Buscar

sexualidade na idade média

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

APONTAMENTOS SOBRE A SEXUALIDADE NA ANTIGUIDADE E NA IDADE MÉDIA
Antiguidade, cultura, ensaio, História da Cultura, Idade Média, sexualidade
“O passado não é descoberto ou encontrado. É criado e representado pelo historiador como um texto que, por sua vez, é consumido pelo leitor. […] Ao explorarmos a maneira como representamos a relação entre nós e o passado, podemos ver-nos não como observadores distantes do passado, mas como participantes na sua criação” (Alan Munslow).
1 SEXUALIDADE TAMBÉM É CULTURA
Na nossa sociedade atual, fala-se e comenta-se muito sobre a sexualidade[1]. Parece-me que há uma demasiada preocupação com o tema do sexo, em múltiplos discursos, manifestados nos mais diferentes ambientes (na escola, no trabalho, nos meios de comunicação, na literatura, nas artes). Numa análise superficial, pode parecer que isso é algo recente, porém, o que vou procurar mostrar neste trabalho é que em maior ou menor grau, em diferentes períodos da história, a sexualidade sempre foi objeto de discursos diversos que buscaram estabelecer certa normatização sobre o sexo e suas práticas, lembrando também que os silêncios e lacunas também fazem parte destes discursos. Por isso, conceituo “sexualidade” a partir da definição de Michel Foucault:
Não se deve concebê-la [a sexualidade] como uma espécie de dado da natureza que o poder tenta pôr em cheque, ou como um domínio obscuro que o saber tentaria, pouco a pouco, desvelar. A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas a grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e poder (FOUCAULT, 1999, p. 100).
Portanto, a sexualidade é um fenômeno social e histórico, é construída através dos próprios discursos que são elaborados sobre ela, dentro de relações definidas de poder[2] e que constituem um corpo de conhecimento aceito por determinada sociedade. Deste modo, a sexualidade não se refere somente ao nosso corpo físico, mas tem a ver também, conforme afirma Jeffrey Weeks (2007), com nossas crenças, comportamentos, relações, identidades, ideologias e imaginações, socialmente construídas e historicamente modeladas, que Michel Foucault (1999), chamou de “o corpo e seus prazeres”.
Neste ensaio, tomando como base algumas referências da literatura que trata da vida amorosa e sexual na Antiguidade e na Idade Média – “penosamente” selecionada, pois a quantidade de referências é muito rica – procurarei estabelecer as relações entre os textos escritos (lembrando que grande parte das obras parte de uma tradição oral) e a sociedade e a cultura do período em que foram produzidos, procurando verificar em que circunstâncias surgiram e apontando as suas mudanças e permanências de acordo com os diferentes fatos históricos e transformações sociais através dos tempos.
2 A SEXUALIDADE NA ANTIGUIDADE ORIENTAL
2.2 As civilizações do Oriente Próximo
Dos povos da Antiguidade Oriental, destaco alguns aspectos da civilização babilônica, a qual parecia cultivar a sexualidade de forma muito intensa. Assim como em todas as culturas antigas conhecidas, na Babilônia eram comuns os cultos a deusas da fertilidade e estes envolviam rituais sexuais. Heródoto (s/d) relatou ser costume para as mulheres daquela sociedade se oferecer nos templos aos estrangeiros, em troca de algumas moedas e de oferendas para as deusas. Porém, estudos mais recentes mostram que não há evidências explícitas de que os cultos mesopotâmicos tenham comportado ritos de caráter sexual, pelo menos de forma oficial e organizada (GONÇALVES, 2003).
Na literatura, o erotismo já está presente na Epopeia de Gilgamesh, um compilado de lendas e poemas, uma mistura de aventura, moralidade e tragédia. Provavelmente o mais antigo texto literário escrito pelo homem, foi redigido em sumério, por volta do começo do segundo milênio antes de Cristo. Gilgamesh, cujo nome significa “o velho que rejuvenesce”, foi rei da Suméria e fundador da cidade de Uruk. De origem divina, era tido como sensato, mas também como despótico, cuja luxúria desmedida o fazia tomar qualquer mulher que lhe agradasse, solteira ou casada. A população, descontente com o seu comportamento, apelou à deusa Aruru para que criasse um homem que o derrotasse em combate. Aruru criou, a partir da lama, Enkidu que, vivendo no meio dos animais, se tornou tão temido que Gilgamesh resolveu enviar-lhe uma cortesã para seduzi-lo. “Ela não teve pudores em tomá-lo em seus braços, ela se despiu e acolheu de bom grado o corpo ávido de Enkidu. Ele se deitou sobre ela murmurando palavras de amor, e ela lhe ensinou as artes da mulher”. Desprovido da sua inocência, Enkidu foi rejeitado pelos animais e convencido pela cortesã a acompanhá-la ao palácio de Gilgamesh. Após um combate em que não houve vitorioso, Gilgamesh recebeu-o com amizade e Enkidu tornou-se seu companheiro inseparável em muitas aventuras e batalhas. Quando os heróis voltaram para Uruk, a deusa Ishtar confessou o seu amor a Gilgamesh, “Vem comigo, Gilgamesh, e sê meu consorte: infunde-me a semente do teu corpo; deixa-me ser tua mulher e serás meu marido”, mas este a rejeitou, provocando a sua ira. E a história continua com muitas peripécias (inclusive com a presença do dilúvio), como uma apropriada obra épica.
