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1 O PROCESSO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO EM REDES INTERORGANIZACIONAIS: UM ESTUDO COM EMPRESAS JUNIORES DE MINAS GERAIS. Autoria: Fernanda Tavares Silva, Moisés Habib Bechelane Maia, Wellington Tavares, Nathália de Fátima Joaquim RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar como ocorre a gestão do conhecimento entre as empresas juniores federadas de Minas Gerais, constituindo um ambiente de rede interorganizacional. Nas linhas introdutórias é abordado o problema de pesquisa, objetivo e justificativa em se desenvolver o tema. Em seguida é apresentado o referencial teórico que versa sobre gestão do conhecimento e redes interorganizacionais, o que permitiu um arcabouço teórico e conceitual para se embasar a observação empírica. Posterior a isso é feita uma descrição do ambiente pesquisado relatando as características das empresas juniores e da federação de Minas Gerais. Logo após, são abordados os métodos utilizados na pesquisa para se atingir o objetivo proposto. Foram utilizados recursos quantitativos e qualitativos, com o envio por meio de correio eletrônico de questionários semi-estruturados a vinte e sete empresas, porém obteve-se a resposta de quinze destas empresas. Para análise estatística e representação da estrutura da rede, recorreu-se ao programa SPSS® e UCINET®, respectivamente; as questões abertas foram avaliadas por meio da análise de conteúdo. Os resultados obtidos foram categorizados em quatro áreas representando as características que determinam a “espiral do conhecimento” de Nonaka e Takeuchi (2008). As áreas são sobre: as relações interorganizacionais existente entre as empresas, representando a Socialização; as ferramentas de disseminação do conhecimento, representando a Externalização; as formas de transmissão de conhecimentos, representando a Combinação; e sobre um contexto de busca e armazenamento do conhecimento, representando a Internalização, neste mesmo tópico é apresentado uma síntese teórico-empírica que elucida o processo de gestão do conhecimento entre as EJs embasado pelas práticas de Nonaka e Takeuchi (2008). Por fim, são abordadas as conclusões e sugestões para futuras pesquisas. Pode-se concluir que as empresas juniores de fato atuam num formato de redes no qual o foco é a geração, disseminação, armazenagem e utilização do conhecimento compartilhado para a tomada de decisões e aumento de suas capacidades competitivas, uma vez que trabalhando em cooperação conseguem obter maiores ganhos competitivos frente ao mercado. O desenvolvimento desta pesquisa se justifica do ponto de vista teórico pela falta de estudos que trabalhem a interação da gestão do conhecimento e as redes interorganizacionais. E do ponto de vista prático por representar um estudo que pode ser aplicável às empresas de outros setores. Portanto trata-se de um trabalho que alinha a parte teórica em uma contribuição prática para futuras aplicações e estudos no campo das ciências sociais aplicadas. 2 1.Introdução Atualmente as pesquisas no campo do conhecimento, ultrapassam as barreiras dos estudos psicológicos e pedagógicos para se inserirem na área da administração. Nesse contexto, o conhecimento aparece como condição fundamental para a sobrevivência das organizações, tendo em vista que ele pode ser considerado como um recurso de extrema importância na nova economia, sendo fonte para vantagem competitiva. Para que o conhecimento se torne uma vantagem competitiva ele deve ser gerido, e a sua gestão deve representar um aspecto importante para o desempenho organizacional. A espiral do conhecimento proposta por Nonaka e Takeuchi (2008), representa o modelo mais difundido das fases do processo de gestão do conhecimento organizacional, ela é composta por quatro formas de conversação - socialização, externalização, combinação e internalização – que representam a interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. As organizações devem ser capazes de cuidar de seu conhecimento interno e buscar externamente conhecimentos que vão ao encontro de suas necessidades e objetivos. Esta procura por novos conhecimentos e as exigências de um ambiente altamente dinâmico provoca o surgimento de novos formatos organizacionais que sejam capazes de satisfazer essa demanda empresarial, dentre esses formatos estão as redes. As redes interorganizacionais se formam e muitas vezes surgem para o compartilhamento de conhecimentos, para maior acesso a know-how e informações através de novas relações de colaboração. Isto pode ser obtido sem que as empresas integrantes da rede tenham de abrir mão de sua autonomia e independência. É um novo formato capaz de gerir de forma dinâmica as competências requeridas do atual mercado. Utilizando-se a aplicação dos princípios de redes pode-se contribuir para a melhoria das inter-relações das empresas envolvidas, ajudando-as a conquistar verdadeiras vantagens competitivas. Atuando dentro desta forma organizacional de redes, se localizam as empresas juniores, objeto de estudo deste artigo, uma vez que elas desenvolvem e incentivam as relações interorganizacionais para a construção e disseminação do conhecimento. As empresas juniores filiadas a FEJEMG (Federação de Empresas Juniores do Estado de Minas Gerais) formam uma rede de relacionamentos na qual ocorre frequentemente a interação entre as afiliadas, facilitando a troca de informações e conhecimento. O processo de formação de conhecimento é complexo e esse estudo tem a finalidade de entender toda a concepção e a dinâmica das redes entre as empresas juniores federadas de Minas Gerais e mostrar como ocorre o fluxo de informações entre elas. Neste contexto surge uma importante questão: como ocorre o processo de gestão do conhecimento entre as empresas juniores