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HERMENÊUTICA_E_INTERPRETAÇÃO[2] (1)

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UNIARP – CURSO DE DIREITO 
DIREITO CONSTITUCIONAL I – PROFA MARILU POHLENZ
Hermenêutica Constitucional
Hermenêutica e interpretação são termos sinônimos? Não. Interpretação é a revelação do sentido e a fixação do alcance das normas. A hermenêutica, por sua vez, é a ciência que fornece os instrumentos para esta interpretação.
Métodos de interpretação da Constituição
Desde que surgiram as primeiras constituições escritas, no final do século XVIII, até meados do século XX não existiam métodos específicos de interpretação da Constituição. A interpretação até então era realizada com os mesmos critérios do restante do direito, em especial do direito privado. 
A partir de 1950 surgiram, principalmente na Alemanha, métodos próprios para interpretação da Constituição. Isso se fez necessários por vários fatores:
Primeiro, porque a Constituição é composta, sobretudo na parte dos direitos fundamentais, por mais princípios do que regras.
Segundo, pela diversidade do objeto e da eficácia de suas normas. 
Terceiro, pela presença de fatos políticos regulados pela Constituição e a dificuldade de seu enquadramento dentro dos quadros lógicos da hermenêutica. 
Quarto, pela pré-compreensão ou ideologia do intérprete (isso, embora exista também nas demais normas, é agravada na matéria constitucional, que é, por natureza, farta em conceitos abertos).
Método Hermenêutico Clássico ou Método Jurídico
Seu principal expoente foi Ernest Forsthoff. Para ele, a Constituição deve ser interpretada pelos elementos tradicionais de interpretação. Estes elementos são aqueles desenvolvidos por Savigny:
Gramatical;
Histórico;
Lógico;
Sistemático.
Parte-se do princípio que a Constituição é uma lei (“tese da identidade”). Logo, deve ser interpretada como tal. As peculiaridades da Constituição não são suficientes à criação de um método próprio para interpretação constitucional.
Crítica: quando Savigny desenvolveu esse método de interpretação, o fez pensando apenas no direito privado. Para o direito público, tal critério é insuficiente. Ex.: pesquisas envolvendo células-tronco. Interpretação do conceito de vida. Início. Quando ocorre? Pelos métodos desenvolvidos por Savigny não é possível saber.
Método Científico-Espiritual
Tem como expoente o alemão Rudolf Smend. “Espiritual” porque busca o “espírito” da Constituição. Este é encontrado nos valores consagrados pelo texto constitucional. Por tal motivo, este método também é conhecido como método valorativo. 
Aproxima-se bastante da interpretação sistemática, pois parte da idéia de conjunto da Constituição. A premissa básica da interpretação sistemática é: “A norma não existe sozinha; está num sistema. Portanto, deve ser interpretada como um todo”.
Não é método positivista. Leva em conta fatores extraconstitucionais, entre eles a realidade social de cada momento histórico. Por isso, esse método também é conhecido como método sociológico. 
Crítica: a indeterminação e mutabilidade dos resultados (em razão da realidade social de cada momento histórico). Isso acarreta insegurança jurídica.
Esses dois métodos partem da idéia de sistema (=raciocínio sistemático). Os dois próximos partem do raciocínio aporético (raciocínio baseado no problema). Problema, neste contexto, é toda questão que tem mais de uma resposta possível.
Método Tópico-Problemático
Seu principal responsável foi o alemão Theodor Viehweg. 
Tópico porque é baseado em “topos” (plural = “topoi”). “Topos” é um argumento, um esquema de pensamento, uma forma de raciocínio. 
Exemplos: 1) um “topos” freqüentemente utilizado pelo STF é o de que normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente. 2) Outro é o de que os direitos fundamentais não devem servir como escudo protetivo para salvaguardar práticas ilícitas. Ex.: CF, art. 5º, LII. Sigilo de correspondência. Possibilidade de violação. Presidiário que o usa para praticar delitos.
