Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ética na Administração Pública MÓDULO III - Ética na Administração Pública Módulo III - Ética na Administração Pública Após o estudo deste módulo você será capaz de, quanto à Administração Pública: conceituá-la e reconhecer seus agentes; conhecer os princípios que a regem; identificar as principais instâncias de controle interno e externo; reconhecer a questão ética implícita em cada um dos itens acima; refletir sobre a ética no Poder Legislativo. Unidade 1 - Administração Pública Nesta unidade, trataremos o conceito de administração pública e agentes públicos. Pág. 2 - Conceitos De saída é importante diferenciarmos dois conceitos que muitas vezes são confundidos: Governo e Administração Pública. Por Governo devemos entender o conjunto dos poderes e instituições públicas, considerado sobretudo pelo "comando" destes. O Governo é quem conduz os negócios públicos, estabelecendo linhas-mestras de atuação. Já a Administração Pública caracteriza-se pelas funções próprias do Estado e a prática necessária para o cumprimento dessas funções. Assim, é a Administração Pública a executora das atividades visando ao bem comum. Não cabe à Administração Pública a prática de atos de governo, mas sim de atos administrativos próprios do Estado. Ela é responsável pela execução desses atos, daí por que seus agentes devem primar pela Ética, pois estão agindo em nome de todos em prol da coletividade. Por isso é também importante conceituarmos "serviço público", nas palavras do mestre Hely Lopes Meirelles: "Serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais , para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniência do Estado." Quando o conceito se refere a "delegados", está tratando daqueles que, mesmo não sendo servidores públicos, recebem da Administração Pública a tarefa de agir em nome dela. É comum as empresas públicas de energia elétrica ou de água e saneamento terceirizarem algumas de suas atividades, como a ligação ou religação do fornecimento. Por isso, no Distrito Federal, por exemplo, vemos veículos identificados como "A serviço da CEB" (a Companhia Energética de Brasília). Essa prática acontece em todas as unidades da Federação. Assim, também é importante que conceituemos quem são os agentes públicos, ou seja, aqueles que compõem a Administração Pública ou que para ela prestam serviços. É o que veremos a seguir. Pág. 3 - Agentes públicos Agentes públicos: servidores e empregados públicos A denominação mais abrangente para aqueles que prestam serviços em nome do Estado é a de agentes públicos, cuja característica principal é a de serem pessoas físicas prestando serviços ao Estado. Os agentes públicos, ainda, podem ser subdivididos em quatro categorias, demonstrada no quadro abaixo. Agentes administrativos: servidores públicos num sentido mais amplo. Agentes delegados: são os particulares incumbidos pelo Estado de prestarem serviços ou executar atividades; Agentes honoríficos: razoavelmente raros na Administração Pública, a eles são incumbidas atribuições por sua honorabilidade ou profundo conhecimento num dado ramo do saber (é o caso de membro de júri e mesários eleitorais); Agentes políticos: aqueles em função de maior poder decisório ou do primeiro escalão (ministros, congressistas, magistrados, presidentes de estatais, entre outros). Vamos nos deter um pouco mais sobre os agentes administrativos, que compõem a grande maioria da Administração Pública brasileira. Os agentes administrativos dividem-se em: Agentes Temporários: contratados por período limitado de tempo; Empregados públicos: contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); Militares: os pertencentes aos quadros das Forças Armadas; Servidores públicos: contratados pelo regime estatuário ocupam cargos públicos pertencentes à Administração direta, às autarquias ou às fundações públicas. Unidade 2 - Ética e Administração Pública Nesta unidade, abordaremos os seguintes pontos: princípios da Administração Pública; práticas éticas; instâncias externas de controle (ONGs, sites e outros); e códigos de Ética. Pág. 2 - Princípios da Administração Pública Legalidade Este princípio assegura que a Administração Pública só pode agir em nome da lei e respaldada por ela. Caso esse princípio não seja obedecido, a atividade pública será ilícita e, por tanto, deverá ser punida. Impessoalidade Aqui se assegura que os atos administrativos são de responsabilidade da Administração Pública e não de um servidor público específico. Por outro lado, é também