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Psicanálise: Teorias e Práticas

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PSICANÁLISE
FREDERICO CELENTANO E PATRICIA VIEIRA DE SOUZA SANTOS
Uma visão sobre as teorias e as práticas psicanalíticas
“Neurose e Psicose” e “A perda da realidade na Neurose e na Psicose”
por fcelentano
“Neurose e Psicose” e “A perda da realidade na Neurose e na Psicose” – Freud, Obras Psicológicas Completas, vol. XIX.
“Cinzenta, meu querido amigo, é toda teoria,
E verde somente a árvore dourada da vida.”
Mefistófeles em Fausto, Parte I Cena 4
Para Freud o Eu é uma instância psíquica que realiza uma intermediação entre o mundo externo e o Isso – ou ID – este sendo o depósito de nossas pulsões (que podem se transformar em uma força que é a libido). O Eu, também faz uma intermediação entre o mundo externo e o Supereu, herdeiro da figura do pai introjetada a partir da resolução do Édipo e que se transforma na consciência moral e crítica do sujeito. Nesse sentido, ressalte-se que o Supereu não seria propriamente o representante da realidade e suas exigências, já que também tem uma parte mergulhada no inconsciente e é orientado pelo material reprimido a partir da castração.
Sendo assim, o Eu está sempre tentando servir a vários senhores – ao Isso e aos seus impulsos, ao Supereu e suas observações críticas e ao mundo externo com todas suas exigências.
Dessa forma, além da melhor compreensão do funcionamento psíquico, a segunda tópica permite lançar um novo olhar sobre fenômenos já conhecidos como a neurose e a psicose.
A neurose, segundo essa teoria, seria o sintoma resultante de um conflito entre o Eu e o Isso, ao passo que a psicose seria o desfecho análogo de um “distúrbio nas relações entre o Eu e o mundo externo”.
As neuroses transferenciais se dão através de um recúo do Eu para aceitar um impulso do Isso ou ajudá-lo a encontrar um escoador ou motor ou, ainda, a recusar o objeto visado pela pulsão. Se há, portanto repressão, o material recalcado criaria uma representação substitutiva – o sintoma. Mas o Eu reconhece o sintoma como um intruso, como um vazamento nas paredes erigidas pelas forças repressoras, um corpo estranho que ameaça a sua unidade. Isso produz o quadro de uma neurose. O Eu segue, para tanto, as ordens do Supereu que está fundado em imperativos da civilização que encontram representação no material reprimido (Freud demonstra que a percepção do mundo exterior está inscrita em traços mnêmicos que são ressignificados ao longo da vida do sujeito. A “realidade” do mundo externo da qual o Supereu se alimenta também está nas lembranças percebidas e signifcadas que são possessão do Eu). É, portanto, o Eu que exerce a repressão, a anti-catexia de resistência em nome do Supereu e da realidade.
Na psicose, o mundo exterior não é percebido ou sua percepção não produz qualquer efeito. O mundo externo governa o Eu através de percepções e lembranças significadas de uma maneira muito particular e subjetiva. Na amência, por exemplo, não são recusadas apenas novas percepções do mundo externo, mas as “percepções” do mundo interno também são criticadas e reconstruidas em função de uma defesa. Esse novo mundo tem direta relação com os impulsos do ISSO acompanhados de uma séria frustração encontrada na realidade. A psicose se parece muito com o sonho normal, porque o pressuposto para o sonhar é o sono que, por sua vez, se caracteriza pelo afastamento da percepção da realidade.
Na psicoses há, segundo Freud, um remendo onde apareceu uma fenda entre o Eu e o mundo externo. Esse remendo se concretiza na remodelação do mundo que é uma tentativa de cura do próprio sujeito.
Mas é preciso lembrar que a frustração ou a não realização (impossibilidade de realização) de um desejo está na origem tanto da psiconeurose quanto da psicose. A frustração é sempre externa, mas no caso da psiconeurose ela está mediada pelo Supereu que assumiu a representação das exigências da realidade. O desfecho do conflito irá caracterizar a etiologia: se o Eu permanece fiel à realidade e tenta silenciar as pulsões recalcadas do Isso , dando origem a uma neurose, ou se o Eu cede à pressão do Isso e é arrancado da realidade, originando uma psicose.
O Supereu traz uma complicação nesse processo porque ele une em si influências do mundo externo, mas também influências do Isso e se constitui num modelo ideal que orienta o esforço do Eu para reconciliar os diversos relacionamentos dependentes, o que passa pela forma de dissolução do Édipo, pelo processo de identificações e de relações objetais que se constitui a partir daí, pela história libidinal do indivíduo, etc.