Problemático por que é baseado no problema. A argumentação é feita em torno do problema, levando-se em consideração os pontos de vista a favor e contra este problema. Ex.: CF diz que direito a vida é inviolável. Todavia, a CF não fala das pesquisas de células-tronco. Há quem defenda que estes estudos violam a vida e a dignidade do embrião (Fonteles). Uma outra corrente, em sentido contrário, defende que somente são utilizados embriões congelados há mais de três anos ou que não servem para fertilização “in vitro”. Logo, a defesa da vida se dará, na verdade, com a utilização destes embriões para salvar outras vidas. Não há certo ou errado. O que define o resultado do julgamento é a força dos argumentos.
Críticas: (1) Este método parte do problema para a norma. Ou seja, primeiro imagina-se a solução mais adequada ao problema, depois se busca fundamentar em alguma norma. (2) Como cada um decide com base em seus valores pessoais, para depois buscar a norma que irá fundamentar a decisão, a utilização deste método poderá levar a um casuísmo ilimitado (=insegurança jurídica). A norma jurídica é apenas mais um argumento para a solução do problema, e não o principal argumento. (3) Análise superficial da jurisprudência, pois cada problema deve ser resolvido de um modo diferente.
Método Hermenêutico-Concretizador
Busca corrigir as críticas ao método tópico-problemático. Há primazia da norma sobre o problema. Método do alemão Konrad Hesse (“A força normativa da Constituição”). Tem ele uma concepção jurídica da Constituição. 
Para memorizar o método, pode-se associar o termo “hermenêutico” com interpretação; e “concretizador” com aplicação. Para Hesse interpretação e aplicação consistem em um processo unitário, são coisas indissociáveis. A interpretação somente é possível para aplicar a norma a um caso concreto. Por outro lado, para aplicar a norma ao caso concreto, é indispensável interpretá-la. Em outras palavras, não há como separar interpretação e aplicação.
O método parte de três elementos básicos:
Problema a ser resolvido (é método aporético);
Norma a ser concretizada (a norma não é apenas mais um argumento, mas, sim, um elemento básico);
Compreensão prévia do intérprete tanto do problema a ser resolvido, quanto da norma a ser concretizada. Há círculo fechado de intérpretes. Somente quem tem compreensão prévia é que poderá fazer a interpretação.
Os dois próximos métodos, assim como o método Hermenêutico-Concretizador, são métodos concretistas.
Método Normativo-Estruturante
Defensor: alemão Friedrich Müller. Müller desenvolve uma estrutura de concretização da norma jurídica. Esta estrutura é formada pelos seguintes elementos de concretização:
Elementos metodológicos: 
Elementos de interpretação: elementos gramatical, histórico, sistemático, lógico.
Princípios interpretativos.
A interpretação é apenas uma das etapas da concretização da norma jurídica.
Elementos teóricos: são os elementos fornecidos pelas teorias da Constituição.
Elementos dogmáticos: são a doutrina e a jurisprudência.
Elementos de política constitucional: são os relacionados às conseqüências da decisão. O STF, em várias decisões, leva em consideração as conseqüências de seu julgamento.
Método Concretista da Constituição Aberta
Método de Peter Häberle (Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes). Idéia contrária à de Hesse (círculo fechado de intérpretes). 
A idéia é a seguinte: todo aquele que vive a Constituição é um legítimo intérprete.
Se a Constituição é dirigida aos grupos estatais, privados, aos cidadãos, ao legislador, etc., todos são legítimos intérpretes. Tanto é assim que muitas questões constitucionais são resolvidas e ficam apenas no âmbito destes intérpretes, não chegando ao Judiciário. É bem verdade que são pré-intérpretes, pois a interpretação final é feita pelo Judiciário, sobretudo a corte constitucional.
Interpretativismo e
não-interpretativismo
O interpretativismo é postura mais conservadora em relação à interpretação da Constituição. Essa postura também rotulada como textualismo ou originalismo. Defende o respeito quase absolutoao texto da Constituição e à vontade do constituinte originário.