federadas à FEJEMG? Para responder a este questionamento o presente artigo tem como objetivo analisar como ocorre a gestão do conhecimento entre as empresas juniores federadas de Minas Gerais, constituindo um ambiente de rede interorganizacional. O desenvolvimento desta pesquisa se justifica do ponto de vista teórico pela falta de estudos que trabalhem a interação da gestão do conhecimento e as redes interorganizacionais. E do ponto de vista prático por representar um estudo que pode ser aplicável as empresas de outros setores. Portanto trata-se de um trabalho que alinha a parte teórica em uma contribuição prática para futuras aplicações. Após essas linhas introdutórias, será abordado um referencial teórico que versa sobre gestão do conhecimento e redes interorganizacionais. Em seguida apresenta-se a descrição do ambiente pesquisado e logo após os métodos utilizados na pesquisa. Será desenvolvida, então, 3 uma análise dos dados empíricos com a formulação de uma síntese teórica-empírica e por fim serão apresentadas as conclusões e sugestões para futuras pesquisas. 2.Referencial teórico Este tópico constituirá um subsídio teórico acerca do tema gestão do conhecimento e redes interorganizacionais, o que possibilitará um arcabouço conceitual para uma posterior aplicação empírica. 2.1 Gestão do conhecimento A descoberta e o uso da prática de gestão do conhecimento está relacionada ao fato de que há grande demanda por flexibilidade gerencial e diferencial competitivo entre as organizações (DAVENPORT e PRUSAK,1999; DRUCKER, 2001; TERRA, 2005) Drucker (2001) afirma que a próxima sociedade será a do conhecimento. O conhecimento será o recurso chave e os trabalhadores do conhecimento serão o grupo dominante na força de trabalho desta sociedade. Esta sociedade será a mais competitiva de todas, para as organizações e para os indivíduos. Davenport e Prusak (1999, p.20) argumentam que “a vantagem do conhecimento é sustentável porque gera retornos crescentes e dianteiras continuadas. Ao contrário dos ativos materiais, que diminuem à medida que são usados; os ativos do conhecimento aumentam com o uso.” “Oconhecimento é um ativo que não se deprecia, ele possui retornos crescentes, uma vez que o conhecimento compartilhado permanece com o emissor e também enriquece o receptor, assim ele se multiplica.” O conhecimento pode ser dividido em dois tipos: conhecimento tácito e conhecimento explícito. O primeiro tipo é altamente pessoal e difícil de ser articulado na linguagem formal, se origina de experiências, percepções e valores individuais, sendo dependente do contexto. O segundo tipo é articulado na linguagem formal, em palavras, símbolos e números e pode ser armazenado, o que permite que ele seja facilmente transmitido dentro da organização (NONAKA e TAKEUCHI, 2008; DAVENPORT e PRUSAK, 2003). A importância de se gerir o conhecimento para as empresas é pautado na sua composição informacional, uma vez que as informações são utilizadas pelas organizações como um elemento fundamental para a tomada de decisões (ORMAN, 1987), já que o processo decisório tenta se embasar ao máximo em informações a fim de se ter menor risco (SHANNON e WEAVER, 1949; COHEN, 2002) e maior precisão Para Bryant (2003), a gestão do conhecimento consiste basicamente em um processo destinado a criar e a compartilhar conhecimento, bem como a incorporá-lo aos produtos, sistemas e serviços de uma organização, requerendo esforços de toda a hierarquia da empresa. Segundo Fleury (2001) o processo pelo qual uma empresa gerencia o conhecimento que possui distingue-se em pelo menos três momentos: aquisição e desenvolvimento do conhecimento, disseminação do conhecimento e a memorização do conhecimento. Nesta mesma linha Davenport e Prusak (1999) definem gestão do conhecimento como sendo “um conjunto de processos que orienta a criação, disseminação e utilização do conhecimento para atingir plenamente os objetivos da organização.” Para se promover a gestão do conhecimento, Nonaka e Takeuchi (2008), desenvolveram a “espiral do conhecimento”, como já indicado na introdução, essa espiral se refere ao SECI, um ciclo de quatro etapas, Socialização, Externalização, Combinação, e Internalização, representando o compartilhamento entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Esse ciclo ocorre, sobretudo pelo processo de compartilhamento de experiências que levem a 4 rever ou a recriar modelos mentais ou habilidades técnicas, com o uso de comunicações escritas ou orais. Para Prosbt et alli (2002) o conhecimento organizacional é constituído de ativos individuais e coletivos utilizados na realização das tarefas empresariais. O autor supracitado possui uma idéia mais voltada a fragmentação do conhecimento organizacional ao conhecimento de seus funcionários, agrupados ou não. Vasconcelos (2001) observa que para se gerir conhecimento seria imprescindível antes a gestão da ignorância, ou seja, antes de se gerenciar o conhecimento seria salutar a gestão do que não se sabe (ignorância). Tal pensamento segue a filosofia socrática de que sábio não é o que conhece respostas e sim o que sabe fazer perguntas. A forma como o conhecimento é adquirido ainda é discutida no mundo acadêmico. Pode- se dizer que o conhecimento é produzido em um processo interativo que reúne fatores tecnológicos e sociais, além de estruturar-se de acordo com a conversão de formas tácitas em explícitas em um dado contexto organizacional (LAM, 2000; PAN; SCARBROUGH, 1999; NONAKA; TAKEUCHI, 2008). Segundo Yoo e Ifvarsson (2002), a interação face a face representa a forma mais rica tanto para a criação como para o compartilhamento do conhecimento. Entretanto, as formas de gerenciamento do conhecimento precisam estar bem claras para não acontecer “trapaças”. Segundo Gold, Malhotra e Segars (2001) é crucial para uma gestão do conhecimento efetiva a presença de normas e mecanismos de confiança, ou seja, contextos de compartilhamento, reforçados pela tecnologia para assegurar o processamento de informações. Se esses elementos estiverem ausentes não há como armazenar, transformar e transportar o conhecimento distribuído na organização. Diante desta necessidade de difusão e absorção do conhecimento pelas empresas, surgem ferramentas estratégicas que possibilitam um maior ganho de informações. Em resposta a este panorama estão a formação de redes interorganizacionais, caracterizadas por uma maior interação entre as empresas. 