No famoso Código de Hammurabi, o mais extenso e conhecido corpo legal do Oriente Antigo, porém não exatamente o mais antigo (BOUZON, 1987), o tema da sexualidade aparece na parte dedicada ao direito de família, onde é possível comprovar que as mulheres (embora com direitos), não tinham os mesmos direitos que os homens, o que não é exclusividade do mundo antigo. Vejamos alguns dos parágrafos:
§129 – Se a esposa de um awílum[3] foi surpreendida dormindo com um outro homem, eles os amarrarão e os lançarão n’água (BOUZON, 1987, p.139);
§ 142 – Se uma mulher tomou aversão ao seu esposo e disse-lhe: “Tu não terás relações comigo”, seu caso será examinado em seu distrito. Se ela se guarda e não tem falta e o seu marido é um saidor e a despreza muito, essa mulher não tem culpa, ela tomará seu dote e irá para a casa de seu pai (BOUZON, 1987, p.148);
§ 143 – Se ela não se guarda, mas é uma saidora, dilapida sua casa e despreza o seu marido, lançarão essa mulher n’água (BOUZON, 1987, p. 148).
§ 153 – Se a esposa de um awílum, por causa de um outro homem, fez matar o seu marido, essa mulher será empalada (BOUZON, 1987, p. 154).
A tradição judaica monoteísta também introduziu nos primeiros livros da Bíblia[4] (o Antigo Testamento), o seu código ético, inclusive sobre os assuntos relativos à sexualidade e a afetividade. Sob múltiplos aspectos – físico, psicológico, social, cultural e legal -, a sexualidade está presente, com maior ou menor relevância, em todas as partes do Antigo Testamento, com uma considerável variedade de abordagens. Conforme Francolino Gonçalves (2003), questões envolvendo a sexualidade são tratadas desde o relato da criação do homem. Abundam no Pentateuco[5] e nos livros históricos textos que mencionam ou relatam práticas sexuais, aprovando umas, reprovando outras. Os escritos sapienciais[6] estão cheios de observações referentes à sexualidade, em particular às relações entre o homem e a mulher, sendo a sua expressão máxima, o Cântico dos Cânticos, atribuído a Salomão; um poema de amor impregnado de erotismo.
Os teus dois seios são como dois filhotes gêmeos de uma gazela pastando entre os lírios (Cânticos, 4, 5);
Como são deliciosas as tuas carícias, minha irmã, minha esposa! Mais deliciosos que o vinho são teus amores, e o odor dos teus perfumes excede o de todos os aromas!
Teus lábios, ó esposa, destilam o mel; há mel e leite sob a tua língua. O perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano. (Cânticos, 4, 10:11);
Como são graciosos os teus pés nas tuas sandálias, filha de príncipe! A curvade teus quadris assemelha-se a um colar, obra de mãos de artista; teu umbigo é uma taça redonda, cheia de vinho perfumado; teu corpo é um monte de trigo cercado de lírios; (Cânticos, 7, 11:12).
Em alguns livros proféticos, a sexualidade é uma metáfora para expressar as relações dos povos rivais com Israel, Judá ou Jerusalém. Vejamos um exemplo:
Todavia ela multiplicou as suas prostituições, lembrando-se dos dias da sua mocidade, em que se prostituíra na terra do Egito. E enamorou-se dos seus amantes, cuja carne é como a de jumentos, e cujo fluxo é como o de cavalos. Assim trouxeste à memória a perversidade da tua mocidade, quando os do Egito apalpavam os teus seios, por causa dos peitos da tua mocidade. (Ezequiel 23, 19:21).
3 A SEXUALIDADE NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
3.1 A Grécia: o “amor grego”
Iniciarei falando sobre os deuses gregos, bastante impudicos no que se refere ao sexo, com a presença de situações de adultério, libertinagem, orgias, ”homossexualidade” e incesto. O grande exemplo é Zeus, que não raro se unia a mortais; teve inúmeras amantes; casou com sua própria irmã Hera e teve também pelo menos um amante do sexo masculino: o jovem Ganímedes.
Em algumas cidades da Grécia Antiga, principalmente na Atenas do século V a.C., eram muito comuns as relações sexuais e afetivas entre dois homens, geralmente entre um homem mais velho (erastes) e um jovem (eromenos). Para os atenienses esta era a forma de amor mais nobre e virtuosa existente e tinha a função de transformar os jovens em futuros cidadãos da polis, lembrando que a sociedade “grega” era predominantemente masculina e que a mulher não tinha espaço na vida pública. É preciso destacar que os termos “homossexual” e “heterossexual” ainda não existiam, eles foram criados apenas no século XIX[7]. Conforme Kenneth Dover (1994, p. 13): “a cultura grega diferia da nossa em sua aceitação da alternância de preferências homossexuais e heterossexuais num mesmo indivíduo”, ou seja, para os gregos existiam apenas preferências diferentes, que podiam se alternar ou modificar durante a vida do indivíduo, porém não possuíam ou reconheciam uma identidade homossexual, heterossexual ou bissexual. Pode-se dizer que os gregos sentiam-se atraídos pela beleza, independente do sexo[8]. Algumas referências, embora não explícitas, deste “amor grego” estão presentes em passagens dos poemas épicos de Homero, Ilíada e Odisséia, como a estreita relação entre Aquiles e Pátroclo, destacando-se, por exemplo, a forma como é descrito o exagero das emoções de Aquiles quando Pátroclo é morto e a promessa feita por Aquiles de vingar o companheiro; e também a passagem que trata do rapto de Ganímedes por Zeus “para servir de copeiro no Olimpo”.
Também na Odisséia, são um pouco mais explícitas as aventuras amorosas e sexuais do herói Ulisses, sempre envolvido com mulheres, desde a ninfa Calipso (de quem ficou prisioneiro), até a feiticeira Circe, passando pelas sereias.
3.2 A Roma Pagã
Os romanos[9], teoricamente, pareciam ser mais liberais, embora também sejam considerados sádicos e cruéis. Uma das explicações possíveis talvez seja a facilidade que os romanos tinham de absorver e adaptar elementos de outras culturas, a partir de suas conquistas.
Registros da vida cotidiana e da sexualidade na Roma Antiga são encontrados no poema A Arte de Amar de Ovídio, um conquistador que confessou ter amado muitas mulheres. A Arte de Amar, escrita no século I a. C. (época da paz romana), é uma espécie de “manual didático” dividido em três livros, sendo os dois primeiros dirigidos aos homens e o terceiro às mulheres. O primeiro visa, genericamente, ensinar o homem a seduzir a mulher; o segundo, a conservar o amor, depois de concluído, com êxito, o processo de sedução; o terceiro engloba o mesmo conjunto de ensinamentos, mas, desta feita, dirigidos à mulher. Diz o autor no preâmbulo: “Se houver algum homem comum a quem a arte do amor seja desconhecida, que ele leia este poema e que, conhecendo-a através de sua leitura, ame” (OVÍDIO, 2010, p. 17). De fato, o poeta ensina desde o modo como o apaixonado deve cuidar da aparência até os jogos que ele deve empreender para deixar a amante à sua inteira disposição. Apesar da ressalva feita pelo autor no inicio do seu texto: “O que cantaremos é o amor que não infringe a lei, são as ligações permitidas; meu poema não mostrará nada de repreensível” (OVÍDIO, 2010, p. 18), a publicação da Arte de Amar na época pode ter sido, ao menos em parte, responsável por Ovídio ter sido banido de Roma pelo imperador Augusto, devido à sua celebração do amor extraconjugal num regime que apesar de ser tolerante com algumas situações, promovia os valores da família. Vejamos alguns dos conselhos do poeta aos homens, no tópico que trata da elegância masculina:
Mas não vá frisar seus cabelos a ferro, nem gastar suas pernas esfregando pedra-pomes. Deixe esses cuidados àqueles que,com gritos à moda frigia, celebram a deusa do monte Cibele. (…) É pela simples elegância que os homens devem agradar: que sua pele seja bronzeada pelos exercícios no Campo de Marte; que sua toga caia bem e não tenha manchas. (…) que suas unhas estejam bem cortadas e limpas, que nenhum pêlo saia de suas narinas; que um hálito desagradável não saia de uma boca malcheirosa, e que o odor do macho, pai do rebanho, não fira as narinas (OVÍDIO, 2010, p. 37).
Espécie de ratificação dos postulados prévios, os conselhos finais dados às mulheres, concentram-se nas formas e modalidades do sexo:
Que cada mulher se conheça bem; de acordo com seu físico, escolha esta ou aquela posição; a mesma postura não serve para todas. A mulher particularmente bonita deitará sobre as costas. É de bruços que deverão se mostrar aquelas que estão satisfeitas com as suas costas. (…) A mulher pequena ficará na posição do cavaleiro; como era muito alta, jamais a tebana, esposa de Heitor, montou sobre seu marido como um cavalo. Ficará de joelhos sobre o leito, a cabeça um pouco curvada para trás, a mulher que deve ser admirada em todo o contorno lateral. Se suas coxas têm o encanto da juventude e seu peito também não tem imperfeição, o homem ficará em pé, e você estendida sobre o leito perpendicularmente. (…) Que a mulher sinta o prazer de Vênus se abater até o mais fundo do seu ser, e que o gozo seja igual para seu amante e para ela! (OVÍDIO, 2010, p. 112-113).
Nesta época, fala-se e escreve sobre o sexo, como talvez nunca antes houvesse sido feito. A prova disso são algumas inscrições encontradas em latrinas da cidade Pompéia, algumas escritas por homens, mas também outras escritas por mulheres, provavelmente prostitutas (FEITOSA, 2008):
Floronius Binet ac Miles leg vii hic fuit. Neque mulieres scierunt nisi paucae er sés erunt (CIL, IV, 8767)
[Florônio, fodedor e soldado da sétima legião esteve aqui e as mulheres nem souberam, senão, até seis seriam poucas!]
Hic futui cum sodalibus (CIL, IV, 3935)
[Aqui, com meus colegas, fodi]
Arphocras hic cum Drauca bene futuit denario (CIL. IV, 2193) [Aqui Harphocras transou bem com Drauca por um denário]
Fortunate animula dulcis perfututor Scribt qui nouit (CIL, IV, 4239) [Fortunato, doce coraçãozinho, grande fodedor! Escreve-o quem sabe] [10]
De acordo com Lourdes Feitosa (2008) é possível afirmar que as mulheres romanas tinham uma situação mais privilegiada que as gregas, com uma participação maior no espaço social, tanto as mulheres mais abastadas como as das “classes baixas”, as quais atuavam em atividades diversas, como taberneiras, tecelãs, vendedoras, perfumistas, enfermeiras, açougueiras, entre outras, não esquecendo as prostitutas, muito valorizadas nesta época. Também se encontram referências a participação das mulheres em discussões públicas.
3.3 A Emergência do Cristianismo
Logo após a morte de Cristo, Paulo de Tarso (Saulo), judeu convertido, começa a pregar em grego em suas diversas viagens pelas terras do Império Romano e torna-se o principal responsável pela propagação do cristianismo, cuja ruptura em relação ao paganismo vai ser notada entre os séculos IIe III d. C. A Paulo são atribuídos vários livros do Novo Testamento, suas “epístolas”, com sérias críticas a comportamentos considerados indignos de cristãos, como na Carta aos Romanos, onde o alvo são as relações sexuais “que vão contra a natureza”:
Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario (Romanos, 1, 26:27).
Apesar da perseguição aos cristãos no seu início, o cristianismo cresce até se tornar religião a partir do Édito de Milão em 313, emitido pelo Imperador Constantino, um ano após ter se convertido cristão.
Em 354, nasce Santo Agostinho, uma das figuras mais importantes do cristianismo. Em seus primeiros anos, Agostinho foi fortemente influenciado pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo de Plotino, mas depois de sua conversão e batismo (em 387), desenvolveu a sua própria abordagem sobre filosofia e teologia. Ele aprofundou o conceito de pecado original e estabeleceu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus, distinta da cidade material do homem. Seu pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval.
Agostinho narra em detalhes sua jornada espiritual em sua famosa obra Confissões, que se tornou um clássico tanto da teologia cristã quanto da literatura mundial, até hoje inspirando escritores. Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa contando em detalhes e de uma maneira bastante pessoal como era sua vida de libertino e “pecador”, cheia de tentações, até sua conversão ao amor absoluto de Deus, a partir de uma crise pessoal. Vejamos um pequeno trecho de Confissões:
Era para mim mais doce amar e ser amado, se podia gozar do corpo da pessoa amada. Deste modo, manchava com torpe concupiscência aquela fonte de amizade. Embaciava a sua pureza com o fumo infernal da luxúria. Não obstante ser feio e impuro, desejava, na minha excessiva vaidade, mostrar-me afável e delicado.
