Buscar

Analise sobre coerção - Franz Kafka

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Introdução 
Franz Kafka é considerado um dos maiores escritores do século, e também não é por menos. Suas obras tratam do homem e suas questões mais essenciais. O livro analisado é a obra Carta ao Pai; ela não trata de uma história fictícia, mas sim de um relato real do próprio autor de como foi e o que lhe influenciou a convivência com seu pai altamente punitivo.
A família tem um papel importante na vida do individuo, ela prepara o sujeito para a sociedade, Kafka foi ensinado desde cedo como obedecer sem pestanejar, e a fazer tudo que lhe fosse ordenado, através de métodos altamente coercitivos todo o seu comportamento foi transformado, refletindo as consequências tanto em sua vida pessoal como a profissional.
O trabalho tem como objetivo analisar estas consequências do comportamento altamente punitivo. Utilizando as bases teóricas da psicologia comportamental a breve analise busca ressaltar o que transformou Kafka em quem ele era, e de como isto refletiu em suas obras.
Análise do Livro 
Durante as aulas de psicologia comportamental estudamos sobre a punição, seus efeitos e consequências por sobre o punidor e o punido. O proposito da punição é o controle do comportamento, desejamos parar ou evitar ações especificas. Ela modifica muitas coisas além do comportamento indesejado, e se formos ver os seus efeitos entenderemos que não há tanto sucesso; as mudanças que ocorrem nas pessoas que são punidas e as que ocorrem nos que punem, nos levam a entender que é uma atitude destrutiva de controle da conduta. A punição age apenas em beneficio do punidor e não do punido.
Kafka desde cedo conviveu com a punição sobre si, seu pai, altamente coercitivo o punia a cada vez que via que ele estava agindo fora da maneira que julgava correta. Desde o inicio da carta, ele já se expressa de uma maneira severa e ríspida, falando ao pai seus motivos para não responder ou não evitar um contato maior com ele. 
“Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala.” (Kafka, 2014)
Como a punição não depende do estado emocional para ser eficaz, Hermann a aplicava para obtenção de respostas rápidas, porem elas não eram eficazes a longo prazo. Já o reforço positivo depende de um histórico pessoal para que surta efeito, então é mais lento os seus resultados, porem são duradouros. 
O trecho abaixo deixa claro alguns fatores importantes sobre como era aplicada e como ocorriam os efeitos colaterais da punição.
“De imediato eu só me recordo de um incidente dos primeiros anos. Talvez você também se lembre dele. Uma noite eu choramingava sem parar pedindo água, com certeza não de sede, mas provavelmente em parte para aborrecer, em parte para me distrair. Depois que algumas ameaças severas não tinham adiantado, você me tirou da cama, me levou para a pawlatsche e me deixou ali sozinho, por um momento, de camisola de dormir, diante da porta fechada. Não quero dizer que isso não estava certo, talvez então não fosse realmente possível conseguir o sossego noturno de outra maneira; mas quero caracterizar com isso seus recursos educativos e os efeitos que eles tiveram sobre mim. Sem duvida a partir daquele momento eu me tornei obediente, mas fiquei internamente lesado. Segundo a minha índole, nunca pude relacionar direito a naturalidade daquele ato inconseqüente de pedir água com o terror extraordinário de ser arrastado para fora. Anos depois eu ainda sofria com a torturante idéia de que o homem gigantesco, meu pai, a última instancia, podia vir quase sem motivo me tirar da cama à noite para me levar à pawlatsche e de que eu era para ele, portanto, um nada dessa espécie” (Kafka, 2014). 
Na citação feita pelo autor conclui-se exatamente o que abordamos durante o bimestre em sala de aula, a punição tem efeito de reduzir comportamentos imediatos, porém não elimina desejo, além de acarretar inúmeras consequências, como raiva, medo, repressão, entre outras, de acordo com a subjetividade de cada individuo.