2.2 Redes interorganizacionais. As redes representam um importante estudo sobre as formas organizacionais e por isso vêm sendo abordadas e analisadas por diversas ciências, conferindo-lhes assim um caráter interdisciplinar. De acordo com Nohria (1992), desde 1950 o conceito de redes tem ocupado lugar proeminente em diversos campos de estudo como na antropologia, psicologia, sociologia e biologia molecular. Fatalmente, estes estudos favoreceram de forma substancial o desenvolvimento dos conceitos sobre redes. Segundo Amato Neto (2001), as redes passam a se apresentar como elementos de grande relevância para as organizações ao servir como base para o fortalecimento de suas atividades sem, necessariamente, envolver laços financeiros entre elas, seguindo esse mesmo pensamento Ribault et al. (1995), define redes como um tipo de agrupamento de empresas cujo objetivo principal é o de fortalecer as atividades de cada um dos participantes da rede, sem que, necessariamente tenham laços financeiros entre si. Uma definição estabelecida pela Redesist (2005), conceituam as redes de empresas como formatos organizacionais definidos por um conjunto entrelaçado de articulações entre firmas, que envolvem transações de informações e, muitas vezes, conhecimentos entre elas, não implicando necessariamente numa proximidade geográfica de seus integrantes. Essa questão de transação de conhecimento é o assunto relevante a este artigo. Segundo Pereira e Costa (2007), formar redes é um mecanismo para adquirir capital social e importar conhecimento externo para a organização. 5 Por meio das redes, o conhecimento pode ser gerado de forma mais eficiente e rápida. E existem alguns fatores que podem inibir ou facilitar o fluxo de conhecimento entre as organizações. Eles estão divididos em dois blocos segundo Nakano (2005), os relativos a características do conhecimento, e os relativos à organização e à rede e ao seu contexto. Dentro do primeiro bloco, o autor pontua a classificação do conhecimento em três dimensões: simples x complexo, independente x sistêmico e tácito x explícito. Em relação ao segundo bloco, o autor afirma os aspectos relacionados à organização, dividindo-os em dois blocos também, a saber: os recursos de redes que a organização possui e a sua competência administrativa para trabalhar em cooperação As redes são formações que propiciam a transmissão de conhecimento. De acordo com Teubal, Yinnon e Zuscovitch (1991), a aprendizagem é força central na criação e na evolução das redes. Para Arcangelli e Belussi (1998), dentre as características das redes, está a possibilidade de novas formas de aprendizagem organizacional e de transferência de conhecimento através dos nós. Segundo Terra (2005), as redes representam um para o compartilhamento de conhecimento que exige uma concepção de colaboração entre os agentes. Dufloth (2004) relata que as redes proporcionam espaços para o desenvolvimento da inteligência coletiva, ampliando a capacidade de criação e de ação individual de cada participante. As organizações vinculam-se em redes com diferentes propósitos. Sendo assim este trabalho foca na articulação das empresas com o propósito de transmissão do conhecimento, uma vez que esta é uma das principais justificativas para o relacionamento existente entre as empresas juniores. 3. Descrição do ambiente pesquisado A empresa júnior é uma associação civil, sem fins econômicos, constituída e gerida exclusivamente por alunos de graduação de estabelecimentos de ensino superior, que presta serviços e desenvolve projetos para empresas,entidades e sociedade em geral, nas suas áreas de atuação, sob a orientação de professores e profissionais especializados. Ela possui natureza de uma empresa real, com diretoria executiva, conselho de administração, estatuto e regimentos próprios. Com uma gestão autônoma em relação à direção da faculdade, centro acadêmico ou qualquer outra entidade acadêmica. As empresas juniores (EJs) atendem principalmente o mercado das micro e pequenas empresas, prestando serviços diversificados de consultoria (BRASIL JÚNIOR, 2010). Estas empresas nasceram com o intuito de melhorar as condições de aprendizado universitário do país, aplicando a teoria dada em sala de aula na prática do mercado de trabalho. De acordo com Moretto Neto et al (2004), são objetivos de uma empresa júnior: prestar serviços de consultoria às micro, pequenas e médias empresas, auxiliando-as no seu desenvolvimento, por meio de informações que visem a solucionar seus problemas internos e externos; proporcionar aos alunos oportunidades reais de aplicação prática de seus conhecimentos teóricos; dar acesso aos pequenos empresários a um serviço de alto padrão de consultoria, a preços acessíveis; estabelecer um contato mais efetivo entre estudantes e o mercado de trabalho visando à integração e ao desenvolvimento das potencialidades existentes, facilitando, com isso, o ingresso do aluno no mercado de trabalho; coletar informações, experiências e identificar novos temas para o estudo e aprofundamento em busca de soluções criativas e inovadoras; e promover maior integração entre universidades e organizações, proporcionando vantagens mútuas. O