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Trabalho Religiões-

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“O homem é naturalier religioso. A religiosidade é um modo de ser do homem, quer ela tenha, agora, um conteúdo, ou não, quer esta característica possa ser incorporada ou não, numa fé. Assim como é inteligente, erótico, justo ou belo, assim é religioso: o ser religioso, portanto, é uma maneira primária, absolutamente fundamental do ser”. -
Simmel
Agradecimentos
Deixamos os mais honrosos agradecimentos àqueles cujo contributo para este trabalho foi fundamental, nas dimensões mais pessoais, decorridas da vivência na primeira pessoa, e que possibilitaram um entendimento maior (melhor) não apenas sobre a Igreja Ortodoxa, mas também das multidimensões que a comunidade de Leste e os indivíduos que a compõem possuem. São eles:
Philip Jagnisz – Arquimandrita da Igreja Ortodoxa em Portugal
Nataliya Vaskovska - Presidente da Associação Amizade-Leste
Lecia Turyk – Diretora do Grupo Coral
Andriy Turchyn e sua mãe (no desconhecimento do nome pode usar-se Sra. Turchyn)
Em especial, deixamos o nosso obrigado a Maria Eduarda Viterbo, do Secretariado Diocesano das Migrações do Porto, cujo contributo foi inestimável para uma melhor compreensão da razão de ser, promotora da implantação da Igreja Católica Ortodoxa no Porto.
 
Introdução
A presente pesquisa, proposta na unidade curricular de Sociologia das Religiões, objetiva a compreensão sobre a Igreja Católica Ortodoxa, ligada ao Patriarcado de Constantinopla, não apenas no seu sentido de religião, entendida, genericamente, como um conjunto de práticas, liturgias, crenças e cerimónias cristãs (a Instituição Religiosa per se), mas também mapear, tanto quanto possível, e munidos de bibliografia (cortado antecedente) cientificamente profícua, de uma entrevista exploratória e de um conjunto de três observações no terreno, na medida em que esta se torna, ou não, num factor de integração nas comunidades de imigrantes do Leste. Temos, portanto, três momentos fundamentais: a descrição e explicação sumária da Igreja Ortodoxa em termos de doutrina e história, o seu surgimento na cidade do Porto e a sua razão de ser. (interrompido a frase por um ponto, segue com maiúscula) E por fim, o grau e a forma de integração que possibilitou aos fiéis e imigrantes o atendimento religioso, com ligação aos seus hábitos de origem. Optamos por este objecto de estudo pois consideramos deveras interessante, pois incide num trabalho sobre o que é ou não o Cristianismo Ortodoxo. (anular - por isso mesmo) Ambicionamos ir mais longe e perceber a dimensão que a vivência da religiosidade possibilita aos fiéis num contexto de desenraizamento do país de origem.
	Muito embora saibamos que este exercício pedagógico pode carecer da profundidade científica que uma investigação em Sociologia exige, porque decorre, em si mesmo, de timings relativamente curtos que obedecem ao período de um semestre académico. Porém, acreditamos ter cumprido o objectivo a que nos propusemos; considerando os frutos deste trabalho uma confirmação da hipótese teórica, que já havia sido validada anteriormente com investigações aprofundadas e meticulosamente arquitectadas. [1: Sobre todos estes assuntos, trataremos, de forma mais coesa, nos respectivos capítulos subsequentes, por forma a dar a entender tanto a metodologia utilizada e os obstáculos encontrados, como as virtualidades que conseguimos alcançar nesta pequena investigação. Note-se que a força deste trabalho reside, em certa medida, na confirmação de uma investigação já feita na área, mas que tomou proporções bem maiores e mais profícuas do que a presente. ]
	É de enfatizar que incidimos numa área geográfica relativamente pequena; a cidade do Porto, que abraçou os imigrantes do Leste durantes as vagas de grande fluxo migratório, e que por uma questão metodológica, logística e de comodidade (ao contrário do nível de regiões à escala mundial), contemplamos apenas esta área como objecto de estudo. 
Queremos, igualmente, salientar as ajudas que obtivemos no terreno de individualidades que vivem este tema na primeira pessoa, e de outras que contribuíram para a edificação e implantação da Igreja Ortodoxa. Testemunhos que se mostraram valiosíssimos para a concretização deste trabalho. (cortado o resto da frase)
	Temos presente os limites que uma investigação deste tamanho encontra face a um objecto de estudo tão rico e tão denso, mas reiteramos o contentamento por termos conseguido desdobrar e aprofundar, tanto quanto nos foi possível, o nosso objecto de estudo. 
