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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 139 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Curso de PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. 140 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores MÓDULO III SUMÁRIO Pg. III. Introdução ao Desenvolvimento Humano na Segunda, Terceira Infância e Adolescência 4 13 Desenvolvimento Humano na Segunda e Terceira Infância 4 13.1 Desenvolvimento Físico: Crescimento e Mudanças Fisiológicas 5 13.2 Desenvolvimento Cognitivo: memória, linguagem, inteligência, pensamento 15 13.3 O Brincar na Segunda e Terceira Infância 21 13.4 Desenvolvimento Psicossocial: Relações com o EU, o outro, o meio ambiente 23 14 Desenvolvimento Humano na Adolescência 26 14.1 Etapas da Transformação: a puberdade 27 14.2 Fenômenos psicológicos, físicos e sociais da adolescência 28 14.3 Aspectos da Maturação Cognitiva 32 14.4 Aspectos Educacionais 33 14.5 Sexualidade 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37 GLOSSÁRIO 39 141 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores III. Introdução ao Desenvolvimento Humano na segunda, terceira infância e adolescência No terceiro módulo da apostila didática sobre Psicomotricidade e Desenvolvimento Humano, veremos os aspectos físicos, cognitivos, psicossociais, simbólicos, lúdicos e de gênero no desenvolvimento e aprendizagem de crianças na segunda e terceira infância, ou seja, entre os três e dez anos de idade. Estes estágios da infância se caracterizam como um período de grandes transformações psicológicas e afetivas, influenciando sensivelmente na formação da personalidade da criança. Época de ampliação de suas relações sociais, onde outrora era formada apenas por seus familiares diretos. A partir do convívio com ambientes pré-escolares e escolares entre outros grupos sociais que venha a participar, a criança passa a estabelecer novas regras de comportamento e conduta com outrem, com crianças de diferentes gêneros (sexo), desenvolvendo auto-regulação psicológica e formando sua identidade psíquica. Veremos também as transformações físicas, psicológicas, comportamentais decorrentes do período do desenvolvimento humano que se denomina adolescência. Esta se configura a segunda etapa do desenvolvimento humano em que mais fenômenos fisiológicos e psicossociais ocorrem, definindo-se como estágio de grande transição da vida humana. 13 Desenvolvimento Humano na Segunda e Terceira Infância Seguiremos nosso estudo sobre os ciclos da vida humana e seu desenvolvimento, lembrando que no módulo anterior (módulo dois), tratamos do desenvolvimento inicial do ser humano desde sua concepção até os três anos de idade, ou seja, até o final da primeira infância. A primeira infância caracteriza-se por ser uma fase de grandes descobertas e movimento exploratório da criança, de seu próprio corpo e de suas próprias sensações em relação ao meio que lhe cerca; assim configura-se como fase egocêntrica, conforme Piaget (1970, 1978) e Ajuriaguerra (1980), existindo também uma necessidade de expansão e fantasia, ou seja, do jogo simbólico no brincar. 142 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores No módulo três trataremos dos fenômenos físicos, psicológicos, sócio-emocionais decorrentes entre os três e seis anos de idade da criança (segunda infância), nos quais se desenvolvem o crescimento físico, a expressão emocional e os processos mentais superiores que Vygotskii (2001) denomina como pensamento, percepção, memória e atenção. Nesta fase existe, de forma visível, uma euforia em vivenciar tudo que a criança consiga ter acesso, permitindo-se toda experiência que o adulto não a impeça de experimentar, sem juízo de julgamento do que é nocivo à sua própria existência, embora não se encontre totalmente desligada da realidade objetiva. Desse modo, a criança é um ser observador e como declara Montessori (1949), é “mente absorvente”, reproduzindo tudo que vê, conforme a sua própria ótica no ambiente social do qual faz parte. A terceira infância, que ocorre entre os sete e dez anos de idade, é caracterizada pelo interesse na interação com outras pessoas e por ser uma fase em que a escola se constitui como espaço vital de desenvolvimento e aprendizagem. Estágio em que a criança busca e espera encontrar respostas para inúmeras perguntas (idade dos porquês), estando envolvida no processo de auto-socialização, autocrítica, desejo de independência, conhecimento de seu próprio corpo, esquema corporal, ritmo, simbolização e movimento. Dessa forma, descreveremos a seguir o desenvolvimento físico e seus aspectos fisiológicos referentes à segunda e terceira infância. 13.1 Desenvolvimento Físico: Crescimento e Mudanças Fisiológicas Durante a segunda infância as crianças gastam muita energia em suas atividades, portanto e geralmente, tornam-se mais compridas e magras. Seu gasto calórico não é igual ao de um adulto, pois seu “motor energético” não é somente a glicose como combustível de queima calórica, mas também, a fosfatocreatina (molécula energética que se concentra no músculo esquelético e que possibilita a atividade anaeróbica do indivíduo), responsável pela atividade física de curta duração (GUEDES; BARBANTI, 1995). Isto explica a grande energia que as crianças dessa faixa etária empregam em suas brincadeiras, sendo de alta intensidade e pouco tempo ou duração. Assim após o período de grande correria e pulos, elas ficam por um pequeno tempo, 143 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores paradas em algum lugar a observar as outras crianças que brincam (é seu período fisiológico de recuperação energética). FONTE: www.photografos.com.br/galeria.asp Na segunda infância, a partir dos três anos, as estruturas físicas da criança deixam de ser tão arredondadas, os músculos começam a se alongar de acordo com o crescimento dos membros superiores (braços, antebraços e mãos) e membros inferiores (coxas, pernas e pés), os músculos abdominais também se alongam tornando a barriga menos protuberante, o tórax fica mais comprido. A cabeça ainda é ligeiramente grande em relação ao resto do corpo, contudo o corpo vai tomando uma medida proporcional e mais próxima à estética do adulto (PAPALIA; OLDS, 2000). Os meninos sempre apresentam uma estatura ligeiramente aumentada em relação às meninas, entretanto este é um fator que depende muito de influências hereditárias, de descendência étnica, da atividade física que a criança desenvolve, de sua alimentação entre outros estímulos. Ainda quanto ao gênero (sexo), existem muitas transformações que começam a se acelerar nesta fase a cerca do crescimento e desenvolvimento físico como: peso corporal, o dos meninos é ligeiramente maior que das meninas, sendo que o peso dos meninos normalmente refere-se à constituição muscular e o das meninas, deve-se ao tecido adiposo. Mas ambos os sexos irão crescer em média cerca de 5 a 7,5cm e ganhar 1,8 a 2,7 kg durante todo o período da segunda infância (PAPALIA; OLDS, 2000). E esse crescimento evolui progressivamente tornando as crianças mais fortes, por que as 144 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores cartilagens ósseas vão se transformando em ossos em um movimento mais acelerado do que na primeira infância. FONTE: www.photografos.com.br/galeria.asp A dentição infantil está completa ao iniciar a fase da segunda infância, com todos os dentes de leite ou deciduais (primeira dentição) e ao se aproximar os seis anos de idade, os dentes permanentes começam a se preparar para substituir os de leite. Para que esse processo ocorra de forma saudável, é necessário que os responsáveis pela alimentação da criança tenham certos cuidados importantes no balanceamento de sua dieta como: oferecer alimentos nutritivos a base de proteínas (dois copos de leite, proteína animal – bovina magra, aves, peixes, ovos, queijo), de vitamina A (cenoura, espinafre, gema do ovo), de vitamina C (frutas cítricas, tomate e vegetais em folhas), de cálcio que é essencial ao desenvolvimento ósseo (laticínios, brócolis e salmão) e de minerais (que são encontrados em nozes, amêndoas, castanhas, frutos de diversas cores). Além do desenvolvimento ósseo e dentário, a nutrição é vital para o desenvolvimento global da pessoa, de todo o sistema