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I • o conceito de infância Antes de começar a falar em psicanálise com crianças é ne- cessário estudar o conceito de infância, historicizando como----~.-.=--~.~.---__ '-'- __.- a criança foi pensada dentro da cultura ocidental desde a Antigüidade até hoje. Houve um tempo em que não se tinha a concepção da infância tal como hoje a entendemos, ou seja, ~Prnoum ~.~~ singular,com uma particularidade que a diferencia do adYltº~.----._----_.- _ --'-_ -_ .._----- .. -- ....•._-- --- _" _ .• -------------------_. Em História social da criança e da família, Philippe ..•. ~. _.. -- ~--.- .._---_ .. -_ ..--'~ -_._-'-~----_ .. _ ..••.~----~----_.,~~ - ~-- - .. pi~~s faz um estudo na Europa, no período compreendido entre a Idade Média e o século XX, para demonstrar como a definição de criança se modificou no decorrer do tempo de acordo com parâmetros ideológicos. Pela análise de pintu- ras, diários, esculturas e vitrais produzidos na Europa no período anterior aos ideais da Revolução Francesa, Aries forja a expressão «senti~s:.ntQ...4~jp.t~~9:~)l?~ra..9:~~gn(lX~~a c()?s.c~~J:l~i.a..~~.E<l~ti~v.l~~i.~~4~~l1f<:tntil)essagªr!!.çygdd.ade que distingueessencialmenteacriança 4.9 adulto" Esse sen- ti~~'~to'~ai~p;;~~~~'~-p';~ti~';p~;;~d~ sécul~XVII. Na ~da~eMédia, a criança era vista como UI~J~.~queno adulto, sem características que a diferenciassem, e desconsi-I I· I '. 7 8 Teresinha Costa derada como alguém merecedor de cuidados especiais. Isso não significava que as crianças fossem até então desprezadas ou negligenciadas, mas sim que não se tinha consciência de uma série de particularidades intelectuais, comportamen- tais e emocionais que passaram, então, a ser consideradas como inerentes ou até mesmo naturais às crianças. Aries comenta, inclusive, que os pintores ocidentais reproduziam crianças vestidas como pequenos adultos, e que somente percebemos se tratar de uma criança devido ao seu tamanho reduzido. Nas sociedades agrárias, a infância era um perío- do rapidamente superado e, tão logo a criança adquiria al- guma independência, passava a participar da vida dos adul- tos e de seus trabalhos, jogos e festas. Essa indiferença em relação às crianças era uma conse--~-~--~ ~, . - - "', -- ----~.- -,.-_. qüência do pg.ill4~rn~gr~É~2,"~~"~E2.Ç3· º"s_p~i.s._12~~~"~.~pe- gavam muito a seus filhos porque roucos sobreviviam. Por- -_:...._--~-_.------------"---------~---- -= - ---.-... ,"5;l tanto, a morte de uma criança não era sentida como uma ./ perda irreparável e, muitas vezes, no campo principalmente, elas e~~~ s~~I!a4as"no quintaldacasa, c2,po hot~ s.e~nJ~r- ra u!!!"ªIlirnald<?Il1:~"sti~? Esse hábito, que foi conservado durante muito tempo no País Basco, por exemplo, pode in- dicar uma sobrevivência de ritos muito antigos ou, prova- velmente, algo que aponta essa indiferença em relação às cnanças. D Na Idade Média, a criança relacionava-se muito mais ~, /' com a comunidade do que com os próprios pais. A aprendi- zagem e a socialização não eram realizadas pela família ou pela escola, mas por toda a comunidade. No que se refere à~~Rressã,º_çl-ªseXJJ-ªJidª.de,até o século _~~-?~~E.I.!º§.,giYer1iam::s~-.çmnJ2!·ipcadei.ra.á..Q1Lfu?jª-!p ,:--r~T ') I, , I Psicanálise com crianças 9 ~a)..lliõ_es-ª_assl!n~<?~_~~~uai.s?~p'!..~~nç~ das criança~. Isso era visto como algo absolutamente natural devido a dois moti- <, vos: "Em primeiro lugar, porque acreditavam que a criança impúbere fosse alheia e indiferente à sexualidade e, em se- gundo, porque ainda não existia o sentimento de que as referências aos assuntos sexuais pudessem macular a ino- \ \ cência infantil." Pode-se perceber que o sentimento da infância não existia para o homem medieval, ou melhor, predominava o que Aries denomina "paparicação" ou seja, um tratamento superficial que dedicavam à criança enquanto ela ainda era um bebê engraçadinho. A partir da Renascença, ocorre a privatização do espaço doméstico, uma diferenciação entre o espaço público e o privado, e a família se estabelece como um grupo coeso. A criança - concebida em sua particularidade - passa a ser vista como o centro do grupo familiar, e a infância conside- rada um período de preparação para o futuro. ~~~gl!llçlo _~ie~~~p-~~o à in~~~ci~«<:__~,_~_l;lª>Smgul'lTÍdadenão.se.expri- mia mais pela distração e pela brincadeira, !l1,,"ª,Sp_~19interes----- ~----- ~--'--"" .•.-._.,---.--""-_ ...•... ""''' .......- ...•.~ ~"-~,., se psicológico e preocupação moral. --""'.' ',"- .•.. ~ ., -.' ....•..~.-,..----_._.~....•.... -....~.,.-•.•......• ---.....".~-_.-""""',. A partir do século XVI!:,_çstendendo-se até o século ?.ÇY.g!_~,predomina a noção de-uma inocência infantil que N precisava ser preservada e a educação tornou-se um~~o-/ ~. ---,--'-- --,- '.--, -" .. -- -~l!l?llS~2..s:()B~~ª-I1.!~,s!a~.Jª-D.l!li<l§,dos homens da lei e dos educadores. No entanto, cabe ressaltar que este sentimento moderno em relação à infância estava começando. Foram necessários ainda muitos anos para que ele se desenvolvesse. li 10 Teresinha Costa Psicanálise com crianças Em Um amor conquistado: o mito do amor materno, Elisabeth Badinter assinala que, no século XVII, ainda con- siderava-se a criança como um estorvo para os pais. Essa posição teve origem no pensamento de santo Agostinho, para o qual a infância não tem nenhum valor e é o indício da corrupção dos adultos. A infância é uma época em que predomina a maldade da criança, antes de qualquer adestra- mento educativo e moral. Nesse sentido, cabe aos pais ado- tarem uma atitude rigorosa com seus filhos. Esse pensamen- to reinou durante muito tempo na história da pedagogia e foi responsável por uma atmosfera de frieza na família, e os pais, instruídos pelos pedagogos, passaram a adotar uma educação rígida em relação aos filhos para livrá-los de suas malignidades naturais. Apesar de essa imagem negativa da infância não preva- lecer entre o povo de um modo geral, Badinter ressalta que na França do século XVIII a criança ainda era considerada um encargo muito pesado. Os cuidados, a atenção e a fadiga que o recém-nascido representava no lar desagradavam aos pais. Portanto, generalizou-se o hábito de contratar amas- de-leite para amamentar os filhos. A escolha delas realizava- se sem nenhum critério, sendo que nas famílias com melho- res condições financeiras a criança corria menos riscos de morte, pois as amas moravam na própria residência da fa- mília. Gradativamente, esse sentimento modifica-se a partir do século XVIII, com o surgimento do discurso filosófico iluminista que vai inspirar toda a educação até o século XX, tanto na cidade como no campo, e na burguesia como no povo. Iean- Iacques Rousseau é u!ll dos representantes desse momento. Ele irá colocar o sentimento no centro de sua visão do homem. Ao contrário de santo Agostinho, ele acre- ditava na bondade natural do homem. Para Rousseau, "não há perversidade original no coração humano". A criança nasce inocente, pura, e tem maneiras de pensar e sentir que são próprias à sua idade. Ele postulava que a educação da criança visava o desenvolvimento de suas potencialidades naturais e seu afastamento dos males sociais. A criança pode ser educada e não simplesmente instruída, já que a natureza humana é maleável e mutante. Em Emílio, Rousseau elabora um manual para educadores onde traça as linhas gerais que deveriam ser seguidas para que fossem formados bons adul- tos. Se não há perversidade original na criança, é a sociedade que a corrompe e, para impedir que isso aconteça, os educa- dores devem seguir os princípios por ele sugeridos. Em Rousseau, o termo criança remete a essa etapa da vida na qual o infans - o infante, aquele que não fala - é desprovido de toda sexualidade, e foi essa idéia que se impôs no imaginário social. Seu pensamento, amplamente aceito entre os grandes pedagogos da Europa, contribuiu paramu- dar a mentalidade da sociedade em relação às crianças du- rante muitos anos. Também é importante ressaltar que, no século XVII, a Igreja já se preocupava em afastar a criança de assuntos liga- dos ao sexo, apontando as inadequações que estas vivências traziam à formação do caráter e da moral dos indivíduos. Construíram escolas onde, além da preocupação básica com o ensino da religião e da moral, ensinavam-se habilidades como leitura, escrita, aritmética ete. Aries afirma que 1" I, . 12 Teresinha Costa /' f Osentido da inocência infantil resultou, portanto, numa / dupla atitude moral em relação à infância: preservá-Ia da \ sordidez da vida, e especialmente da sexualidade tolerada ! - quando não aprovada - entre os adultos; e fortalecê- ( Ia, desenvolvendo o caráter e a razão. --{?r. Com a as~en~~?_~º ..capitªlismo_e_dD~~is da burgue- ) ._-~.~~os valores mdIvIduaIs ganham cada vez mais importân- . cia. A criança transforma-se num investimento lucrativo para ) o Estado, ela é vista como uma força de produção que traria ( lucros a longo prazo. Passa a ser valorizada a partir de um modelo pedagógico' que visa educá-Ia com o objetivo de assegurar o futuro da civilização. Trata-se de preparar a criança para que a sociedade tenha homens bons e produti- J --{7' <vos. É nesse momento que surge 'a escola como meio de educação das crianças, substituindo a aprendizagem infor- mal, a partir do movimento de moralização promovido pe- los reformadores católicos e protestantes ligados à Igreja, às leis e ao Estado. Esse sentimento de responsabilidade pela formação da criança também passa para a vida familiar. A família começa a se Ocupar de tudo que diga respeito à vida de seus filhos, desde as brincadeiras até a educação, incluindo um elemen- to novo que é a preocupação com a higiene e a saúde física. ~~~s:~a..~~~!I,1~ .~!!!ªo QmJl:!g~[E~!1tHLs!~!.l!~QdU~mília. Já no século XIX e mesmo no século XX, observamos uma preocupação mais ampla e sistemática com o estudo da criança e a necessidade de uma educação mais formàI. A pedagogia, a pediatria e as especializações em torno da ! ( Psicanálise com crianças 13 criança desenvolvem-se rapidamente. O discursº-psi~olº&:: co destaca-se como aquele capaz de.p~~9:~;?;i!J:!.!ll.discu!:§.9 científico sobre --; inf~o -qual a P_~Q~gºg~.~_cad~ vez----~-~-~.•.""-""~----- m~is v~i s_~n~orar P-ª.:m.p.rQd_uZÍ.cpráticas....educatÍ.y.as.e.sa- neadoras. Esse caráter normatizador torna-se imperativo, principalmente na infância, que é a etapa da vida em que o desenvolvimento do caráter encontra-se em fase embrioná- ria e, portanto, mais suscetível às influências externas. Entendemos que o desenvolvimento das ciêncLa~PE?- porcio~?_~_~~_:.~!~~?~~~~~,_~~R!~_sg,~E~,~5:Ei,~!lS,i1,porém feS~Ttou na desqualificação _d~famí~ia <:s~moa~a 9.l!e120- deriagerir a educ~ã~,~21fIlh2s. Os pais tornaram-se sub- ~saos ditames da ciência, esta sim, capaz de instruí-los quanto à forma correta de.conduzir a educação das crianças. Portanto, dentro de uma perspectiva histórica, pode- mos observar que partim~~5J~Jlm_mºID_~!!.to no .g,1gLp.r5:.:, dominou um tota~n~cimento_da-criança_e_que,..no... decorrer dos ~ulQ_s., o discurso ideológico sobre a infância ressaltou a representação da criança marcada por uma na- tureza a ser corrigida pelo adulto, um ser assexuado, sem desejo próprio, imaturo. Essa idéia imperou por muito tem- po e foi somente a partir das teorizações de Freud que tal concepção se modificou. Os primórdios da psicanálise com crianças Nesse momento histórico que acabamos de descrever, em que um novo olhar é dirigido à criança, surge a psicanálise 14 Teresinha Costa -\7 '7 com Freud. Embora tenha iniciado suas teorizações quando as idéias que vigoravam sobre a criança eram a de urna na- tureza infantil passível de ser moldada, seja pela educação ou pela psicologia, ele não se deixa capturar p.or elas. A partir da escuta de suas pacientes histéricas, ~d dese~v.olveu inicialm.!nt~ '!J:e.or}ada sedução, _enc?n~.o a etiologia das neuroses dos adultos em experiências sexuais ...--- __ o ._ •• •• - .' < __ traumátic~s ~c.o~!id(ls durante a infância~ N.o entanto, os fracassos clínic.os levaram -no a abandonar essa teoria, Reco- nhecendo que as cenas de sedução não teriam necessaria- mente ocorrido, F!!.llilch~ga à conclusã.o de 'que os sintwas histéricos decorriam das Ianta~ias_i!!lpregnada.~q-e de~o. . _. \ I Portanto, a realidade psíquica er~ a. déterminante, e não a- - -- - ~. ~.- ".. -- ~alidade factual. ( c., Esse foi um momento teórico muito importante n.oe desenv.olviment.o da teoria psicanálíti~, no qual o relevante não sã.o mais os fatos da infância, mas a realidade psíquica, constituída pelos desejos inconscientes e pelas fantasias a ela vinculadas, tend.o c.om.opano de fundo a sexualidade infan- \ til.~.orre também uma m.odificação no conceito de.infân- cia, que deixa de ser vista a partir de um registro genético e (& ~nológic.o para ser~~~!iligiSª-gg..illc:Qllic~. O efeito traumático está relacionado ao fato de a crian- ça ser confrontada passivamente com a sexualidade do adul- to. Através dos cuidados e do desejo maternos, a criança será ~ Iintroduzida no campo da sexualidade, pois é pelo contat \0 \com a mãe, ou um substituto, que o c.orp.o do bebê sera erogenizado. '1 Psicanálise com crianças 15 A revolucionária posiçã.o freu?iarta só será apreendida, .orn t.od.o o seu alcance, em Três ensaios sobre a teoria da , - sexualidade, quando Freud pôs em xeque as concepções II!0- rulizantes sobre a atividade sexual das crianças - alg.o 92e )1\ estava acenad.o na c.orresp.onâência c.om Fliess - em ter- I\\()~ de uma teoria do comp)exo de ÉdiJ2Q,....