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Ponto 1 - Internacional Público

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Ponto 1 - Direito internacional Público: DIP. Origem. Evolução histórica. Fontes�.
Atualizado em dezembro de 2014. Patrick Lucca Da Ros - pda_ros@yahoo.com.br
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
CONCEITO
	O Direito Internacional é o conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeiras e convencionais) que disciplinam e regem a atuação e a condução da sociedade internacional (formada pelos Estados, pelas organizações internacionais intergovernamentais e também pelos indivíduos), visando alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e a estabilidade das relações internacionais.
	O Direito Internacional Público não se confunde com o Direito Internacional Privado. SHAW distingue as disciplinas como sendo objeto do Direito Internacional Privado as situações jurídicas particulares, que sofrem a interferência de elementos estrangeiros, suscitando questões relativas à aplicação de uma legislação estrangeira ou papel dos tribunais estrangeiros. Já o Direito Internacional Público não seria um simples acessório de uma ordem jurídica constituída, mas um sistema autônomo e exterior às ordens Estatais. PORTELA explica que o Direito Internacional Privado regula os conflitos de leis no espaço, cuidando, essencialmente, de estabelecer critérios para determinar qual a norma, nacional ou estrangeira, aplicável a relações privadas com conexão internacional, ou seja, que transcendem os limites nacionais e sobre as quais incidiria mais de uma ordem jurídica.
	fundamentos do direito internacional
	O DIP vincula? 2 correntes:
	a) DOUTRINA VOLUNTARISTA - o fundamento da obrigatoriedade do DIP se baseia na VONTADE dos Estados. A soberania do Estado somente poderá ser afastada, gerando a consequente obrigatoriedade do DIP, quando eles assim consentirem. Defendida por F. Rezek, e teve muita força nas décadas de 80 e 90. Ainda é mais forte. O Direito Internacional nasceu da soberania dos Estados – necessidade de coexistência pacífica. Para tanto, era imprescindível o seu consentimento. Segundo a doutrina voluntarista, a vinculação das normas internacionais depende da vontade expressa ou tácita dos Estados. Tendo como pressupostos a soberania externa e a autodeterminação dos Estados Nacionais, prega que toda regra de Direito Internacional Público somente pode ser oposta aos seus sujeitos diante de prévia manifestação da vontade destes em a ela se submeterem.
	Em se acolhendo tal tese, teríamos que absolutamente inexistiria hierarquia entre as fontes, já que todas possuiriam o mesmo fundamento de validade (a vontade manifestada), de modo que as antinomias porventura verificadas deveriam ser solucionadas pelos critérios da especialidade e da posteridade.
	
	b) DOUTRINA OBJETIVISTA - visa encontrar nas próprias normas internacionais regras mais objetivas que subjetivas para fundamentar o DIP. O fundamento para a obrigatoriedade seria o PACTA SUNT SERVANDA.
	RELATIVIZAÇÃO DA SOBERANIA - na realidade atual, a questão da soberania é flexibilizada.
	A doutrina Objetivista, a despeito de reconhecer a vontade dos sujeitos de Direito Internacional como fonte criadora primordial deste, defende a existência de regras que se impõe independentemente da adesão dos Estados, dados os valores fundamentais que agregam, as quais se denominam jus cogens.
	Aqui, reconhece-se, pois, hierarquia, já que qualquer das normas não teria validade se contrariasse aquele. É a doutrina defendida por Accioly e vem ganhando força.
	teorias quanto à relação entre direito interno e direito internacional
	a) TEORIA MONISTA - DIREITO INTERNO e DIREITO INTERNACIONAL integram um mesmo sistema. Unicidade da ordem jurídica. [uma única ordem jurídica], ou seja, a validade da norma de uma ordem está condicionada à sua sintonia com as normas da outra ordem.
