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A Morte Através da História

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 A MORTE ATRAVÉS DA HISTÓRIA 
 Philippe Áries 
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“Não há nenhum homem que tenha o domínio sobre o vento para o reter; nem tão pouco ele tem poder sobre o dia da morte”. Eclesiastes 8:8
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As representações de morte são imersas em um contexto cultural.
Edgard Morin – “é nas atitudes e crenças diante da morte que o homem exprime o que a sua vida tem de mais fundamental” 
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Antiguidade – morte presente no cotidiano do homem 
A Morte Domada: típica da época Medieval
O homem é um expectador da natureza, contemplativo diante da possibilidade da morte.
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Mundo teocêntrico - aceitação inconteste do processo de morte, que ocorria ou na guerra ou de doenças. 
A morte era esperada no leito, uma espécie de cerimônia pública organizada pelo próprio moribundo e sua família.
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Todos podiam entrar no quarto, parentes, amigos, vizinhos e, inclusive as crianças. Os ritos de morte eram cumpridos com manifestações de tristeza e dor e o maior temor das pessoas era morrer repentinamente, anonimamente, sem as homenagens cabidas. 
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A morte era uma atitude familiar e próxima, por isso chamada de “domada”. 
O local da sepultura na Idade Média era nas Igrejas, perto dos santos - PROTEÇÃO. 
Divisão entre pobres e ricos - afastados ou próximos do altar. 
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A Morte de Si Mesmo 
 A partir do século XIV/XV o homem começa a se preocupar com o que acontecerá depois de sua morte – racionaliza o processo de perda (para quem fica e para quem vai).
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Surgem os TESTAMENTOS- fazer um testamento era um dever de consciência. Formados por duas partes: a confissão, os desejos, etc e a distribuição das fortunas. Naquela época boa parte da fortuna ia para a Igreja como uma forma de libertação para a vida eterna.
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Surge a cor preta para simbolizar o luto - disfarce para espantar a morte e os mortos que viriam confundir o enlutado com um outro morto. Significação social de perda, tristeza - que criava a paz e serenidade interior. 
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Vida no Cadáver, Vida na Morte 
Séculos XVII/XVIII - Renascimento - mundo regido pela razão- preocupação com as condições do enterro. 
Surgem os VELÓRIOS como uma forma de certificação da morte – até 48 horas após a morte.
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A Morte do Outro 
 Morte Romântica- morte desejada enquanto libertação e possibilidade de reencontro entre os amores. 
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A Morte Invertida 
 No século XX, a morte se esconde, tem caráter de vergonha, de fracasso. 
 No mundo tecnocêntrico: a morte é negada, banida do discurso cotidiano, ocultada e temida.
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Adota-se a mentira sistemática, o silêncio - marcada pela negação e interdição.
O homem está desaparelhado para enfrentar a morte como uma contingência, uma vez que vem sempre acompanhada da ideia de fracasso do corpo, do sistema de atenção médica, da sociedade, das relações com Deus e com os homens, etc. 
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Diferenças Históricas
Na Idade Média a morte estava nas salas de visitas; hoje, se esconde nos hospitais, nas UTIs, controlada pelos profissionais de saúde, nem sempre esclarecidos da sua penosa e socialmente determinada missão - (80% das pessoas morrem no hospital); 
Atualmente o velório ocorre longe da casa do morto - afastamento da própria família- morte solitária.
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Na sociedade capitalista - Ocidental
Com os progressos da terapêutica e cirurgia, sabe-se cada vez menos quando uma doença grave será mortal ou não.
A morte vem assim quase em surdina com uma cumplicidade dos amigos e familiares que, por amarem o moribundo e não querendo vê-lo partir, negam-lhe a morte.
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Cumplicidade dos profissionais que, obstinados pela cura da doença, estão sempre lançando mão de suas onipotências e de uma “última medida terapêutica eficaz” para prolongar-lhe a vida - o médico é o profissional que define a questão da vida e da morte. 
Muitas vezes o paciente não sabe como morrer, e o profissional de saúde é incapaz de lhe explicar o sentido da morte.
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Há uma mudança radical na visão da morte: a ilusão da eternidade dá ao homem a sensação de poder dominar e controlar as coisas, as pessoas e conservar o que tem. Assim, a possibilidade de morte é afastada. 
Apesar de buscar a negação enquanto uma defesa frente à morte, o homem angustia-se frente ao seu ser mortal. Adoecer e morrer são, então, suas preocupações permanentes. 