fenômeno de consultoria júnior surgiu na França no ano de 1967 na cidade de Paris, na ESSEC (L'Ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales de Paris) cujos 6 estudantes se conscientizaram da necessidade de experiências práticas que complementassem a formação acadêmica. A partir desse pressuposto criaram uma associação sem fins lucrativos denominada Junior Enterprise, com o objetivo de complementar a formação teórico acadêmica adquirida nos estabelecimentos de ensino superior por meio de aplicações práticas provenientes do confronto com a realidade empresarial (SOUZA, 2002; SOBREIRA, 2001). A partir dos anos 80 o Movimento Empresa Júnior (MEJ) se fortaleceu e as empresas juniores passaram a se expandir pelo mundo, abarcando países como Espanha, Bélgica, Itália, Inglaterra, Suíça, Holanda, Hungria e outros países (SOUZA, 2002). Em 1990, nasce a JADE (Confederação Européia de Empresas Juniores). No Brasil, o conceito de Empresa Júnior chega em 1987 com a iniciativa do Sr. João Carlos Chaves, diretor da Câmara de Comércio franco-brasileira. Houve uma publicação de um anúncio num jornal convocando jovens interessados em implantar uma empresa júnior. (SOBREIRA, 2001). Hoje, o Brasil é o país que possui o maior número de empresas juniores no mundo. São mais de 600 empresas dos mais variados cursos e as primeiras delas foram criadas em São Paulo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em Minas Gerais, o Movimento Empresa Júnior começou com a criação da MASCI, empresa júnior da Faculdade Machado Sobrinho, de Juiz de Fora. Hoje existem cerca de 150 empresas no estado de Minas Gerais. Assim como na Europa existe a JADE, no Brasil atua a Brasil Júnior que é a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, e tem como finalidades representar as empresas juniores em nível nacional e desenvolver o movimento empresa júnior como agente de educação empresarial e gerador de novos negócios. Ela é formada atualmente por 11 federações, representando 10 estados e o Distrito Federal (BRASIL JÚNIOR, 2010). Neste artigo focalizaremos o estudo na FEJEMG (Federação das Empresas Juniores de Minas Gerais). A FEJEMG foi fundada em julho de 1995, durante o I EMEJ – Encontro Mineiro de Empresas Juniores, em Lavras, MG. A FEJEMG é uma associação civil, apartidária e sem fins lucrativos, que surgiu da necessidade de se construir um laço mais estreito entre as Empresas Juniores do Estado, cada vez mais numerosas. A Federação, formada e administrada pelos próprios membros das empresas juniores federadas, tem como principal objetivo promover a interação e união das mesmas, fomentando o Movimento Empresa Júnior do Estado de Minas Gerais, bem como o desenvolvimento e fortalecimento das empresas. Afinal, através dela, as EJ’s podem interagir entre si, trocando experiências, conhecimentos, realizando parcerias, buscando aprimorar suas atividades e aumentar a eficiência de suas ações (FEJEMG, 2010). A FEJEMG conta hoje com 27 empresas federadas, dos mais diversos cursos de graduação. São empresas das cidades de Belo Horizonte, Viçosa, Juiz de Fora, Lavras, Ipatinga, Uberlândia e Ubá. A atuação das empresas dentro da federação representa uma rede interorganizacional, uma vez que são capazes de desenvolver atividades relacionando-se com diversas empresas.O MEJ procura construir uma cultura de cooperação e de participação ativa entre todas as EJs, com compartilhamento de dados, informações, conhecimentos e práticas capazes de aumentar a eficácia destas empresas juniores. Tomando por referência o embasamento teórico deste artigo, é possível analisar os processos adotados pelas empresas juniores federadas à FEJEMG para o compartilhamento de conhecimentos, num âmbito de relacionamento entre as empresas, uma vez que a interatividade promovida por elas proporciona um ambiente de cooperação e compartilhamento de competências que levam a formação da rede. 7 4.Metodologia Foi adotada uma abordagem metodológica do tipo descritiva/exploratória, objetivando entender como ocorre a transmissão de conhecimento entre as empresas juniores federadas. Uma pesquisa descritiva para Gil (2007), tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então o estabelecimento de relações entre variáveis. Na mesma perspectiva, Malhotra (2006) afirma que a pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo a descrição de algo, normalmente características do objeto de estudo ou relacionamentos entre os fenômenos. E exploratória porque visa adquirir maior conhecimento sobre o problema no sentido de torná-lo explícito (TRIVIÑOS, 2007). Buscou-se trabalhar os objetivos a partir de uma pesquisa de abordagem qualitativa e quantitativa. A utilização dessas duas formas de análise para o entendimento de um mesmo fenômeno é válida, tendo em vista que um método complementa o outro. A pesquisa qualitativa foi escolhida pautada nas idéias de Morgan e Smirich (1980) que afirmam ser esse um tipo de pesquisa realizado quando se tem a intenção de aprofundar os conhecimentos sobre determinado assunto, enfatizando a importância de compreender os processos nos quais os seres humanos criam a realidade. Essa abordagem mostrou-se apropriada também para se poder dimensionar a importância e a influência exercida pelas empresas, bem como descobrir evidências das redes e conexões entre elas estabelecidas nos processos de compartilhamento do conhecimento (OLIVEIRA, 2004; 2005). A abordagem quantitativa utilizada nesta pesquisa permite a visualização em termos numéricos das práticas desenvolvidas pelas empresas juniores que representam o processo de geração, disseminação, armazenamento e utilização do conhecimento entre os grupos de empresas pesquisadas. Complementando o pensamento, Deslandes e Assis (2002) afirmam que na utilização de métodos quantitativos tem como objetivo trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis, gerando medidas confiáveis, generalizáveis e sem vieses. O instrumento de coleta de dados foi um questionário semi-estruturado dirigido a todas as 27 (vinte e sete) empresas juniores federadas do estado de Minas Gerais, por meio de correio eletrônico enviado no mês de junho de 2009. No entanto, obteve-se a resposta de 15 (quinze)destas empresas. Para análise dos dados do questionário, foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)®. Realizaram-se algumas análises estatísticas descritivas e multivariadas. Outra ferramenta utilizada foi o UCINET®, no qual demonstrou graficamente a rede de relacionamentos existentes entre as empresas juniores federadas. Baseado nos dados obtidos chegou-se a determinados resultados que estão explícitos do próximo tópico. 