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Trabalho de Partido Eleições e Governo

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REALINHAMENTO ELEITORAL E AS RAZÕES DO FENÔMENO “LULISMO”
Daniel da Luz Machado
Professor – André Marenco
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Disciplina (HUM06024) – Partidos, Eleições e Governo
08/12/2014
RESUMO
Através deste trabalho tentarei abordar alguns elementos que propiciaram o realinhamento eleitoral e o fenômeno do Lulismo que foi fundamental para primeira eleição do Presidente Lula, sua reeleição, na eleição de sua sucessora a Presidente Dilma e que também manteve reflexos na reeleição da Presidente em 2014. Os argumentos que embasaram as minhas observações são referentes à bibliografia indicada em aula e as observações do Professor André Marenco.
Palavras-Chaves: Realinhamento, Lulismo, Mobilidade Social, Inclusão
INTRODUÇÃO
Vivemos de certa forma, alguns dias turbulentos no que tange o cenário político nacional. 
Descontentamentos de uma elevada parcela da população em relação ao último pleito, algumas manifestações antidemocráticas visando à alteração dos resultados aferidos através de uma recontagem de votos, manifestações de ódio e xenofobismo em redes sociais, o desejo de cassar os direitos políticos da Presidente eleita, enfim uma gama enorme de contrariedades e manifestações no âmbito geral no que se refere a opiniões.
Para os cientistas políticos e sociais, bem como para os acadêmicos dessa ciência no qual me incluo, é necessária uma observação amparada em elementos pragmáticos e palpáveis, até para que não reproduzamos as velhas discussões de bares, conforme sempre nos lembra o Professor Titular dessa cadeira.
Se analisarmos as diversas informações eleitorais e os seus desdobramentos podemos sim entender o porquê do fenômeno “Lulismo” ter se originado e contribuindo de forma decisória para a reeleição do candidato Lula e da eleição da candidata sucessora indicada pelo ex-presidente.
É com base nessas informações obtidas em aula, bem como na leitura da bibliografia indicada que tentarei explicitar o meu entendimento a respeito do fenômeno, bem como salientar a importância dessas análises que referenciam a representatividade e que por conseqüência merecem todo o respeito por parte daqueles que se sentiram não representados pela candidata vencedora do pleito presidencial e também daqueles que não se sentiram à vontade quanto às escolhas do poder legislativo.
2 O VOTO E A REAL REPRESENTATIVIDADE
	É comum ouvirmos muitas vezes a seguinte indagação: “Não sei como puderam votar no candidato X ou Y. Isso é um absurdo, um despautério.” Essa colocação é bem comum e tendenciosa quando no poder executivo ou no legislativo o candidato preferencial de quem opina não é conduzido ao cargo, porém como diz o Professor Universitário Alberto Carlos Almeida em seu livro “A cabeça do eleitor”:
	“O eleitor não é bobo. Ele sabe que o Presidente, o Governador e o Prefeito têm cada qual em seu espaço de atuação, o poder de resolver ou pelo menos combater alguns problemas”. 
	Por mais heterogêneos que sejamos enquanto eleitores e por mais confusa que possa determinadas definições chegar aos nossos conceitos, em geral os eleitores sabem o porquê escolhem determinados candidatos e o que esperam obter com essas escolhas.
	O eleitor mediano não é desprovido de uma lógica eleitoral, muito pelo contrário, ele pode não estar fundamentado em razões ideológicas, mas suas escolhas se referendam em uma lógica racional e pragmática no que tange a sua situação política.
 Se analisarmos todas as ocorrências no primeiro mandato do Presidente Lula e os seus desdobramentos entenderemos a mudança no perfil dos seus eleitores e mesmo com o advento da crise política do mensalão em 2005 o fenômeno Lulismo se instaura e garante com uma boa margem de vantagem a sua reeleição em 2006 e o seu aval decisivo para eleição da Presidente Dilma em 2010.
	
3	AS DIFERENÇAS DO ELEITORADO DE LULA DE 2002 A 2006 E AS RAZÕES DO SURGIMENTO DO LULISMO
	Após um longo período de oposição e tentativas, Lula chega ao cargo de presidente brasileiro em 2002 com a responsabilidade de substituir o governo do PSDB do Sociólogo Fernando Henrique Cardoso que vinha sofrendo um desgaste de 08 anos de administração. 
	O empresariado perdeu o receio em relação às propostas políticas do candidato Lula, mas o contingente preponderante para eleição do Petista foi sem sombra de dúvidas a classe média. As classes mais populares, tanto o proletariado quanto o subproletariado votaram em Collor no ano de 1989 e depois repetiram o ato votando em Fernando Henrique.
