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4 - Resumo do livro O Povo Brasileiro

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Resumo do livro O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro 
13/06/2011 16:47 
Fonte: (http://www.scribd.com/doc/13394383/A-Origem-Do-Povo-Brasileiro) 
Foi essa gente nossa, feita da carne de índios, alma de índios, de negros, de mulatos, que fundou 
esse país. Esse paisão formidável, a maior faixa de terra fértil do mundo, bombardeada pelo sol. 
 
A invasão do Brasil: A revolução mercantil em Portugal e Espanha estimularam à procura por novas terras, 
onde extraíssem matéria-prima e riquezas. Tal expansão recebeu o apoio da Igreja Católica (1454), que via aí a 
oportunidade de expandir o catolicismo, tarefa que Deus teria dado ao homem branco. Portugal e Espanha “gastaram 
gente aos milhões”, “acabaram com florestas, desmontam morros a procura de minerais (estima-se que foram 
levados para Europa 3 milhões de quilates de diamantes e mil toneladas de ouro), “só a classe dirigente permanece a 
mesma, predisposta a manter o povo gemendo e produzindo ”, não o que os povos colonizados querem ou precisam, 
mas o que eles impõem à massa trabalhadora, que nem mesmo participa da prosperidade. 
Para os índios aqueles homens brancos eram gente do Deus-Sol (o criador ou Maíra), mas esta visão se 
dissipa: “como o povo predileto sofre tantas privações?”, se referindo às doenças que os europeus lhe trouxeram –
coqueluche, tuberculose e sarampo, para as quais não tinham anticorpos. Assim, muitos índios fogem para dentro da 
mata e outros passam a conviver com os seus novos senhores. Outros, deitavam em suas redes e se deixavam 
morrer ali. Aos olhos dos índios, por que aqueles oriundos do mar precisavam acumular todas as coisas? Temiam 
que as florestas fossem acabar? Em troca lhes davam machados, canivetes, espelhos, tesouras, etc. Se uma tribo 
tinha uma ferramenta, a tribo do lado fazia uma guerra pra tomá-la. 
No ventre das mulheres indígenas começavam a surgir seres que não eram indígenas, meninas prenhadas 
pelos homens brancos – e meninos que sabiam que não eram índios... que não eram europeus. O europeu não 
aceitava como igual. O que eram? Brasilíndios, rejeitados pelo pai, europeu, filhos impuros desta terra, e pela mãe, 
índia. São também chamados de “mamelucos”, nome que os jesuítas deram aos árabes que tomavam crianças dos 
pais e as cuidavam em casa. Esses filhos das índias aprendem o nome das árvores, o nome dos bichos, dão 
nome a cada rio... Eles aprenderam, dominaram parcialmente uma sabedoria que os índios tinham composto em 
dez mil anos. Estes mamelucos eram caçadores de índios, para vender ou para serem seus escravos. 
Para os europeus, os índios eram pecadores, manipulados pelos feiticeiros e demônios, preguiçosos, 
inúteis e o hábito do canibalismo mostrava quanto eram selvagens. 
Somos um país racista, mas que respeita a identidade, pelo menos, à distância. Apesar da 
desproporção das contribuições, nenhuma etnia se autodefiniu como centro étnico. O conjunto é uno, uma 
etnia nacional, sem tensões entre raças, culturas e regiões. Há, sim, um brasileirismo arraigado: torcemos 
pela seleção tal como se houvesse uma guerra entre povos. 
O antropólogo classifica o brasileiro a partir de 3 tipos diferentes de mestiços: caboclos (pai branco e 
mãe índia), mulatos (pai branco e mãe negra) e curibocas (pais negros e índios). 