A lei se exterioriza por meio das palavras. Logo, a função do intérprete é interpretar a lei, descobrir o sentido das palavras. Como o constituinte originário é o legítimo representante da soberania popular, a função do juiz é revelar a vontade do constituinte originário. A decisão em outro sentido estaria afrontando a vontade popular. Também é conhecido pelo termo preservacionismo, em razão de pregar a preservação do sentido original do texto e da vontade do constituinte.
O não-interpretativismo, ao revés, tem postura progressista. Para esta corrente, a vontade do povo (=soberania popular) é representada pelos valores expressos na Constituição.
Cada geração tem o direito de viver a Constituição a seu modo. Uma geração não pode impor às gerações futuras os valores que entende importantes. Cabe ao juiz interpretar a Constituição de acordo com os valores atuais da sociedade. O magistrado deve desenvolver e evoluir o texto da Constituição.
Essa dicotomia (interpretativismo x não-interpretativismo) é bem presente no direito americano, cuja Constituição conta 200 anos. Deve-se prestigiar os valores daquela época ou os dos dias atuais?
Essa postura mais forte do Judiciário na revelação dos valores constitucionais é tida como ativismo judicial.
Postulados de interpretação das leis
Normas (gênero):
- Postulados (normas de 2º grau);
- Princípios e regras (normas de 1º grau).
Postulado é termo utilizado por Humberto Ávila. Para ele, postulados “são normas de segundo grau que estabelecem a estrutura de aplicação de outras normas”. Diferentemente do princípio, não estabelece um fim a ser alcançado. É um critério para aplicação de princípios e regras.
“Filtragem constitucional”: consiste na interpretação das leis sob a lente da Constituição. Luis Roberto Barroso diz que toda interpretação jurídica é uma interpretação constitucional, porque quando se interpreta uma lei infraconstitucional a primeira coisa a ser feita é a análise de compatibilidade da lei com o texto constitucional. Sendo compatível, ao interpretar a lei, deve-se fazê-lo de acordo com os valores consagrados pela Constituição. 
Princípio da supremacia
Embora seja intitulado como “princípio” da supremacia, é um verdadeiro “postulado”. Serve de critério para os demais postulados. Remonta à Revolução Francesa. 
Prega que a Constituição é um conjunto de normas elaborado pelo Poder Constituinte (PC). Como o PC tem como titular a soberania popular, o PC é poder supremo dentro do Estado. Assim, a Constituição é a norma suprema do Estado. A Constituição é o fundamento de validade de todas as demais normas do ordenamento jurídico. Por isso, a Constituição determina a forma e o conteúdo das leis infraconstitucionais.
Princípio da presunção de constitucionalidade das leis
É decorrência do princípio da supremacia. Se os poderes públicos que elaboram as leis retiram sua competência da Constituição, presume-se que agiram de acordo com ela.
A presunção é relativa (“juris tantum”), tanto que existem instrumentos para o controle de constitucionalidade.
Controle preventivo de constitucionalidade:
Legislativo: por meio da análise feita pela Constituição de Comissão e Justiça (CCJ).
Executivo: por meio do veto jurídico.
Veto (CF, art. 66):
- contrário ao interesse público (veto político);
- inconstitucionalidade (veto jurídico).
Judiciário: mandado de segurança impetrado por parlamentar, por desrespeito ao devido processo legislativo.
Função do princípio: manter a norma válida no ordenamento jurídico. Ninguém pode descumpri-la alegando que é inconstitucional.
Conseqüência do princípio: na dúvida, a lei deve ser declarada constitucional.
Princípio da interpretação conforme a Constituição
É o mais importante e cobrado em concursos públicos. É decorrência da presunção de constitucionalidade das leis. Na dúvida, deve-se prestigiar a interpretação de acordo com a Constituição.
A interpretação conforme a Constituição só é possível em normas polissêmicas ou plurisignificativas, ou seja, em normas que possuam vários significados.