	-subclassificação:
		i)MONISMO INTERNACIONALISTA[Hans Kelsen – Escola de Viena]
		ii)MONISMO NACIONALISTA[doutrina soviética]
	i)MONISMO INTERNACIONALISTA[Hans Kelsen – Escola de Viena]primado do DIREITO INTERNACIONAL sobre o DIREITO INTERNO. a norma internacional se dirige diretamente ao indivíduo sem que seja necessária sua transformação em lei interna. o Estado soberano não pode sobreviver numa situação de hostilidade ou indiferença frente ao conjunto de princípios e normas que compõe o direito das gentes.
	ii)MONISMO NACIONALISTA[doutrina soviética]primado do DIREITO INTERNO sobre o DIREITO INTERNACIONAL. A adoção dos preceitos de direito internacional representa uma faculdade. Valorização da soberania e reconhecimento da descentralização da sociedade internacional.
	influência do hegelianismo – o Estado possui soberania absoluta e não estaria sujeito a nenhum sistema jurídico que não tenha emanado de sua própria vontade.
	crítica: tal posicionamento acaba por negar a existência do DIP como ramo autônomo e independente.
	o direito internacional seria reduzido a um direito estatal externo  o DIP é um direito interno que os Estados aplicam na sua vida internacional; um direito nacional para uso externo.
	b) TEORIA DUALISTA [Carl Heinrich Triepel (Alemanha); Dionisio Anzilotti (Itália)] ou escola do paralelismo - DIREITO INTERNACIONAL e DIREITO INTERNO são sistemas rigorosamente independentes e distintos. -a validade de uma norma jurídica não se condiciona à sua sintonia com a ordem internacional.
	Para a Teoria Dualista, o Direito Internacional e o Direito Interno são sistemas distintos, independentes, separados e que não se confundem. Um trata da relação entre Estados; o outro, regra entre indivíduos. Geralmente a defesa da teoria dualista é feita por quem adota a visão voluntarista do direito.
	Brasil – correntes:
	F. REZEK – MONISTA MODERADO
 		fundamentos:o Brasil não exige lei para a incorporação do tratado.
 				no Brasil, uma norma internacional ainda que válida e ratificada não pode ser aplicada internamente antes que seja promulgada.
 	Prof. André de Carvalho Ramos: o Brasil está mais próximo do DUALISMO MODERADO que do MONISMO MODERADO.
 		fundamento: as características e regras adotadas pelo ordenamento nacional aproximam-se mais da teoria dualista que da teoria monista.
***atenção***:não é DUALISMO PURO porque não se exige lei.
ORIGEM HISTÓRICA
	Foi na Europa que apareceu o Estado-moderno, sendo esse o marco do desenvolvimento dos principais institutos do direito internacional contemporâneo. Contudo, segundo PELLET, não se pode negar que no período “pré-estatal” havia um direito internacional, pois a disciplina deve ser considerada, acima de tudo um direito “intersocial” ou “intergrupal”.
	PRIMEIRA FASE. O período de formação vai até a Revolução Francesa. O documento mais antigo encontrado (de 2.100 a. C.) foi um tratado solene firmado entre os soberanos de Lagash e Umma, cidades-estados da Mesopotâmia, inscrito em um bloco de pedra e contratava a definição de uma fronteira a ser respeitada sob pena de provocar a ira dos deuses da região. Já o documento mais famoso da antiguidade foi o tratado firmado entre Ramsés II do Egito e o rei dos hititas, de 1.292 a. C., que se estabelecia entre ambos a paz e irmandade eterna.
	As cidades-estados gregas utilizavam dois instrumentos essenciais às relações entre si: o tratado e a diplomacia.
	Em Roma destacam-se as normas estabelecidas unilateralmente referentes às relações com os estrangeiros dando origem ao jus fetiale e o jus gentium.
	Da idade média a mais importante característica foi a divisão do Direito Internacional entre direito da guerra e direito da paz, adotada por alguns autores até hoje. Também nessa época distingue-se guerra justa da guerra injusta.