“A grande contribuição da cultura portuguesa aqui foi fazer o engenho de açúcar... movido por mão-deobra 
escrava. Por isso, começaram a trazer milhões de escravos da África. Metade morria na travessia, na brutalidade da 
chegada, de tristeza, mas milhões deles incorporaram-se ao Brasil”. O custo do tráfico de escravos nos 300 anos de 
escravidão foi de 160 milhões de libras-ouro, cerca de 50% do lucro obtido com a venda do ouro e do açúcar . Os 
escravos negros vinham para o Brasil e eram dispersados por esta terra, evitando que um mesmo povo (ou etnia) 
permanecesse unido. Embora, iguais na cor, falavam línguas diferentes, o que os força a aprender o português, o 
idioma do seu capataz. Em geral, aos 15 anos eram aprisionados como escravos, trocados por tabaco, aguardente e 
bugigangas, trabalhavam por 7 a 10 anos seguidos e morriam de cansaço físico. Sofria vigilância constante e punição 
atroz. Havia um castigo pedagógico preventivo, mas também mutilação de dedos, queimaduras, dentes quebrados, 
300 chicotadas para matar ou 50 por dia, para sobreviver. Se fugia, era marcado a ferro em brasa, cortado um 
tendão, tinha uma bola de ferro amarrada ao pé ou então, era queimado vivo. Eles fizeram este país, construíram ele 
inteiro e sempre foram tratados como se fossem o carvão que você joga na fornalha e quando você precisa mais 
compra outro”. 
“Todos nós somos carne da carne daqueles pretos e índios (torturados) e a mão possessa que os 
supliciou”... “A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida/ 
sofrida ”... Estima-se que em 3 séculos, o Brasil importou entre 4 a 13 milhões de africanos. Um em cada quatro, 
eram mulheres – “eram o luxo que se davam os senhores e os capatazes, as mucamas, que até se incorporavam à 
família (ex : Chica da Silva), como ama de leite. Chegavam a provocar ciúme nas senhoras brancas, que mandavam 
arrancar seus dentes. 
Em 1823, em uma revolta em Pernambuco, organizada por barbeiros, boticários, alfaiates, artesãos, 
ferradores, etc, armados de trabucos, uma “multidão de gente livre e pobre” cantava assim: “marinheiros 
(portugueses) e caiados (brancos). Todos devem se acabar, porque os pardos e o pretos, o país hão de habitar”. 
Quando da abolição, os negros saíam das fazendas, aliviados da brutalidade, dos castigos, à procura 
de terrenos para viverem e plantarem milho e mandioca, mas acabaram por cair na miséria, pois cada vez que 
se fixavam em um lugar, os fazendeiros se reuniam e os expulsavam, dizendo que toda a terra que existia já 
tinha dono. Após 1888, os abolidos, grupos de escravos famintos aceitavam trabalhar submissos às 
condições dos latifundiários (grandes proprietários de terras). Outros, seguiam para as cidades, ambiente 
menos hostil, para os já formados bairros africanos, onde encontrou negros já instalados e que viriam formar 
as futuras favelas. 
Pergunta Darcy Ribeiro: por que alguns povos, mesmo pobres na etapa colônia, progrediram 
aceleradamente, integrando-se à revolução industrial, enquanto outros se atrasam? Os povos transplantados 
como os norte-americanos que vieram da Inglaterra, já se encontravam prontos, (diferente) dos povos novos, 
que vão se construindo lentamente, como o Brasil, com a mistura de índios, negros e brancos. 
As classes sociais no Brasil lembram um funil invertido e não uma pirâmide, como em outros países. O 
Patronato, o Patriciado e o Estamento gerencial são as classes dominantes. O Patronato, empresários que exploram 
economicamente empregados, O Patriciado, tem poder de mando devido a seu cargo, como generais, deputados, 
bispos, líderes sindicais, O Estamento gerencial de empresas estrangeiras, tecnocratas competentes que controlam a 
mídia, forma a opinião pública, elege políticos. Abaixo desta cúpula, estão as classes intermediárias ou os “setores 
mais dinâmicos”, são propensas a prestar homenagem às classes dominantes, mantém a ordem vigente e são 
constituídas de pequenos oficiais, profissionais liberais, policiais, professores, baixo-clero, etc. A seguir, vem as 
classes “subalternas” ou “núcleo mais combativo”, composta por operários de fábricas, trabalhadores especializados, 
assalariados rurais, pequenos proprietários, arrendatários, etc. Preocupam-se em proteger o que conquistaram. 
Depois, há uma grande massa de oprimidos, o “componente majoritário” (que predomina), enxadeiros, bóias-frias-, 
empregadas domésticas, serviços de limpeza, pequenas prostitutas, biscateiros, delinqüentes, mendigos,etc, em 
geral, analfabetos. 