este princípio que proíbe a promoção pessoal de ocupantes de cargos públicos. Exemplo clássico era o de se batizarem viadutos e pontes com o nome do governador ou do prefeito. Atualmente, isso só pode ocorrer em homenagem a pessoas ilustres já falecidas, evitando justamente a autopromoção por meio da Administração Pública e seus recursos. Moralidade Este princípio, em síntese, alerta que “nem tudo que é legal é honesto”. Há casos em que, apesar da permissão da lei, em certas circunstâncias, uma ou outra ação administrativa pode caracterizar-se como não moral ou não ética. Veja o que diz o inciso LXXIII do art. 5° de nossa Constituição: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. Em outros termos, é o seguinte: Imaginemos que um cidadão presencie a utilização de carros oficiais (portanto, pertencentes à Administração Pública) para fins particulares. Ele poderá coletar provas e propor ação na Justiça para cessar o ato e reparar o dano. Como está agindo em nome da cidadania (se o fizer de boa fé), não precisará custear nada na Justiça, nem mesmo se vier a perder a causa. A conclusão é de que era um cidadão interessado em preservar a moralidade da Administração Pública. Pág. 3 Publicidade Este princípio, também mandamento constitucional, é hoje mais popularmente conhecido como transparência, termo que veio à tona, na história recente, com a derrocada ad URSS, em que se exigia a glasnost (=transparência). Em suma, significa que atos administrativos, pelo seu caráter público, deve ser dada ampla divulgação, de modo que o cidadãos possam acompanhar e avaliar tais atividades. Há outro sentido para o termo, muito bem explicitado pela Constituição Federal, quando, em seu art. 5°, inciso XXXIII, afirma que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Eficiência De todos os princípios que devem ser seguidos pela Administração Pública, este é o mais recente e já observa a modernidade exigida por qualquer instituição, pública ou privada. Ele estipula que não basta os atos públicos serem legais, impessoais, de acordo com a moral e amplamente divulgados: eles devem também buscar a eficiência, o atendimento real dos objetivos a que se propõem, sempre em nome da sociedade, da população, que os financia.Pág. 4 - O servidor público e as práticas éticas Se a Administração Pública se rege por princípios, os agentes públicos são os responsáveis por colocá-los em prática. No caso específico dos servidores públicos, estes têm normas para atuação. Do mesmo modo que um trabalhador na iniciativa privada deve prestar contas de suas atividades, produção e atitudes ao seu empregador, também o servidor público deve fazê-lo. Neste caso, a Administração Pública, em seus diversos níveis e nas várias instituições de que é formada, possui uma hierarquia própria. Há deveres e direitos daqueles que nela trabalham, bem como dos usuários de seus produtos e serviços. Mas como o servidor público pode se conscientizar do que constituem os seus direitos e deveres? Em primeiro lugar, basta dar uma boa lida na Constituição Federal, particularmente no Título III (Da Organização do Estado), Capítulo VII (Da Administração Pública), Seção II (Dos Servidores Públicos) Por ser a Lei Maior do País, é recomendável que se comece por aí: nenhuma outra lei irá contrariá-la; portanto, no que ela se referir aos direitos e deveres do servidor e à amplitude e limites de sua atuação, ali certamente estarão envolvidas questões éticas e estabelecidos princípios e práticas de atuação. Em segundo lugar, o servidor público deve ter sempre por perto, para consulta, o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas federais. Em terceiro lugar, ele deve procurar saber se existe um Código de Ética próprio, de sua categoria funcional ou da própria instituição. Tais códigos costumam explicitar com maior minúcia o que é ético no comportamento profissional do servidor e o que ele deve evitar, sob pena de transgressão. Então, veja que temos no Brasil três níveis básicos a serem “checados” quanto à Ética Profissional do servidor público: 1) Constituição Federal (e Constituições estaduais e Lei Orgânica do Distrito Federal); 2) Regime dos Servidores Públicos (federal, estaduais/distrital e municipais); 3) Código de Ética (se houver). Observe que esses três níveis vêm sob uma forma legal, ou seja, expressos por legislação própria, por uma norma que é a todos imposta e deve ser por todos respeitada. Pág. 5 Deveres e proibições do servidor público na Lei nº 8.112/90 Você viu na tela anterior o link e a referência ao