	SEGUNDA FASE. A formação do Direito Internacional contemporâneo se dá com o surgimento dos Estados soberanos. O marco moderno foi a conclusão dos tratados de Vestfália de 1648, dando fim à Guerra dos 30 anos, cujas principais características são:
Derrota do imperador e do Papa: legaliza-se formalmente onascimento dos novos Estados soberanos e a nova carta política da Europa; e institui-se a liberdade religiosa total;
Assentam-se os primeiros elementos do direito público europeu: a soberania e a igualdade dos Estados são reconhecidas como princípios fundamentais das relações internacionais; prevê-se o recurso ao processo dos tratados como instituto de resolução de problemas comuns; cria-se um mecanismo de manutenção da nova ordem europeia.
	TERCEIRA FASE  TRATADO DE VERSALHES
			-marco histórico: Tratado de Versalles [1.919]
 				-foi um tratado de paz.
 				-criação da ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.
 				-criação da SOCIEDADE (OU LIGA) DAS NAÇÕES.
 					
			-acontecimentos relevantes:
 				final do século XIX e início do século XX:
 					nascem as primeiras ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS.
				século XX:
 			 		século marcado pela cooperação;
 					fenômeno de internacionalização do Direito Interno  o direito Internacional passa a estar presente em todos os ramos do Direito.
	QUARTA FASE 
			-acontecimentos relevantes:
 			 	crescentes ameaças à vida humana no planeta, acontecimento de desastres ambientais, miséria e desigualdade crônica de desenvolvimento, conflitos armados.
 			-SOCIEDADE INTERNACIONAL ainda é marcada pelo voluntarismo.
 				Estado é reconhecido como fonte primária do DI:
 					PRODUTOR
 					DESTINATÁRIO e
 					INTÉRPRETE DA NORMA.
 			-começam a surgir pequenas rupturas nesse sistema:
 				JUS COGENS e tentativa de reconhecimento de hierarquia normativa no DI.
 				subordinação da vontade do Estado às deliberações cogentes da maioria, em diversas organizações internacionais.
			-início de um movimento de aproximação do DIREITO INTERNACIONAL e do DIREITO INTERNO marcado por um processo de institucionalização do direito internacional, assim como ocorre no direito interno.
			-perspectivas para a quarta fase: globalização.
 				criação de BLOCOS REGIONAIS e fortalecidos de ORGANIZAÇÕES SUPRANACIONAIS (integração)
				criação de ORGANIZAÇÕES SUPRANACIONAIS, que recebem poderes antes inerentes à soberania estatal. [ex.: união europeia da jurisdição de tribunais internacionais, Constituição Europeia – mimetização do Direito Constitucional interno].
				criação de órgãos semelhantes aos existentes no direito interno.
				CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL – BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE  doutrina europeia começa a refletir sobre o impacto dos tratados internacionais no ordenamento interno.
 	as normas não se limitariam àquelas previstas no texto constitucional, mas também seriam compostas por normas presentes em tratados internacionais. (transconstitucionalismo)
 	processo de INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL.
FONTES
	Por fontes do Direito Internacional entendem-se os documentos ou pronunciamentos de que emanam direitos e deveres das pessoas internacionais configurando os modos formais de constatação do direito internacional. Atualmente, o fenômeno em voga é o da descentralização das fontes dos direitos das gentes. Atualmente se verifica uma reavaliação das fontes do Direito Internacional Público com a consequente atualização dessas mesmas fontes na doutrina e na jurisprudência internacionais. Por esse motivo o autor prefere dividir as fontes do Direito Internacional Público em primárias e meios auxiliares, ou novas fontes do direito das gentes.
	PORTELA aponta as fontes formais como os elementos que provocam o aparecimento das normas jurídicas, influenciado sua criação e conteúdo. São materiais as fontes que determinam a elaboração de certa norma jurídica. As fontes materiais são os fatos que demonstram a necessidade e a importância da formulação de preceitos jurídicos, que regulem certas situações.
	As fontes do Direito Internacional apareceram ao longo da história e foram inicialmente consolidadas dentro do Estatuto da Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI), firmado no âmbito da Liga das Nações, após a 1ª Guerra Mundial. Posteriormente, essa corte foi substituída pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) que no art. 38 de seu estatuto elencou as seguintes fontes:
Artigo 38
1. A Corte, cuja função seja decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar;
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de uma prática geralmente aceita como direito;
c) os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) sob a ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para determinação das regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte para decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isso concordarem.