Muitas destas consequências são permanentes, ou seja, o individuo carrega consigo recordações e traumas adquiridos durante sua vida por tempo indeterminado. Na citação, o autor diz que mesmo após anos ele ainda sofria por medo de ocorrer novamente a mesma situação de punição.
De acordo com Sidman (2009), o abuso físico e verbal familiar pode reger a família “fazendo cumprir a lei”, punindo todas as infrações. As formas de coerção familiar tornam o lar um lugar do qual se fugir, o que é exatamente o comportamento de fuga apresentado pelo autor. 
“Você reforçava o xingamento com ameaças e então isso já valia para mim. Era terrível, por exemplo, aquele “Vou fazer picadinho de você”, embora eu decerto soubesse que nada de mais grave se seguiria (quando pequeno, entretanto, eu não o sabia); mas quase correspondia à ideia que eu tinha do seu poder, o fato de que você também era capaz de chegar a tanto. Era terrível ainda quando você corria gritando em torno da mesa para agarrar um de nós; evidentemente você não queria agarrar, mas agia como se quisesse, e a aparência era de que a minha mãe finalmente chegava para salvar.” (Kafka, 2014)
Ele era punido positivamente quando seu pai o ameaçava ou o insultava como uma forma de alterar suas atitudes. Embora soubesse que as ameaças de agressão não fossem realmente concretas, que ele não iria efetivamente pica-lo, o medo tomou conta dele alterando suas atitudes. O medo tomou conta deste, e os estímulos aversivos se tornaram cada vez mais fortes. A mãe era uma fuga, pois este a usava para que a coerção parasse, mesmo que por poucos instantes.
Como nós somos naturalmente sensíveis a estímulos aversivos e facilmente afetados por eles, e estamos mais atentos ao perigo que ao prazer, estas atitudes tiveram um grande impacto em sua vida; viver sobre constante ação da punição gera respostas incompatíveis no organismo.
“A criança se tornava rabugenta, desatenta, desobediente, sempre pensando numa fuga, a maioria das vezes numa fuga interior.” (Kafka, 2014)
O reforçamento negativo é a ação onde o sujeito busca fugir, escapar ou evitar o contato com os estímulos aversivos; a fuga e a esquiva são respostas do organismo para que ele se proteja. Mas ele não é algo bom, pois por mais que traga alivio momentâneo o medo e as inseguranças pairam sobre ele, e vemos que Kafka os carrega estas consequências consigo ao longo de sua vida. 
Vemos também que as palavras são grandes influenciadores, tanto de atitudes boas como ruins. O pai e suas palavras ríspidas se tornaram punidores condicionados, ou seja, Franz o associou com a punição, então em todas as vezes que iam se encontrar, ou realizar alguma atividade juntos seu organismo entrava em um estado de alerta para a fuga da punição que viria.
“Da sua poltrona você regia o mundo. Sua opinião era certa, todas as outras, disparatadas, extravagantes [...] Você assumia para mim o que há de enigmático em todos os tiranos, cujo direito está fundado, não no pensamento, mas na própria pessoa”. (Kafka, 2014)
O efeito colateral é que o ambiente, o lar ou a loja na qual Hermann era dono, tornaram-se ambientes punitivos, e a reação natural é se afastando, evitando, temendo, e escapando dos estímulos aversivos o quanto for possível. Ele coloca que a opressão que o pai exercia sobre ele era tal qual um tirano exercia sobre o povo que governada, e que esta tirania provinha de seu próprio ser.
