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939 Mediastino CAPÍTULO 55 Estritamente falando, o mediastino é a região de separação entre os pulmões e inclui a parte mediastinal da pleura parietal. Entretanto, o termo é comumente aplicado à região entre os dois sacos pleurais delimitada anteriormente pelo esterno e posteriormente pela região torácica da coluna vertebral, e que estende verticalmente a partir da entrada do tórax até o músculo diafragma. Para propósitos descritivos, esta região é arbitraria- mente dividida nos mediastinos superior e inferior, e este último é subdi- vidido em partes anterior, média e posterior. O plano de divisão em mediastinos superior e inferior cruza a articulação manubrioesternal e a superfície inferior da quarta vértebra torácica (Fig. 55.1). Considerações detalhadas de alguns componentes mediastinais também estão incluídas nas descrições dos órgãos respiratórios (Cap. 57) e do coração (Cap. 56). SUBDIVISÕES DO MEDIASTINO MEDIASTINO SUPERIOR O mediastino superior se encontra entre o manúbrio do esterno e as quatro vértebras torácicas superiores (Fig. 55.19A-C). Ele é delimitado abaixo pelo plano esternal, acima pelo plano da entrada torácica e late- ralmente pelas pleuras mediastinais. Contém as extremidades inferiores dos músculos esterno-hióideo, esternotireóideo e longo do pescoço; rema- nescentes do timo; as artérias e veias torácicas internas, as veias braquio- cefálicas e a metade superior da veia cava superior, o arco da aorta, as artérias braquiocefálica, carótida comum esquerda e subclávias, e a veia intercostal superior esquerda; os nervos vagos direito e esquerdo e frêni- cos, o nervo laríngeo recorrente esquerdo, os nervos cardíacos e a parte superfi cial do plexo cardíaco; a traqueia, o esôfago e o ducto torácico. Ele também contém os linfonodos paratraqueais, braquiocefálicos e traqueo- bronquiais associados com suas respectivas estruturas. MEDIASTINO INFERIOR Mediastino anterior O mediastino anterior se encontra entre o corpo do esterno e o pericárdio (Fig. 55.19D e E). Ele se estreita acima das quartas cartilagens costais, onde os sacos pleurais se aproximam um do outro, e contém tecido conjuntivo, os ligamentos esternopericárdicos, alguns linfonodos e os ramos medias- tinais da artéria torácica interna. O mediastino anterior pode, às vezes, conter parte do timo ou seus remanescentes degenerados. Mediastino médio O mediastino médio é a parte mais larga do mediastino inferior (Fig. 55.19D e E). Ele contém o pericárdio, o coração e a parte ascendente da aorta; a metade inferior da veia cava superior que recebe o arco da veia ázigo posteriormente; a bifurcação da traquéia e os dois brônquios prin- cipais; o tronco pulmonar e as artérias pulmonares direita e esquerda, e veias pulmonares direitas e esquerdas; os nervos frênicos direito e esquerdo; a parte profunda do plexo cardíaco; e os linfonodos traqueobronquiais. Mediastino posterior O mediastino posterior é delimitado anteriormente pela bifurcação da traqueia, pelos vasos pulmonares, pelo pericárdio e pela parte posterior da face superior do músculo diafragma (Fig. 55.19D e E). Posteriormente, ele é delimitado pela coluna vertebral, a partir da borda inferior da quarta à décima-segunda vértebras torácicas, e a cada lado pela parte mediastinal da pleura. Ele contém a parte torácica da aorta descendente e as veias ázigo, hemiázigo e hemiázigo acessória; as cadeias simpáticas esquerda e direita, os nervos esplâncnicos e os nervos vagos esquerdo e direito; o esôfago; o ducto torácico e os linfonodos mediastinais posteriores. COMUNICAÇÕES MEDIASTINAIS COM O PESCOÇO Existem vias anatômicas entre a cavidade oral e o tórax através do espaço parafaríngeo e outros planos fasciais do pescoço. O espaço parafaríngeo é mais provável de ser infectado do que quaisquer dos outros espaços teciduais potenciais na cabeça e no pescoço: a infecção pode passar deste espaço para os espaços retrofaríngeos e pré-traqueais, de modo a atingir o mediastino superior, de onde ela pode trilhar para a parte anterior do mediastino inferior (Cap. 28). SUPRIMENTO SANGUÍNEO E DRENAGEM LINFÁTICA O mediastino contém os grandes vasos (i.e., o arco da aorta e seus ramos, a aorta torácica descendente, o tronco pulmonar e a veia cava superior), as artérias e veias pulmonares, torácicas internas e intercostais posteriores, e o sistema venoso ázigo. Grandes vasos do mediastino superior O arco da aorta, a parte torácica da aorta, o tronco pulmonar e a veia cava superior estão descritos no Capítulo 56. Sistema venoso ázigo Veia ázigo A veia ázigo (do grego azygos = “ímpar”) tipicamente se inicia a partir da face posterior da veia cava inferior, no nível – ou abaixo deste – das veias renais, embora a origem não seja constante (Figs. 55.2, 55.3 e 55.14B). Quando presente, a veia ázigo lombar ascende anteriormente às vértebras SUBSEÇÃO: Coração e mediastino MEDIASTINO POSTERIOR MEDIASTINO MÉDIO MEDIASTINO ANTERIOR MEDIASTINO SUPERIOR Coração Veia cava inferior M. diafragma Ângulo do esterno Timo Linha da primeira costela Artéria subclávia esquerda Traqueia Arco da aorta Artéria pulmonar (direita) Brônquio principal (esquerdo) Esôfago Aorta L1 T12 T11 T10 T9 T8 T7 T6 T5 T4 T3 T2 T1 C7 Artéria carótida comum esquerda Manúbrio Fig. 55.1 As principais divisões do mediastino (veja o texto para maiores detalhes). Observe que nem todos os constituintes do mediastino foram representados. MEDIASTINO 940 S E Ç Ã O 7 lombares superiores. Ela pode passar por trás do pilar direito do diafragma ou atravessá-lo, ou pode atravessar o hiato aórtico à direita da cisterna do quilo. Anteriormente ao corpo da décima-segunda vértebra torácica, a veia ázigo recebe um grande vaso formado pelas veias lombar ascendente direita e subcostais, o qual passa adiante e à direita da décima-segunda vértebra torácica por trás do pilar direito: na ausência de uma veia ázigo lombar, este tronco comum pode formar a veia ázigo propriamente dita. Qualquer que seja sua origem, a veia ázigo ascende no mediastino posterior até o nível da quarta vértebra torácica, onde ela se arqueia para a frente, acima do hilo do pulmão direito. Ela termina na veia cava superior, antes que esta última penetre no pericárdio. A veia ázigo se encontra anteriormente aos corpos das oito vértebras torácicas inferiores, ao ligamento longitudinal anterior e às artérias intercostais posteriores direitas. O nervo esplâncnico maior direito, e o pulmão e a pleura direitos, são relações laterais direitas. O ducto torácico e a aorta e, onde a veia se arqueia para a frente, o esôfago, a traqueia e o nervo vago direito são relações laterais esquerdas. Na parte inferior do tórax, a veia ázigo é coberta anteriormente por um recesso do saco pleural direito e pelo esôfago; ela emerge por trás do esôfago para ascender por trás do hilo do pulmão direito. A veia ázigo se encontra próxima à face póstero- lateral direita da parte torácica da parte descendente da aorta: as pulsações aórticas podem auxiliar o retorno venoso nas veias ázigo e hemiázigo. Veia hemiázigo A veia hemiázigo é formada do lado esquerdo a partir das três veias intercos- tais posteriores inferiores, um tronco comum formado pelas veias lombares ascendentes e subcostais, e pelas tributárias esofágicas e mediastinais (Fig. 55.2). Ela ascende anteriormente ao nível da coluna vertebral até o oitavo nível torácico, cruzando em seguida a coluna vertebral posteriormente à aorta, ao esôfago e ao ducto torácico, e termina na veia ázigo (Fig. 55.3). Sua extre- midade inferior está frequentemente conectada à veia renal esquerda. Veia hemiázigo acessória A veia hemiázigo acessória desce à esquerda da coluna vertebral e recebe veiasderivadas do quarto ou do quinto ao oitavo espaços intercostais esquerdo; ela cruza a sétima vértebra torácica para se unir à veia ázigo (Figs. 55.5 e 55.6). A veia hemiázigo acessória às vezes recebe as veias bronquiais esquerdas e pode se unir à veia hemiázigo; neste caso seu tronco comum se abre na veia ázigo. Variações das veias do sistema ázigo As veias do sistema ázigo variam grandemente em seu modo de origem, trajeto, tributários, anastomoses e terminação. A veia hemiázigo acessória é a mais variável, e pode drenar para a veia braquiocefálica esquerda, para a veia ázigo ou para a veia hemiázigo. O arranjo mostrado na Figura 55.3 representa um padrão comum. Comumente, existe uma veia ázigo princi- pal ‘do lado direito’ e pelo menos algumas representativas das veias hemi- ázigo. Estas últimas variam, e uma ou outra pode estar ausente ou mal desenvolvida. Muito ocasionalmente, veias ázigo esquerda e direita inde- pendentes (a forma embrionária inicial) persistem, ou uma única veia ázigo pode ocorrer em uma posição na linha mediana sem tributárias hemiázigo. Conexões transvertebrais retroaórticas a partir das veias hemi- ázigo e hemiázigo acessória para a veia ázigo também são extremamente variáveis: pode haver até cinco conexões. Quando uma das veias hemiázigo está ausente, as veias intercostais relevantes cruzam os corpos vertebrais e terminam na veia ázigo. Estas rotas transvertebrais são frequentemente muito curtas, porque a veia ázigo é mais comumente anterior à coluna vertebral e frequentemente passa para a esquerda da linha mediana em parte de seu trajeto. Quando existe uma interrupção congênita da veia cava inferior (VCI), a veia ázigo pode se tornar tão grande quanto a VCI que foi substituída. Raramente, o arco da veia ázigo no ângulo traqueobronquial direito pode ser colocado mais superolateralmente em uma fi ssura ázigo acessória diagonal no lobo superior do pulmão direito como uma conse- quência de falha da descida embrionária. Artérias e veias torácicas internas Os vasos torácicos internos estão descritos no Capítulo 54. Artérias e veias pulmonares Os vasos pulmonares estão descritos no Capítulo 57. Artérias e veias intercostais posteriores As veias intercostais posteriores acompanham suas artérias em 11 pares; eles estão descritos no Capítulo 54. LINFONODOS MEDIASTINAIS Os linfonodos mediastinais (Figs. 55.4 e 56.3) são classifi cados em esta- ções regionais de linfonodos por cirurgiões torácicos para os propósitos Veia subclávia Veia braquiocefálica Veia jugular interna Primeira veia intercostal posterior Veia braquiocefálica Veia intercostal superior Veia hemiázigo acessória Veia hemiázigo Veias ázigo lombares Canal alternativo Veias lombares ascendentes Segunda veia lombar Terceira veia lombar Quarta veia lombar Veia iliolombar Veia sacral medianaVeia ilíaca interna Veia ilíaca externa Veia ilíaca comum Veia cava inferior Veia lombar ascendente Primeira veia lombar Veia subcostal Veia ázigo Veia ázigo Veia cava superior Veia intercostal superior Veia ázigo Veia hemiázigo acessória Veia hemiázigo Parte torácica da parte descendente da aorta Pulmão direito: contorno da raiz Fig. 55.2 As extremidades superior e inferior do sistema ázigo de veias e suas principais veias associadas. As partes intervenientes foram omitidas porque os diagramas frequentemente induzem a erros sob o ponto de vista topográfi co. Existe uma considerável variação nas partes transtorácicas das veias ázigo e hemiázigo em termos de números de radículas, níveis de cruzamento transmediano etc. Fig. 55.3 Um trajeto frequente (talvez o mais comum) seguido pelas veias ázigo, hemiázigo e hemiázigo acessória em suas porções intratorácicas. Os contornos da raiz do pulmão direito e da parte torácica da parte descendente da aorta estão incluídos. 945 C A P ÍT U L O 5 5 falhas cirúrgicas e a recorrência de sintomas. Ocasionalmente, um ramo cinzento e um ramo branco se fundem para formar um ramo “misto”. Os ramos mediais derivados dos cinco gânglios superiores são muito pequenos, e fornecem fi letes para a parte torácica da aorta e seus ramos; eles formam um delicado plexo aórtico torácico sobre a aorta, com fi letes derivados do nervo esplâncnico maior. Ramos do segundo ao quinto ou sexto gânglios entram no plexo pulmonar posterior. Outros, derivados do segundo ao quinto gânglios, passam para a parte profunda (dorsal) do plexo cardíaco. Pequenos ramos destes nervos pulmonares e cardíacos passam para o esôfago e a traqueia. Os ramos mediais derivados dos sete gânglios inferiores são grandes; eles suprem a aorta e se unem para formar os nervos esplâncnicos maior, menor e inferior (os dois últimos nem sempre são identifi cáveis). O nervo esplâncnico maior consiste principalmente em fi bras efe- rentes pré-ganglionares mielínicas e fi bras aferentes viscerais e é formado por ramos do quinto ao nono ou décimo gânglios torácicos; as fi bras nos ramos superiores podem ser seguidas até o primeiro ou segundo gânglios torácicos. Suas raízes variam de uma a oito, sendo quatro o número mais comum. Ele desce obliquamente sobre os corpos verte- brais, fornece ramos para a parte torácica da parte descendente da aorta e perfura o pilar do diafragma ipsilateral até terminar principalmente no gânglio celíaco, mas parcialmente no gânglio aorticorrenal e na glândula suprarrenal (ou adrenal). Um gânglio esplâncnico existe no nervo oposto à décima primeira ou décima segunda vértebra torácica em uma maioria de indivíduos. O nervo esplâncnico menor, formado por ramos do nono e décimo (às vezes o décimo e o décimo primeiro) gânglios torácicos e pelo tronco entre eles, perfura o músculo diafragma com o nervo esplâncnico maior e se une ao gânglio aorticorrenal. O nervo esplâncnico imo derivado do gânglio torácico mais baixo, entra no abdome com o tronco simpático para terminar no plexo renal. O nervo esplâncnico maior está sempre presente, o menor está comu- mente presente, e o imo está frequentemente presente. Um quarto nervo esplâncnico (acessório) tem sido descrito. Simpatetctomia torácica A simpatectomia torácica endoscópica (STE) é o método de escolha para curar a hiperidrose moderada e severa das palmas das mãos, o enrubesci- mento facial fóbico, a doença de Raynaud severa em estágio terminal com úlceras periféricas e a distrofi a simpática refl exa severa. O tratamento das duas últimas doenças pela STE é controverso porque o efeito é usualmente transitório. A STE é muito bem sucedida em pacientes em cura de hiperi- drose e enrubescimento facial fóbico: síndromes dolorosas têm um resul- tado signifi cativamente pior. A operação envolve a realização de minúsculas incisões atrás da prega peitoral anterior na axila, e insufl ar uma pequena quantidade de dióxido de carbono na cavidade torácica para permitir o acesso com um toracoscópio modifi cado. No tratamento do enrubescimento facial fóbico, ela é sufi ciente para dividir as fi bras que seguem superiormente a partir do segundo gânglio torácico por sobre o colo da segunda costela, deixando o segundo gânglio quase intacto. O tratamento da hiperidrose palmar requer a ablação por termocoagulação do tronco simpático por sobre os colos da terceira e quarta costelas, tomando o cuidado para evitar qualquer propagação de energia térmica ao longo do tronco de modo a evitar a lesão do gânglio estrelado, situado mais superiormente (veja “síndrome de Horner” no parágrafo abaixo). O risco de sudorese compensatória é signifi cativamente reduzido, embora não completa- mente excluído, por limitar o número de gânglios tratados a um mínimo absoluto. Como um procedimento adicional, a divisão das vias simpá- ticas inconstantes(nervo de Kuntz, ramos comunicantes adicionais ascendentes ou descendentes) na segunda, terceira e quarta costelas pode melhorar os resultados cirúrgicos. O efeito é imediatamente evidente: o paciente acorda da anestesia com as mãos secas e quentes. Em muitos casos, mesmo a hiperidrose dos pés melhora, mas os mecanismos anatômicos/fi siológicos responsáveis ainda não são propriamente compreendidos (Gofeld e Faclier, 2006). As complicações cirúrgicas são muito raras: a síndrome de Horner é a mais temida, e é causada pela lesão do gânglio estrelado e pela interrupção das fi bras simpáticas derivadas de T1, as quais ascendem ao redor das artérias que suprem a cabeça e o pescoço (Cap. 28). Os efeitos colaterais incluem a sudorese compensatória (variando de raramente perceptível a bastante perturbadora) em outros locais do corpo devido ao exercício ou à exposição a altas temperaturas em até 70% dos pacientes. Isto é severo em 5% dos pacientes e pode ser mais frequente naqueles operados para a hiperidrose axilar (quando dois gânglios mais inferiores têm que ser divididos): alguns cirurgiões agora não consideram a hiperidrose axilar isolada como uma indicação para este procedimento. A sudorese gustatória ou olfatória também pode ocorrer em até um terço dos pacientes, mas raramente é considerado um problema. Outros efeitos colaterais documentados são a incapacidade de elevar a frequência cardí- aca durante um treinamento físico, e em alguns casos isto tem levado a uma capacidade diminuída de realizar trabalhos e atividades diárias. Alguns pacientes também experimentam uma sensação desconfortável de não ser capaz de controlar sua temperatura corporal. O NERVO VAGO NO MEDIASTINO O nervo vago contém fi bras parassimpáticas pré-ganglionares que surgem em seu núcleo posterior e seguem no nervo e em seus ramos pulmonares, cardíacos, esofágicos, gástricos, celíacos e outros. Algumas fi bras parassim- páticas cardíacas podem se originar de neurônios no núcleo ambíguo ou próximo a este. A proporção de fi bras parassimpáticas eferentes no nervo vago varia em diferentes níveis, mas é pequena em relação a seu conteúdo sensitivo e sensoriomotor. As fi bras eferentes transmitem para minúsculos gânglios nas paredes viscerais. Os ramos cardíacos se unem aos plexos cardíacos e transmitem para gânglios que estão distribuídos livremente por sobre ambos os átrios no tecido subepicárdico. As fi bras terminais estão distribuídas para os átrios e para o feixe atrioventricular; elas estão concentradas ao redor do nó sinoatrial e, em um grau menor, do nó atrioventricular (Cap. 56). Os ramos cardíacos diminuem a velocidade do ciclo cardíaco e reduzem a força de contração. Tem-se afi rmado que os nervos vagos podem infl uen- ciar o músculo ventricular apenas através de seu efeito sobre o nó atrio- ventricular, muito embora a inervação parassimpática pós-ganglionar dos ventrículos seja esparsa. Os ramos menores das artérias coronárias são inervados principalmente através do nervo vago, enquanto as artérias maiores, com uma dupla inervação, são principalmente supridas por fi bras simpáticas. Os ramos pulmonares são motores para as fi bras mus- culares lisas circulares dos brônquios e bronquíolos e, consequentemente, são broncoconstritores; as transmissões sinápticas ocorrem nos gânglios dos plexos pulmonares. A distribuição do nervo vago para as vísceras abdominais está descrita em capítulos apropriados na seção sobre Abdome e pelve. Nervo vago direito O nervo vago direito desce posteriormente à veia jugular interna e cruza a primeira parte da artéria subclávia para entrar no tórax. Ele desce através do mediastino superior, inicialmente por trás da veia braquiocefálica direita, e em seguida à direita da traqueia e posteromedialmente à veia braquiocefálica direita e a veia cava superior. A pleura e o pulmão direitos estão lateralmente a ele acima, e estão separados dele abaixo pela veia ázigo, a qual se arqueia para a frente e acima do hilo do pulmão direito (Fig. 55.6). Ele passa por trás do brônquio principal direito e se encontra sobre a face posterior do hilo do pulmão direito, onde ele se divide nos ramos pulmonares (ou bronquiais) posteriores. Estes últimos se unem com os ramos derivados do segundo ao quinto ou sexto gânglios simpá- ticos torácicos para formar o plexo pulmonar posterior direito. Dois ou três ramos descem da parte inferior deste plexo sobre a face posterior do esôfago e se unem a um ramo vagal esquerdo para formar o plexo esofá- gico posterior. Um tronco vagal que contém fi bras dos nervos vagos direito e esquerdo deixa o plexo e segue para baixo sobre a superfície posterior do esôfago. Ele entra no abdome passando através do hiato esofágico. Nervo vago esquerdo O nervo vago esquerdo entra no tórax entre as artérias carótida comum esquerda e subclávia, e por trás da veia braquiocefálica esquerda. Ele desce através do mediastino superior e cruza o lado esquerdo do arco da aorta para passar por trás do hilo do pulmão esquerdo (Fig. 55.6). Acima do arco da aorta, ele é cruzado anterolateralmente pelo nervo frênico esquerdo, e sobre o arco pela veia intercostal superior esquerda. Atrás do hilo, ele se divide nos ramos pulmonares (ou bronquiais) posteriores, os quais se unem com ramos do segundo ao quarto gânglios simpáticos torácicos para formar o plexo pulmonar posterior esquerdo. Dois ou três ramos descem anteriormente sobre o esôfago e se unem a um ramo derivado do plexo pulmonar posterior direito para formar o plexo esofágico anterior. Um tronco contendo fi bras derivadas de ambos os nervos vagos desce anterior- mente ao esôfago e entra no abdome através do hiato esofágico. TIMO O timo (Figs. 55.8 e 55.9) é um dos dois órgãos linfoides primários; o outro é a medula óssea. Ele é um órgão bilobado, encapsulado e macio; as duas partes se encontram unidas na linha mediana por tecido conjun- tivo que se mescla com a cápsula de cada lobo. Estes lobos normalmente podem ter aderências com o pericárdio fi broso, o qual necessita de uma pericardiectomia limitada durante uma timectomia. O timo é visível à TC e a cortes axiais em RM imediatamente anterior à parte ascendente da aorta e inferiormente à veia braquiocefálica esquerda; a atenuação da TC em indivíduos mais jovens é homogênea e similar ou maior que a do Timo MEDIASTINO 946 S E Ç Ã O 7 músculo, e a intensidade do sinal com TC sobre imagens pesadas em T2 é similar ou maior do que a da gordura. RELAÇÕES O timo é maior no início da vida, particularmente à época da puberdade, e persiste ativamente na velhice, apesar da considerável degeneração fi bro- adiposa, a qual às vezes obscurece a existência do tecido tímico. A maior parte do timo se encontra no mediastino superior e na parte anterior do mediastino inferior, e a borda inferior do timo atinge o nível das quartas cartilagens costais. Superiormente, extensões para o pescoço são comuns, refl etindo as origens embriológicas (bilaterais) do timo a partir do terceiro par de bolsas faríngeas. Seus polos superiores se unem e se estendem para cima, no nível da incisura jugular; o polo esquerdo usualmente se estende mais alto e é visto primeiro por trás dos músculos infra-hióideos durante os estágios iniciais da timectomia transcervical (p. 949). Ele às vezes atinge os polos inferiores da glândula tireóide ou mesmo mais alto, e está conec- tado à glândula tireoide através do ligamento tireotímico. Seu formato é largamente moldado pelas estruturas adjacentes. Inferiormente, a extremi- dade inferior do lobo direito comumente se encontra entre o lado direito da parte ascendente da aorta e o pulmão direito, anteriormente à veia cava superior. Anteriormente, encontram-se o músculo esterno-hióideo, o músculo esternotireóideo e fáscia (no pescoço) e o manúbrio do esterno,os vasos torácicos internos e as três cartilagens costais superiores (no tórax). As pleuras se encontram lateralmente e os nervos frênicos estão anterolateral e inferiormente. Posteriormente, o timo está em contato com os vasos do mediastino superior (a veia braquiocefálica esquerda pode estar parcialmente embebida no órgão), a parte superior da traqueia e a superfície anterior do coração. Cirurgiões torácicos que realizam timecto- mias devem estar atentos sobre a variação anatômica onde os polos supe- riores podem estar situados posteriormente à veia braquiocefálica esquerda. Um tecido tímico separado é frequentemente encontrado dissemi- nado ao redor do órgão, e restos tímicos ectópicos são às vezes descobertos em localizações mediastinais incomuns. Pequenos nódulos acessórios podem ocorrer no pescoço; eles representam porções que se tornaram destacadas durante sua descida embriológica. Delgadas faixas de tecido tímico podem ocorrer ao longo da linha de descida e podem atingir até a cartilagem tireoide ou acima. O tecido conjuntivo que marca a via embriológica pode seguir entre o timo e as glândulas paratireoides. SUPRIMENTO SANGUÍNEO E DRENAGEM LINFÁTICA Artérias O timo é suprido principalmente por ramos das artérias torácicas internas e tireóidea inferior, as quais também suprem o tecido conjuntivo medias- tinal circunjacente. Um ramo derivado da artéria tireóidea superior às vezes está presente. Não há um hilo principal, mas ramos arteriais passam dire- tamente através da cápsula ou, mais frequentemente, em meio aos septos interlobares antes de entrar no timo na junção entre o córtex e a medula. Veias As veias tímicas drenam para as veias braquiocefálica esquerda, torácicas internas e tireóidea inferior, e ocasionalmente diretamente para a veia cava superior. Uma ou mais veias frequentemente emergem medialmente de cada lobo do timo para formar um tronco comum que se abre na veia braquiocefálica esquerda. Drenagem linfática O timo não apresenta vasos linfáticos aferentes. Os vasos linfáticos efe- rentes surgem a partir da medula e da junção corticomedular e drenam através dos espaços extravasculares em companhia das artérias e veias que suprem o timo. Os vasos linfáticos tímicos terminam nos linfonodos braquiocefálicos, traqueobronquiais e paraesternais. INERVAÇÃO O timo é inervado pela cadeia simpática através do gânglio cervicotorácico (estrelado) ou alça subclávia, e pelo nervo vago. Ramos derivados dos nervos frênico e cervical descendente estão distribuídos principalmente para a cápsula. Os dois lobos são inervados separadamente através de suas faces posteriores, laterais e mediais. Durante o desenvolvimento e antes de sua descida para o tórax, o timo é inervado pelo nervo vago no pescoço. Após sua descida, o timo recebe uma inervação simpática através de fi bras que seguem ao longo dos vasos: terminações simpáticas pós-ganglionares se ramifi cam radialmente e formam um plexo com as fi bras vagais na junção corticomedular. A inervação está completa em torno do início da função tímica. Muitos dos nervos autônomos são indubitavelmente vasomotores, mas outros ramos terminais (pelo menos em roedores) se ramifi cam por entre as células do timo, particularmente na medula, sugerindo que eles possam ter outras funções. A medula contém um número de diferentes tipos de células não linfoides, incluindo células positivas para o polipeptídeo intestinal vasoativo e acetilcolinesterase, grandes células não mioides e células contendo oxitocina, vasopressina e neurofi sina, de possível origem da crista neural. Os papéis do sistema nervoso e de outros elementos neuroendócrinos na biologia geral do timo são pouco compreendidos. MICROESTRUTURA O timo é responsável pelo fornecimento de linfócitos T (processados no timo) para todo o corpo e proporciona um microambiente único, no qual os precursores das células T (timócitos) sofrem o desenvolvimento, a dife- renciação e a expansão clonal para liberar a resposta perfeitamente especí- fi ca pelas células T, adquirindo simultaneamente a tolerância imunológica aos componentes do próprio corpo. Estas etapas envolvem íntimas intera- ções entre os timócitos e outras células (principalmente células epiteliais e células apresentadoras de antígenos) e fatores químicos no ambiente tímico. O timo também é parte dos eixos neuroimunológico e neuroendó- crino do corpo, e infl uencia e é infl uenciado pelos produtos destes eixos. Sua atividade, portanto, varia durante toda a vida sob a infl uência de dife- rentes estados fi siológicos, condições patológicas e insultos químicos, tais como hormônios, drogas e poluentes. Arquitetura geral É útil considerar as origens embriológicas do timo a fi m de compreender sua organização celular. O timo é derivado de uma variedade de fontes, incluindo derivados epiteliais das bolsas faríngeas, mesênquima, células Timo, lobo esquerdo Artérias carótidas (divisão baixa) Extensões cervicais do timo Timo, lobo direito Pulmão direito Traqueia 432112345 50 cm Fig. 55.8 O timo neonatal. Fig. 55.9 Timo de uma menina de 9 anos de idade (à esquerda) e de um homem de 80 anos de idade (à direita). Note a infi ltração fi broadiposa do timo do idoso. (Por cortesia do Professor M Kendall, Department of Physiology, GKT School of Medicine, London.) 