	A lista apresentada não configura um rol exaustivo, que impeça a sociedade internacional de revelar outras fontes.
	O art. 38 do Estatuto da Corte não pronuncia qualquer grau hierárquico entre as fontes. Nesse sentido a doutrina soviética opunha-se a qualquer critério rigidamente hierárquico entre as normas do Direito Internacional, não obstante considerar ser algumas regras ou princípios mais importantes que outros. Segundo essa doutrina, não há hierarquia entre os tratados e as demais fontes do Direito Internacional, mesmo porque a validade das normas convencionais depende da regra consuetudinária pacta sunt servanda.
	Na prática, os tribunais internacionais têm dado preferência às disposições específicas, de caráter obrigatório, dos tratados internacionais vigentes, sobre o direito costumeiro e sobre os princípios gerais de Direito Internacional. Mas ressalva que esta prática somente pode ser aceita se a norma consuetudinária não forma uma norma imperativa de Direito Internacional geral, ou seja, de jus cogens, que não pode ser derrogada por um tratado entre dois Estados.
	Não se pode confundir “hierarquia de fontes” com “hierarquia de normas”. As fontes referem-se às formas de manifestação das disposições do Direito, ao passo que as normas trazem as próprias regras de conduta. Assim é possível que princípios e regras encerrados nas mesmas fontes ocupem níveis hierárquicos diferentes dentro de um ordenamento, como é o caso da norma de jus cogens consagrada em um tratado, que deve preponderar sobre regras presentes em outros tratados.
	Além das fontes descritas no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça a doutrina reconhece outras decorrentes unicamente das relações internacionais. Essas fontes são a analogia, a equidade, os atos unilaterais dos Estados, as decisões das organizações internacionais, o as normas de jus cogens e as normas soft law.
1) Tratados:
	Os tratados são a fonte mais segura e mais completa e concreta do DIP. Os tratados trazem segurança jurídica e estabilidade para as relações internacionais. O Direito que regulamenta e disciplina os tratados no plano internacional é o Direito dos Tratados, que regula a forma como negociam as partes; os órgãos encarregados da negociação; a forma de entrada em vigor do tratado; e a aplicação internada do tratado.
2) Costumes:
	Historicamente, os costumes sempre foram a principal fonte do DIP.
	MAZZUOLI aponta que sua importância advém do fato de não existir ainda no campo do Direito Internacional um centro integrado de produção normativa, não obstante a atual tendência de codificação das normas internacionais de origem consuetudinária. O costume internacional tem tido um papel importante na formação e desenvolvimento do Direito Internacional, primeiro, por estabelecer um corpo de regras universalmente aplicáveis em vários domínios do direito das gentes e, segundo, por permitir a criação de regras gerais que são regras-fundamento de constituição da sociedade internacional.A formação de uma norma costumeira internacional requer dois elementos: um de caráter material e objetivo; e outro de caráter psicológico e subjetivo:
caráter material/objetivo: é a prática generalizada, reiterada, uniforme e constante de um ato na esfera das relações internacionais ou no âmbito interno, com reflexos externos. É a inveterata consuetudo, que constitui o conteúdo da norma costumeira;
caráter psicológico/subjetivo/espiritual: é a convicção de que tal pratica é juridicamente obrigatória. Trata-se da opinio juris sive necessitatis, que significa a convicção do direito ou da necessidade.
	A ausência do segundo elemento, isto é, da opinio juris é a diferença entre um uso e um costume.
	PROBLEMA: o costume é uma prática que se pensa obrigatória em relação a todos os Estados. E o novo Estado é obrigado a seguir o costume do qual não participou de sua formação? O novo Estado é obrigado a participar de um costume, de cuja criação não participou? Há correntes sobre o tema:
Corrente euroamericana: O Estado novo é obrigado a aderir ao costume, porque já encontra uma sociedade internacional pronta. Se o Estado novo quer participar da sociedade internacional, deve aceitá-la como está. DOUTRINA MAJORITÁRIA.