Notas Metodológicas
	Iniciamos a presente pesquisa delimitando a nossa estratégia metodológica. Pareceu-nos fundamental munirmo-nos de informação adequada acerca da Igreja Católica Ortodoxa, pois o desconhecimento sobre esta religião (cortadas 2 palavras por excesso) era evidente. Como tal, optamos por ir além das pesquisas exploratórias de bibliografias e de documentos certificados online, e delineamos uma entrevista exploratória com alguém que não apenas conhece a Igreja Ortodoxa nas suas crenças, simbologias, liturgias e afins, mas que também participou na implantação dessa mesma Igreja (cortado cá – preciosismo desnecessário) no Porto. Nada nos pareceu mais adequado. Agendamos, então, a entrevista de carácter exploratório com a Dra. Maria Eduarda Viterbo, do Secretariado Diocesano das Migrações do Porto, a qual se revelou efectivamente frutuosa e esclarecedora. (cortado completa, porque nada é completo). Por razões metodológicas evidentes, como a falta de construção de um guião prévio, dado que acordamos em trabalhar numa lógica exploratória, a entrevista irá sendo citada ao longo do trabalho sempre que se mostrar relevante, mas não constará uma análise de conteúdo respectiva propriamente dita. Por uma questão de comodidade, assinalaremos sempre as citações com a sigla ME.
	Durante as nossas incursões no terreno, encontramos um obstáculo grande nas línguas (russa, ucraniana e romena) em que as cerimónias eram conduzidas, tendo tido, portanto, o cuidado de pesquisar bastante sobre os sete sacramentos da Igreja Ortodoxa, de forma a compreendermos realmente o que se estava a tratar nas observações vindouras. Ainda nesta linha, compreendermos que não seria adequado tomar notas no diário de campo no decorrer das cerimónias, até porque estivemos em pé como sinal de respeito pela comunidade e pela igreja em si, acompanhando os fiéis nas suas práticas, acabando por fazer os registos nos momentos imediatamente a seguir ao término das celebrações eucarísticas. Sabíamos que estávamos perante uma visão do mundo e de Deus ainda com traços algo tradicionais, e por isso optamos por nos integrar nas suas práticas sempre que nos fosse possível, em detrimento de dar destaque às diferenças que seriam acentuadas pelos registos e posturas desarticuladas com as cerimónias observadas. 
	Tivemos, dificuldade em conseguir presenciar momentos de serviço religioso secundário ou reuniões de grupos específicos, talvez porque a comunidade não se encontre tão frequentemente assim. Todavia, conseguimos presenciar, e consta numa das nossas observações, a comemoração do 10º aniversário da Igreja Ortodoxa no Porto, momento de cerimónia religiosa e posterior convívio, (sem discurso) tendo, ainda, conseguido assistir a sacramentos diferentes, como um Crisma e uma Penitência, dados registados em diário de campo.
I . Breve análise histórica sobre a Igreja Ortodoxa e o seu percurso
Sumariamente, podemos referir que é uma Igreja construída sobre a doutrina de Cristo, sendo, portanto, cristã. Nos primórdios, inicia-se como Cristianismo, todavia posteriormente, entre 1054 e 1024, divide-se em duas Igrejas, ainda hoje conhecidas, respectivamente, como Igreja Católica Apostólica Romana, no ocidente, e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Grega, no oriente. As razões que as levaram à separação foram, como indica Diarmaid MacCulloch na sua História do Cristianismo, litúrgicas, culturais e políticas.
Ainda hoje a Igreja Ortodoxa é conhecida por ser uma “doutrinarecta”, daí o termo grego orthodoxia, que indica que tudo aquilo que Cristo ensinou, é tido estritamente em conta, sem enleios ou ornamentos. Isto significa que a Igreja Ortodoxa entende a Bíblia, o seu livro sagrado, à letra, recusando a livre interpretação dos textos e abraçando uma linearidade recta. A Bíblia é percepcionada tanto no Novo como no Antigo Testamento, e centra-se na figura de Cristo. A religião é monoteísta e crê que Deus ensinou aos homens, através dos Dez Mandamentos, as leis com as quais eles devem viver. Jerzy Berkman Karenin, na sua obra “A Doutrina Cristã Ortodoxa”, refere que: “A Igreja Ortodoxa, diferentemente da Igreja Católica Romana, tem sua actuação inserida num abstraccionismo plenamente místico, voltada à contemplação, resgatando actores da Igreja Primitiva que, além de Cristo e dos seus Apóstolos, elenca grandes personalidades no contexto patrístico, onde se destacam Santo Antão do Egipto, Orígenes, Pseudo-Dionísio, o Areopagita, Máximo, o Confessor, Simeão, o Novo Teólogo. Observa-se, no que se refere ao catolicismo romano, uma situação diversa, estabelecida no pragmatismo e numa ordem mais legalista, o que acabou por encaminhar essa igreja a uma tendência para a secularização. Isso explica-se pelo motivo de a igreja no Ocidente haver adequado a doutrina cristã à legislação romana em vigência no império”. Porém, Maria Eduarda Viterbo, nossa entrevistada, refere, a propósito das similaridades e/ ou diferenças que a Igreja Ortodoxa tem com a Igreja Católica Romana, que “é a igreja que nos chamamos “irmã”. Somos os dois pulmões de Cristo, como os nossos Papas têm dito, isto é, há divergências, há coisas, mas as duas são tao semelhantes, que cada uma é um pulmão pelo qual Cristo respira.”
