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- Hanna Arendt busca entender quem é o homem; e para tanto, trata da existência humana desde a Grécia Antiga até a Europa moderna, a fim de compreender também a natureza da sociedade e sua evolução, bem como pesquisar as origens e alienação no mundo moderno. - Ao começar a obra, a autora alerta: condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do homem. As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem é parte. - Somos condicionados por nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos, em suma os aspectos internos do condicionamento. - Pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família, são os elementos externos do condicionamento. - Os três aspectos da condição humana: -Labor ou trabalho -Fabricação ou Obra -Ação - Usa o termo vita activa para designar três atividades: trabalho, obra e ação. Cada atividade tem como correspondente uma condição da existência humana, sendo estas correspondentes: vida, mundanidade, pluralidade. - Tudo o que produzimos condiciona a nossa existência. Não se pode falar em uma natureza humana, uma essência. A vita activa tem raízes permanentes num mundo de homens ou de coisas feitas pelos homens, um mundo que ela jamais abandona ou chega a transcender completamente. - Toda as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos, mas só a ação é prerrogativa exclusiva do homem; nem um animal nem um deus é capaz de ação, e só a ação depende inteiramente da constante presença dos outros. - A pluralidade era a mais nobre, e a preservação da vida a mais básica. - O “labor” é o processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie humana; manutenção da vida. Se dá no espaço privado, da garantia da vida, produção do alimento... - A fabricação é a atividade de transformar coisas naturais em Hannah Arendt A Condição Humana artificiais. Não é intrínseca, constitutiva da espécie humana, ou seja, não é a essência do homem. É uma atividade que o homem impôs à sua própria espécie, ou seja, é o resultado de um processo cultural. A obra não está ligada ao ciclo natural da vida, em um sentindo biológico, natural, mas está vinculado ao mundo das coisas, artificial, dos bens criados pela transformação do homem sobre produtos naturais, que cria um novo mundo diverso da natureza, portanto a condição humana da mundanidade. - A ação é a necessidade do homem em viver entre seus semelhantes, sua natureza é eminentemente social. Única atividade que se exerce entre os homens sem a mediação das coisas. A qualidade da ação supõe seu caráter social ou como escreve Hanna, sua pluralidade. O lugar da ação é o espaço público. “A pluralidade é a condição da ação humana porque somos todos iguais, isto é, humanos, de um modo tal que ninguém jamais é igual a qualquer outro que viveu, vive ou viverá”. - A ação e o discurso são as formas com que os humanos têm para aparecer aos outros humanos, quando alguém age, isso implica o discurso. Com o discurso feito, podemos nos comunicar dentro do mundo comum, tendo o discurso extrema importância para a ação. - A liberdade era, na Grécia, um tema que não dizia respeito à filosofia, mas sim uma questão para aqueles que participavam da vida política, já que a vida contemplativa estava ligada ao pensamento, enquanto que as atividades públicas estavam relacionadas com a ação. Logo, o lugar da liberdade era a ágora. - Homem: animal social ou político: O mundo, para Hannah Arendt, é o que o ser humano produziu, cuida ou organizou. Não há vida humana sem um mundo que testemunhe a presença de seres humanos. - A única atividade que não pode ser imaginada fora da sociedade dos homens é a ação. - “É somente através do discurso e da ação que os seres humanos se manifestam uns aos outros, não como meros objetos físicos, mas enquanto homens” - Não há referência à palavra social na língua ou pensamento grego. Essa tem origem romana: societas, que era a aliança entre pessoas para um fim específico. - O ser político, o viver numa polis – diferente da esfera privada – significava que tudo era decidido mediante palavras e persuasão, e não através de força ou violência. - Para os gregos, a organização política é oposta à associação natural constituída pela casa e pela família. - O que compõe a vida política (bios politikos) é a ação (praxis) e o discurso (lexis), e dela deriva a esfera dos negócios humanos que exclui o que seja apenas necessário ou útil. - Forçar alguém a algo era algo pré- político, típico do lar e da família, típico dos chefes despóticos e de todos que estavam fora da Polis (escravos e bárbaros). Estes eram destituídos de um modo de vida no qual somente o discurso tinha sentido. - O domínio absoluto e inconteste (pater famílias) e a esfera política eram mutualmente excludentes. - A polis e a família: A esfera social, como algo que não é nem privado e nem público, surge na era moderna e se caracteriza politicamente no Estado Nacional Moderno. - Entre os gregos: público era o mundo comum; e o privado a manutenção da vida. - No mundo social há uma espécie de administração doméstica e coletiva, uma economia social (e não uma ciência política). “Sociedade é o conjunto de famílias economicamente organizadas de modo a constituírem um fac-símile de uma única família sobre humana e sua forma política de organização denominada