947 C A P ÍT U L O 5 5 hematopoiéticas da linhagem linfoide e tecido vascular. Ao corte histoló- gico, o timo pode ser visto como apresentando um córtex externo com células densamente compactadas, principalmente da linhagem dos linfó- citos T (timócitos) e uma medula interna com poucas células linfoides (Fig. 55.10). Ambos os lobos do timo apresentam uma cápsula de tecido conjun- tivo frouxo, pouco fi broso, a partir da qual septos penetram em direção à junção entre córtex e medula e separam parcialmente os lóbulos irregula- res (Fig. 55.12), os quais apresentam, cada um, 0,5-2,0 mm de diâmetro. Os septos de tecido conjuntivo formam uma rota de entrada e saída para vasos sanguíneos e nervos, e conduzem vasos linfáticos eferentes. A maioria das células migrantes entra ou sai do timo por esta rota. Em cada lóbulo, o córtex é composto por um córtex superfi cial sub- capsular (uma estreita faixa de células imediatamente abaixo da cápsula), e o córtex principal, o qual é muito mais extenso. A medula central de ambos os lobos tímicos é contínua de um lóbulo para o seguinte. Arcabouço epitelial Ao contrário de outras estruturas linfoides, nas quais o arcabouço de sustentação é principalmente o tecido reticular com fi bras reticulares (colágeno do tipo III), o timo contém uma rede de células epiteliais interconectadas (Fig. 55.10) a qual cria um ambiente apropriado, devido ao contato célula a célula e à liberação de fatores parácrinos, no qual os linfócitos tímicos (células T) se desenvolvem e amadurecem. Embora diferentes em morfologia, todas as células epiteliais do timo comparti- lham de uma origem comum a partir do endoderma da faringe primi- tiva. Elas variam de tamanho e formato de acordo com suas posições no interior do timo. Tipicamente, elas apresentam núcleos pálidos e ovoides, um citoplasma bastante eosinofílico e adesões intercelulares através de desmossomas. Feixes de fi lamentos intermediários de citoqueratinas se encontram em seu citoplasma. As células subcapsulares formam um revestimento externo contínuo para o timo abaixo de sua cápsula fi brosa e seguem seu perfi l lobulado, embainhando os vasos que passam para o órgão, e contribuindo para a barreira hematotímica funcional. Outras células epiteliais corticais formam uma trama frouxa de longos prolon- gamentos citoplasmáticos, enquanto células epiteliais medulares tendem a formar cordões mais sólidos, assim como também corpúsculos de Hassal:os linfócitos se encontram em meio aos interstícios da trama ou entre os cordões. Grandes células epiteliais podem estar associadas ao redor de 50 ou mais timócitos, e às vezes são chamadas de células-babás tímicas (nurse cells). Os corpúsculos de Hassal são espirais de células epiteliais medulares em camadas concêntricas, de 30 a 100 µm de diâmetro, e são estruturas características da medula do timo (Figs. 55.10 e 55.11). Eles começam a se formar antes do nascimento e seus números aumentam durante toda a vida. Sua função não está clara, embora eles possam representar um local de remoção de timócitos mortos ou apoptóticos, porque seus centros são eosinófi los, parcialmente queratinizados e frequentemente contêm resí- duos celulares. Corpúsculos com uma aparência similar foram descritos na tonsila palatina. Outras células tímicas não linfocíticas O timo também contém células da linhagem mieloide, fi broblastos e células mioides. As células da linhagem mieloide incluem monócitos na junção corticomedular; macrófagos maduros por todo o órgão, mas par- ticularmente no córtex; e células dendríticas (apresentadoras de antígenos) interdigitantes na junção corticomedular e na medula. Algumas células dendríticas são de origem linfoide, em vez de origem mieloide. Fibroblas- tos são encontrados na cápsula, nos espaços perivasculares e na medula, mas são pouco frequentes no córtex, exceto no timo involuído. Células mioides, as quais são relativamente raras, estão situadas principalmente na medula e na junção corticomedular. Elas são grandes células arredon- dadas, e possuem um núcleo central circundado por feixes de miofi lamen- tos irregularmente organizados. Suas funções são desconhecidas, embora tem sido sugerido que suas contrações poderiam auxiliar o movimento das células linfoides através ou para fora do timo. Timócitos O córtex é densamente compactado com pequenos timócitos (linfócitos tímicos, células T presumíveis). Eles ocupam os interstícios do retículo epitelial, o qual em cortes histológicos é amplamente obscurecido por estas células e formam 90% do peso total do timo neonatal. Uma distinta zona subcapsular abriga as células-tronco tímicas e linfoblastos sofrendo divisão mitótica. As primeiras células-tronco a entrar no timo no embrião advêm do saco vitelino e do fígado durante suas fases hematopoiéticas. No decorrer de períodos de desenvolvimento subsequentes, é provável que todos os linfócitos tímicos se originem na medula óssea antes de saírem do timo para a corrente sanguínea. Os timócitos sofrem mitose em todas as zonas corticais à medida que células T em diferenciação amadurecem, movendo-se gradativamente para regiões mais profundas do córtex (Fig. 55.12). O processo de desen- volvimento e maturação dos timócitos para gerar células T depende do microambiente proporcionado pelas células epiteliais, células dendríti- cas, macrófagos e fi broblastos. As células T que falham em reconhecer moléculas do próprio MHC (histocompatibilidade) ou que reconhecem autoantígenos morrem por apoptose, de modo a atingir uma reatividade imunológica funcional e manter a autotolerância, respectivamente. Cerca de 95% dos timócitos corticais morrem no interior do timo; as células T sobreviventes migram através das paredes das vênulas e dos vasos linfá- ticos eferentes para entrar na circulação e povoar os tecidos linfoides secundários. Microcirculação Córtex O padrão de fl uxo sanguíneo difere no córtex e na medula. Os principais vasos sanguíneos entram no órgão na junção corticomedular e passam no interior de cada lobo, dando origem a pequenos capilares para o córtex e vasos maiores para a medula. A maioria dos capilares corticais faz alças em diferentes profundidades no córtex e se unem a vênulas na junção corticomedular; alguns continuam através do córtex e se unem a veias Cápsula Córtex superficial Córtex médio Medula Células epiteliais Fibra nervosa Vaso sanguíneo Célula dendrítica interdigitante Corpúsculo tímico (de Hassal) Fig. 55.10 Estrutura e organização celular do timo, mostrando um septo interlobular, a circulação cortical e os timócitos no interior de um arcabouço epitelial. Fig. 55.11 A medula de um timo neonatal, mostrando três corpúsculos Hassal, com seu aspecto concêntrico e variados graus de maturidade, circundados por linfócitos intensamente compactados e algumas células epiteliais com núcleos maiores. Timo MEDIASTINO 948 S E Ç Ã O 7 maiores que seguem na cápsula, as quais saem do timo. Estes capilares corticais menores usualmente têm um estreito espaço perivascular, o qual às vezes contém pericitos e outras células, mas raramente nervos. Bainhas de células epiteliais tímicas da barreira hematotímica se encontram entre o espaço perivascular e os timócitos corticais. Medula Os vasos sanguíneos medulares não são tão bem protegidos por células epiteliais, e os da junção corticomedular são apenas parcialmente embai- nhados, usualmente em sua face cortical. Os vasos medulares são muito variáveis em tamanho e alguns podem ter curtas extensões de endotélio cuboide, similar aos dos linfonodos e do tecido linfoide associado às mucosas. DESENVOLVIMENTO A embriologia e o desenvolvimento pré-natal do timo estão descritos no Capítulo 35. Alterações tímicas durante a vida pós-natal Ao nascimento, o timo é mais frequentemente bilobulado. Ele apresenta 4-6 cm de comprimento, 2,5-5 cm de largura e 1 cm de espessura. A parte mais espessa do órgão ao nascimento não está na entrada torácica, mas imediatamente acima da base do coração. Durante a infância, o timo se estreita e se alonga, e a porção cervical se torna menos notável. A TC e estudos de imageamento do tórax revelam que o lobo direito do timo tipicamente mede 9 mm de espessura, e o esquerdo 11 mm, em crianças normais. Após os 20 anos de idade, ele diminui para 5-6 mm de espessura (Fig. 55.12). Em relação ao corpo, o timo é maior ao nascimento, com uma massa de 10-15 g. Ele aumenta rapidamente para 20 g, e subsequentemente permanece com essa massa. Estudos da massa tímica, após morte súbita, registraram uma ampla variação de todas as idades, mas o padrão geral é que, após o primeiro ano de vida, quando existe um aumento, a massa média é bastante constante a 20 g até a sexta década de vida, quando ocorre uma redução. Entretanto, embora a massa do timo possa ser bas- tante constante, ele se torna progressivamente infi ltrado por tecido adiposo, de modo que a quantidade total de tecido linfoide ativo se torne progressivamente menor com o tempo. Ao nascimento, os adipócitos individuais podem ser vistos nos septos de tecido conjuntivo, e números aumentados são encontrados no interior do córtex na segunda e terceira décadas. A infi ltração adiposa está usualmente terminada em torno da quarta década, quando apenas a medula e pequenas áreas de córtex asso- ciado encontram-se preservadas. Este processo é independente do nível de obesidade do indivíduo. Em crianças, o órgão é de formato mais piramidal e mais fi rme do que na vida adulta, quando a quantidade de tecido linfoide é grandemente reduzida. No estado fresco, ele é vermelho escuro, refl etindo seu rico suprimento sanguíneo (Fig. 55.9). Com o envelhecimento, torna-se mais delgado e mais acinzentado, e é infi ltrado por tecido adiposo amarelo. Cada um dos dois lobos é parcialmente dividido pela invaginação de septos rasos, de modo que, superfi cialmente, o órgão pareça lobulado. Conforme a atrofi a adiposa progride, esta lobulação se torna mais distinta. O timo do idoso pode ser distinguido da gordura mediastinal circunja- cente apenas pela presença de sua cápsula. Entretanto, mesmo em órgãos intensamente atrofi ados existem usualmente áreas mais acinzentadas ao redor dos vasos sanguíneos formadaspor tecido linfoide persistente. A produção e a diferenciação de timócitos persistem durante toda a vida: as células T derivadas do timo continuam a povoar o tecido linfoide perifé- rico, o sangue e a linfa. Timoma e miastenia grave Os tumores tímicos podem comprimir a traqueia, o esôfago, e as grandes veias no pescoço, causando rouquidão, tosse, disfagia e ingurgitamento venoso da cabeça e do pescoço. Os timomas tendem a apresentar uma intensidade de sinal não homogênea à RM. Eles podem se desenvolver em um lobo do timo sem afetar o outro. Muitos pacientes afetados também apresentam miastenia grave e outras doenças autoimunológicas. A mias- tenia grave, uma doença autoimunológica crônica de adultos, apresenta-se como uma diminuição na força de contração repetitiva em certos múscu- los voluntários. Embora possa haver mais de uma doença com estes sinais, a miastenia grave é essencialmente uma doença autoimunológica na qual proteínas receptoras de acetilcolina das junções neuromusculares são ata- cadas por autoanticorpos. Os músculos comumente envolvidos são o levantador da pálpebra superior (o que leva à ptose) e os músculos extra- oculares (o que leva à diplopia). Outros músculos na face, mandíbula, pescoço e membros podem estar envolvidos, e em casos severos os músculos ventilatórios encontram-se comprometidos. Cerca de 10% de indivíduos caucasianos com miastenia grave têm um timoma e 50% apresentam hiperplasia folicular medular, esta última acometendo predo- minantemente mulheres com idade menor de 40 anos e com forte expres- são de HLA-B8-DR3, nas quais a timectomia frequentemente resulta em melhora sintomática. Na ausência de um timoma, o início da miastenia Células da linhagem macrofágica Timócitos Linfócitos Pró-timócito Derivados da medula óssea Involução devido ao estresse acidental e doença Involução devido ao envelhecimento normal Hipertrofia induzida por T 3 , prolactina, hormônio do crescimento Vasos e nervos Timoma epitelial Células epiteliais e estromais Célula mioide Medula Fibroblastos Macrófagos fagocíticos Monócito Córtex CD4+ CD8– CD4– CD8+ CD4+ CD8– CD4– CD8+ B APC Timócitos apoptóticos Células recirculantes Fig. 55.12 A organização microscópica do timo em vários estágios da vida e sob diferentes condições. APC, célula apresentadora de antígenos; T3, hormônio tireoidiano (tri-iodotironina). 949 C A P ÍT U L O 5 5 grave ocorre após os 40 anos de idade em pacientes com um fenótipo HLA-B7-DR2, exceto por um grupo no qual a fraqueza muscular está restrita aos movimentos oculares e das pálpebras. Timectomia Na miastenia grave, a seleção dos pacientes para a timectomia começa com uma indicação por um neurologista. A associação mais forte entre a timec- tomia e um curso clínico melhorado tem sido vista em mulheres miastê- nicas com fraqueza muscular sistêmica; grupos controversos incluem os idosos e aqueles com apenas sintomas oculares. Uma nova abordagem transcervical para a timectomia vem sendo realizada mais comumente, mas a tradicional abordagem de divisão do esterno é ainda a técnica mais usada. Após uma incisão cervical transversal inferior, as inserções ligamen- tares dos músculos esternocleidomastóideos são divididas verticalmente com eletrocautério para permitir uma exposição melhorada ao interior do plano subesternal. A borda superior do retalho de pele é elevada no plano subplatismal até o nível da borda inferior da glândula tireoide. Os mús- culos infra-hióideos são separados longitudinalmente ao longo de sua rafe da linha mediana e os polos superiores do timo são detectados por trás. Tipicamente, o polo superior esquerdo maior é identifi cado primeiro e dissecado livremente para baixo, em direção ao ponto ao qual ele se mistura com o polo superior direito, logo acima da incisura jugular. O plano pré-tímico é criado por dissecção romba com o dedo, primeira- mente anterior e em seguida abaixo à veia braquiocefálica esquerda, para dentro da localização subesternal. O timo é, em seguida, delicadamente retraído para a frente e para cima para mostrar as veias que drenam o timo diretamente para a veia braquiocefálica esquerda, as quais são divididas. A dissecção é, em seguida, executada ao longo da face posterior do timo dentro do mediastino. O timo geralmente permanece completamente encapsulado e é separado sem difi culdade do pericárdio (ocasionalmente, aderências necessitam de uma pericardiectomia limitada). Mais inferior- mente, a depressão dos grandes vasos permite uma visualização direta da janela aortopulmonar para a completa remoção do timo em sua vizi- nhança. Alguns vasos sanguíneos que contribuem diretamente podem ser encontrados na forma de veias que drenam para a veia cava superior à direita, ou pequenos ramos de alguma das artérias torácicas internas. Estas podem ser separadas com o uso de eletrocautério, embora deva se tomar cuidado para evitar lesão aos nervos frênicos (por esta razão, geralmente não é dado um agente paralisante aos pacientes durante o curso do anes- tésico, de modo que o nervo frênico possa ser identifi cado durante a cirurgia). Na maioria dos casos, o timo é removido completamente com ambos os polos superior e inferior intactos. Uma inspeção cuidadosa do tecido remanescente no mediastino é realizada para identifi car quaisquer possí- veis anomalias anatômicas que possam resultar em tecido tímico retido após a cirurgia. A anomalia mais comum é a localização não antecipada dos polos superiores do timo por trás da veia braquiocefálica. A janela aortopulmonar é também uma localização comum para o tecido tímico e esta área é, às vezes, difícil de ser exposta com uma abordagem transcer- vical. Quaisquer focos suspeitos de gordura no mediastino são removidos e, se necessário, enviados para cortes congelados para averiguar se eles contêm ou não tecido tímico. O timo é essencial ao desenvolvimento normal dos tecidos linfoides durante a vida neonatal e a vida pós-natal inicial. A timectomia durante este período leva a uma condição progressivamente fatal, com hipoplasia dos órgãos linfoides periféricos, caquexia e uma incapacidade de montar uma resposta imunológica efi caz. Por volta da puberdade, quando os principais tecidos linfoides estão completamente desenvolvidos, a timec- tomia é menos debilitante, mas, no fi nal das contas, ocorre uma redução nas respostas efetivas a novos antígenos. Anomalias congênitas do timo O timo não descido, corpos tímicos acessórios e raros cistos da terceira bolsa branquial não são de signifi cado clínico (exceto onde a timectomia é indicada). Pacientes com agenesia, aplasia e hipoplasia tímicas, como em severas doenças de defi ciências imunológicas combinadas, têm redu- zidos os números de linfócitos, e a morte precoce devido a infecção é comum. A maioria dos casos é familiar, com genes autossômicos recessi- vos. Em crianças pequenas, um grande timo normal pode pressionar a traqueia, causando ataques de estridores ventilatórios. Adenoma mediastinal de paratireoides Quando o hiperparatireoidismo primário é diagnosticado, a excisão cirúr- gica do adenoma de paratireoide causador (ocasionalmente múltiplos) é usualmente realizada se os sintomas estão presentes ou não. Aproxima- damente 3% dos tumores de paratireoides são encontrados em órgãos no mediastino; 80% destes adenomas ectópicos são encontrados na parte superior ou anterior do mediastino inferior, derivados das glândulas infe- riores que descem com o timo no embrião, e os restantes são encontrados no mediastino posterior. A localização pré-operatória pode ajudar a dimi- nuir o tempo de exploração cirúrgica e a morbidade: a sensibilidade das imagens com tecnécio 99m sestamibi para identifi cação de adenomas de paratireoidesexcede 90%. A RM tem uma sensibilidade de até 75%, enquanto a TC e a ultrassonografi a supraesternal são menos sensíveis (Iyer et al., 1999). A amostragem venosa também pode ser usada em casos de difi culdade do diagnóstico. Cistos mediastinais congênitos Estes formam até 30% de todas as massas mediastinais e incluem, em ordem de frequência, cistos broncogênicos, cistos tímicos, cistos peri- cárdicos e pleurais, cistos de duplicação esofágica, meningoceles e cistos do duco torácico. De modo global, apenas cerca de um terço se torna sintomático, seja diretamente, como resultado de efeitos de pressão sobre estruturas circunjacentes (especialmente cistos esofágicos e tími- cos), seja indiretamente, como resultado de infecção secundária (cistos broncogênicos). ESÔFAGO O esôfago (Figs. 55.4, 55.7, 55.13 e 55.14) é um tubo muscular, com tipicamente 25 cm de comprimento, o qual conecta a faringe ao estômago. Ele começa no pescoço, no nível da borda inferior da cartilagem cricóidea e da sexta vértebra cervical, e desce amplamente anterior à coluna vertebral pelos mediastinos superior e posterior, passa através do músculo dia- fragma, ao nível da décima vértebra torácica, e termina no óstio cárdico ao nível da décima primeira vértebra torácica. Geralmente vertical em seu trajeto, o esôfago apresenta duas curvaturas leves. Inicia-se no plano mediano, mas inclina-se para a esquerda até a altura da raiz do pescoço, retorna gradativamente para o plano mediano próximo à quinta vértebra torácica, e ao nível da sétima vértebra torácica, ele desvia novamente para a esquerda, antes de perfurar o músculo diafragma. O esôfago também se curva em um plano anteroposterior para seguir as curvaturas cervicotorá- cicas da coluna vertebral; também pode se curvar ligeiramente para a direita conforme é empurrado pela aorta antes de curvar-se para a esquerda para alcançar o hiato esofágico. Ele é a parte mais estreita do trato alimen- tar (exceto pelo apêndice vermiforme) e é estreitado no início (15 cm a partir dos dentes incisivos), onde é cruzado pelo arco da aorta (22,5 cm a partir dos dentes incisivos), onde é cruzado pelo brônquio principal esquerdo (27,5 cm a partir dos dentes incisivos), e à medida que passa pelo músculo diafragma (40 cm a partir dos dentes incisivos). Estas medidas são clinicamente importantes com relação à passagem de instru- mentos ao longo do esôfago. PARTE CERVICAL DO ESÔFAGO A parte cervical do esôfago (Fig. 55.4) é posterior à traqueia e fi xada a ela por tecido conjuntivo frouxo. Os nervos laríngeos recorrentes ascendem a cada lado no sulco traqueoesofágico ou próximo a ele. Posteriormente encontram-se a coluna vertebral, o músculo longo do pescoço e a lâmina pré-vertebral da fáscia cervical. Lateralmente, a cada lado, estão as artérias carótidas comuns e a parte posterior da glândula tireoide. Na parte inferior do pescoço, onde o esôfago se desvia para a esquerda, ele está mais próximo à bainha carótica esquerda e à glândula tireoide do que à sua direita. O ducto torácico ascende por uma curta distância ao longo de seu lado esquerdo (Fig. 55.5). PARTE TORÁCICA DO ESÔFAGO A parte torácica do esôfago (Figs. 55.13 e 55.14) está situada um pouco para a esquerda no mediastino superior entre a traqueia e a coluna verte- bral. Ela passa por trás e à direita do arco da aorta para descer no medias- tino posterior ao longo do lado direito da parte torácica da parte descendente da aorta. Abaixo, à medida que se inclina para a esquerda, cruza anteriormente à aorta e entra no abdome através do músculo dia- fragma ao nível da décima vértebra torácica. De cima para baixo, a tra- queia, a artéria pulmonar direita, o brônquio principal esquerdo, o pericárdio (separando-o do átrio esquerdo) e o músculo diafragma encon- tram-se anteriormente. A coluna vertebral, o músculo longo do pescoço, as artérias intercostais posteriores direitas, o ducto torácico, a veia ázigo e as partes terminais das veias hemiázigo e hemiázigo acessória e, próximo ao músculo diafragma, a aorta encontram-se posteriormente. Um longo recesso do saco pleural direito se encontra entre o esôfago (em frente) a veia ázigo e a coluna vertebral (atrás) no mediastino posterior. No mediastino superior, a parte terminal do arco da aorta, a artéria subclávia esquerda, o ducto torácico, a pleura esquerda e o nervo laríngeo recorrente são relações laterais esquerdas. No mediastino posterior, o esôfago está relacionado à parte torácica da parte descendente da aorta e à pleura esquerda. A pleura direita e a veia ázigos quando arqueia para a Esôfago 959 Coração e grandes vasos CAPÍTULO 56 PERICÁRDIO O pericárdio contém o coração e as partes justacardíacas de seus grandes vasos. Ele consiste em dois componentes, o pericárdio fi broso e o pericár- dio seroso. O pericárdio fi broso é um saco constituído por um resistente tecido conjuntivo, que circunda completamente o coração sem estar aderido a ele. Este saco fi broso se desenvolve a partir de um processo sequencial de cavitação da parede do corpo do embrião pela expansão da cavidade pleural secundária. Deste modo, suas paredes laterais são cober- tas externamente pela parte mediastinal da pleura parietal. O pericárdio seroso consiste em duas lâminas de pericárdio seroso, uma dentro da outra: a lâmina (ou folheto) visceral se adere ao coração e forma sua cobertura externa conhecida como epicárdio, enquanto que a lâmina (ou folheto) parietal reveste a superfície interna do pericárdio fi broso. As duas superfícies serosas estão justapostas e separadas por uma camada de fl uido. Este líquido permite o movimento da membrana interna e do coração aderido a ela, exceto nas áreas arteriais e venosas do pericárdio onde as duas lâminas serosas se mesclam. Estas últimas constituem duas linhas parietoviscerais de refl exão serosa. A separação das duas lâminas do pericárdio seroso cria um estreito espaço, a cavidade pericárdica, a qual proporciona uma separação completa entre o coração e seus arredores, assim permitindo a ele alguma liberdade para se movimentar e mudar de formato. PERICÁRDIO FIBROSO E PERICÁRDIO SEROSO O pericárdio fi broso é constituído por um compacto tecido conjuntivo denso modelado, rico em colágeno. O pericárdio seroso é uma camada única de células achatadas sobre uma delgada camada de tecido conjun- tivo, a qual se funde com o pericárdio fi broso na lâmina parietal e com o tecido miocárdico intersticial na lâmina visceral. Do lado cardíaco, a camada conjuntiva contém gordura, especialmente ao longo da face ven- tricular do sulco coronário, da borda cardíaca inferior e dos sulcos inter- ventriculares. Os principais vasos coronários e seus ramos maiores estão embebidos nesta gordura; a quantidade está relacionada à extensão geral da gordura corporal e aumenta gradualmente com a idade. Pericárdio fi broso O pericárdio fi broso é quase cônico e recobre o coração. Superiormente, ele é contínuo exteriormente com a adventícia dos grandes vasos; inferior- mente, ele está aderido ao centro tendíneo do diafragma e a uma pequena área muscular de sua metade esquerda. Acima, o pericárdio fi broso não somente se funde externamente aos grandes vasos, mas é contínuo com a lâmina pré-traqueal da fáscia cervical. Anteriormente, ele também está aderido à superfície posterior do esterno pelos ligamentos esternopericár- dicos superior e inferior, embora a extensão destes “ligamentos” seja extremamente variável, e o ligamento superior seja frequentemente inde- tectável. O pericárdio está ancorado de forma segura por estas conexões e mantém a posição torácica geral do coração, servindo como o “cinto de segurança cardíaco”. Anteriormente, o pericárdio fi broso está separado da parede torácica pelos pulmões e pelas coberturas pleurais. Entretanto, em uma pequena área portrás da metade inferior esquerda do corpo do esterno e das extre- midades esternais das quarta e quinta cartilagens costais esquerdas, o pericárdio encontra-se em contato direto com a parede torácica. Até que regrida, a extremidade inferior do timo também se encontra anterior à região superior do pericárdio. Os brônquios principais, o esôfago, o plexo esofágico, a parte torácica da parte descendente da aorta e as partes pos- teriores da face mediastinal de ambos os pulmões são relações posteriores. Lateralmente encontram-se as coberturas pleurais da face mediastinal dos pulmões. O nervo frênico, com seus vasos acompanhantes, desce entre o pericárdio fi broso e a parte mediastinal da pleura a cada lado. Inferior- mente, o pericárdio está separado do fígado e do fundo gástrico pelo diafragma. A aorta, a veia cava superior, as artérias pulmonares direita e esquerda e as quatro veias pulmonares recebem extensões do pericárdio fi broso. A veia cava inferior, a qual atravessa o centro tendíneo, não apresenta tal cobertura. Pericárdio seroso O pericárdio seroso é um saco fechado no interior do pericárdio fi broso e tem uma lâmina visceral e uma lâmina parietal. A lâmina visceral, ou epicárdio, recobre o coração e os grandes vasos e está refl etida para o interior da lâmina parietal, a qual reveste a superfície interna do pericárdio fi broso. As refl exões da lâmina serosa estão organizadas como dois “tubos” complexos: a aorta e o tronco pulmonar estão envolvidos em um, e as veias cavas superior e inferior e as quatro veias pulmonares estão envol- vidas no outro. O tubo que circunda as veias tem o formato de uma letra J invertida. O fundo de saco no interior de sua curva encontra-se atrás do átrio esquerdo e é denominado de seio oblíquo do pericárdio. O seio transverso do pericárdio é uma passagem entre os dois “tubos pericárdicos (Fig. 56.1). Ele tem a aorta e o tronco