nervoso, circulatório, tecidual e funcionamento correto dos órgãos digestivos. Para tanto, os alimentos são classificados em construtores (leite, feijão, peixe, queijo, ovos, carne e frango), energéticos (carboidratos, glicídios ou açúcares, ou seja, destinados a gerar calorias quando 145 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores queimados pelo organismo principalmente para a atividade física) e os reguladores, que são as frutas, verduras, legumes e fibras. Estabelecemos, assim, que os alimentos ricos em proteínas constroem o organismo, enquanto as gorduras e carboidratos são os combustíveis, fontes de calor e energia; além da importante função das fibras encontradas nas frutas, verduras e cereais, ao regular e equilibrar o todo o sistema digestivo. Para uma alimentação saudável é preciso equilibrar em uma mesma refeição (figura A) a proporção energética de 60% de carboidratos, 30% de gorduras (vegetais preferencialmente) e os restantes 10%, em proteínas, além de muita água que é fundamental contra a desidratação infantil (FAGIOLI; NASSER, 2006). Figura A FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) Durante a segunda infância as crianças realizam grandes progressos em relação às habilidades psicomotoras (coordenação motora ampla e fina ou praxias, equilíbrio, lateralidade, esquema corporal, tonicidade, noção de corpo, estrutura espaço-temporal)1. No final do segundo ano de vida da criança (primeira infância), os jogos de imitação são extremamente relevantes para o desenvolvimento da função de ajustamento, o que significa a passagem do “ensaio-erro” ao mecanismo de consciência por insight, que Piaget (1970) chama de “interiorização de esquemas”, pelo qual ele não diferencia representação mental de uma praxia (ato motor com fim determinado). Já na segunda infância, essa função de ajustamento referida torna-se cada vez mais percebida pela 1 Todas as habilidades já foram estudadas no módulo 1 como fatores psicomotores. 146 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores criança mediante a tomada de consciência sobre seus próprios movimentos exploratórios (TUBELO, 2004). Na verdade, existe um jogo entre o ato motor e o ato mental que origina uma acomodação. A criança põe em jogo os esquemas que já conhece (as vivências que já tem) para a assimilação da nova experiência, o que provoca novas praxias. Exemplificando, pensemos em uma criança de três anos quicando uma bola. Seus movimentos são muito amplos, o que a leva a perder o controle da bola. Com a insistência do exercício exploratório, a criança interioriza suas percepções sobre o fenômeno, assimila e acomoda seu corpo e seus gestos à conduta necessária para que consiga controlar a bola e seu movimento, ajusta sua postura corporal e seus gestos em relação ao seu próprio corpo, ao objeto e ao chão. Dessa forma, seus movimentos diminuem em amplitude e seu corpo, em relação ao objeto, toma atitudes quanto à noção espaço-temporal e rítmica necessária para a execução da atividade. Foto de arquivo pedagógico (PINTO, 2002) Todo esse crescimento em desempenho psicomotor é motivado pelo desejo de independência dos outros, testando suas possibilidades e limitações. A criança desenvolve cuidados pessoais com seu corpo e demonstra função simbólica quando imita condutas cotidianas dos adultos e outras crianças que com ela convivem. Le Boulch (1982) define que a função simbólica não é uma função psicomotora, mas ela tem suas raízes na atividade sensório-motora, pelo que está estreitamente ligada ao desenvolvimento psicomotor. Assim se denomina pela capacidade de usar símbolos ou representações mentais (palavras, números, imagens) atribuindo um significado. Simbolizar as coisas auxilia a criança a pensar sobre elas, determinar qualidades, identificar, conversar sobre as coisas sem que estas estejam presentes fisicamente. É o pensamento simbólico surgindo de forma consciente e possibilitando a entrada da criança 147 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores no universo do estágio pré-operacional de Piaget (1970), que é o período em que surgem as funções simbólicas e a linguagem falada lingüística. FONTE: arquivo de fotos Brinquedoteca “Brincando se aprende”, podem ser encontradas em www.abrinquedoteca.com.br Se a criança não tiver bem definidas e significadas as noções espaço-temporais, de lateralização e de esquema corporal, não compreenderá razões e proporções no ensino das ciências lógico-matemáticas na segunda infância, assim como volumes e formas para as crianças mais jovens. O conteúdo que abordamos até agora trata do limiar que existe entre o movimento e o pensamento infantil. Assim, vamos parar e refletir sobre este assunto. Vimos que a criança é movimento, ou seja, o significado da palavra criança é: ação de criar (origem grega). Portanto, o ser infantil é dotado de muita energia, produzindo a capacidade de estar sempre em movimento exploratório. A criança dificilmente se detém por mais de 20 a 30 minutos em uma atividade única, trocando rapidamente para outra que lhe desperta interesse ou inventando variações da mesma brincadeira. Toda essa ação criativa e exploratória faz parte do que chamamos anteriormente de função simbólica, pois a criança vivencia a experiência através de seu sistema psicomotor e sensorial (sentidos - olfato, audição, visão, gustação, tato). Vivenciando a ação, ela imagina, fantasia e representa simbolicamente essa ação, reproduzindo também outras ações vivenciadas e observadas por ela no seu meio social e este fenômeno denomina-se pensamento simbólico, que trata-se da primeira forma de pensamento humano durante seu desenvolvimento. Por isso Henri Wallon define que o ato motor e o ato mental são indissociáveis, acontecendo simultaneamente. 148 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Lembrando o conteúdo do primeiro módulo, o ser humano considerado normal, sente um estímulo através de seus sentidos (visão, audição, olfato, gustação, tato) e percebe, fazendo relação com vivências prévias gravadas em sua memória (processa a experiência), reconhece se o estímulo já é conhecido ou assimila fazendo associações com seu conhecimento anterior; finalmente transforma em ação motora e executa. A criança na segunda infância, então, passa por todo esse processo constantemente, executando o que referimos anteriormente como ajustamentos e acomodação. Ao executar uma ação, ela experimenta atitudes, realiza tomada de consciência sobre sua ação e promove ajustamentos para desenvolver uma melhoria em sua performance e por último, realiza uma acomodação de sua conduta na atividade (interiorização de esquemas). Mas ao repetir o exercício múltiplas vezes na intenção de atingir o melhor desempenho, este processo se repetirá inúmeras vezes. A criança coloca em teste suas próprias habilidades constantemente, mostrando que possui uma curiosidade quase científica sobre a capacidade e as habilidades de seu próprio corpo – é o verdadeiro ser a se descobrir e explorar o potencial existente em sua máquina criadora e fisiologicamente complexa. A este fenômeno é que Piaget (1970) chamou de passagem do “ensaio-erro” ao mecanismo de consciência por insight e que foi mencionado anteriormente. Ou seja, a criança no estágio da segunda infância (pré- operacional) torna-se muito mais sofisticada em uso do pensamento simbólico, entretanto não possui ainda capacidade de pensar logicamente sobre as coisas. Seu raciocínio é rápido e responde aos estímulos, mas dentro de sua perspectiva e visão sobre as coisas. O pensamento lógico e próximo do raciocínio considerado adequado ao universo adulto somente surgirá na terceira infância (em torno dos 9, 10 anos) quando entrará no estágio das operações concretas de Piaget. 