Buscar

A ESFERA PÚBLICA E A ESFERA PRIVADA EM HANNAH ARENDT

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA
RENAN DE GUSMÃO GUIMARÃES - 247461
A ESFERA PÚBLICA E A ESFERA PRIVADA
EM HANNAH ARENDT
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2015
A respeito da esfera pública o termo "público" comumente se direciona para dois fenômenos diferentes ainda que ligados. Primeiramente o "público" foca-se na ideia de acessibilidade (tudo o que vem a público está acessível a todos, como por exemplo, a informação que pode ser recebida por todos). Quando compartilhamos uma informação ou um sentimento na forma de uma música, ou quando compartilhamos experiências artísticas, o individual (o privado) transforma-se em acessibilidade pública. O que garante esse fenômeno é uma condição fundamental: o compartilhamento da realidade do mundo e de cada individuo. Entretanto, para Arendt há sentimentos que não podem ser inteiramente compartilhados no espaço público, por exemplo, a dor física. O desejo por “pequenos objetos” pode não parecer relevante, mas faz parte da constituição do sentimento de um povo em que o bom senso pelos pequenos objetos contraria a industrialização. E em segundo, o "público" foca-se na ideia de comum. Na realidade do mundo um bem é comum, ou de interesse comum do artefato, conforme o mesmo é compartilhado pelos indivíduos. Com a população de massas, o homem tem uma perda da capacidade de conviver em comum restringindo-se ao consumo. Arendt aponta que a filosofia cristã da caridade por Santo Agostinho a partir da palavra de Cristo, é o princípio único capaz de unir os indivíduos criando um mundo que compartilha do amor ao próximo como a forma de evitar a condenação do mundo. Para Arendt, a esfera política própria das comunidades cristãs não surgiu. Arendt ainda defende a oposição ao consumo pela população de massas, ultrapassando a “salvação da alma” como o bem comum dos cristãos.
Na Antiguidade, os homens entravam na vida pública por meio da ação política com objetivo de alcançarem destaque escapando assim do anonimato da esfera privada. Com a garantia de destaque da esfera política conduzia-se à ideia de ser lembrado mesmo depois da morte. Com a esfera pública tornando-se laica (assim perdendo a concepção metafísica) é um apontador fundamental do desaparecimento da esfera pública clássica. A pólis grega, assim como a res publica dos romanos, ambas descendem de uma concepção metafísica, que empregava a imortalidade da ação como o princípio de maior valor político. Para Arendt nunca uma população de massa focada no consumo e nos interesses privados, assim como a esfera privada da família e da casa poderá sobrepor a pluralidade de opiniões da esfera pública política. A esfera pública comum não é resultado de uma igualdade da natureza humana, contudo fundamentalmente um bem comum (a política) que é de interesse a todos os indivíduos, ainda que em concepções distintas. Sendo assim é possível compreender a pluralidade de opiniões. Quando o interesse comum da política se transforma em interesse privado do regime tirânico se dá a destruição do comum na esfera pública produzindo condições para o nascimento do totalitarismo, impedindo a pluralidade de opiniões num espaço público comum.
A respeito da esfera privada, a propriedade (Arendt realiza uma explicação dos conceitos de propriedade e riqueza inerentes à esfera da família e da casa) Arendt afirma que apenas com garantia de propriedade privada e de riqueza necessária à subsistência biológica, o homem poderia escapar da escravidão e da pobreza, sendo assim, capaz de ultrapassar as demandas da vida natural e desejar à cidadania na polis. Arendt realça ainda que o pensamento cristão e o socialismo contribuíram para o distanciamento da propriedade e da riqueza, elementos fundamentais da esfera privada. O cristianismo encara a propriedade e a riqueza de forma não particular, mas bens compartilháveis. Segundo Arendt, viver na esfera privada é estar limitado a não ser notado por todos na comunidade política em que os indivíduos partilham uma ação política em espaço comum (a pólis). 
Desde a Antiguidade, ser proprietário significava que o indivíduo possuía uma parcela do mundo e comandava uma família. Ou seja, o indivíduo possuia o controle de uma parte da população e do território, que constituíam no seu conjunto juntamente com (o poder e a lei) a base da estrutura política. Ser privado da propriedade significava ter uma limitação que impediria de garantir as demandas do lar e da família (situação essa comum de um não cidadão), entretanto ser pobre não significava a perda da propriedade e da cidadania. Na polis grega, a lei pública mediava à liberdade dos cidadãos na sua ação política separando-se da lei natural. Arendt refere que a lei da polis tinha como pressuposto a aplicação da ação política a uma espécie de divisão entre o comum da política e o processo biológico do oiko, e não ao ato de legislar nem a proibições. A existência da riqueza privada constituía-se em meio ao qual o homem não estava subordinado a um senhor, mas ele próprio poderia garantir seu sustento. A riqueza não significava apenas o acumulo de bens, mas um elemento capaz de evitar a pobreza e a escravidão libertando o homem do labor e garantindo a possibilidade de ultrapassar a demanda natural. Contudo, quando o homem buscava aumentar sua propriedade, para além da sua demanda, sacrificava a disposição necessária para a cidadania na polis. Na esfera privada, o homem era limitado da mais importante capacidade, a ação política. Para Arendt o homem só era humano se atingisse a esfera pública.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando