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Juliano Belintani - A Bruxa (TCC) - 05 11 2019

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JULIANO BELINTANI
“A BRUXA”
A DEMONIZAÇÃO DO FEMININO NO CONTEXTO RELIGIOSO DA IDADE MEDIA EXPLORADO NA OBRA CINEMATOGRÁFICA 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS
JABOTICABAL
2019
JULIANO BELINTANI
“A BRUXA”
A DEMONIZAÇÃO DO FEMININO NO CONTEXTO RELIGIOSO DA IDADE MEDIA EXPLORADO NA OBRA CINEMATOGRÁFICA 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação São Luís, como exigência parcial para a conclusão do curso de Licenciatura em História.
Orientador: Milton Carneiro Junior
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS
JABOTICABAL
2019
 Dedico
À minha família, e a todos que estiveram comigo nessa impermanência de vitorias e derrotas chamada de vida
AGRADECIMENTOS
Tenho gratidão com todos que passaram em minha vida até eu chegar aqui, por mais singela que tenha sido sua participação: meus amigos, meus familiares, e até meus animais de estimação. Agradeço a quem me fez chorar, sofrer, e a quem me fez sorrir e sentir alegria. Agradeço àqueles que já se foram para uma outra vida espiritual e estiveram em minha formação. Com todos, aprendi algo.
Essa formação não é apenas no curso de História mas também na vida –formação como uma pessoa de caráter, digna, sem preconceitos, de coração aberto para ajudar a qualquer um, sem pedir algo em troca.
Obrigado aos meus professores de ensino fundamental e médio, que me guiaram a continuar os estudos; aos meus professores da faculdade, que me acrescentaram muita sabedoria, e me deram outra visão sobre o mundo; aos meus professores sem formação, que a vida colocou em meu caminho; e a todos que me repreenderam, e me ensinaram – não posso citar nomes, pois sempre acabaria sendo injusto com alguém. Mas obrigado.
Minha família é meu grande exemplo e alicerce. Devo tudo que tenho a eles, e sei que essa dívida jamais será paga, mas faço o possível para mantê-los orgulhosos de mim, da mesma forma que eu tenho muito orgulho de fazer parte deles. Sempre estiveram comigo para tudo, da alegria à dor, e espero estar com eles eternamente, com muito amor e gratidão eu digo obrigado: Mãe Cleide, Pai Jaime, meus Irmãos, Tiago e Neto, minhas irmãs, Camila e Carol, meus sobrinhos, Ana, Bia, Gu, e também a um presente que a vida me deu de última hora, minha companheira Bruna. Espero em nome de todos continuar galgando os degraus em minha vida, e sempre aperfeiçoando essa armadura de pessoas e conhecimentos, que passaram, e vão passar, em minha vida mundana e além.
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Todo caminho é o caminho certo. Tudo poderia ter sido qualquer outra coisa e teria sido igualmente importante. (Mr. Nobody, 2009)
RESUMO
Este estudo procura analisar a relação do filme “A Bruxa” com a mulher no contexto histórico medieval. A edificação mental pejorativa contra a imagem feminina é arcaica, porém na Idade Média ela ganhou aspectos específicos: a dificuldade da vida social foi somada aos artifícios doutrinadores de ideias da Igreja Cristã, criando a imagem da mulher como suspeita e ligada ao diabo, como fonte do mal (GEVEHR e SOUZA, 2014). A obra de Eggers de maneira ampla é abastada de simbologia. A família alheia à sociedade, e assombrada pelos fundamentos do fanatismo religioso (BRUNS, ZERBINATI, 2016), no momento em que não existe esperança e livramento de seus estímulos, é o momento em que a bruxa prevalece como culpada pelos desejos e culpa da sociedade (CARDINI, 1996).
Palavras-chaves: Bruxa; Mulher, Culpa.
 
. 
.
ABSTRACT
This study seeks to analyze the relationship between the movie "The Witch" and the woman in the medieval historical context. The pejorative mental edifice against the female image is archaic, but in the middle ages, it gained specifics: to the troubles of social life were added the doctrinaire devices of ideas of the Christian Church, creating the image of the woman as suspicious and linked to the devil, as a source of evil (GEVEHR and SOUZA, 2014) . The work of Eggers is broad and rich in symbology. The family unity, alien to society and haunted by the foundations of religious fanaticism (BRUNS, ZERBINATI, 2016), at a time when there is no hope of release from its influence, is the moment in which the witch is burned in effigy of the desires and the guilt of society (CARDINI, 1996).
KEYWORD: Witch; Woman; Blame.
 
	
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	9
1. DESIGUALDADE HISTÓRICA DO FEMININO E MASCULINO	11
1.1. A mulher na Idade Média	12
1.2. As percepções da Igreja diante do corpo e luxúria da mulher	14
1.3. As manifestações sobre a mulher na sociedade medieval	18
2. A OBRA “A BRUXA” E SUA NARRATIVA CINEMATOGRÁFICA	26
2.1. Resenha: analisando o enredo da obra de Robert Eggers.	28
3. O ARQUÉTIPO DA BRUXA NA IDADE MODERNA	37
3.1. Os Modelos do Feminino: Thomasin, Katherine e a Bruxa	41
CONSIDERAÇÕES FINAIS	49
REFERÊNCIAS	50
INTRODUÇÃO
A começar de sua criação no século XIX, a cinematografia está em um progresso de desenvolvimento e transformação. Originada como artifício de entretenimento e comércio, o cinema progrediu até ser considerado uma arte. O cinema pode se dividir em obras fantasiosas ou documentais históricas (VEBER, 2019). Essa análise histórica e metodológica do filme não possui o propósito de aferir a autenticidade das fontes e referências usadas, mas sim raciocinar sobre a criação da obra em um nível mais profundo, onde se usa como auxílio a história, e os artifícios documentais que a suportam, de forma a inspirar o telespectador com seu método de criação. Compor um longa-metragem que objetiva uma análise verdadeira da história exige uma relação incessante com a pesquisa documentada, essencialmente uma observação aprofundada, de forma a aproximar o real da linguagem fílmica. A criação de cenários e sons para uma narrativa referente a uma vivência histórica do passado é uma construção interrupta de caraterização e heterogênea produção. Não obstante refletir na obra algo copiado de um livro, mas sim incorporar o filme ao universo da época (FONSECA, 2008).
As caracterizações do filme compõe como automática a conjuntura sociocultural em qual ocorreram – o ambiente, a linguagem e as roupas deixam nítido a época e o cenário em que eles vivem. Essa pesquisa procura examinar a interpretação do que simbolizam com a imagem proferida na manifestação da mulher na obra “A Bruxa”, de 2015, do diretor e roteirista Robert Eggers – a qual justifica o entendimento em consequência do cenário relatado no filme e sua simbologia, mediante a interpretação dos símbolos verbais e não verbais. Estruturalmente, referenciei em um levantamento avaliativo da época determinada e explanada, por meio das imagens e cenários do filme e sua narrativa datada da época, visualizando que existe uma elaboração de significados oral e perspectivo, que possibilita expressar o feminismo por intermédio das personagens Thomasin e Katharine. No contexto a interpretação da bruxa se adequa com a linha de padrão do feminino da Idade Média, e a ordem social em qual vivem (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018).
A crônica narrada no filme é a de uma família que foi excomungada de uma vilarejo cristão que apresentar uma crença religiosa rigorosa, fazendo com que sua doutrina puritana deixasse-os fora da coletividade social. A obra começa com esse contexto de segregação religiosa, e segue a família conforme constroem uma nova casa à beira de uma floresta; a partir desse momento, o cotidiano da família muda. A obra se encontra no gênero do terror, porém as referências históricas são analisadas, construindo uma questão, passada e atual, sobre a sexualidade da mulher. A bruxa é uma figura cultural que faz alusão ao mau, à feiura e à feitiçaria, sendo abastecidas pelo acordo com o diabo. Porém, o filme mostra a dualidade da jovem sedutora e da velha decrépita – que se dava, no medievo, pelo trabalho das mulheres com os seus conhecimentossobre plantas medicinais – as curandeiras –, e a sexualidade amedrontadora do feminino passado no momento (BRUNS, ZERBINATI, 2016).
A exploração da obra foi realizada em três capítulos: o primeiro, procura dissertar a respeito do feminino na Idade Média, as desigualdades enraizadas na sociedade e passadas de geração para geração entre homens e mulheres. Os autores religiosos atuam na edificação do corpo da mulher, por artifícios como Eva, Maria e Maria Madalena, utilizando-as como uma padronização da mulher, relacionando os lados atraente e sexual, que no medievo eram essencialmente dominados pelo lado social e religioso, controlados pela linhagem patriarca (SILVA e MEDEIROS, 2013). Além de analisar a imagem da mulher e sua simbologia para a Igreja nas Idades Média e Moderna, o que concretizou o discurso misógino (GEVEHR e SOUZA, 2014). Em seguida, os segundo e terceiro capítulos explanam a narrativa cinematográfica usando artifício do filme e dos personagens, salientando o alvo central de indagar a narrativa fílmica de terror, mediada na ideia da bruxa, que comunica-se com uma herança antifeminista arcaica, relacionando a mulher ao diabo e ao mal, imortalizando o ponto de vista pejorativo do feminino, estabelecendo ligações de poderes envoltos e retratando o receio, os medos e as mitologias históricas (LAROCCA, 2018).
Essa pesquisa procura relacionar momentos da história sociocultural onde os padrões presentes no mundo contemporâneo foram enraizados, com grande complexidade, além de relacionar a arte do cinema com a complexidade da história. Podendo usufruir do artificio do filme e da sabedoria técnica de pesquisadores para mostrar problemáticas antigas que se fazem atuais, usando o cinema como instrumento de análise histórica.
1. DESIGUALDADE HISTÓRICA DO FEMININO E MASCULINO
A crônica dos homens, a começar pelos seus primórdios, é marcada pela aspereza, dominação e pelo abuso mútuo, que converteram a interação de gênero e sociedade em um instrumento de servidão (SILVA, 2012). O poder é expressado no momento em que manifestamos a relação de gênero. A desigualdade e o domínio patriarcal, do homem sobre a mulher, condicionam a subjugação do feminino. A organização sexual na sociedade é fundamental ao controle político, já que o modelo masculino edificado entrega ao homem a dominação no círculo privado e público (COSTA, 2008).
