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RESENHA - PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE Freud inicia o texto apontando uma das características que diferenciam uma neurose de uma psicose. Ele diz que em uma neurose a predominância da influência da realidade é fator decisivo. Numa psicose o mesmo ego, se afasta da realidade por estar a serviço do id. Ou seja, na psicose a perda da realidade estaria necessariamente presente. E na neurose tudo indica que essa perda seria evitada. Para Freud não podemos concordar que toda a neurose de alguma forma vá perturbar a relação do paciente com a realidade. Isso pode transparecer no início de uma neurose se mantermos os olhos voltados nessa situação, quando o ego (a serviço da realidade) se dispõe à repressão de um impulso instintual. O segundo passo para a formação de uma neurose, segundo Freud, seria o afrouxamento da relação com a realidade. Freud observou que a mesma objeção incidentalmente surge em maior grau quando lidando com uma neurose na qual a “cena traumática” é conhecida e onde é possível ver a maneira como a pessoa interessada volta as costas à experiência e a transfere à amnésia. Seria sensato esperarmos que, ao surgir uma psicose, algo análogo ao processo de uma neurose pudesse ocorrer, embora, entre distintas instâncias na mente. Dessa forma poderíamos esperar que, também na psicose, duas etapas pudessem ser discernidas, das quais a primeira arrastaria o ego para longe, dessa vez para longe da realidade, enquanto a segunda tentaria reparar o dano causado e restabelecer as relações do indivíduo com a realidade às expensas do id. Aqui há, igualmente, duas etapas, possuindo a segunda o caráter de reparação. Para Freud, tanto na neurose quanto na psicose, o segundo passo é apoiado pelas mesmas tendências. Ou seja, ambos servem ao desejo de poder do id, que não se deixará ditar pela realidade. Tanto a neurose quanto a psicose são, pois, a expressão de uma rebelião por parte do id contra o mundo externo. Portanto, a diferença inicial se expressará no desfecho final da seguinte maneira: na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ao passo que na psicose, a fuga inicial é sucedida por uma fase ativa de remodelamento; na neurose, a obediência inicial é sucedida por uma tentativa adiada de fuga. Ou ainda, expresso de outro modo: a neurose não repudia a realidade, apenas a ignora; a psicose a repudia e tenta substituí-la. Para Freud, em uma psicose a transformação da realidade é executada sobre os precipitados psíquicos de antigas relações com ela podendo ser nos traços de memória, nas idéias e nos julgamentos anteriormente derivados da realidade e através dos quais a realidade foi representada na mente. Assim, segundo Freud, pode-se construir o processo segundo o modelo de uma neurose com o qual se está familiarizado. Nela pode ser vista que uma reação de ansiedade estabelece sempre que o instinto reprimido faz uma arremetida para a frente e que o desfecho do conflito constitui uma conciliação apenas e não satisfação completa. Freud observou que em ambas, a tarefa empreendida na segunda etapa é mal-sucedida, uma vez que o instinto reprimido é incapaz de conseguir um substituto completo (na neurose) e a representação da realidade não pode ser remodelada em formas satisfatórias. Nos dois casos a ênfase difere. Na psicose, ela incide completamente sobre a primeira etapa, que é patológica em si própria e só pode conduzir à enfermidade. Na neurose, por outro lado, ela recai sobre a segunda etapa, sobre o fracasso da repressão, ao passo que a primeira etapa pode alcançar êxito, e realmente o alcança em inúmeros casos, sem transpor os limites da saúde. Uma neurose geralmente se contenta em evitar o fragmento da realidade em apreço e proteger-se contra entrar em contato com ele. A distinção nítida entre neurose e psicose é enfraquecida pela circunstância de que também na neurose não faltam tentativas de substituir uma realidade desagradável por outra que esteja mais de acordo com os desejos do indivíduo. O que interessa para Freud é que tanto na neurose quanto na psicose, além da questão relativa a uma perda da realidade, outra que se refere a um substituto para a realidade.