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1) Água: Importância, Conceitos, Distribuição e Usos. 1.1) Importância Sócio-Econômica-Ambiental da água O Planeta Terra abriga um complexo sistema de organismos vivos no qual a água é elemento fundamental e insubstituível. Sem água não existe vida! Ela é responsável pelo equilíbrio da “comunidade vida”, da qual nós, seres humanos, fazemos parte. A água é também insumo indispensável à produção e recurso estratégico para o desenvolvimento econômico. Todas as atividades humanas dependem da água. Navegação, turismo, indústria, agricultura e geração de energia elétrica são alguns exemplos de seu uso econômico. Hidrologia → Ciência que trata das propriedades, distribuição e comportamento da água na natureza. O estudo da hidrologia é dividido em três ramos que tratam da água nas suas diferentes formas de ocorrência: água atmosférica, superficial e subsuperficial. 1) Água atmosférica – Em sua relação com a atmosfera, a hidrologia estuda as chuvas (precipitações), suas causas, origens, magnitude, distribuição e variação. 2) Água superficial - lagos, rios e mares. A hidrologia das águas superficiais inclui: → Reologia - águas correntes: Rios → Limnologia – reservatórios e lagos → Oceanografia – oceanos e mares 3) Água subsuperficial (águas subterrâneas) Este ramo da hidrologia considera a origem, natureza e ocorrência da água subsuperficial, a infiltração no solo, sua percolação através do solo e sua saída do solo. 1.2) Ciclo hidrológico O ciclo hidrológico representa o movimento da água no meio físico. Dentro do ciclo hidrológico, a água pode estar no estado gasoso, líquido ou sólido, distribuindo-se tanto na subsuperfície e superfície da Terra como na atmosfera. Portanto, a água está em constante circulação, passando de um meio a outro e de um estado físico a outro, sempre mantendo o equilíbrio, sem ganhos ou perdas de massa no sistema. Os processos que permitem esta circulação da água são: evaporação, transpiração, precipitação, escoamento superficial, infiltração e escoamento subterrâneo. Assim, a água evapora a partir dos oceanos e corpos d’água, formando as nuvens, que, em condições favoráveis, dão origem à precipitação, seja na forma de chuva, neve ou granizo. A precipitação, ao atingir o solo, pode escoar superficialmente até atingir os corpos d’água ou infiltrar até atingir o lençol freático. Além disso, a água, interceptada pela vegetação e outros seres vivos, retorna ao estado gasoso através da transpiração. A água retorna ao mar através do escoamento superficial pelos rios, do escoamento subterrâneo pela descarga dos aqüíferos na interface água doce/água salgada e, também, através da própria precipitação sobre a área dos oceanos. Para entender melhor este movimento da água, a figura abaixo ilustra, de forma simplificada, o ciclo hidrológico. Componentes do ciclo hidrológico: 1.2.1) Precipitações atmosféricas É a condensação do vapor d’água atmosférico devido ao seu resfriamento. Origens das precipitações: - Ação frontal de outras correntes de vento (tipo frontal) - Presença abrupta de topografia (tipo orográfico) - Convecção térmica (grandes temporais) Obs: Normalmente entre nós as precipitações se apresentam em forma de chuva, mas se o resfriamento atinge o ponto de congelamento pode ocorrer a queda de granizo ou neve. Grandezas características de uma precipitação a) Altura pluviométrica (h): Quantidade de água precipitada por unidade de área horizontal. Esta quantidade de água é medida pela altura que a água atingiria se se mantivesse no local sem se evaporar, escoar ou infiltrar. A altura pluviométrica é geralmente medida em milímetros. b) Duração (t): Intervalo de tempo decorrido entre o instante em que se iniciou a precipitação e o instante em que ela cessou (em minutos) c) Intensidade (i): É a velocidade da precipitação pode ser medida em mm/hora ou mm/minuto d) Freqüência: n° de ocorrências de uma determinada precipitação (h,t), no decorrer de um intervalo de tempo fixado. 