Limites:
Clareza do texto. Se o texto da lei é claro (unívoco), não se faz interpretação conforme a Constituição, mas sim conforme seu sentido único. Inteligência do procardo “in claris cessat interpretatio”. Na verdade, para se chegar à “clareza” da lei, passar-se-á necessariamente por uma interpretação.
Fim pretendido pelo legislador. Se o fim para o qual foi criada a lei for inconstitucional, deverá se declarada inconstitucional. Não deve o magistrado dar outra finalidade à norma. 
Casuística: STF costuma, equivocadamente, tratar declaração de nulidade sem redução de texto e interpretação conforme a Constituição como termos equivalentes. 
No rigor, a técnica da declaração de nulidade sem redução de texto e o princípio da interpretação conforme a Constituição apresentam semelhanças e diferenças bem evidentes:
Semelhanças:
Podem ser utilizadas tanto no controle difuso quanto no concentrado.
Não há qualquer alteração no texto da norma.
Há uma redução no âmbito de aplicação da norma.
Diferenças:
A “interpretação conforme” é um princípio/postulado, enquanto a “declaração de nulidade” é uma técnica de decisão judicial.
A “interpretação conforme” corresponde a um juízo de constitucionalidade, a “declaração de nulidade”, ao contrário, corresponde a um juízo de inconstitucionalidade. A importância disto estaria na cláusula da reserva de plenário (CF, art. 97), em que o tribunal somente poderia declarar a inconstitucionalidade pelo Pleno ou Órgão Especial. A constitucionalidade, por seu turno, pode ser declarada por qualquer órgão fracionário. Todavia, para STF, a cláusula da reserva de plenário não precisa ser observada em ambos os casos.
Princípio da simetria
Em função deste princípio, as constituições estaduais e as leis orgânicas municipais deverão ser simétricas à Constituição Federal. Devem seguir o paradigma do modelo federal, não ser cópia exata daquele texto.
Não é princípio expresso na CF. É extraído dos arts. 25 (CE) e 29 (LOM), ambos da CF.
CF, Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.
CF, Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
Fala-se, daí, em “normas de observância obrigatória”. A Constituição anterior dizia quais normas eram de repetição obrigatória no âmbito dos Estados e Municípios, a atual não. Nada obstante, o STF se encarrega de estabelecer essas normas. Entre elas, pode-se destacar: 1) princípios básicos do processo legislativo – CF, art. 59 e 61, § 1º; 2) normas do Tribunal de Contas da União – CF, art. 71. Ex.: 1/3 dos membros do TCU é escolhido pelo Presidente, assim 1/3 do TCE deve ser escolhido pelo Governador; 3) requisitos para criação de CPI – CF, art. 58, § 3º. Pedido de 1/3 dos membros da casa; apuração de fato determinado; prazo certo de duração.
CF, art. 57, § 4º, que veda a recondução de membros da Mesa, é de observância obrigatória? Segundo o STF, não, pois não se trata de princípio constitucional estabelecido. No Rio de Janeiro o Presidente já estava no cargo há 6 anos!!
CF, Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)
[...]
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)
Postulados de interpretação daConstituição
Princípio da Unidade
Cabe ao intérprete harmonizar as tensões e conflitos resultantes dos valores subjacentes à Constituição. Exemplo: proteção ao consumidor x livre iniciativa.
Deve-se tratar uma norma como sendo a geral e a outra como a específica. Exemplo: Norma geral: CF, 60, § 4º - Voto direto; Norma específica: CF, art. 81, § 1º - Eleição indireta para presidente. É a aplicação do critério da especialidade. 
Na década de 1960, o alemão Otto Bachof disse que haveria normas constitucionais de diferentes hierarquias. Existiriam as normas superiores e as inferiores. No conflito, as superiores preponderariam sobre as inferiores. Casuística: com base neste raciocínio, Governador do RS ajuizou ADI contra o art. 45, § 1º, da CF (Estados terão entre 8 e 70 deputados, conforme a população), alegando que haveria violação do art. 14 da CF (voto tem igual valor para todos). Para ele, o art. 14 seria superior e afastaria a aplicação do art. 45. STF sequer analisou o mérito. Disse: o art. 45 foi elaborado pelo Constituinte originário. Logo, não tenho competência para invalidar este dispositivo. 