149 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores FONTE: www.sxc.hu/photo/213226 (galeria pública) A terceira infância (6 a 10 anos) é fase do desenvolvimento humano também chamado por muitos de “anos escolares”, onde todas as competências começam a se desenvolver de uma forma mais refinada em todos os aspectos. Ao mesmo tempo, o corpo cresce numa velocidade vertiginosa, a qual põe em teste todas as habilidades físicas constantemente, pois, quando a criança conseguiu alcançar um estágio satisfatório, seus membros inferiores (coxas, pernas e pés) e superiores (braços, antebraços e mãos) tornam a crescer mais um pouco. Deste modo, as habilidades passam por constantes reajustes, tomadas de consciência e acomodação da nova aprendizagem. Durante este estágio, o comportamento social também sofre alterações, começam pelos interesses físicos em jogos mais esportivos e menos recreativos, pela interação com crianças de outro gênero (sexo). Fisicamente, tornam-se crianças mais altas e esbeltas, mais próximas da estética adulta. Nesta fase do desenvolvimento humano, as crianças crescem em média de 2,5 a 7,6cm por ano e ganham cerca de 2,2 a 3,6 kg (dados de medida estatística padrão e não conforme comportamento cultural de um determinado local ou país). No final da terceira infância (10 a 12 anos), acontece um surto de crescimento, fazendo com que as meninas ganhem em torno de 4,5 kg por ano, tornando-as mais altas e pesadas que os meninos, aparentemente. Algumas, por força da hereditariedade, iniciam precocemente sua transformação corporal devido ao advento da primeira menstruação, ocasionando grandes mudanças hormonais, aumentando o tecido 150 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores adiposo e modificando sua silhueta que lhe tornará mais feminina e parecida com o corpo de mulher adulta. Os meninos, por volta dos 12 e 13 anos, começam a se tornar mais altos e robustos que as meninas. Nesta fase as taxas de crescimento e peso entre meninos e meninas variam muito, pois dependem de inúmeros fatores já citados como, genética, etnia, fatores culturais, comportamentais, nutrição, atividade física. A alimentação deve respeitar as normas e dieta anteriormente citada, mas a ingesta diária deve tornar-se maior, com uma média diária de 2.400 calorias conforme o tipo de gasto energético que a criança possui. Se ela for sedentária, sua dieta pode ser reduzida para 2.000 calorias (FAGIOLI; NASSER, 2006). Os dentes de leite são substituídos pelos permanentes como já foi referido, no início da terceira infância (em torno dos seis anos de idade) e esse processo acontece com uma troca de aproximadamente quatro dentes por ano, durante os cinco anos que se seguem da seguinte forma (WAES, 2002): Primeiros molares – em torno do seis anos e não precede a perda de dentes de leite, pois ocupa um espaço vazio na alçada dentária (servem para moer os alimentos); Segundos molares – por volta dos doze anos; Incisivos centrais e laterais inferiores – rompem entre os seis e sete anos (servem para cortar os alimentos); Incisivos centrais e laterais superiores – em torno dos oito anos; Primeiros pré-molares e caninos inferiores – por volta dos dez anos (pré-molares servem para triturar a alimentação e caninos, rasgam o alimento); Segundos pré-molares e caninos superiores – em torno dos onze anos; Terceiros molares (dentes do siso) – por volta dos dezessete a vinte anos e são dentes com tendências a desaparecer com a evolução do ser humano assim como o órgão apêndice do sistema digestivo. Portanto, de vinte dentes na primeira dentição (dentes deciduais ou de leite), o indivíduo passa a ter trinta e dois dentes após a troca completa para dentes permanentes. É necessário cuidar muito bem da higiene oral e dentária durante a primeira dentição para que não prejudiquem a troca e formação dos dentes permanentes. 151 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores INCISIVOS CANINOS PRÉ-MOLARES MOLARES Fonte: WAES (2002) O desenvolvimento psicomotor da criança no período na terceira infância é aprimorado a cada novo exercício que pratica. O brincar físico está muito presente na atividade psicomotora, pois gostam de pular fingindo que são Tarzan ou Homem-aranha, correm e disputam corridas como se fossem atletas ou brincam de faz-de-conta. São capazes de pular em pequenos quadrados e manter o equilíbrio em um pé apenas; as meninas possuem melhor precisão nos movimentos e os meninos se destacam em atividades que exigem força. Sua capacidade visomotora (coordenação olho-mão, olho- pé) cresce, uma vez que desenvolvem atividades com bola com grande freqüência (futebol, peteca, jogos de raquete, handebol, nylcon, etc.). Esta é a época das operações concretas segundo Piaget (1970), ou seja, são capazes de usar o raciocínio lógico para resolver problemas reais, elaborando hipóteses e compreendendo o processo de reversibilidade nas operações matemáticas (sabem formular o resultado de um problema e possuem consciência do que gerou a solução); tornam-se capazes de realizar julgamentos morais e escolher situações que lhe parecem mais adequadas às suas necessidades. É também na terceira infância que aparece a capacidade de reconhecer uma relação entre dois objetos conhecendo-se o relacionamento entre cada um deles e um terceiro (inferência transitiva). Exemplo: Comparar A > B e B > C para concluir que A > C), conforme pode ser observado abaixo. A = 23 B = 12 C = 11 152 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores (23 > 12), (12 > 11) logo (23 > 11) Relação ou Seriação através de inferência transitiva com material dourado. Esta capacidade trará ao desenvolvimento cognitivo da criança um grande avanço e possibilitará a compreensão da aritmética que, consequentemente irá influenciar na noção espaço-temporal e na forma de calcular a distância entre os objetos intuitivamente, ou seja, ao lançar um objeto com intenção de acertar uma lata, a criança conseguirá racionalizar a distância entre os objetos e a força necessária para atingir o objeto por inferência transitiva. Isto acontece por que, novamente lembrando Henri Wallon, o ato motor é indissociável do ato mental, dessa forma, à medida que a criança adquire capacidades mais aprimoradas de raciocínio, seus movimentos serão, consequentemente, melhorados não somente pela execução do exercício, mas também, pela tomada de consciência e reflexão sobre o mesmo. 13.2 Desenvolvimento Cognitivo: memória, linguagem, inteligência e pensamento Vamos retornar a segunda infância, período em que acontece o estágio pré- operacional de Piaget, e relembrar que é uma época de importantes realizações cognitivas. Período em que surgem as funções simbólicas e a linguagem falada lingüística dotada de sentido (semântica) e sintaxe (estrutura da palavra) já referida a priori. A criança se percebe capaz de comunicações mais complexas, como pedir para uma outra pessoa que lhe alcance um objeto de seu desejo, utilizando recursos gestuais e verbais associados. Contudo, é também uma fase de muitas limitações, pois as crianças desta fase ainda carregam o egocentrismo e, assim, não estão ainda aptos a elaborar hipóteses sobre determinada situação. Dessa forma, elas concentram-se em apenas um lado do problema (chamado de centração por Piaget), construindo soluções ilógicas para a questão por não visualizarem outros aspectos da mesma. 153 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Outro fator limitante é a irreversibilidade, ou seja, a incapacidade de compreensão de que uma operação pode ter dois ou mais sentidos (adição é contrária à subtração, assim, um processo inverso um do outro, por exemplo). Isso faz com que a lógica não aconteça em seu pensamento: exemplificando, muitas vezes ocorre à criança uma preocupação com a cicatrização de um corte na pele, pois teme que este não feche, ou seja, não compreende que a pele possui (tecido epitelial) um mecanismo de cicatrização de uma lesão (corte, ralado) enquanto organismo vivo. Deve ser citada aqui, igualmente, a incompreensão a cerca do que é real e o que é aparência, pois o pensamento da criança está atrelado ao que “pensa que vê”, que é puramente simbólico, criativo ou é fruto de vivências emocionalmente memorizadas como ruins ou boas (PIAGET, 1978). Exemplificando: a criança observa a sombra de um gato na parede e fica com medo por pensar que esse gato é um animal enorme, provavelmente da dimensão de sua sombra. Essa percepção é totalmente simbólica e isenta de julgamento lógico, necessitando de orientação do adulto a respeito do que a criança vê e o que realmente é. O adulto deve mostrar que sua própria sombra dobra de tamanho quando seu corpo está na frente de uma determinada distância da luz, refletindo a sombra do corpo. E a forma como se explica uma situação deve ser a mais concreta e simplificada possível (de preferência