Para Darcy Ribeiro, os escravos de hoje são essas pessoas “subassalariados”, que infundem, com sua 
presença, “pavor e pânico” pela ameaça de insurreição (revolução) social e só são capazes de “explosões” de 
revolta, mas, em geral, aceitam seu destino de miséria, pois são incapazes de se organizarem politicamente, como 
em sindicatos. 
Houve um conflito entre os jesuítas e os mercadores que escravizavam os índios, como “gado humano”, 
quase um bicho: e da ameaça de extinção dos índios, jesuítas construíram missões onde poderiam ensinar o 
catolicismo. Para Darcy Ribeiro, as missões foram uma primeira experiência socialista. 
Com o desemprego na Europa, no século 19, vêm para cá 7 milhões de pessoas. Quando da chegada de 
outros povos imigrantes como italianos, alemães, japoneses, etc, a população brasileira já era numericamente 
maciça (quatorze milhões de brasileiros) e definida etnicamente quando absorveu a cultura e a raça dos imigrantes, 
diferente dos europeus que foram para a Argentina caíram em cima do povo argentino, paraguaio e uruguaio que 
haviam feito seus países, que eram oitocentos mil, e disso saiu um povo europeizado. 
Só não ocorreu secessão (fragmentação, independência dos estados) do Brasil, porque “em cada unidade 
regional, havia representações locais da mesma camada dirigente (classe social)”. “Tal é o Brasil de hoje, na etapa 
que atravessamos na luta pela existência. Já não há índios ameaçando seu destino. Também negros 
desafricanizados se integraram nela com um contingente diferenciado, mas que não aspira a nenhuma autonomia 
étnica. O próprio branco vai ficando cada vez mais moreno e até se orgulha disso” Pergunta Darcy Ribeiro: “Por que 
alguns povos, mesmo pobres na etapa Colonial, progrediram aceleradamente, integrando-se à revolução industrial, 
enquanto outros se atrasam?”. Sua explicação: os povos transplantados, como os norte americanos que vieram da 
Inglaterra, já se encontram prontos, mas, os povos novos, que vão se construindo mais lentamente, como o Brasil, 
com a mistura de índios, negros e brancos. ... Um aglomerado de índios e africanos, reunidos contra a vontade e a 
administração local, sob controle dos neo-brasileiros, filhos de europeus e índias ou negras, dependentes da 
metrópole (Portugal). Os três séculos de economia agrária no Brasil “moeram e fundiram as matrizes indígena, negra 
e européia em uma nova etnia” (p.261). O povo brasileiro tem “erupções de criatividade”: no culto a Iemanjá, que se 
cultuava no dia 2 de fevereiro na Bahia e 8 de março em São Paulo, no RJ, foi alterado para 31/dezembro. 
Temos a primeira santa que tem relações sexuais. Isso é uma coisa fantástica! Um povo que é capaz de 
inventar uma coisa destas! Nunca houve depois da Grécia! À Iemanjá não se pede a cura da Aids, mas um amante 
carinhoso ou que o marido não bata tanto. O negro guardou sobretudo sua espiritualidade, sua religiosidade, seu 
sentido musical. (O brasileiro é) um povo singular, capaz de fazer coisas, por exemplo, a beleza do Carnaval carioca, 
que é uma criação negra, a maior festa da Terra!. 
O antropólogo identificou nas regiões do Brasil 5 tipos de mestiços ainda existentes hoje: 
1. O Brasil Crioulo: representado pelos negros e mulatos na região dos engenhos de açúcar no nordeste 
brasileiro, nas terras de Massapé e no recôncavo baiano. Depois da abolição, o ex-escravo ganhava um pedaço de 
terra (fica como um agregado da fazenda, em terra dos outros) para produzir comida e comprar sal, panos e 
satisfazer necessidades mais elementares. No século 19, a roda d´água e a tração animal são substituídas pela 
máquina a vapor e os senhores de engenho são substituídos por empresas bancárias. Em 1963, com a ditadura 
militar, houve o retorno ao antigo poder dos senhores das fazendas (patronato), que reagiram ao projeto de 
pagamento de salário mínimo, através da elevação do preço do açúcar. 