Existem os mesmos sete sacramentos que vislumbramos na Igreja Católica Romana, são eles: o baptismo, o Crisma, a Eucaristia, o Arrependimento ou Confissão, as Santas Ordens, o Matrimónio e a Unção dos Enfermos. A sua força, porém, reside na sua liturgia, extremamente rica, e que é cantada com uma técnica especial, durante as cerimonias, e sem instrumentos. É também caracterizada pela ausência de imagens da divindade, pois tal como diz na(a) Bíblia para que não se adore imagens à semelhança de Deus, a Igreja Ortodoxa substituiu-os pelos ícones, que são artisticamente pintados, mas que não deixam de remeter para o divino.[2: Consultar imagem 1 nos anexos de imagens.]
Em suma, a Igreja Católica Ortodoxa é uma religião do Cristianismo que tem como característica manter-se contínua desde o primeiro milénio até aos dias de hoje, ainda que, actualmente, já existam nuances internas que diferenciem as Igrejas, embora sejam ténues pinceladas politicas.
II. Breve enquadramento teórico
	Dada a complexidade da religião enquanto conceito e nas suas diversas dimensões subjacentes, e o seu estudo é sempre um desafio, procedemos neste capítulo, a uma breve viagem sobre alguns dos clássicos da sociologia e as suas perspectivas teóricas. Procuramos também munir-nos de autores mais actuais, para a compreendermos com mais salubridade. ???
	Segundo Giddens, (entendemos) podemos entender religião como “um conjunto de símbolos que invocam sentimentos de reverência ou de temor, ligados a rituais ou cerimonias (como serviços religiosos) realizados por uma comunidade de crentes” (Giddens, 2009). Concomitantemente, “os actos rituais podem incluir orações, cânticos, canções, comer certo tipo de comida – ou abster-se de o fazer – jejuar em certos dias e por aí adiante (…) cerimónias habituais têm lugar normalmente em lugares especiais – igrejas, templos, ou santuários” (Idem).
	Todavia, na necessidade de mergulhar mais fundo neste conceito e na sua definição, evocamos os clássicos da sociologia, pois muitos ainda actualmente vão beber aos seus contributos. 
Ludwig Feuerbach, na sua obra “A Essência do Cristianismo”, refere que a religião, é na verdade, um manancial de valores e ideias construídos pelo Homem, que derivam do seu percurso e desenvolvimento cultural, que são, consequentemente, projetadas e reprojetadas para a essência divina, os deuses: “o Deus absoluto, o Deus do homem é a sua própria essência. O poder do objecto sobre ele é, portanto, o poder da sua própria essência.” (Feuerbach, 1957). Acrescenta, ainda, que se não entendermos a natureza dos símbolos religiosos que vamos criando, incorremos no risco e nunca compreendermos a nossa própria história, pois não deixaremos se ser dependentes das supostas forças da história sobre as quais não conseguimos exercer controlo. Nesta lógica, o autor serve-se do termo alienação, e, refere Giddens, “os valores e ideias criados pelos seres humanos acabaram por ser vistos como o produto de seres alheios ou distintos – forças religiosas e deuses. Enquanto no passado os efeitos da alienação foram negativos, o reconhecimento da religião como alienação, de acordo com Feuerbach, promete grandes esperanças para o futuro” (Giddens, 2009).
Karl Marx, inspirado tanto em Feuerbach como noutros pensadores da época do mesmo, aceita que a alienação do Homem propicia a criação da religião, sendo o “coração de um mundo sem coração”, uma vez que a considera como uma espécie de escape da dureza e crueldade do ser humano, é, no fundo, o “ópio do povo”. Considera, ainda, que a religião incorpora uma vertente ideológica bastante forte, pois os valores e crenças podem servir para justificar as desigualdades sociais, de poder e de capital, como é tão comum na sua perspectiva analítica, o que acaba por servir como um meio de legitimação do grupo social dominante face ao dominado. 