palpável). FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) A inteligência da criança de 3 a 6 anos está diretamente interligada e relacionada às suas vivências corporais, a imagem de corpo que vai construindo e sua relação com o meio que habita e interage. O jogo simbólico acompanha essa fase na descoberta de sua própria identidade e organização do EU, auxiliando a estabelecer uma relação entre a 154 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores criança e a realidade, traduzida pela preocupação de imitar, o mais exatamente possível, a realidade. (LE BOULCH, 1982). Então, torna-se claro a presença do brincar na construção do conhecimento, da identidade, do pensamento e de outros tantos fatores que implicam na inteligência do ser humano em desenvolvimento. E aqui se faz necessário lembrar o que Vigotsky já definia, em sua teoria do desenvolvimento da inteligência: o conhecimento é construído socialmente, no âmbito das relações humanas. A criança nasce dotada apenas de funções psicológicas elementares, como os reflexos e a atenção involuntária, presentes em todos os animais mais desenvolvidos. Com o aprendizado cultural, entretanto, parte dessas funções básicas transformam-se em FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES sendo elas: a percepção, a atenção, a memória e o pensamento. A evolução intelectual é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro. A fim de explicar esse processo, Vigotsky (1998) desenvolveu o conceito de ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL, sendo esta a zona que separa a pessoa de um desenvolvimento que está próximo, mas ainda não foi alcançado. Ela é, então, a distância entre o nível de desenvolvimento real, que costuma ser gerada mediante a solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado por meio da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em cooperação com companheiros mais habilitados (VIGOTSKY, 1998). A zona de desenvolvimento proximal nos permite delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como também aquilo que está em processo de maturação, ou seja, até onde podemos estimulá-la e o que podemos conseguir de seu desempenho cognitivo. 155 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) Quanto à memória, Maria Montessori (1949) refere que somos capazes de lembrar apenas os acontecimentos que nos ocorrem após os três anos de idade, ou seja, normalmente não recordamos de situações vividas com dois anos ou anterior a essa idade, exceto aquelas que nos foram profundamente marcantes. Papalia e Olds (2000) também levantam esta questão explicando que a memória, antes dos três anos de idade, é uma memória de curta duração e sem consciência de tempo e lugar, esse fenômeno é chamado de amnésia infantil. Piaget (1970) e outros estudiosos do assunto sustentam que nos primeiros anos de vida, as primeiras experiências não são completamente armazenadas na memória. Isto provavelmente aconteça por que a criança, ser em formação, não consiga codificar as informações e construir significados. Como já dizia René Spitz (1978), a criança em tenra idade percebe sensações de prazer e de desprazer para sua sobrevivência no mundo, assim, vivências de sofrimento ou de extrema alegria parecem ser memorizadas com mais freqüência e lembradas por crianças de segunda, terceira infância e algumas vezes já na fase adulta. Na segunda infância as crianças normalmente lembram de coisas que lhes foram marcantes por que a memória ainda parece ser de curta duração. Contudo existe uma memória implícita, que codifica informações produzindo mudança comportamental sem que haja recordação intencional ou lembrança consciente, ou seja, são lembranças de coisas que a criança fazia quando era menor (como movimentos observados e imitados por ela), por exemplo, imitar o pai dirigindo o carro. No futuro, durante pesquisas realizadas, estas recordações apresentaram significados. 156 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Uma criança com seis anos diz: “Quando eu tinha dois anos pegava qualquer coisa redonda e fazia-de-conta que dirigia o carro do meu pai”. Existe ainda uma memória consciente chamada de memória explícita ou intencional (lembrança de fatos, eventos, nomes). Numerosas pesquisas realizadas sobre processos de memória dão sustentação à hipótese sócio-histórica de que eles estariam apoiados na vida social e real das pessoas, como ocorrem com todas as demais funções psicológicas superiores. Assim, as relações sociais que a criança mantém com seu meio e os estímulos que recebe do mesmo influenciam na construção de signos que desencadearão significados às lembranças. Na perspectiva vygotskiana, a utilização de marcas como ajudas mnemônicas (códigos, símbolos, gestos) faz com que a operação de memória vá além das dimensões biológicas do Sistema Nervoso Humano, permitindo a incorporação dos estímulos artificiais e culturalmente gerados que são os signos. Por isso a criança da terceira infância, isto é, que já se encontra em fase de escolarização possui uma memória mais eficaz no que diz respeito aos testes de memória que frequentemente os pesquisadores realizam. Por que ela já se encontra em profundo contato com o mundo dos signos (escritos, numéricos, geométricos, gestuais, verbais e não-verbais). Daí, então, pensemos na linguagem e em sua trajetória durante o início do desenvolvimento humano. Primeiro vem a linguagem não-verbal (o diálogo-tônico com a mãe), depois a linguagem receptiva ou compreensiva (aquela pela qual o bebê compreende a informação mas não sabe responder da mesma forma); somente então, aos dois anos, a criança inicia sua linguagem expressiva ou falada (sempre acompanhada dos gestos). Na fase pré-escolar (segunda infância), a criança inicia seu contato com a linguagem gráfica (os desenhos e rabiscos) e a linguagem escrita (letras e números), sendo esta formada de um conjunto de dois signos concordes: um sonoro e outro gráfico e, durante esta fase, a linguagem interior ainda é presente. Lembrando o módulo 2 desta apostila didática, a linguagem interior é aquela fala egocêntrica que a criança apresenta na primeira infância, onde ela verbaliza seus pensamentos. 157 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Na terceira infância, quando seu contato com os signos já foi internalizado, a criança já internalizou a linguagem interior, ou seja, ela pensa e pode ainda sussurrar para si mesmo uma resposta às suas questões, ou soltar um suspiro prazeroso ao encontrar a resposta. Nesta fase as crianças desenvolvem uma compreensão cada vez mais complexa da sintaxe (estrutura da palavra, frases e textos). Os erros de linguagem nesta faixa etária (entre os seis e dez anos) frequentemente estão associados a dificuldades de metacomunicação, ou seja, de compreensão das formas de comunicação (instrução) expressadas pelo outro. Esse conhecimento de como ocorre a comunicação aumenta a partir da terceira infância. Ex: uma criança de dez anos consegue interpretar melhor o que uma de cinco anos está expressando para explicar para outras também de pouca idade. FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) 158 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 13.3 O Brincar na Segunda e Terceira Infância Como já foi dito anteriormente (módulo dois), o brincar é um processo de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano, ou seja, um processo de educação, existindo várias formas do brincar, segundo pesquisadores; o brincar físico, cognitivo, social, egocêntrico, terapêutico, intelectual, entre outros. O brincar está presente na vida da criança desde o início de sua vida extra- uterina, quando ela manipula sua mão e brinca com ela, depois passa a brincar com tudo que se encontra próximo dela. Brinca com sua mãe, resmungando coisas e esperando respostas às suas provocações. Na primeira infância brinca com as possibilidades motoras de seu corpo, explorando espaço, limites e na segunda infância o brincar social surge como a grande oportunidade de conhecer o universo que se apresenta fora do seu núcleo familiar. Na pré-escola, o brincar deve ser o principal instrumento pedagógico a ser utilizado pela professora para a aquisição de conhecimento formal da criança. Ele deve estar presente em todas as ações e interações professor-aluno, aluno-aluno, entretanto, não