regime jurídico dos servidores. Muita gente conhece ou ao menos já ouviu falar da “8112”. É assim que, informalmente, servidores públicos, advogados e concurseiros se referem à Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Para não nos alongarmos muito na lei em si, que pode ser consultada na íntegra no link acima, optamos por apresentar aqui um quadro sintetizando deveres, com seus respectivos princípios, do servidor público estatutário, ou seja, daquele servidor que é regido pela Lei nº 8.112/90. Repare que cada atividade traz em si, explícita ou implicitamente, um dos princípios da Administração Pública, vale dizer, um item ético. DEVERES Atividade Princípio a cumprir exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo MORALIDADE ser leal às instituições a que servir MORALIDADE observar as normas legais e regulamentares LEGALIDADE cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais LEGALIDADE atender com presteza: ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; às requisições para a defesa da Fazenda Pública EFICIÊNCIA levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo LEGALIDADE zelar pela economia do material e a conservação do patrimônio público ECONOMICIDADE guardar sigilo sobre assunto da repartição MORALIDADE manter conduta compatível com a moralidade administrativa MORALIDADE ser assíduo e pontual ao serviço EFICIÊNCIA tratar com urbanidade as pessoas MORALIDADE representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder LEGALIDADE Fonte: Lei nº 8.112/90 – Título IV, Capítulo I, art. 116. Pág. 6 Apresentamos um outro quadro, agora sintetizando proibições, com seus respectivos princípios, ao servidor público estatutário, ou seja, daquele servidor que é regido pela Lei nº 8.112/90. PROIBIÇÕES Atividade Princípio violado ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato LEGALIDADE MORALIDADE retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer documento ou objeto da repartição LEGALIDADE MORALIDADE recusar fé a documentos públicos LEGALIDADE opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execução de serviço EFICIÊNCIA promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição MORALIDADE cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado LEGALIDADE coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou partido político IMPESSOALIDADE manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil IMPESSOALIDADE valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública IMPESSOALIDADE participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário LEGALIDADE MORALIDADE atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições LEGALIDADE IMPESSOALIDADE aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE praticar usura sob qualquer de suas formas LEGALIDADE MORALIDADE proceder de forma desidiosa EFICIÊNCIA utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades particulares IMPESSOALIDADE ECONOMICIDADE cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias LEGALIDADE exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho IMPESSOALIDADE recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado LEGALIDADE Fonte: Lei nº 8.112/90 – Título IV, Capítulo II, art. 117. Pág. 7 Dicas para reafirmar a prática ética do servidor público Como é aparentemente fácil não ser ético Cobramos sempre ética do outro, mas nos esquecemos de que o primeiro lugar a implantá-la é dentro de nós mesmos. Exemplo: é muito comum falarmos dos políticos em geral - são gananciosos, corruptos, não pensam na população. Mas quem de nós já não ficou tentado ao se defrontar com uma situaçãode “levar vantagem”? Veja abaixo: já lhe aconteceu algum desses episódios? Utilizar a carteirinha de estudante de um colega para um show caro, ou mesmo obter sem ser propriamente estudante? Comemorar um troco a mais, errado, que o caixa da padaria entregou? Constatar, feliz, que o funcionário público não nos cobrou a multa que era obrigatória num dado caso? Pagar suborno ao mau policial que nos parou na blitz? Se essas situações já lhe ocorreram e você sequer ficou tentado, parabéns! Está com o seu "eticômetro" funcionando bem e sempre. Mas muitos de nós, nesses casos, podemos ser levados a pensar: - Ora, se meu carro for apreendido, vou pagar dez vezes mais para retirá-lo do depósito. Ou: - Ora, estou deixando de levar uma multa, quando existe toda a roubalheira do dinheiro público. E na verdade essa multa nem é lá muito justa... Ou: - Ora, o caixa da padaria deve enganar vários fregueses todos os dias, fica sempre no