Por outro lado, Émile Durkheim, na sua “As Formas Elementares da Vida Religiosa”, o autor não relaciona as formas de religiosidade com as desigualdades, mas sim com a natureza das instituições sociais. Faz a distinção entre o sagrado e o profano, defendendo que o primeiro é pertencente aos domínios dos objectos sagrados e dos símbolos religiosos, ao passo que o segundo relaciona-se mais com o domínio da vida de todos os dias. Na sua perspectiva estruturalista, o autor argumenta que as religiões não existem apenas baseadas na fé, mas em grupos de crentes que participam na crença e nos rituais religiosos, sustentando e validando a religião como uma instituição social. Isto possibilita a manutenção da coesão social entre os membros de um determinado grupo religioso. Assim, as cerimónias colectivas cimentam a solidariedade entre um grupo, preparando-o para viver as eventuais mudanças sociais que possam tomar forma, sendo o fruto disto a criação de possíveis novas perspectivas e atitudes face a algo, reafirmando os valores vigentes, isto é, perpetuando a reprodução social e assegurando-a. Num primeiro vislumbramento do que viria, mais tarde, ser chamado de secularização, Durkheim crê que quanto mais uma sociedade evoluir (não esqueçamos a perspectiva evolucionista), menos poder a religião poderá vir a ter. Porém, não negligencia o facto da religião, de uma forma ou de outra, poder vir a reconfigurar-se, não deixando de existir pois as sociedades modernas tenderão a necessitar, independentemente da materialização disto no plano prático, de ritualizações e crenças que veiculem e reafirmem o seu panorama valorativo. 
	Weber, na sua “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, procura trazer à luz a escala do impacto que o Cristianismo conseguiu obter na Europa Ocidental. Contrariamente a Marx, note-se, Weber escusa as religiões como forças necessariamente conservadores, isto é, dados os momentos em que as próprias religiões na história incitaram a revoluções e a colocar em causa a estrutura social vigente, é nessa medida considerada como um factor de mudança social. Isto porque, segundo o autor e de grosso modo, o Cristianismo ao conter as noções de pecado permanentemente à espreita, torna-se numa religião de salvação, pela obtenção do perdão divino, logo, pode implicar uma luta muito forte contra o que a doutrina considera errado, incitando, uma vez mais, ao conflito com a ordem moral e socialexistente. Podemos sumariar este autor, por isso, como realçador da força que os ideais e as crenças religiosas podem possuir face á ordem social, sendo, por isso, potencialmente revolucionários. 
	Posto isto, e pincelando levemente a complexidade do objecto teórico aqui em causa, a religião, colmatamos este capitulo com a enfatização de uma vigilância epistemológica e axiológica constante por parte do investigador, por forma a não deixar que os seus padrões de valores e ideias interfiram no estudo das religiões e nem do impacto que podem ser sob determinados grupos e ou comunidades. 
III. Da Necessidade da Implantação da Igreja Ortodoxa na cidade do Porto
	A Igreja Ortodoxa, celebrou dia 13 de Outubro de 2012, 10 anos de implantação na cidade do Porto. Ela surgiu da necessidade de responder ao grande do fluxo migratório dos países de Leste, e pelo entendimento de que a igreja, por si mesma, é um factor de integração e de apoio ao imigrante, tal como apuramos na nossa entrevista exploratória: “aquele fluxo enorme foi da antiga união soviética, onde a maior percentagem são ortodoxos, as pessoas todas que vieram, chegaram aqui e sentiram-se perdidas porque não havia o tal elo com a língua, depois não tinham nada que lhes falasse, pois o abismo entre as nossas culturas é imenso, e… também não tinham igreja, não tinham nada. Por um lado, as pessoas começaram a perguntar, e a fazer sentir que lhes faltava a igreja, que havia ali um buraco” (ME).
	A sua implantação iniciou-se em Portugal, antes da imigração em grande número de Leste, porém no Porto enraizou-se mais tarde. D. Gabriel, um monge português que foi estudar para França, converteu-se e foi ordenado no Cristianismo Ortodoxo, em Paris, por volta da década de setenta (Vilaça, 2008). No seu regresso a Portugal, inicia as celebrações em Lisboa, em 1976. Existiu uma associação com a religiosidade popular, na altura um fenómeno conhecido popularmente como Santa da Ladeira, que vinculou entrosamentos entre, por um lado, a Religiosidade Ortodoxa, que desde cedo apoiou a causa sob o rosto de D Gabriel, e por outro, a religiosidade popular. Entretanto, “o bispo Gabriel fica doente, em finais dos anos 80 inícios de 90, e assiste-se a reposicionamentos resultantes da sua ausência e da sua polémica substituição por D. João. Foi uma fase muito controversa, durante a qual a maioria dos fiéis e sacerdotes se afastou. Esta Igreja, que praticamente se extinguiu, acabou por perder o apoio da Igreja Ortodoxa da Polónia e o que dela restou não tem qualquer reconhecimento canónico.” (Idem). 
