Fluxo de Desembolsos é o resultado econômico do evento. Se a empresa precisa de um determinado serviço para desempenhar suas atividades ao longo do tempo, a aquisição de um ativo no presente evita a contratação futura dos serviços. Logo, se o estoque de serviço (Fluxo de Benefícios) adquirido é superior aos gastos com a aquisição do equipamento, das manutenções esperadas e dos demais gastos projetados (Fluxo de Desembolsos), o investimento em ativo permanente agrega valor (lucro econômico) ao empreendimento. Na situação oposta, o resultado é um prejuízo e, nesta condição, a aquisição do ativo não é viável sob o ponto de vista estritamente econômico. Para que sejam comparáveis, o Fluxo de Benefícios e o Fluxo de Desembolsos devem ser descontados ao seu valor presente mediante o emprego de determinada taxa que represente o custo de oportunidade da empresa. Em resumo, a aquisição de ativos submete-se, sob a perspectiva da Gestão Econômica, à análise do VPL (Valor Presente Líquido). Ainda no período 0, o Diretor Industrialda Cia. Virtual necessita disponibilizar capacidade para processar os produtos da empresa. Para isso, duas alternativas estão FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 23 disponíveis: comprar um equipamento ou terceirizar os serviços. Os dados gerais do investimento se encontram no quadro 2.02. Quadro 2.02. Ativo permanente – variáveis relevantes ITENS Valores Valor do Investimento ($) 115.000 Preço do Serviço (UMC/Hr) 150 Preço da Manutenção (UMC/Hr) 875 Gastos de Operação (UMC/p) 10.000 Valor da UMC 2,30 Valor Residual (% no 2º p) 15,00% Taxa Real de Juros (% a. p.) 2,00% Adicionalmente, o gestor industrial desenvolveu o plano de uso e de manutenção do equipamento em evidência no quadro 2.03. Quadro 2.03. Ativo permanente - plano de uso e de manutenção UTILIZAÇÃO / MANUTENÇÃO (Em Hrs) UTILIZAÇÃO MANUTENÇÃO Período 0 380 60 Período 1 400 20 Período 2 440 40 Considerando as informações supramencionadas e o plano de uso e de manutenção do ativo, obtém-se, no quadro 2.03., o valor futuro do fluxo de caixa livre proporcionado pelo do ativo permanente. Quadro 2.04. - Ativo Permanente: Fluxo de caixa livre – valor futuro Valor Futuro das Entradas - UMC 57.000 60.000 73.500 Serviços Evitados 57.000 60.000 66.000 Valor Residual 0 0 7.500 Representação Gráfica do Fluxo de Caixa Valor Futuro das Saídas - UMC (112.500) (27.500) (45.000) Investimento (50.000) 0 0 Manutenção (52.500) (17.500) (35.000) Gastos de Operação (10.000) (10.000) (10.000) VF do Fluxo de Caixa Livre (55.500) 32.500 28.500 0 1 2 O valor futuro das entradas equivale ao produto do tempo dos serviços (evitados) de terceiros pelo seu preço de mercado, mais o valor residual do equipamento. O valor futuro das saídas equivale ao produto do tempo dos serviços de manutenção pelo seu custo, mais os gastos de operação e o investimento inicial. O valor presente (Quadro 2.04) representa o desconto do valor futuro a partir do emprego da taxa correspondente: 2,0%. Quadro 2.05. - Ativo Permanente: Fluxo de caixa livre – valor presente VALOR PRESENTE - em UMC 0 1 2 Entradas 57.000 58.824 70.646 Saídas (112.500) (26.961) (43.253) Fluxo de Caixa Livre - VP (55.500) 31.863 27.393 FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 24 A apuração do resultado do evento investimento em ativo permanente a partir dos dados apresentados produz a seguinte demonstração: Quadro 2.06. Ativo permanente: resultado econômico RESULTADO DO EVENTO - UMC Total Total das Entradas 186.469 Total das Saídas (182.713) Valor Presente Líquido (VPL) 3.756 O patrimônio da Cia. Virtual, modificado pelo evento investimento em ativo permanente está evidenciado no Quadro 2.06. Quadro 2.07 - Ativo Permanente: impacto patrimonial ITENS SDO INICIAL MOVIMENTO SDO FINAL ATIVO 100.000 3.756 103.756 Circulante 100.000 (50.000) 50.000 Caixa 100.000 (50.000) 50.000 Permanente 0 53.756 53.756 Imobilizado 0 53.756 53.756 Equipamento 0 186.469 186.469 (-) Provisão p/ Gastos 0 (132.713) (132.713) PASSIVO + PL 100.000 3.756 103.756 Patrimônio Líquido 100.000 3.756 103.756 Capital 100.000 0 100.000 Resultado do Evento 0 3.756 3.756 O gestor industrial da Cia. Virtual, ao realizar a compra do ativo, consegue agregar valor ao patrimônio da empresa. Na ausência do investimento, a empresa teria que contratar serviços de terceiros que, na