lucro. Além do mais, que padaria careira... Ou: - Ora, por que só estudantes podem pagar meia-entrada? Eu sou professor (ou arquiteto, ou advogado, etc.) e tenho a mesma necessidade de lazer e cultura. Enfim, em geral buscamos uma justificação racional para nossos atos que contrariam a moral ou a Ética. Pág. 8 Atitudes éticas: modo de usar Portanto, como acabamos de ver, um recurso para driblar a Ética é relativizar a verdade. Mas pense bem: é pequeno o número de vezes que, se pararmos e refletirmos um pouco, teremos dúvida real sobre se uma atitude é ética ou não. Por isso, devemos sempre nos lembrar de que a Verdade é um princípio tão ético que se inscreve como pilar da religião e da filosofia. Ética é quase sinônimo de postura correta, de conduta verdadeira tanto nas menores quanto nas maiores ações. Uma das noções de Ética é consciência pessoal em relação a seus atos, à justeza deles e ao cuidado com sua repercussão sobre o outro. Mas ser ético é ser perfeito? Longe disso. Ainda cometeremos deslizes e atitudes incorretas. Porém, a diferença é que eles tenderão a ser cada vez mais excepcionais e/ou inconscientes. Vamos, então, a uma pequena lista, apenas ilustrativa, de ações éticas que podemos praticar em nosso dia a dia? Dê o crédito a seus colegas e subordinados, quando tiverem boas ideias e ações. Não se aproprie do mérito deles. Não aceite presentes cuja causa esteja em sua função, seu trabalho. Seja honesto consigo mesmo e com os outros. Aja de acordo com a lei. (Para isso, consulte a legislação, de modo a assegurar-se da correção de seus atos. Lembre-se de que a ninguém é dado alegar desconhecimento da lei.) Considere os recursos públicos como se denominam: públicos, de todos e para todos. Seja ético também quando ninguém o estiver observando. Existem aqueles que são éticos no atacado, mas antiéticos no varejo, ou seja, praticam grandes e vistosos atos éticos, mas, no cotidiano, cometem uma série de "pecadilhos éticos". Durante um longo período histórico considerava-se que esse "jeitinho" para burlar a ética era um traço de caráter do brasileiro. O Brasil, contudo, tem mudado em sua cultura e nas práticas. Isso vem avançando a ponto de termos hoje indivíduos e grupos sociais, preocupados e vigilantes com as questões éticas. E esse número só cresce, com a percepção de que o agir bem traz benefícios a todos e a cada um. Por isso, agir de maneira correta deve ser um exercício diário e consciente. Repetimos: Ética equivale à conduta verdadeira tanto nas menores quanto nas maiores ações. Pág. 9 Instituições são mais ou menos éticas de acordo com as pessoas que nelas atuam. Assim, devemos ter cuidado com expressões como “o parlamento não é ético”. Estamos falando de todos os integrantes desse parlamento ou de alguns de seus representantes? O que devemos considerar é que a ética está ou não nas pessoas - mais ainda, está em suas atitudes. A preocupação ética dos membros de uma instituição reflete-se diretamente na impressão que a população em geral tem daquela instituição. As pessoas fazem a instituição e não o contrário. A decisão final é de cada um, de acordo com seus princípios e consciência individual. Isto se aplica ainda mais a instituições governamentais, em que estão em questão a forma e os objetivos para os quais são gerados os recursos públicos. Dessa forma, há duas maneiras de se encarar uma questão relativa à lei: 1) o "jeitinho", ou dura lex, sed lex ("a lei é dura mas estica", conforme a anedota); 2) dura lex, ex lex (a lei é dura mas é lei). A postura ética se coaduna apenas com a opção de número 2, porém pode nos surgir a seguinte pergunta: - Ora, e se uma lei for injusta, devo seguir a legalidade ou a justiça? A questão já foi e continua a ser motivo de debate e controvérsia ao longo dos séculos. Basta lermos o clássico "Antígona" (clique aqui para baixá-lo na íntegra), monumental peça teatral de Sófocles, representada pela primeira vez em 422 a.C., e veremos que essa preocupação é bem antiga para cidadãos e governantes. A resposta, porém, hoje nos parece mais segura: caso se considere a lei injusta, siga-se ainda assim a lei. Busque-se a justiça por meio do Judiciário para reparar uma legislação danosa e busque-se a mudança dessa norma por meio do Legislativo, o responsável pela criação e também supressão das leis. Com a evolução e democratização dos processos legislativos, e ainda com a maior transparência e rapidez nos procedimentos, resultado das novas tecnologias de informação e comunicação, hoje podemos ser mais conscientes de nossas escolhas