	Segundo as nossas fontes, o Padre Alexandre bonito, um apoiante desde cedo dos ideais de D. Gabriel face à Santa da Ladeira, decorrente do anteriormente citado, afastou-se e assumiu um rumo próprio (era também ele próprio um convertido ao Cristianismo Ortodoxo). Assim, começou a celebrar para os gregos, e posteriormente, para aqueles que iam surgindo também. É quando, no Porto, se dá o grande fluxo de imigrantes de Leste, que se sentiu a necessidade de procurar se existiria, também, um elo à Igreja, como em Lisboa. Assim, o padre Alexandre Bonito “veio ao Porto uma vez por mês, para tentar ver se a comunidade era estável, se se reunia ou não, e portanto ali, houve uns meses que o padre Alexandre vinha cá, esporadicamente, e celebrava.” (ME)
	Assim, o Patriarcado Ortodoxo enviou o primeiro missionário, que procurou apoio na Diocese do Porto e no Bispo, Dom Armindo, tendo em conta que o número de ortodoxos já ia avançado. Foi neste sentido que a Diocese do Porto, a Igreja Católica, prestou um serviço de apoio aos imigrantes, fornecendo-lhes um espaço para celebrar (a Igreja de São Pantaleão) e um apoio constante não apenas nas suas necessidades laborais e materiais, mas também de apoio e integração emocionais e afectivas, fomentando a implantação e propiciando um clima de comunidade religiosa e informal aos imigrantes de leste presentes no Porto. [3: A título de curiosidade, citamos Helena Vilaça, na sua investigação que figura na nossa Bibliografia consultada: “Além de ser a Igreja ortodoxa com maior número de praticantes no Porto, é também aquela com maior projecção pública no campo religioso em geral” (Vilaça, 2008)]
3.1. Igreja Ortodoxa como cimento de união e integração social da comunidade de Imigrantes de Leste no Porto
	“Dada a grande quantidade de ortodoxos que estavam presentes aqui [no Porto], pretendeu-se começar uma igreja para apoiar estas pessoas [imigrantes de Leste, na sua maioria Ucranianos] que estavam assim um bocado órfãs” (ME)
	A afirmação da nossa entrevistada tem subjacente a necessidade de se construir aquilo a que, por conveniência, chamamos de cimento, para fomentar a impelir a coesão e o afastamento do sentimento de estranheza por parte dos imigrantes de leste. Ao iniciar-se a Igreja Ortodoxa no Porto, a qual teve subentendido um processo moroso e complexo de edificação paulatina ao longo do tempo, fosse ao nível da obtenção das alfaias ou da formação dos indivíduos que muitas das vezes, no seu país de origem, não estavam tão familiarizados com os cultos, propiciou-se um clima de comunidade, conferindo-lhes um sentimento de familiaridade com um pouco daquilo que podiam encontrar nas suas terras natais: “Os lugares de culto, ao recriarem universos simbólicos assentes em identidades socioculturais e ético-religiosas, produzem mecanismos emocionais de compensação ao desenraizamento familiar e afectivo, contribuindo para uma reconstrução das estruturas familiares e de espaços relacionais” (Vilaça, 2008), corroborado pela nossa entrevistada que afirma que “as pessoas vão-se reunindo, e começam a sentir um bocadinho da sua terra, e começam a ver «ah! Afinal já temos ali o nosso cantinho» (…) Eles têm que se agarrar a alguma coisa que é um pedacinho da terra deles... Então a igreja passa a ter um papel importantíssimo na ajuda, no entendimento, na integração, mesmo para nós” (ME). 
	Compreendemos o papel da Igreja e da vivência da religiosidade como uma potencial forma de propiciar, às comunidades originalmente estrangeiras, a sua integração paulatina na sociedade do país de acolhimento. Todavia, esta implantação da Igreja Ortodoxa no Porto não foi tão simples quanto pode parecer, e diz-nos a nossa entrevistada, que “quer pelo acolhimento que foi feito pela diocese católica, quer pelo apoio que fomos dando mesmo a nível material e etc… ou até o próprio padre missionário sozinho, a suprir as necessidades mais ou menos como um imigrante… nós dizemos sempre que quem chegou depois, e foram vários, não sabe o que é a missão, porque chegaram aqui e o terreno já estava desbravado. Estava tudo feito, todas as alfaias direitinhas, todos os ícones lá. Mas o primeiro teve mesmo que cavar, não tinha nada” (ME).