A injustiça e a crueldade contra a mulher está enraizada na mitologia definida ao decorrer das épocas, ainda assim na narrativa judaico-cristã, que da essência a nossa sociedade (MURARO, 1992), a mulher e sua função de encorajar nos dias difíceis do homem e provida pela sua costela, a mulher já é vinculada a dependência da forma masculina, sem a sabedoria e as próprias ideologias. Mas com a delicadeza e a integridade para ser devota do seu dono (LOPES, 2010).
A influência da exclusão do éden é considerável nas divisões de gênero, a esse respeito:
“A dominação do homem pelo homem e do homem sobre a mulher, que são as duas características essenciais do patriarcado, acrescida da dominação do homem sobre a terra, já estão santificadas. São então santificadas todas as cisões: 1) a cisão dentro do homem entre sexualidade e afeto, conhecimento e emoção. O conhecimento é colocado como causa da transgressão, porque de agora em diante ele vai ser o motor que vai fazer funcionar todo o sistema; 2) a cisão homem/homem – é essencial ao patriarcado a santificação da dominação de uns homens pelos outros, por que com isso se torna “natural” a escravidão (...); 3) cisão homem/mulher, com a consequente cisão público/privado. Esta cisão é essencial também porque a opressão da mulher é o que torna todas as outras possíveis; 4) a cisão homem/natureza, que é a base do cultivo da terra com instrumentos pesados” (MURARO, 1992, p.74).
O mito de Adão e Eva tem um grande impacto na determinação do feminino e masculino em nossos costumes: Adão infringe a Deus ao escolher Eva, e dele foi removido a sensibilidade emocional, sem demostrar afeição, assim o homem deve ser imperante na sociedade, com a família e a mulher. Já Eva afrontou o poder do Senhor, influenciando Adão ao erro, e o resultado de sua ousadia foi sua autonomia restrita na sociedade em geral. Eva exerce a função de boa mãe, dona do lar e cuidadora do homem, além de ser reprodutora. A divisão do público e privado é edificada na história com a ajuda da narrativa judaico-cristã, passando a ser legitimada e ungida. Assim, naturalmente, ela se ratifica, e a desigualdade entre os homens e as mulheres na cultura e na sociedade se estrutura (SILVA, 2012).
As entidades tem o poder de validar a divisão de gênero, em relação a isso: 
“O papel das doutrinas religiosas, educativas e jurídicas, sempre foi o de afirmar o sentido do masculino e do feminino, construído no inferior das relações de poder” (SAFFIOTI, 1992, p.188).
Concebidas histórico culturalmente e não biologicamente, essas transformações criam uma divisão de concepções de experiências e vivências. Esse cenário foi arquitetado, mas para isso é essencial explicar o gênero analiticamente (SILVA, 2012), “gênero é um elemento constitutivo das relações sócias baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos” (SCOTT, 1990), assim explica-se que as relações de poder se sucedem às relações sociais. A autoridade é compreendida como a relação de poderes que estão concentrados na liderança, o abuso do dominante com o dominado, solidificado culturalmente, economicamente, politicamente e sexualmente (SILVA, 2012). 
Esse capítulo buscar expor a mulher no contexto histórico da Idade Média, onde será levantada a origem da visão demonizada do feminino medieval e a relação com a igreja e a sociedade. A finalidade é introduzir o cenário da época através de pesquisadores e fatos históricos para ser relacionado com a obra “A Bruxa” adiante. 
1.1. A mulher na Idade Média 
No cenário da Idade Média sobressai a individualidade construída pelo discurso misógino, a idealização do homem – que foi passada por costumes e hábitos clássicos – foi realçada na etapa medieval. Salientando a figura do feminino discutido no tema, foi um progresso acima de tudo construído com o tempo, em que incorporam fundamentos memorizados no discurso aristotélico (LIEBEL, 2004), entre os demais expostos na idade clássica, que posicionam o masculino e o feminino em posições discrepantes de proeminência e subalternidade, estereotipados – como quente, alto e forte – ao homem e, somando a inferioridade física com a diminuição moral – como os atribuídos frio, baixo, fraco e curvo – à mulher (NOGUEIRA, 1991). 
A metáfora da mulher média é fundada com base na desigualdade entre o feminino e o masculino, as ideias de comportamento nas quais a virilidade, o discernimento e a honra pertencem ao homem, e a infertilidade, falsidade e impureza à mulher. Cotejam à religiosidade, delegada a um caráter superior provocado pela feição da mulher. Ela naturalmente primitiva e dionisíaca, e o homem pensante e apolíneo (LIBEL, 2004, p. 8). 
Cleópatra, “a pior de todas as mulheres”, Jezebel, Helena, Atália, vistas em uma sociedade patriarcal como autoridades femininas que são vinculada ao perigo da mulher ser a soberana, ostentando exemplos de reinos que as mesmas extinguiram. Tal qual Cícero, “o homem torna-se escravo da mulher, que o governa” (KRAMER e SPRENGER, 1991, p. 119).
A humanidade coletiva transmite no corpo das pessoas padrões de assimilação e conduta que agem como uma outra natureza, enraizando opostos biológicos entre os humanos de desigualdade e distinção. Criada em uma junção opressora, legitimada na preservação de uma organização social, a mulher se figura em um ser negativo por ser privada de atributos masculinos. A personalidade de abstenção que condenou a mulher a sustentar as máculas de sua improbidade, alegando os privilégios que o complexo simbólico de dominação classificou como integrantes da sua essência. Convidativa, da qual a sensualidade faz o homem desprezar a salvação do seu espirito (AVELAR, 2015).
O comportamentoda mulher na época medieval era regido determinadamente pela retórica cristã: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, por exemplo, eram fundamentados na compreensão das Escrituras, e prescreviam as normas sociais para o feminino, no meio privado e familiar. O poder patriarcal era eminente à mulher e aos filhos, diante desse cenário os ensinamentos primários a uma mulher era a submissão – não cabia à elas a educação da interpretação ou da escrita. A mulher era demonizada, e mesmo em sua moradia e espaço familiar seus privilégios era limitados (GONÇALVES, 2009).
Antagônica à imagem da bruxa existia a imagem da santa, ou Ave na Idade Média, criando assim uma diferenciação entre as mulheres que respeitam as imposições da igreja e as que se desvirtuam da religião, dando força para sua tendência carnal (GONÇALVES, 2009).
A classe intelectual do clero medieval estava certa de que a mulher se alienava à bruxaria e à magia; consideravam-na sujeita à bondade e à obsessão, sem prudência. Sempre opostas, ou eram virtuosíssimas ou mergulhavam nos vícios diversos. Essas definições deixam claro o âmago masculino e feminino: qualquer que seja sua classe social, a essência da mulher será a mesma. A edificação da devoção à Virgem mostra o misoginíssimo, no qual a mulher insólita santificada perdeu a sexualidade eternamente (KRAMER e SPRENGER, 1991, p. 113-115).
A visão preponderante, incorporada a partir do século XVIII nos sermões, foi a da mulher pecadora, que renegava a fé cristã, cedia ao desejo carnal e era capaz de provocar infortúnios aos bons cristãos. O medo da mulher foi difundido e fundido ao temor da figura diabólica, e aos horrores infindáveis (NOGUEIRA, 1991). O impugnado por Deus estava livre no umbrático da Idade Média, circulando em todos os lugares, aliciando e decompondo, sondando as fraquezas e os desejos da humanidade. Bestas fazem a mente dos homens e os levam a loucura, circulam como moscas ao leito de morte, procurando desfrutar da alma do enfermo. Todos os fatos obscuros são vinculados aos demônios (NOGUEIRA, 1986, p.35).
A fonte de temor do homem pelo feminismo se relacionava com o segredos inexplicáveis que ele detinha à época: como o parto, o curandeirismo e a fabricação de medicamentos – eles ainda acreditavam em poções, filtros e venenos letais. Os princípios pautados pela visão masculina de mundo foram transmitido através das gerações, e aumentados pelo cristianismo para justificar a inferioridade da mulher. Usando artifícios “científicos” baseados nas histórias de criação dessa “criada de Satanás” (AVELAR, 2015).
1.2. As percepções da Igreja diante do corpo e luxúria da mulher
A principal instituição na Idade Média era a Igreja Católica, que através da doutrinação e da palavra determinava e governava em todos os sentidos no Ocidente medieval. Para a sociedade cristã, seguidores da doutrina que opunha a carne e o espirito, o corpo e a luxúria eram ligados, o que, na visão da igreja, era a fonte da maldição – crendo que a porta de entrada do mal para o mundo era a mulher e sua sexualidade, temendo a lascívia feminina, a clerezia buscou maneiras de dominá-la (PISSINATI, 2017). No longo do período medieval, estudiosos cristãos debruçaram-se sobre e interpretaram, por várias vezes, documentos filosóficos antigos, tentando definir padrões comportamentais que determinariam o corpo e a sexualidade na sociedade cristã da época. Por outro lado, é significativo elucidar que o cristianismo, desacompanhado, organizou a discriminação do corpo e do sexo desde a antiguidade. O estoicismo grego possuía uma base ascética, e é considerado um exemplo do aumento do ascetismo já no círculo pagão (BRUNDAGE, 2001).
Na Roma Antiga, os espaços sócio-urbano-culturais com grande fluxo de pessoas, como teatro e o circo, transformaram-se em um ambiente de enaltecimento da estrutura masculina, presente na rotina diária; mesmo os ensinamentos do estoicismo, que difundiram a projeção do espirito, aceitavam a propaganda em cima do corpo. Nessa sociedade, o corpo havia de ser ministrado e fiscalizado. Mas não alterado (SANTOS, 1997). Progressivamente, a interação entre a mulher e o homem modificou-se, porém regressões acontecem após a afirmação do cristianismo no Império. Os espaços de cultura e socialização foram ficando de lado, e, com isso, uma nova relação com o corpo foi construída, com objetivo de restrição (SANTOS, 2001). Ainda assim esse caminho “moralizador” do corpo no Alto Império Romano, foi conduzido pelo cristianismo, de forma a legitimá-lo, construindo, com o artificio da teologia das santas escrituras e dos textos dos pais da igreja (VEYNE, 1984). 