Nação”. - Para os gregos, a própria expressão “economia política” seria uma contradição. - Os gregos consideravam os limites da propriedade privada como sagrados, não por ser uma propriedade privada, mas porque sem um lugar no mundo o homem não podia participar dos negócios do mundo. - Na esfera privada os homens viviam juntos por necessidade e carências. A vida (alimento) era a propulsora para o homem e a reprodução (parto) para a mulher. - Na esfera da polis, ao contrário, era a liberdade a propulsora. O propósito da política não era proteger a sociedade (de fiéis ou de proprietários ou de produtores). - Para os gregos, a liberdade situa-se na esfera política e era na esfera privada que a violência se justificava – escravidão, por exemplo – para cobrir as necessidades. - Liberdade é eudaimonia. Ser pobre e doente era estar exposto a uma necessidade. Não ser livre e indesejado, pois impedia o acesso ao mundo público. - A polis só conhecia iguais; a família era o centro da mais severa desigualdade. Ser livre não significava submissão, mas também não significava domínio. - A igualdade na esfera pública refere-se a viver entre pares, por isso não está relacionada com a Justiça, já que evidentemente não desconhecia a desigualdade. - No mundo moderno, a política é apenas uma função da sociedade. A elevação da oikia e das atividades econômicas ao nível público fizeram com que essas questões privadas ganhassem status de interesse coletivo. - Na modernidade, os interesses privados assumem importância pública. - A vida boa, afirmada por Aristóteles, era boa porque supera a necessidade do viver, libertado do labor e do trabalho, do anseio inato da sobrevivência (medo). Rompia com o processo biológico da vida. Passava a viver uma segunda vida. - A promoção do social: A passagem do privado para a esfera pública alterou o significado dos termos e a sua importância para a vida do indivíduo e cidadão, tornando-os quase irreconhecíveis. - O círculo de intimidade que hoje chamamos de privado não existia na Grécia. Isso porque, os gregosconsideravam que o mundo privado privava a pessoa do exercício de suas mais altas capacidades. Quem vivesse exclusivamente no mundo privado não era inteiramente humano. - A ascensão da sociedade se deu pela absorção da família por grupos sociais correspondentes. A igualdade entre os membros desses grupos já não é a igualdade da polis, mas a hierarquia da família, com interesses comuns. - Assim, ao invés da ação – imprevisível e irrevogável – a sociedade é conformista, burocrática, normalizadora. - A sociedade conquistou a esfera pública e o indivíduo passou a ser o seu oposto. A relação humana na sociedade não é mais a da ação, mas o comportamento. - A polis grega era agonística. Era o lugar em que cada homem podia mostrar o que era, sua singularidade. - No mundo moderno, do conformismo, ao invés da ação, desenvolve-se a economia e a estatística, porque ao contrário das cidades estado que eram pequenas agora os espaços urbanos são enormes. Daí também o florescimento do despotismo, que os gregos identificavam nos persas. - Os eventos perdem a importância de iluminar o tempo da História. A uniformidade estatística é um ideal político do conformismo. - Quanto maior a socialização, maior a tendência de uma uniformização de interesses, como um “lar com dimensões de nação”. E ao invés dos governos, com caráter despótico, essas sociedades tendem a ceder lugar à mera administração. - A sociedade assim vai se estendendo, absorvendo não só as esferas do político e do privado, como também da intimidade. O próprio processo da vida é canalizado para a esfera pública. Prova disso é que a sociedade se concentrou em torno de um ponto comum: o labor. - Para os gregos, o lugar da liberdade era exclusivamente a esfera pública. O lugar da casa, da propriedade doméstica, era o lugar da economia. - Ser livre significava, ao mesmo tempo, não estar sujeito às necessidades da vida nem ao comando de outro e também não comandar. Não significava domínio, como também não significava submissão. Assim, dentro da esfera da família, a liberdade não existia. - A igualdade era a própria essência da liberdade; ser livre significava ser isento de desigualdade presente no ato de comandar, mover-se numa esfera onde não existiam governo nem governados. - O que torna tão difícil suportar a sociedade de massas não é o número de pessoas que ela abrange, ou pelo menos, não é este o fator fundamental: antes, é o fato de que o mundo entre elas perdeu a força de mantê-las juntas, de relacioná-las umas às outras e de separá-las. - A polis diferenciava-se da família pelo fato de somente conhecer iguais, ao passo de que a família era o centro da mais severa desigualdade. - Enquanto acreditamos que, na esfera política lidamos com meios e fins – diferente dos gregos para quem a política não tem fins, não poderemos impedir que alguém recorra a todos os meios para alcançar seus fins. Essa é a possibilidade do autoritarismo, objeto principal da preocupação da autora. - Procura identificar a política após a quebra da tradição, ou seja, a vinda da modernidade (início do século XVI – XVII). Com as grandes navegações, reforma protestante, mudanças na ciência... cria-se um ambiente propício à ascensão de governos autoritários.
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