2. O Brasil Caboclo: no século 19 e últimas décadas do séc. 20, foram para a Amazônia 500 mil nordestinos 
(fugindo da seca) para trabalhar com extração de látex (borracha) das seringueiras e, por isso, mais da metade dos 
caboclos que já viviam deste trabalho, foram desalojados para as cidades de Belém e Manaus, perdendo-se a 
sabedoria milenar de viver nas florestas que eles herdaram dos índios. Em cada seringal, os mestres ensinam a 
sangrar a árvore sem matá-la, colher o látex e depois defumá-lo em bolas de borracha. Em cada 10-15 km raramente 
se encontra 200 seringueiras. Percorre-se, ainda hoje, duas vezes por dia uma mesma estrada: de madrugada para 
sangrar as árvores e ajustar as tigelas ao tronco e na segunda vez, para vertê-las num galão que levará para o 
rancho. Depois, trabalha na tarefa de coagulação do látex. Além de coletor, dedicava-se à caça e à pesca e protegia-
se das flechas dos índios. Nos primeiros anos da presença dos portugueses na Amazônia, índios são escravizados 
para buscarem na mata as “drogas da mata”, as especiarias, os produtos que a floresta oferece, como cacau, cravo, 
canela, urucu, baunilha, açafrão, salsa parrilha, sementes, casacas, tubérculos, óleos e resinas - eles “foram o saber, 
o nervo e o músculo dessa sociedade parasitária”. E isto porque nenhum colonizador sobreviveria na mata sem 
esses índios que eram “seus olhos, mãos e pés”. 
Há também a extração de minérios como manganês, no Amapá, e Cassiterita, em Rondônia e na Amazônia, 
exploradas por uma multinacional americana – a Bethlehem Steel, cujo custo pago por ela é apenas aquele que ela 
gasta para extrair e transportar o minério. Militares alemães sugeriram a Hitler que a conquistasse, como importante 
ponto para a expansão germânica. Os Estados Unidos propuseram à ditadura militar brasileira o uso da Amazônia 
por 99 anos para estudos. 
3. O Brasil Sertanejo: No sertão encontra-se uma vegetação rara confinada de um lado pela floresta da 
costa do atlântico, pela Amazônia e ao sul pela zona da mata. Nas faixas de florestas, há palmeiras de buriti, 
carnaúba, babaçu, pastos raros e arbustos com troncos tortuosos devido a irregularidade das chuvas. A criação de 
gado nesta região fornece carne, couro e bois para serviço e transporte, animais trazidos de Cabo Verde, pelos 
portugueses, pertencendo inicialmente aos engenhos e depois a criadores especializados. Os vaqueiros naquela 
época davam conta do rebanho e como pagamento separavam 1 cabeça de gado para ele e três para o dono. 
O trabalho de pastoreio moldou o homem e o gado da região: ambos diminuíram de tamanho, tornando-se 
ossudos e secos de carne. Hoje, enquanto o gado cresce, alcançando ossatura mais ampla e recebe tratamento, o 
vaqueiro e sua família, não. Apesar das enormes somas de dinheiro que vem do governo federal, para ajudar os 
flagelados pela seca, são os “coronéis” (fazendeiros que monopolizam a terra) que se apropriam dos recursos, “mais 
comovido pela perda dos eu gado... do que pelo trabalhador sertanejo”. Estas somas de dinheiro vão para a 
construção de estradas e para açudes para o gado passar e beber água. Os sertanejos permanecem itinerantes, pois 
vivendo por dez anos em uma propriedade, eles teriam direito a ela, mas dependeriam de um registro no cartório, 
que fica distante e caro. Em contraste, políticos estaduais concedem facilmente milhões de terras a donos que nunca 
as viram e que um dia desalojam sertanejos que viviam nelas (isto chama-se “grilhagem”). 
Diante de tanta miséria, o sertanejo que vive isolado no interior (diferente do que vive no litoral), tem uma 
visão fatalista e conservadora sobre sua vidaPeriodicamente, anunciavam a vinda do messias –diziam “o sertão vai 
virar mar e o mar vai virar sertão”. Um dos acontecimentos mais trágicos ocorreu em Canudos, sob a liderança de 
Antônio Conselheiro, um profetae reformador social, era visto pelos fazendeiros como subversivo, que poderia 
estimular a mão-de-obra a abandonar as fazendas e reivindicar a divisão das terras. 