	Coube a classe média desgastada pela elevada taxação pública e perda financeira um voto de confiança para colocar no poder o ex-líder sindical que desde a primeira eleição direta pós-abertura democrática vinha colocando o seu nome em pauta para ocupar o cargo máximo no país.
	O primeiro mandato de Lula teve um caráter tão neoliberal como seus antecessores Fernando Henrique e Collor de Melo, visto que a política econômica adotada foi extremamente conservadora evitando um desgaste maior com os detentores do capital, dir-se-ia que foi um primeiro mandato com o intuito de espantar os temores.
	Com a adesão de parte do empresariado e da classe média brasileira, e com as instituições financeiras tendo um resultado maior, as desconfianças cessaram e algumas medidas providenciais em termos de políticas sociais puderam ser implementadas e justamente por essas implementações é que apesar do grande escândalo do mensalão em 2005, a imagem do candidato Lula não foi arranhada a ponto de lhe tirar a reeleição em 2006. Eleição essa, avalizada por um grupo diverso do período de 2002.
	A desigualdade social sempre foi aviltante no Brasil, por aqui temos não apenas o proletariado em condições precárias de economia, mas um grupo substancial vivendo abaixo da linha de miséria e formando um exército de sub-proletariados que historicamente foram preteridos pelos governos democráticos ou anti-democráticos.
	Essa imensa massa desassistida no primeiro governo democrático pós final do regime militar com a eleição do Presidente Collor foi a responsável pela condução do “Caçador de Marajás” ao mais elevado posto executivo no Brasil e em momento algum respaldou as forças que se aglomeravam na esquerda brasileira.
	Passado a decepção com o governo Collor e a cassação dos seus direitos, tendo seu Vice-Presidente assumido à nação, após a conclusão do mandato essa imensa massa aderiu ao candidato Fernando Henrique Cardoso que havia se notabilizado por ter sido mentor do plano de estabilização econômica conhecida como “Real”.
	Com o término dos 08 anos de gestão do PSDB e o inicio da gestão Petista ter seguido muito próximo à conduta do Governo anterior, algumas reformas sociais começaram a acontecer, entre elas o plano do Bolsa família que fomentou um deslocamento incrível em parte da população que estava abaixo da linha de miséria e também permitiu uma situação de empregabilidade formal muito distante dos níveis conhecidos e vivenciados.
	Essa adesão a uma nova estratificação de classe social foi preponderante para que essa imensa classe desassistida resgatasse com o candidato Lula um apoio tão desejado e em todas as eleições anteriores negada.
	Voltando a lógica citada pelo Professor Alberto Carlos Almeida em seu livro “A cabeça do eleitor”: “ O eleitor não é bobo” e avaliando as políticas inclusivas de base social, esse eleitor soube identificar no candidato Lula a continuidade da visibilidade que estava tendo e a oportunidade de mobilidade social.
	Sendo assim esse eleitor desconsiderou as acusações de corrupção e do mensalão e votou a favor de uma política social que lhe beneficiasse. E desta feita evidenciou o que o nosso Mestre sempre relata em aula, de que o eleitor, mesmo o não profundamente ligado ideologicamente, faz uma leitura pragmática na hora de votar e referendar o seu representante.
	Essa prática faz com que caia por terra o argumento preconceituoso de que o
eleitor brasileiro não sabe votar. O eleitor brasileiro sabe votar sim, e o que é melhor, utiliza como base de apoio para sua reflexão e escolha o pragmatismo necessário para o jogo político. Escolhendo assim, os candidatos que melhor referendam as suas aspirações.
	Em contra-partida a tão sacrificada classe média, com suas ideologias e necessidades rompe em sua maioria com o governo petista abandonando a base de apoio para eleição de Lula em 2006.
	Convém ressaltar que o PT e mais precisamente o seu representante Lula, não foram os criadores do achatamento da classe média.
	No jogo de pressão entre as classes de uma sociedade, os ricos empurram os médios para periferia ou base da pirâmide social, uma vez que os ricos são os detentores dos meios de produção e o fato de ter uma boa renda não faz alguém dominante e rico, pois os meios produtivos não são seus.
	Em um governo com políticas sociais reformistas, que aposta no público, independente do seu viés neoliberal, os componentes do subproletariado e do próprio proletariado pressionam a classe média, que entre as duas esferas de pressão rompem e não repete o apoio ao PT, atacando as idéias que outrora defendera.
	Essa mudança de agentes nas duas eleições de Lula e na eleição de sua sucessora fica extremamente plausível e entendível quando traçamos um panorama eleitoral brasileiro.