e mais ágeis em nossa atuação cidadã. Clique aqui. Pág. 10 - Códigos de Ética Os chamados Códigos de Ética são documentos criados por instituições ou categorias profissionais específicas, para regular a atuação desses agentes. Selecionamos, abaixo, alguns dos importantes códigos brasileiros. Trata-se de uma seleção, dentre tantas outras possíveis. É interessante que você clique nos links e procure ler, no todo ou em parte, esses Códigos de Ética. Sem querer pautar sua leitura, recomendamos, apenas a título de sugestão, duas abordagens críticas: 1) procure lê-las comparativamente, notando o que possuem em comum e em que se diferenciam pela natureza específica de sua atuação; e/ou 2) leia-as considerando se se trata realmente de Códigos de Ética (mais universais) ou Códigos Morais (relativos a posturas de uma dada época, região ou cultura). Boa leitura! CÓDIGO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR - SENADO Este é o Código a que estão submetidos todos os parlamentares de nossa Câmara Alta, ou seja, o Senado Federal. CÓDIGO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR - CÂMARA DOS DEPUTADOS Também a Câmara dos Deputados possui seu Código de Ética. Leia-o e compare-o com o do Senado e de outras categorias de servidores públicos e profissionais. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIDOR PÚBLICO CIVIL DO PODER EXECUTIVO FEDERAL Aplica-se ao servidor público civil do Poder Executivo, mas, pela abrangência, muitos de seus fundamentos são aplicáveis a outros níveis da Administração Pública. CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA O Judiciário brasileiro possui Código de Ética próprio, com seus princípios e também os seus limites de atuação. Conheça-os. CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA De autoria do Conselho Federal de Medicina (CFM), foi atualizado e passou a vigorar, em sua nova versão, a partir de 13 de abril de 2010. Porser um documento da área médica, que tem por missão maior a preservação da vida, vale a pena dar uma olhada. CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DOS ADVOGADOS Este é um documento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e estabelece os princípios e limites para a ação dos advogados em todo o Brasil. Neste caso, por ser uma função que visa garantir o direito das pessoas, também é um bom referencial para a análise da conduta ética. Pág. 11 - Instâncias externas de controle No setor público, atuam no controle externo alguns órgãos ou instituições específicas. Seguem alguns exemplos: Tribunal de Contas da União (TCU) Tribunais de Contas dos Estados e do DF Controladoria-Geral da República Ministério Público Federal Ouvidorias públicas Nota-se que, com o surgimento e universalização da internet, o controle externo vem sendo realizado também por organizações não governamentais e mesmo grupos de cidadãos, valendo-se das informações veiculadas pelos sites da Presidência da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Supremo Tribunal Federal, apenas para ficarmos na instância maior dos respectivos poderes. O Senado, por exemplo, mantém o Portal da Transparência, com informações relevantes sobre seus trabalhos, gastos, remuneração e diversos outros temas de importância para o eleitor e o cidadão. Além disso, a imprensa, num país democrático, também no papel de controle externo, no sentido de que investiga, denuncia e cobra posicionamento das autoridades contra atos lesivos ao Estado e à sociedade. Abaixo, mais alguns links para instâncias ou ações externas de controle. Contas Abertas Transparência Brasil Portal da Transparência Instituto Ethos Pág. 12 - Instâncias internas de controle . Essas unidades administrativas são comumente denominadas no serviço público de "Controle Interno". Daí por que se encontram nos organogramas das instituições públicas nomes como "Secretaria de Controle Interno", "Coordenação de Controle Interno" e seus similares. Alguns órgãos da Administração Pública, seguindo o exemplo do Governo Federal, preferem utilizar "Controladoria", termo enxuto, que mantém inalterada a significação e, por conseguinte, seu espectro de atuação. Uma instância interna de controle (ou Controle Interno, ou Controladoria) é o setor responsável por fiscalizar os atos da própria instituição. Com esse objetivo, ela pode também estabelecer mecanismos educacionais ou normativos para garantir boas práticas, antecipando-se mesmo à ação fiscalizatória. Conflitos éticos: você decide FAIRPLAY OU REGRA Analise os dois casos abaixo, ilustrados pelos