Richard Tarnas (2003), tomando como base principalmente os escritos de Paulo e Agostinho, procura explicar o sistema de crenças do cristianismo, destacando a sua importância para a cultura ocidental, que influenciou não só sua evolução espiritual, mas também filosófica e científica. Para Tarnas, a nascente teologia cristã estaria embasada não somente no judaísmo, mas também no helenismo grego, possuindo uma “estrutura metafísica platônica”. Ele destaca que os primeiros teólogos cristãos (como Agostinho) procuraram sintetizar a doutrina filosófica grega da racionalidade divina com a doutrina da Palavra do Deus criador único e supremo (a essência da cristandade, que vinha do monoteísmo judaico). Essa universalidade da religião cristã e a crença em único Deus supremo foram impostas aos antigos povos pagãos e isso modificaria não apenas o destino individual dos homens, mas o próprio destino da humanidade.
4 A IDADE MÉDIA
4.1 A Igreja e a Moral Sexual Cristã
A partir do século IX, ocorre o que é chamado historicamente de “renascimento carolíngio”, com varias manifestações e inovações em diversas áreas: arquitetura, artes, música, literatura e educação[11]. Surgem os trovadores (vinculados à aristocracia) e os menestréis (populares itinerantes) e junto com eles as canções de gesta.
Embora não seja possível afirmar que houve na Idade Média, uma atitude única em relação à sexualidade, os séculos XII e XIII foram marcados pela moral sexual do mundo cristão medieval, que entendia o amor como um sentimento que cumpria a função de aproximar o homem a Deus. O amor “carnal” tinha a função apenas de procriação, sendo considerado pecado qualquer outro tipo de relação, e o matrimônio surge como uma concessão, um remédio para tratar o ardor do desejo sexual.
Neste período surgem os manuscritos das cartas trocadas entre Pedro Abelardo (religioso e filósofo francês) e a jovem Heloísa, de quem foi professor e pela qual se apaixona. Esse amor começou a esbarrar nos conceitos da época, quando os intelectuais (como Heloísa e Abelardo), racionalizavam o amor, acreditando que os impulsos sensuais deveriam ser reprimidos pelo intelecto. Não havia lugar para o desejo, que era um componente muito forte no relacionamento dos dois, originando intensos conflitos para ambos. Da história de amor entre os dois amantes, nasce Astrolábio. Algumas fontes dizem que embora Abelardo tenha desejado se casar, Heloisa recusou esse matrimônio reparador, outras afirmam que eles se casaram em segredo. O fato é que o desfecho trágico do romance é a castração de Abelardo encomendada pelo tio de Heloísa. Esta ingressa em um convento e Abelardo torna-se monge (ZUMTHOR, 2002).
Desta história, singular para a época, Ana Paula Schlesener (2003), traz algumas considerações importantes ao analisar como uma mulher no contexto da cultura medieval consegue ter acesso a um saber e a uma prática reservada apenas aos homens, lembrando que os amantes se apaixonaram não só pela sua beleza, mas também pela sua intelectualidade, como demonstram suas cartas. A autora analisa também, através das cartas trocadas entre os amantes, como a imagem de mulher construída por Abelardo (expressão do pensamento da época) ia contra a verdadeira personalidade de Heloísa, uma figura original e que se assemelha em muitos aspectos ao que consideramos hoje como uma mulher moderna.
4.2 O Período Final da Idade Média
4.2.1 Boccacio e O Decamerão
Giovanni Boccaccio nasceu em Florença em 1313. A sua obra prima, Decamerão começou a ser escrita em 1349. Este livro marca o período de transição vivido na Europa no final da Idade Média, após o advento da peste negra.
Na narrativa, sete moças fogem da cidade Florença, tomada pela peste, procurando se afastar dos perigos da epidemia e se encontram com três rapazes “por acaso” na Igreja de Santa Maria Novella, e decidem seguir, em busca do ar livre, para uma propriedade agrícola perto da cidade. Ali, durante dez dias, contam histórias de amor, num conjunto total de cem relatos com grande carga de erotismo e comicidade. O Decamerão, rompendo com a mítica literatura medieval, é considerado o primeiro livro realista da literatura, onde os valores terrenos são valorizados. Porém, as circunstâncias descritas em Decamerão conservam ainda o senso medieval de numerologia e significados místicos.
No prólogo, o autor explica que inventou as histórias para servir de consolo e distração às pessoas infelizes no amor, sobretudo às mulheres, que por imposição social, reprimiam os sentimentos amorosos, ao contrário do que ocorria com os homens. “A Sorte mostrou-se menos propícia, como vemos, para as frágeis mulheres, e mais avara lhes foi de amparo. Em socorro e refúgio das que amam, é que escrevo (pois, para as demais, são suficientes a agulha, o fuso e a roca)” (BOCCACCIO, 2003, p. 8).
