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RESENHA 1 PMQS

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O Sistema Único de Saúde como desdobramento das políticas de saúde do século XX
Gerschman, S; Santos, M. A. B. In: Rev. bras. Ci. Soc., vol 21, nº 61. São Paulo, June 2006.
 As autoras fazem uma pesquisa simplificada, resgatando os principais fatos e eventos ocorridos na política e no mercado de saúde brasileiros, usando para tanto dados do IBGE, Datasus, OMS, Banco Mundial e relatórios de pesquisa sobre o SUS.
 Usam o neo-institucionalismo como marco conceitual e metodológico para elucidar o papel desempenhado pelas instituições na determinação de resultados sociais e políticos. Das três correntes predominantes, racional, sociológica e histórica, as autoras optam pela última, seguindo o linha de Giaimo (2001), que distingue distingue dois grupos de interesse dentro das políticas de saúde: os pagadores, que financiam o sistema e agem segundo seus interesses e os provedores que fornecem bens e serviços e agem aproveitando oportunidades. A este grupo as autora acrescentam um terceiro, surgido no modelo brasileiro, os credores, que são as agências internacionais que influenciam nos arranjos institucionais e intervêm no ambiente político dos países em desenvolvimento.
 Segundo Gerschman e Santos, as bases históricas das políticas de saúde no Brasil têm início em 1920 com a criação do Programa de Profilaxia Rural e a implantação de postos sanitários em áreas não-rurais, incorporando ações curativas apesar da resistência de sanitaristas. Os principais provedores nesta época eram estabelecimentos privados e filantrópicos e o estado assistia aos marginalizados. Na Era Vargas o projeto desenvolvimentista trouxe novas atribuições ao Estado e os trabalhadores, com apoio do governo, se organizam em instituições por categoria nos IAPs. O sistema de saúde corporativo é tutelado pelo Estado e os pagadores são os empregados, os empregadores e o Estado. Tais fatos se constituiriam como dificuldades futuras para a implantação de um sistema de saúde universal.
 Nos anos 50-60 surgem as primeiras empresas de medicina de grupo e os trabalhadores começam a se organizar em sindicatos. Com o golpe militar de 64, os trabalhadores são afastados da política e em 1967 a unificação da Previdência obriga aos antigos segurados dos IAPs a competirem pelo acesso aos serviços de saúde, que assim migram para um sistema alternativo de serviços de saúde, favorecendo o crescimento das empresas de medicina de grupo. Na década de 70 aconteceu a implantação da PIASS como projeto alternativo ao modelo hegemônico de saúde da época; o estado era dono da maior parte de hospitais de alta complexidade, aumentando em muito a oferta de leitos. 
 A criação do SUS, sustentado por ideais universais e socialzantes na década de 80, durante o processo de redemocratização do país e durante uma crise de financiamento da saúde, acontece na contra-mão da história e se constrói basicamente através de portarias, normas e leis que viabilizam sua operacionalização. Em 1993, o PSF, criado com o apoio do Banco Mundial e da OPAS, com uma proposta anti-hospitalocêntrica de reorientação para a tenção básica e ampliação da cobertura através de incentivos financeiros, propicia o crescimento da atenção ambulatorial e a diminuição das internações de baixa complexidade.
 A década de 92 a 2003 assiste ao aparecimento de inúmeros hospitais de pequeno porte e baixa resolutividade, favorecendo interesses políticos. O número de leitos no SUS diminui consideravelmente, com aumento da rede privada, que, aproveitando a ocasião, migra para a alta complexidade e passa a vender serviços ao governo. Em 1999 o MS cria a Faec ( Fundo de Ações Estratégicas e Compensações) para financiar procedimentos de alta complexidade que passa a comprar serviços da rede privada para segmentos populacionais favorecidos por políticas de saúde. A saúde passa a ser assim configurada: setor público, responsável pela atenção básica e alguns serviços de média complexidade, financiado pelo PAB, e, setor privado, responsável pela alta complexiade e financiado via Faec.
 Com seu fortalecimento, a saúde suplementar passa a oferecer produtos para clientelas distintas e com valores diferenciados baseados na infra-estrutura hospitalar e na qualidade dos profissionais de referência.
 Aproveitando a ocasião, a rede privada complementar passa a oferecer ou vender os serviços melhor remunerados pelo setor público, que por sua vez passa a pagar ou comprar serviços que não pode oferecer e serviços específicos para clientes que usam seletivamente o setor público.
 As autoras concluem que as mudanças na saúde brasileira vêm acompanhadas ou acontecem concomitantemente com as transformações políticas e que a redemocratização do país fez surgir um sistema de saúde baseado no Estado de Bem-Estar europeu, com princípios universalizantes e com controle social. Contudo, a proposta de criação do SUS foi atingida em cheio pelo momento econômico histórico da época, com o SUS sendo obrigado a ceder espaço ao setor privado e, mais recentemente, à influência das agências internacionais de saúde no que diz respeito a políticas públicas para países em desenvolvimento, com ínfimos investimentos num sistema que se diz universal. Tais políticas também seguem sob influência da política partidária e da política eleitoreira de grupos que arbitram a seu favor e a favor de interesses de empresários nacionais e internacionais do setor. Quanto ao financiamento, tanto provedores como sanitaristas lutam por fontes alternativas de custeio desde a perda do financiamento da Previdência Social. O SUS atual está na dependência da influência e do poder de veto de políticos e no futuro, ou pode se afastar de seus princípios fundamentais ou então voltar-se para uma saúde pública mais solídária.
 
Aluna: Luisa Maria de Oliveira Costa
Turma: 2015/1

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