	Entendemos o papel da Igreja como tendo sido fulcral na união da comunidade e na integração dos imigrantes, mais uma vez reforçado pelas palavras de Maria Eduarda Viterbo, que reitera que “A Igreja passou a funcionar como a grande fonte, porque o padre falava a língua deles, eles falavam das suas coisas, dos seus problemas, e o padre podia transmitir-nos. Havia uma relação de confiança. Este entrosamento mesmo do padre na nossa equipa foi fundamental porque havia uma relação de confiança total, que é a base.”. Não obstante, é legítimo relembrar sempre que “no imigrante, aquilo que é flagrante, é a desconfiança e o medo, quer dizer, nós aprendemos sempre isto, e eu cada vez percebo mais, e nunca me esqueço que o imigrante é sempre uma pessoa ferida de várias formas. É ferido porque, por alguma razão, seja ela qual for, o seu país não lhe permitiu lá ficar. E essa ferida não sara… Pode ser disfarçada, pode ser superada, mas não sara. Olhem para o imigrante como uma pessoa que foi ferida, e portanto, a vossa atitude tem que ser sempre de ajudar a curar, a melhorar, mas ele é ferido, e quem é ferido grita de dor”. (ME) 
Perante isto, torna-se ainda mais clara a necessidade de colocar à disposição deles, nopaís de acolhimento, uma Igreja que lhes permita uma sensação de confiança, de suprir os medos e as ansiedades, e foi neste sentido que a Igreja Católica, sob o Secretariado Diocesano das Migrações do Porto, efectivou um papel activo e de compromisso louvável face ao isolamento a que estes indivíduos poderiam estar votados. Por esta razão, encerramos este capítulo citando Helena Vilaça, autora de uma investigação que foi fulcral para a realização desta pesquisa: “As instituições religiosas na sociedade portuguesa, como noutros países, continuam a desempenhar um papel fundamental na integração de novos imigrantes, sendo agentes incontornáveis de um diálogo intercultural” (Vilaça, 2008).
 
 
Considerações Finais
	Vimos a importância do estabelecimento da Igreja Católica Ortodoxa no Porto, no sentido de permitir à comunidade de imigrantes de Leste, uma integração maior, não apenas na sociedade portuguesa, mas também entre si próprios, enquanto portadores de uma identidade étnica. Percebemos que, tal é a importância desta Igreja para a sua comunidade, que muitos dos que hoje frequentam as celebrações, no seu pais de origem, eram mais distanciados das mesmas, podendo mesmo alguns indivíduos possuir um conhecimento da doutrina Ortodoxa deficitário antes da emigração a que se submeteram. É importante registar, igualmente, que potenciais desarmonias entre os pares nos países de origem, diluem-se no país de acolhimento, devido a este sentimento de comunidade, fruto, também, da vivência da religiosidade. 
Neste sentido, talvez possamos evocar Durkheim, abordado no capítulo da contextualização teórica, cujo conceito de coesão se tornou central neste trabalho. É esse sentimento estrutural de coesão social e comunitária que a religião pode propiciar, com maior visibilidade quando nos encontramos perante um fenómeno tão denso como a migração. Não nos enganemos, porém, não deverá ser, em princípio, apenas a religião o único factor de integração nestas comunidades de imigrantes. Partimos desse pressuposto, e alcançamos, como dissemos na nossa introdução, resultados satisfatórios, mas nem por isso conferimos exclusividade à Igreja como factor de integração. Mas para abordar essa questão, uma investigação mais detalhada e metodologicamente mais elaborada, seria necessária. 
Concluímos com duas citações absolutamente relevantes, que solidificam e fortalecem o nosso trabalho: “A integração na Igreja (Dobbelaere, 1968) envolve assim uma integração de cariz cultural (valores, crenças e práticas partilhadas) e outra de tipo estrutural (a frequência e intensidade de interacções existentes entre os membros do grupo). Esta última, no caso das comunidades religiosas de imigrantes em estudo, promove uma integração de natureza mais lata, dada a sua extensão à sociedade no seu todo” (Vilaça, 2008) e, além disso, e contrariamente ao que se poderia pensar ao nível do senso comum, elas (Igrejas) “virtualmente poderiam contribuir para uma guetização dos imigrantes, o fechamento na sua cultura de origem, são instituições que promovem, antes de mais, a cooperação, funcionando como um patamar intermédio de integração social: inserem-nos em redes, abrem portas, estabelecem pontes” (Idem).
Bibliografia Consultada
G. Simmel, L’etica e i problemi della cultura moderna, Guida, Napoli, 1968, 75.
Livro do mercado livre
Anexos
Anexo 1 – Imagens
 Imagem 1 - Iconóstase com exemplos de ícones pendurados
Anexo 2 - Diário de Campo
Igreja Católica Ortodoxa
Observação nº 1
Sábado, 12 de Outubro de 2012, das 19 às 20.30 horas.
Igreja de São Pantaleão, Porto.
