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Faculdade do Cabo de Santo Agostinho – Fachuca Curso: Direito Disciplina: Psicologia Jurídica Turma: 4º Período – Noite Professora: Sueli Nunes Trabalho Júri Simulado Aluno: Guilherme Peixoto de Melo Jr Matrícula: dir20141064 Cabo de Santo Agostinho – PE 2015 1. Considerações iniciais O presente trabalho tem por finalidade analisar os principais aspectos abordados no Júri Simulado acontecido no auditório da Faculdade Fachuca na cidade do Cabo de Santo Agostinho – Pernambuco, sob a perspectiva Psico-Jurídica. O Júri Simulado foi baseado no Livro “Crime e Castigo” do escritor russo Fiódor Dostoiévski publicado em 1866, onde os alunos se dispuseram a comando da professora, representar o: Juiz, Réu, Corpo de Jurados, Promotoria, Defensoria, Perito Judicial – Psicólogo, Perito Judicial – Assistente Social, baseado na história de todo o livro, cujo o julgamento se dá a partir da captura do acusado: Raskólnikov, seguindo-se ao seu julgamento, onde através da sua confissão, pressionado pela consciência, se sente na obrigação de pagar pelo que cometeu, mas não devido ao fato de se sentir arrependido, mas por sentir “culpado” por não ter logrado êxito em sua empreitada ideológica, que passamos no decorrer deste trabalho a expor. No Livro, o réu confesso, é beneficiado pelo instituto da Confissão, Falta de antecedentes criminais, culminando na condenação de oito anos em uma cadeia da Sibéria, região remota da Rússia, onde abrigou ao longo da História, diversos presos, mantidos através de pesados trabalhos. Enfim, para melhor análise do trabalho, faz-se a necessidade da análise prévia da Obra Literária a ser estudada. 2. Aspectos principais da Obra: Crime e Castigo O Livro, objeto do Júri Simulado, narra a história do jovem Rodion Românovitch Raskólnikov, um estudante que comete um duplo homicídio e se vê culpado por sua “incapacidade” de continuar sua vida após o bárbaro crime. O romance se baseia numa visão sobre existencialismo e religião e com um foco predominante no tema de atingir salvação por sofrimento, sem deixar de comentar algumas questões do niilismo e socialismo. 2.1 A Filosofia Niilista: Antes de avançar na abordagem da Obra, é necessário tecer alguns comentários sobre o Niilismo, característica psico-filosófica bem marcante na trama. A filosofia niilista, afeta as mais variadas esferas do mundo contemporâneo, seja em qual área for: ciências, arte, moral, ética, literatura, teorias sociais, educação, Governo, Estado. Sua característica principal é o pessimismo e uma visão negativa em relação a existência (seja de ideais, de verdades, do ser humano ou mesmo das palavras). É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Adeptos a esta filosofia apresentam dificuldade psico- filosófica de adaptar-se as Leis, a Ordem, Preceitos Fundamentais e Princípios que norteiam a vida de uma sociedade, pois os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". "Tudo é sacudido", posto radicalmente em discussão, característica esta tão presente no protagonista da trama, o Rodion Românovitch Raskólnikov. 2.2 - A Filosofia Socialista A Obra: Crime e Castigo é permeada de fortes traços da Filosofia Socialista, ao repetir de diversas maneiras o ódio a Senhora Aliena Ivánovna, dizeres a idosa de: rabugenta, ranzinza, sem espírito altruísta, sem compaixão e resmunga como reclamando de tudo, a todo o momento eram frequentes no livro. A representação da idosa como uma agiota fruto do Capitalismo selvagem se desenvolve em toda a história, tornando a leitura clara quanta a crítica ao sistema. Em outra passagem do livro, o jovem estudante conhece um bêbado numa taberna, o Senhor Marmieládov, o qual o mesmo inicia uma conversa com Raskólnikov e, entre diálogos, um se faz percorrer em assuntos como empréstimo de dinheiro, o bêbado disse: “Isso mesmo, sem qualquer esperança, sabendo de antemão que nada vai conseguir. Você sabe, por exemplo, de antemão e em detalhes que essa pessoa, o mais bem-intencionado e mais útil dos cidadãos, não lhe vai emprestar de jeito nenhum, pois, pergunto eu, por que iria emprestar? Ora, já sabe que eu não vou pagar. Por compaixão? Mas o senhor Liebeziátnikov, em dia com as novas idéias, explicou há pouco que a compaixão em nossa época está proibida até pela ciência e que já é assim que se procede na Inglaterra, onde existe a economia política. Por que, pergunto eu, emprestaria? Pois bem, mesmo sabendo de antemão que não vai emprestar, ainda assim você se põe a cominho… (DOSTOIÉVSKI, 2001, p. 31).” A referência a Inglaterra, não foi à toa, foi muito bem empregada a seu tempo, de fácil linguagem até mesmo para pessoas leigas ou mesmo para personagens alcoolizados, tal como relatado na obra, a referência à Inglaterra, nessa conversa do personagem Marmieládov com Raskólnikov, é importante, porque, historicamente, a partir de seu nascedouro na Inglaterra, o capitalismo se espalhou pelo mundo eliminando todos os demais modos de produção. 