5. Análise dos resultados Nesta sessão são apresentados os resultados alcançados com a pesquisa. Estes resultados são descritos por meio de uma análise das respostas dadas a cada uma das questões que compunham o questionário. O processo de inter-relação entre as empresas para a gestão do conhecimento foi categorizado em quatro áreas representando a base teórica e conceitual definida por Nonaka e Takeuchi (2008) com a “espiral do conhecimento”. As áreas são sobre: as relações interorganizacionais existente entre as empresas, representando a Socialização; as ferramentas de disseminação do conhecimento, representando a Externalização; as formas de transmissão de conhecimentos, representando a Combinação; e sobre um contexto de busca e armazenamento do conhecimento, representando a Internalização. 8 Como explicitado na metodologia as respostas foram lançadas nos softwares UCINET® e SPSS®, para a representação da estrutura da rede e análise estatística, respectivamente. As questões abertas foram avaliadas por meio da análise de conteúdo. 5.1 As relações interorganizacionais das empresas juniores federadas - Socialização. Nesta categoria serão traçadas as características relacionadas às ligações que ocorrem entre as empresas juniores federadas. O mapa apresentado abaixo elucida a primeira questão demonstrando a estrutura relacional das EJs federadas no mês de junho. Como pode-se perceber ocorre uma grande articulação entre as empresas, porém em pouquíssimas vezes este contato é realizado entre as mesmas EJs, o que ilustra a capacidade que as empresas juniores tem em adquirir as informações de uma empresa e repassá-las para outras o que representa a flexibilidade de contato entre elas. Percebe-se uma maior atuação da EJ4 na rede, o que descreve uma forte ligação de outras EJs com esta empresa, as outras EJs constituem uma ligação bastante diversificada, não sendo verificado uma atuação “única” expressiva. Os números representados nas linhas indicam a freqüência que ocorreu o contato entre as EJs, durante o mês de junho, sendo atribuído uma porcentagem de 100% para 30 dias, as porcentagens são definidas então utilizando esta proporção. Figura 1: Mapa das relações interorganizacionais entre as empresas juniores federadas no mês de junho de 2009. FONTE: Dados da pesquisa. O segundo questionamento foi feito em relação ao porque ocorreu o contato com estas empresas? Esta questão refere-se a uma justificativa sobre a ocorrência do contato da EJ questionada com as outras EJs federadas citadas por elas. Complementa então, as informações da figura1. As alternativas e os resultados obtidos são apresentados na tabela 1. 9 Tabela 1: Causa da ocorrência do contato com. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Localização 4 26,67 Mesmo setor de atuação 1 6,67 Setores de atuação dependentes 1 6,67 Troca de conhecimentos 4 26,67 Trabalho em conjunto em núcleos 1 6,67 Participação em atividades no MEJ 1 6,67 Parcerias 1 6,67 Organizações de eventos 2 13,33 Total 15 100 FONTE: Dados da pesquisa. Com base na tabela 1, percebe-se que há um empate no motivo para ocorrência do contato, uma vez que quatro empresas (26,67%) citaram a questão da localização e também quatro empresas citaram a troca de conhecimentos como justificativa para se relacionarem. É importante ressaltar também que todas as alternativas expostas na questão foram assinaladas, em uma menor escala, por somente uma das empresas (6,67%) respondentes e duas empresas (13,33%) apontaram a organização de eventos como motivo para o contato. O resultado obtido nesta questão comprova que a troca de conhecimentos é um objetivo importante para o relacionamento em rede das empresas. O terceiro questionamento se constitui da seguinte pergunta: As empresas que vocês tiveram contato são receptíveis para a troca de informações? Todas as organizações respondentes (100%) identificaram que as empresas com as quais possuíram contato no mês de junho são receptíveis para a troca de informações. Este resultado era esperado, devido à característica que as EJs possuem de serem abertas a troca de informações e comunicação com outras empresas. A quarta pergunta caracteriza-se por uma questão aberta, sendo assim, será avaliada pela análise das respostas dadas. A questão é: Por que não ocorreu o contato com as outras empresas federadas? Pelas respostas apresentadas percebe-se que ocorre um contato com várias empresas federadas, porém com uma menor intensidade. Foi relatado pelas empresas que nem sempre é preciso entrar em contato com todas, uma vez que por meio das reuniões da FEJEMG, e-mails e fóruns, o contato com algumas EJs já se faz suficiente. O que determina também a procura pelas EJs é o tipo de informação que se busca, e a escolha entre qual empresa júnior procurar se faz de acordo com a especificidade da informação procurada. Outra questão levantada nesta resposta foi em relação à localização, que confirma mais uma vez o que foi citado na tabela 1, em que muitas vezes o contato não ocorre devido à distância e também por serem novas na federação. Interessa-se para este artigo avaliar que quando ocorre o contato entre as empresas esse se da para a troca de conhecimentos e que as EJs estão aptas a trocarem informações no seu ambiente de rede. Para isso deve-se conhecer as ferramentas que são utilizadas para o compartilhamento do conhecimento, assunto este da próxima sessão. 