é o que acontece frequentemente. As escolas possuem um tempo e espaço determinado para o brincar: a hora do recreio, a pracinha, a brinquedoteca. Esta, então, deveria nos temos atuais, ser um espaço obrigatório em todas as escolas de educação infantil e séries iniciais. Com a implantação da lei dos nove anos de Ensino Fundamental nas escolas brasileiras, a exigência de que o ano de pré-alfabetização seja administrado de forma que a linguagem infantil seja respeitada tornou-se uma preocupação maior ainda quanto ao espaço físico do brincar. Montessori (1949) contribui de forma importante, ela nos mostrou que o universo infantil necessita de espaço próprio, respeitando o tamanho da criança e suas necessidades de busca da independência. Quanto ao conteúdo formal da escrita, ela refere que os aspectos motores da escrita podem ser de fato, acoplados com o brinquedo infantil e que o escrever pode ser “cultivado” ao invés de “imposto”. Ela oferece uma abordagem motivante para o desenvolvimento da escrita. Da mesma forma que as crianças aprendem falar, elas podem muito bem aprender a ler e a escrever. Métodos naturais de ensino da leitura e da escrita, implicam operações 159 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores apropriadas sobre o meio ambiente das crianças. Elas devem sentir a necessidade do ler e escrever no seu brinquedo. Vigotsky (2001) defende que a escola deveria se preocupar em desenvolver a linguagem escrita e não a escrita das letras. Assim, mediante o brincar as crianças vão construindo seus próprios conceitos e absorvendo a cultura da leitura, escrita entre outras formas de linguagem implícitas neste processo. Na terceira infância, as crianças estão cada mais inseridas em grupos sociais, contudo o brincar permanece presente no seu contexto social de forma mais esportiva e competitiva. Na sala de aula é importante a presença de jogos no processo pedagógico, pois é um grande fator motivacional na construção de novos conhecimentos. Os valores sociais e morais são facilmente compreendidos e principalmente, construídos pela própria criança através de jogos a atividades lúdicas. As representações sociais e simbólicas são referências de que a criança reproduz modelos sociais, onde elas internalizam conceitos e transformam em suas próprias concepções do que é certo ou errado no mundo adulto. O brincar infantil representa a mais profunda forma de pensamento do ser humano (WINNICOTT, 1982). É nesta etapa de vida que se desenvolve a base do pensamento lógico, da auto-identificação cultural, do EU, do papel social, da comunicação com outrem e com o grupo a que se faz parte, a segurança. É onde se resolve os conflitos internos, onde os questionamentos são respondidos, onde as inabilidades transformam-se em habilidades. FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) 160 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 13.4 Desenvolvimento Psicossocial: Relações com o EU, o outro e o meio ambiente O autoconceito ou o “quem somos” parte de nossa auto-imagem. Para isso, estudos de Ajuriaguerra e Le Boulch nos mostram que, desde que nascemos, buscamos a formação deste autoconceito através da imagem de corpo que temos. Na etapa, que vai do zero aos três anos de idade, o bebê compreende a expressão do corpo em sua totalidade, as sensações exteriores ao seu corpo são recebidas através do contato afetivo-corporal-cinestésico com sua mãe, constituindo o primeiro núcleo de organização do EU, este é o período que Ajuriaguerra (1980) chama de corpo vivido. Próximo aos três anos, a criança descobre sua imagem no espelho que, a princípio, aparece como objeto estranho, liberando seu corpo imaginário ou imagens fantasmas (frutos da sua relação com o ambiente, que têm caráter emocional e que ficam armazenados no inconsciente). Aos poucos, a criança toma contato com o espelho, associando seus movimentos aos do objeto que o reflete e, assim, chega à descoberta rudimentar de seu próprio corpo como objeto, inicia-se, então, o período denominado de corpo percebido (na segunda infância). É o estágio da estruturação perceptiva do corpo que compreende o processo de organização do esquema corporal a partir da compreensão de que seu próprio corpo é um objeto que interage com outras pessoas, com os objetos e com o meio ambiente. FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) A criança, aos poucos, vai tomando consciência de seu corpo orientado pela dimensão de espaço e tempo, o que a leva a perceber que sua geometria lhe permite estender no espaço os eixos de seu corpo, servindo-lhe de eixos de coordenadas para o acesso ao espaço euclidiano (orientação de seu corpo em relação aos objetos), esta 161 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores percepção ocorre no período próximo à terceira infância. Esta evolução lhe permitirá explorar equilíbrio, dimensões verticais e horizontais lhe dando orientação do que é abaixo de seu corpo, acima, adiante, atrás, ao lado. Aí a criança estará apta à compreensão do que está a sua direita e a sua esquerda. Nesta fase, é necessária a existência de uma estável dominância lateral. Ainda na terceira infância, entre os oito e doze anos, quando a criança está ingressando no processo de escolarização formal, surge a imagem de corpo representado. Ela dispõe de uma “imagem de corpo operatório” pela qual exerce suas ações tanto sobre o meio externo quanto sobre seu corpo como instrumento de interação entre seu mundo interno e o externo. Suas funções cognitivas, contemporâneas da etapa de operações concretas, evoluirão de imagem corporal reprodutora para antecipadora, uma vez que sua disponibilidade já lhe permite ajustamentos motrizes à programação de modelos de pensamentos a partir da representação mental de ações, onde a função simbólica possui um papel fundamental entre a descoberta de sua própria identidade e organização do EU. Por volta dos nove anos, os jogos simbólicos começam a dar lugar aos jogos de regras, que demonstram uma necessidade instintiva do homem, como dos outros animais, de criar regras de convívio social, leis de acomodação dos espaços. Na etapa do corpo representado, a criança possui uma noção consciente de seu corpo em relação aos objetos circundantes e a outrem, no entanto as funções de interiorização e de ajustamento não cessam, uma vez que as percepções corporais e espaciais estão sempre se gerando a cada nova vivência. A evolução da disponibilidade corporal necessita, além da inteligência corporal, de um nível elevado de inteligência operatória e esta se desenvolve durante o período de escolarização formal. Assim, as relações com o meio e com os outros vão se modificando à medida que a criança desenvolve autoconceito e evolui na percepção de sua própria imagem. As relações interpessoais não saudáveis, como aquelas dotadas de comportamento agressivo são frutos de uma auto-imagem destorcida, marcada por vivências também compostas de agressões, medos, perturbações, refletindo assim em uma inter-relação com o meio repleta de conflitos (SCHILDER, 1994). 162 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Le Boulch (1982) considera o período que vai do zero aos doze anos, o período de construção da personalidade e da consciência corporal, parte mais importante de todo o desenvolvimento humano. Um bebê de seis meses e um menino de doze anos FONTE: imagem de arquivo familiar (www.samuelzinho.multiply.com) 163 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 14 Desenvolvimento Humano na Adolescência Como já foi referida anteriormente, a puberdade e adolescência caracterizam-se por ser o segundo período de grandes alterações físicas, psíquicas e sociais do ser humano. Esta etapa do desenvolvimento humano compreende quase uma década da vida do indivíduo, meninos ou meninas (entre 12, 13 aos 20 anos aproximadamente), dependendo, para cada um de fatores ambientais, genéticos, étnicos, entre outros (PAPALIA; OLDS, 2000). Por exemplo, uma menina de oito anos de repente tem sua primeira menarca enquanto brincava de andar de skate com seu primo da mesma idade. O que acontece a partir desse momento? A menina foi bem orientada pela mãe sobre o que é menstruação? O que será que passa pelos pensamentos de uma menina que brincava de boneca até agora e de uma hora para outra menstrua pela primeira vez? Ouve-se, frequentemente, em diálogos entre mães e filhas: “Filha, um dia você vai menstruar como sua mãe, então, já será uma mocinha!”