~~_eJia.des.eD.::.. volvida muito temp.o dep.ois. Sem sombra de dúvida, essa Il'mil1 é a elaboração freudiana de teses sobre a sexualidade II(11111iI. Desse modo, Freud apres~nta ao mund.o urna n.ov:l Lllttll\,ll, d7>tada de uma sexUaIiaade perverso-polimorjj;. CIU110 conceito de pulsão Freud vai nos m.ostrar que o c.orl2.o llil 1.1lunçn é um corpo pulsionál, corpo· de desejo. - ~ 1(1\1'n'Bs ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud I\,~.IIIIIIII,~euracterísticas da sexualidade infantil. A criança é 11111~I'I [lt','vcrs.o-p.olim.orf.o, com pulsões parciais emanan- lil d, 1I11111Scrógenas que se constituem apoiando-se em IIIII~""N Vllllis, Ou seja, a sexualidade infantil é pré-genital- r.ti , '"1111 e us pulsões tendem isoladamente à satisfação 11111I 11)1lru, () LISOdo próprio c.orp.o corno objeto de satis- " 11'"1 I'M'lllplo, sugar o polegar), derivado da impossi- litl"tt. d" 11'1'I.In~:ndominar o mundo externo, confere à lulld,,,I,' luluntil uma qualidade de auto-suficiência. Ha- IIII!I~I I(IHI'IIII.~predestinadas - as que se vinculam às Víllll11 IHII'(~Ill,lodo o corpo pode se comportar 111I11111'I~K('nll, 11111\I I.IIIIU'llo de pulsão, Fre~dem.onstra que a !!~tllllllillhllll' dI' SI'IIpróprio c.orp.o corno fonte de ht:ihlllllll'lllllIlIlillnl.'nlnç'lo do bebê par~erpp( jI'II:I\lht dll IIIHlllllo dn pulsão. Se, em termos ins- 16 Teresinha Costa tintivos, a sucção do peito tem por finalidade a obtenção do ~mento, a pulsão - a~sa..!..<k.§e apoiar.nessafunçãç nu- tritiva - dela se afasta, na medida em que visa o p!azer gge-- - - ---...... -- -- _ ...-.- - !Qi ex~entado_pela.excitação_dQslábios e da.línguacno contato com o peito no momento da primeira amamen-- . tação, Logo, haverá sempre uma distância entre a satisfação almejada e a alcançada e é essa hiância que marcará o sujeito em sua eterna busca por um suposto objeto que poderá completá-lo. A partir dessas considerações teóricas, perguntamos: quem é essa criança da psicanálise? Como se constitui? É possível uma psicanálise com crianças? Vejamos o que pensavam os primeiros teóricos da prá- tica clínica com crianças. Assim como a psicanálisenasceu da Illedicina e <;!.g>ois ~psiquiatria, a prática da Esican.!Í!i§~g>1.!!..Eri<tnç~sé her- <kira da f~i!!! d9 Iluminismo. ~stória da psicap.illise, §ijpicialmente às mulheres que co!:!~Lc!.e ~<Yi~ar g:illn.ças. Isso 12orgge, na ép.2ca'.l!ão~ra_p~rmitid9 q~las ingressassem na universidade e seguissem uma carrcirA~---- . - .•... - _._- ,S!iÇã.iessa era uma atribuição essencialmente masculina. Quando as mulheres adquiriam a maturidade, casavam ou iniciavam uma carreira nas escolas como professoras pri- márias. Logo, as primeiras mulheres que começaram a pra- ticar a psicanálise encontraram no seu ambiente de traba- lho, ~j~, n~ esçgill& um ca~po Rfopício para ~~plicação ~~eoria psican~t~~:. Por outro lado, a formação pedagó- @ Psicanálise com crianças 17 gica dessas analistas se fazia sentir na prática clínica com rianças. Podemos considerar que a análise com crianças~- ,li com o caso do pequeno Hans, publicado por Freud em 11)()9.A peculiaridade dessa análise é que ela foi realizad-ª 1'01'Max Graf, pai d-;;~nii;~, sob 0; s~~~isão d"efuud,-""-- - .__ .,-,_ •.. 11\11'Sl'encontrou cOjll a crié!.I1ç<ta.J?,çna~.J!l1l'Lú.!Ü~~z. Ounndo Freud propôs a análise dessa criança, o gu~le ,- ---- .- 1'1111'1111111era comE:2..va~_~s,_de~cobri!pe!1touobre a ss, IlItlldlldc infantil, conforme havia escrito em 1905, em seus~,-,. ._....-~-~ li ,I, l'lhlllos sobre a teoria da sexualidade. Freud não acredi-....••............