Peter Brown (1990) detectou o conceito da interdição da luxúria nos primeiros séculos do domínio ideológico cristão: o maneio com celibato para o homem e o modelo de carestia para as mulheres. Os alicerces estavam construídos para que a nova religião exercesse a mudança de percepção do corpo contra si mesmo. Os idealistas da Idade Média eram a instigação maior ao desprezo corporal: Agostinho, Jerônimo e Tomás de Aquino, assim como monges seus aprendizes, introduziram à sociedade a honra, e aplicação plenamente fluente, da castidade e da abstenção do sexo (LE GOFF, 2006). 
Introduzido e institucionalizado, o cristianismo causa revés no Ocidente através da conversão do pecado inicial em pecado sexual; consolida-se que Adão e Eva queriam o saber divino, e usaram o fruto como o elemento para isso, ou, pelo menos, seria mais fácil para a massa compreender que o consumo de algo proibido trouxe o ato sexual, do que a sabedoria; a indecisão filosófica e interpretativa se introduziu sem complexidade (PISSINATI, 2017).
Abelardo e seus seguidores, filósofos e teólogos, entendiam que o pecado original é adjunto de um pecado sexual, mediado pela cobiça. No século XII, se fixa o controle carnal e sexual, a prática inferiorizada aludia à generalização das mulheres e dos homens na Idade Média. Porém, a mulher pagou por muito mais tempo (LE GOFF, 2006). A consagração do matrimônio no século XIII, de acordo com o paradigma monogâmico e indissolúvel, aplicou a uma manifestação eclesiástica regulamentada o controle do caráter e do corpo na sociedade dos mundanos. Com essa mentalidade, o sexo era honroso apenas para a reprodução, as demais relações sexuais eram vistas como o pecado corpóreo da luxúria. A Igreja interferia na vida privada na Idade Média, e a tornava uma questão pública e social, que por ela era designada (SANTOS, 2001). 
Com base nos Padres cristãos e nos acadêmicos, como os filósofos do século XIII, a guerra eclesiástica ininterrupta pela doutrinação, utilizando a certeza da salvação da alma e do espirito sobre a excomunhão do pecado do corpo e da carne, foi iniciada. Há associação da mulher ao carnal foi um dos resultados causado por esse conceito, enraizado até os dias de hoje nas relações da sociedade com o corpo e a sexualidade feminina (PISSINATI, 2017).
A força que queima vem da palavra grega fos – assim foi conceituada, para Santo Isidoro de Sevilha, a palavra “feminina”, por conta da grande libido que irrogava a mulher (FONSECA, 2009). Os historiadores apuraram personificações negativas e positivas que predominaram na Idade Média: inicia-se com o negativismo sobre o corpo da mulher, corrente pelos judeus – de acordo com essa visão, o diabo manipulava a mulher (utilizam Eva como exemplo). Oposto a ela estabelecem um ícone do bem, uma santa: a virgem Maria, que se torna emblemática. Quando esses dois exemplos não foram o bastante para conter as mulheres no início do século XII, entra em contexto uma outra personificação feminina: Maria Madalena, a pecadora pesarosa (SANTOS, 1997).
Em O Imaginário Medieval, Le Goff menciona um trecho da Bíblia:
“Digo aos solteiros e às viúvas que é melhor permanecerem no mesmo estado que eu. Mas, se não aguentarem, casem-se, por que mais vale se casar do que abrasar-se. (...) Portanto, quem casa a filha faz bem, mas quem não casa, faz melhor”. (Coríntios 1:07)
A índole condenável do casamentos é evidente na passagem:sua função era apenas a procriação. O ato sexual não era a única expressão do pecado: o desejo e pensamento na pratica sexual também; as próprias virgens são temorosas. A igreja pregava a resguarda em conventos para as mulheres solteiras (PISSINATI, 2017).
O homem dominava a mulher em todos os aspectos. O pai a controla no momento que esta solteira – sem a presença do pai, um irmão mais velho, ou outro homem confiável. Casada, era ordenada pelo marido, e, ficando viúva, sua guarda era passada para seu filho primogênito, ou o patriarca da família da qual agora participava. Para monitorar a mulher, existia o matrimônio, que dava autoridade máxima do homem sobre a mulher – estabelecida por Deus, a lei do casamento impedia a mulher negar ao marido, e que não alienasse aos desejos carnais (DUBY, 1992).
A mulher em nenhum momento poderia ser estimulada pelo homem, e não poderia ter satisfação sexual: o contato era único para a reprodução (DUBY, 1989). Relacionando a sexualidade ao sacrilégio original, a teologia estabelecia uma motivação para reprimi-la (PISSINATI, 2017). O contraste entre homem e mulher antecede a religião cristã, mas, não obstante, a igreja foi crucial para o alastramento dessa desigualdade. O cristãos usavam a Bíblia, e suas interpretações próprias, para manter o controle da Igreja Católica sobre a sociedade medieval (SILVA e MEDEIROS, 2013). 
Na Idade Média, a teologia se divide em acompanhar a forma de pensar de Agostinho, na qual reporta-se a subordinação da mulher anteriormente à Queda –consequentemente desmembrado em: parte superior, razão e espirito sendo o lado do homem, e inferior, corpo e carne, como lado da mulher, ou Tomás de Aquino, que pensa diferente, mas não dá igualdade e liberdade à mulher. Estudioso do entendimento de Aristóteles, no qual a “alma é a forma do corpo”, Tomás tem a opinião contrária ao pensamento de dois níveis de Agostinho: para ele, ao mesmo tempo foram concebidos o homem e a mulher, a alma e o corpo. Porém, o homem tem evidências maiores de sua inteligência na compreensão porque, em princípio, seu sêmen perpetua a benção divina recebida por deus (LE GOFF, 2006).
As filhas dos nobres eram disciplinada desde a infância a servir ao homem. A literatura era ensinada para entreter os seus homens guerreiros no repouso; na esfera religiosa rezavam pela remição da família e do marido. Para que os bens da família sejam preservados, tinham como preceito que o legado do filho primogênito era se casar e gerar descendência. Por outro lado, os demais filhos se devotariam à igreja ou à guerra, sem matrimônio ou descendentes. Esse princípio era um obstáculo para as mulheres que dispunham as suas vidas à procura de um casório. O celibato era designado pela Igreja às mulheres que não conseguissem o matrimônio – lembrando que o cristianismo criou o paradigma da virgem como o apogeu da personificação da mulher (DUBY, 1992).
1.3. As manifestações sobre a mulher na sociedade medieval
No estudo a respeito do feminino na Idade Média, constatamos a desvantagem contra a hegemonia do masculino. Vistas como perigosas e provocantes servas do diabo. Porém, quem documenta isso são os membros do clero – isso acontecia antes do século XIII, sem experiências de vivência com o feminino, em mosteiros. Assim, simbolizam a mulher com temor e extravagância (SILVA e MEDEIROS, 2013). 
A mulher foi provida da costela do homem, e seu ofício era cuidar, e ser subordinada aos desejos, do homem (DALARUN, 1993). Sua vulnerabilidade, entretanto, fez com que o diabo, representado pela serpente, a levasse à perdição, causando a maldição para o homem. Ambrósio de Milão, falecido em 397 d.C., salienta que “a mulher é que foi a autora da falta do homem, não o homem para a mulher” (DALARUN, 1993).
O Bispo Godofredo expressa seus pensamentos em relação ao encanto da mulher, influenciado pelos monges de Odão de Cluny:
“A beleza do corpo não reside senão na pele. Com efeito, se os homens vissem o que está debaixo da pele, a vista das mulheres dar-lhes-ia náuseas... Então, quando nem mesmo com a ponta dos dedos suportamos tocar um escarro ou um excremento, como desejar abraçar esse saco de excrementos” (DALARUN, 1990, p.35).
A repulsa e a hostilidade perceptível nos pensamentos de Godofredo salienta, os malefícios que estão na mulher e por baixo de sua pele, porém não expressam Eva em suas explicações. O poema “Os vermes da morte”, de autoria do monge Hélinand de Froimont do século XII, é indicado por Le Goff, para demonstrar como era vislumbrado, pelo clero, o feminino (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“’ Um corpo bem alimentado, uma carne delicada’, é somente ‘uma camisa de vermes e de fogo” (os vermes do cemitério e o fogo do inferno). O corpo é ‘vil, fedorento e murcho’. O prazer da carne está envenenado e corrompe a nossa natureza” (LE GOFF, 1994, p.146).
A monja Hildegarda menciona sua visão cientifica e seu misticismo sobre a sexualidade – mais diretamente, o sêmen feminino. Ela diz, sobre a escassez ou a restrita parcela de sêmen enfraquecido, entretanto, na combinação do esperma masculino e feminino, consequente de um agito de sangue, o esperma do homem destaca-se sobre o da mulher. Guilherme de Conches, enciclopedista e apoiador da ideia de Hildegarda sobre a semente feminina, evidencia seu pensamento sobre a infertilidade das meretrizes (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“Como não têm prazer no decorrer da relação, não emitem semente e por conseguinte não concebem. Quanto às mulheres violadas, pode acontecer que tenham prazer no final do acto, tão grande é a fraqueza da carne; assim se explicam algumas gravidezes consecutivas a este gênero de incidente.” (DALARUN, 1993, p.80).