5.2 Ferramentas de disseminação do conhecimento entre as empresas juniores federadas - Externalização. Esta área compreende as questões relacionadas as ferramentas utilizadas pelas EJs que proporcionam a disseminação do conhecimento. A quinta pergunta aborda o principal canal utilizado para comunicação entre as empresas juniores federadas. Como é representado na tabela abaixo. 10 Tabela 2: Principal canal utilizado para a comunicação entre as empresas federadas. (comunicação para a troca de conhecimentos) Alternativas Frequência Porcentagem (%) Encontros presenciais 5 33,33 Telefone 1 6,67 Fórum virtual 3 20,00 E-mails 5 33,33 MSN, Skype, etc 1 6,67 Total 15 100,00 FONTE: Dados da pesquisa. Com base nesta questão percebe-se que os principais canais utilizados para a troca de conhecimentos, são: os encontros presenciais, se igualando aos e-mails ambos com 33,33% das empresas. E um pouco abaixo situa-se o fórum virtual, com 20%. Essas respostas ressaltam a questão da tecnologia atuando como mecanismos de comunicação interorganizacionais. A quinta indagação diz respeito ao mecanismo de comunicação considerado mais eficiente pelas empresas, para estarem realizando a troca de conhecimentos. Tabela 3: Mecanismo de comunicação que se percebe como o mais eficiente para a troca de conhecimentos. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Encontros presenciais 8 53,33 Telefone 1 3,57 Fórum virtual 3 25,00 E-mails 3 28,57 Total 15 100 FONTE: Dados da pesquisa. Em relação ao mecanismo mais eficiente para a troca de conhecimentos tem-se com um percentual significativo (53,33%), sendo oito empresas, os encontros presenciais. A conclusão relevante para este trabalho é que uma vez que os encontros presenciais são caracterizados como a melhor alternativa para a troca de conhecimentos, subentende-se a questão da localização relatada na primeira tabela como sendo motivo para a ocorrência do contato entre as empresas. Para o nosso estudo, relata-se a caracterização da formaçãodas redes para transmissão de conhecimentos, uma vez que no caso das EJs, quanto maior a proximidade geográfica, melhor o contato para o compartilhamento de conhecimento. A sexta pergunta é em relação a existência de algum membro (s) facilitador (es) da comunicação com outras empresas federadas? As respostas apresentadas a esta questão são de extrema importância, uma vez que todas as 15 empresas (100%) afirmaram possuir um membro facilitador da comunicação entre as outras EJs federadas. Isso demonstra o contato constante que estas organizações se preocupam em possuir para melhor realizar as suas atividades. A oitava pergunta se constitui em uma questão aberta, a saber: os membros da sua empresa são incentivados a compartilhar conhecimentos com outras empresas federadas? Como isso ocorre? Além de incentivarem os seus membros para o compartilhamento de conhecimentos este é um dos objetivos das EJs, sendo assim as 15 empresas afirmaram que ocorre esse incentivo. Ele se dá por meio de reuniões presenciais, núcleos formados entre as empresas, algumas possuem também um núcleo interno (núcleo MEJ) responsável por promover e incentivar essa interação, uma ferramenta utilizada também é a realização de benchmarking. 11 Algumas empresas desenvolvem este incentivo desde o programa trainee, no qual ocorrem atividades em conjunto com outras EJs e também faz parte do processo seletivo de algumas empresas a apresentação sobre uma EJ aleatória. Um mecanismo utilizado para promover este incentivo é por meio das reuniões presenciais da FEJEMG, na qual a empresa arca com os custos para que os membros possam comparecer. Elas acreditam também que uma participação ativa no MEJ, colabora para um aumento da rede social e com isso há uma aquisição de novos conhecimentos, sendo algo importante não só para empresa, mas também para um enriquecimento pessoal. A nona pergunta foi: a troca de membros internos dificulta a comunicação externa da sua empresa com outras empresas federadas? Em caso afirmativo, o que é feito para suprir essa dificuldade? Um número de 10 (dez) empresas relataram que a troca de membros dificulta a comunicação, 2 (duas) empresas responderam que dificulta um pouco e somente 3 (três) EJs disseram que não dificulta. Esta dificuldade ocorre em uma maior proporção quando saem da empresa membros que possuem uma ligação significativa com o MEJ. Para suprir essa deficiência as empresas realizam de forma eficiente a gestão do conhecimento, a co-gestão, a implantação de um núcleo específico para se relacionar com o MEJ e também incentivam o contato dos membros com toda a FEJEMG. Em algumas empresas é utilizado a padronização dos e-mails das diretorias, uma vez que estes armazenam antigos contatos, um banco de contatos de todas as EJs para que os membros possam se relacionar e uma empresa elabora ao final de cada gestão um relatório, no qual um dos pontos citados é a comunicação com outras empresas federadas. 5.3 Formas de transmissão de conhecimento - Combinação. Esta categoria aborda as questões relacionadas a como ocorre a transmissão do conhecimento entre as empresas juniores federadas. Quando questionadas sobre o que leva a sua empresa a confiar nas informações transmitidas por outras empresas, como é apresentado na tabela abaixo, percebe-se que a amizade entre as empresas juniores, assim como a qualidade da prestação dos seus serviços, dão credibilidade as empresas neste mercado. Esse resultado comprova que os relacionamentos mais intensos numa rede são fatores primordiais na transferência de conhecimento. Tabela 4: Aspectos para a confiança nas informações transmitidas por outras empresas. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Tempo de atuação no mercado 2 13,33 Amizade 5 33,33 Presta serviço de qualidade 5 33,33 Por ser uma empresa federada 1 6,67 Credibilidade do MEJ 2 13,33 Total 15 100,00 FONTE: Dados da pesquisa. Um fato que vale ser ressaltado é que nenhuma organização disse não confiar nas informações passadas por outras empresas federadas. Tal fato pode ser explicado pela confiabilidade que uma empresa adquire pelo fato de ser federada. A próxima tabela demonstra o grau de conhecimento entre as empresas juniores sobre as especialidades de cada empresa. 12 Tabela 5: Conhecimento sobre as especialidades de todas as empresas federadas. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Sim, de todas 2 13,33 Sim, da grande maioria 5 33,33 Sim, de algumas 5 33,33 Não, mas sei onde posso procurar informações 3 20 Total 15 100 FONTE: Dados da pesquisa. Observa-se que 80% das empresas possuem conhecimento das especialidades das demais, mesmo que não seja de todas. O conhecimento de todas as especialidades das empresas inseridas na rede é importante para a difusão do conhecimento, tendo em vista que poderia ocorrer economia de tempo de aprendizagem se todas as organizações compartilhassem suas experiências. Em uma rede, a complementação dos serviços é primordial para o sucesso da mesma. Quando questionadas sobre o tipo de conhecimento que é compartilhado entre as empresas federadas? As empresas do presente estudo, responderam em unanimidade que o principal tipo é a forma de gestão. A previsibilidade de tal resposta é tamanha, pois com o desenvolvimento do mundo atual, as organizações procuram gerir de maneira eficiente e eficaz todos os processos internos, podendo assim ganhar em competitividade no mercado externo. Três empresas responderam que o principal conhecimento compartilhado são as ferramentas operacionais utilizadas. 5.4 Busca e armazenamento do conhecimento - Internalização. Esta área discorre sobre as questões relacionadas a importância de se manter a interação entre as EJs na busca e armazenamento de conhecimentos. A primeira pergunta relativa a esta área, compreende um fator importante que é sobre a principal fonte de conhecimento externo a empresa, como é demonstrado pela tabela abaixo: Tabela 6: Principal fonte de conhecimento externo a empresa. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Livros 1 6,67 Professores 3 20 Outras EJs 7 46,67 FEJEMG 2 13,33 Brasil Júnior 1 6,67 Universidade e mercado 1 6,67 Total 15 100 FONTE: Dados da pesquisa. Como podemos observar no quadro acima e se fizermos um parecer com outras questões respondidas, percebe-se que a principal forma de obtenção de conhecimento das empresas juniores são os contatos com outras empresas juniores. Esses contatos ocorrem com maior freqüência, como vimos anteriormente, em encontros presencias e por via e-mail. É valido destacar que 20% das empresas disseram que são os professores as maiores fontes de conhecimentos das empresas juniores. Tal fato pode ser explicado pela proximidade dos professores com as empresas, seja pelos projetos de orientação ou na vivencia acadêmica propriamente. Quando questionadas sobre se o conhecimento adquirido com outras empresas é implantado dentro da sua empresa e como isso ocorre. Todas as empresas responderam que implantam internamente o conhecimento adquirido no ambiente exterior. A unanimidade das respostas já era esperada, pois as empresas juniores prezam por qualidade e aprendizado contínuo. Os encontros entre as 13 empresas é um meio facilitador para a difusão do conhecimento, e conseqüentemente a posterior aplicação destes. Ao serem questionados em como o conhecimento é retido dentro da sua empresa, quase 50% das empresas utilizam de relatórios ou documentação de novos conhecimentos na tentativa de perpetuá-los. Esperava-se mais respostas em relação aos treinamentos internos, tendo em vista que algumas empresas juniores possuem diretorias que cuidam da gestão do conhecimento, tendo como atividade repassar as novas informações aos seus membros. Entretanto, a divulgação de relatórios torna-se um método relevante na difusão das informações, pois é capaz de abranger todos os membros de uma organização e não um departamento especificamente.Para se analisar se realmente todo conhecimento adquirido externamente é bem implantado na empresa, as EJs foram questionadas sobre se alguma vez o conhecimento não teve a repercussão esperada. Este fato pode ser analisado pelas duas tabelas abaixo. Tabela 7: O conhecimento adquirido de outra empresa federada não teve a repercussão esperada. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Sim 7 46,67 Não 8 53,33 Total 15 100 FONTE: Dados da pesquisa. Como podemos perceber, a porcentagem de insucesso do conhecimento adquirido em fontes externas é grande, porém em todas as empresas isso ocorre devido a cada ej possuir suas particularidades, sendo essa, talvez, o fato que pode explicar porque mecanismos importantes em determinadas firmas têm rendimentos pífios em outras. Tabela 8: Causa da transferência inadequada de conhecimento. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Ferramenta utilizada não se enquadra na empresa 6 40 Não respondeu 1 6,66 Total 7 46,66 FONTE: Dados da pesquisa. Como explicado na tabela anterior, a análise das particularidades de uma organização é fundamental antes da implementação da ferramenta utilizada em outra. O estudo minucioso desse insucesso poderia prevenir futuras perdas. Quando questionadas sobre a ocorrência de um feedback do conhecimento implantado para a empresa fornecedora ? E como ele é feito? O feedback é comumente realizado, pois é um processo que auxilia as mudanças de comportamento. Pelo feedback as empresas trocam experiências uma com as outras, sendo ele importante para manter um clima organizacional adequado. Na pesquisa em questão, aproximadamente 50% das empresas estudadas disseram que ocorre apenas informalmente um feedback implantado para a empresa fornecedora. E quando este acontece, o mecanismo mais utilizado é o e-mail e os encontros presenciais. Apenas duas organizações responderam que não há nenhum tipo de feedback. Por fim, para melhor compreender a relação existente entre as EJs federadas, as mesmas foram questionadas sobre a existência ou não de uma padronização determinada pela federação a qual são filiadas. Estas respostas são demonstradas na tabela abaixo. 14 Tabela 9: Existência de uma padronização de processos determinada pela FEJEMG. Alternativas Frequência Porcentagem (%) Sim 5 33,33 Não 10 66,67 Total 15 100 FONTE: Dados da pesquisa. A maioria das organizações responderam que não há padronizações determinadas pela FEJEMG. A padronização dos processos em si como, por exemplo, formas de gestão interna, realmente não ocorre. O que podemos verificar são padronizações repassadas pela FEJEMG que visam suprir suas necessidades e cabe as organizações se adaptarem para supri-las, como por exemplo: pagamentos de anuidades, indicação de conselheiros, preenchimento de indicadores de desempenho, entre outras. Na figura 2 é apresentada uma síntese teórica - empírica que elucida o processo de gestão do conhecimento entre as EJs embasado pelas práticas de Nonaka e Takeuchi (2008). Figura 2: O processo de gestão do conhecimento entre as EJs embasado pelas práticas de Nonaka e Takeuchi (2008). FONTE: Elaborado pelos autores. 15 6. Conclusões e sugestões Este artigo objetivou analisar como ocorre a gestão do conhecimento entre as empresas juniores federadas de Minas Gerais, constituindo um ambiente de rede interorganizacional. Para atingir esse objetivo desenvolveu-se uma análise teórica - empírica formulando uma síntese que correlaciona a “espiral de conhecimento” de Nonaka e Takeuchi (2008) às práticas utilizadas pelas EJs para gerirem o conhecimento entre as organizações. Os resultados encontrados confirmaram as expectativas dos autores no que diz respeito às questões em que as empresas se relacionam para adquirirem e disseminarem as informações. Fato este que pode ser percebido pela preocupação que as EJs possuem em serem receptivas a comunicação com outras empresas. O desenvolvimento das relações entre as organizações por meio das redes pode ser considerado como um gerador de ganhos à medida que os conhecimentos criados e disseminados no interior da rede são maiores do que, possivelmente, as organizações isoladas obteriam. Uma das principais características da formação de redes, como visto no referencial e comprovado pela pesquisa com EJs é a transmissão de conhecimento. Sobre os mecanismos mais utilizados para este fim, foram citados os e-mails e os encontros presenciais, sendo este último considerado pelas empresas respondentes o mais eficiente deles. Em correlação pode- se perceber a questão da localização, julgada importante para se haver o contato com as empresas, umas vez que estas, localizadas proximamente proporcionam uma maior chance para a ocorrência dos encontros presenciais. Dentro de uma visão mais interna as empresas, para que se realizem os contatos externos, foi verificado de forma unânime a ocorrência de incentivos das EJs aos seus membros para que estes participem ativamente do MEJ, por meio de reuniões, encontros, eventos e também pelas ferramentas de comunicação. Sendo assim quando algum membro representativo no MEJ deixa a empresa, esta não sofrerá tanta dificuldade em continuar as suas relações externas. A totalidade das empresas relatou também implantar dentro de suas organizações todo o conhecimento adquirido e este é retido por meio de documentos e relatórios responsáveis por armazenar as informações e conseqüentemente perpetuá-las. Devido às respostas percebe-se que todas as empresas realizam a gestão do conhecimento e que algumas possuem um núcleo interno com esta finalidade. Quando o conhecimento adquirido não obtêm a repercussão esperada dentro das empresas, isso se dá na maioria dos casos devido as ferramentas utilizadas por determina organização não se enquadrarem dentro de outra EJ. A credibilidade atribuída às informações transmitidas pelas empresas é dada pela amizade e por oferecerem um serviço de qualidade no mercado. Fato esse que demonstra que mesmo algumas empresas atuando no mesmo segmento de mercado, prevalece uma relação de amizade entre elas. O tema apresentado neste artigo proporciona características para futuros estudos no campo das empresas juniores, uma vez que podem ser utilizadas estas mesmas questões para definir a relação existente entre as federações. Pode ser realizada uma análise de como ocorre a gestão do conhecimento no âmbito interno das empresas. Estudos que avaliem o impacto da transferência do conhecimento na aprendizagem e no desempenho da empresa. Por fim, pode-se concluir que as empresas juniores de fato atuam num formato de redes no qual o foco é a geração, disseminação, armazenagem e utilização do conhecimento compartilhado para a tomada de decisões e aumento de suas capacidades competitivas, uma vez que trabalhando em cooperação conseguem obter maiores ganhos competitivos frente ao mercado. 16 7. Referências bibliográficas AMATO, NETO, J. ; Redes de Cooperação Produtiva e Clusters Regionais. Oportunidades para as pequenas e médias empresas. São Paula, Atlas, 2001. ARCANGELI, F.; BELUSSI, F. 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