O principio da unidade afasta a tese de hierarquia entre normas constitucionais!
Princípio do Efeito Integrador
Está ligado ao princípio da unidade. Há quem os trate como sinônimos.
Por ser a Constituição um elemento do processo de integração comunitária na resolução de problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar primazia às soluções que favoreçam a unidade política e social.
Princípio da Concordância Prática ou Harmonização
Também tem ligação com os princípios da Unidade e do Efeito Integrador.
Diante da colisão entre direitos fundamentais, cabe ao intérprete fazer a redução proporcional do âmbito de aplicação de cada um deles, evitando o sacrifício total de um para a aplicação do outro.
Por vezes isto não é possível, sendo necessário afastar totalmente um para assegurar o outro. Exemplo: proibir Rede Globo de exibir programa Linha Direta sobre Guilherme de Pádua. Liberdade de imprensa x intimidade, direito à ressocialização.
Quando se fala em princípio da Unidade, considera-se o conflito abstrato das normas. O princípio da concordância prática ou harmonização trata da colisão no caso concreto. A colisão só ocorre entre princípios, não entre normas. Exemplo: abstratamente não há conflito entre liberdade de imprensa e intimidade, mas no caso concreto pode haver.
Princípio da relatividade ou da convivência das liberdades públicas
Parte da premissa de que todo direito é relativo. Isto é necessário para permitir a convivência das liberdades públicas. Retrata a idéia popular de que “o direito de um termina quando começa o do outro”. A análise é feita pelos princípios, não pelas regras (direito à não-extradição, proibição de trabalho escravo etc podem ser absolutos, mas são regras, não princípios).
Princípio da força normativa da Constituição
O intérprete deve dar preferência às soluções que densificando as normas constitucionais tornem-nas mais eficazes e permanentes.
Não é princípio de interpretação, é “apelo” para que se garanta a força normativa da Constituição.
Princípio da máxima efetividade
Assemelha-se ao princípio da força normativa da Constituição, mas com aplicação no âmbito dos direitos fundamentais. Na interpretação dos direitos fundamentais, deve-se lhes atribuir o sentido que confira a maior efetividade possível para que cumpram a sua função social.
Para alguns, este princípio deriva do art. 5, §1º, da CF.
CF, Art. 5º, § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Princípio da Conformidade Funcional ou Justeza
Cada poder deve agir conforme a função que lhe foi atribuída. Sua finalidade é evitar que ocorra uma subversão do esquema organizatório funcional estabelecido pela Constituição.
Princípio da Proporcionalidade
Há quem entenda, como o russo R. Alexy, que é uma “máxima”. Humberto Ávila, valendo-se do mesmo conceito, o chama de “postulado”. Alguns o chamam de Princípio da Razoabilidade. 
O STF e a maioria da doutrina brasileira consideram Proporcionalidade e Razoabilidade como termos sinônimos. No rigor, há distinção. Na Alemanha (e seus seguidores), fala-se em Proporcionalidade; nos EUA, em Razoabilidade.
Para distinção entre razoabilidade e proporcionalidade, verificar a obra “Teoria dos Princípios”, de Humberto Ávila.
Não há previsão expressa deste princípio na CF/1988. Para os alemães é postulado que pode ser extraído do princípio do Estado de Direito. No nosso caso, então, o fundamento estaria no artigo 1º da CF/1988. Para o direito norte-americano (entendimento do STF), seria abstraído da cláusula do devido processo legal, em seu caráter substantivo. Por este entendimento, o postulado estaria implícito no art. 5º, LIV, da CF/1988.