4.	A REPRESENTATIVIDADE DOS ESTADOS NA FORMATAÇÃO DO FENÔMENO “LULISMO”
	Tendo o eleitor um perfil pragmático e os ocupantes do poder durante muito tempo flertar com as massas, mas pouco cumprirem das promessas feitas, os estados federativos com uma incidência maior de problemas sociais e desigualdades econômicas, ao depararem-se com uma política pública que os contemple, evidentemente referendarão os candidatos que propiciarem uma melhoria em suas condições.
	As regiões Sul e Sudeste mais industrializadas mudaram parte de seus perfis e descontentes com as políticas públicas adotadas em 2002, não repetiram o voto em 2006 no candidato Lula, mas isso de forma alguma deixa de expressar um grande contingente populacional nessas regiões votando no candidato petista.
	Ao contrário do que alguns analistas deselegantemente afirmam não se trata de uma supremacia regional a eleição ou não de um candidato, como grosseiramente apontaram ao aferir os resultados. 
	A equação é bem mais simples do que parece. Se a política pública me favorece economicamente e socialmente o porquê não votar nela.
	Isso explica o porquê do Norte e Nordeste terem votado maciçamente em Lula no ano de 2006, visto que estas regiões com os planos sociais foram as mais contempladas pela política governamental, devido em parte ao seu histórico de defasagem de condições em relação às regiões Sul e Sudeste. Anormal seria esperar outro resultado divergente desses amplamente conhecidos ao longo dos processos eleitorais.
	O livro “A cabeça do eleitor” do professor Alberto Carlos Almeida já nos dois primeiros capítulos dá uma explicação consistente no que um eleitor espera de um candidato e embora as análises sejam pertinentes a algumas disputas regionais e municipais, a clareza dos argumentos apresentados por si só já nos dão subsídios para entender a eleição de Lula em 2002 e mais precisamente a sua reeleição em 2006 com um apoio substancial de uma categoria que no primeiro mandato não lhe foi fiel.
	Com base nesses capítulos e comparando as necessidades diferenciadas de cada estado à divisão proporcional dos votos não demonstra de forma alguma ser fruto de algo absurdo e nem como erroneamente algumas pessoas alegam estar diretamente ligadas a fatores como suposta inteligência diferenciada, escolaridade ou grau de desenvolvimento. Os resultados aferidos em cada estado se dão necessariamente por uma opção pragmática de quem tem a prerrogativa de votar.
5.	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	A democracia brasileira em sua plenitude ainda é muito jovem. De 1989 a 2014 fazem vinte e cinco anos de um exercício que não é tão simples assim.
	Formamos um povo heterogêneo, plural e com demandas específicas, demandas essas que fazem parte de um coletivo, município, estado. Daí o grande porquê de buscarmos através do voto representantes que satisfaçam nossos anseios.
	As variáveis que compõe a cabeça do eleitor são diversas e seria um erro subestimar sua capacidade de avaliação.
	Ainda que o eleitor não tenha profundidade ideológica, ele segue uma lógica no ato de votar e a reeleição de Lula em 2006 trouxe a tona uma lógica coletiva que ansiava por mais empregos formais, mobilidade social, capacidade de consumo e esses fatores foram oferecidos a uma grande parte da população como uma política social desenvolvimentista que contemplou um grande grupo outrora relegado ao esquecimento. 
	Quando a bandeira da ética é suplantada pelo avanço em empregos, abandono da linha de miséria, não podemos classificar o eleitor que não deu importância a escândalos administrativos e fez a opção que melhor lhe convinha.
	É absolutamente do jogo democrático a produção de certos fenômenos e o advento do Lulismo, é um deles.
	Para que possamos analisá-lo e entender os seus desdobramentos nos dias atuais é necessário debruçar-se em livros e estudos embasados que explicitam a lógica por trás do voto e abandonarmos as frases e questionamentos clichês em torno dos resultados eleitorais.
	Um gaúcho e um paulista não são mais desenvolvidos nem mais inteligentes do que um baiano ao escolherem o candidato “X” ao invés do candidato “Y” a diferença centra-se nas demandas e na capacidade de avaliação e absorção das informações chegadas ao grande público.
	Desdenhar ou satirizar o processo democrático é continuar mergulhando nas trevas da falta de observação ao mundo a nossa volta e mais do que isso é perder a oportunidade de refletir, crescer e apoderar-se de maneira democrática e efetiva de escolher os rumos que guiarão nosso país.
6.	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Singer, André.		O Sentido do Lulismo - Reforma Gradual e Pacto Conservador
Editora – Companhia das Letras
Almeida, Alberto Carlos	A Cabeça do Eleitor
Editora – Record

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