• Ili ,I'II"'llIsNe possível analisar uma criança, mas a experiên- "til I 1I1I1Sfez com que ele mudasse de idéia. Esse caso Hjlltllll' 1111IlIll marco no desenvolvimento da psicanálise. ilutl IlIdllltN teorias sexuais infantis ao complexo de Édi- l'u rul dl'llIollNlrou que a realidade psíquica da criança jjll 1111111do udulto em suas angústias, fantasias e dese--111ti " dlllohin de cavalo, no menino, comprovou os ti, V I~IIIdI' l'rcud no tocante às fases regulares do ,I 1111111111dll crlnnçn. Esses pontos de vista tinham Id!l~, 111I11'llol'llll'nle,em reconstruções de eventos 1111ft 1111IIHI'd,'ndullos. O pequeno Hans propor- It!WIIiI I1111111tlIII,'nO direta dessas reconstruções. Ifli'l'"j II~I""~(\I'1lHlv()l'I~vcisda criança às inter- 1011 1,,111IhtlllllHll'lIl'alll' as potencialidades do 11,ti 11""1111111tliln~'nso 111111t11tN.estabeleceram-se os três I~1"11'1qtll' 11111(1análise seja possí- @ 18 Teresinha Costa vel, ou seja, a demanda, a transferência e a interpretação. Ve- jamos esses três pontos. Como apareceu a demanda? No caso de uma análise com crianças, a demanda, normalmente, é formulada pelos pais ou pelos adultos responsáveis por ela. Foi o que aconte- ceu com o pequeno Hans, ou seja, tão logo ele apresentou os primeiros sintomas fóbicos, Max Graf, seu pai, procurou Freud solicitando ajuda para aliviar o sofrimento de seu filho. Logo, Max Graf endereça o sintoma de Hans a Freud supondo que este poderia curá-lo.e E a transferência? Como se manifestou? Embora Freud tenha reconhecido que uma análise não possa ser conduzida por um pai, ele irá ressaltar a necessidade - nos casos de crianças - da junção da "autoridade paterna com a autori- dade médica". Cabe ressaltar que o desenvolvimento da psi- canálise com crianças tem demonstrado que essa questão constitui um entrave. Mais adiante abordaremos esse ponto detidamente. No entanto, podemos adiantar que a filha de Preud, Anna, levou ao pé da letra a idéia do pai de que era preciso reunir a autoridade paterna e a do analista numa só pessoa ao tomar para si a tarefa de analisar e educar ao mes- mo tempo. Ela própria, aliás, teve essa experiência em sua análise, na qual o pai e o psicanalista estiveram reunidos na figura de Preud. Para Anna Freud, a ascendência familiar e a transmis- são psicanalítica confundem-se e mesclam-se. Anna s transformaria na mulher que iria ocupar o lugar de compa- nheira de Freud: enfermeira, parceira de viagens, interlo- Psicanálise com crianças 19 .utora e, particularmente, psicanalista. Por fim, seria tam- bém guardiã e censora da obra do pai morto. Ambos divi- dinrn a mesma sala de espera no seu trabalho clínico. Voltando à questão do estabelecimento da transferên- 111111(1análise de Hans, será que não poderíamos pensar que 1IIt,,,(I ocupou o lugar de analista para Hans? O menino 1111111muito bem que seu pai escrevia cartas para Freud ou, 1111\11\ ele mesmo dizia, pa~ "o professor': Portanto, este era 111,11'1encial, "o Outro", ou, segundo Lacan, o sujeito suposto "/11'1. l'lnnlmcntc, o terceiro parâmetro indispensável par:\ 11111"11111111I1l61iseseja possível é a interpretação. Freud de- r;j;) 1111111111111que interpretar a fobia de cavalos como medo da ( IrI 111.11,1111IIIIlcl'l1<1por causa dos desejos eróticos pela mãe \ \1111111111\ ('111'(\da neurose. ~ 1'1'_'" di' I'l'l'UUter estabelecido, a partir desse caso, as 111111111li puru u análise com crianças, levaria muito 11'111111111'('111St' desenvolvesse. Faltava ainda um ele- 11,11111.1111111'1111111111clínica com crianças: a descoberta iill'lí'dll 11111"\IIIll recurso que o analista