1.2.2) Evaporação (E) Onde ocorre: Superfície das águas Superfície do solo Transpiração das plantas Fatores intervenientes a) Grau de umidade relativa do ar (UR) ⇒ UR ↑ E ↓ b) Temperatura (T) ⇒ T ↑ E ↑ c) Insolação (I) ⇒ I ↑ E ↑ d) Vento (V) ⇒ V ↑ E ↑ O vento atua ativamente no fenômeno da evaporação aumentando a evaporação devido ao afastamento das massas de ar que já tenham elevado grau de umidade. e) Pressão atmosférica (P) ⇒ P ↓ E ↑ f) Salinidade (S) ⇒ S ↑ E ↓ Obs: • A evaporação na superfície do solo depende dos fatores acima, do solo e do grau de umidade deste. Em solos arenosos saturados, a evaporação pode igualar ou exceder a que ocorre na superfície das águas. • As perdas de água para atmosfera por transpiração dependem da espécie da vegetação e do estágio de desenvolvimento desta. • A evaporação da superfície das águas é função da profundidade do corpo d’água. Quanto maior a profundidade mais acentuada é a diferença entra a temperatura da água do mar e do ar. 1.2.3) Infiltração Fases: a) Fase de intercâmbio – ocorre nas camadas superficiais do terreno, em virtude da aspiração capilar ou da utilização da água pelas plantas. b) Fase de descida – Quando a ação da gravidade supera a da capilaridade, há o escoamento descendente da água até se atingir uma camada impermeável. c) Fase de circulação – Saturado o solo, forma-se os lençóis subterrâneos; a água escoa devido à declividade das camadas impermeáveis, sujeita á ação da gravidade. Obs: As camadas do terreno em que ocorrem as fases de intercambio e de descida são denominadas zonas de aeração. A camada em que se desenvolve a fase de circulação é a zona de saturação. Grandezas características: • Capacidade de infiltração – capacidade máxima de água que um solo pode absorver (por unidade de área) por intervalo de tempo • Granulometria – Tamanho das partículas (grãos) que constituem os solos • Porosidade – relação entre o volume de vazios no solo e seu volume total Fatores que influem na capacidade de infiltração a) Tipo de solo ⇒ porosidade ↑ Tamanho das partículas ↑ ⇒ Capacidade de infiltração ↑ Os tipos de solo variam em função do diâmetro das partículas (D) b) Cobertura do solo por vegetação – A capacidade de infiltração aumenta mais ou menos, em função da espécie e do estágio de desenvolvimento da vegetação Argilas I Siltes I Areias I Pedregulhos 0,002mm 0,06mm 2,00mm c) Grau de umidade do solo – quanto maior a umidade, menor a capacidade de infiltração 1.2.4) Escoamento superficial – Deflúvio Ocorrência: a) Tipos de cursos d’água – enxurradas, córregos, rios e lagos b) Origem dos cursos d’água: Principalmente nas precipitações atmosféricas. Percursos da água: - Escoamento direto pela superfície - Infiltração no solo, circulando sob forma de águas subterrâneas. Grandezas características a) Vazões ou descargas em uma seção do curso d’água b) Freqüência de uma descarga em uma seção do curso d’água: é o numero de ocorrências de uma determinada descarga no decorrer de um determinado intervalo de tempo. c) Bacia hidrográfica relativa a uma seção do curso d’água - É a área geográfica na qual as águas precipitadas passam pela seção considerada. d) Coeficiente de escoamento superficial (ou de deflúvio) relativo a uma seção do curso d’água – Relação entre a quantidade de água escoada pela seção e a quantidade total de água precipitada na bacia de contribuição da seção considerada. e) Tempo de concentração – Tempo necessário para que, a partir do inicio de uma dada chuva, toda a bacia passe a contribuir na seção em estudo. Fatoresintervenientes no deflúvio a) Fatores que afetam diretamente a quantidade de água precipitada: Quantidade de vapor d’água, clima, estações do ano. b) Fatores que afetam o afluxo da água precipitada à seção em estudo: • Área de contribuição da bacia • Conformação topográfica da bacia: declividade; depressões, etc c) Condições da superfície do solo e constituição geológica do subsolo: • Existência de vegetação • Capacidade de infiltração no solo • Natureza e disposição das camadas geológicas: tipos de rochas, permeabilidade; estado de fissuração, etc. 1.3) Distribuição da