pulmonar à frente e os átrios e as grandes veias atrás (Fig. 56.2B e D). O arranjo dos seios oblíquo e trans- verso do pericárdio, juntamente com aquele da cavidade “principal”, é ainda afetado pelo desenvolvimento de complexos recessos pericárdicos tridimensionais entre estruturas adjacentes. Estes recessos podem ser agru- pados de acordo com o posicionamento de seus orifícios. A partir da cavidade pericárdica principal, o recesso pós-caval se projeta para a esquerda, por trás da terminação atrial da veia cava superior. Ele está limitado acima pela artéria pulmonar direita e abaixo pela veia pulmonar direita superior. Seu orifício se abre superolateralmente para a direita. Os recessos venosos pulmonares direito e esquerdo se projetam, cada um, medialmente e para cima por trás do átrio esquerdo, entre as veias pul- monares superiores e inferiores de cada lado, endentando as paredes laterais do seio oblíquo do pericárdio. O recesso aórtico superior se estende a partir do seio transverso do pericárdio. De seu orifício, locali- zado inferiormente, ele ascende posteriormente à parte descendente da aorta, e em seguida à direita deste vaso, e termina ao nível do ângulo do esterno. O recesso aórtico inferior, que também se estende a partir do seio transverso do pericárdio, é um divertículo que desce de um orifício loca- lizado superiormente para seguir entre a parte ascendente inferior da aorta e o átrio direito. O recesso pulmonar esquerdo, com seu orifício sob a prega da veia cava esquerda, passa para a esquerda entre a face inferior da artéria pulmonar esquerda e a borda superior da veia pulmonar esquerda superior. O recesso pulmonar direito se encontra entre a superfície inferior da parte proximal da artéria pulmonar direita e a borda superior do átrio esquerdo. Uma prega triangular de pericárdio seroso é refl etida a partir da artéria pulmonar esquerda para a veia pulmonar esquerda superior subjacente como a prega esquerda da veia cava superior. Ela contém um ligamento fi broso, um remanescente da veia cardinal comum esquerda obliterada (ducto de Cuvier esquerdo). Este ligamento desce anteriormente ao hilo do pulmão esquerdo a partir da parte superior da veia intercostal superior esquerda até a parte posterior do átrio esquerdo, onde ele é contínuo com a veia oblíqua do átrio esquerdo. A veia cardinal comum esquerda pode persistir como uma veia cava superior esquerda, a qual em seguida subs- titui a veia oblíqua do átrio esquerdo e desemboca no seio coronário. Quando ambas as veias cardinais comuns persistem como veias cavas superiores direita e esquerda, a anastomose transversa entre elas, a qual normalmente forma a veia braquiocefálica esquerda, pode ser pequena ou ausente. Quando existe uma veia cava superior esquerda, ela está unida pela veia intercostal superior esquerda. SUPRIMENTO VASCULAR E DRENAGEM LINFÁTICA As artérias do pericárdio são derivadas das artérias torácica interna e mus- culofrênica, e da parte torácica da parte descendente da aorta. As veias são tributárias do sistema ázigo. INERVAÇÃO O pericárdio é inervado pelo nervo vago, juntamente com os nervos frê- nicos e os troncos simpáticos (Figs. 56.20 e 58.3). A dor pericárdica é tipicamente uma dor subesternal aguda e severa. Ela pode ser exacerbada ao se deitar de costas ou sobre o lado esquerdo, e aliviada ao se inclinar CORAÇÃO E GRANDES VASOS 960 S E Ç Ã O 7 para a frente. Ocasionalmente se irradia para a margem superior do músculotrapézio. TAMPONAMENTO CARDÍACO O tamponamento cardíaco é a compressão externa do coração usualmente causada pelo acúmulo de líquido no espaço pericárdico. Isto causa com- pressão do átrio direito e reduz o retorno venoso, o que reduz o débito cardíaco. Ele pode ocorrer após trauma, uma extensão proximal a partir de um aneurisma dissecante da aorta, ou uma cirurgia cardíaca. Os pacien- tes desenvolvem hipotensão e colapso circulatório. O tratamento de emer- gência envolve primeiro o alívio do tamponamento através de aspiração pericárdica percutânea, seguida de cirurgia para que a causa primária seja tratada. A ecocardiografi a pode ser útil na avaliação do tamponamento e também em guiar a aspiração pericárdica percutânea. A cirurgia é através de uma incisão subxifoide ou uma toracotomia anterior esquerda. CORAÇÃO A estrutura microscópica do músculo cardíaco está descrita em detalhes no Capítulo 6. ORGANIZAÇÃO GERAL O coração é um par de bombas musculares dotadas de valvas combinadas em um único órgão (Fig. 56.2A-D). Embora o arcabouço fi bromuscular e os tecidos de condução destas bombas sejam estruturalmente entrelaça- dos, cada bomba (os chamados corações “direito” e “esquerdo”) é fi sio- logicamente separada e está interposta em série em diferentes pontos na circulação dupla. Apesar desta disposição funcional em série, as duas bombas são usualmente descritas topografi camente em paralelo. Das quatro câmaras cardíacas, os dois átrios recebem o sangue venoso como reservatórios fracamente contráteis para o enchimento fi nal dos dois ventrículos, os quais em seguida fornecem a poderosa contração expulsiva que força o sangue para o interior dos principais troncos arteriais. O coração direito inicia-se no átrio direito e recebe as veias cavas superior e inferior, juntamente com o principal infl uxo venoso derivado do coração propriamente dito através do seio coronário. Este sangue venoso sistêmico atravessa o óstio atrioventricular direito, guardado pela valva atrioventricular direita, para adentrar no componente de entrada do ventrículo direito. A contração do ventrículo, particularmente de seu com- ponente trabecular apical, fecha a valva atrioventricular direita e, com pressão progressiva, ejeta o sangue através do trato de saída da muscula- tura ventricular direita para o tronco pulmonar. O sangue em seguida fl ui através do leito vascular pulmonar, o qual apresenta uma resistência rela- tivamentebaixa. Alterações na pressão, relações temporais e eventos val- vares são descritos abaixo. Muitos aspectos estruturais do “coração direito”, incluindo sua geometria global, arquitetura miocárdica e a construção e as forças relativas das valvas atrioventricular direita e do tronco pulmonar, estão de acordo com esta baixa resistência, estando associadas com alte- rações comparativamente baixas na pressão. O coração esquerdo se inicia no átrio esquerdo, o qual recebe todo o infl uxo pulmonar de sangue oxigenado e algum infl uxo venoso coronário. Ele se contrai para preencher o ventrículo esquerdo através do óstio atrio- ventricular esquerdo, guardado pela sua valva atrioventricular esquerda. A Veia tímica Nervo laríngeo recorrente esquerdo Veia braquiocefálica esquerda Artéria carótida comum esquerda Artéria subclávia esquerda Arco da aorta Artéria e veia pericardicofrênicas Pulmão esquerdo Plexo aórtico torácico Nervo laríngeo recorrente esquerdo Bifurcação do tronco pulmonar A. Veia pulmonar esquerda superior Veia pulmonar esquerda inferior Seio oblíquo do pericárdio Pericárdio fibroso Artéria pulmonar esquerda Artéria pulmonar direita Nervo vago Nervo frênico Traqueia Veia tireóidea inferior Nervo vago Veia braquiocefálica direita Veia torácica interna Tronco braquiocefálico Veia cava superior Pleura parietal, parte mediastinal Pulmão direito Recesso pós-caval Seio transverso do pericárdio Veia pulmonar direita inferior Pleura parietal, parte diafragmática Pregas adiposas Veia cava inferior Pericárdio seroso, lâmina parietal Veia pulmonar direita superior Fig. 56.1 Interior do saco pericárdico após secção dos grandes vasos em sua origem cardíaca e remoção do coração (visto de frente). Veja o texto para a denominação dos recessos adicionais da cavidade do pericárdio seroso geral e seu seio transverso. (De Sobotta, 2006.) 961 C A P ÍT U L O 5 6 Tronco braquiocefálico Veia cava superior Artéria pulmonar direita Pericárdio seroso, lâmina parietal Aurícula direita Átrio direito Veia interventricular posterior Artéria coronária direita Ventrículo direito Pericárdio seroso, lâmina parietal Artéria carótida comum esquerdaA Artéria subclávia esquerda Arco da aorta Ligamento arterial Pericárdio seroso, lâmina parietal Tronco pulmonar Aurícula esquerda Veia cardíaca magna Artéria coronária esquerda, ramo circunflexoCone arterial Artéria coronária esquerda, ramo interventricular anterior Veia interventricular anterior Ventrículo esquerdo Pericárdio seroso, lâmina visceral (epicárdio) B Veia braquiocefálica esquerda Artéria subclávia esquerda Artéria carótida comum esquerda Arco da aorta Artérias intercostais posteriores Parte descendente da aorta Ligamento arterial Artéria pulmonar esquerda Pericárdio Tronco pulmonar Veias pulmonares esquerdas Aurícula esquerda Veia cardíaca magna Artéria coronária esquerda, ramo circunflexo Veias posteriores do ventrículo esquerdo Pericárdio seroso, lâmina visceral (epicárdio) Veia interventricular posterior Veia vertebral Veia braquiocefálica direita Tronco braquiocefálico Veia ázigo Bifurcação do tronco pulmonar Parte descendente da aorta Veia cava superior Artéria pulmonar direita Veias pulmonares direitas Átrio esquerdo Seio das veias cavas Pericárdio seroso, lâmina parietal Veias atriais esquerdas Átrio direito Sulco terminal do coração Veia cava inferior Seio coronário Sulco coronário Artéria coronária direita, ramo interventricular posterior Ventrículo direito Ventrículo esquerdo C D Fig. 56.2 O coração e grandes vasos: A, Vista anterior e B, vista posterior com as reconstruções tridimensionais a partir de escaneamento por TC com múltiplas fatias (C e D). (Figuras principais de Sobotta, 2006.) Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 962 S E Ç Ã O 7 valva é a entrada para o acesso ao ventrículo esquerdo. A contração ven- tricular aumenta rapidamente a pressão no componente trabecular apical, fechando a valva atrioventricular esquerda e abrindo a valva da aorta, permitindo ao ventrículo ejetar através do trato de saída ventricular esquerdo para o interior dos seios da aorta e da parte ascendente da aorta, e daí para toda a árvore arterial sistêmica, incluindo as artérias coronárias. Este vasto leito vascular apresenta uma alta resistência periférica que, com as grandes demandas metabólicas (especialmente as necessidades ininter- ruptas dos tecidos cerebrais), explica a organização estrutural mais subs- tancial do “coração esquerdo”. A fase de ejeção do ventrículo esquerdo é mais curta que a do ventrículo direito, mas suas fl utuações na pressão são muito maiores. Devido às suas demandas funcionais contrastantes, o coração está longe de ser um simples par de bombas paralelas (estrutural- mente combinadas), muito embora os ventrículos direito e esquerdo possam liberar mais ou menos o mesmo volume a cada contração. O coração tem uma complicada organização tridimensional em espiral, a qual é marcantemente enviesada quando comparada aos planos do corpo. Termos como “esquerdo” e “direito”, “anterior” e “posterior”, “superior” e “inferior”, consequentemente, nem sempre auxiliam as descrições da anatomia cardíaca. Outra fonte potencial de confusão é o estudo usual de corações isolados inteiros ou dissecados, com a subsequente difi culdade de relatar os detalhes do coração da forma como ele se encontra posicio- nado no interior do corpo. A seguinte descrição preliminar enfatiza tais difi culdades a fi m de evitar certos conceitos errôneos, antes de proceder uma informação da estrutura mais detalhada. O coração direito, uma vez que forma a face ou “margem” direita, segue uma curva suave e cobre a maior parte da face anterior do coração esquerdo (exceto por uma faixa do lado esquerdo que inclui o ápice). Deste modo, o coração direito forma a maior parte da superfície anterior, e seu trato de saída ascende até que ele termine do lado esquerdo do trato de saída a partir do ventrículo esquerdo. Os locais das valvas atrioventri- cular direita e da valva do tronco pulmonar estão amplamente separados e sob diferentes planos, sendo que a cavidade plana do ventrículo direito – a qual tem formato em crescente ao corte – se espalha entre os dois. De modo inverso, o coração esquerdo (exceto pela faixa ao lado esquerdo acima mencionada) ocupa uma posição amplamente posterior, e quando visualizado pela frente é obscurecido pelas câmaras do coração direito. A entrada para o ventrículo esquerdo, a qual contém a valva atrioventricular esquerda, encontra-se muito próxima à sua saída (a valva da aorta), estando os dois envolvidos pelo amplo trato que liga os componentes de entrada e saída do ventrículo direito. Os planos dos óstios ventriculares esquerdos, embora relativamente inclinados, são mais coplanares do que os do coração direito. A cavidade ventricular esquerda é estreita e cônica, e sua ponta ocupa o ápice do coração. A maior parte da base do coração é formada pelo átrio esquerdo. Tamanho, formato e características externas do coração O coração é um órgão oco fi bromuscular de formato um pouco cônico ou piramidal, com uma base, um ápice e uma série de faces e “margens”. Envolvido pelo pericárdio, ele ocupa o mediastino médio entre os pulmões e suas coberturas pleurais (Fig. 56.1). Encontra-se colocado obliquamente por trás do corpo do esterno e das cartilagens costais e costelas adjacentes. Aproximadamente um terço da massa se encontra à direita da linha mediana. Um coração adulto médio tem 12 cm da base até o ápice, 8-9 cm em seu diâmetro transversomais largo, e 6 cm anteroposteriormente. Seu peso varia de 280 a 340 g (média de 300 g) em homens e de 230 a 280 g (média de 250 g) em mulheres. O peso cardíaco é 0,45% do peso corporal em homens e 0,40% em mulheres. O peso adulto é alcançado entre as idades de 17 e 20 anos. A posição oblíqua do coração pode ser enfatizada por compará-lo a uma pirâmide um tanto deformada, com a base voltada posteriormente e para a direita, e o ápice voltado anteriormente e para a esquerda. Uma linha do ápice até o centro aproximado da base, projetada posterolateralmente, emerge próxima à linha escapular média do lado direito. Algumas faces da “pirâmide” cardíaca são planas, outras mais ou menos convexas, sendo que estas faces se misturam ao longo de “bordas” muito mal defi nidas. A defi nição precisa das faces e das “bordas” interve- nientes é, portanto, difícil. Na informação que se segue, a nomenclatura ofi cial (Terminologia Anatômica, 2001) e os termos mais genericamente usados a partir da prática clínica são dados como alternativas. O coração é descrito como tendo uma base e um ápice, sendo suas faces designadas como esternocostal (anterior), diafragmática (inferior) e pulmonar (direita e esquerda). Suas margens são denominadas superior, inferior (margem ou borda “aguda”) e esquerda (margem ou borda “obtusa”). Alguns deno- minam a face direita como uma “margem”, apesar de sua extensão. Uma fonte inevitável de confusão é o uso do termo “posterior”, o qual pode ser substituído pelo termo inequívoco “diafragmático”. Se posterior é para ser usado para uma face do coração, ele deve ser reservado para a base (entretanto, compondo esta difi culdade, existe um número de diferentes usos do termo “base do coração”). O coração está posicionado obliquamente no tórax. As estruturas septais atriais e ventriculares estão virtualmente alinhadas, porém se encontram inclinadas para a frente e para a esquerda em 45º em relação a um plano sagital. Os planos das valvas atrioventricular esquerda e direita, embora verticais e não precisamente coplanares, estão ampla- mente em ângulos retos com o plano septal. O átrio direito, consequen- temente, não está somente voltado para a direita, mas também anterior e inferior ao átrio esquerdo. Ele também está parcialmente anterior ao ventrículo esquerdo, com um importante septo atrioventricular interve- niente. O ventrículo direito forma a maior parte da face anterior da massa ventricular (Fig. 56.3), apenas sua extremidade inferior está à direita do ventrículo esquerdo, e sua extremidade superior esquerda (óstio do tronco pulmonar) está à esquerda e superior em relação à valva da aorta. O átrio esquerdo forma a maior parte da face posterior do coração, enquanto o ventrículo esquerdo encontra-se proeminente apenas inferiormente, seguindo juntamente com a margem esquerda até atingir o ápice. Os átrios encontram-se essencialmente à direita dos seus respectivos ventrículos e posteriormente a estes. Estas disposições gerais são da maior importância no planejamento ou na interpretação de radiografi as, escaneamentos, angiocardiogramas e ecocardiogramas. Sulcos na superfície do coração A divisão do coração em quatro câmaras produz limites que são visíveis externamente como sulcos. Alguns são profundos e óbvios e contêm proeminentes estruturas. Outros são menos distintos, até mesmo difi cil- mente perceptíveis, e são às vezes obscurecidos, em parte, pelas principais estruturas que os cruzam. O sulco interatrial é um sulco raso que separa os dois átrios. Os limites laterais são defi nidos pelas margens dos átrios. O sulco coronário separa os átrios dos ventrículos. Este sulco, que contém os principais troncos das artérias coronárias, é oblíquo. Ele desce para a direita sobre a face esternocostal, separando o átrio direito (e sua aurícula) da margem direita oblíqua do ventrículo direito e seu cone arterial. Sua parte superior esquerda é obliterada onde ele é cruzado pelo tronco pul- monar e, atrás deste, pela aorta, da qual as artérias coronárias se originam. Continuando para a esquerda, o sulco se curva ao redor da margem esquerda e desce para a direita, separando a base dos átrios da face dia- fragmática dos ventrículos (Fig. 56.2A e D). Esta parte diafragmática do sulco coronário em seguida se curva ao redor da margem inferior em sua extremidade direita inferior para se tornar confl uente com a parte ester- nocostal. Assim, o sulco passa do alto à esquerda para baixo à direita, com a parte diafragmática fi cando um pouco à esquerda da parte esternocostal. Um corte que inclua o sulco coronário está a 45º do plano sagital e a um ângulo maior, porém variável, aos planos transverso e coronal. Ele atra- vessa, aproximadamente, as linhas de inserção das valavas atrioventricu- lares e (mesmo de maneira pouco precisa) as das valvas da aorta e do tronco pulmonar. Uma linha em ângulos retos em relação ao centro deste plano descerá para a frente e para a esquerda do ápice do coração. Internamente, os ventrículos estão separados pelo septo interventricu- lar. As margens murais do septo interventricular correspondem aos sulcos interventriculares anterior e posterior (diafragmático). O sulco interven- tricular anterior, visto sobre a face esternocostal, é próximo e quase para- lelo à margem ventricular esquerda. Sobre a face diafragmática, o sulco interventricular posterior está mais próximo ao ponto médio da massa ventricular. Os sulcos interventriculares se estendem do sulco coronário até a incisura apical sobre a margem inferior, a qual se encontra um pouco mais à direita do verdadeiro ápice do coração. Base, ápice, faces e margens do coração Aspecto posterior do coração A verdadeira base do coração é um tanto quadrilátera, com extensões laterais curvas. Ela está voltada para trás e para a direita, separada das vértebras torácicas (quinta à oitava na posição recumbente, sexta à nona na postura ereta) pelo pericárdio, pelas veias pulmonares direitas, pelo esôfago e pela aorta. Ela é formada prin- cipalmente pelo átrio esquerdo, e apenas parcialmente pela parte posterior do átrio direito (Fig. 56.2B e D). Se estende superiormente até a bifurcação do tronco pulmonar e inferiormente até a parte posterior do sulco coro- nário, o qual contém o seio coronário e ramos das artérias coronárias. Está limitada à direita e à esquerda pelas superfícies arredondadas dos átrios correspondentes. Estes estão separados pelo raso sulco interatrial. O ponto de junção dos sulcos coronário, interatrial e interventricular posterior é denominado de cruz do coração. Duas veias pulmonares em cada lado se abrem no interior da parte atrial esquerda da base, enquanto as veias cavas superior e inferior se abrem no interior das partes superior e inferior da região basal do átrio direito. A área do átrio esquerdo entre as aberturas das veias pulmonares direitas e esquerdas forma a parede anterior do seio oblíquo do pericárdio (Fig. 56.1). Esta descrição da base anatômica refl ete a posição usual do coração no tórax. Alguma confusão é produzida por outros usos correntes do termo “base”. Ele é frequentemente aplicado ao segmento das junções atrioventricular e ventrículo-arterial visto após dis- secções através do sulco coronário. Esta área é mais bem denominada de base dos ventrículos. Na prática clínica, a ausculta nas regiões paraester- 963 C A P ÍT U L O 5 6 nais dos segundos espaços intercostais, ou próximo a estes, é frequente- mente descrita como ocorrendo na “base” clínica, para fazer o contraste com o “ápice” clínico. Tais descrições, apesar de pouco perfeitas sob o ponto de vista anatômico, quase certamente persistirão. Ápice anatômico do coração Este é o ápice do ventrículo esquerdo cônico, o qual está direcionado para baixo, para a frente e para a esquerda. Sobrepostos a ele se encontram o pulmãoesquerdo e a pleura. O ápice está localizado mais comumente atrás do quinto espaço intercostal esquerdo, próximo ou um pouco medial à linha medioclavicular. Face esternocostal do coração Voltada para a frente e para cima, a face esternocostal tem uma convexidade aguda à direita e uma convexi- dade mais gradual à esquerda (Fig. 56.3). Ela consiste de uma área atrial acima e à direita, e uma parte ventricular abaixo e à esquerda do sulco coronário. A área atrial é ocupada quase inteiramente pelo átrio direito. O átrio esquerdo encontra-se largamente escondido pela parte ascendente da aorta e pelo tronco pulmonar. Apenas uma pequena parte da aurícula esquerda se projeta para a frente à esquerda do tronco pulmonar. Da região ventricular, cerca de um terço é constituído pelo ventrículo esquerdo e dois terços pelo ventrículo direito. O local do septo entre eles está indi- cado pelo sulco interventricular anterior. A face esternocostal está separada do corpo do esterno, dos músculos esternocostais e das terceira à sexta cartilagens costais pelo pericárdio. Devido à saliência do coração para a esquerda, encontra-se mais desta face por trás das cartilagens costais esquerdas do que por trás das direitas. Ela também está coberta pelas membranas pleurais e pelas delgadas margens anteriores dos pulmões, exceto por uma área triangular na incisura cardíaca do pulmão esquerdo. Os pulmões e suas coberturas pleurais são variáveis em seu grau de sobre- posição ao coração. Face diafragmática do coração Predominantemente horizontal, a face diafragmática do coração se inclina para baixo e para a frente um pouco em direção ao ápice (Fig. 56.2B e D). Ela é formada pelos ventrí- culos (principalmente o esquerdo) e se dispõe principalmente sobre o centro tendíneo, mas também – apicalmente – em uma pequena área da parte muscular esquerda do diafragma. Ela está separada da base anatô- mica pelo sulco coronário e é atravessada obliquamente pelo sulco inter- ventricular posterior. Face pulmonar esquerda do coração Voltada para cima, para trás e para a esquerda, a face pulmonar esquerda consiste quase inteira- mente na margem esquerda do ventrículo esquerdo, mas uma pequena parte do átrio esquerdo e sua aurícula contribuem superiormente. Convexa e mais larga acima, onde ela é cruzada pelo sulco coronário, ela se estreita em direção ao ápice do coração. Está separada do nervo frênico esquerdo e de seus vasos acompanhantes pelo pericárdio, e da concavidade pro- funda do pulmão esquerdo pela pleura esquerda. Face direita do coração A face direita é arredondada e formada pela parede atrial direita. Ela está separada da face mediastinal do pulmão direito pelo pericárdio e pelas coberturas pleurais. Sua convexidade se mistura abaixo com a curta parte intratorácica da veia cava inferior e acima com a veia cava superior. O sulco terminal é uma proeminente indicação entre os componentes atriais verdadeiros e os componentes venosos do átrio direito, curvando-se aproximadamente ao longo da junção das faces esternocostal e direita. Margem superior do coração Esta é atrial (principalmente o átrio esquerdo). Anterior a ela estão a parte ascendente da aorta e o tronco pulmonar (Fig. 56.1). Em sua extremidade, a veia cava superior entra no átrio direito. Margem direita do coração Correspondente ao átrio direito, o perfi l da margem direita é ligeiramente convexo para a direita e se apro- xima do vertical. Margem inferior do coração Também conhecida como a margem aguda do coração, a margem inferior é bem defi nida, delgada e quase horizontal. Ela se estende do limite inferior da margem direita até o ápice e é formada principalmente pelo ventrículo direito, com uma pequena contribuição do ventrículo esquerdo próximo ao ápice. Margem esquerda do coração Também conhecida como a margem obtusa, a margem esquerda separa as faces esternocostal e esquerda. Ela é arredondada e formada principalmente pelo ventrículo esquerdo, mas, até certo ponto superiormente, é formada pela aurícula do átrio esquerdo. Ela desce obliquamente, convexa para a esquerda, da aurícula até o ápice do coração. Artéria e veia torácicas internas Nervo frênico direito Brônquio principal direito Linfonodos traqueobronquiais superiores Veia pulmonar direita Artéria pulmonar direita Linfonodos traqueobronquiais inferiores Linfonodo do ligamento arterial Linfonodos diafragmáticos superiores Linfonodos mediastinais anteriores Nervo vago Veia tireóidea inferior Linfonodos paratraqueais Linfonodos mediastinais anteriores Artéria e veia axilares Nervo frênico esquerdo Plexo braquial Artéria e veia pericardicofrênicas Nervo laríngeo recorrente Linfonodos traqueobronquiais superiores Linfonodos diafragmáticos superiores Veia pulmonar esquerda superior Artéria pulmonar esquerda Veia pulmonar esquerda inferior Linfonodos traqueobronquiais inferiores Ligamento arterial Fig. 56.3 Dissecção que mostra o coração, os grandes vasos e os pulmões in situ: o manúbrio do esterno foi retraído cranialmente e o timo foi totalmente removido. O pericárdio foi parcialmente removido e o hilo do pulmão foi dissecado para expor os linfonodos traqueobronquiais. (De Sobotta, 2006.) Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 964 S E Ç Ã O 7 Átrio direito Aspectos gerais e externos O septo interatrial é oblíquo, de modo que o átrio direito encontra-se anterior e à direita do átrio esquerdo (Fig. 56.2A-D), estendendo-se também inferiormente a ele. Suas paredes formam a face esternocostal superior direita, a face pulmonar direita convexa e um pouco do lado direito da base. A veia cava superior se abre em sua cúpula e a veia cava inferior em sua parte posterior inferior (Fig. 56.2B e D). Uma extensa bolsa muscular, a aurícula, se projeta anteriormente para se sobrepor à face direita da parte ascendente da aorta. A aurícula é uma larga estrutura triangular e tem uma ampla junção com o verdadeiro componente atrial do átrio direito (Fig. 56.2A e C). A junção entre a parte venosa (seio venoso) e o átrio propriamente dito é marcada externamente por um sulco raso, o sulco terminal, que se estende entre os lados direitos dos óstios das duas veias cavas. O sulco terminal corresponde, internamente, à crista terminal, a qual é o local de origem dos extensos músculos pectíneos que surgem em série em ângulos retos a partir da crista. Posteriormente, o sulco interatrial vertical desce para a cruz do coração. Anteriormente, o átrio direito está relacionado à parte anterior da face mediastinal do pulmão direito, do qual ele está separado pela pleura e pelo pericárdio. Lateralmente, o átrio está relacionado também à face mediastinal do pulmão direito, mas anterior ao seu hilo e separado dele pela pleura, pelo nervo frênico direito, pelos vasos pericardicofrênicos e pelo pericárdio. Posteriormente e à esquerda, o septo interatrial e as paredes atriais dobradas circunjacentes separam o átrio direito do átrio esquerdo (o envolvimento mural está indicado por um extenso sulco interatrial). Posteriormente e à direita estão as veias pulmonares direitas. Medialmente estão a parte ascendente da aorta e, em um grau menor, a raiz do tronco pulmonar e sua bifurcação. Superfície interna A superfície interna do átrio direito pode ser dividida em três regiões: um componente venoso de paredes lisas posteriormente que leva, anterior- mente, ao vestíbulo da valva atrioventricular direita e à aurícula (Fig. 56.4A e B). A parede do vestíbulo é lisa, mas sua junção com a aurícula é enru- gada ao redor de toda a junção atrioventricular. A parte de paredes lisas recebe a abertura das veias cavas e do seio coronário. Ela representa o componente venoso (seio venoso) do coração em desenvolvimento. A parede do vestíbulo tem uma superfície encrespada ea da aurícula é tra- beculada. Ambas são derivadas do átrio embrionário propriamente dito. As veias cavas superior e inferior se abrem no interior do componente venoso. A veia cava superior retornam o sangue da cabeça, do pescoço, e dos membros superiores através de um óstio que está voltado inferoante- riormente e não apresenta valva, e também recebe sangue da parede torácica e do esôfago através do sistema ázigo. A veia cava inferior é maior do que sua equivalente superior: ela drena o sangue de todas as estruturas abaixo do diafragma, inclusive deste, para a parte inferior do átrio próximo ao septo. Anterior ao seu óstio encontra-se uma valva semelhante a uma cúspide, a válvula da veia cava inferior (Fig. 56.4A e B). De tamanho variável, esta válvula é encontrada ao longo da margem lateral, ou direita, da veia. Quando localizada inferiormente, ela segue para o seio do septo (veja a seguir), onde é contígua com a válvula do seio coronário. A parte lateral da válvula da veia cava inferior se torna contínua com a extremi- dade inferior da crista terminal. A válvula é uma prega do endocárdio que envolve algumas fi bras musculares. Ela é grande durante a vida fetal, quando ela serve para direcionar o sangue ricamente oxigenado advindo da placenta através do forame oval do septo interatrial para o interior do átrio esquerdo. A válvula varia notavelmente de tamanho na vida pós- natal; ela é às vezes cribriforme ou fi lamentosa, mas frequentemente está ausente. Um recesso particularmente proeminente, atrás da válvula da veia cava inferior, é visto posteroinferiormente em relação ao óstio do seio coronário. O seio coronário se abre no componente atrial venoso, entre o óstio da veia cava inferior, a fossa oval, e o óstio atrioventricular (Fig. 56.4A e B). O seio coronário é frequentemente guardado por uma delgada válvula semicircular que cobre a parte inferior do óstio (válvula do seio coroná- rio). O ramo superior desta válvula se une à válvula da veia cava inferior; uma estrutura tendínea, o tendão da válvula da veia cava inferior, segue desta comissura para o seio do septo, o qual é o septo entre o seio coro- nário e a fossa oval. O tendão da válvula da veia cava inferior segue para a frente para se inserir no corpo fi broso central e é um dos marcos do trígono do nó sinoatrial (veja a seguir). O óstio do seio coronário forma um proeminente marco no átrio direito. O seio propriamente se encontra dentro do sulco coronário esquerdo (Fig. 56.2B e D) e é o canal de retorno da maior parte do sangue venoso derivado do coração, embora algumas veias atriais drenem diretamente para os átrios direito ou esquerdo. O seio coronário começa no ponto onde a veia oblíqua do átrio esquerdo se une à veia cardíaca magna. O seio recebe a veia interventricular posterior e veias cardíacas mínimas próximas à sua junção com o átrio direito. Vários pequenos óstios venosos, que drenam as veias cardíacas mínimas do átrio, são encontrados espalhados ao redor das paredes atriais. Elas devolvem uma pequena fração de sangue advindo do coração e são mais numerosas na parede do septo. As veias anteriores do ventrículo direito e, às vezes, a veia marginal direita podem entrar no átrio através de óstios maiores. O átrio propriamente dito e a aurícula estão separados do seio venoso pela crista terminal. Esta crista muscular lisa se inicia sobre a parte superior da superfície septal e, passando anteriormente ao óstio da veia cava supe- rior, segue ao redor de sua margem direita para alcançar o lado direito do óstio da veia cava inferior. Ela marca o local da válvula venosa direita do coração embrionário e corresponde externamente ao sulco terminal. O nó sinoatrial está localizado no interior da parte superior do sulco, lateral- mente e estendendo-se abaixo do óstio da veia cava superior (Fig. 56.4A e B). Os músculos pectíneos, cristas musculares quase paralelas, se esten- dem anterolateralmente a partir da crista terminal e atingem o interior da aurícula, onde eles formam varias trabéculas. A parede septal apresenta a fossa oval, uma depressão oval acima e à esquerda do óstio da veia cava inferior. Seu assoalho é o septo interatrial primário, ou septo primário (septum primum). O limbo da fossa oval é proeminente e, embora frequentemente considerada representante da margem do então chamado septo secundário (septum secundum), na rea- lidade ela é meramente representativa das paredes dobradas para dentro das câmaras atriais. Ela é mais conspícua acima e em frente da fossa, e é usualmente defi ciente inferiormente. Uma pequena fenda é às vezes encontrada na margem superior da fossa, ascendente sob a margem para se comunicar com o átrio esquerdo. Isto representa uma falha na oblite- ração do forame oval fetal, o qual permanece patente em até um terço de todos os corações normais. Anteroinferiormente no átrio direito encontra-se o grande óstio atrio- ventricular oval, que leva ao óstio da valva atrioventricular direita. Uma zona triangular, o trígono do nó sinoatrial, é defi nida entre a inserção da válvula septal da valva atrioventricular direita, a margem anteromedial do óstio do seio coronário e o tendão subendocárdico da válvula da veia cava inferior, arredondado, colagenoso e palpável (Fig. 56.4A e B). O trígono é uma referencia de importância cirúrgica particular, indicando o local do nó atrioventricular e suas conexões atriais. Anterossuperior à inserção do tendão da válvula da veia cava inferior, a parede septal é formada pelo componente atrioventricular do septo membranáceo, interveniente entre o átrio direito e a saída subaórtica do ventrículo esquerdo (Fig. 56.5). A parede atrial se projeta anterossuperiormente acima do septo membraná- ceo. Esta área é a protuberância aórtica e marca o local do seio não coro- nário da aorta com sua cúspide valvular incluída. Ventrículo direito O ventrículo direito se estende do óstio atrioventricular direito (tricús- pide) até quase ao ápice do coração. Em seguida, ele ascende para a esquerda para se tornar o cone arterial, atingindo o óstio do tronco pul- monar e sustentando as válvulas da valva do tronco pulmonar. Sob o ponto de vista topográfi co, o ventrículo possui um componente de entrada o qual sustenta e circunda a valva atrioventricular direita; um componente apical grosseiramente trabeculado; e uma saída muscular ou cone arterial, o qual circunda as inserções das válvulas da valva do tronco pulmonar. Aspectos externos A superfície anterossuperior convexa do ventrículo direito forma uma grande parte da face esternocostal do coração, e está separada da parede torácica apenas pelo pericárdio (Fig. 56.2A-D). A pleura esquerda e, em um grau menor, a margem anterior do pulmão esquerdo estão interpostos acima e à esquerda. A superfície inferior é plana e está relacionada prin- cipalmente, com a interposição do pericárdio, ao centro tendíneo e a uma pequena parte muscular adjacente do diafragma. A parede esquerda e posterior é o septo interventricular. Esta é ligeiramente curvada e se projeta para o interior do ventrículo direito, de modo que, em cortes através do eixo cardíaco, o contorno do ventrículo direito seja em crescente. Alguns acreditam que uma delicada faixa colágena, o tendão do infundíbulo, conecte o infundíbulo muscular pulmonar posteriormente à raiz da aorta. A parede do ventrículo direito é signifi cativamente mais delgada (3-5 mm em média) do que a do esquerdo, sendo a relação de espessura entre as duas paredes usualmente de 1:3. Aspectos internos Os componentes de entrada e saída do ventrículo, os quais sustentam e circundam as válvulas das valvas atrioventricular direita do tronco pulmo- nar respectivamente, estão separados no teto do ventrículo pela proemi- nente crista supraventricular (Fig. 56.4A). A crista é uma espessa estrutura muscular, altamente arqueada,que se estende obliquamente para a frente e para a direita a partir de um ramo septal, localizado no alto da parede septal interventricular, até um ramo mural ou parietal na parede ventricu- lar direita anterolateral. A face posterolateral da crista fornece um local de inserção principal para a válvula anterior da valva atrioventricular direita. O ramo septal da crista pode ser contínuo com os ramos septais da trabé- cula septomarginal, ou envolvido por esta última. As regiões de entrada e saída se estendem apicalmente e a partir do proeminente componente 965 C A P ÍT U L O 5 6 Parte ascendente da aorta A Veia cava superior Abertura da veia cava superior Átrio direito Nó sinoatrial Abertura da veia cava inferior Valva da veia cava inferior Valva do seio coronário Valva atrioventricular direita, válvula anterior Músculo papilar anterior Ramo direito do feixe atrioventricular Feixe atrioventricular Nó atrioventricular Abertura do seio coronário Crista supraventricular Valva da aorta, válvula semilunar esquerda Seio da aorta Valva do tronco pulmonar, válvula semilunar esquerda Seio do tronco pulmonar Artéria coronária esquerda Tronco pulmonar Ventrículo direito B Trígono do nó sinoatrial Óstio do seio coronário Válvula septal da valva atrioventricular direita Feixe atrioventricular Tendão da válvula da veia cava inferior Fig. 56.4 A, O interior do coração, revelado através de incisão ao longo de sua superfície direita e parte da superfície inferior. O resto do coração foi girado para a esquerda. B, O trígono do nó sinoatrial, o qual é defi nido pelo tendão da válvula da veia cava inferior, pelo óstio do seio coronário e pela válvula septal da valva atrioventricular direita. (A de Sobotta, 2006.) Parte ascendente da aorta Valva da aorta, válvula semilunar posterior [válvula não coronária] Seio da aorta Artéria coronária direita Aurícula direita Septo interventricular, parte membranácea Valva atrioventricular direita, válvula posterior Valva atrioventricular direita, válvula septal Músculo papilar anterior Músculo papilar posterior Septo interventricular, parte muscular Músculo papilar anterior Músculo papilar posterior Válvula posterior Válvula anterior Átrio esquerdo Valva da aorta, válvula semilunar esquerda Valva atrioventricular esquerda Pericárdio Pericárdio Fig. 56.5 Uma dissecção que abre os ventrículos, vistos de frente. (De Sobotta, 2006.) Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 966 S E Ç Ã O 7 grosseiramente trabeculado do ventrículo. O componente de entrada é em si também trabeculado, enquanto o componente de saída (ou cone arte- rial) tem paredes predominantemente lisas. A aparência trabeculada é causada por uma miríade de cristas e protrusões musculares irregulares, as quais são conhecidas coletivamente como as trabéculas cárneas, e são revestidas por endocárdio. Estas protrusões e sulcos intervenientes ofere- cem uma grande variação na espessura da parede; as protrusões variam em extensão desde meras cristas a trabéculas, as quais estão fi xas em ambas as extremidades, mas às vezes apresentam-se livres. Outras protru- sões conspícuas são os músculos papilares, os quais estão inseridos a uma extremidade sobre a parede ventricular e são contínuos à outra extremi- dade com cordas colagenosas, as cordas tendíneas, inseridas na borda livre e em outros locais da face livre das valvas atrioventriculares. Uma protru- são no ventrículo direito, a trabécula septomarginal ou faixa septal, é particularmente proeminente. Ela reforça a superfície septal onde, na base, ela divide em ramos que envolvem a crista supraventricular. Em direção ao ápice, ela sustenta o músculo papilar anterior da valva atrioventricular direita e, a partir deste ponto, cruza para a parede parietal do ventrículo como a “banda moderadora” (este nome alternativo registra uma antiga ideia de que a trabécula septomarginal previne a distensão excessiva do ventrículo). Uma série subsequente de proeminentes trabéculas, as trabé- culas septoparietais, se estendem de sua superfície anterior e seguem por sobre a parede ventricular parietal. O trato de saída de paredes lisas, ou cone arterial, ascende para a esquerda acima das trabéculas septoparietais e abaixo do arco da crista supraventricular até o óstio do tronco pulmonar. Valva atrioventricular direita O aparelho valvar atrioventricular, em ambos os ventrículos direito e esquerdo, consiste no óstio e seu anel fi broso associado, nas válvulas, nas cordas tendíneas de sustentação – de vários tipos – e nos músculos papilares. A interação harmoniosa de todos esses componentes, juntamente com as massas miocárdicas atrial e ventricular, depende dos tecidos de condu- ção e da coesão mecânica fornecida pelo esqueleto cardíaco fi broelástico. Todas as partes se alteram substancialmente de posição, formato, angula- ção e dimensões durante um único ciclo cardíaco. Óstio atrioventricular direito O óstio atrioventricular direito é mais bem visualizado a partir da face atrial e mede em média 11,4 cm de circunferência em homens e 10,8 cm em mulheres. Ele apresenta uma linha clara de transição da parede ou septo interatrial até as linhas de inserção das válvulas. Suas margens não estão precisamente em um único plano. Ele é quase vertical, mas em 45º em relação ao plano sagital e ligeiramente inclinado para a vertical, de modo que ele esteja “voltado” (com sua face ventricular) anterolateral- mente para a esquerda e um pouco inferiormente (Fig. 56.6). Quase triangular, suas margens são descritas como anterior, posterior e septal, correspondendo às linhas de inserção das válvulas. Os tecidos conjuntivos ao redor do óstio das valvas atrioventriculares separam as massas miocárdicas atrial e ventricular completamente, exceto no ponto de penetração do feixe atrioventricular, e variam em densidade e disposição ao redor da circunferência valvar. Estendendo-se do trígono fi broso direito, que é componente do corpo fi broso central, está um par de tendões subendocárdicos curvados e afi lados, ou “dentes” (fi lamentos coronários) que envolvem parcialmente a circunferência. Esta última é completada por um tecido conjuntivo mais frouxo, fi broelástico e defor- mável do sulco. Embora, a quantidade de tecido fi broso varie com o sexo e a idade, o tecido no interior da junção atrioventricular ao redor do óstio atrioventricular direito é sempre menos robusto que elementos similares encontrados nas inserções da valva atrioventricular esquerda. A “inserção” topográfi ca das válvulas livres na valva atrioventricular direita não corres- ponde completamente ao nível interno de inserção do centro fi broso da valva em relação ao tecido conjuntivo atrioventricular juncional: a linha de inserção da válvula é mais bem apreciada no coração quando exami- nado grosseiramente, e este aspecto também é mais facilmente discernido sob o ponto de vista clínico. Válvulas da valva atrioventricular direita É geralmente possível se distinguir três válvulas na valva atrioventricular direita, daí o nome. Elas estão localizadas anterior, septal e posterior- mente, correspondendo aos setores marginais do óstio atrioventricular assim denominado. Cada uma é uma reduplicação do endocárdio que inclui um eixo colagenoso, contínuo na margem e em sua face ventricular com fascículos divergentes de cordas tendíneas (veja a seguir) e basal- mente confl uentes com o tecido conjuntivo dos anéis fi brosos. Todas as válvulas das valvas atrioventriculares apresentam, passando da margem livre até a margem inserida, as zonas áspera, clara e basal. A zona áspera é relativamente espessa, opaca e desigual em sua faceventricular, onde a maior parte das cordas tendíneas está inserida. A face atrial da zona áspera faz contato com a superfície comparável das válvulas adjacentes durante o fechamento completo da valva. A zona clara é lisa e translúcida, recebe poucas cordas tendíneas e tem um centro fi broso mais delgado. A zona basilar, estendendo-se de 2 a 3 mm da inserção circunferencial das válvu- las, é mais espessa, contém mais tecido conjuntivo e é vascularizada e inervada. Ela contém as inserções do miocárdio atrial. A válvula anterior é o maior componente da valva atrioventricular direita. Ela se encontra inserida principalmente à junção atrioventricular na face posterolateral da crista supraventricular, mas se estende ao longo de seu ramo septal até o septo membranáceo, terminando na comissura anterosseptal. Uma ou mais incisuras frequentemente endentam sua margem livre. A inserção da válvula septal passa da comissura inferossep- tal na parede ventricular posterior através do septo muscular e em seguida cruza o septo membranáceo até a comissura anterosseptal. A válvula septal defi ne uma das bordas do trígono do nó sinoatrial, consequentemente ajudando a localização do nó atrioventricular, o qual se encontra no ápice do triângulo, e assegurando que esta área pode ser evitada durante uma cirurgia na valva atrioventricular direita (Figs. 56.4A e B, e 56.5). A válvula inferior tem uma inserção completamente mural e guarda a superfície diafragmática da junção atrioventricular. Seus limites são as comissuras inferosseptal e anteroinferior. Cordas tendíneas As cordas tendíneas são estruturas colagenosas fi brosas que sustentam as válvulas das valvas atrioventriculares. Falsas cordas conectam os músculos papilares uns aos outros ou à parede ventricular incluindo o septo inter- ventricular, ou passam diretamente entre pontos na parede (ou no septo interventricular, ou em ambos); elas são encontradas em números e dimensões irregulares no ventrículo direito. As verdadeiras cordas usual- mente surgem a partir de pequenas projeções nas extremidades ou margens do terço apical dos músculos papilares, mas às vezes surgem a partir das bases dos músculos papilares ou diretamente das paredes ventriculares e do septo interventricular. Elas estão inseridas em várias partes das faces ventriculares ou das margens livres das válvulas. Foram classifi cadas em cordas de primeira, segunda e terceira ordem, de acordo com a distância da inserção a partir das margens das válvulas; este esquema tem pouco mérito funcional ou morfológico. As cordas em formato de leque apresentam um curto tronco do qual ramos se irradiam para se inserir às margens (ou à face ventricular) das zonas de aposição entre válvulas e às extremidades de válvulas adjacentes. As cordas da zona áspera surgem a partir de um único tronco, o qual 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 P A M T T M A P Fig. 56.6 Relação da face esternocostal e das valvas do coração com a caixa torácica. O coração direito está em azul, a seta indica os canais de infl uxo e de efl uxo do ventrículo direito; o coração esquerdo está representado de forma similar em vermelho. As posições, os planos e os tamanhos relativos das valvas cardíacas estão mostrados. A posição das letras A, P, T e M indicam respectivamente as áreas de auscultação das valvas da aorta, do tronco pulmonar, atrioventricular direita (tricúspide) e atrioventricular esquerda (mitral) na prática clínica. Observe que, para o propósito da ilustração, os óstios das valvas da aorta, atrioventricular esquerda (mitral) e atrioventricular direita (tricúspide) são mostrados com alguma separação entre eles. Na realidade, as válvulas das três valvas estão em continuidade fi brosa (Fig. 56.10). 967 C A P ÍT U L O 5 6 normalmente se divide em três componentes que se inserem à margem livre, à face ventricular da zona áspera e a algum ponto intermediário na válvula, respectivamente. As cordas da borda livre são únicas, semelhantes a fi os e frequentemente longas, passando do ápice ou da base de um músculo papilar até uma inserção marginal, normalmente próxima ao ponto médio de uma válvula ou a um de seus recortes. As cordas profun- das, também longas, passam abaixo das margens, se ramifi cando em vários graus, atingem a zona áspera mais periférica ou até mesmo a zona clara. As cordas basais são cordas arredondadas ou faixas planas, longas e delicadas, ou curtas e musculares. Elas surgem da parede ventricular lisa ou trabeculada e se inserem no componente basal de uma válvula. Músculos papilares Os dois principais músculos papilares no ventrículo direito estão locali- zados nas posições anterior e posterior. Um terceiro músculo, menor, tem uma posição medial (septal) juntamente com vários músculos menores e variáveis inseridos no septo interventricular. O músculo papilar anterior é o maior. Sua base surge a partir da parede ventricular anterolateral direita, abaixo da comissura anteroinferior da válvula inferior, e ele também se funde com a extremidade direita da trabécula septomarginal. O músculo papilar posterior surge a partir do miocárdio abaixo da comis- sura inferosseptal e é frequentemente bífi do ou trífi do. O músculo papilar septal é pequeno, porém típico, e surge a partir do ramo septal posterior da trabécula septomarginal. Todos os principais músculos papilares for- necem cordas aos componentes adjacentes das válvulas que eles susten- tam. Um aspecto do ventrículo direito é que a válvula septal encontra-se presa por cordas tendíneas individuais diretamente ao septo ventricular; tais inserções septais nunca são visualizadas no ventrículo esquerdo. Quando fechadas, as três válvulas se ajustam perfeitamente umas às outras, de modo que o padrão das zonas de aposição confi rme o arranjo trifoliado da valva atrioventricular direita. Abertura da valva atrioventricular direita Apesar de seu nome, a valva atrioventricular direita atua mais como uma valva atrioventricular esquerda, porque a válvula septal, a menor das três válvulas, está fi xada entre os trígonos fi brosos direito e esquerdo e os septos interatrial e interventricular. O restante do anel tricúspide é mus- cular. Durante a diástole, o ventrículo direito relaxa, o anel dilata e as grandes válvulas anterior e posterior se movem para longe do plano do anel e para o interior do ventrículo direito. Durante a sístole, o anel se estreita à medida que o ventrículo se contrai, e as duas principais válvulas se movem como velas para limitar uma válvula septal relativamente imóvel e o septo interventricular propriamente dito (Fig. 56.7). Valva do tronco pulmonar A valva do tronco pulmonar, que guarda o fl uxo de saída do ventrículo direito, delimita superiormente o cone arterial e está situada a uma certa distância das outras três valvas cardíacas (Figs. 56.8, 56.9 e 56.10). Seu plano geral está voltado superiormente para a esquerda e ligeiramente posteriormente. Ela apresenta três válvulas semilunares inseridas por bordas convexas parcialmente à parede do cone arterial do ventrículo direito e parcialmente à origem do tronco pulmonar. A linha de inserções é curva, elevando-se na periferia de cada válvula próximo às suas zonas de aposição (as comissuras) e atingindo a crista sinotubular do tronco pulmonar (Fig. 56.11A-C). A remoção das válvulas mostra que as inserções semilunares fi brosas incluem três crescentes de musculatura infundibular no interior dos seios pulmonares, enquanto três segmentos grosseira- mente triangulares da parede arterial estão incorporados dentro do trato de saída ventricular abaixo do ápice de cada inserção comissural. Não existe, portanto, um “anel” circular propriamente dito sustentando as válvulas da valva, e a inserção semilunar fi brosaé um requisito essencial para o fechamento justo dos nódulos e lúnulas das válvulas (veja a seguir) durante a diástole ventricular. É difícil denominar as válvulas e os seios correspondentes da valva do tronco pulmonar e do tronco pulmonar precisamente de acordo com as coordenadas do corpo, porque o óstio valvar está posicionado obliquamente. A nomenclatura ofi cial (Terminolo- gia Anatômica, 2001) se refere a uma válvula semilunar anterior, uma válvula semilunar direita e uma válvula semilunar esquerda, baseada em sua posição no feto. A posição se altera com o desenvolvimento e no adulto existe uma válvula semilunar anterior direita, e as válvulas semilu- nares posterior e esquerda. Cada válvula é uma prega do endocárdio, com um lâmina fi brosa interveniente, e variavelmente desenvolvido. O eixo é substancial ao longo da borda livre e da borda semilunar inserida; esta última é particularmente espessada na parte central mais profunda (nadir) da base de cada válvula (deste modo nunca formando um simples anel fi broso completo). A margem livre de cada válvula contém um espessamento central localizado de colágeno, o nódulo da válvula semilunar. Perfurações no interior das válvulas próximas à margem livre e próximas às comissuras estão frequen- temente presentes, mas não apresentam signifi cado funcional. Cada válvula semilunar está contida no interior de um dos três seios do tronco pulmonar. Abertura da valva do tronco pulmonar Durante a diástole, a valva do tronco pulmonar é fechada e todas as três válvulas da valva estão fi rmemente justapostas. A valva do tronco pulmo- nar é difícil de visualizar à ecocardiografi a e usualmente apenas a válvula semilunar direita é visível quando a valva está fechada; a sístole atrial pode causar um movimento levemente posterior das válvulas valvares. A valva do tronco pulmonar se abre passivamente durante a sístole ventricular e em seguida se fecha rapidamente ao fi nal da sístole (Fig. 56.7). Átrio esquerdo Embora menor em volume do que o direito, o átrio esquerdo tem paredes mais espessas (3 mm em média). Sua cavidade e suas paredes são forma- das largamente pelas partes proximais das veias pulmonares, as quais são incorporadas ao átrio durante o desenvolvimento. O único derivado evi- dente da parte esquerda do átrio embrionário é a aurícula, juntamente com o vestíbulo da valva atrioventricular esquerda. O átrio esquerdo é quase cuboide e se estende por trás do átrio direito, separado deste pelo septo posicionado obliquamente; deste modo, o átrio direito está em frente e anterolateral à parte direita do átrio esquerdo. A parte esquerda está oculta anteriormente pelos segmentos iniciais do tronco pulmonar e da aorta: parte do seio transverso do pericárdio se encontra entre ela e estes troncos arteriais. Anteroinferiormente, e à esquerda, ela se une à base do ventrículo esquerdo no óstio da valva atrioventricular esquerda. Sua face posterior forma a maior parte da base anatômica do coração e é aproximadamente quadrangular, recebendo as terminações das (normal- mente) duas veias pulmonares advindas de cada pulmão. Ela forma a parede anterior do seio obliquo do pericárdio (Fig. 56.1). Esta superfície termina no raso sulco interatrial vertical, o qual desce até a cruz do coração (crux cordis). A aurícula do átrio esquerdo é estreitada em sua junção atrial e todos os músculos pectíneos do átrio esquerdo estão contidos em seu interior. Ela é caracteristicamente mais longa, mais estreita e mais curvada que a aurícula direita, sendo suas margens mais profundamente endenta- Aorta 51 2 3 4 6 7 8 P T Q S R Direito Ejeção Esquerdo Ejeção 120 100 80 60 40 20 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0 20 0 Átrio Ventrículo Tempo (segundos) Pressão (mm/Hg) no lado esquerdo do coração Atividade mecânica Pressão (mm/Hg) no lado direito do coração Sequência do movimento valvar Fechamento da valva atrioventricular esquerda Fechamento da valva da aorta Fechamento da valva atrioventricular direita Abertura da valva do tronco pulmonar Abertura da valva atrioventricular esquerda Fonocardiograma Eletrocardiograma Fechamento da valva do tronco pulmonar Abertura da valva atrioventricular direita Abertura da valva atrioventricular esquerda Primeiro som cardíaco Segundo som cardíaco Átrio esquerdo Ventrículo esquerdo Artéria pulmonar Átrio direito Ventrículo O pontilhado marca a contração e o relaxamento isométricos Fig. 56.7 Resumo de alguns dos principais eventos que ocorrem no ciclo cardíaco e os quais são mencionados em vários pontos por todo capítulo. A sístole se inicia com o aparecimento do primeiro som cardíaco (veja o fonocardiograma) e termina com o aparecimento do segundo som cardíaco, quando a diástole se inicia e este ciclo se repete. Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 968 S E Ç Ã O 7 das. Ela se volta para a frente à esquerda do tronco pulmonar, sobrepon- do-se à sua origem (Fig. 56.8). Interiormente, as quatro veias pulmonares se abrem nas superfícies posterolaterais superiores do átrio esquerdo, duas de cada lado. Seus óstios são lisos e ovais; o par esquerdo frequentemente se abre através de um canal comum. Algumas veias cardíacas mínimas devolvem o sangue diretamente a partir do miocárdio para a cavidade do átrio esquerdo. A face atrial esquerda do septo interatrial tem uma carac- terística aparência rugosa, delimitada por uma crista em crescente, côncava para cima, a qual marca o local do forame oval. Ventrículo esquerdo Características gerais e externas O ventrículo esquerdo está construído de acordo com seu papel como uma poderosa bomba que sustenta o fl uxo pulsátil nas artérias sistêmicas de alta pressão. Descrito diversas vezes como de formato meio elipsoide ou cônico, ele é mais longo e mais estreito do que o ventrículo direito, estendendo-se de sua base no plano do sulco coronário até o ápice do coração. Seu eixo longo desce para a frente e para a esquerda. Em corte transversal, em ângulos retos com o eixo, sua cavidade é oval ou quase circular, com paredes cerca de três vezes mais espessa (8-12 mm) do que as do ventrículo direito (Fig. 56.12). Ele forma parte das faces esternocos- tal, pulmonar esquerda e diafragmática do coração. Exceto onde obscure- cida pela aorta e pelo tronco pulmonar, a base do cone ventricular está superfi cialmente separada do átrio esquerdo e da aurícula por parte do sulco coronário; o seio coronário segue na face posterior do sulco para atingir o átrio direito (Fig. 56.2B e D). Os sulcos interventriculares anterior e posterior indicam as linhas de inserção mural do septo interventricular e os limites dos territórios ventriculares esquerdo e direito. A face ester- nocostal do ventrículo se curva abruptamente para dentro de sua face pulmonar esquerda na margem obtusa. Veia interventricular anterior Artéria coronária esquerda, ramo interventricular anterior Cone arterial Artéria coronária esquerda, ramo circunflexo Veia cardíaca magna Átrio esquerdo, aurícula esquerda Artéria coronária esquerda Tronco pulmonar Artéria pulmonar esquerda Pericárdio seroso, lâmina parietal Ligamento arterial Arco da aorta Veia cava superior Pericárdio seroso, lâmina parietal Artéria pulmonar direita Parte ascendente da aorta Seio transverso do pericárdio Artéria coronária direita Aurícula direita Átrio direito Veias ventriculares direitas Ramo atrial Ramo marginal direito Incisura do ápice do coração Ápice do coração Fig. 56.8 A face esternocostal do coração. (De Sobotta, 2006.) Válvula semilunar anterior Válvula semilunar direita Válvula semilunar esquerda Valvado tronco pulmonar Ramo circunflexo Ramo interventricular anterior Tronco pulmonar Válvula semilunar esquerda Válvula semilunar direita Valva da aorta Artéria coronária direita Ramo marginal direito Valvula do seio coronário Veia interventricular posterior Anel fibroso direito Trígono fibroso direito Feixe atrioventricular Válvula semilunar posterior Artéria coronária esquerda Trígono fibroso esquerdo Anel fibroso esquerdo Ramo marginal esquerdo Abertura do seio coronário Veia interventricular posterior Artéria coronária direita, ramo interventricular posterior Veia cardíaca magna Fig. 56.9 A base dos ventrículos, após remoção dos átrios e do pericárdio. As artérias coronárias e as veias cardíacas podem ser vistas. Compare os planos e as posições das valvas da aorta e do tronco pulmonar. Compare com a Figura 56.10. (De Sobotta, 2006.) 969 C A P ÍT U L O 5 6 Características internas O ventrículo esquerdo tem uma região de entrada, guardada pela valva atrioventricular esquerda (óstio venoso), uma região de saída, guardada pela valva da aorta (óstio arterial) e um componente trabecular apical. O óstio atrioventricular esquerdo admite o sangue atrial durante a diás- tole, veiculando o fl uxo em direção ao ápice do coração. Após o fecha- mento das válvulas da valva atrioventricular esquerda, e durante toda a fase de ejeção da sístole, o sangue é expelido a partir do ápice através do óstio da aorta. Em contraste com os óstios no interior do ventrículo direito, os do ventrículo esquerdo estão em íntimo contato, com uma continuidade fi brosa entre as válvulas das valvas da aorta e atriventricu- lar esquerda (a cortina subaórtica; Fig. 56.13). Os tratos de entrada e de saída giram nitidamente ao redor desta cortina fi brosa (Fig. 56.9). A parede anterolateral é o septo interventricular côncavo-convexo, cuja parte muscular convexa é o perfi l posteromedial do ventrículo direito como visto no corte. Ele assim completa o contorno circular do ventrículo esquerdo (Fig. 56.12). Em direção ao óstio da aorta, o septo se torna a delgada e colagenosa parte membranácea do septo interven- tricular, uma área oval ou arredondada abaixo e confl uente com o trígono fi broso que separa as válvulas direita e posterior (não coronária) da valva da aorta. Entre os limites inferiores das margens livres das válvulas da valva atrioventricular esquerda e o ápice do ventrículo, as paredes musculares são profundamente trabeculadas. Estas trabéculas cárneas são mais fi nas e mais intrincadas que as do ventrículo direito, mas de estrutura similar. A trabeculação é caracteristicamente bem desenvolvida próximo ao ápice, enquanto os limites superiores da superfície septal são lisos (Fig. 56.13). Hipertrofi a do músculo cardíaco Na cardiomiopatia hipertrófi ca, existe um aumento na espessura das paredes miocárdicas, particularmente no septo interventricular, o qual é desproporcionalmente espessado em comparação à parede posterior. A ecocardiografi a permite uma avaliação precisa do espessamento e da função sistólica. Outros aspectos na cardiomiopatia hipertrófi ca são a obstrução dinâmica da saída do ventrículo esquerdo, movimento anterior sistólico da válvula anterior da valva atrioventricular esquerda e fecha- mento meio-sistólico da valva da aorta. Um grau de disfunção diastólica também está presente em alguns casos de cardiomiopatia hipertrófi ca. Imagens de ressonância magnética (RM) seriadas de eixo curto permitem uma apurada medição da espessura da parede e são particularmente úteis na avaliação da hipertrofi a confi nada ao ápice. A RM com gradiente eco também permite alguma avaliação funcional da hipertrofi a. Um número de alterações histológicas é observado, incluindo a desorganização dos miócitos cardíacos com fi brose de substituição e expansão do componente colágeno. O tratamento é normalmente médico, exceto para casos refra- tários e aqueles nos quais a obstrução do trato de saída do ventrículo esquerdo tem um gradiente maior que 50 mmHg. A miotomia septal ventricular e a miectomia são realizadas em tais casos. Mais recentemente, a ablação septal alcoólica com cateter foi introduzida como uma alterna- tiva não cirúrgica. Um número de pacientes também pode necessitar da implantação da desfi briladores cardíacos para prevenir uma morte súbita cardíaca. O coração de um atleta também pode sofrer hipertrofi a e pode reque- rer uma diferenciação da cardiomiopatia hipertrófi ca. Entretanto, em atletas existe uma hipertrofi a uniformizada, a cavidade do ventrículo esquerdo é normalmente de tamanho menor que 55 mm, e a espessura Filamentos coronários Tecido conjuntivo sulcal Trígono fibroso direito (corpo fibroso central) Tendão da válvula da veia cava inferior Parte membranácea do septo interventricular Nó atrioventricular Linha da válvula septal da valva atrioventricular direita ANEL DA VALVA ATRIOVENTRICULAR DIREITA Filamentos coronários Tecido conjuntivo sulcal Parte ascendente da aorta Óstios das artérias coronárias Inserção fibrosa da valva da aorta: Válvula semilunar esquerda (coronária esquerda) Válvula semilunar direita (coronária direita) Válvula semilunar posterior (não coronária) Artéria pulmonar direita Arco da aorta Tronco pulmonar Tendão do infundíbulo (ligamento do cone) Inserção fibrosa das válvulas da valva do tronco pulmonar Trígono fibroso esquerdo Cortina subaórtica e extensão das válvulas Linha da válvula anterior da valva atrioventricular esquerda ANEL DA VALVA ATRIOVENTRICULAR ESQUERDA “Anéis” atrioventricular esquerdo e da aorta “Anéis” atrioventricular direito e do tronco pulmonar Tendão do infundíbulo Fig. 56.10 Principais elementos do esqueleto fi broso do coração. Para fi ns de clareza, a vista é a partir da face posterossuperior direita. A perspectiva faz com que o anel do tronco pulmonar pareça menor que o anel da aorta, enquanto, de fato, o caso é o inverso. Consulte o texto para uma completa discussão. (Copyright The Royal College of Surgeons of England. Reproduzido com permissão.) Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 970 S E Ç Ã O 7 diminui com o descondicionamento. A cardiomiopatia hipertrófi ca, por outro lado, pode apresentar padrões incomuns de hipertrofi a ventricular esquerda, a qual é frequentemente assimétrica com transições abruptas entre segmentos, aumento do átrio esquerdo e padrões bizarros do eletro- cardiograma. Além do mais, existe um padrão de herança autossômica dominante de anormalidades em genes que codifi cam proteínas do mio- cárdio associadas à cardiomiopatia hipertrófi ca. Indivíduos com mutações do gene β-MHC (complexo principal de histocompatibilidade) normal- mente desenvolvem a forma clássica de hipertrofi a, enquanto aqueles com mutações no gene da troponina T cardíaca geralmente têm uma hipertrofi a apenas leve ou clinicamente indetectável. Formas raras de hipertrofi a incluem a hipertrofi a apical ventricular esquerda localizada como um resultado de mutações na troponina I cardíaca e a hipertrofi a de cavidade média isolada, causada por mutações nos genes da actina cardíaca e na MLC (cadeia leve da miosina, myosin light chain). Valva atrioventricular esquerda Os comentários gerais já feitos a respeito da valva atrioventricular direita se aplicam da mesma forma à valva atrioventricular esquerda. A valva tem um óstio com seu anel de suporte, válvulas e uma variedade de cordas tendíneas e músculos papilares. Óstio da valva atrioventricular esquerda O óstio da valva atrioventricular esquerda é uma zona de transição bem defi nida entre a parede do átrio e as bases das válvulas. Ele é menor que o óstio atrioventricular direito (a circunferência média é de 9,0 cm em homens, e7,2 em mulheres). O óstio aproximadamente circular é quase vertical na diástole e a 45º em relação ao plano sagital, mas com um leve declive para a frente. Sua face ventricular está voltada anterolateralmente para a esquerda e um pouco inferiormente em direção ao ápice do ven- trículo esquerdo. Ele é quase coplanar com o óstio atrioventricular direito, mas posterossuperior a ele, enquanto ele é posteroinferior e levemente à esquerda do óstio da aorta. Os óstios atrioventricular esquerdo, atrioven- tricular direito e da aorta estão intimamente conectados centralmente ao corpo fi broso central. Quando as válvulas da valva atrioventricular esquerda se fecham, elas formam uma zona única de coaptação, às vezes denominada de comissura. O anel da valva não é um simples anel fi broso, mas é formado por elementos fi brocolagenosos de consistência variada, a partir dos quais a lâmina fi brosa das válvulas se origina. Estas variações permitem alterações importantes no formato e nas dimensões do anel em diferentes estágios do ciclo cardíaco e asseguram uma efi ciência ideal na atuação valvular. O anel é mais forte nas faces internas dos trígonos fi brosos esquerdo e direito. Estendendo-se a partir destas estruturas, os dentes coronários anterior e posterior (os quais são tendões subendocárdicos afi lados e fi brosos) envolvem parcialmente o óstio na junção atrioventricular (Figs. 56.9 e 56.10). Entre as pontas dos dentes, as massas miocárdicas atrial e ventricular estão separadas por uma lâmina mais tênue de tecido conjun- tivo fi broelástico deformável. Atravessando anteriormente entre os trígo- nos, a lâmina fi brosa da parte central da válvula anterior da valva atrioventricular esquerda encontra-se uma continuação da cortina subaór- tica fi brosa que desce a partir das metades adjacentes das válvulas esquerda (coronária) e direita (não coronária) da valva da aorta (Fig. 56.13). Válvulas da valva atrioventricular esquerda Desde as descrições mais antigas, as válvulas da valva atrioventricular esquerda têm sido descritas como estruturas pareadas. Por isso, o nome “valva atrioventricular esquerda” é mais explícito, embora errôneo (as válvulas não são cúspides, ou seja, não são de formato pontiagudo) e certamente menos pitoresco que o termo clínico “mitral”. Entretanto, confusão, controvérsias e difi culdades na quantifi cação têm surgido, porque pequenas válvulas acessórias são quase sempre encontradas entre as duas válvulas principais. Estes problemas podem ser resolvidos se a valva atrioventricular esquerda for descrita como consistindo em um véu contínuo inserido ao redor de toda a circunferência do óstio atrioventri- cular esquerdo. Sua borda livre apresenta várias indentações; duas são sufi cientemente profundas e regulares para serem nomeadas como as extremidades de uma solitária e oblíqua zona de aposição, ou comissura. É mais comum, entretanto, para estas extremidades anteromedial e pos- terolateral serem designadas como duas comissuras independentes, cada uma posicionalmente denominada conforme indicada. Os nomes ofi ciais para estas válvulas, anterior e posterior, embora simples, são um tanto confusos por causa da obliquidade da valva. Quando a valva é mantida aberta, a válvula anterior é vista como guardando um terço da circunferência do óstio e como sendo semicircu- lar ou triangular, com poucas indentações marginais ou nenhuma. Sua lâmina fi brosa é contínua, na face de saída, por trás das margens da cortina subaórtica fi brosa, com os trígonos fi brosos direito e esquerdo (Figs. 56.5, 56.9 e 56.11C). Entre estes, ele é contínuo com a cortina fi brosa em si e, atrás dos trígonos, com as raízes dos fi lamentos do anel fi broso (Fig. 56.10). A válvula tem uma profunda zona áspera em cres- cente, a qual recebe várias cordas tendíneas. A crista que limita a margem B Junção sinotubular Junção ventrículo-arterial hemodinâmica (semilunar) Comissura Parede arterial Artéria como parte do ventrículo Ventrículo como parte da aorta Junção ventrículo-arterial anatômica (circular) Ventrículo C Tronco pulmonar Válvula semilunar direita Válvula semilunar posterior Válvula semilunar esquerda Junção sinotubular Junção ventrículo-arterial Valva atrioventricular esquerda Trígono fibroso direito Septo membranáceo Septo muscular Trígono fibroso esquerdo Corpo fibroso central Anel comissural Anel e junção ventrículo-arterial Parede aórtica dentro do ventrículo (triângulo intervalvular) Anel basal Ventrículo no interior do seio A Fig. 56.11 A estrutura da raiz da aorta é mais bem conceitualizada em termos de uma coroa de três pontas (A): existem pelo menos três anéis no interior desta coroa, mas nenhum sustenta a totalidade das inserções das válvulas (compare com C). Em B, as válvulas foram seccionadas em sua inserção na parede da aorta. Observe a relação das inserções das válvulas com a junção ventrículo-arterial. Em C, a raiz da aorta foi cortada, aberta e distendida, a fi m de mostrar a inserção das válvulas semilunares. Observe a zona de continuidade fi brosa entre as válvulas das valvas da aorta e atrioventricular esquerda (mitral) e sua relação com os trígonos fi brosos, e a inserção semilunar das válvulas (compare com B). (Reproduzido por cortesia do professor RH Anderson, Institute of Child Health, University College, London.) 971 C A P ÍT U L O 5 6 externa da zona áspera indica a extensão máxima do contato de superfície com a válvula posterior em fechamento completo. Uma zona clara é vista entre a zona áspera e o anel valvar, a qual é desprovida de inserções das cordas, embora sua lâmina fi brosa carregue extensões das cordas inseridas na zona áspera. A válvula anterior não apresenta zona basilar, continuan do, por sua vez, para dentro da cortina valvar. Dependendo de sua inserção anular, e contínua com a cortina subaórtica, ela está criticamente colo- cada entre a entrada e a saída do ventrículo. Durante o enchimento ventricular passivo e a sístole atrial, sua superfície atrial lisa é importante para direcionar um fl uxo leve de sangue para o corpo e o ápice do ven- trículo. Após o inicio da sístole ventricular e o fechamento da valva atrioventricular esquerda, a face ventricular de sua zona clara se funde com a superfície lisa da cortina subaórtica, a qual, com as paredes fi brosas remanescentes do vestíbulo aórtico subvalvar, forma os limites lisos da saída ventricular. A válvula posterior usualmente apresenta duas ou mais indentações menores. A falta de defi nição das comissuras intervalvulares maiores levou anteriormente à discordância e confusão com relação à extensão territorial desta válvula e à possível existência de “recortes” acessórios. O exame da valva em posição fechada, entretanto, mostra que a válvula posterior pode ser convenientemente considerada como todo o tecido valvular posterior às extremidades anterolateral e posteromedial da principal zona de apo- sição com a válvula anterior. Assim defi nido, ela tem uma inserção mais ampla no anel do que a válvula anterior, guardando dois terços das inser- ções circunferenciais. Indentações subsequentes normalmente dividem a válvula posterior em um recorte médio relativamente grande e recortes Artéria coronária esquerda, ramo interventricular anterior Músculo papilar anterior Artéria coronária esquerda, ramo marginal esquerdo Ventrículo esquerdo Músculos papilares posteriores Músculo papilar posterior Cordas tendíneas Veia interventricular anterior Sulco interventricular anterior Pericárdio seroso, lâmina visceral (epicárdio) Miocárdio Endocárdio Ventrículo direito Trabécula septomarginal Artéria coronária direita, ramo marginal direito Miocárdio Trabéculascárneas Septo interventricular, parte muscular Valva atrioventricular direita, válvula septal Sulco interventricular posterior Veia interventricular Artéria coronária direita, ramo interventricular posterior Fig. 56.12 Ventrículos esquerdo e direito; corte transversal perpendicular ao eixo do coração; face superior. (De Sobotta, 2006.) Bulbo da aorta Seio da aorta Tronco pulmonar Válvula semilunar esquerda Artéria coronária direita Nódulo da válvula semilunar Válvula semilunar posterior Válvula semiluna direita Valva atrioventricular esquerda, válvula anterior Músculo papilar anterior Óstio atrioventricular esquerdo Músculo papilar posterior Cordas tendíneas Miocárdio Septo interventricular, parte membranácea Artéria coronária esquerda; ramo interventricular anterior Válvula semilunar posterior Válvula semilunar esquerda Artéria coronária esquerda Fig. 56.13 O óstio da aorta aberto pela frente para mostrar as válvulas da valva da aorta, seus nódulos, lúnulas, comissuras e a linha de triplo recorte de inserção anular. Também está mostrada a continuidade da cortina subaórtica com a válvula anterior da valva atrioventricular esquerda (i.e., o “túnel aórtico”) e os óstios coronários, e a relação espacial entre o óstio da aorta e o óstio do tronco pulmonar e com o ventrículo esquerdo. (De Sobotta, 2006.) Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 972 S E Ç Ã O 7 comissurais anterolateral e posteromedial menores. Cada recorte apre- senta uma zona áspera opaca e em crescente, que recebe em sua face ventricular as inserções das cordas que defi nem a área de aposição valvular em fechamento completo. A partir da zona áspera até dentro de 2-3 mm de sua inserção anular, existe uma zona clara membranácea desprovida de cordas. Os 2-3 mm basais são espessos e vascularizados, e recebem cordas basais. A relação entre as zonas áspera e clara na válvula anterior é de 0,6; no recorte médio da válvula posterior, esta é de 1,4. Muito mais da válvula posterior está em aposição com a válvula anterior durante o fechamento da valva atrioventricular esquerda. Cordas tendíneas da valva atrioventricular esquerda As cordas tendíneas se assemelham às que sustentam a valva atrioventricu- lar direita. As falsas cordas (trabéculas cárneas; Fig. 56.13) também estão irregularmente distribuídas como no ventrículo direito. Elas ocorrem em cerca de 50% de todos os ventrículos esquerdos humanos, e frequente- mente cruzam o fl uxo de saída subaórtico. Muitas contêm extensões dos tecidos de condução ventriculares. Estas faixas do ventrículo esquerdo podem frequentemente ser identifi cadas pela ecocardiografi a em corte transversal. Seu papel, se algum, ainda tem que ser determinado. As verda- deiras cordas da valva atrioventricular esquerda podem ser divididas em cordas intervalvulares (ou comissurais), cordas da zona áspera, incluindo as cordas de suporte especial, as chamadas cordas “fi ssurais” e as cordas basais. A maioria das cordas verdadeiras se divide em ramos a partir de um tronco único após sua origem a partir do terço apical de um músculo papilar, ou prosseguem como cordas únicas que se dividem em vários ramos próximo à sua inserção. As cordas basais, em contraste, são estrutu- ras solitárias que passam da parede ventricular para a válvula posterior. Existem marcantes variações entre o arranjo das cordas em corações normais individuais que qualquer classifi cação detalhada perde grande parte de seu signifi cado clínico. Basta dizer que, na maioria dos corações, as cordas sustentam as bordas livres inteiras das válvulas, juntamente com graus variados de suas faces e bases ventriculares. Existem algumas eviden- cias a sugerir que as valvas com áreas não sustentadas da borda livre se tornam propensas ao prolapso no decorrer da vida. Músculos papilares Os dois músculos que sustentam as válvulas da valva atrioventricular esquerda também variam em comprimento e largura e podem ser bífi dos. O músculo papilar anterior surge a partir do miocárdio mural esternocos- tal e o músculo papilar posterior surge a partir da região diafragmática (Fig. 56.12). As cordas tendíneas surgem principalmente da ponta e do terço apical de cada músculo, mas às vezes elas têm origem próximo à sua base. As cordas derivadas de cada músculo papilar divergem e estão inse- ridas nas áreas correspondentes de fechamento em ambas as válvulas. Abertura da valva atrioventricular esquerda No inicio da diástole, a abertura é passiva – porém, rápida – com as vál- vulas se projetando para dentro do ventrículo à medida que a pressão do átrio esquerdo excede a pressão diastólica do ventrículo esquerdo. O enchimento ventricular passivo prossegue à medida que o sangue atrial verte até o ápice, direcionado pela válvula anterior pendente da valva. As válvulas começam a fl utuar passivamente juntas, pendendo de suas inser- ções anulares, ocluindo parcialmente a entrada ventricular. A sístole atrial ocorre neste momento, injetando o sangue em direção apical e causando a reabertura das válvulas. Conforme o enchimento maximo é alcançado, as válvulas novamente fl utuam rapidamente juntas. O fechamento é seguido pela sístole ventricular, a qual se inicia nos músculos papilares e se continua rapidamente como uma contração geral das paredes e do septo interventricular. A contração coordenada dos músculos papilares aumenta a tensão nas cordas e promove a junção dos pontos correspon- dentes em válvulas opostas, prevenindo sua inversão. Com a excitação e contração mural e septal gerais, a pressão ventricular esquerda aumenta rapidamente (Fig. 56.7). As válvulas, neste momento semelhantes a um “balão”, vão em direção à cavidade atrial e as faces atriais das zonas ásperas entram em contato máximo. A precisa contração papilar e a tensão crescente nas cordas continuam a prevenir a inversão valvular e a manter a competência das válvulas. Os óstios e as válvulas de ambas as valvas atrioventriculares sofrem consideráveis alterações de posição, formato e área durante um ciclo car- díaco. Ambas as valvas se movem anteriormente e para a esquerda durante a sístole, e revertem seu movimento na diástole. A valva atrioventricular esquerda reduz a área de seu óstio (anular) em cerca de 40% na sístole. Seu formato também muda de circular para crescente na altura da sístole, sendo a inserção anular de sua válvula anterior a concavidade do crescente. A inserção de sua válvula posterior, embora permanecendo convexa, se contrai em direção à parede anterior do coração. Valva da aorta O trato de saída do ventrículo esquerdo, ou vestíbulo aórtico, de superfície lisa, termina nas válvulas da valva da aorta. Embora de estrutura mais resistente, a valva da aorta se assemelha à valva do tronco pulmonar (Figs. 56.9, 56.11 e 56.13) pelo fato de possuir três válvulas semilunares, sus- tentadas no interior dos três seios da aorta. Embora a valva da aorta, como a valva do tronco pulmonar, seja frequentemente descrita como possuindo um anel em continuidade com o esqueleto fi broso, não há um completo anel de colágeno sustentando as inserções das válvulas. Como na valva do tronco pulmonar, a anatomia da valva da aorta é dominada pela inser- ção semilunar fi brosa das válvulas (Fig. 56.11C). Válvulas da valva da aorta As válvulas estão inseridas em parte na parede da aorta e em parte nas estruturas ventriculares de suporte. A situação é mais complicada do que na valva do tronco pulmonar, porque partes das válvulas também têm origem a partir da cortina subaórtica fi brosa, e são contínuas com a válvula anterior da valva atrioventricular esquerda (Fig. 56.13). Esta área de con- tinuidade é espessada em suas duas extremidadespara formar os trígonos fi brosos direito e esquerdo (Fig. 56.9). Entretanto, como com a valva do tronco pulmonar, as inserções semilunares incorporam segmentos do tecido ventricular dentro da base de cada seio da aorta. Estes seios e vál- vulas semilunares são convenientemente denominados como direito, esquerdo e posterior, de acordo com as origens das artérias coronárias (Fig. 56.11C). As inserções semilunares também incorporam três áreas triangu- lares (trígonos) da parede da aorta no interior do ápice do trato de saída ventricular esquerdo. Como estas áreas triangulares são parte da parede da aorta em vez de o serem do ventrículo esquerdo, e estão interpostas entre os seios bulbosos da aorta, elas separam a cavidade do ventrículo esquerdo do espaço pericárdico. A remoção dos trígonos em um coração intacto é instrutiva em demonstrar as relações da valva da aorta, a qual pode justamente ser considerada como a pedra fundamental do coração. A base do triângulo entre as válvulas posterior e esquerda é contínua inferiormente com a cortina aórtico-mitral fi brosa. O ápice deste triângulo “aponta” para dentro do espaço pericárdico transverso. O triângulo entre as válvulas direita e posterior apresenta, em sua base, os componentes membranáceos do septo interventricular e assim está “voltado” para o ventrículo direito, enquanto seu ápice “aponta” em direção ao espaço pericárdico transverso atrás da origem da artéria coronária direita. O ter- ceiro triângulo, entre as válvulas direita e esquerda (coronárias), tem sua base sobre o septo ventricular muscular. Seu ápice “aponta” para o plano de espaço encontrado entre a parede da aorta e o manguito de posição livre da musculatura infundibular ventricular direita que sustenta as vál- vulas da valva do tronco pulmonar. Embora as inserções basais de cada válvula sejam espessadas e colagenosas em suas origens ventriculares, não há um esqueleto colagenoso contínuo sustentando, de maneira circular, todas as inserções das válvulas da valva da aorta. A função valvular depende principalmente das inserções das válvulas. As válvulas propriamente ditas são pregas do endocárdio com uma lâmina fi brosa central. Com a valva meio aberta, cada uma se iguala leve- mente em mais de um quarto de uma esfera, sendo um hemisfério apro- ximado completado pelo seio correspondente. Cada válvula tem uma espessa borda basal, profundamente côncava em sua face aórtica, e uma margem livre horizontal. Esta última é apenas ligeiramente espessada, exceto em seu ponto médio, onde existe um agregado de tecido fi broso, o nódulo da válvula semilunar. A lâmina fi brosa que fl anqueia cada nódulo é tênue, formando as lúnulas de tecido valvular translúcido e ocasional- mente fenestrado: as fenestrações não têm signifi cado funcional. A super- fície aórtica de cada válvula é mais áspera que sua face ventricular. Atualmente, três conjuntos de nomes são usados para descrever as válvulas da aorta. Posterior, direita e esquerda se referem às presumíveis posições fetais antes que a completa rotação cardíaca tenha ocorrido (Cap. 59). Os termos correspondentes baseados nas posições aproximadas na maturidade são anterior, posterior esquerda e posterior direita. Entretanto, conforme já indicado, a terminologia clínica difundida une tanto as vál- vulas como os seios às origens das artérias coronárias. Deste modo, a anterior é denominada de válvula coronária direita, a posterior esquerda é a coronária esquerda e a posterior direita é a não coronária: estes termos clínicos são preferíveis, no coração normal, porque eles são simples e inequívocos. Seios da aorta Os seios da aorta são mais proeminentes do que os do tronco pulmonar. O limite superior de cada seio atinge consideravelmente além do nível da borda livre da válvula e forma uma bem-defi nida e completa crista sino- tubular circunferencial vista a partir da face aórtica (Fig. 56.11C). As artérias coronárias usualmente se abrem próximo a esta crista no interior da parte superior do seio, mas são notavelmente variáveis em sua origem. As paredes dos seios são amplamente colagenosas próximo à inserção das válvulas, mas a quantidade de tecido elástico lamelar aumenta com a distância da zona de inserção. Faixas de miocárdio podem entrar nesta parede fi broelástica. No nível médio de cada seio, sua parede tem a metade da espessura da parede aórtica supravalvular e menos de um quarto da espessura da crista sinotubular. Neste nível, o diâmetro luminal médio do inicio da raiz da aorta é quase o dobro do da parte ascendente da aorta. 