. Com os meninos não é diferente, apesar de suas transformações não ocorrerem de forma tão visíveis como das meninas, eles passam por conflitos internos semelhantes, pois chega um determinado tempo em que não sabem se jogam bola com os meninos menores ou com os maiores. Alguns escolhem o prazer de dominar os menores, outros, escolhem a possibilidade de aprender com os maiores. Neste momento, iniciamos nossos estudos a cerca desta etapa tão complexa da vida humana, suas modificações físicas e fisiológicas, emocionais, sociais, sexuais e educacionais. FONTE: fotos gratuitas (www.sxc.hu/photo/807843) 164 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 14.1 Etapas da Transformação: a puberdade O período da adolescência se inicia com a puberdade ou pubescência, que se caracteriza pelo processo de maturação sexual, ou seja, é uma fase de transição da vida humana entre a infância e a vida adulta na qual surgem e se desenvolvem os caracteres secundários sexuais, início da fertilidade, o estirão do crescimento, fechamento das extremidades ósseas o que determinará a estatura final do indivíduo. Todos estes fenômenos são causados pela alteração hormonal provocada nos meninos principalmente pela testosterona e nas meninas, pelo estrogênio. Na menina, o aumento da produção hormonal, conforme Papalia e Olds (2000) provoca o aumento de tecido adiposo no corpo, tornando-o mais arredondado, o aparecimento do broto mamário que dará origem às mamas adultas, o surgimento de pêlos pubianos. No menino, os ombros ficam mais largos, o crescimento ósseo é mais forte que nas meninas, o que o torna um pouco “descoordenado” e com uma postura “fechada”, pois geralmente o menino deseja esconder seu tamanho, quando seu crescimento lhe parece repentino e constrangedor, uma vez que, psicologicamente, se sente ainda uma criança. O processo da puberdade dura em média quatro anos para ambos os sexos, iniciando dois ou três anos mais cedo para as meninas em relação aos meninos. Normalmente pode acontecer para as meninas precocemente a partir dos oito anos de idade e tardiamente durante os treze ou quatorze anos. Para os meninos, normalmente se dá início com doze anos, contudo pode acontecer de forma precoce entre os nove e dez anos de idade; tardiamente ocorre por volta dos dezesseis anos. O pubescente está sujeito a períodos de grandes conflitos psicológicos se não possuir atenção e orientação adequada de seus familiares ou ajuda profissional em casos especiais. A compreensão e o sentir-se seguro na família é de grande importância nesta fase da vida, porquanto, de um momento para o outro, a criança que existia passa a dar lugar a um pseudo-adulto. Pois se reconhece parecido com um adulto, mas possui consciência de que ainda não é. Referências sociais começam a ser observadas por esse adolescente, como a necessidade de inserir-se e fazer parte de um grupo social, onde se sinta protegido e identificado. 165 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 14.2 Fenômenos psicológicos, físicos e sociais da adolescência. Na adolescência os fenômenos físicos acarretam as transformações psicológicas e sociais da pessoa, como ocorreu durante as etapas anteriores do desenvolvimento humano, uma vez que a imagem de corpo novamente se altera e de forma ainda mais dramática. Os caracteres sexuais secundários, como já foram ditos, iniciam as transformações físicas quando a glândula pituitária (localizada na base do cérebro) envia informações para as glândulas sexuais, aumentando sua produção hormonal. Assim, além das transformações físicas anteriormente citadas em ambos os sexos, existem ainda para os meninos, alterações na voz tornando-se mais graves devido ao crescimento da laringe. Entretanto na puberdade, eles passam por um período em que a voz afina e engrossa repentinamente, sem que consigam controlar esse fenômeno; a textura da pele se modifica, perdendo aquela suavidade da pele de criança; desenvolvem-se muscularmente, a silhueta se torna mais triangular e alguns meninos apresentam a ginecomastia (aumento temporário dos seios) que permanece até aproximadamente os dezoito anos. Mas o principal fator que determina a maturação sexual dos meninos é a produção de espermatozóides (célula reprodutora masculina), suas gônadas (testículos) crescem, assim como o pênis. Aparecem as ejaculações involuntárias noturnas de sêmen (poluções noturnas), geralmente provocados por sonhos eróticos ou masturbação (estimulação dos órgãos genitais). Nas meninas, além dos seios, há o aumento de tamanho dos mamilos (aréola mamilar), bem como o aumento de tamanho dos quadris e genitais, mas a principal mudança e que evidencia a maturidade sexual é a primeira menarca ou menstruação (perda mensal de tecido do revestimento uterino), inicialmente, muito irregular. A menstruação pressupõe que a menina já é capaz de ovular e está pronta para conceber um filho. Contudo, não é bem assim que as coisas acontecem. É um período de maturação sexual, um processo contínuo e muito particular, onde a genética familiar, as condições de vida e saúde devem ser levadas em consideração. Uma menina pode levar alguns anos para que seu útero se torne maduro e possa engravidar. Muitos casos de 166 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores gravidez adolescente trazem riscos para a mãe e o bebê exatamente por causa destes fatores agora citados, além da situação em que a criança é concebida devendo ser sempre desejada e planejada. Psicologicamente, os adolescentes desejam não aparecer ou se destacar perante seu grupo, dessa forma, eles prefeririam que suas transformações fisiológicas acontecessem ao mesmo tempo em que seu grupo social de relacionamento na escola. Quando isto não acontece, sentem-se amedrontados, confusos, perturbados; desejam se esconder, não falam muito na sala de aula, alguns passam por um período de depressão e isolamento. Normalmente esse quadro ocorre quando a criança entra na puberdade precocemente tornando-se maior e muito diferente fisicamente de seus colegas escolares; ou quando o processo de maturação sexual acontece muito tardiamente ao seu grupo social. Por outro lado, existem aqueles adolescentes que, em seu comportamento, aparentam muita felicidade pela razão da chegada deste período de grandes mudanças. São aqueles jovens cuja auto-estima está em alta, aproveitando todas as vantagens que esta época da vida humana pode lhes proporcionar. Parecem jovens bem orientados e extrovertidos, que aceitam sua imagem corporal de forma favorável, gostam de esportes e de atividades em grupos. Contudo, o jovem adolescente preocupa-se muito com os padrões culturais, desejando estar adequado aos padrões estéticos de sua cultura e sociedade. Existem aqueles que, por motivos diversos, preferem tornar-se a antítese desses ditos padrões, inserindo-se socialmente em grupos que são vistos pela sociedade como personalidades rebeldes ou revoltadas com modelos pré-concebidos, a exemplo das tribos urbanas adolescentes: punks, góticos (darks), clubbers, mauricinhos (boys), patricinhas (patys), skaters, surfers, etc. São formadas por jovens que possuem as mesmas identificações sociais, gostos por vestuários, músicas, religião, partido político, etc. Possuem também uma linguagem própria que chamamos de gíria. 167 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Tribo de adolescentes com cabelo estilo Moicano e banda de música ao estilo Gótico FONTE: imagem de arquivo pedagógico (PINTO, 2002) Assim, até o momento, pudemos observar que o adolescente é um ser fortemente influenciável pela cultura e que valoriza a estética corporal, mesmo por que sua própria fisiologia trata de lembrá-lo a todo instante que ele é um ser em mutação. E é aí que reside um dos maiores perigos da adolescência, os modismos e os falsos padrões de estética. Principalmente a menina está propensa a sucumbir aos apelos do modismo e da cultura quanto às preocupações com sua aparência corporal. A bulemia e a anorexia são transtornos alimentares muito comuns enfrentados por adolescentes nos tempos atuais. Com medo de parecerem gordas ou até mesmo obesas, as meninas se submetem a dietas radicais que em alguns casos torna-se uma obsessão causada por uma imagem corporal distorcida. A primeira patologia referida (bulemia) caracteriza-se por uma gula compulsiva, angústia por comer tudo que gosta e depois sentir uma culpa que leva a menina a provocar o vômito, expelindo o que comeu para se livrar da culpa. A segunda patologia (anorexia nervosa) decorre da distorção de auto-imagem, levando a adolescente a cumprir dietas de fome e a se observar no espelho, acreditando que continua gorda. As meninas que sofrem de anorexia chegam a pesar 85% menos do que o peso ideal para sua idade e estatura. Estes tipos de distúrbios necessitam de auxílio especializado, psicológico, clínico e nutricional, ressalta Fagioli e Nasser (2006). 