água: 1.3.1) Distribuição da água no planeta: A água doce não está distribuída uniformemente pelo globo. A distribuição da água está relacionada com os diversos ecossistemas da Terra. Dependendo dos ecossistemas que compõem o território de um país, esse pode ter mais ou menos água disponível. � O aumento da população mundial � A poluição provocada pelas atividades humanas � Consumo excessivo e o alto grau de desperdício de água A população mundial aumentou três vezes durante o século XX; no mesmo período, o volume de água utilizado aumentou aproximadamente nove vezes. Ou seja, o crescimento populacional e o consumo desenfreado tornam-se cada vez mais incompatíveis com a quantidade de água disponível. 97,5% 2,5% Água salgada Água doce 68,8% 30,0% 0,9% 0,3% Calotas Polares, geleiras e regiões montanhosas águas subterrâneas Outros incluindo umidade do solo, placas de gelo f lutuante, pântanos, solo permanentemente congelado Rios e Lagos Contribuem para reduzir ainda mais a disponibilidade de água para uso humano. 24% de toda a população do continente africano Estresse hídrico (consumo de água > recursos renováveis de água doce) Grande parte do Peru e algumas áreas do México e América Central Na China, Índia e Tailândia, a situação é crítica. 1.3.2) Distribuição da água no Brasil O Brasil possui um grande potencial hídrico. � Detém 13,7% da água doce disponível do planeta � Abrigar ecossistemas de enorme biodiversidade como o pantanal – a maior área úmida continental do mundo – e a Várzea Amazônica, a mais extensa floresta alagada da Terra. Mesmo apesar da relativa abundância o Brasil possui uma distribuição regional dos recursos hídricos bastante diferenciada. Gravidade da situação hídrica no nordeste e sudeste: No nordeste: No semi-árido a baixa disponibilidade hídrica aliada à irregularidade das chuvas Demanda estratégias baseadas em tecnologias poupadoras de água � Coleta, armazenamento e manejo de águas de chuva; � Construção de pequenos barramentos � Implantação de barragens subterrâneas No sudeste: Apesar da privilegiada situação quanto à quantidade e à qualidade de suas águas, as seguintes ações humanas conduzem a um quadro preocupante em relação à sustentabilidade do abastecimento público, especialmente em regiões metropolitanas brasileira: � Aumento de demanda � Impermeabilização do solo (desmatamento) � Degradação da capacidade produtiva dos mananciais � Poluição (90% dos esgotos domésticos e cerca de 70% dos efluentes industriais são lançados diretamente nos corpos d’água sem qualquer tipo de tratamento) � Desperdício O que falta? � Conscientização e o combate ao desperdício � Melhor eficiência dos governos no abastecimento de água e saneamento (a principal fonte de degradação no país é a falta de saneamento) � Gestão integrada dos recursos hídricos e o compromisso das empresas públicas e privadas em conservar a qualidade da água. No meio rural as seguintes ações provocam o aumento da erosão e assoreamento, degradando a qualidade de água, principalmente nas regiões de agricultura intensiva: � Utilização de agrotóxicos de forma adequada � Remoção das matas ciliares e vegetação protetora das áreas de recarga � Uso de quantidades crescentes de fertilizantes � Movimentação de solos em áreas de declividade acentuada e em áreas de preservação permanente. Águas Subterrâneas Correspondem a água que infiltra no subsolo. Essas águas tendem a migrar continuamente, abastecendo nascentes, leitos de rios, lagos e oceanos. Reservas subterrâneas brasileiras ~ 112.000 km³. Estima-se que 51% do suprimento de água potável sejam originados de recursos hídricos subterrâneos. Aqüífero Guarani – Maior reservatório subterrâneo de água doce das Américas e um dos maiores do mundo. Abrange Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Dos seus 1,2 milhões de km², cerca de 71% estão em território Brasileiro. O crescimento da população urbana + concentração e ampliação da atividade industrial Elevação nas demandas hídricas, tanto para abastecimento público como para diluição de efluentes. Os recursos hídricos