973 C A P ÍT U L O 5 6 Estes detalhes são funcionalmente signifi cativos no mecanismo do movi- mento valvular. Abertura da valva da aorta Durante a diástole, a valva da aorta fechada suporta uma coluna aórtica de sangue em alta pressão, mas que vai diminuindo lentamente (Fig. 56.7). Cada seio e sua válvula formam uma câmara hemisférica. Os três nódulos estão justapostos e as margens e partes lunulares de válvulas adjacentes estão fi rmemente justapostas em suas faces ventriculares. A partir da face aórtica, a valva fechada é trirradiada, com três pares de lúnulas intimamente comprimidas se irradiando de seus nódulos para suas inserções comissurais periféricas na junção sinotubular (Fig. 56.9). À medida que a pressão sistólica ventricular aumenta, ela excede a pressão aórtica e a valva é passivamente aberta. A parede fi brosa dos seios mais próximos ao vestíbulo da aorta é quase inextensível, mas, nas partes superiores dos seios, a parede é fi broelástica. Sob a pressão de ejeção ventricular esquerda, o raio aqui aumenta em 16% na sístole. Por isso, as comissuras se distanciam, tornando o óstio triangular quando completamente aberto. As margens livres das válvulas em seguida se tornam quase linhas retas entre as inserções periféricas. Todavia, elas não se achatam contra as paredes dos seios, mesmo em máxima pressão sistólica, o que é provavelmente um importante fator em um fechamento subsequente. Durante a ejeção, a maior parte do sangue entra na parte ascendente da aorta, mas algum sangue entra nos seios, formando vér- tices que auxiliam a manter a posição “meio-triangular” da válvula durante a sístole ventricular e provavelmente iniciar sua aproximação com o fi nal da sístole. Ocorre um fi rme e completo fechamento, com a diminuição rápida na pressão ventricular na diástole. As comissuras se estreitam, os nódulos se agregam e a valva reassume seu formato trirra- diado. Experimentos indicam que 4% do sangue ejetado são regurgita- dos através da valva com seios normais, enquanto 23% são regurgitados através de uma valva sem eles. A estrutura normal dos seios da aorta também promove um fl uxo não turbulento para o interior das artérias coronárias. Ecocardiografi a A anatomia macroscópica do coração pode ser avaliada pela ecocardiogra- fi a bidimensional nas posições paraesternal, apical, supraesternal e sub- costal (Fig. 56.14). Os planos padronizados usados são em eixo longo, em eixo curto e em quatro câmaras. A ecocardiografi a permite uma ava- liação detalhada da anatomia funcional do coração. A visão em eixo longo é obtida através da colocação do transdutor de ultrassom na posição apicoesternal esquerda e fornece imagens detalhadas do ventrículo esquerdo, da aorta, do átrio esquerdo e das valvas atrioventricular esquerda e da aorta (Fig. 56.14C). A angulação do feixe em direção à direita também permite a avaliação do átrio direito, do ventrículo direito e da valva atrio- ventricular direita. A rotação do transdutor em 90º em sentido horário produz a visão em eixo curto, a qual permite a avaliação do ventrículo esquerdo, dos músculos papilares, das cordas tendíneas e da valva atrio- ventricular esquerda (Fig. 56.14B). A visão em quatro câmaras demonstra os ventrículos, os átrios e as valvas atrioventricularesquerda e atrioventri- cular direita (Fig. 56.14A). A rotação do transdutor permite as visões em duas câmaras do coração e uma avaliação mais detalhada da aorta e da valva da aorta. A ressonância magnética cardíaca e a tomografi a compu- tadorizada fornecem informações similares sobre a estrutura e função cardíacas (Fig. 56.14D-F), juntamente com informações complementares sobre os grandes vasos e outras estruturas intratorácicas extracardíacas. TECIDO CONJUNTIVO E ESQUELETO FIBROSO DO CORAÇÃO Do epicárdio ao endocárdio, e a partir dos óstios das grandes veias até as raízes dos troncos arteriais, os espaços intercelulares entre elementos con- tráteis e de condução são permeados em todos os lugares por tecido conjuntivo. A quantidade varia grandemente em organização e textura nas diferentes locações. Fig. 56.14 Anatomia cardíaca mostrada através de ecocardiografi a transtorácica e tomografi a computadorizada. A, Vista em quatro câmaras. AE, átrio esquerdo; VE, ventrículo esquerdo; AD, átrio direito; VD, ventrículo direito. B, Vista em eixo curto ao nível da valva da aorta. Observe três válvulas da aorta – D, direita; E, esquerda; e NC, não coronária; e a posição central da aorta; AE, átrio esquerdo; VTP, valva do tronco pulmonar; AD, átrio direito; VD, ventriculo direito; VAD, valva atrioventricular direita. C, Vista em eixo longo paraesternal; VA, valva da aorta; AE, átrio esquerdo; VE, ventrículo esquerdo; VD, ventrículo direito; VAE; valva atrioventricular esquerda. D, E e F, Imagens correspondentes por tomografi a computadorizada. Observe a diferente orientação comparada à ecocardiografi a transtorácica (vista a partir de baixo, dos pés para a cabeça). D, direita; E, esquerda; A, anterior; P, posterior; H, cabeça; F, pés. (Imagens cortesia do Dr Konstantinos Dimopoulos, Royal Brompton and Chelsea and Westminster Hospitals, London.) Coração D E ED VAE VAE CORAÇÃO E GRANDES VASOS 974 S E Ç Ã O 7 Uma delgada camada de tecido conjuntivo frouxo ou areolar é encon- trada abaixo do mesotélio da lâmina visceral do pericárdio seroso sobre grande parte do coração. Este acumula a gordura subepicárdica, a qual se torna concentrada ao longo da margem aguda, dos sulcos atrioventricular e interventricular e seus canais laterais. Os vasos coronários e seus ramos principais estão embebidos nesta gordura; a quantidade aumenta com a idade. O endocárdio também se encontra sobre uma delgada camada de tecido conjuntivo areolar rico em fi bras elásticas. Os componentes fi bro- celulares destas camadas subepicárdica e subendocárdica se fundem em suas faces murais com o tecido conjuntivo endomisial e perimisial no miocárdio. Cada miócito cardíaco é revestido por um delicado endomísio composto por delicadas fi bras reticulares, fi bras colágenas e fi bras do sistema elástico embebidas em substância fundamental. Esta matriz está ausente apenas ao nível dos contatos desmossomais e de junções comu- nicantes (do tipo gap) dos discos intercalares. Arranjos similares se aplicam aos miócitos dos tecidos de condução ventricular e a seus extensos conta- tos com o miocárdio de trabalho. A matriz do tecido conjuntivo em si está interconectada lateralmente para formar feixes, faixas ou lâminas de proporções macroscópicas que apresentam um complexo padrão geomé- trico. Os feixes miocárdicos maiores estão circundados por condensações mais resistentes do perimísio, e inseridas neste último. O padrão geral é descrito em termos de arcabouços e tramas de sustentação. A matriz miocárdica, apesar de sua importância, não pode ser disse- cada anatomicamente. Seguindo na base ventricular, e intimamente rela- cionado às valvas atrioventriculares e ao óstio da aorta, encontra-se um complexo arcabouço de tecido conjuntivo denso rico em colágeno, com extensões membranáceas, tendíneas e fi broareolares. O conjunto é sufi - cientemente distinto para ser denominado de esqueleto fi broso do coração. Embora seja frequentemente dito que todas as quatro valvas estejam contidas dentro deste esqueleto, este não é o caso. As válvulas da valva do tronco pulmonar estão sustentadas em um manguito de posição livre do cone arterial do ventrículo direito, o qual pode ser facilmente removido do coração sem perturbar o esqueleto fi broso ou o ventrículo esquerdo. O esqueleto fi broso é mais resistente na junção das valvas da aorta, atrio- ventricular esquerda e atrioventricular direita, o chamado corpo fi broso central (veja a seguir) (Figs. 56.9 e 56.10). Dois pares de dentes colageno- sos, curvos e afi lados, os fi lamentos coronários, se estendem do corpo fi broso central. Eles são mais fortes à esquerda, passando parcialmente ao redor dosóstios atrioventricular esquerdo e direito, os quais são quase co-planares e se inclinam para se voltar para o ápice do coração. A valva da aorta, em contraste, está voltada para cima, para a direita e ligeiramente para a frente. Ela é anterossuperior e encontra-se à direita do óstio atrio- ventricular esquerdo. Duas das válvulas da valva da aorta estão em conti- nuidade fi brosa com a válvula anterior da valva atrioventricular esquerda; esta cortina subaórtica ou aórtico-mitral também é parte integrante do esqueleto fi broso (Figs. 56.9 e 56.11C). As duas extremidades da cortina são reforçadas como os trígonos fi brosos direito e esquerdo, os quais são a parte mais resistente do esqueleto. O trígono direito, juntamente com o septo membranáceo, constitui o corpo fi broso central, o qual é pene- trado pelo feixe de His, ou feixe atrioventricular, isto é, pelo mecanismo para condução atrioventricular. O septo membranáceo é atravessado em sua face direita pela inserção da valva atrioventricular direita, a qual divide o septo em componentes atrioventricular e interventricular. O esqueleto fi broso tem duas funções. Ele assegura a descontinuidade eletrofi siológica entre as massas miocárdicas atrial e ventricular (exceto no local de penetração do tecido de condução) e também atua como uma base estável, porém deformável, para a inserção dos eixos fi brosos das valvas atrioventriculares. A raiz da aorta é central no interior do esqueleto fi broso e é frequen- temente descrita em termos de um “anel” integrado dentro do esqueleto fi broso. Entretanto, como com a valva do tronco pulmonar, a estrutura da raiz da aorta corresponde às inserções semilunares fi brosas triplas de suas válvulas. No interior desta complexa zona circunferencial existem três áreas triangulares de importância crucial que separam, na face ventricular, os seios bulbosos aórticos, os quais abrigam as válvulas. Como um todo, estes três triângulos podem ser conceitualizados em termos de uma coroa de três pontas e são conhecidas como vãos subaórticos. Seus ápices trian- gulares correspondem às pontas das comissuras valvulares. Suas paredes, as quais são signifi cativamente mais fi nas que as dos seios, consistem de modo variado de colágeno ou faixas musculares misturadas e tecido fi bro- elástico. Eles formam as extensões subvalvulares do vestíbulo da aorta. O intervalo entre os seios não coronário e coronário esquerdo é preenchido com a cortina subaórtica deformável. O vão entre os seios não coronário e coronário direito é contínuo com a superfície anterior do septo mem- branáceo. O terceiro vão subaórtico, entre os dois seios da aorta coroná- rios, é preenchido com tecido fi broelástico, o qual separa a extensão da raiz subaórtica da parede do cone arterial subpulmonar de posição livre. Previamente, esta foi considerada como o local do tendão do infundíbulo. Triângulos fi brosos similares são encontrados separando os seios do tronco pulmonar, mas estes são signifi cativamente menos robustos. Os anéis das valvas atrioventricular esquerda e direita não são estru- turas colagenosas simples e rígidas, mas linhas dinâmicas e deformáveisde inserção valvular que variam grandemente em diferentes pontos peri- féricos e mudam consideravelmente a cada fase do ciclo cardíaco e com o avançar da idade. As inserções tricúspides são de fato menos robustas que as da valva atrioventricular esquerda. Em vários locais, apenas um tecido fi broareolar separa as massas musculares atrial e ventricular. MALFORMAÇÕES CARDÍACAS CONGÊNITAS As malformações congênitas do coração são comuns, chegando a cerca de um quarto de todas as anormalidades do desenvolvimento. Sua incidência é estimada em oito a cada 1.000 nascidos vivos, mas elas são encontradas em até 2% dos natimortos. Apenas uma pequena proporção das anoma- lias é diretamente atribuível a fatores genéticos ou ambientais; a maioria é o resultado de eventos multifatoriais. Anormalidades da posição cardíaca A mais severa anormalidade de posição é o coração extratorácico, a chamada ectopia cardíaca. O coração usualmente se projeta para a super- fície através das paredes torácica inferior e abdominal superior, permane- cendo coberto, na maioria dos casos, pelo pericárdio fi broso. Existe normalmente uma herniação adicional do conteúdo abdominal. Outra anormalidade da posição cardíaca é a “imagem de espelho”, isto é, a inversão no formato e na posição do coração: o coração encontra-se pre- dominantemente posicionado no hemitórax direito (dextroposição), com seu ápice direcionado para a direita, em vez de sê-lo para a esquerda (dextrocardia). Este arranjo pode ser parte do situs inversus, onde o coração, os grandes vasos e os órgãos abdominais ocupam posições invertidas, como que refl etidas em um espelho. A dextrocardia pode estar associada à síndrome de Kartagener (um subgrupo de discinesias ciliares). Mais comumente, uma locação anormal do coração ocorre em casos de isome- rismo, nos quais ambos os lados do tórax, incluindo os brônquios prin- cipais e os apêndices atriais, retêm características morfológicas de estruturas do lado esquerdo ou do lado direito. O isomerismo é também comu- mente associado à organização anômala dos órgãos abdominais: o isome- rismo direito é associado à “ausência” do baço (a chamada asplenia) e o isomerismo esquerdo com baços múltiplos (polisesplenia). A anatomia intracardíaca em casos de isomerismo é quase universalmente anormal, e existe uma gama de defeitos cardíacos (os defeitos são normalmente mais simples no isomerismo atrial esquerdo e mais complexos no isomerismo atrial direito). Estes arranjos intratorácicos anormais, com ou sem anor- malidades abdominais, podem primeiro se manifestar propriamente após uma radiografi a torácica “de rotina”. A inversão da anatomia normal tem implicações clinicas óbvias, sendo um típico exemplo um paciente com arranjos de imagem em espelho e apendicite, o qual se apresenta com uma dor aguda no quadrante inferior esquerdo. A maioria das anormalidades cardíacas congênitas pode ser detectada durante o rastreamento pré-natal com ultrassom. Os recém-nascidos com uma severa doença cardíaca congênita podem se apresentar com taquip- neia, difi culdade de se alimentar, cianose e/ou colapso cardiovascular. Pode haver murmúrios à ausculta. A vasta maioria de anormalidades pode ser detectada pela ecocardiografi a pós-natal; em alguns poucos casos, a cateterização cardíaca e as medições diretas de pressão, de saturações de oxigênio e angiografi a podem ser necessárias. Defeitos cardíacos acianóticos Os defeitos cardíacos acianóticos são o resultado do desvio do fl uxo car- díaco esquerdo ou direito através de defeitos cardíacos (intracardíacos ou extracardíacos) ou de obstrução. O desvio para esquerda ou para a direita leva a uma carga de trabalho aumentada e estresse ao coração e aos pulmões como uma consequência do fl uxo sanguíneo pulmonar aumen- tado e, por sua vez, do retorno venoso pulmonar aumentado. Depen- dendo da localização do desvio e da magnitude do desvio para a esquerda ou direita, os pacientes se encontram em risco de desenvolver hipertensão arterial pulmonar, a menos que uma oportuna cirurgia cardíaca seja rea- lizada. Exemplos de defeitos que levam ao desvio para a esquerda ou para a direita são simples defeitos septais, tais como defeitos dos septos inte- ratrial ou interventricular ou um ducto arterial patente, ou defeitos cardí- acos mais complexos, incluindo defeitos septais atrioventriculares e/ou uma combinação de quaisquer destes defeitos com conexões atrioventri- culares ou ventrículo-arteriais anormais (p. ex., um ventrículo direito com dupla saída, onde mais de 50% tanto da aorta como da artéria pulmonar se originam do ventrículo direito) (Cap. 59). Lesões obstrutivas podem envolver as valvas atrioventriculares ou semilunares (estenose das valvas arioventricular esquerda, da aorta ou do tronco pulmonar), ou vasos estreitados (p. ex., coarctação da aorta ou arco da aorta interrompido). Dependendo do nível e da severidade da obstrução, os pacientes podem ter uma variedade de apresentações clínicas, desde um murmúrio cardíaco assintomático (comum) até um colapso cardiovascular (incomum). O tratamento em todos os casos é direcionado para a normalização da carga 975 C A P ÍT U L O 5 6 de trabalho do coração, do fl uxo sanguíneo sistêmico e pulmonar, e do débito cardíaco; pode ser cirúrgico ou baseado em cateterismo. Defeitos cardíacos cianóticos Os defeitos cardíacos cianóticos podem ser atribuídos a um desvio intra- cardíaco ou extracardíaco da direita para a esquerda, ou a uma severa redução no fl uxo sanguíneo pulmonar. Eles podem ser causados por lesões simples, tais como uma estenose pulmonar severa com um defeito do septo interatrial e desvio da direita para a esquerda; lesões moderadas incluem a tetralogia de Fallot, na qual existe um defeito do septo inter- ventricular, obstrução ao fl uxo de saída do ventrículo direito, hipertrofi a do ventrículo direito e uma aorta cavalgante; ou lesões mais complexas que incluem a transposição das grandes artérias (Fig. 56.15A e B) e atresias da valva atrioventricular direita e do tronco pulmonar (frequentemente no contexto de um ventrículo direito hipoplásico e da fi siologia ventricu- lar “única”). Recém-nascidos com defeitos cardíacos congênitos cianóticos severos podem ser dependentes da patência do ducto arterial: o diagnós- tico precoce, o tratamento com infusão intravenosa prostaglandina e a transferência oportuna para um centro terceirizado para uma terapia mais defi nitiva são fundamentais para a sobrevivência e bons resultados a longo prazo. Recentemente, os principais avanços no diagnóstico e tratamento de bebês com malformações cardíacas congênitas têm resultado em um número aumentado de adolescentes e adultos com doença cardíaca con- gênita contornada de modo paliativo ou reparada, mas não curada. Esta é uma área que se apresenta com múltiplos desafi os para disciplinas car- diovasculares e outras disciplinas médicas. TECIDO DE CONDUÇÃO As células do tecido muscular estriado cardíaco diferem daquelas do tecido muscular estriado esquelético por apresentar a capacidade inerente de se contrair e relaxar espontaneamente. Este ritmo miogênico é mos- trado por pequenas áreas do tecido cardíaco, e até mesmo por miócitos isolados. O mecanismo responsável parece estar baseado em uma espe- cialização adicional do sarcolema que permite um lento infl uxo de íons sódio. As células ventriculares se contraem e relaxam em uma frequência mais baixa do que as células atriais, mas no coração intacto ambas estão sincronizadas em um ritmo mais rápido, gerado pelo tecido marca-passo e veiculado a elas por um sistema de fi bras especializadas para condução. A organização anatômica destes tecidos é descrita no contexto do coração. Aqui, as considerações são restritas às células que constituem o sistema de geração e condução de impulsos. Todas sãocélulas cardíacas modifi cadas. Três tipos podem ser distinguidos morfologicamente das células cardíacas de trabalho normais: células P (= de coloração pálida, ou primitivas, ou marca-passo [pacemaker]); células de transição; e as fi bras de Purkinje. Embora estes termos sejam utilizados na descrição a seguir, é impor- tante reconhecer que existe uma continuidade de morfologia entre as células P, as células de transição, as fi bras de Purkinje e as células muscu- lares cardíacas de trabalho. Visão geral do sistema de condução De todas as células do coração, as do nó sinoatrial geram o ritmo mais rápido e, consequentemente, atuam como o marca-passo do coração. O impulso, considerado como gerado nas células P, é transmitido preferen- cialmente através de vias condutoras para os átrios direito e esquerdo e para o nó atrioventricular. No nó atrioventricular, o impulso é retardado por 40 ms. Este retardo permite que os átrios ejetem seu conteúdo com- pletamente antes que a contração dos ventrículos se inicie. Ele também coloca um limite superior na frequência de sinais que podem ser trans- mitidos aos ventrículos. Células de transição, mais delicadas e de morfo- logia mais próxima às células cardíacas normais, se estendem do nó atrioventricular para o tronco e os principais ramos do feixe atrioventri- cular (ou feixe de His). Aqui, elas se tornam contínuas com células de aparência mais distinta, as fi bras de Purkinje. A condução do impulso é rápida no feixe e em seus ramos (2-3 metros por segundo, em oposição a 0,6 metros por segundo no miocárdio normal). Portanto, o impulso cardíaco chega ao ápice do coração antes de se propagar através das paredes ventriculares, produzindo uma ejeção ventricular apropriada- mente coordenada. O coração humano bate incessantemente a 70 ciclos a cada minuto por muitas décadas, mantendo a perfusão dos tecidos pulmonar e sistê- micos. A frequência e o volume de batimentos variam em resposta às demandas fi siológicas prevalentes. A Figura 56.7 resume os principais eventos em um ciclo cardíaco, incluindo o seguinte: os eventos elétricos registrados no eletrocardiograma; as sequências mecânicas da diástole, sístole atrial, contração isovolumétrica, ejeção e relaxamento isovolumé- trico na sístole ventricular; os fenômenos acústicos registrados no fono- cardiograma; os perfi s de pressão dos corações direito e esquerdo e dos troncos arteriais: as sequências dos eventos valvulares. A efi ciência cardíaca depende da precisa cronometragem da operação em estruturas interdepen- dentes. O enchimento diastólico passivo dos átrios e ventrículos é seguido pela sístole atrial, estimulado pela descarga advinda do nodo sinoatrial, a qual completa o enchimento ventricular. A excitação e contração dos átrios devem ser sincronizadas e terminar antes da contração ventricular. Isto é efetuado por um retardo na condução de excitação a partir dos átrios para os ventrículos. Consequentemente, a contração ventricular prossegue de uma maneira precisa. Um sistema de condução ventricular especializada garante que o fechamento das valvas atrioventriculares seja seguido rapi- damente por uma onda de excitação e contração, a qual se propaga dos ápices ventriculares em direção aos tratos de saída e óstios, acelerando rapidamente o sangue durante a ejeção. A contração cardíaca se origina inequivocamente em miócitos espe- cializados, mas infl uências neurais são importantes na adaptação do ritmo cardíaco intrínseco a demandas funcionais advindas do corpo inteiro. Todos os miócitos cardíacos são excitáveis, e apresentam uma despolari- zação e repolarização rítmicas autônomas da membrana plasmática, ondas de condução de excitação através de junções comunicantes (do tipo gap) para miócitos adjacentes, e acoplamento de excitação-contração em seus complexos de actina e miosina. Estas propriedades são desenvolvidas em diferentes graus, em diferentes locais e em diferentes tipos de miócitos (Cap. 6). O índice de despolarização e repolarização é mais lento no Fig. 56.15 A, Angiografi a cardíaca por ressonância magnética em um paciente com um coração normal. Observe a relação cruzada das grandes artérias; a aorta surge a partir do ventrículo esquerdo e segue para a direita e posteriormente ao tronco pulmonar (em sua origem) e em direção à cabeça. O tronco pulmonar surge a partir do ventrículo direito, em posição anterior, cruza por sobre a aorta, e em seguida segue à esquerda desta e em direção dorsal (onde ela se bifurca nas artérias pulmonares direita e esquerda na face inferior do arco da aorta). B, Angiograma cardíaco por ressonância magnética de um paciente com transposição das grandes artérias. Observe a relação paralela ou lado a lado dos grandes vasos e a perda de sua relação cruzada normal. A aorta segue anteriormente e advém do ventrículo direito. O ventrículo direito, hipertrófi co, sustenta a circulação sistêmica, e o septo interventricular se curva da direita para a esquerda. Ao, aorta; TP, tronco pulmonar; VD, ventrículo direito; VE, ventrículo esquerdo. (Cortesia de Dr Philip Kilner, Royal Brompton Hospital, London.) Coração TP TP VE VE VD VD CORAÇÃO E GRANDES VASOS 976 S E Ç Ã O 7 miocárdio ventricular, intermediário do músculo atrial e mais rápido nos miócitos do nó sinoatrial. Estes últimos anulam os que geram ritmos mais lentos e, no coração normal, são o local para a iniciação rítmica dos ciclos cardíacos. De modo inverso, a velocidade de condução é lenta nos mió- citos nodais, intermediária nos miócitos cardíacos gerais “de trabalho” e mais rápida nos miócitos do sistema de condução ventricular. Os nós e redes das chamadas células miocárdicas especializadas cons- tituem o sistema de condução cardíaca (Figs. 56.4A, 56.16A e B e 56.17). Os componentes deste sistema são os nós sinoatrial e atrioventricular, o feixe atrioventricular com ramos esquerdo e direito, e o plexo subendo- cárdico de células de condição ventricular (fi bras de Purkinje). Dentro do sistema, o principal ritmo marca-passo do coração é gerado (no nó sino- atrial), é infl uenciado por nervos (nó sinoatrial e sua inervação) e é transmitido especifi camente dos átrios aos ventrículos (nó e feixe atrio- ventriculares) e, dentro dos ventrículos, a toda a sua musculatura. A pro- pagação da excitação é muito rápida, mas não instantânea. Diferentes partes dos ventrículos são excitadas em tempos ligeiramente diferentes, com importantes consequências funcionais. A falha do sistema de condu- ção não bloqueará a condução cardíaca, mas o sistema se tornará mal coordenado ou descoordenado. O ritmo será mais lento porque ele se origina a partir de uma atividade espontânea (miogênica) nos miócitos cardíacos de trabalho ou em um marca-passo subsidiário em uma parte distal do sistema de condução doente ou interrompido. Não há vias de condução internodais ou interatriais especializadas. A excitação que emana do nó sinoatrial se espalha para a musculatura atrial e para o nó atrioventricularatravés do miocárdio de trabalho atrial ordi- nário. O arranjo geométrico de fi bras ao longo de feixes musculares atriais bem organizados, por exemplo, a crista terminal e as bordas da fossa oval, asseguram que a condução é marginalmente mais rápida do que em qualquer lugar dentro do átrio. Nó sinoatrial O nó sinoatrial é uma estrutura elíptica, de 10-20 mm de comprimento. Ele está localizado na junção entre partes do átrio direito derivadas do seio venoso embrionário e do átrio propriamente dito (Figs. 56.4A e 56.17). O nó é frequentemente coberto por uma placa de gordura sube- picárdica, tornando-o visível em algumas vezes ao olho nu. Ele se estende entre 1 a 2 cm à direita da crista da aurícula direita e segue póstero-infe- riormentepara a parte superior do sulco terminal. Em uma pequena Aurícula direita Valva do tronco pulmonar Toro da aorta Parte membranosa do septo interventricular Radiação do ramo esquerdo do feixe atrioventricular Ramo direito do feixe atrioventricular Nó atrioventricular Músculos papilares Válvula septal da valva atrioventricular direita Trabécula septomarginal Veia cava inferior Seio coronário Valva da veia cava inferior Tendão da válvula da veia cava inferior Fossa oval Nó sinoatrial Veia cava superior Artéria pulmonar direita Aorta A B Aorta Tronco pulmonar Veias pulmonares direitas Valva da aorta Radiação do ramo esquerdo do feixe atrioventricular Veia cava inferior Músculo papilar anterior Cordas tendíneas cortadas da valva atrioventricular esquerda Aurícula esquerda Fig. 56.16 O tecido de condução do coração: A, face direita; B, face esquerda. Os elementos do sistema de condução estão mostrados em púrpura. Observe o tecido de condução que acompanha as delicadas trabéculas cárneas e as falsas cordas tendíneas. Na realidade, a radiação do ramo esquerdo do feixe atrioventricular está diretamente relacionado às válvulas da valva da aorta. 