Corrente Latinoamericana: o novo Estado não é obrigado a aceitar.
Corrente Mista: os novos Estados não são obrigados a aderir ao costume, EXCETO em se tratando de regras de jus cogens, ou seja, regras obrigatórias, EXEMPLO: regras de proteção de direitos humanos.
	Pelo ECIJ não há hierarquia entre tratado e costume. O que ocorre quando um tratado é celebrado contrariamente em relação ao costume? Se não há hierarquia entre eles, mas o tratado pode revogar costume. E o costume pode revogar tratado? O costume pode revogar o tratado na prática, mas, tecnicamente, não, porque o tratado é uma norma escrita, que para ser revogado precisa de outra norma escrita. No caso específico, o tratado não será mais utilizado porque está em DESUSO (desuetudo).
	Por não haver hierarquia entre as fontes, podem ser aplicados os métodos tradicionais de solução de conflitos sobre a matéria (critério cronológico, da especialidade, etc.). Tais critérios também podem ser utilizados em caso de conflitos entre costumes, os quais podem se dar entre dois costumes gerais, dois costumes regionais ou entre um costume geral e um costume regional. Nos dois primeiros casos o costume posterior (lex posterior) prevalece sobre o anterior e, no segundo, o costume regional (lex specialis) prevalece sobre o geral.
3) Princípios gerais do Direito:
	São as normas de caráter mais genérico e abstrato que incorporam os valores que fundamentam a maioria dos sistemas jurídicos mundiais, orientando a elaboração, interpretação e aplicação de seus preceitos e podendo ser aplicadas diretamente às relações sociais. Os princípios gerais do Direito são aqueles princípios aceitos pelos Estados in foro domestico.
	Critica-se a expressão “nações civilizadas” utilizada na norma por não existirem nações incivilizadas.
4) Princípios gerais do Direito Internacional Público
	São as normas de caráter mais genérico e abstrato que alicerçam e conferem coerência ao ordenamento jurídico internacional, orientando a elaboração e aplicação das normas internacionais e a ação de todos os sujeitos de Direito das Gentes.
	Dentre os princípios gerais do Direito Internacional apontam-se: a soberania nacional; a não intervenção; a igualdade jurídica entre os Estados; a autodeterminação dos povos; a cooperação internacional; a solução pacífica de controvérsias; e o esgotamento dos recursos internos antes do recurso a tribunais internacionais. Ademais, adquire relevo cada vez maior o princípio da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais. Em âmbito doméstico, a Constituição elenca em seu art. 4º os princípios adotados pelo Brasil em suas relações internacionais:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
5) Equidade e justiça:
	A CIJ tem a faculdade de decidir EX AEQUO ET BONO, ou seja, com equidade e justiça. Em algumas situações especiais, pode ser empregada a EQUIDADE (decisão pautada por justiça e ética), se as partes com isso concordarem.
6) Meios auxiliares:
	São MEIOS AUXILIARES: a DOUTRINA dos juristas mais qualificados das mais diferentes nações e a JURISPRUDÊNCIA (decisões judiciárias).
	A jurisprudência internacional é o conjunto de decisões reiteradas no mesmo sentido, em questões semelhantes, proferidas por órgãos internacionais de solução de controvérsias. As decisões abrangem as decisões dos TRIBUNAIS ARBITRAIS INTERNACIONAIS. A JURISPRUDÊNCIA INTERNA também faz parte das decisões judiciárias.
	A jurisprudência consiste nas reiteradas manifestações judiciárias dando a casos semelhantes a mesma solução. Tecnicamente, a jurisprudência não é fonte de direito, mas sim fonte de interpretação do direito. O direito não nasce da jurisprudência, já que ela somente é responsável pela interpretação do direito preexistente. A jurisprudência ocorre em casos contenciosos, não ocorrendo em caso de competência consultiva, porque não existe jurisprudência de pareceres.
	Doutrina dos juristas mais qualificados das distintas nações: está-se referindo aos grandes autores de obras clássicas de DIP.