2.3 - O Socialismo-niilista A Obra literária Crime e Castigo, demonstrou muito bem os valores sociais, filosóficos vividos em um país em uma determinada época, suas palavras escritas nesta fantástica obra se eternizaram revelando e apontando o momento vivido na Rússia, onde o niilismo, que inspira também o crime de Raskolnikov, vai para o plano social e político e passa a designar um movimento de rebelião contra a ordem estabelecida, o atraso da sociedade e os seus valores. Assim, Dostoiévski (autor do livro) presenciou movimentos socialistas e anarquistas que promoveram atentados terroristas e assassinatos políticos na Rússia czarista, que foram denominados de Niilistas, traço marcante na Obra. 3 - Do Papel da Promotoria no Júri Simulado A partir das primeiras impressões subjetivas, psicológicas e filosóficas da Obra, passa a se entender toda a trama, bem como a matemática lógica dos fatos. Ultrapassado o traço tempo-cultural, a Promotoria (composta por alguns alunos do Curso de Direito da Fachuca) passa a esmiuçar todos os detalhes da história, sob o aspecto fático e probatório, mas como não haviam pistas materiais para a elucidação do crime, a Promotoria se viu obrigada a estudar todo o arcabouço psico-filósófico da trama analisando não apenas sob o contexto, o qual defendia o autor da obra, mas sob o contexto normativo do nosso ordenamento jurídico vigente, onde a pena a ser imposta por tremendo desvio de conduta pode chegar a trinta anos de reclusão. 4 - Quanto ao argumento de inimputabilidade absoluta apresentada pela Defesa A Defesa (formada por alguns alunos do curso de Direito da Fachuca) se centra na ideia de que o acusado no momento do crime estaria totalmente inconsciente de sua conduta, por estar em tese: doente, impossibilitado de receber uma pena, mas sim um tratamento psicológico ou de saúde, ou seja, uma medida de segurança. O trabalho da Promotoria, foi enaltecer ao Corpo de Jurados (formado por visitantes e alunos do curso de administração), o contexto o qual o acusado vivia. Foi-lhes apresentado cada fato, de uma maneira expositiva, descravada dos ideais tão defendidos pelo o autor da obra, mostrando objetivamente traços de completa lucidez e planejamento do acusado ao planejar metodicamente, primeiramente a confiança da idosa, com diversas negociações, mais tardiamente, com a promessa deque lhe traria algo significativamente lucrativo o qual veio a despertar ainda mais o interesse da idosa no acusado, facilitando sua entrada e saída do recinto. 5 - Laudo apresentado pelo Perito Judicial - Assistente social O Perito assistente social (aluno do curso de Direito no 4º período), apresentou o Laudo social que em suma, tentava explicar o comportamento do acusado, como consequência da dura realidade que o mesmo passava, abordando que o sistema capitalista proporcionava o surgimento de indivíduos que ao se sentirem excluídos, passavam a praticar crimes. Eis a transcrição da conclusão do Laudo social, na íntegra: “Após discorrer algumas considerações sobre os vínculos supostamente evidenciados entre crimes e eventuais problemas de personalidade individual, entendo que a explicação sobre os motivos pelos quais se possam cometer tais crimes devem ser buscados na Ordem Social. Dessa forma, as dificuldades proporcionadas por uma estrutura econômica injusta poderiam produzir problemas como o desemprego, a miserabilidade e, consequentemente causar crimes. Portanto, o entendimento a que se chegou, foi na intenção de que, as desigualdades sociais deveriam ser apreciadas como fatores determinantes e essenciais do comportamento tido como criminoso. Assim sendo, buscou-se considerar que o comportamento criminoso é distribuído entre as mais diversas camadas da sociedade, devendo ser observada até