continuidade da empresa ao longo dos períodos de projeção do investimento, representariam, em termos de valor presente, custos adicionais de 3.756 UMC. 2.4.3. Compra de materiais Segundo o pressuposto de que todos os eventos devem ser avaliados pela contribuição econômica que geram ao empreendimento, a compra de materiais representa outra importante fonte de valor. Basicamente, duas são as oportunidades de agregação de valor oriundas do processo de compra. Em primeiro lugar, a área responsável (suprimentos) pode criar valor econômico ao obter materiais, componentes, embalagens etc. a um preço inferior ao que os compradores médios pagam no mercado, na condição à vista. O Resultado Econômico, neste momento denominado Margem de Contribuição Operacional, é a diferença entre o preço de mercado (Receita Operacional de Compras) e o preço da aquisição (Custo Operacional de Compras), ambos na condição à vista. Em segundo lugar, as condições de financiamento, no caso de a compra ser realizada a prazo, podem também proporcionar valor econômico. O resultado, neste momento denominado Margem de Contribuição Financeira, é a diferença entre a Receita Financeira de Compras e o Custo Financeiro de Compras. O Custo Financeiro de Compras é mais facilmente compreensível, pois se refere ao juro embutido pelo fornecedor pelo prazo de pagamento concedido. A Receita Financeira, por seu turno, envolve uma análise mais complexa. Trata-se do valor a ser obtido no mercado financeiro com a aplicação do caixa aliviado na compra a prazo. Em termos práticos, FACIC/UFU Controladoria – Prof. Ernando Reis. Página 25 todavia, o cálculo da Margem de Contribuição Financeira é bem simples. Trata-se da diferença entre o valor presente da compra a prazo e o valor da compra a vista. Nota-se, pois, na compra, a possibilidade da existência de dois eventos simultâneos: a compra em si e a captação de um empréstimo junto ao fornecedor. Necessariamente, o resultado de cada evento deve ser apurado individualmente a fim de que a informação sobre os impactos patrimoniais seja completa. Entretanto, há que se fazer uma breve reflexão sobre as verdadeiras origens do impacto patrimonial da compra. O simples poder comprar mais barato agrega valor ao patrimônio da empresa, porém esse poder não necessariamente reflete os esforços atuais do Departamento de Suprimentos. Pode decorrer de esforços passados da área de Suprimentos (talvez decorrentes da ação de outro gestor que antecedeu o atual, por exemplo), ou a origem do poder de compra pode ser outra que não tenha relação alguma com a área de suprimentos. Neste caso, o poder de compra pode representar um ativo intangível da empresa. Retornando ao exemplo da Cia. Virtual, o Gestor de Suprimentos é responsável por adquirir, estocar e disponibilizar a matéria-prima Couro para a área Industrial. Vislumbram-se as seguintes condições para o desempenho de suas atividades, no período 0: Quadro 2.08 – Compra de materiais: variáveis relevantes ITENS Fornecedor 1 Fornecedor 2 Quantidade (Em Mts) Preço de Mercado à Vista (R$) Valor da UMC da Compra Taxa Real de Juros (% a. p.) Preço à Vista (R$) 20,00 20,50 Preço a Prazo (R$) 20,70 21,00 Prazo (p) 1 2 Valor da UMC no Vencimento 2,33 2,35 1.000,0 23,00 2,30 2,0% Processando-se os dados anteriores, multiplicando-se os diversos preços pela quantidade de materiais, após a necessária conversão para moeda constante, de acordo com o valor da UMC para cada respectiva data, obtém-se a seguinte memória de cálculo: Quadro 2.09. – Compra de materiais: memória de cálculo ITENS / FORNECEDORES Fornecedor 1 Fornecedor 2 Valor da Compra a Prazo (A) 8.884 8.936 VP (Compra a Prazo) (B) 8.710 8.589 Valor de Mercado (C) 10.000 10.000 Valor a Vista (D) 8.696 8.913 A partir desses valores, é possível apurar o resultado econômico proporcionado pela compra da matéria-prima, nas condições apresentadas (Quadro 2.10). Os itens constantes do Quadro 2.10 são obtidos a partir de operações realizadas com base na memória de cálculo disponível no Quadro 2.09. A diferença entre o valor de mercado e o valor à vista é a margem de contribuição operacional que, por sua vez, representa o resultado econômico quando a decisão de compra privilegia a opção à vista. O valor de mercado da compra (1.000 unidades x R$23,00
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