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ARTIGO CIENTIFICO - ALTHUSSER - APARELHOS IDEOLOGICOS DO ESTADO

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CO-AUTORIA DA VIOLÊNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DA LINGUAGEM E A IDEOLOGIA NO CONTEXTO DO APARELHO ESCOLAR
	 FABIO LUIZI DOS SANTOS	 [1: Graduando do curso de Filosofia – Universidade Metodista de São Paulo – Faculdade de Humanidades e Direito – Email: sendero45@bol.com.br]
RENAN DE GUSMÃO GUIMARÃES[2: Graduando do curso de Filosofia – Universidade Metodista de São Paulo – Faculdade de Humanidades e Direito – Email:  reeh.gusmao@gmail.com ]
SILBER NOBRES BARBOSA[3:  Graduando do curso de Filosofia – Universidade Metodista de São Paulo – Faculdade de Humanidades e Direito – Email: silber.barbosa@toledobrasil.com.br ]
Resumo: Neste presente artigo, pretende-se apresentar um estudo reflexivo sobre a relação entre linguagem e a ideologia no contexto social da escola pública à luz da filosofia exposta na obra Aparelhos Ideológicos de Estado de Louis Althusser. Com o intuito de problematizar o processo de formação constitutivo do discurso de poder que viabiliza a disseminação da ideologia burguesa no aparelho escolar; buscar-se-á investigar o modo de agir e pensar dos co-autores (agentes) desta violência simbólica que engendram formas específicas de administração pública para manter o funcionamento do aparelho ideológico em convergência com os ditames da centralização organizacional da burocracia de Estado. Diante do exposto, torna-se imprescindível responder ao seguinte questionamento: A escola pública representa um aparelho ideológico reprodutor das desigualdades sociais? Consideramos que esta pesquisa pode nos proporcionar o conhecimento de informações relevantes sobre os desdobramentos da prática sócio-educativa vigente em nossa sociedade; desse modo, podem surgir as condições de possibilidade para conceber a projeção de um agir crítico e analítico perante a realidade. 
Palavras-chave: Co-autoria; Violência; Poder; Linguagem; Ideologia; Estado; Aparelho Escolar
 
“A liberdade não é vaidade, nem o isolamento. Ser livre é, antes de tudo, escapar da escravidão que a ignorância impõe, da escravidão que em nós mesmos reside, e trazer a inteligência a iluminar os atos e a vida” 
(Manuel Bomfim – A América Latina: males de origem)
Considerando que o processo que permite a aquisição de conhecimentos e experiências através do sistema educacional possui uma determinada finalidade; presume-se que o papel principal da escola pública, reside em transmitir de forma sistemática o conjunto de saberes constitutivos que permitem o desenvolvimento harmonioso da personalidade dos indivíduos, de modo que tenham as condições de possibilidade para compreender e, sobretudo, reagir às circunstâncias sociais, políticas e culturais dentro da comunidade em que estão inseridos. Dessa forma, é imprescindível salientar que a educação formal como atividade dinâmica na sociedade, não nasce de forma repentina conosco, ao contrário, a educação é o resultado de um longo processo histórico de acumulação de conhecimentos.
Pelo movimento dialético da história, surgem as condições favoráveis para o advento da herança de um sistema educacional gerenciado pelo Estado, que pretende representar todo um sistema de ideias, hábitos, costumes, crenças, cultura e as tradições de um povo. Sendo a escola pública um organismo de ordem institucional na sociedade capitalista, então podemos identificar sua relação de subordinação à estrutura administrativa gerenciada pela burocracia estatal. Com efeito, o Estado não está acima dos antagonismos sociais e da luta de classes; ao contrário, este representa de forma peremptória a visão de mundo e os interesses da classe dominante na sociedade. 
Em decorrência desse fato, a escola pública possui um corpo de agentes (gestores, professores, inspetores e funcionários) que ficam distribuídos no interior da espacialidade escolar dentro de um regime hierárquico para desenvolver suas competências que foram analisadas e autorizadas pelo advento classificatório do concurso público; ou seja, trabalhadores que venderam sua força de trabalho, prestando serviço assalariado ao sistema educacional gerenciado pela burocracia do Estado capitalista. 