A Bíblia contradiz fundamentos cristãos – assim destaca Le Goff (o autor refere-se aos cristãos no período medieval, sobre o sacrilégio da carne e desejos sexuais que a igreja condena [SILVA e MEDEIROS, 2013]):
“No Evangelho de João, a carne é resgatada por Jesus, pois ‘o verbo fez-se homem’ (1,14) e Jesus, na Última Ceia, fez da sua carne o pão da vida eterna. ‘... e o pão que eu hei-de dar é a minha carne pela vida do mundo [...] Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna...’ (Jo 6,51-54). Mas já João opunha o espírito e a carne e afirmava: ‘O espírito é que dá vida, a carne não serve pra nada’ (6, 63). E Paulo efectua também um ligeiro deslizamento: ‘...Deus, enviando o seu filho em carne semelhante à do pecado e para expiação do pecado, condenou na carne o pecado [...] Se viverdes segundo a carne, morrereis” (Rom 8, 3-13) (LE GOFF, 1994, p.58).
A contradição da doutrina cristã – onde as escrituras eram a lei, na Idade Média a definição do corpo fica controversa: é vista como o pecado e como uma fonte de vida para a Bíblia. No Ocidente, a imagem feminina é antagônica, perigosa, má, melindrosa, e doce; porém. Compreendemos a descrição de Hildeberto de Lavardin de que malevolente para o homem está a mulher, o dinheiro e o respeito (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“A mulher, coisa frágil inconstante a não ser no crime, não deixa nunca espontaneamente de ser nociva. A mulher, chama voraz, loucura extrema, inimiga íntima, aprende e ensina tudo o que pode prejudicar. A mulher, vil fórum, coisa pública, nascida para enganar, pensa ter triunfado quando pode ser culpada. Consumindo todo o vício, é consumida por todos; predadora dos homens, torna-se ela própria a presa.” (DALARUN, 1993, p.38).
O feminino na Idade Média era um assunto com muito eco – é traçado, continuamente, um discurso acima da intolerância, junto com o feminino. Diferente da época, Orígenes e Fílon se manifestaram dizendo: “O nosso homem interior é constituído por um espírito e por alma. Diz-se que o espírito é macho e a alma pode ser chamada de fêmea” (DALARUN, 1993). Ambrósio de Milão reitera “O espírito é portanto como Adão, a sensibilidade como a Eva”, de modo direto os pensadores dissertam sobre a mulher (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“Adão é o espíritoe Eva a carne; metáfora ainda, que não quer dizer que a mulher seja negada como ser humano. Apenas o emprego abusivo de uma alusão de Gregório de Tours (c. 594) no concílio de Mâcon de 585 pôde deixar crer que os clérigos discutiram seriamente para saber se a mulher tinha alma.” (DALARUN, 1993, p.50).
Os pensamentos acima, deixam certa a perspectiva ortodoxa do livro de Gênesis na qual colocam Eva como um “remorso” de Deus, que gerou o homem, um criatura assexuada e andrógena. Em seguida criou a mulher para ser companheira de Adão. Isto é a diferença do sexo foi uma concepção acessória para a entidade do onipotente. Assim extrai que Eva foi gerada após o mundo e foi nomeada por Adão. Essa hipótese diz que Deus não deu uma identidade a Eva, e sim Adão, ela é uma obra imprecisa. O Senhor cria Eva para não deixar Adão solitário no éden, essa visão deixa a mulher acessória ao homem e à remete a obediência do mesmo (SILVA e MEDEIROS, 2013).
Contudo, São Tomás de Aquino é diverso a essa metodologia: para ele, Deus concebeu Eva da costela de Adão – se fosse do crânio, seria proeminente a ele, se fosse dos pés seria inferior a Adão. “A encarnação é a humilhação de Deus” declara Le Goff, expondo o enclausuramento do corpo e da alma cabido ao pecado original, à sabedoria sublime, firmando a antipatia do corpo da mulher através do seu sexo. Assim, ratifica o pensamento (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“De Eva à feiticeira do final da Idade Média, o corpo da mulher é o lugar de eleição do diabo. Em paridade com os tempos litúrgicos, que acarretam uma proibição sexual (quaresmas, vigílias e festas), o tempo do fluxo menstrual é objecto de um tabu: os leprosos são filhos de casais que tiveram relações sexuais durante a menstruação da mulher.” (LE GOFF, 1994, p.146).
O ponto de vista mostra a enfermidade alusiva, contaminando o corpo e decorrendo a alma, em referência à plenitude da alma (SILVA e MEDEIROS, 2013): “o pobre é identificado com o enfermo e com o doente, o tipo social eminente – o monge – afirma-se atormentando o corpo com o ascetismo e tipo espiritual por excelência – o santo – só o é de um modo indiscutível quando sacrifica o seu corpo no martírio” (LE GOFF, 1994).
De acordo com Gênesis, o homem e a mulher são a imagem e semelhança de Deus. Porém, existem divergências com descrições como a do livro de Coríntios, onde o episódio primário é o do homem como obra, e da mulher como coadjuvante. Outros pensadores ficaram inconformados com os registros como o de Santo Agostinho. Dalarun expõe um paralelo entre a Virgem-Maria e Eva, e também cita Madalena, relacionando-a ao sacrilégio guiado pela mulher (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“De imediato, uma antinomia: Eva, Maria; uma simbolizando mais as mulheres reais e a outra a mulher ideal. Por razões de estratégia eclesial, de disciplina clerical, de promoção de uma nova moral. Eva é nesta viragem dos séculos XI e XII mais sobrecarregada do que é habitual: ela é a mulher de que o clérigo se deve afastar, a mulher de pouca condição de que se devem purificar as uniões principescas, a filha do Diabo. A Virgem-Mãe, em época de contracção das linhagens, é projectada pelos homens para fora do alcance das mulheres terrestres” (DALARUN, 1993, p.53). 
“Esta terceira via que Madalena abre então não existe sem relação – Georges Duby sugere-o – com o terceiro local que Jacques Le Goff vê constituir enquanto tal na segunda metade do século XII, e que é também lugar de arrependimento, de esperança e de temor: o Purgatório” (DALARUN, 1993, p.53).
A pregação alusiva ao purgatório na Idade Média expõe, ao decorrer de observações, os manifestos e orações aos falecidos, uma esperança de se libertar dos pecados após o fim, formando uma mudança entre os vivos e os mortos, de acordo com Le Goff (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“Mas o tempo, o lugar e as modalidades dessa purgação mantiveram-se durante muito tempo no vago apesar dos germes de solução propostos por Clemente de Alexandria e Orígenes, entre os Gregos – onde se não abriu a via do Purgatório -, e por Agostinho e Gregório Magno, entre os latinos – onde só no século XII se acelerou o processo de localização do Purgatório” (LE GOFF, 1994, p.149).
Partindo da ideia de J. Boswell, Le Goff, através da linguagem alusiva ao entendimento do período medieval no século XII, diz que não foi apenas o matrimônio a ser censurado sexualmente pela igreja, também o incesto, a nudez, a sodomia e, sobretudo, a homossexualidade, que, segundo o autor, foi uma resultante da cultura gay (LE GOFF, 1994).
É claro que a mulher não era digna de ter gozo e desejo no medievo, o homens era responsável pela contraguarda do seu clímax (SILVA e MEDEIROS, 2013). “O prazer é antes de mais, o prazer do homem” (DALARUN, 1993), o autor ainda relaciona Georges Duby, nos séculos XI e XII, em relação às reflexões árabes sobre o casamento e a mulher (SILVA e MEDEIROS, 2013): “O homem nunca tem mais do que uma esposa. Deve tomá-la como ela é fria no pagamento de debitum, e é-lhe proibido aquecê-la” (DALARUN, 1993).
O gozo era só utilizado pelos homens: as mulheres, as esposas, eram subordinadas, não careceriam dos júbilos, e, se possuíssem a luxúria, seriam o devido Satã (SILVA e MEDEIROS, 2013). As messalinas, do mesmo modo, não teriam prazer na intimidade sexual. É uma explicação à luxúria de homens jovens na Idade Média antecedendo o casamento: na visão de teólogos da época, a relação com prostitutas era uma prática indigna. O autor ressalta o pensamento de Galeno: “essas partes foram dotadas pela natureza de uma sensibilidade muito superior à da pele, e não devemos espantar-nos com o vivo prazer de que estas partes são a sede, nem com o desejo precursor de tal prazer” (DALARUN, 1993).
O intermédio era do clero, temoroso à sexualidade do matrimônio, que para eles era desprezada para a mulher. Porém, teólogos tinham instruções para fincar limitações no sentido de reduzir o prazer da mulher e enaltecer a autoridade masculina sobre a mulher e a reprodução, na visão de Dalarun. Além disso, ele cita Hildegarda de Bingen a respeito dos prazeres das mulheres (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“Este prazer é comparado ao sol, calmo e eficaz na sua ação. Com um pouco menos de elegância, todos os autores estão de acordo em reconhecer que o desejo feminino é semelhante à madeira húmida, lento em inflamar-se mas que arde durante muito tempo. Este ardor é um mistério que intriga o homem.” (DALARUN, 1993, p.86).
Em cima dos pensamentos dos teólogos e da Igreja, Dalarun desenvolve o exercício da castidade para virgens, casadas e viúvas no medievo, pelo fato de sua fragilidade nos desejos carnais e a sensualidade feminina (SILVA e MEDEIROS, 2013):
“Ora a castidade das virgens, viúvas e mulheres casadas coloca a sexualidade num espaço compreendido entre a recusa e o controlo com fins procriativos, e mostra como, quer na recusa quer no controlo, a batalha se trava na predominância do aspecto espiritual e racional sobre o corpóreo e sensual. Como todas as virtudes, a castidade é exigente; não se contenta com a repressão e disciplina exteriores, requer intencionalidade, racionalidade, consentimento; é virtude do corpo, mas também e sobretudo virtude da alma.” (DALARUN, 1993, p.112).