	Obs.: ANALOGIA: Consiste na aplicação a determinada situação de fato de uma norma jurídica feita para ser aplicada em caso semelhante. Não é meio auxiliar: o artigo 38 do ECIJ não faz menção à analogia.
	
7) Novas fontes:
7.1 Decisões Tomadas no Âmbito das Organizações Internacionais:
	As decisões das Organizações Internacionais (na sua condição de sujeito do DIP) são atos institucionais, dos quais os Estados não participam senão indiretamente. Essas decisões devem manifestar-se obrigatoriamente com efeito “externa corporis” para serem consideradas fonte de DIP. Essas decisões (assim como as decisões dos Estados) são unilaterais, eis que emanadas de um único órgão, ao qual se atribui (por meio do tratado-fundação da organização) o poder se emitir decisões com poderes vinculantes para os Estados-partes.
	Muitas dessas decisões de organizações internacionais, a exemplo de algumas resoluções da ONU, podem deter o valor jurídico de “jus cogens”. Para saber os limites dos poderes decisórios de certa organização internacional, tem que se analisar o seu tratado-fundação.
	O Conselho de Segurança da ONU é o único órgão com poder de tomar decisões efetivamente mandatórias, as quais os membros das Nações Unidas têm que acatar e fielmente executar, nos termos do art. 25 da Carta da ONU (“Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as decisões do Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta”). As resoluções relativas a questões internas também são obrigatórias. Os demais órgãos da ONU formulam recomendações, que não tem cunho vinculante.
7.2 Atos Unilaterais dos Estados:
	Partindo-se da premissa voluntarista de que as normas de Direito Internacional se fundamentam no consentimento dos Estados e das Organizações Internacionais, os atos unilaterais não poderiam ser fontes do direito das Gentes. Contudo, a dinâmica das relações internacionais revela que atos cuja existência tenha dependido exclusivamente da manifestação de um Estado terminam por influenciar as relações internacionais, gerando consequências jurídicas independentemente da aceitação ou envolvimento de outros entes estatais.
	EXEMPLO: CASO DOS TESTES NUCLEARES na baía australiana (1974): A França começou a fazertestes nucleares, mas se comprometeu por meio de uma declaração unilateral que não iria mais fazê-los, criando, assim, direito para a Austrália.
	Características: NÃO são normativos, porque não têm generalidade e abstração. Entretanto, são atos jurídicos porque pertencem ao âmbito do direito.
	Classificação: os atos unilaterais podem ser:
TÁCITOS: também denominado aquiescência. Representa os efeitos de uma ausência de manifestação de vontade nas seguintes hipóteses:
um Estado não utilizou dos meios jurídicos que seriam aptos a impedir uma situação de constituição de um direito em favor de outros Estados (preclusão);
o Estado comportou-se anteriormente em contradição com suas alegações de motivos jurídicos (“estoppel”);
o Estado silencia-se, numa situação em que a abstenção de manifestação de vontade, pode produzir efeitos jurídicos (efeitos do silêncio no Direito Internacional).
	No caso de estoppel ou de preclusão, a CIJ manifestou-se em várias ocasiões, com destaque no Caso do Templo de Préah Vihéar (Camboja v. Tailândia) em 1962, e mais recentemente, em casos que envolveram delimitações de espaços marítimos em litígios relativos a pesca internacional. No Caso do Templo de Préah Viéhar, a CIJ aplicou no Direito Internacional, o princípio geral de direito: “quem cala, quando deveria falar, consente”): tratava-se da reivindicação de soberania sobre territórios onde se localizam importantes templos sagrados do Budismo, julgada em favor do Camboja. Isso porque se provou que a Tailândia, mesmo tendo conhecimento das fronteiras traçadas pela França entre ambos os países, herdadas por eles após as respectivas independências, silenciara a respeito da localização dos templos, tendo ainda permitido a confecção, em gráficas em seu território, de mapas impressos, que os situavam no Estado vizinho. Neste mesmo Caso e nos dois casos de delimitações de fronteiras marítimas, as normas sobre o “estoppel” e a preclusão em Direito Internacional, foram igualmente definidas: a CIJ reconheceu que as postulações de um Estado-parte em um litígio são julgadas em função dos seus atos e condutas anteriores e que podem estar em contradição com as próprias pretensões no litígio; segundo a CIJ, tais efeitos decorrem da aplicação do princípio da boa-fé que deve reinar nas relações internacionais, e que proíbe um Estado de aproveitar-se das próprias contradições, em prejuízo de outro Estado.