Isto posto, cabe aqui, assinalar que a interpretação marxista do filósofo Louis Althusser em sua obra “Aparelhos Ideológicos de Estado”, nos fornece importantes elementos teóricos para compreender o papel institucional da escola pública na sociedade capitalista. Vejamos aqui, a caracterização do Estado e seus aparelhos ideológicos:[4: Nota dos Autores - Louis Althusser (1918 – 1990) é filósofo. Nascido na Argélia, emigrou para a França, realizando seus estudos filosóficos. Aprofundou-se no estudo do marxismo, destacando-se pela contribuição teórica acerca das formações ideológicas na sociedade capitalista. Ocupou a cátedra de filosofia na Ecole Normale Supérieure – Paris. ]
O Estado (e sua existência em aparelho) só tem sentido em função do poder de Estado. Toda luta política das classes gira em torno do Estado. Entendamos: em torno da posse, isto é, da tomada e manutenção do poder de Estado por uma certa classe ou por uma aliança de classes ou frações de classes. Esta primeira observação nos obriga a distinguir o poder de Estado (manutenção ou tomada do poder de Estado), objetivo da luta de classes política de um lado, do aparelho de Estado de outro. ( ALTHUSSER, 2001, p. 65)
Diante do exposto, com efeito, diremos que dentro do Estado existe duas esferas de representação da divisão social do trabalho na sociedade de classes; estamos aqui nos referindo a infra-estrutura e a superestrutura. Com relação à infra-estrutura (industrias, usinas, portos, aeroportos, ferrovias, comércio e etc...), podemos dizer que esta representa as forças produtivas e as relações sociais de produção, viabilizando a manutenção da produção, distribuição e troca dos bens de consumo. De outra parte, a superestrutura, diz respeito às instituições sociais, políticas e culturais da sociedade (igrejas, escolas, polícia, exército, meios de comunicação, família, sistema legislativo, executivo, judiciário e etc...) que viabilizam os constructos ideológicos que exprimem as contradições existentes nas relações sociais de produção. 
Todavia, verificamos que as relações sociais de produção decorrentes da infra-estrutura são determinantes para viabilizar as formações ideológicas no que tange a conjuntura da superestrutura; como resultado do processo agônico no contexto da divisão social do trabalho.
Destacamos, neste momento, esta importante analogia postulada pelo filósofo Althusser:
Qualquer um pode facilmente perceber que a representação da estrutura de toda a sociedade como um edifício composto por uma base (infra-estrutura) sobre a qual erguem-se os dois “andares” da superestrutura constitui uma metáfora, mais precisamente, uma metáfora espacial: um tópico. Como toda metáfora, esta sugere, faz ver alguma coisa. O que? Justamente isto: que os andares superiores não poderiam “sustentar-se” (no ar) por si sós se não se apoiassem sobre sua base. ( ALTHUSSER, 2001, p. 60)
Nesta perspectiva, podemos conceber o papel importante que cumpre o aparelho escolar na sociedade; pois, a escola pública situada na esfera superestrutural, revela-se como um instrumento de dominação de classes. Um veículo extremamente eficaz naquilo que diz respeito à reprodução dos meios de produção e da força de trabalho. Uma vez que a escola pública recebe estudantes oriundos de todas as classes, ainda assim, sua composição social é formada majoritariamente pelos filhos da classe trabalhadora, de modo que tornar-se-á imprescindível promover uma educação voltada para atender as demandas específicas do mercado de trabalho; pois, o intuito é enfeixar no contexto do aparelho escolar a representação da vontade das elites dominantes, sendo eles os donos dos meios de produção. 
Neste contexto, cabe aqui, destacar a obra “A Ideologia Alemã” onde os filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, afirmam:
As ideias (Gedanken) da classe dominante são, em cada
época, as ideias dominantes: isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual. (MARX & ENGELS, 1999, p. 72)
É importante salientar que a ideologia cumpre um papel fundamental no que tange ao processo de reprodução dos meios de produção no contexto do aparelho escolar. Verificamos que a burguesia tem os recursos midiáticos ou os meios de produção vitais que viabilizam o uso da linguagem ou discurso de poder; de tal modo que, podem disseminar a sua visão de mundo, assim como normatizar o seu próprio modo de ser (Ethos – hábitos e costumes) para encaminhar um processo de alienação dos alunos perante a realidade para condicioná-los ao processo de aceitação passiva da ordem social vigente. 