Pela jurisprudência alemã, este princípio traz três máximas parciais (expressão de Alexy):
Adequação: o ato deve ser adequado para atingir o fim a que se destina. Adequação é uma relação entre meio e fim. Exemplo de Luis Roberto Barroso: Ato de prefeito de Salvador, proibindo venda de bebida alcoólica, sob o argumento de que o consumo de álcool aumenta o risco de contagem pelo vírus HIV. Isso não seria adequado. Outro exemplo: Proibição de venda de álcool em estádio de futebol para evitar a violência. Essa medida é adequada. Pois o álcool, reduz os freios sociais, aumentando a chance de atos violentos.
Necessidade ou exigibilidade (ou princípio da menor ingerência possível): dentre os meios existentes, deve-se optar por aquele que seja o menos gravoso possível. No dizer de Jellinek: “Não se deve abater pardais com canhões”. Ex.: fechar estabelecimento porque foi encontrado produto com prazo de validade vencido é ato desproporcional. Pode-se aplicar multa.
Proporcionalidade em sentido estrito: consiste na relação custo x benefício da medida. Fazer ponderação entre custo x benefício. Ex.: lei do Paraná determinando a pesagem do botijão de gás GLP por ocasião da venda foi declarada inconstitucional. Um dos argumentos foi a desproporcionalidade. 
Segundo Alexy, corresponde a uma “Lei de Ponderação”. Vale dizer, quanto maior foi o grau de intervenção em um determinado direito, maiores hão de ser os motivos justificadores desta intervenção.
Preâmbulo
Etimologicamente, preâmbulo significa “o que anda antes”. Todas as CF do Brasil (1821 a 1988) tiveram preâmbulo, embora este não seja item indispensável no corpo constitucional.
O português Jorge Miranda, acerca da natureza jurídica do preâmbulo apresenta três teses:
Tese da irrelevância: o preâmbulo não se situa no domínio do direito, situa-se no âmbito da política ou da história.
Tese da relevância idêntica a dos demais preceitos da Constituição: o preâmbulo é um conjunto de normas, as quais não guardam distinção em relação aos demais preceitos da Constituição. Tem caráter vinculante e obrigatório. Teria força cogente.
Tese da relevância jurídica específica ou indireta: apesar de ser parte integrante da Constituição, o preâmbulo não é norma jurídica, não tem a força normativa que as demais normas constitucionais têm. É a tese adotada pelo STF. Para o STF, o preâmbulo não serve de parâmetro para o controle de constitucionalidade. Casuística: A EC 41 foi questionada por suposta afronta ao preâmbulo da CF. STF disse: preâmbulo não é norma, logo não serve para declarar a inconstitucionalidade da EC.
Preâmbulo é diretriz hermenêutica. Auxilia na interpretação da Constituição. Ajuda a revelar o “espírito” da Constituição, ou seja, os valores que ela consagra.
Aplicação das Normas Constitucionais 
Existência, vigência, validade e eficácia
Existência: norma existente é aquela elaborada por autoridade aparentemente competente para a sua criação. Ex.: lei elaborada pela Câmara de Vereadores ou Congresso Nacional é norma existente, ainda que se possa posteriormente descobrir que aquela Casa Legislativa não tinha atribuição para tal matéria.
Vigência: é a inserção da norma no mundo jurídico. Entre a publicação da lei e sua entradaem vigor, há a “vacatio legis”. Quanto maior a complexidade da lei, maior deve ser seu período de vacatio. O NCC teve grande vacatio.
Validade: uma norma é válida quando produzida de acordo com a forma e o conteúdo estabelecidos por uma norma superior. Há comparação entre a Constituição e essa lei.
Eficácia (sentido de eficácia jurídica): é a aptidão da norma para produzir os efeitos que lhe são próprios.
Efetividade (ou eficácia social): quando a norma cumpre a função social para a qual foi criada. No dizer popular, é a “lei que pegou”.
Classificação das normas constitucionais
As normas constitucionais, segundo José Afonso da Silva, podem ser classificadas em normas constitucionais de eficácia (todas têm eficácia, em maior ou menor grau):
Plena: é norma que possui aplicabilidade. A rigor, então o critério de classificação não é de eficácia, mas sim de aplicabilidade. Plena é a norma que tem aplicabilidade direta, imediata e integral.