EXPRESSOS	: Comunicação de governos, cartas diplomáticas, comunicações diplomáticas e outros. Eventualmente, podem estar expressos em tratados.
	No Brasil, houve um ato unilateral: o DECRETO IMPERIAL 3749, de 1886, que abriu o Rio Amazonas para a navegação comercial de todas as bandeiras. Tecnicamente, esse decreto ainda não foi revogado. A questão que poderia ser formulada é a seguinte: se o navio de uma bandeira for impedido de navegar no Rio Amazonas, enquanto outros estão passando, pode alegar que o Brasil está descumprindo um ato unilateral.
	São bastante conhecidos alguns exemplos de atos unilaterais:
Notificação: ato pelo qual um sujeito do direito internacional público dá a outro ou outros o conhecimento de um fato determinado que pode produzir efeitos jurídicos
Reconhecimento: ato por meio do qual um sujeito de direito internacional aceita uma determinada situação de fato ou de direito e, eventualmente, declara considerá-la legítima
Protesto: é um ato sempre formal, público e com efeitos “erga omnes”, pelo qual um Estado declara sua intenção expressa de não reconhecer uma situação ou direito, ou de demonstrar seu descontentamento com um fato atribuível a outro Estado. Visa a produzir os efeitos contrários ao de um reconhecimento, impedindo que o silêncio produza seus efeitos, em especial, de configurar um consentimento tácito (Caso do Templo de Préah Vihéar, por exemplo). O protesto tem também a importante função de impedir que se constitua um costume internacional. Ex.: os protestos da Espanha quanto à ocupação “manu militari” pelos ingleses, do Estreito de Gibraltar.
Renúncia: o abandono de direito por um sujeito de direito internacional público. Deve ser expressa, formulada pelo próprio Estado a quem se concedem privilégios e imunidades, e deve ser feita em cada processo (inadmitidas renúncias generalizadas).
Promessa: consiste no ato unilateral de um Estado, pelo qual este institui para si mesmo um dever de agir ou de abster-se de agir, ao mesmo tempo em que se cria um direito subjetivo a outros Estados de exigir o cumprimento das obrigações assim instituídas. Em dois casos célebres, julgados no mesmo dia (20/12/1974), que ficaram conhecidos como o Caso dos Ensaios Nucleares no Pacífico (Austrália v. França e Nova Zelândia v. França), as reclamantes solicitavam à CIJ uma ordem de proibição de a França, a reclamada, continuar com os testes nucleares na atmosfera, numa região do Pacífico (explosões nucleares a céu aberto, no Atol de Mururoa). A França, citada, não apresentou sua concordância em aceitar a jurisdição da CIJ, bem como não apresentou sua defesa, o que não impediu de a CIJ continuar com o processo. O fato é que, antes mesmo das audiências preliminares, e antes da sentença final, a França, por declarações públicas de suas mais altas autoridades (dentre as quais um comunicado à imprensa da Presidência da República) e por promessas feitas diretamente aos Governos da Austrália e da Nova Zelândia, declarou que cessaria aqueles experimentos com artefatos nucleares, até o final do ano de 1974. Tais fatos, que não poderiam constar dos autos perante a CIJ, dada a revelia de França, eram suficientemente conhecidas por qualquer pessoa no mundo, o que motivou a que a CIJ os considerasse como “um comprometimento do Estado francês” e, sendo assim, declarasse extinto o processo, sem julgamento de mérito, tendo em vista que os objetivos perseguidos pelos Estados demandantes tinham sido satisfeitos. Da sentença constou o seguinte: “É reconhecido que declarações que se revestem da forma de atos unilaterais e que dizem respeito a situações de fato ou de direito, podem ter o efeito de criar obrigações jurídicas. Nenhuma contrapartida, nenhuma aceitação ulterior, nenhuma reação de outros Estados se tornam necessárias para que uma declaração de tal tipo produza seus efeitos. A forma, igualmente, não é decisiva. A intenção de obrigar-se deve ser determinada pela interpretação do ato. O caráter obrigatório do comprometimento resulta dos termos do ato e repousa na boa-fé; os Estados interessados se encontram legitimados a exigir-lhes o respeito.”