Por isso, o processo de efetivação da violência simbólica no contexto escolar ocorre por meio do exercício de uso da linguagem, sendo esta um instrumento de veiculação do discurso de poder no aparelho ideológico de Estado. Sendo assim, a reprodução dos meios de produção e da força de trabalho que exprimem as relações sociais antagônicas na esfera da infra-estrutura, torna-se crucial na medida em que, oferece as massas populares pelo processo de ensino-aprendizagem os meios para ingressar no mercado de trabalho, tendo em vista ocuparem as posições subalternas na pirâmide estratificada do capital. 
Pois bem, estamos diante de uma situação anacrônica que exige uma reflexão profunda sobre os desdobramentos desse processo de aparelhamento da escola pública que institui um discurso de poder. Digo anacronismo no sentido de que o discurso da burocracia governamental é postulado no sentido de valorizar o ideal de uma educação pública de qualidade para todos, entretanto, em sua praticidade habitual torna-se o inverso; pois não está em conformidade com as políticas internas de gestão escolar que são incapazes de fazer da educação um instrumento para libertação dos homens e mulheres do autoritarismo institucionalizado como prática vigente dos co-autores da violência; ou seja, diversos agentes que exercem o poder da força característico do regime disciplinar que corrobora com a dominação da dimensão espiritual dos alunos. 
Diante do exposto, cabe aqui, explicitar qual é a vinculação entre a linguagem e o conhecimento enquanto instrumentos de poder, pois toda aquisição de palavra no contexto da escola pública – aparelho ideológico; pode representar para o agente enunciador da palavra uma posição social de poder.
O professor tradicional pode abandonar o arminho e a toga, e ele pode mesmo gostar de descer de seu estrado a fim de misturar-se à multidão, mas não pode abdicar de sua proteção última, o uso professoral de uma língua professoral. Se não há nada de que ele não possa falar, luta de classes ou incesto, é que sua situação, sua pessoa e sua personagem implicam na “neutralização” de seus propósitos; é que também a linguagem pode não ser mais, em última análise, um instrumento de comunicação, mas um instrumento de fascínio cuja função principal é atestar e impor a autoridade pedagógica da comunicação e do conteúdo comunicado. 
(BOURDIEU & PASSERON, 1975, p. 123)
Pelas suas funções dentro do aparelho escolar, nota-se que a classe professoral pode reproduzir ideologicamente as relações oficiais de autoridade, sendo ela também vítima destas relações de poder enquanto classe trabalhadora que vende sua força de trabalho à serviço da burocracia de Estado. Entrementes, essa verticalização referente a função exercida pelos agentes educacionais, exprime o constructo ideológico que condiciona funcionário público a glorificar o regime burocrático de diferenciação das competências como único meio eficaz de gestão da escola pública. 
O aparelho (repressivo) do Estado funciona predominantemente através da repressão (inclusive a física) e secundariamente através da ideologia. (Não existe aparelho unicamente repressivo). Exemplos: o Exército e a Polícia funcionam também através de ideologia, tanto para garantir sua própria coesão e reprodução, como para divulgar os “valores” por eles propostos.
Da mesma forma, mas inversamente, devemos dizer que os Aparelhos Ideológicos do Estado funcionam principalmente através da ideologia, e secundariamente através da repressão seja ela bastante atenuada, dissimulada, ou mesmo simbólica. (Não existe aparelho puramente ideológico). Desta forma, a Escola, as Igrejas “moldam” por métodos próprios de sanções, exclusões, seleção etc... não apenas seus funcionários mas também suas ovelhas. E assim a Família... Assim o Aparelho IE cultural (a censura, para mencionar apenas ela) etc.
(ALTHUSSER, 1918, p.70)
Acerca da concepção de Althusser, podemos claramente identificar a produção e reprodução da violência nos espaços de relação pública, estando presente esta violência no conceito de repressão, a partir disso nos cabe identificar não a constituição da violência física, mas a abordagem do instrumento utilizado pelos aparelhos ideológicos do estado em função à aplicação dessa violência sobre os indivíduos e grupos, primeiramente podemos afirmar que o principal instrumento utilizado por esses Aparelhos IE se constituiu pelo uso da linguagem nos discursos repressivos, analisando mais profundamente podemos verificar que pode ter a linguagem discursiva dois aspectos fundamentais na sua utilização disciplinar, sendo o primeiro aspecto a imposição do discurso como forma de repressão psicológica ativa (caracterizado principalmente nas escolas públicas pela demonstração de poder hierárquico), e como segundo aspecto a redução do discurso do outro como forma de repressão psicológica passiva que tem como principal função subjugar o discurso do outro como meio de estabelecer a obediência (este aspecto tem funcionalidade principalmente na manutenção do poder hierárquico estabelecido, como exemplo: o professor demonstrar conhecimento específico para comprovação da qualidade do seu conhecimento universal perante o aluno).