Celebração dos 10 anos da Igreja Ortodoxa em Portugal. Liturgia de Vésperas; Convívio posterior entre a comunidade
Arquimandrita: Philip Jagnisz
Nº aproximado de presenças: cerca de 60 pessoas.
Presenças convidadas para a Cerimónia: Arcebispo-Metropolita Policarpo (de Espanha e Portugal) - que presidiu -, o Vigário para Portugal e Galiza Arquimandrita Paul Jagnisz (em Igreja, Philip), O Padre Ivan Buhakov (o mais recente sacerdote da Igreja Ortodoxa), Maria Viterbo - Diretora do Secretariado Diocesano das Migrações - em representação da Diocese do Porto, Rosalina Catarino em representação do Secretariado Diocesano, O Pastor José Manuel da Igreja Evangélica Metodista, o Pastor Anglicano o Vice-cônsul da Ucrânia Dr. Anatoliy Koval, o Pastor Somalis da Igreja Anglicana e o Padre Carlos Alberto Moreira, Católico, amigo do Padre Ivan Buhakov.
Descrição sumária da Cerimónia e Diferentes Momentos em Causa:
Deu início às comemorações do 10º aniversário da Igreja Ortodoxa em Portugal.Relembrando A 1ª. Celebração oficial da Igreja Ortodoxa - Patriarcado Ecuménico, foi no dia 13 de Outubro de 2002 (no Porto). Foi a 1ª vez que celebrou o então Padre Roman Rudnyk (em Igreja, Padre Hilarion), que depois integrou a equipa do Secretariado Diocesano das Migrações e teve um papel importantíssimo na ajuda à integração e no apoio aos mais sós e com problemas. 
Para esta celebração foram retirados os bancos que normalmente se encontram na igreja. Os altares estão enfeitados com flores coloridas e viçosas (é importante salientar que a igreja é uma igreja católica apostólica romana e por isso vislumbramos, ao mesmo tempo, altares com santos e os ícones ortodoxos).
O sacerdote oficiante dá início à cerimónia. Enquanto o coro canta o salmo 103, que fala da criação do mundo, este vai usando o turíbulo, que assim como o candelabro de sete velas, são objetos indispensáveis aos ofícios ortodoxos. (LEV.16:20) O turíbulo contém grãos de incenso feitos de resinas especiais de árvores e flores colocados sobre carvão aceso, que produzem uma fumaça aromática e agradável” (ecclesia).
Há uma sucessão de orações que vão sendo respondidas por alguns (poucos) fiéis que estão ao nosso lado (possivelmente aqueles mais familiarizados com o culto). Volta e meia entra alguém que se dirige para o local onde estão as velas e acendem várias. Os diversos oficiantes com suas vestes coloridas, dão um toque de pompa e de gala à cerimónia. Alguém nos indica um deles como sendo o bispo representante de Jerusalém, mas não chegamos a compreender o seu nome…
Cerca das 2hrs e 15 min, o Arquimandrita Paul Jagnisz dirige-se ao público, e num português vacilante, traduz o que dantes havia dito em russo; cumprimenta todos e faz um convite para que assistam à cerimónia do dia seguinte a partir das 10.30, que será seguida de um almoço que irá decorrer na cave da Igreja da Senhora da Conceição. Salienta que todos estão convidados, amigos e familiares, mas que apenas a comida é oferecida. Cada qual deverá levar a sua bebida, e relembra que o consumo deverá ser moderado.
Depois disso, diz que devemos dirigir-nos para a sala da igreja do Marquês, onde será servido um coquetel, mas antes irá rezar a oração dos mortos, pois a irmã de um dos membros da igreja teria acabado de falecer na Ucrânia, uma das vítimas do desastre atómico de Chernobyl. Pede a quem puder que colabore com um donativo, para a viagem dos familiares. Na Igreja Cristã todas as antigas liturgias, tanto do Oriente quanto do Ocidente, testemunham a lembrança da Igreja em orações dos mortos. Tais liturgias são conhecidas sob os nomes do Santo Apóstolo Tiago, o irmão do Senhor, São Basílio, o Grande, São João Crisóstomo e São Gregório, o Dialogista. Referências similares são encontradas nas liturgias romana, espanhola e galesa, e finalmente nas antigas liturgias dos grupos que se separaram da Ortodoxia: os Jacobitas, Coptas, Arménios, Etíopes, Sírios e outros. Para todas essas liturgias não há uma única onde não se encontre oração para os mortos (igreja ortodoxa hispânica).
Depois de finda a oração, todos se dirigiram para a igreja do Marquês, onde jovens da associação Amizade, trajados com roupas típicas estavam à espera dos convidados. Foi servido um coquetel, com sumos, vinhos, frutas variadas e bombons, que são presençaconstante em qualquer festa dos povos de leste.