Direta: não há necessidade de outra vontade ou ato. 
Imediata: não depende de qualquer condição (condição temporal, por exemplo).
Integral: é aplicada integralmente às hipóteses por ela previstas, não podendo sofrer qualquer tipo de restrição infraconstitucional.
Exemplos: normas que estabelecem proibições (art. 145, § 2º), vedações (art. 19), isenções (CF, 184, § 5º) e imunidades (CF, art. 53).
Contida: assemelha-se à norma de eficácia plena, e não à de eficácia limitada. Maria Helena Diniz e Michel Temer chamam de norma de eficácia redutível ou restringível. Tem aplicabilidade direta, imediata e possivelmente não integral. Existe a possibilidade de sofrer restrição. A restrição pode ser de várias formas, a mais comum é a feita por lei infraconstitucional. Ex.: art. 5º, XIII, da CF. Corretor de imóveis, por exemplo, deixou ser atividade livre, passando-se a exigir curso e inscrição no órgão de classe.
CF, art. 5º, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
CF, art. 9º, § 1º é outro exemplo de norma de eficácia contida.
CF, Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Direito de greve dos servidores públicos (CF, art. 37, VII) depende da edição de lei. Logo, não é auto-aplicável, é norma de eficácia limitada.
CF, art. 37, VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica; 
Limitada: tem aplicabilidade indireta, mediata.
Indireta: sempre depende de outra vontade (lei, por exemplo). 
Mediata: depende de uma condição (condição temporal ou existência de edição de outro ato).
Exemplo: direito de greve de servidor público. CF, art. 37, VII.
Princípio institutivo: é aquela norma de eficácia limitada que depende de outro ato para dar forma ou estrutura a instituições criadas pela Constituição. Exemplo: ADPF – CF, art. 102, § 1º. Lei 9.882/99.
Normas impositivas: impõe ao Poder Público a regulamentação do dispositivo constitucional. Ex.: direito de greve do servidor público. CF, art. 37, VII. Havendo omissão do legislador, é cabível a utilização de Mandado de Injunção ou ADI por omissão.
Normas facultativas ou permissivas: é mera possibilidade dada pela Constituição. Não gera omissão inconstitucional. Exemplo: CF, art.154, I – Competência residual para criação de impostos. 
Princípio programático: as normas de princípio programático são aquelas que estabelecem um programa de ação, o qual deverá ser desenvolvido pelos Poderes Públicos. Ex.: CF, art. 3º (“construir uma sociedade, livre, justa e solidária...”). Estabelecem obrigações de resultado, e não obrigações de meio.
Maria Helena Diniz fala, ainda, em normas de eficácia absoluta ou super-eficazes. Estas tem a mesma aplicabilidade das normas de eficácia plena (direta, imediata e integral), mas não podem sofrer restrição sequer por emenda constitucional. JAS critica a classificação dizendo que este critério é o da mutabilidade, e não o da aplicabilidade. Estas normas seriam aquelas protegidas pelas cláusulas pétreas.
Auto-aplicáveis, auto-executáveis (Rui Barbosa) ou bastante em si (Pontes de Miranda).
Não auto-executável, não auto-aplicável, não bastante em si.
Normas de eficácia exaurida ou esvaída: são as normas que tinham eficácia, mas esta já foi exaurida. São as normas do ADCT. Ex.: ar. 3º do ADCT – revisão constitucional realizada 5 anos após a promulgação da CF.
Normas constitucionais no tempo
Com o advento de nova Constituição, podem ocorrer vários fenômenos, conforme segue.
Revogação
Pode ser:
Expressa:
Tácita: 
Incompatibilidade: quando a nova norma é incompatível com a antiga.
Normação geral: quando a nova norma regula inteiramente a matéria tratada pela lei anterior.
Total ou ab-rogação:
Parcial ou derrogação:
A nova Constituição revoga toda a Constituição anterior, em razão da normação geral, independentemente da análise de incompatibilidade dos dispositivos novos com os antigos.