Difícil escolher trechos desta obra prima da literatura. Vejamos um exemplo, que permite, entre outras coisas, entrar em contato com seu elegante estilo de escrita:
Sentindo muito calor, fosse por causa do tempo, fosse pelo jogo amoroso, ambos adormeceram nus, sem lençol nem coberta sobre o corpo. Catarina dormiu com o braço direito por baixo do pescoço de Ricardo, e mão esquerda agarrada àquilo que as mulheres, quando estão entre os homens, não chamam pelo seu nome real (BOCCACCIO, 20003, p. 235).
Em várias passagens, em diferentes histórias, aparece de maneira clara e aberta as críticas ao poder da Igreja, manifestado pelos padres e monges:
Ali o padre, dando-lhe as mais doces beijocas do mundo e tornando-a parenta de Deus Nosso Senhor, com ela se divertiu e satisfez-se por bastante tempo(BOCCACCIO, 2003, p. 329).
Assim refletido, e tendo modificado inteiramente o propósito pelo qual fora até ali, acercou-se mais da moça. Com voz melíflua, pôs-se a confortá-la e a pedir, com instância, que não chorasse. Palavra puxa palavra, até que ele chegou ao ponto de poder evidenciara moça o seu desejo. A jovem, que não era construída de ferro nem de diamante, atendeu, muito cômoda e amavelmente, aos prazeres do abade. O padre abraçou-a; beijou-a muitas vezes, seguidamente; atirou-se com ela na cama do monte. Seja por enorme consideração, ou ao venerável peso de sua própria dignidade, ou pela idade tenra da jovem – seja, então, por recear causar-lhe mal, pelo seu excessivo peso -, o abade não se pôs sobre o peito da moça, antes colocou-a sobre o seu próprio peito. E, durante muito tempo, entreteve-se com ela (BOCCACCIO, 2003, p. 35).
4.2.2 Geoffrey Chaucer e Os Contos da Cantuária
Os Contos da Cantuária são uma coleção de histórias, que se acredita terem sido escritas a partir de 1387 por Geoffrey Chaucer, considerado um dos consolidadores da língua inglesa. Nesta obra, cada conto é narrado por um peregrino de um grupo que se prepara para realizar uma viagem à Catedral da Cantuária para visitar o túmulo de São Thomas Becket, estando entre os viajantes, o próprio autor. A estrutura geral é muito semelhante ao Decamerão, de Boccaccio, embora segundo Paulo Vizioli (1991), o autor não tenha tomado conhecimento da obra de Boccaccio.
No Prólogo, o autor descreve em primeira pessoa os peregrinos. As descrições são muito detalhadas, incluindo a aparência física, defeitos e virtudes de personalidade e dados da biografia. A variedade de personagens dos Contos da Cantuária é muito rica, com representantes das mais variadas posições sociais e ofícios. Quase toda a sociedade medieval está retratada entre os peregrinos. Os temas também são os mais diversos. Os contos estão recheados de acontecimentos curiosos, passagens pitorescas, citações clássicas, ensinamentos morais, relacionados à vida e aos costumes do século XIV na Inglaterra, com imagens de pessoas reais, numa visão de mundo que pode ser chamada de “moderna” (MEDEIROS, 2007).
A mulher de Bath, viúva por cinco vezes, e querendo arrumar outro marido, conta para os demais peregrinos, no prólogo de sua história (O Conto da Mulher de Bath), suas peripécias amorosas e sexuais. Numa passagem onde a personagem questiona por que não poderia se casar mais uma vez, diz que não tem nada contra a virgindade, porém isso não seria coisa para ela.
Por isso, no meu casamento sempre hei de usar o meu aparelhinho com a mesma generosidade com que ele me foi dado pelo Criador. Que Deus me castigue, se um dia eu me tornar difícil: ele estará noite e dia à disposição de meu marido, sempre que sentir vontade de vir pagar seu débito.
Em outro momento a mulher se refere ao prazer que também sente com os homens:
A mulher prudente, quando precisa do marido, deve fazer de tudo para cativá-lo; mas eu, que tinha a todos na palma da mão e já era dona das suas propriedades, por que razão iria satisfazê-los, se não fosse também por minha conveniência e meu prazer? É esse o motivo, palavra, porque os punha a trabalhar à noite e os fazia gemer “Ai, ai de mim!”
Ao se referir ao seu quarto marido, “um farrista… ou seja, tinha uma amante”, confessa que após beber, ficava indefesa: “E, depois do vinho, o que mais me agrada é Vênus, pois, assim como o frio traz o granizo, uma boca sequiosa traz um rabo quente”.