O coro apresentou diversos cânticos, houve um momento de poesia e diversos presentes discursaram. A Diretora do Secretariado de Migrações fez um breve resumo da história desses dez anos de trabalho até então (tema que aprofunda connosco na entrevista exploratória).
O Arquimandrita abençoou todos e renovou o convite, que já havia mencionado, para o dia seguinte.
Igreja Católica Ortodoxa
Observação nº 2
Domingo, 24 de Novembro de 2012, das 10 às 12.30 horas, aproximadamente.
Igreja de São Pantaleão, Porto.
Missa e Crisma de uma criança 
Arquimandrita: Philip Jagnisz
Nº aproximado de presenças: entre 40 e 50 pessoas.
Descrição sumária da Cerimónia e Diferentes Momentos em Causa:
Segundo conseguimos apurar, antes do início da missa, teria ocorrido um baptizado (veio a confirmar-se pelo Crisma, imediatamente a seguir ao baptismo e no decorrer da missa propriamente dita). A criança só pode ser baptizada 40 dias após o nascimento, pois durante esse período a mãe não pode abeirar-se do altar por estar numa situação de impureza física (quando está menstruada também não vai á Igreja).
Os bancos da Igreja, ao contrário da observação feita nos 10 anos de comemoração, mantinham-se nos seus lugares (não foram retirados). 
A missa decorre como descrita na observação número um, conduzida pelo Arquimandrita com a cooperação dos seus acólitos e do Diácono, que co-celebra cantando as liturgias durante quase toda a cerimónia, a par do coro que vai entoando, também, as liturgias respectivas.
Os fiéis encontram-se de pé, a maior parte do tempo, e apenas se ajoelham quando o Arquimandrita o solicita, para se voltarem a colocar de pé, pouco tempo depois. Existe um silêncio absoluto por parte destes, respeito e veneração que se percebem nitidamente.
No momento antes da comunhão, a criança que teria sido baptizada é levada ao Arquimandrita para o Crisma, sendo ungida pelo Padre com um óleo específico, sendo marcada com o sinal da cruz em várias zonas do corpo (primeiro a testa, depois os olhos, as narinas, a boca, as orelhas, o peito, as mãos e então os pés). No baptismo, a criança que foi “incorporada” e renascida por Cristo, é no Crisma receptáculo do Dom do Espírito, renascendo como um membro completo do seu povo, e de Deus.
Procedem depois para a comunhão propriamente dita, em memória da morte e da Ressureição de Cristo, distribuindo o vinho com uma colher a todos os fiéis que se confessaram para comungarem, e pão fermentado, que simboliza a natureza nova, isto é, renascida, de Cristo. 
A cerimónia termina como habitualmente.
Os fiéis cumprimentam-se e iniciam o convívio, a interacção que se segue à missa, saindo da igreja lentamente, enquanto vão trocando palavras e saudações.
Igreja Católica Ortodoxa
Observação nº 3
Domingo, 24 de Novembro de 2012, das 10 às 12.30 horas, aproximadamente.
Igreja de São Pantaleão, Porto.
Penitência (Confissão) e Missa
Arquimandrita: Philip Jagnisz
Nº aproximado de presenças: entre 40 e 50 pessoas.
Descrição sumária da Cerimónia e Diferentes Momentos em Causa:
Uma menina, com cerca de 5 anos, é levada ao Padre para se confessar. Ambos se posicionam perto do iconóstase, de pé, enquanto a confissão decorre, recebendo o perdão pelos pecados do pós-baptismo. Ela é feita quando a criança atinge idade suficiente para distinguir o bem e o mal, e é encarada como uma espécie de “segundo baptismo”, reconciliando-se com a Igreja. De seguida, a criança ajoelhou-se, e o padre, colocando a sua estola sobre a cabeça da criança, absolveu-a, orando (demos ênfase para a confissão de ma criança, apesar de outros fiéis também o terem feito).
A missa propriamente dita inicia-se, com todas as alfaias, ícones, acólitos e fieis, e decorre normalmente, como descritas nas observações 1 e 2. O coro entoa as liturgias juntamente com os sacerdotes e os fiéis vão intervindo.
Os bancos da igreja, originalmente católicos, mantêm-se. Os fiéis encontram-se posicionados de pé, mas com uma postura respeitosa e honrada. Vão entrando mesmo após o começo da cerimónia, beijando, primeiramente, um ícone central sobre o altar, e depois colocando velas nos respectivos lados da igreja. 
A cerimónia volta a encerrar-se com a comunhão dos fiéis (apenas daqueles que se confessaram, como manda a doutrina).
Os fiéis iniciam as suas interacções e cumprimentam-se, saudando-se e trocando palavras afectuosas e cordiais.

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