utiliza para litlll IIIIIIII~(1"lIll' infantil. Contudo, essa descoberta Lltlll pcl" 1'1opl'lo tl'cud, que, em ~no artigo I1jll!!lII~It\l'~1I\II'Odu:t,iua idéia de que a brinca- lIilíbl \ I~ IIIIIIIIII"I('I~lhntnsia no adulto., 0 1I!!1111'_11111111IIsl' diz respeito ao sujeito, não !;III\I\ 1.11111111111111110enturuo não podemos es- II_illllll\lI~IJtllIlIllllIlI,'II,~ IC111li111:1especificida- 1IIIIuI 111111Ild\llloM,jll que li criança, por 1.1. "V.J I, (} '. " I .'5) 20 Teresinha Costa características comportamentais que lhe são próprias, não pode cumprir com a regra fundamental da análise, ou seja, a regra da associação livre. Em outras palavras, não podemos esperar que uma criança se deite no divã e fale sobre suas dificuldades durante 30 ou 40 minutos. Por outro lado, per- cebemos que, se deixarmos a criança livre, ela brinca ~om o que encontrar à sua frente, sendo esse o modo natural de se expressar. - Foi depois dessa constatação que, entre 1920 e 1940, ocorreu o verdadeiro nascimento e desenvolvimento da psi- canálise com crianças, a partir das pesquisas das primeiras analistas: Hermine von Hug- Hellmuth, Anna Freud e Mela- nie Klein. Abordaremos, de forma sucinta, o lugar que estas ana- listas ocuparam nos primórdios do movimento psicanalíti- co e as suas principais contribuições para a prática clínica com crianças. Cabe ressaltar que cada uma dessas teorias proporciona um modelo de trabalho decorrente do enten- dimento desses teóricos sobre o modo de o sujeito advir, ou seja, a prática clínica com crianças estará baseada em uma dada representação de criança. ~ Hermine von Hug-Hellmuth lc_' , \ I);..) 1'.J.I~ Inicialmente 2rofessora primária, Hermine von Hug-HeJl· muth nasceu em Viena. Mais tarde foi admitida na Univer-- - ~idade d~_yi~~, p.?!~m não_abandonou_sua pr~ d y Psicanálise com crianças 21 professora. Aos 36 anos iniciou uma análise com Isidor-- - Sildger e, em 1913, tornou-se ~~rp da SociedadePsico-_._---- Il'lKicadas Quartas- feiras. Teveum lugar de destaque nesse gru- 1111c Freud confiou-lhe a seção dedicada à psicanálise com 1. ,_~ 1rlunças na revista Imago. Até 19:14,ano de sua morte, diri- HIII11111serviço psi~analítico de ajuda à educação em Viena, 'Ilh' 11consagrou - juntamente com suas 'publicações e o uuule respeito que Freud tinha pelo seu trabalho - comV 11'111111'11'(1da psicanálise <:om~rB!lç.illi. 1II'I'IlIine von Hug-Hellmuth visit'!:0 !l.Lcrianças_eJil 1i1l1~So rim de o~serv~~las .:nqua~~o_partici~a~a_~~e 11,1-1IIIvldndes lúdicas. Na análise com crianças utilizava tll'/Wllho afirmando que com esse material as crian- 11111IIIIVIIIIIas situações difíceis e traumáticas. Em seu 111.1",11lulcrprctsção do material inconsciente combina- 11I1I.IIIIIIII~nci;lpedagógica direta. IIII~l'lVII\Ol'SdeHug-Hellmuth foram publicadas 1,1.11111\I Ululo On lhe technique of chíld-analysis. hl (I'íll I1111111111consideradas muito valiosas princi- ilIP 1'111qlll'llllll1l'11H1VlIl11os conceitos de~d_sobre í! 11111.\111I,1 NI) cnuuuo, Hug-Hellmuthdesaprova- j'j dI, tlllllll.llI' i 1'I11I1\'nSmuito peguenªs - crianças 1:1 ii~III"lvl.lltllhl"llIIdo pelo complexo de Édipo-, \1,\ I '1"1 IIH"NI'NIIlSOSli nnálisc, em razão de seu nl!!II.,1I II 1Illld'llh' \' 00 tortnlcccr as tendências 11111!'\lII,II,1111111','1.1pn'Judicó-lo. Também afir- Ilnlll .I. \','1111uuucurur-sc em obter êxitos líllll1llll1 lilllil)(llIll'OIllI'c(;nfdos.
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