Kafka diz ao longo de sua carta, que seu pai era uma forte figura opressora em sua vida, que sempre o punia por seus comportamentos “inadequados”. Kafka diz que esse aspecto de seu pai o fez ser uma pessoa fechada e muito tímida e insegura, como podemos analisar no trecho abaixo:
“A isso respondo que, de primeiro, toda essa objeção, que em parte também pode ser voltada contra ti, não provém de ti, mas de mim. Nem mesmo a tua desconfiança com osoutros é tão grande quanto a minha autodesconfiança, para a qual me educaste. Uma certa legitimidade a objeção, que além do mais contribuiu com algo novo para a caracterização do nosso relacionamento, eu não posso negar.” (Kafka, 2014)
Nesse trecho, Kafka se culpa por ser o oposto de se pai, para Kafka o responsável pelo relacionamento com seu pai ser tão conturbado, é ele próprio. Kafka não consegue se adaptar ao jeito de seu pai e desenvolve um grande sofrimento em decorrência disso. Kafka diz no trecho, que ele desconfia dele mesmo, demostrando assim toda a sua insegurança, e culpa seu pai por ter o criado dessa forma. Segundo o trecho, isso fez com que a relação entre Kafka e seu pai ficasse ainda pior, já que ele não tinha coragem de confronta-lo pessoalmente, então fez a carta, como se fosse sua rendição perante o sofrimento. Kafka expõe esse alivio no trecho abaixo:
“Naturalmente as coisas não se encaixam tão bem na realidade com as provas contidas na minha carta, pois a vida é mais do que um jogo de paciência; mas com a correção que a resulta dessa replica, uma correção que não posso nem quero discutir nos detalhes, alcançou-se a meu ver algo tão aproximado da verdade, que isso pode nos tranquilizar um pouco e tornar a vida e a morte mais fáceis para ambos.” (Kafka, 2014)
Kafka buscava esclarecer sua relação com seu pai, que provocava muito sofrimento. Seu pai sendo uma pessoa muito coercitiva faz com que este conviva com esse sofrimento por anos e por isso usa o termo “a vida é mais do que um jogo de paciência”. Mesmo expondo o comportamento do seu pai na carta, Kafka tem um comportamento de fuga e diz que não quer discutir os detalhes, já que para ele todo o texto da carta se aproxima de uma realidade vivida por ele, e espera assim ter uma relação de paz ou um pouco mais tranquila com seu pai. 
“A diferença, se ela se estende a outros aspectos da vida família do menino, refletir-se-á em sua personalidade e em sua adaptação às demandas da sociedade. Se suas interações familiares são mantidas pincipalmente por reforçamento negativo – por seu sucesso em desviar-se de censura, desaprovação, ridículo ou abuso físico – tal controle coercitivo também influenciara suas interações com outras pessoas e poderá alterar sua visão geral da vida.” (Sidman, 2009)
Aqueles que vivem em um ambiente em constante punição, e a maior parte da atenção provem desta, e recebem pouco reforçamento positivo compensatório, que é o caso, as consequências se estenderão a outros aspectos de sua vida. 
Conclusão
Kafka tinha um pai extremamente coercitivo, que aplicava punições e mais punições em muitas vezes, sem necessidade, pelo simples fato de se impor como pai. Isso fez com que todo o desenvolvimento de Kafka fosse prejudicado, o levando a desenvolver diversos problemas comportamentais, como ser inseguro ou extremamente introvertido. No início do trabalho, explicamos os efeitos da punição e como isso afeta negativamente uma pessoa e embora Kafka fosse uma mente brilhante do seu tempo, ele também sofreu os problemas de um ambiente coercitivo.
As consequências desse bombardeio de punições são obvias; Kafka tinha grandes dificuldades em se manter em relacionamentos, tinha grande dificuldade de expor suas ideias para as outras pessoas, e claro, tinha muito medo de seu pai. Embora Kafka tenha escrito a carta para o seu pai, ele ainda teve um comportamento de fuga ao final do texto, pois diz ele que não queria discutir os detalhes disso com seu pai e que tentava com isso ter uma vida e morte mais fácil para ele e para seu pai.
 
Bibliografia
SIDMAN, MURRAY. Coerção e suas Implicações. Editora: Livro Pleno, Campinas, 2009.
MOREIRA, M; MEDEIROS, C. Princípios básicos de Análise do Comportamento. Editora: Artmed, Porto Alegre, 2007.
KAFKA, FRANZ. Carta ao Pai. Editora: L&PM, Porto Alegre, 2014.

Continue navegando