Lá chegaram a 1000 casas. Outro fenômeno que surge no sertão é o cangaço: uma forma de banditismo, 
formado por jagunços, que surgiu nas fazendas. 
4. O Brasil Caipira: São os homens que dirigiam as bandeiras (exploração que adentrava ao interior do 
Brasil), e a população paulista (mamelucos). Cada um deles possuía uma indiada cativa para o cultivo da mandioca, 
feijão, milho, abóbora, tubérculos, tabaco, urucu, pimenta, caçadas e pesca. Lá só se falava a língua tupi. Dormiam 
em redes, usavam gamelas, porongos, peneiras como as que os índios usavam, além de armas, candeias de óleo. 
Consumiam rapadura e pinga. Cada família fiava e tecia algodão para as roupas de uso diário e para os camisolões e 
ceroulas, para os homens e blusas largas e saias compridas, para as mulheres. Andavam descalços, de chinelas ou 
de alpargatas. Não queriam apenas existir, como os índios, mas estabelecer vínculos mercantis externos e aspirar a 
se tornar uma camada dominante, adquirindo artigos de luxo e poder de influência e mando. Por um século e meio 
venderam mais de 300 mil índios para os engenhos de açúcar. 
As bandeiras serviam, também, mas para explorar ouro e diamantes. O padre Calógeras avalia que 1400 
toneladas de ouro e 3 milhões de quilates de diamantes foram levados do Brasil-Colônia. Do ouro extraído por 
Portugal quase todo foi para a Inglaterra, para pagar as suas importações, ouro que financiou a indústria inglesa. Um 
novo tipo social surgia: o garimpeiro, que explorava clandestinamente o diamante, monopólio de Portugal. 
Quando Monteiro Lobato (além do sítio do pica-pau amarelo) criou o personagem Jeca Tatu , o fez como um 
“piolho da terra”, uma praga incendiária que atiçava fogo à mata, destruindo as riquezas florestais para plantar 
roçados, uma caricatura do caipira, destacando a preguiça, a verminose e o desalento que o faz responder sempre: 
“não paga a pena” a qualquer proposta de trabalho que lhe faziam (ou entregava 50% da produção ao patrão ou 
trabalhava por conta própria, pagando pelo uso da terra, com 1/3 da colheita. Outra saída: ir para as cidades, 
marginalizando-se lá). O que Lobato fez foi descrever o caipira sob o ponto de vista de um intelectual e fazendeiro, 
diante da experiência amarga de encaixar os caipiras no seu “sistema”. O que Monteiro Lobato não viu foi o 
traumatismo cultural, o caipira marginalizado pelo despojo de suas terras, como um produto residual natural do 
latifúndio agroexportador. Somente mais tarde é que o escritor compreendeu e defendeu a reforma agrária. 
Outro tipo humano surgido foi o dos boias-frias que vivem em condições piores do que as que vivem os 
caipiras, cerca de 5 milhões de pessoas à espera da posse de terras em que possam trabalhar. Eles estão presentes 
mais nos canaviais do que nas fazendas de café, isto porque os cafezais precisam de muita gente apenas na 
derrubada da mata e nos 4 primeiros anos. Depois, só nas colheitas. 
5. O Brasil Sulino: Foi a expansão dos paulistas ocupando a região sul do Brasil, antes dominada pelos 
espanhóis, a causa que anexou esta região ao Brasil. No começo do século 18, paulistas e curitibanos vêm para cá, 
instalarem-se como criadores de cavalos e muares e recrutam os gaúchos para o trato do gado. Sobre os gaúchos 
(população de mestiços), estes surgem, segundo Darcy Ribeiro, dos filhos e filhas entre espanhóis e portugueses 
com as índias guaranis. Havia um dito popular: “esta indiada é toda gaúcha”. Dedicavam-se ao gado que se 
multiplicava naturalmente nas duas margens do rio da prata e que foram trazidos pelos jesuítas. 
Com o esgotamento das minas de ouro e diamante e a pouca procura por gado do Sul, foi introduzida aqui a 
técnica do charque, trazida pelos cearenses. Já a imagem do gaúcho montado em cavalo brioso, com bombacha, 
botas, sombreiro, pala vistosa, revolver, adaga, dinheiro na guaiaca, boleadeiras, lenço no pescoço, faixa na cintura e 
esporas chilenas, diz Darcy Ribeiro, ou é a imagem do patrão, fantasiado de homem do campo, ou é de alguém que 
integra algum clube urbano (centro nativista) e não passa de folclore. 