Também assume que gostava de ser maltratada pelo seu quinto esposo e que isso dava um “tempero” especial na relação:
E agora quero contar-lhes a respeito do meu quinto marido… não permita Deus que sua alma se dane, apesar de ter sido o mais duro de todos. Acho que até o dia de minha morte vou sentir as pancadas que me deu em cada uma das costelas. Mas era tão animado e fogoso na cama, e sabia ser tão atraente quando desejava a minha belle chose, que, ainda que tivesse acabado de quebrar-me os ossos um a um, imediatamente reconquistava o meu amor. Acho que eu gostava mais dele porque era o que me tratava com maior desdém.
O Conto da Mulher de Bath, é considerado um exemplum profano, poderia ser lido hoje quase um “manifesto feminista”, dada a sua forma de se referir às mulheres. Infelizmente, não podendo me alongar mais, transcrevo apenas o último parágrafo da história contada pela mulher de Bath
Que Jesus Cristo mande a nós também maridos dóceis, jovens e fogosos na cama… e a graça de podermos sobreviver a eles! E, por outro lado, encurte a vida dos homens que não se deixam dominar por suas mulheres, e que são velhos, ranzinzas e avarentos… Para esses pestes Deus envie a Peste!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há espaço para muitas “considerações”, porém o que é posso dizer é que a feitura deste trabalho mais uma vez reafirmou é que ao estudarmos determinada época histórica, cultura ou sociedade, devemos prestar atenção a todos os seus aspectos, ao seu modo de vida, às suas representações artísticas, às suas obras literárias, e também à sexualidade, que sendo um “dispositivo histórico” é uma excelente categoria de análise. Utilizei aqui, basicamente textos literários, mas outros estudos poderiam ser feitos a partir de outras fontes, como obras e objetos artísticos do campo das artes visuais, por exemplo.
Percebemos neste breve ensaio, como os discursos (e os silêncios) sobre a sexualidade vão se modificando, se adaptando, se rearranjando dentro dos variados e diferentes contextos, permeados por relações complexas de poder e também de resistência.
Parece ser interessante fazer comparações destes comportamentos que às vezes podem nos parecer tão distantes, com a nossa realidade atual, evidentemente com o cuidado de não “projetarmos” nossa vivência atual sobre o passado. Penso que estes estudos sobre as manifestações da sexualidade e questões de gênero em outras épocas históricas, podem talvez nos fazer entender um pouco melhor como chegamos ao que somos hoje ou questionar certos discursos que ainda hoje predominam em alguns setores de nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
ANÔNIMO. A Epopéia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Frontes, 1992.
BÍBLIA ONLINE. Bíblia (Versão Católica). Disponível em: http://www.bibliaonline.com.br/. Acesso em 19/06/2010.
BOCCACCIO. Decamerão. São Paulo: Nova Cultural, 2003.
BOUZON, Emanuel. O Código de Hammurabi. Petrópolis: Vozes, 1987.
CHAUCER, Geoffrey. Os Contos da Cantuária. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991.
CIL – CORPUS INSCRIPTIONUM LATINARIUM. Berlin-Brandenburg Academy of Sciences and Humanities. Disponível em: http://cil.bbaw.de/cil_en/dateien/datenbank_eng.php. Acesso em 19/06/2010.
DOVER, Kenneth. A Homossexualidade na Grécia Antiga. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
FEITOSA, Lourdes C. Gênero e Sexualidade no Mundo Romano: A Antiguidade em nossos dias. História: Questões & Debates. Curitiba, n. 48/49, p. 119-135, 2008. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/article/viewFile/15297/10288. Acesso em 19/06/2010.
______. Amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia. São Paulo: Fapesp/Annablume, 2005.
FOUCAULT, Michel. A História da Sexualidade I: a vontade de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
______. A História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
GONÇALVES, Francolino J. O Antigo Testamento e a Sexualidade (I-IV). Disponível em: http://www.triplov.com/ista/fatima_2003/francolino/. Acessado em 19/06/2010.
HERÓDOTO. História. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
HOMERO. Ilíada. 6. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.
______. Odisséia. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
MEDEIROS, Márcia M. de. Das Contribuições de Geoffrey Chaucer para a Literatura e a História. Revista de História e Estudos Culturais. Vol. 4, n. 2, abril./maio./junho. 2007. Disponível em: http://www.revistafenix.pro.br/PDF11/Dossie.artigo.3_Marcia.Maria.de.Medeiros.pdf . Acesso em 19/06/2010.