Entre várias causas da privação, o autor cita cada mulher mencionada: a virgem não era exclusivamente do corpo, mas também de sua plenitude mental, se posicionando apartada do sexo, ainda assim passando por abuso, a virgindade dela não se perderia; a viúva, por causa de seu livramento da convivência sexual, que era determinada realizar; a esposa, que se relaciona sexualmente no íntimo de seu casamento. Assim, Dalarun estabelece que “Virgens, viúvas e casadas não representam somente três modos possíveis de castidade, mas três graus possíveis de perfeição dessa virtude”. Assim, as virgens eram prioridades, visto que estão livres da autoridade do homem com relação ao seu corpo e conseguiram a salvação divina. Porém, e as mulheres casadas que já estão desprovidas de sua virgindade e procuram a salvação? Encontra-sediscursos que intercedem, acanhados (SILVA e MEDEIROS, 2013): 
“Não se deverá preferir a mulher a todos os bens materiais, uma vez que ela é em tudo semelhante ao homem, ‘exceto no sexo ‟? Existiria a humanidade sem a mulher? Se te falta o campo, de que te servem as sementes? ‘A mulher é prestável, hábil. Ela é excelente sobretudo nas pequenas coisas ‟da vida cotidiana. Nenhuma é pior do que Judas, assim como nenhum homem é igual a Maria.” (DALARUN, 1993, p.44).
A passagem manifesta que há uma recuperação social da mulher casada, porém não faz citação sobre sua redenção. Sem dúvidas, as virgens, acompanhadas das viúvas, e, por final, as casadas, eram os níveis de redenção para o Paraíso; esse modelo de vida sexual no período medieval era insólito: a virgindade era idealizada para padres, ignorantes e mulheres. Distinguimos o feminino na conjuntura social da sociedade do Ocidente (SILVA e MEDEIROS, 2013).
Mas a discriminação em cima da mulher surge tempos antes. Na Grécia, a mulher não era vista como cidadã para seu povo: seu papel era apoiar os homens e seus filhos; a mulher aparecer em público na sociedade grega, sem seu homem, era motivo para ser considerada uma prostituta – até mesmo as comerciantes no mercado era vistas como meretrizes (SILVA, 2008).
A ideia de criar uma melhor sociedade provinha do homem, mas era apenas uma melhoria em seus objetivos. O mito grego simboliza a razão e sabedoria, e tinha sua imagem refletida por Atena, uma mulher. Porém, Andrioli mostra a inferioridade da mulher com o mito de que “ela não nasceu do ventre de sua mãe e sim da cabeça de seu pai, Zeus”. A mulher tinha o oficio de conceber filhos homens, descendentes. Sobre isso Roberts (1998) diz: “a história da boa esposa ateniense, cujo único papel era prover o marido com herdeiros homem, é uma verdadeira tragédia grega” (SILVA, 2008).
O sexo e a mulher na Idade Média, ajudam a trilhar a concepção de feminino, sexualidade em vínculos sociais, culturais e autoritários, a desigualdade e a soberania do homem sobre a mulher que tinha validação na Igreja Católica. O modelo a ser seguido era o da Virgem Maria, uma mulher sublime (NAVARRO, 2007). Assim sendo, conclui-se o comando dos homens sobre as mulheres na Idade Média para serem toleradas, sua carne deveria estar perante ao poder, submissão e controle da Igreja, constituídos à soberania do homem (SILVA e MEDEIROS, 2013). 
A mulher subordinada ao homem é um conceito que se estende da antiguidade até dias atuais, porém a sociedade medieval era regida por regras e doutrinas da Igreja Católica, e a mulher que se opunha ou pensasse diferente a isso era tida como prostituta, bruxa ou como próprio diabo. Essas normas sociais servia para manter o controle sobre a mulher e manter a soberania do homem no contexto medieval.
Com base no propósito da pesquisa, ou seja, em relacionar as referências da obra “A Bruxa” do diretor e roteirista Robert Eggers, com a sexualidade e submissão da mulher perante ao homem e os mitos da Igreja na Idade Média, com isso associamos o cenário do feminino no período estipulado. No qual a mulher era possuída pelo seu cônjuge e vassala de seu homem e sua família, por outro lado a virgem era usada de exemplo pela religião e sociedade (SILVA e MEDEIROS, 2013).
2. A OBRA “A BRUXA” E SUA NARRATIVA CINEMATOGRÁFICA
Temos de discutir a falta de estudos a respeito de filmes relacionado à horror que é respaldada pela ausência de análise históricas e culturais além de científicas em cima do gênero, para ser feito algo raso e lucrativo no cinema comercial sem embasamento algum por puro entretenimento (MARTINS, 2011).
Para Martins (2004) o cinema como entretenimento é capaz de estruturar uma soma de assuntos de dilemas teóricos, ideológicos e psicológicos significativos para sociedade. Levando em conta essa ideia, a obra de medo adentra de uma maneira cativante tópicos corrente no estudo filosófico e teológico, conforme o estigma do feminino e sua relação com o satânico e divino.
O longa-metragem de horror, retratando a bruxa, ao mesmo tempo resgata e reconstrói a correlação entre a mulher e o maléfico, revivendo um cenário fantasioso e usando uma narrativa tradicional da Idade Média onde o feminino é discriminado, porém inteirado ao cinema (LAROCCA, 2018). Ainda em uma conjuntura distinta, o maligno é exposto principalmente por uma mulher sempre suspeita (MARTINS, 2011).
Apesar de abundantes, as obras que tratam o simbolismo histórico entre o feminino e entidades demoníacas, recentemente uma por particular causou considerações dos críticos e foi uma criação conjunta entre americanos e canadenses com o nome The Witch: A New England Folktale, no brasil A Bruxa: Um Conto Popular da Nova-Inglaterra. Sobre a direção e roteiro de Robert Eggers, a película teve seu lançamento no primeiro mês de 2015 no Sundance Film Festival e após foi lançada para o mundo em 2016. Com um orçamento relativamente baixo e um retorno 10 vezes maior pelo mundo, foi um filme bem sucedido comercialmente. Ainda que as críticas foram variadas, foi muito focado pela sua narração farta de simbolismo e por não usar artifícios de sustos tão enraizados no horror hoje como jumpscare, que são mudanças de imagens e áudios repentinos para causar sustos (LAROCCA, 2018).
A obra ganhou importância de teóricos pela investigação histórica e pela elaboração da criação que foram realizadas. Robert Eggers diz que foi produzido uma ampla pesquisa com ajuda de profissionais em história colonial dos Estados Unidos. Também foram assessorados em conjunto com os museus britânicos e estadunidenses, peritos em agricultura, vestimentas e linguagem do século XVII (BITEL, 2016). Ao mesmo tempo ao decorrer da trama é notável relacionar as referências a relações de bruxaria praticados na Idade Moderna, da mesma forma as indiretas à contos de fadas (LAROCCA, 2018). 
A ficção cinematográfica, em grande parte, se fundamenta em um ambiente sociocultural onde ocorre a história, assim sendo todos os filmes seguem a observância social e cultural da época retratada (CASTRO, 2018; LEBEL, 1972). Nessa perspectiva de investigação da obra cinematográfica, a natureza que o filme lhe proporciona, são notáveis percepções, te incluindo à estrutura psicológica, política, ideológica e social de um cenário fixado na época (KELLNER, 2016).
A pesquisa associa o cenário no critério em qual inferimos o filme, com base na conjuntura da obra e a transmissão da história. Essa análise está objetivada e tratada em cima de princípios relativos a setores socioculturais e doutrinadores (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018). Assim sendo:
“Ler filmes diagnosticamente permite-nos extrair insights sobre problemas e conflitos sociais, avaliar os problemas e as crises sociopolíticas dominantes, medos e esperanças, conflitos ideológicos e políticos do momento contemporâneo. Esta abordagem envolve uma dialética de texto e contexto, utilizando textos para ler realidades sociais e contexto para ajudar a situar e interpretar filmes essenciais da época.” (KELLNER, 2016, p.15).
Com média de uma hora e trinta minutos de duração, a história se passa na Nova Inglaterra com uma família puritana excomungada de uma comunidade cristã pelo fato de doutrinas distintas sobre a Bíblia. William o pai, Katherine a mãe, a primogênita Thomasin, o segundo filho Caleb, os gêmeos Mercy e Jonas e o caçula e recém-nascido Samuel são os personagens dessa história (LAROCCA, 2018). 
A análise da dramatização extraída pela imagem e o diálogo a respeito do feminino no longa-metragem “A Bruxa”, de Robert Eggers (2015), onde justifica à compreensão no cenário transmitido pela história do filme e seu simbolismo, no decorrer da explanação intersemiótica, ou seja reconhecer os vários tipos de linguagem abordado no filme. O intuito do capítulo é examinar a concepção do feminino no mito da bruxa exibido no filme referenciado em uma análise documental e fílmica (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018).
2.1. Resenha: analisando o enredo da obra de Robert Eggers.
“A Bruxa” é uma obra cinematográficado gênero suspense e terror. Seu lançamento no Brasil foi em 2016, com a direção e roteiro de Robert Eggers, o longa se passa na Nova Inglaterra no Estados Unidos por volta de 1630 e possui em seu enredo central a religião e a figura da mulher no contexto da época; A BRUXA (FILME).
A descrição do filme irá reunir como referência documentada o auxílio de: A BRUXA (FILME). In: WIKIPÉDIA, em comparação ocular de: THE WITCH. Direção de Robert Eggers. A história da família começa ao ser excomungada de uma vila cristã na Nova Inglaterra por heresia e pelo fanatismo de seu patriarca. O enredo se inaugura no período em que se excluem da sociedade em uma fazenda, a propriedade era na borda de uma grande floresta, após algum tempo erguem uma morada e cultivam uma plantação. Katherine era matriarca de 5 filhos, a drama começa quando Thomasin a primogênita sempre sexualidade na narrativa está brincando com o caçula recém-nascido Samuel na beira da floresta, em um piscar de olhos uma bruxa que reside no íntimo da floresta rouba Samuel, Thomasin sem entender ao abrir os olhos fica sem explicação para o sumiço. Enquanto isso a bruxa trucidava Samuel, e usava seu cadáver para fazer uma porção no qual banha seu corpo e sua vassoura com o sangue do recém-nascido. Sem uma explicação palpável, Katherine fica destroçada pelo sumiço de Samuel e passa os dias deprimida orando a Deus, a estrutura familiar, os mitos cristãos e a visão do feminino começam se impor na obra (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
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Fonte: Netflix (2019), a família agradecendo a Deus por encontrar uma terra fértil.