que ponto as instituições sociais poderiam funcionar caso realmente existissem indivíduos extraordinários com legitimidade para cometer crimes, enquanto outros tantos eram obrigados a viver na obediência às diversas normas de conduta. Vislumbrando o Laudo Social, que foi confeccionado por alunos do curso de Direito do 4º Período, foi notável numa breve análise por Parte da Promotoria, que toda a carga ideológica/filosófica contida na Obra Literária fora absorvida a primeiro momento por alguns integrantes do Júri Simulado, que conforme acima transcrito, chega a indagar como deveriam se comportar as instituições sociais, caso “realmente” existissem indivíduos extraordinários com LEGITIMIDADE para cometer crimes. Ora, foi este justamente os dizeres do acusado, quando se autodenominava super-homem, onde o assassinato da idosa era apenas um meio para poder auto afirmar-se na sociedade, parece que sua crença foi literalmente transcrita no Laudo Social. A argumentação básica oferecida pela Promotoria contra o Laudo Social apresentado foi no sentido de que o laudo foi cravado de subjetividade e impressões pessoais do pretenso perito. Ao ponto de em todo seu desenvolvimento, só voltar a ideia de que o acusado cometeu crime sob o pretexto de ser um “excluído do sistema capitalista”, exclusão esta, totalmente absurda, considerando o simples fato, do acusado (autor de dois homicídios), estar matriculado numa instituição de ensino superior e não comparecer às aulas, conforme a história. E ainda que, digamos que o mesmo fosse um “excluído”, expressão esta notada de caráter malicioso, pois ninguém é excluído para sempre, não significa dizer que o mesmo, não possa a partir do seu próprio trabalho voltar a ter condições melhores. 6 - Laudo Psicológico apresentado pelo Perito Judicial Psicólogo. O Perito Psicólogo (aluno do curso de Direito no 4º período), apresentou o Laudo psicológico, cuja a conclusão, passo a seguir transcrevê-la: “Através dos dados analisados no psicodiagnóstico não foram verificados indícios de Deficiência Mental, pelo contrario tem o Desenvolvimento Mental acima da media, porém tem dificuldades de ordem social e afetiva, fixação pela teoria do homem extraordinário, obsessão e oscilação de humor. Diagnóstico: O paciente apresenta transtorno de personalidade anti-social, CID-10: F60.2 CID. 10(Classificação Internacional de Doenças ) F60.2 = Personalidade dissocial. Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade.” Efetuado a leitura do Parecer, é notável que em decorrência da análise da capacidade articulatória do acusado, o Perito Psicólogo (formado por integrantes do Curso de Direito), observa que da matemática lógica dos fatos, não há do que se falar em indivíduo com doença ao ponto de justificar o cometimento, segundo a história, de dois bárbaros homicídios. Laudo este, que muda todo o destino de um futuro julgamento prestes a se tornar conhecido por parte da coleta dos votos do Corpo de Jurados (composto por visitantes de outros cursos oferecidos pela Faculdade), o qual a Promotoria passa a trabalha-los e expô-los de uma maneira bem enfática. 7 - Do resultado final: a Condenação do acusado. Oferecidas todas as manifestações: acusação, através da Promotoria, Defesa, através do advogado do condenado, Laudo social e Psicológico, através do assistente social e psicólogo respectivamente, o Juiz passa a palavra ao corpo dos Jurados para tornar público o resultado final. Por quase maioria dos votos dos Jurados, o acusado é condenado a passar 28 anos na cadeia. 8 - Conclusão A cadeira de Psicologia Jurídica foi fundamental para mostrar aos estudantes de Direito sobre a necessidade de se estudar a capacidade mental do indivíduo no momento do crime, de modo que se possa auferir sua culpabilidade ou não, conforme disposto no código penal. Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Redução de pena. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Além disso, o Psicólogo Jurídico atua, como auxiliar do Juiz, quando efetua avaliações psicológicas, perícias, orientações, acompanhamento, disputa de guarda dos filhos, regulamentação de visita, alienação parental, contribuindo assim para políticas públicas preventivas e repressivas, estudando os efeitos do jurídico sobre a subjetividade do indivíduo, entre outras formas de atuação.
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