Já o “gaúcho novo”, será o peão empregado que cuida do gado, agora, mal pago, come menos e vive 
maltrapilho. Apesar disso, o peão de estância é um privilegiado em comparação com os biscateiros, os que vivem em 
terrenos baldios, os subocupados, que arranjam trabalhos esporadicamente, em tosquias ou esticar os arames, todos 
eles chamados de “gaúchos-a-pé”. Já os que vivem como autônomos rurais, lavram o terreno dos outros, pelo regime 
de “parceria”. 
Mas, não se pode dizer que o povo do Sul tivesse origem apenas paulista. Havia, também lavradores vindos 
das ilhas dos Açores em Portugal, que ocuparam a região litorânea, com lavoura: milho, mandioca, feijões, abóboras, 
etc, enquanto outros fugiram desta “caipirização” cultivando trigo, os gaúchos, nos campos da fronteira, com o 
pastoreio e os gringos, descendentes dos imigrantes europeus, viviam isolados do resto da sociedade, o que fez com 
que o governo brasileiro exigisse o ensino do idioma e os recrutasse os gringos para o exército. Com a distribuição 
legal de terras (sesmarias), em Rio grande, Pelotas, Viamão e missões, as invernadas se tornam estâncias e o 
estancieiro se faz “caudilho”, contra ataque dos castelhanos, acrescentando gado de outras bandas. Mais tarde, o 
estancieiro se tornará patrão, dono de matadouros e frigoríficos. Os imensos campos livres do passado, agora, são 
retângulos, todos com donos. Entre as instâncias há imensos corredores de aramados divisórios. 
As dores do parto: Nosso destino é nos unificarmos com todos os latino-americanos por nossa oposição 
comum ao mesmo antagonista, a América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na comunidade européia, 
a nação latino-americana sonhada por Bolívar. Hoje somos quinhentos milhões, amanhã seremos um bilhão, 
contingente suficiente para encarar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e neobritânicos. 
Somos povos novos ainda na luta para fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que nunca existiu 
antes. O Brasil é já a maior das nações neolatinas, com magnitude populacional e começa a sê-lo também por sua 
criatividade artística e cultural. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura civilização, para se fazer 
potência econômica, de progresso auto-sustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como 
uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma, mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque 
incorpora em si mais humanidade, mais generosa, porque aberta à convivência com todas as nações e todas as 
culturas e porque está assentada na mais bela e luminosa província da terra. 
 
 
 
 
Tabelas extraídas da obra “ O povo brasileiro ”, escrita por Darcy Ribeiro (1996) 
 
BRASIL 1500 - 1800 
 
 1 500 1 600 1 700 1 800 
“Brancos” do Brasil - 50 000 150 000 2 000 000 
Escravos - 30 000 150 000 1 500 000 
Índios “integrados” - 120 000 200 000 500 000 
Índios isolados 5 000 000 4 000 000 2 000 000 1 000 000 
Totais 5 000 000 4 200 000 2 500 000 5 000 000 
 
 
 
QUESTIONÁRIO: 
1) De que é feita essa “gente nossa”? 
2) Para os índios, aqueles homens brancos eram...? 
3) Aos olhos dos índios, por que os brancos precisavam acumular todas aquelas riquezas? 
4) No ventre das mulheres indígenas começavam a surgir...? O que eram? 
5) Como os europeus viam os índios? 
6) Para Darcy Ribeiro, somos um povo racista, mas... 
7) Quais os 3 tipos de mestiços que formaram o povo brasileiro? 
8) Qual era a sabedoria dos índios? 
9) Por queforam trazidos milhões de escravos da África? 
10)Quanto tempo viviam os escravos e que castigos sofriam? 
11)Quais os 2 destinos dos escravos libertos? 
12) Por que alguns povos progrediram tanto e o Brasil, não? 
13)Quais os povos que formaram o Rio Grande do Sul? . 
14)Quem eram os primeiros gaúchos? 
15)Qual é o nosso destino? 
 
 
Leia mais: http://professoresdechumanas.webnode.com.br/news/resumo-do-livro-o-povo-brasileiro-darcy-ribeiro/

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