respectivos vídeos (se quiser, pode também debater a questão em nosso fórum temático) O jogador do Ajax, da Holanda, ao devolver gentilmente a bola ao adversário, numa atitude de fairplay (jogo limpo), sem querer marca um gol no outro time, que, parado, apenas aguardava a devolução. Veja o que segue. A atitude seguinte do Ajax provoca aplausos efusivos dos torcedores no estádio. Vídeo ½: https://www.youtube.com/watch?v=WFlPfaS-znA Mas observe este outro lance, ocorrido aqui mesmo no Brasil. O jogador do Palmeiras a rigor não desrespeita a regra, mas, mesmo assim, provoca reclamações veementes do time adversário e vaias da torcida. Vídeo 2/2: https://www.youtube.com/watch?v=t7Nx2IYQWTo Unidade 3 - Ética no Legislativo Nesta unidade, trataremos os seguintes pontos: por que uma "Ética no Legislativo"?; mitos e duras verdades; os códigos de Ética do Legislativo Federal; os conselhos de Ética; e dilemas e novos caminhos. Pág. 2 - Por que uma "Ética no Legislativo"? Após tudo o que viu neste curso, você pode estar se perguntando: Ética é algo universal. Por que, então, falar em uma "Ética no Legislativo"? Da mesma forma que analisamos a Ética do ponto de vista da mídia ou do ponto de vista sob o qual a coloca um ou outro grupo social, existem princípios específicos, que podemos também chamar de éticos, para categorias específicas de pessoas. Uma dessas categorias é a da profissão. De início, é fundamental lembrarmos: o Poder Legislativo, tal como concebido no Brasil, tem uma função REPRESENTATIVA. Neste sentido, os imperativos éticos estão presentes desde o nascimento da atividade do parlamentar. Ora, como posso ser o representante de milhares ou milhões de pessoas sem considerar suas opiniões e pensamento em cada atividade rotineira que exerço? Para ficarmos apenas no Legislativo, isto vale para senador, deputados federal, estadual e distrital e também para vereador, em todo o território brasileiro. Pág. 3 - Mitos e duras verdades Apresentamos, a seguir, uma listagem das críticas comumente dirigidas aos parlamentares e servidores do Poder Legislativo, contrapondo o que é um mito (ou exagero, ou informação distorcida) ao que é uma dura verdade (erros que podem e devem ser corrigidos). Concordando ou não, apresentamos essa listagem, para que você reflita e ajude a formar seu próprio juízo de valor. Mito n° 1: Os parlamentares trabalham pouco Talvez seja este o mito mais fácil de ser desfeito. Uma visita presencial ou virtual às Casas legislativas demonstra que, em geral, lá se trabalha, e muito. Isto porque o trabalho do parlamentar não se resume à presença e aos discursos inflamados em plenário, mas também, e talvez principalmente, à presença nas reuniões políticas e com os diversos setores da sociedade, nas comissões permanentes e temporárias e em eventos dos quais precisa participar em função de sua representatividade. Dura verdade n° 1: Alguns parlamentares faltam às sessões plenárias Alguns parlamentares, é fato, faltam às sessões plenárias. Porém, esse número vem progressivamente diminuindo, mesmo porque o poder do parlamentar é decorrente de sua participação efetiva; inclusive o seu próprio partido tende a cobrar sua atuação e seus votos. Mito n° 2: Os parlamentares desfrutam de inúmeros privilégios Considerando-se o alto nível de responsabilidade do representante legislativo, e também os gastos decorrentes da atividade do mandato (releia o item anterior), não se pode efetivamente falar de forma genérica em “privilégios”. Em verdade, ajustes têm sido feitos com relação ao tema, nos três níveis do Poder Legislativo, o que é salutar para o próprio desempenho do mandato eletivo. Dura verdade n° 2: Alguns parlamentares fazem malversação dos recursos do mandato Sim, ainda se reportam casos de nepotismo clássico e cruzado, de “caixinha” de servidores em comissão repassada ao parlamentar ou ao partido, e aberrações similares. A legislação vem se aprimorando para coibir estas e outras transgressões, da mesma forma que a imprensa e outras instâncias de controle vêm atuando para denunciar tais fatos. Mito n° 3: Os parlamentares só legislam em causa própria ou de seus financiadores Se essa afirmação fosse verdadeira, as minorias na sociedade ainda estariam em regime de escravidão e não contariam com benefícios como o 13° salário, a licença-maternidade e outras conquistas no campo trabalhista e social. Mais uma vez, aqui a generalização não condiz com a verdade. Se determinados parlamentares, de fato, priorizam seus próprios interesses em detrimento de quem o elegeu, cabe ao