Nos relatos de revelações das bruxas está presente suas feitiçarias, pois alegavam que as bruxas faziam pomadas para flutuar na sua imaginação dormindo ou no seu próprio corpo físico mesmo, assim se juntando e realizando os Sabás. Há uma parte do livro manual dos inquisidores Malleus Maleficarum, que expõe e retrata o que as bruxas eram capaz de fazer, e como lidar e atacar suas bruxarias, já que elas eram aliadas do diabo (BOROJA, 1983).
“[...] voam nos ares besuntadas com um unguento de criança, cavalgando vassouras, relhas de arado, etc., e praticam ligações amorosas ou físicas de toda a espécie, às vezes até mesmo cómicas, transformam os homens em animais, enfeitiçam nos, tornam-nos doentes, dão-lhes a morte, atraem o granizes, a tempestade, etc.” (BAROJA, 1983, p.136).
Ainda que os acontecimentos do filme sejam em Massachusetts no século XVII, não é inexistente correlação clara com os episódios viventes na cidade de Salem entre 1692 e 1693 (LAROCCA, 2016). Que relaciona o fato concebido pelo fanatismo e pela ignorância que os guiaram no Estados Unidos, a os julgamentos derradeiros por bruxaria na pacata cidade de Salém, Massachusetts, em uma noite de outubro de 1692 (BRUXAS DE SALÉM. In: WIKIPÉDIA).
Após um tempo William o patriarca da família e Caleb o segundo filho saem em busca de alimentos e vão a floresta para caçar, já que a safra de milho plantada estava condenada por fungos (THE WITCH. Direção de Robert Eggers). Entretanto outra inferência com Salem é a suspeita que resultaria as conhecidas sentenças da igreja, relacionando a narrativa em circunstância veraz. Por mais tênue que seja o momento que os observadores é avisado da colheita de milho que estragou com o fungo popularmente chamado de esporão-do-centeio (LAROCCA, 2016), “a pessoa que consumir o fogo de Santo Antônio que é um botulismo causado pelo esporão-do-centeio” (ERGOTISMO. In: WIKIPÉDIA), esse mal é autor de incoerência mental, delírios, entre outros sinais. Houve debates sobre essa interpretação biológica e psicológica para o fervor as mulheres consideradas bruxas, excitado em Salem, que seja relacionado ao fogo de Santo Antônio. Contudo ainda que abundantes, as ideias científicas e de enfermidades psíquicas ainda assim topam com impasses por pesquisadores, visto que o evento de caça às bruxas foi assustadoramente conflitante e obscuro, não sendo capaz de ser explicado exclusivamente por esse fato (RUSSELL e BROOKS, 2008).
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Fonte: Netflix (2019), William observando a plantação adoecida.
A questão religiosa do puritanismo radical doutrinado pelo pai William começa a criar questionamento em Caleb, quando indaga o pai a respeito do sumiço de Samuel e na certeza de sua morte pergunta ao pai se Samuel havia ido para o Céu ou não, já que o recém-nascido não era batizado, Willian sempre devoto de suas crenças faz explicações ao filho sobre isso se baseando no puritanismo cristão, relatando que todos somos pecadores e precisávamos do perdão e para Caleb rezar mais, no meio do diálogo ele confessa que está se sentindo culpado por uma atitude feita por ele. William confessa ao filho que trocou a taça de prata de sua mãe para abastecimento da caça (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
Durante a caça eles avistam uma lebre de pelagem acinzentada e grande porte, ao pegar a sua espingarda para matar a lebre, acontece um acidente e o tiro saiu pela culatra ferindo o rosto de Willian, a fatalidade começa mostrar que tudo estava dando errado para família, como se fossem “amaldiçoados”. Ao retornar a fazenda, encontram com os dois filhos gêmeos Jonas e Mercy, então caçulas com a morte de Samuel, as duas crianças estavam brincando com um “bode” negro, no qual chamam de Black Phillip, as crianças mantinham uma relação anormal com ele, com cantigas e afirmações de que ele se comunicava com elas (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
A referência da figura do bode não foi por acaso. Em papéis da igreja além de relatos da demonologia, o símbolo do bode é uma figura cativa nos sabás. Relevante mostrar que na bula papal escrita no século XIV pelo papa João XXII surge os primeiros relatos sobre o sabá, relacionando a feitiçaria à um sério ato de heresia. Não obstante são regulares histórias de manifestação de Satã figurado em um bode, o animal sempre foi associado a cultos repulsivos de sexualidade (BAROJA, 1983).
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Fonte: Netflix (2019), o bode black phillip se erguendo e assustando os gêmeos.
Passado o dia ao cair a noite, William e Katherine estudam em levar Thomasin para trabalhar e viver em outra família para ficar dotada como mulher, isso era uma realidade na época. Porém Thomasin escuta com seu irmão Caleb a discussão dos pais. Thomasin é uma adolescente bonita que começava a ter uma mudança no seu corpo pela puberdade. Ela era totalmente provocante mesmo sem perceber o quanto atentava sexualmente ao seu irmão Caleb, que era mais novo mas também adolescente com os hormônios a flor da pele ambos não tinham contato social nenhum com outras pessoas de sua idade. Caleb tinha olhares de tentação e desejo para irmã, reparando seus decotes e partes do seu corpo, porém a doutrina religiosa fazia ele ver isso como uma heresia onde ele se assustava com sua vontade, e via a irmã com temor (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
Assim sendo Caleb e Thomasin tramam durante a noite sair para caçar, para tentar evitar o ambiente ruim que estava em sua casa devido aos acontecimentos, logo ao amanhecer colocam em prática o planejado e saem a cavalo e consigo o cão de caça da família, entrando na floresta se deparam com a mesma lebre da caça de Caleb com o pai, nesse instante já ligamos o animal à algo sinistro. Então o cão vai até a presa que foge para o lado sigiloso da floresta, Caleb vai atrás na intenção da captura do animal. Thomasin montada no cavalo é jogada pelo mesmo que fica em pânico inesperadamente no ambiente. Caleb encontra a lebre já perdido na floresta onde se depara com arbustos secos, mesmo assim ele se adentra a procura do seu cão e a caça da lebre, já desorientado e pávido (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
No ventre da floresta ele se depara com o cachorro eviscerado diante a uma casa de aparência com as moradias de bruxas de contos de fadas. Assim ao abrir a porta a bruxa aparece para Caleb, catatônico ele fixa o olhar nela. Com uma aparência jovem, e uma beleza notável, com seus lábios grossos e um decote volumoso à mulher é totalmentesedutora em seu caminhar e olhar, com um capuz vermelho. Lentamente ele se inclina e encara Caleb até o beijá-lo e segurá-lo firme pela nuca onde mostra suas mão enrugadas mostrando os delírios que a bruxa fazia (THE WITCH. Direção de Robert Eggers). A semelhança da figura da bruxa jovial e sedutora para Caleb, é uma menção aos contos de fadas, a aparência do ambiente é compatível com Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho (LAROCCA, 2016).
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Fonte: Netflix (2019), a aparecia jovem e sedutora da bruxa, e a alusão aos contos de fadas.
Thomasin ao acordar consegue encontrar seu pai e sua mãe que estavam a procura desesperada pelos filhos, porém o Caleb continuava sumido e isso cria uma desconfiança em Katherine sobre a filha pelos acontecidos e pela sua influência sedutora sobre os homens da casa, a mãe tinha um certo ciúme da filha e uma apreensão em ser deixada de lado, enxergava a filha como um recipiente do diabo na casa. Durante um jantar a noite, a família estava sem entendimento do que estava ocorrendo e William sempre pregador de sua doutrina cristã, começa orar pela salvação de Deus sobre o seu ambiente, nessa situação Katherine aponta e questiona a filha sobre tudo, inclusive o desaparecimento de sua taça de prata, sem o que explicar a mãe, a filha se cala e fica acuada com as acusações, o pai incomodado com a situação e com sua mentira, acaba confessando que ele trocou a taça da mãe com um comerciante (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
Chegando a noite Thomasin sai para guarda as criações quando se depara com Caleb despido na porteira, ele é levado mórbido em um leito, durante os seus cuidados os gêmeos apontam Thomasin como culpada, por um dia ter brincado sobre ser bruxa para assustar as crianças. O pai questiona as crianças e a filha sobre isso, quando Caleb mostra uma melhora, e começa a regurgitar uma maçã (THE WITCH. Direção de Robert Eggers); outra referência aos contos de fadas que ressoa uma análise literária, a maçã faz alusão em particular a Branca de Neve, dos irmão Grimm de 1812 e mais pra frente produzida para o cinema pela Disney em 1937 (LAROCCA, 2016).
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Fonte: Netflix (2019), a maça regurgitada por Caleb, outra menção aos contos.
A cena de seu filho envenenado por bruxaria pede que todos rezam ajoelhados em torno de Caleb, porém como um feitiço Jonas e Mercy não conseguem orar e caem no chão com espasmos, desesperados com a situação a família olha Caleb se sentar no leito, e manifestar a sua veneração a Cristo, louvando como o seu último ato após o jovem vem a falecer (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
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Fonte: Netflix (2019), Caleb em um momento de êxtase, e devoção a Deus, antes de sua morte.