subterrâneos brasileiros estão sujeitos a uma série de riscos como os citados abaixo: � A exploração excessiva, que pode provocar o esgotamento dos aqüíferos; � A contaminação das águas subterrâneas por efluentes sanitários e industriais, agrotóxicos, fertilizantes, etc; Para garantir a sustentabilidade, a utilização das águas subterrâneas deve ter por base: � A capacidade de recarga dos aqüíferos; � Disponibilidade original do reservatório; � Manutenção da qualidade de água. 1.3.3) Águas Transfronteiriças Águas que ultrapassam as fronteiras de um ou mais países. Exemplo: As águas do Rio Amazonas são trnsfronteiriças, pois nascem no Peru e recebem contribuições (afluentes) de vários países antes de atravessarem toda a região norte do Brasil. A gestão dessas águas envolve a negociação e assinatura de tratados internacionais de cooperação, respeitando a soberania de cada país. Esses tratados procuram definir normas comuns de uso das águas e de manejo das bacias. Principais tratados de cooperação assinados pelo Brasil: � Tratado de cooperação amazônica; � Tratado da Bacia do Rio da Prata, envolvendo os Rios Paraguai, Paraná e Uruguai (Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai); 1.4) Usos Múltiplos da Água e os Principais Impactos Ambientais: Usos da água Fins Impacto ambiental Doméstico Higiene; Limpeza; Culinária; Rega de jardim e hortas. Poluição água limpa; lançamento de lixo e esgoto nos rios e córregos. Público Limpeza de repartições públicas; lavagem de ruas; manutenção de fontes e chafarizes; rega de parques e áreas verdes; incêndios; diluição de efluentes domésticos e industriais. Não tratamento os esgotos coletados que serão devolvidos aos cursos d`água Lazer, turismo Abastecimento da rede hoteleira; manutenção de piscinas; represas; esportes náuticos, marinas. Lançamento de esgoto sem tratamento e Lançamento de lixo diretamente nos rios, córregos e praias. Industrial Em todos os processos produtivos; no resfriamento e lavagem de equipamentos, pisos e pátios; restaurantes. Poluição da água durante a produção e, devolução ao meio sem tratamento Agricultura Irrigação de todos os tipos de cultura. Utilização excessiva de produtos e adubos químicos; Desmatamento de áreas de vegetação nativa e de proteção dos cursos d`água Comércio Limpeza geral e nos diversos usos em restaurantes, supermercados, postos de gasolina, lava-a-jato, hospitais etc. Lavagem de pisos e ambientes de trabalho; Lançamento de lixo, óleo e esgoto. Pecuária Fornecimento de água para os animais e na manutenção das pastagens. Erosão nos pastos pela irrigação de pastagens assoreando os cursos d`água; Lançamento de lixo e fezes nos rios e córregos. Desmatamento de grandes áreas de vegetação Navegação e transporte Locomoçãode navios, barcos e balsas. Degradação de cursos d`água, poluindo a água com óleo, lixo e resíduos da lavagem dos motores e embarcações; Degradação as margens dos rios, desbarrancamento das margens pelas embarcações, provocando a erosão e o assoreamento. Geração de energia Usinas hidrelétricas Desmatamento; perda da fauna nativa; destruição de florestas e eutrofização. 1.5) Interfaces entre Gestão Ambiental e Gestão de Recursos Hídricos: A situação atual dos recursos hídricos aponta para um quadro de crise. A Crise em torno da água reflete a falte de consciência e de desenvolvimento mundial atual esgotante de recursos naturais. A degradação ambiental tem como conseqüência a insustentabilidade da vida, do meio ambiente e das sociedades humanas. No contexto dos recursos hídricos, a busca da sustentabilidade é o caminho possível para reverter o quadro atual de degradação, traçando bases para construção de um novo modelo de desenvolvimento. Para uma participação deste modelo é desejável e necessário conhecer leis, organismos, estruturas e os instrumentos de gestão dos recursos hídricos. Tanto a Política quanto o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos são a base de qualquer ação que vise implementar o modelo de gestão proposto.
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