MUNSLOW, Alun. Deconstruting History. Londres/Nova Iorque: Routledge, 1997.
OVÍDIO. A Arte de Amar. Porto Alegre: L&PM, 2001.
SANDARS, N. K. Introdução. A Epopéia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
SCHLESENER, Ana Paula. Abelardo e Heloísa: considerações sobre a situação da mulher na Idade Média. Analecta.Guarapuava, Vol. 4, n. 1, p. 67-76, jan./jun. 2003. Disponível em: http://www.unicentro.br/editora/revistas/analecta/v4n1/artigo%206%20abelardo%20e%20heloisa.pdf. Acesso em 19/06/2010.
TARNAS, Richard. A Epopéia do Pensamento Ocidental: para compreender as ideias que moldaram nossa visão de mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
TROMPF, G. W. The Concept of the Carolingian Renaissance. Journal of the History of Ideas. Vol. 34, n. 1, p. 3-26, jan./mar. 1973. Disponível em: http://www.jstor.org/pss/2708941. Acesso em 19/06/2010.
VIZIOLI, Paulo. Apresentação. In: CHAUCER, Geoffrey. Os Contos da Cantuária. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991.
WEEKS, Jeffrey. O Corpo e a Sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p. 35-82.
ZUMTHOR, Paul. Correspondência de Abelardo e Heloísa. São Paulo: Marins Fontes, 2002.
——————————————————————————–
[1] De acordo com Michel Foucault (1998), o termo “sexualidade” surgiu tardiamente, no início do século XIX, porém não marca exatamente o início brusco daquilo a que se refere; o uso da palavra foi estabelecido em relação a outros fenômenos sociais, aos novos conhecimentos científicos e às instituições nascentes.
[2] O termo “poder” é utilizado aqui de acordo com a definição de Michel Foucault (1999), como algo descentralizado, onipresente, horizontal, heterogêneo e difuso: “o poder não é uma instituição ou uma estrutura, não é uma certa potência que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma situação estratégica complexa numa sociedade determinada” (FOUCAULT, 1999, p. 89). O poder não é, portanto, um objeto natural, uma coisa; é uma prática social constituída historicamente; é encontrado em qualquer parte, em todas as relações. Esse poder é o responsável, segundo o autor, pela produção do saber.
[3] O awílum era um dos três grupos sociais da população babilônica apresentada no Código de Hammurabi. Era o homem livre, com todos os direitos de cidadão. Era a camada mais ampla da sociedade, formada por funcionários, escribas, sacerdotes, comerciantes, profissionais liberais, trabalhadores rurais e parte dos militares, com grandes diferenças sociais entre si (BOUZON, 1987).
[4] Neste trabalho, estou utilizando a Versão Católica da Bíblia, disponível “on-line” na internet, no endereço: http://www.bibliaonline.com.br/
[5] Pentateuco é o nome dado ao conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
[6] Os livros sapienciais são aqueles em que o tema é a sabedoria. São eles: Provérbios, Jó, Eclesiastes, Eclesiástico e Sabedoria, Salmos e Cântico dos Cânticos (estes dois últimos também considerados líricos ou poéticos).
[7] Sobre este assunto, ver Jeffrey Weeks (2007), onde ele estuda as identidades sexuais, a institucionalização da heterossexualidade e a invenção da homossexualidade. Segundo este autor, a definição de heterossexualidade como sendo a norma foi forçada por diferentes discursos (principalmente médicos e higienistas) na tentativa de definir a homossexualidade como a forma “anormal” da sexualidade.
[8] Para quem quiser aprofundar este assunto, aconselho a leitura da obra de Kenneth Dover, A Homossexualidade na Grécia Antiga. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
[9] Ao falar em romanos, devo esclarecer que se trata de um emaranhado de povos de culturas diferentes, com grandes diversidades sociais, culturais, jurídicas e econômicas.
[10] A sigla CIL significa Corpus Inscriptionum Latinarum e o arquivo com a visualização onde estas e outras inscrições latinas clássicas podem ser acessadas na internet, no sitio do Berlin-Brandenburg Academy of Sciences and Humanities: http://cil.bbaw.de/cil_en/dateien/datenbank_eng.php.
Para maiores informações ver FEITOSA, L.C. Amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia. São Paulo: Fapesp/Annablume, 2005.
[11] Conforme G. W. Trompf (1973), entre a queda de Roma e a ascensão de Carlos Magno (século IX), noventa e quatro por cento da literatura latina foi perdida, o que restou foi salvo pelos monges carolíngios.
 Você é filho do universo ( mensagem anônima 1650)
Você é filho do universo
Nada menos que as árvores e as estrelas

Outros materiais