William e Katherine com seu fanatismo e suas crenças medievais, acusam os filhos de bruxaria, e os filhos se acusam entre si, os gêmeos a Thomasin por ter falado que era bruxa, e ela as crianças pela ligação com o bode que na Bíblia é simbolizado como o diabo ou símbolo do satanismo. Desorientado e raivoso com a perda de seu filho e herdeiro como homem e com os acontecidos William aprisiona os filhos na cocheira, antes de velar Caleb, com o pretextos de assim encontrar a pessoa maligna em sua casa. Thomasin clama ao pai para não ficarem junto com o bode Black Phillip pois ela dizia que ele era o diabo, porém o pai não dá importância. William após a situação assume sua blasfêmia de honra a Deus em frente à sua filha, achando que isso que estava passando era por ter sido um pecador que era uma lição (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
Ao anoitecer manifestações acontecem na fazenda; na cocheira no acordar durante a noite escura e chuvosa e se deparar com o teto aberto, Thomasin e os gêmeos contemplam com a bruxa e sua aparência decrépita, tomando o sangue no seios da cabra. Já Katherine em casa tem alucinações com Samuel e Caleb, uma dessas alucinações ela pega o bebê e lhe amamenta, porém ela estava com um corvo bicando seu peito e não seu filho mesmo sem perceber continuo vivenciando os delírios e desfrutando do que imaginava ser (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
Na manhã seguinte, William se topa com a cocheira em ruínas e apenas Thomasin dentro dela, porém Jonas e Mercy haviam desaparecido. Ele investe contra a filha lhe acusando de bruxaria e ser demoníaca quando Black Phillip o bode avança e o chifra o perfurando, em duas investida do animal William é empurrado contra a parede e chega a óbito. Katherine ao ver a situação ataca Thomasin que enquanto é estrangulada e acusada pela mãe de bruxaria e de seduzir os homens da casa com seu jeito e seu corpo feitiço a todos, a mãe que está em cima dela no chão, em um lance de defesa Thomasin lhe ataca com uma espátula várias vezes até matar a mãe. Thomasin perturbada caminha até o estábulo e se deita em uma mesa até adormecer (THE WITCH. Direção de Robert Eggers).
Ao anoitecer a garota se topa com Black Phillip, e começa a questionar, se ele fala mesmo, se era verdade que falava com Jonas e Mercy para também falar com ela, o bode cerca como se nada fizesse sentido e caminha para um canto escuro, quando Thomasin pensa que estava alucinando, o bode ganha forma de um homem, com uma voz vagarosa, ele dialoga com a garota (THE WITCH. Direção de Robert Eggers):
Thomasin: Black Phillip, eu vos invoco para falar comigo. Falai como fazia com Jonas e Mercy. Vós entendeis a língua inglesa? Respondei.
Black Phillip: O que vós quereis, filha?
Thomasin: O que podeis me dar?
Black Phillip: Queres sentir o sabor de manteiga e ter um vestido bonito? Queres viver deliciosamente?
Thomasin: Sim.
Black Phillip: Queres ver o mundo?
Thomasin: O que vai ser de mim?
Black Phillip: Vês esse livro? Abre suas páginas...
Thomasin: Eu não posso escrever meu nome.
Black Phillip: Eu guiarei vossa mão, criança.
Thomasin seduzida com o diabo concorda em segui-lo, e despida a pedido do diabo, então se adentram ao ventre da floresta com Black Phillip que volta a forma de um bode. Assim ela chega a uma fogueira onde está circulada com mulheres nuas suplicando, mulheres que refletem ter os mesmo problemas de opressão e culpa, as bruxas estavam realizando o Sába, aos poucos uma de cada vez começam a flutuar ao alto radiantes assim chega a vez de Thomasin que sobe ao céu (THE WITCH. Direção de Robert Eggers). O final da obra é bastante simbólico, mostrando ideias do passado de que o feminino era o foco do diabo, onde ele seduzia e excitava, segundo a Igreja, a mulher está fadada ao mal (BAROJA, 1983).
3. O ARQUÉTIPO DA BRUXA NA IDADE MODERNA
O século XIV foi marcado por incertezas, conflitos e decadências. Epidemias de Peste Negra devastavam a Europa, a igreja vivia uma crise religiosa que já se enraizava, esse conjunto ajudou a gerar uma atmosfera de medo e auxílio a implantar instrumentos de imposição. A doutrina da Igreja aumenta, transmitindo ideologicamente o poder de um inimigo comum, o diabo e seus propósitos contra o rebanho do senhor, equivalente ao aumento da ideia do diabo foi o aumento da opressão com extrema crueldade, a Inquisição e seus inquéritos repletos de torturas (PORTELA, 2017). Os vestígios dessa época da história foi custoso para as pessoas da Idade Média. O medo se impregnou e a cólera de Deus estava em todos os lugares sobre todos os infratores da fé (DELUMEAU, 1996). 
No esforço de organizar feito pela Igreja, no século XV, regularizaram através de manuscritos que vão contra toda conduta herege. O carro de frente era a caça a feitiçaria e as bruxas, acima de tudo as mulheres, que são aliadas ao Satanás e tentam destruí a fé cristã. Nesse contexto dois monges dominicanos Kramer e James Sprenger criaram e disseminaram em 1486, o Malleus Maleficarum, inquisidores germânicos, os pensadores tinham um prestígio com a Igreja. O livro foi usado como alicerce para juízes populares e da Igreja católica e também protestante (JÚNIOR, 2007).
Conciliando fatores de menosprezar a mulher que evidenciaram a narrativa cristã na Idade Média, a tese em relação a essência inferior e maléfica da mulher no Malleus Maleficarum,expõe como ícone o predomínio da Igreja acima da sociedade medieval (PORTELA, 2017).
Bruxas, benzedeiras, feiticeiras, magas entre outros, esses nomes são dados as figuras principais das caças às bruxas e da inquisição na mudança da idade média para moderna. Cevando o utópico judaico-cristão ocidental no período dos séculos, a máxima do modelo duplo herdado até hoje da mulher, ou é uma velha eremita na floresta, ou uma adolescente atraente. O vínculo do conhecimento da magia, perante na Idade Média e moderna, há criminalidade da pratica como heresia no século XIV, assim demonizando a magia. Com isso a Igreja encaminharia o monopólio no mapa, usando o cristianismo. Visto que era constante os perigos dos profanadores, era uma disputa por território e poder (MERENCIO, 2009). 
No século XII e XIII se constrói uma alegoria maléfica do feminino na Europa medieval, de modo que foi fundamentado um contraste entre os homens e as mulheres. Apoiado em princípios aristotélicos disponibilizados por São Tomás de Aquino, em uma conexão de sujeito e objeto, dirigente e dirigido, poder e fraqueza. No período medieval se proliferou uma narrativa androcêntrica (MERENCIO, 2009). Ou seja o homem não só no físico mais em suas experiências cotidiana era superior à mulher era uma norma universal (ANDROCENTRISMO. In: WIKIPÉDIA). Essa ideia explanada pela descrição do Gênesis e escritas de São Paulo, que mostravam que Adão era o gerador de Eva, resultando em subjugação e subordinação (MERENCIO, 2009).
O contrato feito com o Satã, o matrimônio selado por práticas sexuais, magias malignas contra animais e pessoas, a presença nos conhecidos sabás, são os quatro componentes que retratam o evento da bruxaria. Também há alguns pontos de vistas esclarecedor para a caça às bruxas. Um, as pessoas da idade moderna creem que a feitiçaria e os mitos poderiam preencher as apreensões e dúvidas referente ao universo. A caçada seria um ato de uma estrutura de restrição que foi colocado a sociedade, na intenção de difamar a homeopatia do povo. Outro é o dispositivo de guerras de crenças e religião. Finalizando com um ponto essencial da narrativa antifeminista que busca depreciar a mulher, segundo Schormann, que ainda explana: “As mulheres foram especialmente escolhidas para cair em suspeita: devido às suas estreitas relações com crianças, doentes e velhos, à sua proximidade com o parto e a morte, e a sua tarefa de providenciar a alimentação” (SCHORMANN, 1986).
A misoginia como manifestação somado com a certificação da bruxaria como crime profano. Os choques religiosos entre cristãos e protestantes, com uma decorrente incomplacência com vínculo a igualdade dos conceitos e crenças. O temor da morte em seguida dos tempos de guerra, miséria e epidemias. A marginalização da sociedade, embalaram o povo a caçar e punir autores pelo colapso do século XVI (MERENCIO, 2009).
A exposição de imagens de sabás e bruxas e de ilegalidades cometidas por elas além disso comunicados exibindo seu suplício em lugares públicos, são fragmentos de um conjunto de símbolos que a Igreja construiu para validar a norma marcada como as operações em combate a elas, alimentando o controle em relação ao imaginário. Uma maneira de controlá-los foi administrar o comando de ambientes de divulgação de manifestações e imagens (MERENCIO, 2009):
“Esse papel das imagens manifesta-se sobretudo nas situações de crises sociais e, em particular, durante as revoluções que são sempre acompanhadas de uma explosão da imaginação social.” (BAZCO, 1985, p.386).
Para Rose Marie San Juan, o principal para o exame de imagem é achar o sentido em mostrar claramente uma figura no oculto. É real reconhecer através de textos e escrituras demonológicas que edificaram o sabá, ou inquéritos misturados com maus-tratos, realizados ao longo do regime. Porém não é sólido a afirmação que realmente existiu, então: qual o sentido de simbolizar e publicar algo do imaginário, só contado ou escrito? Não tem uma confirmação, apenas suposições. Mas foi admito por mulheres; embora que havia realizado torturas e persuasão com indagações para conseguir uma explicação sobre reuniões e ferramentas das bruxas. Tudo foi exibido, e propagado como um paradigma. O capital mimético compreendido por Greenblatt, onde modelos de divulgação e criação, e o acúmulo de citações para preparação de personificações criadas por dominadores, completa certamente o estilo de modelo de bruxa visto nas narrativas lançadas no século XVI e XVII, além de contos dos Irmãos Grimm, Perrault e Shakespeare? (MERENCIO, 2009). 
A análise do sermão como atividade social, afirma o ponto de vista de que a narrativa edifica-se em todo modo, em causa das ligações de autoridade e soberania que a sustenta; a dualidade de sujeição acerca de quem discursa e quem efetiva. Desse modo, compreende-se que a expressão não é isenta, mas repleta de significados. No sentido de conseguir os conceitos específicos de um ideal, escrito ou proferido, é eficaz envolver-se em explicar o significado figurado e político, ou seja o sermão sagrado (ORLANDI, 2006).
A oratória que se adequa o Malleus Maleficarum, tem em seu aspecto essencial a arbítrio de quem da fala à obra, isso se manifesta além dos escritores, confirmando a sua alegação na indicação da Igreja. Deus usa seus sacerdotes como representantes, padres, pensadores, teólogos, isso legitima e propaga o discurso na sociedade medieval (PORTELA, 2017).