Walhausen, bem no início do século XVII, falava da "correta disciplina", como uma arte do "bom adestramento”. (1) O poder disciplinar é, com efeito, um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior "adestrar"; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-las; procura ligá-las para multiplicá-las e utilizá-las num todo. Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o que lhe está submetido, separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até às singularidades necessárias e suficientes. "Adestra" as multidões confusas, móveis, inúteis de corpos e forças para uma multiplicidade de elementos individuais - pequenas células separadas, autonomias orgânicas, identidades e continuidades genéticas, segmentos combinatórios. A disciplina "fabrica" indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício. Não é um poder triunfante que, a partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu superpoderio; é um poder modesto, desconfiado, que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente. Humildes modalidades, procedimentos menores, se os compararmos aos rituais majestosos da soberania ou aos grandes aparelhos do Estado. E são eles justamente que vão pouco apouco invadir essas formas maiores, modificar lhes os mecanismos e impor-lhes seus processos. O aparelho judiciário não escapará a essa invasão, mal secreta. O sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é específico, o exame.
(FOUCAULT, 2004, p.143)
No que diz respeito à formação desses Aparelhos IE que utilizam a
linguagem e consequentemente o discurso, necessitam ainda a composição de um rigor a fim de garantir o resultado da sua utilização, além da própria manutenção do discurso, a disciplina é o aspecto importante dessa garantia de obediência, tendo em vista a concepção de disciplina em de Foucault, presente na citação, ainda é possível nos questionarmos qual seria sua relação com os meios de aprendizado e qual sua necessidade na constituição didática do saber produzido nas escolas públicas, sabendo que notoriamente este processo não implica em uma potencialização intelectual, mas o seu inverso uma potencialização estritamente utilitária para meios técnicos de produção e sustentação do poder politico vigente, se torna evidente a constituição de normas disciplinares como processo de alienação politica do individuo inserido nesse processo, sendo esse mesmo processo o meio de produção em massa de uma carga ideológica (com frequência da classe dominante), produzida violentamente contra o intelecto e não somente a este como posteriormente se refletirá no aspecto físico do individuo, dado que esse processo tende a dissolução da plurivalência social, negando qualquer condição da diversidade humana e dos diferentes discursos, ampliando a intolerância entre os diferentes modos de constituição social e limitando a vontade de aprendizado do individuo presente nesse processo.
Mas esse aspecto semiótico e esse papel contínuo da comunicação social como fator condicionante não aparecem em nenhum lugar de maneira mais clara e completa do que na linguagem. A palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra não comporta nada que não esteja ligado a essa função, nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social.
O valor exemplar, a representatividade da palavra como fenômeno ideológico e excepcional nitidez da sua estrutura semiótica já deveriam nos fornecer razões suficientes para colocarmos a palavra em primeiro plano no estudo das ideologias. É precisamente, na palavra que melhor se revelam as formas básicas, as formas ideológicas gerais de comunicação semiótica.
 (BAKHTIN, 2002, p.36)
Ao que se relaciona este artigo se faz necessário à reflexão da composição do aparelho escolar público em sua prática, tendo em vista que não somente sofre repressão o aluno, mas todos os indivíduos que compõe a comunidade escolar, pois essa violência psicológica através da linguagem e do discurso se mantem exatamente pera relação de constante repressão entre os indivíduos que partilham desse mesmo espaço público, tornando-se evidente que a ideologia presente nos corredores das escolas públicas tendem muito frequentemente a se estabelecer também nas comunidades ao seu alcance, começando nas relações entre alunos e professores, professores e gestão escolar, gestão escolar e funcionários, funcionários e alunos, ultrapassando então para as relações entre pais e professores, pais e gestão, claramente nesses alunos que serão pais dos próximos alunos presentes nessa instituição, mas ainda que por sua vez tudo que foi argumentado tenha alguma relevância é preciso constituir, ainda que não como solução única e verdadeira, uma ou mais possibilidades de modos para se alcançar a compreensão desse estado e consequentemente, se não a dissolução integral, a erradicação em maior parte dessa violência psicológica que esta enraizada nos modos plurivalentes sociais daqueles que compartilham da vida pública e, sobretudo aqueles presentes dentro do aparelho escolar público.

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