Teoria da desconstitucionalização
Parte da tese desenvolvida por Esmein, na linha teórica do Carl Schmitt. Parte da concepção política da Constituição. Para Carl Schmitt, Constituição é apenas aquilo que decorre de uma decisão política fundamental. Todos os demais dispositivos integrantes do corpo da Constituição, são apenas leis constitucionais.
Assim, segundo Esmein, quando surge uma nova constituição, ocorrem dois fenômenos. A parte que trata da matéria constitucional propriamente dita é inteiramente revogada. A outra parte, a das normas formalmente constitucionais, não é revogada automaticamente. Ao revés, se não for incompatível, é recepcionada pela nova ordem constitucional.
Esta tese explorada por Esmein, na linha teórica de Carl Schmitt, sustenta que quando do surgimento de uma nova Constituição dois fenômenos podem ocorrer:
A constituição propriamente dita é inteiramente revogada.
As leis constitucionais materialmente compatíveis serão recepcionadas com status norma infraconstitucional. CF, 242, § 2º, que estabelece que o Colégio Pedro II se manterá na esfera federal, poderia ser recepcionada por eventual nova Constituição, como lei ordinária.
Esta teoria não é admitida no Brasil. No Brasil, a Constituição pretérita é inteiramente revogada (revogação por normação geral).
Recepção
Quando do surgimento de uma nova Constituição, as normas infraconstitucionais anteriores que forem materialmente compatíveis serão recepcionadas, as demais serão revogadas (entendimento do STF). No rigor, seria não-recepção, jamais revogação.
A incompatibilidade formal superveniente não impede a recepção, mas faz com que o ato adquira uma nova roupagem (status). Exemplo disso são os códigos penal e de processo penal (decretos-lei, que foram recepcionados como leis ordinárias) e o Código Tributário Nacional (Lei 5.172/66, que foi recepcionada como Lei Complementar).
Repristinação
Está prevista no art. 2º, § 3º, da LICC. É admitida, desde que seja expressa. Ocorre quando uma lei revogada volta a ter vigência, pela revogação da lei revogadora. 
No Direito Constitucional, o fundamento não está na LICC, que é lei infraconstitucional, mas nos princípios da Segurança Jurídica e da Estabilidade das Relações Sociais.
Efeito repristinatório tácito
Para alguns, é tido como repristinação (tácita). Duas hipóteses: 
Medida cautelar em ADI ou ADC (Lei 9.868/99, art. 11, § 2º): Na ADI e ADC, a medida cautelar suspendendo a lei revogadora torna automaticamente aplicável a lei anterior (revogada), salvo determinação em contrário e expresso do STF.
Julgamento de mérito em ADI ou ADC: idem medida cautelar.
Mutação constitucional
Os autores referência são Laband (criou) e Jellinek (desenvolveu). Contrapor à idéia de reforma (processo formal). 
São processos informaisde alteração da Constituição, sem que haja modificação em seu texto. Estes processos informais são a interpretação e os costumes. Exemplo: mandado de injunção. STF adotava a corrente não-concretista (apenas dava ciência ao órgão competente). Recentemente, sem que tenha ocorrido alteração do texto constitucional, no julgamento do direito de greve do servidor público, STF adotou outra decisão. 
Constitucionalidade superveniente
Ato inconstitucional:
Nos EUA e para boa parte da doutrina brasileira é ato nulo. Posição do STF.
Para Kelsen, é anulável, pela presunção de constitucionalidade da lei. Logo, pode ser convalidado.
O STF, por considerar que a lei inconstitucional é um ato nulo, não admite a constitucionalidade superveniente. Ou seja, a constitucionalidade de ato normativo que originariamente era inconstitucional.
JRS: foi o que aconteceu com o alargamento da base de cálculo da COFINS, com lei editada em 1998. Em dezembro de 1998, foi editada a EC 20/98, “ajustando” a Constituição à lei.

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