168 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) Outro fenômeno comportamental que normalmente passa a ser patológico é o uso de drogas e álcool pelo adolescente. O jovem quer experimentar de tudo e com grande intensidade, por isso muitas vezes, sem possuir um julgamento moral e racional sobre seus atos, acaba por levar sua própria vida e de quem com ele convive, a riscos que podem ser fatais. É necessário que a adolescência seja compreendida como a época das grandes transformações que é. Deve ser acolhida pelos pais e orientada sem punição, mas com muito amor, pois o adolescente necessita ser amado e aceito num período em que ele mesmo passa por dificuldades quanto à auto-aceitação e auto-estima. FONTE: arquivo pedagógico (PINTO, 2002) 169 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 14.3 Aspectos da Maturação Cognitiva O corpo se transformou, deixando o aspecto infantil para se tornar um corpo jovem e semelhante ao corpo do adulto. Entretanto, o pensamento e as capacidades cognitivas também continuaram a se desenvolver, o estágio agora é das operações formais de Piaget (1970). É o nível mais alto do desenvolvimento cognitivo, quando são capazes de desenvolver pensamento abstrato e raciocínio-hipotético-dedutivo. Ou seja, pode desenvolver hipóteses, realizar testagem, imaginando possibilidades e eliminar as falsas para chegar à resposta verdadeira. O adolescente é plenamente capaz de questionar e resolver problemas, planejar uma carreira profissional, formular teorias e se emocionar com algo, mas mesmo assim manter-se lúcido para racionalizar logicamente um problema. Contudo, existe um fator de imaturidade ainda presente no jovem adolescente, ligado às emoções, um grau de instabilidade emocional que interage com a pouca experiência no campo do pensamento abstrato levando-o a situações típicas do comportamento juvenil como (PAPALIA; OLDS, 2000): tendências a discutir com os mais velhos principalmente; dificuldade em tomada de decisões sobre coisas simples; autoconsciência de que seus julgamentos morais estão errados em relação ao julgamento adulto, contudo não volta atrás em sua conduta; suposição de invulnerabilidade, ou seja, o pensamento de que as coisas consideradas perigosas ou ruins somente acontecem com os outros, nunca com ele mesmo. O respeito é o sentimento fundamental que possibilita a aquisição das noções morais. O respeito unilateral implica na desigualdade entre aquele que respeita e aquele que é respeitado. O respeito mútuo possibilita que os indivíduos considerem-se iguais e respeitem-se mutuamente. Este é o fator de dificuldade para o jovem que não construiu respeito por si mesmo, uma vez que não conseguirá realizar o mesmo pelo outro. O julgamento moral nasce do respeito às regras sociais, que partem consequentemente de uma educação moral iniciada no núcleo familiar. O julgamento moral também parte do senso de justiça, segundo Lawrence Kohlberg apud Papalia e Olds (2000), que também tem introduzido seu conceito e aprendizado no seio da família 170 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores ou grupo no qual a criança se desenvolveu chegando à fase da adolescência definindo como referência. 14.4 Aspectos Educacionais A escola costuma ser o centro de organização e de relacionamentos interpessoais dos adolescentes. Nos dias de hoje, este tem sido um compromisso cada vez mais levado a sério pelo jovem, uma vez que representa oportunidades futuras e muitas vezes imediatas de profissionalização, emprego, independência e auto- sustentabilidade. Entretanto, não esqueçamos que esta, a adolescência, é uma época de grandes transformações onde o foco de interesse muitas vezes muda de rumo. Sendo esta uma fase de grandes descobertas sexuais e de novos desejos, o estudo e responsabilidades com a educação formal podem passar para um plano secundário na vida de alguns adolescentes. Apesar dessa consciência social sobre a importância da escolaridade para o futuro cidadão, existe ainda um número muito alto de evasão escolar nas séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na busca por oportunidades imediatas no mercado de trabalho resultante de necessidades urgentes de sobrevivência, esses jovens mergulham no mundo trabalhista sem preparo técnico para tal e sem vislumbrar futuro em suas carreiras, uma vez que a maioria das profissões exige Ensino Médio completo como qualificação e ascensão profissional, além de proporcionar uma remuneração muito baixa. Dessa forma, a escola deve voltar seu olhar observador para a mudança comportamental evidente do adolescente, suas razões e necessidades e gerar uma linguagem de comunicação com o jovem na qual ele se sinta compreendido e envolvido. A educação deve ser direcionada aos interesses juvenis desde as séries finais do Ensino Fundamental até o final do Ensino Médio, buscando proporcionar atividades que venham ao encontro da vontade e da motivação do jovem e de suas necessidades futuras. 171 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores FONTE: imagem pública (www.sxc.hu) A escola deve se preocupar igualmente com a educação moral, ética e sexual desses jovens, bem como a orientação vocacional, procurando formar futuros adultos centrados e definidos em suas qualidades e atribuições profissionais, no intuito de auxiliar o progresso da sociedade do novo milênio. Lembrando Jacques Delors (2002) em seu relatório da Comissão Internacional de Educação para Século XXI formulado para a UNESCO, a educação em todos os seus planos, seja cognitivo, físico, psicossocial, afetivo, moral e ético deve priorizar os quatro pilares educacionais: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a aprender e aprender a conviver em sociedade para que a humanidade realmente tenha futuro. 14.5 Sexualidade Estudaremos agora o componente mais complexo e o motor primário de todas as mudanças comportamentais, psicológicas, emocionais e sociais do adolescente. O corpo do jovem se transforma vertiginosamente e ele sente a flor da pele essas transformações que lhe provocam sensações com as quais ainda não sabe lidar. E para que saiba lidar, necessita de experiências e orientações. Dentro de todo esse processo fisiológico, existe uma pergunta latente que perturba o jovem: Quem sou eu realmente e o que faço aqui? A busca de identidade e de identificação é algo que pulsa permanentemente durante o adolescer. Dar sentido e significado à sua existência, pensando no que lhe faz sentir-se vivo e produtivo dentro da sociedade da qual faz parte. Descobrir qual o conceito e julgamentos que as pessoas de seu meio de convivência fazem a seu respeito e seu próprio julgamento a cerca de si 172 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores mesmo. Isto tudo influenciará na forma como tratará de sua recém despertada vida sexual. A origem etimológica da palavra adolescência tem a mesma raiz de adoecer, isso nos leva a idéia de mutação, desabrochar para uma nova vida, o indivíduo metaforicamente “adoece” para ressurgir como uma nova pessoa. Este fato de “adoecer” filosoficamente, nos dá entendimento para a compreensão sobre tantos conflitos interiores. Essa nova vida carrega toda sua vivência prévia formada pelas três infâncias e suas experiências durante a vida intra-uterina, sua relação fraternal, maternal, paternal ou outras das quais fizeram parte de sua história social primária. Toda essa bagagem de vivências afetivas e informações marcantes influenciarão na personalidade já formada do jovem. Sua forma de interagir com o sexo oposto e com seus iguais