Freud termina o pequeno texto supondo a existência de um outro tipo de conflito entre o Eu e o Supereu. A melancolia seria um exemplo típico desse grupo, caracterizado como um neurose narcísica. (O Eu não consegue, face à realidade e às pulsões do Isso, realizar novas catexias de objeto e realizar o ideal do Supereu o que leva a um estado melancólico crônico).
Todas essa afecções seriam advindas de um fracasso do Eu em reconciliar as exigências feitas a ele. “Seria desejável saber em que circunstâncias e por que meios o Eu pode ter êxito em emergir de tais conflitos”. Também é interessante notar o quanto o Eu pode se deformar e até mesmo cindir face a essas exigências (cf. A divisão do Eu nos processos de Defesa). Termina o texto com uma questão: na neurose, a repressão cumpre o papel de negar uma pulsão, realizar uma fuga e uma proteção. De maneira análoga, qual seria o mecanismo que levaria o Eu a se desligar do mundo externo? Parece ser também uma retirada de catexia.
No início do artigo A perda da realidade na neurose e na psicose, Freud coloca um problema: na neurose há também um afastamento da realidade, uma fuga da vida real. Freud diz que suas considerações no texto anterior, Psicose e Neurose, concentravam-se na gênese da neurose e da psicose pnse o Eu, no primeiro caso, recusa a pulsão em nome dos imperativos da realidade, ao passo que, no segundo caso, o Eu cede à pressão do Isso e renega a realidade.
A perda da realidade na neurose advém do fracasso da repressão (retorno do recalcado) que afeta exatamente aquele fragmento de realidade cujas exigências resultaram na repressão. Freud nos fornece um exemplo: o caso de uma de suas pacientes que tinha um amor secreto por sue cunhado. No leito de morte de sua irmã, afasta a idéia objetável (ter o caminho livre para ficar com o cunhado) o que acarreta uma conversão histérica mais tarde (retorno do recalcado). No caso de uma psicose, a reação seria negar a morte da irmã e criar uma realidade onde ela ainda exista.
Dessa forma, na neurose há duas etapas: repressão e retorno do recalcado. Na psicose também há duas etapas: afastamento da realidade e tentativa de reparação do dano = restabelecimento das relações do indivíduo com a realidade, através da criação de uma nova realidade que se adeque às exigências da realidade que levaram à ruptura (mas essas exigências não seriam justamente às do Supereu?).
É certo no entanto que ambas as reações servem ao desejo advindo do Isso que não quer se dobrar à realidade. Tanto a neurose quanto a psicose partem de uma rebelião do Eu contra a realidade ou de sua incapacidade a se adaptar a ela.
A neurose não repudia a realidade, ela se dobra à realidade e o retorno do recalcado apenas a ignora; na psicose há fuga da realidade e tentativa de substituí-la.
Na psicose o remodelamento se faz em função de antigas relações com a realidade, presentes nos traços mnêmicos do sujeito. Busca percepções que se coadunem com a nova realidade: delírios, alucinações.
Na neurose há uma ansiedade gerada toda vez que o recalcado faz uma arremetida para frente. As formações substitutivas constituem uma conciliação que não proporciona plena satisfação. Da mesma forma, a realidade alternativa na psicose não proporciona plena satisfação. Ou seja, a tarefa empreendida na segunda etapa é mal-sucedida. Mas enquanto na psicose a primeira etapa é em si patológica, na neurose, a primeira etapa pode não o ser.
É importante notar que a perda de realidade na neurose está ligada à fantasia acompanhada do retorno do recalcadoque se realiza por um processo de regressão a um passado real satisfatório (ainda que deslocado).
Na psicose a fantasia é lugar ou estrutura da qual derivam os materiais para a construção da nova realidade. Essa nova realidade tem, portanto, um significado preciso: é um fragmento diferente daquele contra o qual o Eu tentou se defender. (na neurose o caminho seria interpretar o retorno do recalcado para significá-lo, nomeá-lo, encontrar a causa da repressão. Na psicose as coisas parecem ser bem mais complexas)
É mais preciso considerar que a fantasia exerça na psicose um papel importante de onde derivam os materiais para a remodelação da realidade. No entanto, uma vez que houve o processo de remodelação, a fantasia se perde e o novo mundo construído aparece como real. Na neurose há uma tentativa contínua de encontrar nos objetos da realidade uma adequação à fantasia (principalmente na neurose de transferência, já que na neurose obsessiva há uma formação reativa aos desejos recalcados e na histeria há conversão física ou teatralidade).
Frederico Celentano

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