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A morte foi dividida em cerebral, biológica e celular - grande aparelhagem para medir e prolongar a vida - o momento da Morte vira um acordo feito entre a família e o médico; 
Preparação e embelezamento para os mortos, e o cuidado de tudo referente ao morto é feito por profissionais e não pelos familiares.
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A Concepção de Morte no Oriente 
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 Crença na possibilidade de libertação do sofrimento, mas que parte da aceitação do sofrimento como um fato natural da existência humana, aliada à coragem de encarar os problemas de frente (Enfrentamento + Naturalidade + Coragem).
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A Arte de Morrer - enfrentamento da morte não só lúcida , calma e heroica, mas com o intelecto corretamente dirigido para a superação e sublimação mental da dor e do sofrimento proporcionados pela enfermidade do corpo, como se praticado corretamente a Arte de Viver. 
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A Arte de Viver: três estágios de disciplina: escuta, reflexão e meditação, levando ao autoconhecimento. 
Vivência pacífica da morte: através da correta prática de uma fidedigna Arte de Morrer, a morte terá então perdido o seu estado negativo e redundará em vitória. 
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Se no Ocidente a morte é vista como um fim, ruptura, fracasso, oculta, vergonhosa, os rituais corresponderão a esta forma de encarar a morte. São procedimentos de ocultamento, vergonha, raiva, temor. Na visão Oriental a morte surge fundamentalmente como um estado de transição e principalmente de evolução, para o qual deve haver um preparo: a morte é apenas uma iniciação numa outra vida.
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MORTE
Semanticamente, “destruição, ruína, fim. Ato de morrer. O fim da vida animal ou vegetal”
No sentido figurado: "uma grande dor. Pesar profundo. Uma entidade imaginária da crendice popular representada em geral por um esqueleto humano armado de foice com a qual ceifa as vidas”.
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A definição de morrer seria “perder a vida, falecer, findar-se, expirar, perecer”. 
Filosoficamente discute-se a morte como uma condição inerente ao ser vivo, sendo esta a única certeza que se tem do desdobramento da existência humana.
“Morrer não é tornar-se outro, mas vir a ser nada ou transformar-se em absolutamente outro”.
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Outros autores definem como um referencial para o estudo da compreensão da vida, não significando apenas a destruição, mas, mostrando que o ciclo da criação e da destruição é eterno. É um acontecimento que completa a existência humana o que significa que cada pensamento, cada emoção, cada gesto e cada passo na vida aproxima o homem da morte. 
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MORTE: 
É a parada das funções vitais, que se instala com uma velocidade variável, não sendo um fenômeno momentâneo, súbito ou abrupto (não acontece no momento da parada cardíaca, já que pode ser revertida). 
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Divisões didáticas da morte: 
Morte aparente – parece que a pessoa está morta, são quadros diversos que aparentam ou simulam a morte; era o estado conhecido como catalepsia, atualmente, com os aparelhos existentes, consegue-se detectar este estado e raramente acontece a catalepsia.
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Morte relativa – parada das funções respiratória, circulatória e/ou nervosa, pode ser feita a reanimação (pode haver a reversão do quadro).
Morte absoluta – desaparecimento definitivo das atividades biológicas (não há como reverter esse processo).
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Alguns autores falam de 
Morte clínica – momento em que ocorre a parada cardiorrespiratória, quando se pode intervir a modo de restabelecer as funções vitais. 
Morte cerebral: situação irreversível de todas as funções respiratórias
e circulatórias ou cessação de todas as funções do cérebro, incluindo o tronco cerebral. (Resolução 1.346/91 do CFM)
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Determinação da morte cerebral pela interrupção irreversível de: 
a) Funções circulatória e respiratória – é o critério cardiopulmonar 
b) Todas as funções do cérebro, inclusive tronco cerebral - é o critério cerebral
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Morte real – parada da atividade biológica de todas as células que ocorre em média, oito horas após a parada cardiorrespiratória (sem possibilidade de reanimação).
O cessar irreversível do:
Funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos; 
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Fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar (“último suspiro”) e o sangue; 
Funcionamento espontâneo de coração e pulmões; 
Funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral (morte encefálica); 
Capacidade corporal da consciência.
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Paula Vanêssa Rodrigues de Araújo* Maria Jésia Vieira**
A QUESTÃO DA MORTE E DO MORRER

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