eleitorado dar-lhes a lição definitiva na eleição seguinte: essa é a regra de ouro do sistema democrático. E se o parlamentarhouver infringido a lei, cabe ao judiciário tomar as medidas cabíveis, sempre com a vigilância e o apoio – por que não? – da pressão popular. Dura verdade n° 3: Alguns parlamentares atuam com interesses próprios ou escusos Sabe-se que essas práticas existem: há parlamentares que colocam seus próprios interesses financeiros ou projetos de poder acima das atribuições e deveres para com o mandato que lhes foi conferido pelos cidadãos. Com o cuidado de não generalizar, cabem às denúncias contra os arrivistas travestidos de parlamentares, até porque maculam a atuação correta e diuturna dos que honram seus mandatos. (Veja neste curso os diversos links para ouvidorias e instâncias de controle externo, que podem auxiliar na checagem da ética na atuação parlamentar). Pág. 4 - Mitos e duras verdades 2 Mito n° 4: Os servidores do Legislativo trabalham pouco e ganham muito De fato, se tomarmos como base o salário médio dos brasileiros, os servidores do Legislativo, do Judiciário e de determinadas carreiras do Executivo são bem remunerados. Isso não implica dizer que trabalham pouco. Mais uma vez, há que se reconhecer aqui uma injustiça, onde “os justos pagam pelos pecadores”. É frequente os servidores do Legislativo permanecerem no trabalho noite adentro e até de madrugada, notadamente nas sessões de comissões, em cotações de alto impacto social no plenário e mesmo no trabalho nos gabinetes. Infelizmente, essas particularidades não tem tanto destaque na mídia, mas um maior conhecimento da prática legislativa indicará que existem sim, e em bom número, esses verdadeiros servidores públicos. Dura verdade n° 4: Alguns servidores do Legislativo não cumprem responsabilidades Num universo tão amplo de servidores, sem dúvida existem os que não cumprem a jornada de trabalho prevista e, ainda pior, não se desincumbem de suas tarefas. Esses casos têm sido tratados cada vez com maior rigor tanto pela lei quanto pelas normas internas das Casas Legislativas. Exemplos como o do Senado, com o programa PRORESULTADOS, que visa profissionalizar ainda mais os processos e fluxos de trabalho, e a retomada da capacitação dos servidores, são importantes para essa mudança de cultura. Mito n° 5: No legislativo a maioria dos servidores entra “pela janela” Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, o concurso público é o caminho legal, natural e culturalmente aceito como porta de entrada para as carreiras na Administração Pública, o que vale também para o Poder Legislativo. Dura verdade n° 5: Existem algumas exceções para contratação temporária sem concurso: Nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), existe um número restrito de cargos em comissão a serem preenchidos sem concurso público. Também houve nos últimos anos um incremento da terceirização de algumas atribuições, o que implica contratação sem concurso. No entanto, no caso dos comissionados, estes podem ser demissíveis ad nutum (ou seja, a qualquer momento e mesmo sem justificação); e os terceirizados não são propriamente servidores públicos, mas sim os prestadores de serviços não terão vínculos com a Administração pública. Pág. 5 - Os Códigos de Ética no Legislativo Federal Como estamos em um curso no âmbito legislativo, cabe agora uma pausa para que você leia o Código de Ética e Decoro Parlamentar das duas Casas Legislativas federais: o Senado e a Câmara dos Deputados. Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal Instituído pela Resolução do Senado nº 20, de 1993 Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados Instituído pela Resolução da Câmara nº 25, de 2001 Pág. 6 - Os Conselhos de Ética Senado Federal e Câmara dos Deputados mantêm Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar para analisar casos de supostas transgressões de parlamentares federais. Esses órgãos funcionam como mecanismos internos de controle à atividade parlamentar, buscando garantir as melhores práticas, conduzindo à punição de parlamentares infratores dos princípios éticos estabelecidos nos respectivos Códigos de Ética e, por via de consequência, transgressões à lei. A seguir, os links para os Conselhos. Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados Pág. 7 - Os novos caminhos do Senado O Senado Federal vem progressivamente aperfeiçoando tanto seus mecanismos de controle quanto os meios para ouvir o que os cidadãos têm a sugerir ou reclamar. Abaixo, listamos algumas dessas ações e os links de acesso às informações e vias para contato. Portal da Transparência Tem por finalidade veicular dados e informações detalhados sobre a gestão administrativa e a execução orçamentária e financeira do Senado Federal. Siga Brasil É um sistema de informações sobre orçamento público, que permite acesso amplo e facilitado ao SIAFI e a outras bases de dados sobre planos e orçamentos públicos, por meio de uma única ferramenta de consulta. Manual de Obtenção de Recursos Federais para Municípios Criado pelo ILB e disponível em sua página, possibilita que prefeitos e gestores municipais busquem recursos federais diretamente, facilitando os procedimentos e economizando recursos gastos com intermediação. Agenda de trabalho do Senado Federal Aqui você pode consultar diariamente os trabalhos que serão realizados pelos senadores. Ouvidoria do Senado Canal para reclamações e críticas à instituição Senado, seus servidores e parlamentares. Alô, Senado De qualquer lugar do Brasil ligue 0800 612211 ou por outros meios disponíveis no portal, tire dúvidas, obtenha informações e ajude a realizar as mudanças no Senado. Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) Cursos a distância com e sem tutoria, e semitutorados, disponibilizados gratuitamente aos cidadãos. Portal de Acompanhamento de Gastos para a Copa do Mundo de 2014 Criado pelo PRODASEN, órgão do Senado voltado à tecnologia, esse portal possibilita consultar a previsão orçamentária e os gastos efetivos realizados pela União, Estados e Municípios em ações relativas à Copa do Mundo de Futebol que será realizada no Brasil neste ano de 2014. Pág. 8 - Para finalizar... recomeçando O ser humano é gregário, relacional, expressa-se e realiza-se em sociedade. Nos países democráticos, o Poder Legislativo representa a sociedade em seus anseios por mais oportunidades, melhor qualidade de vida e justiça social. Após a virada do milênio, e notadamente com o incrível aumento de abrangência das novas tecnologias de informação e comunicação, representar a sociedade não é mais tarefa que fica restrita a decisões de gabinete, apertos de mão ou vaias públicas. O cidadão-eleitor tem agora mecanismos de consulta de informações e de análise desses dados para formar sua própria opinião. Se considerarmos que, no princípio do século XX, o número de periódicos e de livros era, pode-se afirmar, escasso, hoje as informações nos saltam aos olhos pelos periódicos, sim, mas também por rádio, TV, celulares, notebooks e os demais dispositivos móveis ou não que nos permitem acessar a rede mundial de computadores, nossa conhecida web ou internet. O conceito de web (teia, em inglês) nos dá a perfeita analogia: a sociedade, e com ela a AdministraçãoPública, é um todo indissociável, e essa união de destinos torna-se cada vez mais clara à medida que se avança em descobertas, invenções e apreensão ou desenvolvimento do saber. Mas o saber em si, como a internet e como qualquer ferramenta, pode ser usado com bons ou maus propósitos. Daí a importância da Ética. Como já tratado neste curso, os princípios éticos podem ser seguidos por todos e nas mais prosaicas e banais atividades cotidianas e também nas decisões estratégicas nacionais e mundiais. No Brasil dos últimos anos, tem havido incontestáveis avanços nas leis e na penalização de atos contra a vida e o bem público. As manchetes de jornais e os protestos em grupo ou individuais contra essas transgressões e esses transgressores demonstram que a cultura brasileira, um dia já considerada tão somente cordial e conciliadora, tem a capacidade de se indignar e de exigir seus direitos, e que estes sejam respeitados por aqueles que os representam ou que administram a res publica, a coisa pública, o patrimônio de todos. Lembremos sempre que a vida é o bem mais precioso; por isso é a principal guardiã e o principal objetivo da Ética. E que a vida e a Ética, não existem apenas nas aulas de biologia ou de filosofia. Querendo sempre se expressar, elas estão, o tempo todo, em cada um de nós. Exercícios de Fixação - Módulo III Parabéns! Você chegou ao final do primeiro do curso Ética e Administração Pública. Sugerimos que você faça uma releitura do Módulo III e resolva os Exercícios de Fixação, que o resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas! Porém, não esqueça de realizar a Avaliação final do curso, que encontra-se no Módulo de Conclusão. Lembramos que é por meio dela que você pode receber a sua certificação de conclusão do curso. Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui.
Compartilhar