de mesmo gênero sofrerá influencia da forma como aprendeu a se relacionar com as pessoas de mesmo sexo ou não. Seus interesses sexuais também sofrerão influências da forma como construiu sua imagem de corpo e como desenvolveu o auto-respeito, o respeito pelo outro e a reciprocidade nas relações interpessoais; estando presente em qualquer relacionamento, sua relação intrapessoal, desenvolvida ao longo de sua própria formação. O outro será para o adolescente como um espelho refletindo sua auto-imagem, seus medos e seus receios se ele não trouxer bem resolvido em sua natureza, o que deseja realmente e assumir suas ações abertamente, apoiadas ou não pelos seus familiares. Durante suas descobertas sexuais e identitárias, o jovem não pode esquecer ou deixar de ser orientado sobre os perigos dessas relações, das proteções e precauções necessárias contra as doenças sexualmente transmissíveis, contra a gravidez não planejada e não desejada, contra os preconceitos sociais a cerca do homossexualismo, as regras morais e as regras religiosas. A presença dos pais nesse momento de despertar é muito importante e necessária voltamos a ressaltar, evitando inúmeras conseqüências frequentemente observadas no dia-a-dia dos jornais e revistas como: adolescentes com AIDS, drogados, abortos mal sucedidos e filhos indesejados. Cresce nas pesquisas sociológicas a incidência de avós que sustentam e educam netos, filhos de pais adolescentes. Então pensemos: como num mundo globalizado, 173 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores informatizado e informado, na qual se vê a notícia em tempo real em qualquer esquina; onde a criança, o jovem e o adulto têm acesso a qualquer informação que deseja... Pergunto: o que leva tantos adolescentes a realizarem sexo inseguro e conceber tantas crianças não planejadas? Será a falta de orientação paterna? A desestruturação familiar? O descaso da sociedade? A miséria cultural? Mas este é um fenômeno que acontece tanto com adolescentes de baixa renda quanto na alta classe econômica. Podem ser questões de valores morais contemporâneos, ou um conjunto de fatores socioculturais, afetivos, psicológicos. Pesquisas sociológicas demonstram que em países desenvolvidos e no qual a educação e a saúde pública são vistas como prioridade políticas e sociais, os índices de adolescentes grávidas e doentes por contaminação sexual são muito altos tanto quanto o índice em paises subdesenvolvidos. O aumento das doenças sexualmente transmissíveis e as altas taxas de gravidez na adolescência são considerados “preocupantes” na Grã-Bretanha, registrando o maior número de adolescentes grávidas e de casos de jovens com doenças sexualmente transmissíveis da Europa. Segundo o estudo, que recebeu fundos do Ministério de Saúde Bretão, os jovens estão “definindo seu estilo de vida pelo uso de drogas e álcool”, encorajados pela chamada "cultura das celebridades" (BBC Brasil, 15 de junho/2007). O que se revela em estudos do comportamento transgressor adolescente vem ao encontro das teorias de Piaget e Kohlberg a cerca do julgamento moral e da suposição de invulnerabilidade referida a priori. O adolescente não avalia as conseqüências possíveis de seus atos antes de fazê-los, acreditando que coisas ruins nunca acontecerão com eles. 174 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. São Paulo: Mason, 1980. DELORS, Jacques et alii. Educação: um tesouro a descobrir. SP: Edit. Cortez, 2002. FAGIOLI, Daniela; NASSER, Adnan. Educação nutricional na infância e adolescência. 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Ele varia segundo a idade, peso, altura e nível de atividade física e considera a presença ou não de alguma doença, e varia também em situações fisiológicas como na gravidez e lactação. FONTE: FAGIOLI, 2006. DESENVOLVIMENTO REAL É determinado por aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha porque já tem um conhecimento consolidado. Se a criança domina a adição, por exemplo, esse é um nível de desenvolvimento real. FONTE: Vigotsky (1998). DESENVOLVIMENTO POTENCIAL É determinado por aquilo que a criança ainda não domina, mas é capaz de realizar com auxílio de alguém mais experiente. Por exemplo, uma multiplicação simples, quando ela já sabe somar. FONTE: Vigotsky (1998). DOMINÂNCIA LATERAL Refere-se ao espaço interno do indivíduo, capacitando-o a utilizar um lado do corpo com maior desembaraço do que o outro, seja em atividades que requeiram força ou agilidade. Uma criança cuja lateralidade não é bem definida, não percebe a diferença entre seu lado dominante e o outro, possui dificuldades de discriminação visual por apresentar problemas de noção espacial, não nota a diferença entre esquerda e direita e, muitas 177 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores vezes, é incapaz de seguir a direção gráfica (leitura começando pela esquerda). FONTE: NEGRINE (2002). ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DE JEAN PIAGET Piaget desenvolveu seus estudos construindo e organizando o desenvolvimento psicológico do ser humano em quatro estágios: Estágio sensório-motor: de zero a aproximadamente 18 ou 24 meses; se chama sensório-motor, pois o bebê adquire o conhecimento por meio de suas próprias ações que são controladas por informações sensoriais imediatas. Estágio pré-operacional: que coincide com a fase pré-escolar e vai dos dois anos de idade até os seis. Nesse período, as características observáveis mais importantes são: inteligência simbólica; o pensamento egocênctrico, intuitivo e mágico; a centração (apenas um aspecto de determinada situação é considerado); a confusão entre aparência e realidade; a noção de irreversibilidade; o raciocínio transdutivo (aplicação de uma mesma explicação a situações parecidas); a característica do animismo (parecida a seres inanimados). Estágio operacional-concreto: de cerca de 7 até aproximadamente 11/12 anos; a criança começa a lidar com conceitos abstratos como os números e relacionamentos. Esse estágio é caracterizado por uma lógica interna consistente e pela habilidade de solucionar problemas concretos. Por volta dos 7 anos, o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável; surge a capacidade de se fazer análises lógicas; a criança ultrapassa o egocentrismo, ou seja, dá-se um aumento da empatia com os sentimentos e as atitudes dos outros. No início deste estágio a criança já é capaz de compreender a propriedade transitiva, desde que aplicada a objetos concretos que ela tenha visto ou tocado. Estágio operacional-formal: a partir de aproximadamente 11/12 anos; a criança começa a raciocinar lógica e sistematicamente. Esse estágio é definido pela habilidade de engajar-se no raciocínio abstrato. As deduções lógicas podem ser feitas sem o apoio de objetos concretos. O pensamento hipotético dedutivo é o mais importante aspecto apresentado nessa fase de desenvolvimento pois o ser humano passa a criar hipóteses 178 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores para tentar explicar e sanar problemas, o foco desvia-se do "é" para o "poderia ser". A metodologia científica e os conceitos abstratos aparecem nessa etapa do desenvolvimento. FONTE: PIAGET (1970). INSIGHT Essa expressão é traduzida para o português como compreensão interna, compreensão súbita, apreensão súbita, visão súbita, discernimento, perspicácia, etc. Em inglês é definido como a capacidade de entender verdades escondidas etc., especialmente de caráter ou situação portando um sentido igual a "discernimento", ou a capacidade para discernir a verdadeira natureza de uma situação, o ato ou o resultado de alcançar a íntima ou oculta natureza das coisas ou de perceber de uma maneira intuitiva. FONTE: AURÉLIO (Dicionário) e HEIDEGGER (Ser e Tempo). LINGUAGEM INTERIOR Tem uma função reguladora e planificadora do pensamento, ou seja, é utilizada com o objetivo de orientar a conduta. A criança de três anos possui a linguagem interior exteriorizada, assim, ela pensa expressando verbalmente o que está pensando. Já aos seis anos, a linguagem interior começa a se internalizar. A criança nesta fase sussurra pra si mesmo seus questionamentos na busca por resolver um determinado problema. Aos nove anos, ela internalizou completamente sua linguagem interior,
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