	OBS.: Não são quaisquer atos isolados imputáveis a um Estado que produzem efeitos jurídicos no Direito Internacional, mas unicamente aqueles que este reconhece com tais faculdades e dentro das hipóteses igualmente previstas por ele. Por outro lado, alguns atos unilaterais podem, por vezes, ser considerados como atos de pura cortesia internacional (sancionados pelo sistema da “comitas gentium”), como convites a iniciar-se uma negociação internacional, ou pedidos de informações sobre atos internos de outros Estados (consultas recíprocas), ou sugestões a outro Estado de abster-se de tal ou qual comportamento; mas, no caso de estarem tais atos revestidos da forma jurídica (negociações estarem previstas em tratados ou convenções multilaterais; prestações de informações e os deveres de consultas recíprocas resultarem de obrigações convencionais bilaterais ou multilaterais; existência de um dever de exigir-se uma abstenção pactuado em atos bilaterais ou multilaterais), serão atos jurídicos unilaterais dos Estados, porquanto o Direito Internacional lhes reconhece como fontes de normas internacionais com efeitos na ordem jurídica internacional.
	7.3 As normas de jus cogens:
	As normas de jus cogens não constam do rol do artigo 38 do Estatuto da CIJ. A Convenção de Viena sobre os tratados (artigo 53) fala em normas superiores à vontade dos Estados, que não podem ser modificadas sequer pelos tratados internacionais.
Artigo53- Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito Internacional Geral (jus cogens)
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza.
	A emergência do “jus cogens” nada mais representaria do que o abandono das teorias voluntaristas exacerbadas dos séculos passados. Elas são rígidas (diferente das soft Law). Para boa parte da doutrina as normas de jus cogens provêm ou podem vir a provir tanto do costume internacional quanto do direito convencional e ainda dos princípios gerais de direito.
7.4 As normas de soft law
	O termo "soft law" refere-se a instrumentos "quase-legais" que não têm caráter juridicamente vinculativo, ou cuja força de ligação é um pouco "mais fraca" do que a força obrigatória das leis tradicionais, muitas vezes referidas como "hard law". Tradicionalmente, o termo "soft law" é associado ao direito internacional, embora mais recentemente tenha sido transferido para outros ramos do direito interno também.
	No contexto do direito internacional, o termo "soft law" engloba elementos tais como:
A maioria das resoluções e declarações da Assembleia Geral da ONU;
Declarações, princípios, códigos de conduta, códigos de práticas etc; frequentemente encontrados como parte de acordos-quadro;
Os planos de ação, a exemplo da Agenda 21;
Outras obrigações não relacionadas a tratados.
	No Direito Internacional a terminologia não é unânime. No entanto, para a maioria dos profissionais de direito internacional, o desenvolvimento de instrumentos de "soft law" é benéfico dentro do sistema jurídico internacional, visto os Estados serem muitas vezes relutantes em assumirem compromissos que possam resultar em redução de sua soberania, ao ficarem vinculados a tratados e acordos. Por isso, instrumentos de "soft law" são geralmente vistos como opção flexível, que evita o compromisso imediato decorrente de tratados, o que não significa que o seu sistema de “sanção” também não exista, sendo certo que o seu conteúdo será moral ou extrajurídico, em caso de descumprimento ou inobservância de suas diretrizes. Visto que a "soft law" tende a se tornar uma "hard law", ela também é considerado uma rota potencialmente mais rápida para compromissos jurídicos definitivos, considerado o ritmo lento do direito internacional consuetudinário.
�	Atualização com base no resumo do TRF1 de 2014 e do TRF2 de 2013.

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