Os mesmos opostos é mostrado por Albrecht dürer e Frans Francken II, uma mulher velha, com imagem decrépita, nariz curvo e grisalha; ou uma mulher pujante com roupas sofisticadas. Igualmente acontece com os símbolos vistos na grande parcela das representações vinculadas às bruxas, vassouras, andejos durante a noite, caldeirão. Com base nas incertezas, foi pesquisado a origem dessa simbologia e seus conceitos com o tempo, para entender um pouco a acepção do homem e a criação dos símbolos de perseguições às bruxas (MERENCIO, 2009). 
O guia de elementos Malleus Maleficarum é duvidosamente científico a preceito da Igreja, também é o apoio conceitual da idade Moderna sobre as bruxas em localizações católicas e protestantes. Esse livro para Dorian Neave, moldou a compreensão de bruxaria através de misturas de mitologias das regiões, como a tradição celta e germânica, de preceitos heréticos, e de fragmentos da Bíblia que mostravam o tema do mal. Julgando usuários de magias como hereges, que prometem seu físico e espírito ao diabo. Ela indica a elaboração de uma crença da bruxa, juntamente com a causa de pensadores do século que compartilhava o mito, divulgando pensamentos em escrituras. Mas, com a imagem, as teorias das bruxas chegavam a população leiga e ignorante, alavancando o fervor a perseguições às bruxas. Portanto quadros e representações de bruxas antes do século XV são incomuns porém após o Malleus Maleficarum, são frequentes baseados na sua doutrina (MERENCIO, 2009).
A linguagem misógina exposta no Malleus Maleficarum, sendo observada em um ponto de vista de gênero, incorpora-se em um método de menosprezar o feminino, biologicamente, fisicamente e simbolicamente. A ideia do homem e mulher, além dos padrões básicos distintos pelas sexualidade, são elaborações estruturadas na história e no sociocultural. A ideia do gênero extrapola a ciência e os aspectos biológicos, para fundamentar-se em cima das crenças sociais que determinam a conduta no qual o homem e a mulher devem viver (HARDY, 2001).
Para alguns homens que seguiam o fundamento da Igreja a mulher era um símbolo de risco. Os monges e eclesiásticos, que se aplicavam ao isolamento e celibato, as vontades do homem ampliavam em frente a uma figura feminina, colocando em risco sua devoção e deixando falar mais alto seus instintos sexuais. A Igreja da Idade Média enraíza o conceito da mulher ser a origem do mal, pelo seus gestos e suas feições feminina (PORTELA, 2017).
Por toda obra a narrativa misógina existe e é nutrida pelos autores no Malleus Maleficarum. Afirmando a mulher como pecadora nata, o símbolo da luxúriae depravação com um caráter duvidoso e malicioso. Esses atributos ajudam o diabo, já que o feminino é incontrolável. Essas concepções reforçada pela Igreja, legítimo o excesso de controle do masculino, aumentam a disparidade história no período. A figura social empregada pelo masculino e feminino nessa conjuntura tem critérios psicológicos, políticos, econômicos e culturais onde são aptos de impregnar um costume histórico de maneira com que esses conceitos viram “instintivo” (PORTELA, 2017). 
Caso a expressão corrente no Malleus Maleficarum que retrata somente a compreensão e a crença dos seus responsáveis ou a ideia pública sobre as bruxas e as mulheres na época, a história e seus pesquisadores ainda não são capazes de atestar. A realidade é que as concepções detém um berço ancestral, e apareceu da junção de um encadeamento de juízos que somados resultaram em um fato sombrio. Enquanto as denúncias as bruxas foram específicas até o século XIII, com raros casos reais e significativo, no total de juízos e sentenças, a começar do século XIV, elas ganham uma notoriedade alarmante. Esse contexto de disseminação da punição no qual o livro se torna um manual de legislação aceito, em uma visão que deixa o Malleus como obra divina. Tal como a exclusiva visão de bruxaria, o livro é efeito de um curso sucessivo de reprodução da mulher, da feitiçaria e da demonologia que tem seu berço na sociedade clássica, ganhando com o longo do tempo fama, propósito e conceito. Resultando em uma sequência de cicatrizes para o feminino, efetivando a caçada com impiedade na Idade Média e começo da Idade Moderna as intituladas como bruxas (PORTELA, 2017). 
3.1. Os Modelos do Feminino: Thomasin, Katherine e a Bruxa
A formação da figura de Thomasin na história do filme é construída em confrontos através da mulher e da narrativa machista que governam a crendice da população cristã judaica. Primogênita de uma família puritana, na época da ocupação do Estados Unidos, a adolescente está no rito de passagem para se tornar uma mulher, em uma casa onde é submissa por isso. A concepção de Thomasin dá sentido a uma mulher tentadora, já sujeita a uma disciplina relacionada à réplica do padrão de conduta da época, se enquadrando ao modelo protestante à devoção mariana (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018). 
De imediato no filme A Bruxa, a figura feminina de Thomasin se apresenta em incessante julgamento pela suas concepções de mulher e seus modos duvidosos. Na passagem do filme seu semblante ao assistir a sentença de sua família no povoado, já mostra sua subjugação ao juízo do homens, segue a imagem (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018): 
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Fonte: Netflix (2019), Thomasin mostrando em seu semblante, a submissão a religião e ao homem.
Ao decorrer a garota ora clamando absolvição pelo seus pecados, a ênfase mostra o julgamento a dominação de crenças presentes. A sua fala em harmonia com a imagem diz a respeito (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018): 
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Fonte: Netflix (2019), Thomasin se confessando a Deus, e pedindo perdão, pela sua natureza feminina.
Na combinação entre a narrativa e a cena, salienta se a reprodução do feminino em acatando a doutrina puritana cristã, que a mostra como pecadora onde todos em sua volta o censuram determinados a julgá-la pelos princípios da sociedade (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018).
Na evolução da trama, nota-se que a mãe Katherine é formada como a essencial julgadora da filha, e gerencia sua conduta aos rótulos da doutrina. No contexto a matriarca é posta como a guardiã da casa onde seu dever é conservar a disciplina regida pela religião. O homem portanto tornam-se trabalhador confinado em expediente diário em busca de conservar a sua casa, sua esposa e filhos, desde jovem são responsáveis. Essa regra é concebida na reflexão judaico-cristã da sociedade e em seu papel de culpa (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018).
 Caleb é o filho homem mais velho, tem o dever de ajudar o pai em suas responsabilidades diárias, Thomasin tem o dever de ajudar na criação e deveres da casa. Assim que Samuel o recém-nascido da família desaparece sem deixar rastros aos cuidados de Thomasin na cercania da floresta. Katherine a mãe cai em um estado depressivo que logo é alterado para dureza e imposição a filha. Assim a trama roteirizada pelo diretor Eggers alcança veemência em seu modo de criação do terror, visto que agora a intriga era inclinada a filha Thomasin, quem presencia o longa metragem se insere no angústia da filha. No julgamento da mãe Katherine em relação a filha a mesa no jantar, reforça o sentenciado e o julgador, onde a personagem se vê ecoada pela matriarca e a família, como mostra a fotografia (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018): 
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Fonte: Netflix (2019), Katherine acuando a filha com acusações.
A vilã da história é apresentada no início como uma idosa monstruosa e suas feições simbolizam um ser contraditório, algo amedrontador a ser derrotado (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018):
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Fonte: Netflix (2019), A figura da Bruxa decrepita.
Durante a história, a bruxa é representada novamente perante a uma distinta visão. A mulher interrompe o modelo passado no filme e vivido na época, mostrando uma jovem liberal, sexuada, que se mescla com as referências aos contos de fadas e ao sedutor, porém se mantendo assombrosa (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018):
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Fonte: Netflix (2019), novamente a figura sexualidade da bruxa, o oposto da envelhecida.
Essa linha, a elaboração das personagens pela fotografia do filme causa uma transgressão com a manutenção do mundo na visão judaica cristã dos opostos luz, claridade e escuridão e trevas. É consequência pela reprodução acinzentada que se impregna na obra, e pela narrativa dos intérpretes. Durante um assunto entre Willian e Caleb o pai observa o céu anuviado e diz ao filho (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018):
 
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Fonte: Netflix (2019), William se expressando com o cenário obscuro em que estão vivendo.
A expressão do pai, estampa oralmente o complicado cenário que Eggers passa ao filme: o cenário não é luminoso, nem tanto de escuridão maligna, somente acinzentado, pois é o símbolo que mostra a essência do ser humano. Esse conceito complicado conduz a complexidade do tormento e angústia passado por Thomasin, que vivencia o cinza incorporado no arquétipo de sua situação como mulher, e de Katherine como seguidora do padrão (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018): 
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Fonte: Netflix (2019), Thomasin na floresta, após seu desmaio.
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Fonte: Netflix (2019), Katherine com uma imagem de cansada, e depressiva.
Na acontecimento do filme onde Katherine e Thomasin entram em confronto, mostra o conflito entre duas mulheres distintas, Katherine representando uma mulher que está percebendo seu envelhecimento e sua falta de utilidade, porém se mantém seguindo a doutrinação religiosa e a subordinação no modelo da época, onde estrangula a filha como símbolo das pregas sociais e religiosas que ela considera ser correta. Enquanto Thomasin representa o desespero da jovem oprimida que está se aflorando para o mundo, que lhe traz curiosidade e desejos, com uma espátula se desprende e mata sua mãe como uma metáfora da sua liberdade contra a sociedade e a religião imposta a ela. Em seguida também se nota a garota catatônica com o cenário em que estava, além de não saber o que fazer com o desconhecido e a obscura liberdade (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018):
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Fonte: Netflix (2019), Katherine enforcando a Thomasin.
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Fonte: Netflix (2019), Thomasin catatônica após matar a mãe.
A conclusão da obra exibe o caminho de Thomasin, onde sua renúncia e sacrifício em procura da liberdade do moldes exigidos e obrigatórios no contexto, se depara com sua inocência do desconhecido, quando conversa com Black Philip, que em forma de homem ou diabo a seduz, além de seu confronto com a doutrina judaico-cristã, mostra sua falta de personalidade e cultura (PEREIRA e NOBREGA e BRANCO, 2018):
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Fonte: Netflix (2019), Thomasin conversando

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