977 C A P ÍT U L O 5 6 proporção de indivíduos, cerca de 1 em 10, ele se estende de modo seme- lhante a uma ferradura através da crista da aurícula. O tecido nodal não ocupa a espessura total da parede atrial direita do epicárdio ao endocárdio em seres humanos, mas, por sua vez, se estabelece como uma cunha de tecido especializado em posição subepicárdica no interior do sulco termi- nal. Sua localização é marcada consistentemente por uma grande artéria, o ramo do nó sinoatrial, o qual é um ramo do ramo a circunfl exo da artéria coronária esquerda ou um ramo descendente posterior da artéria coronária direita. As células nodais estão agrupadas circunferencialmente ao redor desta artéria e entrelaçadas em sua densa adventícia de colágeno. Estas células são agora consideradas as “marca-passos”, embora as impli- cações funcionais desta relação não sejam completamente compreendi- das. Muitas fi bras nervosas estão presentes, embora nenhuma pareça terminar sobre as células. Não existem células ganglionares autônomas no interior do nó, embora muitas se limitem com ele anteriormente ou pos- teriormente. As células P são mais abundantes na região central. Elas são pequenas, de aspecto vazio, de 5-10 µm em seu maior diâmetro, com um grande núcleo central. Sua aparência pálida é atribuída à escassez de organelas: as miofi brilas são poucas e irregularmente organizadas, e não há um sistema sarcotubular propriamente dito e existe pouca quantidade de glicogênio. As células P são menos abundantes na periferia do nó, onde elas se misturam às células de transição, delicadas e fusiformes, as quais são parte de um grupo heterogêneo que é intermediário em aparência entre as células P e as células cardíacas normais de trabalho, e as quais unem as células P a outras células. Nó atrioventricular O nó atrioventricular é uma estrutura atrial que se encontra na raiz de uma extensa árvore de tecido de condução que atinge o ápice dos ventrí- culos, os músculos papilares e outras regiões dos ventrículos (Fig. 56.17). O nó, com suas zonas de transição, está localizado no interior do com- ponente atrial do septo atrioventricular muscular. Seus marcos anatômicos são os limites do trígono do nó sinoatrial (a inserção da válvula septal da valva atrioventricular direita inferiormente, o óstio do seio coronário basalmente e o tendão da válvula da veia cava inferior superiormente) (Fig. 56.4A e B). O nó compacto é uma estrutura em meio oval disposta contra o corpo fi broso central em direção ao ápice deste triângulo. Sua face atrial é convexa e está sobreposta pelo miocárdio atrial. Sua margem esquerda é côncava e se limita com a face superior do corpo fi broso central. Sua extremidade basal se projeta para dentro do músculo atrial e sua extremidade anteroinferior entra no corpo fi broso central para se tornar o feixe atrioventricular penetrante. O nó encontra-se impregnado por um retículo colagenoso irregular que envolve os miócitos, mas este é menos denso que no nó sinoatrial. Seu suprimento arterial é derivado de um vaso característico que se origina da artéria coronária dominante na cruz do coração. O nó apresenta uma zona compacta bem formada, cons- tituída por células nodais entrelaçadas, as quais frequentemente apresen- tam uma estratifi cação. As zonas de células de transição são encontradas superfi cial e posteriormente. O maior componente do retardo atrioventri- cular é provavelmente produzido nestas zonas de transição do nó. As vias de condução internodais convergem no nó atrioventricular. Este é similar em aparência geral ao nó sinoatrial, embora o componente colagenoso seja menos denso. A maioria das células é do tipo de transição, mas as células P que se assemelham às do nó sinoatrial são encontradas em uma região central mais fi brosa. Gânglios autônomos estão presentes entre o nó e o seio coronário. Em ambos os nós sinoatrial e atrioventri- cular, os contatos intercelulares entre as células P, e entre células P e células de transição, são muito menos especializados que os discos intercalares entre células cardíacas normais. Uma escassez de junções comunicantes (do tipo gap) é consistente com a ausência nestas áreas de conexina-43, a qual é um principal componente das junções comunicantes de mamíferos. Isto provavelmente é responsável pela difi culdade observada em excitar estas células a partir de células adjacentes. O retardo atrioventricular pode ser devido muito a esta relativa inexcitabilidade das células P, o que parece perturbar a propagação do potencial em uma maneira que retarde a pro- pagação. O estreito diâmetro das células de transição pode contribuir para o retardo da contração. Feixe atrioventricular O feixe atrioventricular é a continuação direta do nó atrioventricular, que assume um formato oval, quadrangular ou triangular em corte transversal à medida que ele entra no corpo fi broso central (Fig. 56.4A). Atravessando o corpo fi broso, ele se ramifi ca na crista do septo interventricular muscu- lar, fi cando o trato ramifi cado comprimido entre os componentes muscu- lar e membranoso do septo. O ramo direito do feixe é um estreito e discreto grupo arredondado de fascículos que transcorre primeiramente no interior do miocárdio e em seguida em meio ao subendocárdio em direção ao ápice do ventrículo, entrando na trabécula septomarginal para alcançar o músculo papilar anterior. Ele origina poucos ramos para as paredes ventriculares em seu trajeto septal. Na origem do músculo papilar anterior, ele se divide profusamente em delicados fascículos subendocár- dicos que divergem e, primeiramente, envolvem o músculo papilar, e em seguida se recurvam em meio ao subendocárdio para serem distribuídos para as paredes ventriculares restantes. O ramo esquerdo surge como numerosos fascículos delicados e entremeados que saem da margem esquerda do feixe em ramifi cação através de grande parte de seu trajeto ao longo da crista do septo interventricular muscular (Fig. 56.16A e B). Estes fascículos formam uma lâmina achatada ao longo da superfície lisa septal do ventrículo esquerdo. A lâmina diverge apicalmente e em meio ao subendocárdio através da face esquerda do septo ventricular, separando em divisões anterior, septal e posterior. Ramos delicados saem das lâminas, formando redes subendocárdicas, as quais primeiramente circundam os músculos papilares e em seguida se curvam de volta no subendocárdio para serem distribuídos a todas as partes do ventrículo. Os principais ramos do feixe estão isolados do miocárdio circunja- cente por bainhas de tecido conjuntivo. Os contatos funcionaisentre os miócitos de condução ventricular e os miócitos de trabalho se tornam numerosos apenas nas ramifi cações subendocárdicas terminais. Por isso, os músculos papilares se contraem primeiro, seguido de uma onda de excitação e resultando na contração que segue do ápice do ventrículo até o trato de saída arterial. Como a rede de Purkinje é subendocárdica, a excitação muscular prossegue da face endocárdica para a face epicárdica. No coração em desenvolvimento, pode-se mostrar que o feixe responsável pela condução atrioventricular é uma estrutura muito mais extensa. A análise imuno-histoquímica revelou que o precursor do sistema é um anel de células que circunda os componentes de entrada e saída da alça ven- tricular em desenvolvimento (Cap. 59). Este anel se torna modifi cado após a septação dos ventrículos, de modo que ele envolva o óstio atrio- ventricular direito e a saída aórtica do ventrículo esquerdo. Com o cresci- mento subsequente, apenas os componentes septais desta “fi gura em oito” persiste como o trato de condução atrioventricular. No entanto, remanes- centes do anel aórtico podem persistir como um “trato sem saída”. A síndrome de Wolff-Parkinson-White é causada por pequenas faixas anormais de miocárdio ventricular, de outra forma imperceptíveis, os quais conectam as massas miocárdicas atrial e ventricular em algum ponto ao redor das junções atrioventriculares. Histologicamente, elas são faixas de miocárdio de trabalho que seguem através do tecido fi broareolar do sulco coronário. Pacing cardíaco Fios de pacing temporário são usualmente inseridos através de canulação da veia jugular interna ou da veia subclávia. A abordagem da veia subclávia carrega um risco ligeiramente maior de um pneumotórax devido à proxi- midade da cavidade pleural. Outros riscos potenciais são a lesão ao plexo braquial – caso o local de entrada estiver muito posterior – e a lesão ao ducto torácico, caso a veia subclávia esquerda estiver canulada. Com mar- ca-passos permanentes, o local mais comum no qual o aparelho é colo- Nó sinoatrial (marca-passo) Nó atrioventricular (retardo) Feixe atrioventricular e ramos (isolado) VCS AD AE P Q S T Sulco coronário fibroadiposo (separação do miocárdio atrial e ventricular) R Fibras de Purkinje (ativação) Fig. 56.17 A estrutura básica do sistema de condução, e sua relação com o eletrocardiograma. Observe o forame oval permitindo a comunicação entre o átrio direito (AD) e o átrio esquerdo (AE). VCS, veia cava superior. (Reproduzido por cortesia do Professor RH Anderson, Institute of Child Health, University College, London.) Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 978 S E Ç Ã O 7 cado em uma bolsa subcutânea na parede torácica anterior. O acesso ao coração e ao endocárdio do ventrículo direito e do átrio direito é obtido através da veia cefálica, uma vez que ela se situa no sulco deltopeitoral. Estudos de condução cardíaca A eletrocardiografi a e a eletrofi siologia intracardíacas são usadas para avaliar a condução cardíaca e as anormalidades do ritmo cardíaco. Um cateter é inserido através das veias femoral, subclávia ou jugular interna usando uma técnica com fi o-guia. A fl uoroscopia, a ecocardiografi a e mais recentemente a ressonância magnética cardíaca são usadas para guiar uma colocação precisa dos cateteres na posição apropriada. Os locais de estudo são a porção alta do átrio direito (para avaliação do feixe atrioventricular e do ramo direito do feixe) e o seio coronário (para avaliação de arritmias juncionais atrioventriculares e vias acessórias). Os eletrodos multipolares fornecem um mapeamento eletroanatômico detalhado da sequência de excitação a partir dos átrios, da junção atrioventricular e dos ventrículos. A origem de arritmias supraventriculares, taquicardias ventriculares, vias de condução acessórias e vias de reentrada pode ser identifi cada e usada para guiar a ablação por radiofrequência. Anormalidades congênitas de condução A maioria das anormalidades congênitas de condução costumava ter uma base anatômica para sua origem, sendo o produto de vias acessórias ou de uma morfogênese anormal dentro do tecido de condução em algum ponto a partir do nó atrioventricular através do feixe atrioventricular. Entretanto, hoje em dia, as anormalidades de condução de modo cres- cente estão provavelmente relacionadas a problemas hemodinâmicos de longa duração e/ou aos efeitos de uma cirurgia prévia em pacientes com defeitos cardíacos congênitos. Isto refl ete o fato de que, embora a cirurgia para a maioria destes defeitos venha sendo disponibilizada durante as últimas quatro décadas, a cirurgia em si não tem sido curativa e os pacien- tes com muita frequência desenvolvem anormalidades de condução (e arritmias) secundárias a problemas hemodinâmicos (dilatação e/ou hiper- trofi a das câmaras) devido às cicatrizes cirúrgicas. Muito raramente, as anormalidades de condução são causadas por tumores, tais como tumores multifocais de fi bras de Purkinje ou tumores policísticos congênitos benig- nos do nó atrioventricular. SUPRIMENTO SANGUÍNEO E DRENAGEM LINFÁTICA Suprimento arterial coronário As artérias coronárias direita e esquerda surgem da aorta ascendente em seus seios anterior e posterior esquerdo (Figs. 56.8, 56.9, e 56.18A-E). Os níveis dos óstios coronários são variáveis. As duas artérias, conforme indicado pelo seu nome, formam uma coroa invertida oblíqua, na qual um círculo anastomótico no sulco coronário está conectado por alças marginais e interventriculares (descendentes) que se cruzam no ápice do coração (Fig. 56.18A-E). Isto é, obviamente, apenas uma aproximação. O grau de anastomose varia e é usualmente insignifi cante. As principais artérias e ramos principais são normalmente de trajeto subepicárdico, mas aquelas nos sulcos atrioventricular e interventricular estão frequentemente profundamente situadas, e ocasionalmente escondidas pelo miocárdio sobreposto ou integradas neste. O termo “dominante” é usado para se referir à artéria coronária que dá origem ao ramo interventricular (descendente) posterior, o qual supre a parte posterior do septo interventricular e frequentemente parte da parede posterolateral do ventrículo esquerdo. A artéria dominante é usu- almente a direita (60%). Anastomoses entre as artérias coronárias direita e esquerda são abundantes durante a vida fetal, mas são em grande parte reduzidas ao fi nal do primeiro ano de vida. As anastomoses que fornecem a circulação colateral podem se tornar proeminentes em condições de hipoxia e na doença arterial coronariana. Uma circulação colateral adicio- nal é proporcionada por pequenos ramos derivados de vasos mediastinais, pericárdicos e bronquiais. O calibre das artérias coronárias, tanto os troncos principais como os ramos maiores, baseado em medições de moldes arteriais ou angiogramas, varia entre 1,5 e 5,5 mm para as artérias coronárias em suas origens. A esquerda excede a direita em 60% dos corações, sendo a direita maior em 17%, e ambos os vasos sendo aproximadamente iguais em 23%. Os diâ- metros das artérias coronárias podem aumentar até o 30o ano de vida. Artéria coronária direita A artéria coronária direita surge a partir do seio da aorta anterior (“seio coronário direito”): o óstio encontra-se abaixo da margem das válvulas em 10%. A artéria é normalmente única, mas cerca de quatro artérias coronárias direitas já foram observadas. Ela passa primeiro anteriormente e levemente à direita entre a aurícula direita e o tronco pulmonar, onde o seio normalmente faz uma saliência. Ela atinge o sulco coronário e desce neste sulco quase verticalmente para a margem direita do coração (margem aguda), curvando ao redor desta em direção à parte posterior do sulco, onde este último se aproxima da junção com os sulcos interatriale inter- ventricular, uma região apropriadamente denominada de cruz do coração. A artéria alcança a cruz e termina um pouco para a esquerda desta, fre- quentemente através de uma anastomose com o ramo circunfl exo da artéria coronária esquerda. Em uma minoria de indivíduos, a artéria coro- nária direita termina próximo à margem direita do coração (10%), ou entre esta e a cruz (10%); mais frequentemente (20%) ela alcança a margem esquerda, substituindo parte do ramo circunfl exo. Ramos da artéria coronária direita suprem o átrio direito e o ventrículo e, variavelmente, partes das câmaras esquerdas e do septo atrioventricular. O primeiro ramo (que surge separadamente a partir do seio da aorta anterior em 36% dos indivíduos) é o ramo do cone arterial. Esta é, às vezes, denominada “terceira artéria coronária”; porém, como um vaso similar advém da coronária esquerda, ela é mais corretamente denomi- nada ramo do cone arterial. Ela se ramifi ca anteriormente na parte mais baixa do cone pulmonar e na parte superior do ventrículo direito. Ela pode se anastomosar com um ramo coronário esquerdo similar a partir do ramo interventricular anterior para formar a alça subclávia (ânulo de Vieussens), o qual é um tênue “círculo” anastomótico ao redor do trato de saída do ventrículo direito. O primeiro segmento da artéria coronária direita (entre sua origem e a margem direita do coração) dá origem a ramos atriais e atrioventriculares. Estes vasos divergem amplamente, aproximando-se em ângulo reto no caso dos ramos atrioventriculares, o que contrasta marcantemente com as origens mais agudas dos ramos atrioventriculares esquerdos. Os ramos atrioventriculares anteriores, normalmente dois ou três, se ramifi cam em direção ao ápice do coração, o qual eles raramente alcançam, a menos que o ramo marginal direito esteja incluído neste grupo de ramos, como está segundo alguns autores. O ramo marginal direito é de calibre maior do que as outras artérias atrioventriculares anteriores e é longo o bastante para alcançar o ápice na maioria dos corações (93%). Quando é muito grande, os demais ramos atrioventriculares anteriores podem estar reduzidos a um, ou podem estar ausentes. Até três pequenos ramos atrioventriculares pos- teriores, comumente dois, surgem a partir do segundo segmento da artéria coronária direita entre a margem direita e a cruz do coração, e suprem a face diafragmática do coração. À medida que a coronária direita se apro- xima da cruz do coração, ela normalmente produz de um a três ramos interventriculares (ocasionalmente não há nenhum). Um, o ramo inter- ventricular posterior, se encontra no sulco interventricular. Ele é normal- mente único (70%), e fl anqueado – seja à direita ou à esquerda, ou bilateralmente – por ramos paralelos derivados da artéria coronária direita. Quando esses vasos laterais existem, os ramos do ramo interventricular posterior são pequenos e esparsos. O ramo interventricular posterior é substituído por um ramo coronário esquerdo em 10% dos indivíduos. Embora os ramos atriais da artéria coronária direita sejam às vezes descritos como grupos anterior, lateral (direito ou marginal) e posterior, são usualmente pequenos vasos únicos de 1 mm de diâmetro. Os ramos anterior direito e lateral são ocasionalmente duplos, muito raramente triplos, e suprem principalmente o átrio direito. O ramo posterior é nor- malmente único e supre os átrios direito e esquerdo. A artéria do nó sinoatrial é um ramo atrial, distribuído largamente para o miocárdio de ambos os átrios, principalmente direito. Sua origem é variável: ela advém do ramo circunfl exo da artéria coronária esquerda em 35%. No entanto, mais comumente ela surge a partir de sua parte lateral direita; com menos frequência, surge de sua parte atrioventricular direita, menos ainda de sua parte atrioventricular posterior. Deste modo, esta artéria “nodal” normal- mente passa para trás no sulco entre a aurícula direita e a aorta. Seja qual for a sua origem, ela geralmente se ramifi ca ao redor da base da veia cava superior, tipicamente como uma alça arterial da qual pequenos ramos suprem o átrio direito. Um grande “ramo da crista terminal” atravessa o nó sinoatrial (Fig. 56.18A-C); pareceria mais apropriado denominar este ramo como “artéria nodal”, uma vez que a maior parte do vaso atualmente denominado na verdade supre os átrios e serve como o “principal ramo atrial”. Os ramos interventriculares septais da artéria coronária direita são relativamente curtos e saem do ramo interventricular posterior para suprir a parte posterior do septo interventricular. Eles são numerosos, mas nor- malmente não atingem as partes apicais do septo. A maior artéria septal posterior, usualmente a primeira, comumente surge da alça invertida, a qual se acredita caracterizar a artéria coronária na cruz do coração. Ela supre o nó atrioventricular em 80% dos corações. Pequenos ramos atrioventriculares recorrentes são originados a partir dos ramos ventriculares da artéria coronária direita à medida que eles atravessam o sulco coronário; eles suprem o miocárdio atrial adjacente. Artéria coronária esquerda A artéria coronária esquerda é maior em calibre do que a direita, e supre um grande volume do miocárdio, incluindo quase todo o ventrículo esquerdo e o átrio esquerdo, exceto na chamada “dominância direita”, quando a artéria coronária direita supre parcialmente uma região posterior do ventrículo esquerdo (Fig. 56.18A-C) A artéria coronária esquerda nor- 979 C A P ÍT U L O 5 6 Parte ascendente da aorta Veia cava superior Veias pulmonares direitas Região da cruz do coração Veia cava inferior Artéria coronária direita Ramos interventriculares posteriores Artéria interventricular anterior (terminação) Ramo circunflexa Tronco dos ramos atriais posteriores Veias pulmonares esquerdas Tronco pulmonar Ramos atriais posteriores Arco da aorta Tronco pulmonar Artéria coronária esquerda (tronco principal) Aurícula esquerda Ramo interventricular anterior Ramo circunflexo Ramos atriais esquerdos Ramo do cone arterial Ramo circunflexo Ramo marginal esquerdo Ramo lateral do ramo interventricular anterior (diagonal) Ramos interventriculares septais Ramo marginal direito Ramos interventriculares posteriores Ramo do nó atrioventricular Ramos atrioventriculares anteriores direitas Ramo do cone arterial Seio da aorta anterior Seio da aorta posterior direito Seio da aorta posterior esquerdo Contornos das seguintes estruturas: Artéria coronária direita Ramo do nó sinoatrial Veia cava superior A B D E C Ramo do nó sinoatrial Fig. 56.18 Vistas anteriores do sistema arterial coronariano, com as principais variações. A árvore arterial coronariana direita está mostrada em magenta, e a esquerda e vermelho vivo. Em ambos os casos, a distribuição posterior está mostrada em um sombreado mais pálido. A, O arranjo mais comum. B, Uma variação comum na origem do ramo do nó sinoatrial. C, Um exemplo de “dominância” esquerda pela artéria coronária esquerda, mostrando também uma origem incomum do ramo do nó sinoatrial. Vistas posteroinferiores do sistema arterial coronariano. A árvore arterial coronariana direita está mostrada em magenta, e a esquerda em vermelho vivo. D, Um exemplo da distribuição mais normal na “dominância” direita. E, Uma forma menos comum de “dominância” esquerda. Nestas vistas “posteriores”, a face diafragmática (inferior) da parte ventricular do coração foi artifi cialmente deslocada e resumidamente ignorada, para clarifi car os detalhes da chamada distribuição posterior (inferior) das artérias coronárias. Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 980 S E Ç Ã O 7 malmente supre a maior parte do septo interventricular.Ela surge a partir do seio da aorta posterior esquerdo (seio “coronário” esquerdo); o óstio encontra-se abaixo da margem das válvulas em 15% e pode ser duplo, levando aos principais ramos iniciais, normalmente os ramos circunfl exo e interventricular anterior. Sua porção inicial, entre seu óstio e seus primeiros ramos, varia de comprimento, desde poucos milímetros a alguns centíme- tros. A artéria se encontra entre o tronco pulmonar e a aurícula esquerda, emergindo para o interior do sulco coronário, no qual ela se vira para a esquerda. Esta parte encontra-se frouxamente incorporada na gordura sube- picárdica e geralmente não tem ramos, mas pode dar origem a um pequeno ramo atrial e, raramente, à artéria do nó sinoatrial. Atingindo o sulco coronário, a coronária esquerda se divide em dois ou três ramos principais: o ramo interventricular anterior é comumente descrito como sua continuação. Este ramo desce obliquamente para a frente e para a esquerda no sulco interventricular, às vezes profundamente incorporada ao tecido miocárdico ou cruzada por pontes deste tecido e pela veia cardíaca magna e suas tributárias. Quase invariavelmente, ela atinge o ápice. Ela termina aqui em um terço dos espécimes, entretanto mais frequentemente ela gira ao redor do ápice para o interior do sulco interventricular posterior e passa em um terço a uma metade do trajeto ao longo de seu comprimento, onde ela encontra as ramifi cações termi- nais dos ramos interventriculares posteriores da artéria coronária direita. O ramo interventricular anterior produz ramos ventriculares anterio- res direitos e esquerdos e ramos interventriculares septais anteriores, e um variável número de ramos posteriores correspondentes. Os ramos ventri- culares anteriores direitos são pequenos e raramente estão em número maior que um ou dois; o ventrículo direito é suprido quase totalmente pela artéria coronária direita. Cerca de duas a nove grandes artérias ventriculares anteriores esquer- das se ramifi cam em ângulos agudos a partir do ramo interventricular anterior e cruzam a face anterior do ventrículo esquerdo diagonalmente; terminais maiores alcançam a margem esquerda arredondada (obtusa). Um é frequentemente grande e pode surgir separadamente a partir do tronco coronário esquerdo, o qual em seguida termina por trifurcação. Este ramo lateral do ramo interventricular anterior (diagonal), relatada em 33-50% ou mais de indivíduos, está às vezes duplicada (20%). Um pequeno ramo do cone arterial esquerdo frequentemente sai do ramo interventricular anterior próximo à sua origem e se anastomosa no cone arterial com sua equivalente derivada da artéria coronária direita e com os vasa vasora da artéria pulmonar e da aorta. Os ramos septais anteriores saem do ramo interventricular anterior quase perpendicularmente e passam para trás e para baixo no septo interventricular, usualmente suprindo seus dois terços ventrais. Pequenos ramos septais posteriores derivados da mesma fonte suprem o terço posterior do septo interventri- cular por uma variável distância a partir do ápice do coração. O ramo circunfl exo, comparável ao ramo interventricular anterior em calibre, se curva para a esquerda no sulco coronário, continuando ao redor da margem esquerda do coração para dentro da parte posterior do sulco e terminando à esquerda da cruz na maioria dos corações, mas às vezes continuando como um ramo interventricular posterior. Proximalmente, a aurícula esquerda usualmente está sobreposta a ela. Em 90%, um grande ramo ventricular, o ramo marginal esquerdo, surge perpendicularmente a partir do ramo circunfl exo e se ramifi ca por sobre a margem esquerda “obtusa” arredondada, suprindo grande parte do ventrículo esquerdo adja- cente, usualmente para o ápice. Ramos anteriores e posteriores menores do ramo circunfl exo também suprem o ventrículo esquerdo. Ramos ventricu- lares anteriores (de um a cinco, comumente dois ou três) seguem parale- lamente ao ramo lateral do ramo interventricular anterior (diagonal), quando ela está presente, e a substituem quando ela está ausente. Ramos ventriculares posteriores são menores e em pequena quantidade; o ventrí- culo esquerdo é parcialmente suprido pelo ramo interventricular posterior. Quando esta é pequena ou ausente, ela é acompanhada ou substituída por uma continuação interventricular do ramo circunfl exo, o qual é frequente- mente dupla ou tripla. O ramo circunfl exo pode suprir o átrio esquerdo através de ramos atriais anteriores, laterais e posteriores. O ramo circunfl exo apresenta ramos inconstantes. O ramo do nó sinoatrial (35%) é usualmente derivado do segmento circunfl exo anterior, menos frequentemente a partir da circum-marginal. Ela passa sobre o átrio esquerdo e o supre, envolvendo a veia cava superior como um ramo nodal coronário direito. Ela envia um grande ramo para o nó (e através dele), mas é predominantemente de distribuição atrial. A artéria para o nó atrioventricular, o ramo terminal em 20%, surge próximo à cruz, em cujo caso o ramo circunfl exo supre usualmente o ramo interventricular poste- rior, um exemplo da chamada “dominância esquerda”. A artéria anasto- mótica de Kugel (“artéria anastomótica auricular magna”) foi descrita como um ramo circunfl exo constante, normalmente a partir de sua parte anterior, a qual atravessa o septo interatrial (próximo à sua margem ven- tricular) para estabelecer uma anastomose direta ou indireta coma coro- nária direita; sua existência tem sido questionada. Distribuição coronária Os detalhes da distribuição coronária requerem a integração em um con- ceito de suprimento cardíaco total. Mais comumente, a artéria coronária direita supre todo o ventrículo direito (exceto uma pequena região à direita do sulco interventricular anterior); uma parte variável da face dia- fragmática do ventrículo esquerdo; o terço posteroinferior do septo inter- ventricular; o átrio direito e parte do átrio esquerdo; o sistema de condução até as partes proximais dos ramos direito e esquerdo do feixe atrioventri- cular. A distribuição coronária esquerda é recíproca e inclui a maior parte do ventrículo esquerdo; uma estreita faixa do ventrículo direito; os dois terços anteriores do septo interventricular; a maior parte do átrio esquerdo. Conforme observado anteriormente (Fig. 56.18A-E), variações no sistema arterial coronária afetam principalmente a face diafragmática dos ventrí- culos e refl ete a relativa “dominância” de suprimento pela artéria coroná- ria direita ou esquerda. O termo é confuso, porque a artéria esquerda quase sempre supre um volume maior de tecido do que a direita. Na “dominância direita”, o ramo interventricular posterior é derivado da artéria coronária direita; na “dominância esquerda”, ele é derivado da artéria coronária esquerda. No chamado padrão “equilibrado”, ramos de ambas as artérias seguem no interior do sulco interventricular posterior ou próximo a ele. Sabe-se pouco sobre as variações no suprimento atrial porque os pequenos vasos envolvidos não são facilmente preservados nos moldes de corrosão que são usados para análise. Em mais de 50% dos indivíduos, o átrio direito é suprido apenas pela artéria coronária direita, e no restante o suprimento é duplo. Mais de 62% dos átrios esquerdos são supridos principalmente pela artéria coronária esquerda, 27% pela artéria coronária direita (em cada grupo existe um pequeno suprimento acessório derivado da outra artéria coronária) e 11% são supridos quase igualmente por ambas as artérias. Os suprimentos sinoatrial e atrioventricular também variam. O nó sinoatrial é suprido pelas artérias coronárias direita (51-65%) ou esquerda (35-45%), e menos de 10% dos nós recebem um suprimento bilateral. O nó atrioventricular é suprido pelas artérias coronárias direita (80-90%) ou esquerda (10-20%). Anastomose coronária Anastomosesentre ramos das artérias coronárias, tanto subepicárdicas como miocárdicas, e entre estas artérias e vasos extracardíacos, são de importância medica capital. A experiência clínica sugere que as anastomo- ses não possam fornecer rapidamente as rotas colaterais sufi cientes para evitar a súbita obstrução coronária, e a circulação coronária é admitida como sendo arterial terminal. Não obstante, há muito tempo se estabele- ceu que as anastomoses ocorrem de fato, particularmente entre delicados ramos subepicárdicos, e que eles podem aumentar durante a vida do indivíduo. A análise de radiografi as coronárias e moldes de corrosão em resina, e os resultados de estudos com perfusão radiopaca têm revelado anastomoses intracoronárias e intercoronárias em vasos de até 100-200 µm de calibre. Os locais mais frequentes de anastomoses extramurais são o ápice, a face anterior do ventrículo direito, a cruz do coração, os sulcos interatrial e interventricular, e entre o nó sinoatrial e outros vasos atriais. O valor funcional de tais anastomoses pode variar, mas elas parecem se tornar mais efi cazes em condições patológicas lentamente progressivas. Sua estrutura é incerta: a maior parte das observações que têm sido feitas em moldes de corrosão sugere que os vasos anastomóticos são relativa- mente retos em corações normais, mas grandemente enovelados em cora- ções que foram submetidos a uma oclusão coronária. Pouco tem sido registrado sobre sua estrutura microscópica; elas parecem um pouco mais do que tubos endoteliais, sem musculatura ou componentes do sistema elástico. As anastomoses extracardíacas podem conectar vários ramos coroná- rios com outros vasos torácicos através das artérias pericárdicas e dos vasa vasora arteriais de vasos os quais unem o coração às circulações sistêmica e pulmonar. A efi cácia destas conexões como rotas colaterais na oclusão coronária é imprevisível. As anastomoses arteriovenosas coronárias e numerosas conexões entre a circulação coronária e as cavidades cardíacas, que produzem os chama- dos “sinusoides miocárdicos” e vasos “arterioluminais”, foram relatadas; sua importância na doença coronariana é incerta. Doença arterial coronariana A aterosclerose é caracterizada pela deposição de lipídios e pelo acúmulo de macrófagos na túnica íntima. A disfunção endotelial leva ao recruta- mento de células infl amatórias para a parede vascular e à liberação de várias citocinas e moléculas de adesão, as quais propagam o processo de aterosclerose. O acúmulo de lipídios e a proliferação do tecido muscular liso levam à formação de uma placa ateromatosa. A formação da placa em si pode causar estenose das artérias coronárias e reduz o fl uxo sanguí- neo coronário (classicamente durante exercício). As placas são também suscetíveis à ruptura com a concomitante formação de um trombo, o que leva a uma oclusão aguda de uma das artérias coronárias e pode causar infarto do miocárdio. As placas podem se romper como o resultado de fadiga no interior da capa fi brosa, mas também são mais vulneráveis quando o conteúdo lipídico é maior que 40% da composição da placa. A erosão superfi cial da placa pode também promover uma critica formação de trombos. 981 C A P ÍT U L O 5 6 A avaliação da doença arterial coronariana é possível por meio de um número de técnicas radiológicas, incluindo RM, tomografi a de emissão de pósitrons (PET), cintilografi a e ultrassom, e invasivamente por angiografi a coronária (a qual mostra a anatomia e delineia as regiões de estenose). Angiografi a coronária A angiografi a coronária pode ser realizada pela introdução de um cateter através das artérias femoral, radial ou braquial. A artéria femoral é pun- cionada com uma agulha 3 cm abaixo do ligamento inguinal, enquanto a perna é mantida aduzida e ligeiramente rodada externamente. A posição exata é guiada por palpação do pulso da artéria femoral, e a agulha é inserida em um ângulo de 45º. Após a punção arterial, um delicado fi o- guia é inserido através da agulha e introduzido na artéria. O cateter é, em seguida, inserido sobre o fi o-guia e manipulado através da artéria ilíaca para dentro da aorta, acima do arco da aorta e localizado na aorta ascen- dente. A artéria braquial ou a artéria radial pode ser usada para o acesso percutâneo à circulação. Uma vez que o cateter esteja localizado na aorta ascendente, uma variedade de fi os-guia (de ponta reta, cateteres curvos para a esquerda ou para a direita e cateteres pigtail) são usados para entrar nos vasos coronários para uma arteriografi a seletiva e intervenções. A angiografi a é realizada com meio de contraste padrão de alta osmolali- dade e com cineangiografi a. Em pacientes selecionados, um meio de contraste de baixa osmolalidade de nova geração também pode ser usado. Todas as artérias coronárias são cateterizadas e avaliadas em uma varie- dade de vistas para obter uma completa avaliação de sua anatomia e para determinar a localização e o grau de quaisquer estenoses. O óstio da artéria coronária esquerda surge do seio esquerdo da aorta e é mais bem visualizado nas direções frontal direta e oblíqua anterior esquerda. A vista oblíqua anterior direita é útil em demonstrar os ramos laterais do ramo interventricular anterior (diagonais) e o ramo interventricular anterior. A artéria coronária direita se origina do seio direito da aorta e é usualmente visualizada nas vistas oblíqua anterior direita e oblíqua anterior esquerda. As saturações de pressão e de oxigênio podem ser medidas pelo cateter. As alterações de pressão através das valvas permitem que o grau de este- nose seja medido. O fl uxo sanguíneo coronário é o relativo fl uxo de reserva também podem ser calculados. Uma estenose signifi cativa pode ser tratada inicialmente por angioplastia com balão, seguida pela inserção de stents. O balão exerce pressão contra a placa na parede arterial, e fratura e parte a placa. O efeito obstrutivo da placa e o recolhimento elástico são reduzidos, resultando em um aumento do lúmen arterial. A inserção de um stent reduz o índice de uma re-estenose. Revascularização coronária A aterosclerose, a qual causa mais de 60% das estenoses do diâmetro terminal das artérias coronárias, é passível de causar uma signifi cativa redução na perfusão miocárdica. Pacientes com lesões de alto grau, ou com doença em tronco arterial coronário esquerdo, ou com doença em triplos vasos com função ventricular esquerda danifi cada, são normal- mente considerados para o enxerto de desvio arterial coronariano. Os enxertos comuns que são usados são as veias safenas e as artérias torácicas internas. Outros enxertos ocasionalmente usados são as artérias radial, ulnar, gastroepiploica e epigástrica inferior. Os enxertos de artéria torácica interna esquerda apresentam um índice de patência maior do que os enxertos de veias safenas. Aproximadamente 15% dos enxertos de veia safena ocluem em 1 ano, e daí em diante em uma taxa anual de 1-2% nos primeiros 6 anos e, depois disso, em 4%; 40-50% dos enxertos de veia safena apresentam oclusão em 10 anos. Em contraste, apenas cerca de 10% dos enxertos de artéria torácica interna esquerda terão ocluído em 10 anos. A abordagem cirúrgica comum é através de uma esternotomia da linha mediana. Se a artéria torácica interna for usada como um enxerto do doador, ela é dividida distalmente (mantendo sua origem proximal a partir da artéria subclávia) e anastomosada à artéria coronária distalmente à estenose. Se enxertos de veia safena forem usados, eles devem ser anas- tomosados tanto proximalmente como distalmente à artéria coronária, para fazer uma ponte no local da estenose. Em casos selecionados, realiza-se um enxerto para desvio de artéria coronária direto minimamente invasivo, mas a abordagem é dependente do vaso a ser enxertado. A abordagem anterior é atravésde uma mini-to- racotomia sobre o quarto espaço intercostal, abaixo da papila mamária, para o enxerto nos ramos interventriculares anteriores médio-esquerdos e laterais do ramo interventricular anterior (diagonais). A abordagem ante- rolateral é através de uma incisão no terceiro espaço intercostal a partir da linha medioclavicular até a linha axilar anterior, e é usada para o enxerto em ramos marginais iniciais do sistema circunfl exo. A abordagem lateral permite o enxerto de vasos circunfl exos através de uma toracotomia lateral medindo apenas 10 cm de tamanho através do quinto ou sexto espaço intercostal. Abordagens extratorácicas que sejam ocasionalmente usadas incluem a abordagem subxifóide para a artéria coronária direita distal e a artéria interventricular posterior. A cirurgia pelo sistema port-access (circu- lação extracorpórea) permite a completa revascularização com desvio car- diopulmonar, mas elimina a necessidade de uma esternotomia mediana. Veias cardíacas O coração é drenado pelo seio coronário e suas tributárias, pelas veias anteriores do ventrículo direito e pelas veias cardíacas mínimas. O seio coronário e suas tributárias devolvem o sangue ao átrio direito derivado de todo o coração (incluindo seus septos), exceto para a região anterior do ventrículo direito e pequenas partes variáveis de ambos os átrios e do ventrículo esquerdo. As veias anteriores do ventrículo direito drenam uma região anterior do ventrículo direito e, quando a veia marginal direita se une a este grupo, uma região ao redor da margem direita do coração, e terminam principalmente no átrio direito. As veias cardíacas mínimas (veias de Tebésio) se abrem no átrio direito e no ventrículo direito e, em um grau menor, no átrio esquerdo e às vezes no ventrículo esquerdo. Variação nas veias cardíacas Tentativas de categorizar as variações na circulação venosa cardíaca em “tipos” não produziram qualquer padrão aceitável. Existem variações principais a respeito das direções gerais de drenagem. O seio coronário pode receber todas as veias cardíacas (exceto as veias cardíacas mínimas), incluindo as veias anteriores do ventrículo direito (33%), o que pode ser reduzido pelo desvio de algumas veias para as veias cardíacas mínimas, e em seguida para o seio coronário (28%). O restante (39%) representa o padrão “normal”, como descrito acima. Seio coronário A grande maioria das veias cardíacas drena para o amplo seio coronário, com 2 a 3 cm de comprimento, disposto no sulco coronário posterior- mente entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo (Figs. 56.2B e D. 56.19). O seio se abre no átrio direito entre a abertura da veia cava inferior e o óstio atrioventricular direito; a abertura é guardada por uma prega endocárdica (valvula semilunar do seio coronário; Fig. 56.4A). Suas tribu- tárias são as veias cardíaca magna, a veia cardíaca parva e a veia interven- tricular posterior, a veia posterior do ventrículo esquerdo e a veia oblíqua do átrio esquerdo; todas, exceto a última, apresentam valvas em seus óstios. Veia cardíaca magna A veia cardíaca magna se inicia no ápice do coração, ascende no sulco interventricular anterior até o sulco coronário, e segue por este, passando para a esquerda e posteriormente para entrar no seio coronário em sua origem (Fig. 56.19). Ela recebe tributárias advin- das do átrio esquerdo e de ambos os ventrículos, incluindo a grande veia marginal esquerda que ascende pela face pulmonar esquerda (margem obtusa) do coração. Veia cardíaca parva A veia cardíaca parva se encontra no sulco coro- nário posteriormente entre o átrio direito e o ventrículo direito, e se abre no seio coronário próximo à sua extremidade atrial (Fig. 56.19). Ela recebe sangue da parte posterior do átrio direito e do ventrículo direito. A veia marginal direita passa direto, ao longo da margem inferior do coração (margem aguda). Ela pode se unir à veia cardíaca parva no sulco coroná- rio, mas mais frequentemente se abre diretamente no átrio direito. Veia interventricular posterior A veia interventricular posterior (Fig. 56.19) começa no ápice do coração, e segue para trás no sulco inter- ventricular posterior, para terminar no seio coronário próximo à sua extre- midade atrial. Veia posterior do ventrículo esquerdo A veia posterior do ven- trículo esquerdo (Fig. 56.19) é encontrada na face diafragmática do ven- trículo esquerdo um pouco à esquerda da veia interventricular posterior. Ela geralmente se abre no centro do seio coronário, mas às vezes se abre na veia cardíaca magna. Veia oblíqua do átrio esquerdo A pequena veia que é a veia oblíqua do átrio esquerdo (Fig. 56.19) desce obliquamente na parte pos- terior do átrio esquerdo para se unir ao seio coronário próximo ao seu fi m. Ela é contínua acima com o ligamento da veia cava esquerda. As duas estruturas são resquícios da veia cardinal comum esquerda. Veias anteriores do ventrículo direito As veias anteriores do ventrículo direito drenam a parte anterior do ven- trículo direito (Figs. 56.2A e C e 56.8). Geralmente em número de duas ou três, às vezes até mesmo cinco, elas ascendem no tecido subepicárdico para cruzar a parte direita do sulco coronário, passando abaixo ou super- fi cialmente à artéria coronária direita. Elas terminam no átrio direito, próximo ao sulco, separadamente ou em combinações variáveis. Um canal coletor subendocárdico, no qual todas podem se abrir, tem sido descrito. A veia marginal direita segue ao longo da margem cardíaca inferior (aguda), drenando partes adjacentes do ventrículo direito, e usualmente se abre separadamente no átrio direito. Ela pode se unir às veias cardíacas anteriores ou, menos frequentemente, ao seio coronário. Como ela é comumente independente, ela é frequentemente agrupada com as veias cardíacas mínimas, mas ela tem um calibre maior, sendo comparável às veias anteriores do ventrículo direito ou até mesmo mais ampla. Coração CORAÇÃO E GRANDES VASOS 982 S E Ç Ã O 7 Veias cardíacas mínimas A existência de veias cardíacas mínimas, se abrindo em todas as cavidades cardíacas, tem sido confi rmada, mas elas são mais difíceis de demonstrar que os vasos cardíacos maiores. Seus números e tamanho são altamente variáveis: com até 2 mm de diâmetro, elas se abrem no átrio direito, e com até 0,5 mm no ventrículo direito. Numerosas veias cardíacas mínimas foram identifi cadas no átrio direito e no ventrículo direito, mas elas são raras no átrio esquerdo e no ventrículo esquerdo. Anastomoses venosas cardíacas Existem anastomoses disseminadas em todos os níveis da circulação venosa cardíaca, em uma escala que excede a das artérias e equivalendo a um verdadeiro plexo venoso. Não somente as veias adjacentes estão conec- tadas, mas as conexões também existem entre tributárias do seio coronário e as das veias anteriores do ventrículo direito. Abundantes anastomoses ocorrem no ápice e em suas faces anterior e posterior. Como as artérias coronárias, as veias cardíacas se conectam com vasos extracardíacos, prin- cipalmente com os vasa vasora dos grandes vasos contínuos com o coração. Drenagem linfática do coração Os vasos linfáticos cardíacos formam plexos subendocárdicos, miocárdi- cos e subepicárdicos, sendo que os dois primeiros drenam para o terceiro. Vasos eferentes derivados dos plexos subepicárdicos formam os troncos coletores cardíacos direitos e esquerdos. Dois ou três troncos esquerdos ascendem no sulco interventricular anterior, recebendo vasos de ambos os ventrículos. Em atingindo o sulco coronário, eles são reunidos por um grande vaso derivado da face diafragmática do ventrículo esquerdo, o qual primeiro ascende no sulco interventricular posterior e em seguida se volta para a esquerda ao longo do sulco coronário. O vaso formado por esta união ascende entre a artéria pulmonar e o átrio esquerdo, e usualmentetermina em um linfonodo traqueobronquial inferior. O tronco direito recebe vasos aferentes derivados do átrio direito e da margem direita e da face diafragmática do ventrículo direito. Ele ascende no sulco coronário, próximo à artéria coronária direita, e em seguida anteriormente à parte ascendente da aorta para terminar em um linfonodo braquiocefálico, normalmente à esquerda. INERVAÇÃO A iniciação do ciclo cardíaco é miogênica, originando-se no nó sinoatrial. Ele é harmonizado em frequência, força e rendimento pelos nervos autô- nomos que atuam sobre os tecidos nodais e seus prolongamentos, sobre vasos coronários e sobre a musculatura atrial e ventricular de trabalho. Todos os ramos cardíacos do nervo vago (parassimpático) e todos os ramos simpáticos (exceto ramo cardíaco do gânglio simpático cervical superior) contêm tanto fi bras aferentes como fi bras eferentes; o ramo cardíaco do gânglio simpático cervical superior é inteiramente eferente. As fi bras simpáticas aceleram o coração e dilatam as artérias coronárias quando estimuladas, enquanto fi bras vagais tornam o coração mais lento e causa a constrição das artérias coronárias. Os axônios simpáticos pré-ganglionares cardíacos se originam de neu- rônios na coluna intermédio-lateral dos quatro ou cinco segmentos espi- nais torácicos superiores. Alguns fazem sinapses nos gânglios simpáticos torácicos superiores correspondentes, outros ascendem para fazer sinapses nos gânglios cervicais; fi bras pós-ganglionares derivadas destes gânglios formam os nervos cardíacos simpáticos. Os axônios parassimpáticos pré-ganglionares cardíacos se originam de neurônios no núcleo dorsal vagal ou próximo ao núcleo ambíguo; eles seguem em ramos cardíacos vagais para fazer sinapses nos plexos cardía- cos e nas paredes atriais. Na espécie humana (como na maioria dos mamíferos), os neurônios cardíacos intrínsecos estão limitados aos átrios e ao septo interatrial e são mais numerosos no tecido conjuntivo subepi- cárdico próximo aos nós sinoatrial e atrioventricular. Existem evidências de que estes gânglios intrínsecos não são simples retransmissores nicotí- nicos, mas que podem atuar como locais para integração de estímulos nervosos extrínsecos e formar complexos circuitos para o controle neuro- nal local do coração, e talvez até refl exos locais. Plexo cardíaco Aproximando-se ao coração, os nervos autônomos formam um plexo cardíaco misto, usualmente descrito em termos de um componente super- fi cial inferior ao arco da aorta, disposto entre este e o tronco pulmonar, e uma parte profunda entre o arco da aorta e a bifurcação da traqueia. O plexo cardíaco é também descrito por nomes regionais para suas extensões coronária, pulmonar, atrial e aórtica (Fig. 56.20). Estes plexos contêm células ganglionares. As células ganglionares, confi nadas aos tecidos atriais, e com uma preponderância adjacente ao nó sinoatrial, são também encontradas no coração ao longo da distribuição de ramos do plexo. Seus axônios são considerados como largamente, se não exclusivamente, paras- simpáticos pós-ganglionares. Fibras colinérgicas e adrenérgicas, que surgem do plexo cardíaco ou passam através dele, estão distribuídas mais profusamente para os nós sinoatrial e atrioventricular; o suprimento para o miocárdio atrial e ventricular é muito menos denso. Fibras adrenérgicas suprem as artérias coronárias e as veias cardíacas. Ricos plexos de nervos contendo colinesterase, transmissores adrenérgicos e outros peptídeos, por exemplo, neuropeptídeo Y, são encontrados nas regiões subendocár- dicas de todas as câmaras e nas válvulas das valvas. Parte superfi cial (ventral) do plexo cardíaco A parte superfi cial (ventral) do plexo cardíaco se encontra abaixo do arco da aorta e anterior à artéria pulmonar direita. Ela é formada pelo ramo cardíaco do gânglio simpático cervical superior esquerdo e os mais baixos dos dois ramos cardíacos cervicais do nervo vago. Um pequeno gânglio cardíaco está usualmente presente neste plexo imediatamente abaixo do arco da aorta, à direita do ligamento arterial. Esta parte do plexo cardíaco se conecta com a parte profunda, com o plexo coronário direito, e com o plexo pulmonar anterior esquerdo. Parte profunda (dorsal) do plexo cardíaco A parte profunda (dorsal) do plexo cardíaco encontra-se anterior à bifurcação da traqueia, acima do ponto de divisão do tronco pulmonar e posterior ao arco da aorta. Ela é formada pelos ramos cardíacos dos gânglios simpáticos torá- cicos superiores e cervicais e dos nervos vago e laríngeo recorrente. Os únicos nervos cardíacos que não se unem a essa parte são aqueles que se unem à parte superfi cial do plexo. Ramos derivados da metade direita da parte profunda do plexo cardí- aco passam em frente e atrás da artéria pulmonar direita. Os anteriores a ela, os mais numerosos, fornecem alguns fi letes para o plexo pulmonar anterior direito e continua a formar parte do plexo coronário direito. Aqueles atrás da artéria pulmonar fornecem alguns fi letes para o átrio direito e em seguida continuam para o plexo coronário esquerdo. A metade esquerda da parte profunda do plexo cardíaco está conectada à superfi cial e fornece fi letes para o átrio esquerdo e para o plexo pulmonar anterior esquerdo. Ela forma grande parte do plexo coronário esquerdo. Plexo coronário esquerdo O plexo coronário esquerdo é maior que o direito, e é formado principalmente pelo prolongamento da metade esquerda da parte profunda do plexo cardíaco e por algumas fi bras da metade direita. Ele acompanha a artéria coronária esquerda para suprir o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. Plexo coronário direito O plexo coronário direito é formado pelas partes superfi cial e profunda do plexo cardíaco e acompanha a artéria coronária direita para suprir o átrio direito e o ventrículo direito. Plexos atriais Os plexos atriais são derivados das continuações direita e esquerda do plexo cardíaco ao longo das artérias coronárias. Suas fi bras estão distribuídas para os átrios correspondentes, sobrepondo-se àquelas dos plexos coronários. Aorta Veia cava superior Veias pulmonares direitas Átrio direito Seio coronário Veia cava inferior Veia cardíaca parva Veia marginal direita Veia interventricular posterior Veia posterior do ventrículo esquerdo Veia marginal esquerda Veia cardíaca magna Veia oblíqua do átrio esquerdo Veias pulmonares esquerdas Tronco pulmonar Fig. 56.19 As principais veias do coração. 983 C A P ÍT U L O 5 6 PRINCIPAIS VASOS SANGUÍNEOS Os principais vasos sanguíneos consistem no tronco pulmonar, na parte torácica da aorta e seus ramos, e nas veias cavas superior e inferior e suas tributárias. ARTÉRIAS Tronco pulmonar O tronco pulmonar, ou artéria pulmonar, conduz o sangue desoxigenado do ventrículo direito para os pulmões (Figs. 56.2A e C, 57.8). Com cerca de 5 cm de comprimento e 3 cm de diâmetro, ele é o mais anterior dos vasos cardíacos e se origina a partir da base do ventrículo direito (a partir do anel pulmonar que se encontra por sobre o cone arterial), acima e à esquerda da crista supraventricular. Ele se inclina para cima e para trás, primeiro em frente da parte ascendente da aorta e em seguida para sua esquerda. Abaixo do arco da aorta ele se divide, no nível da quinta vértebra torácica e à esquerda da linha mediana, em artérias pulmonares direita e esquerda de tamanho quase igual. A bifurcação do tronco pulmonar encontra abaixo, em frente e à esquerda da bifurcação da traquéia (a qual está também associada aos linfonodos traqueobronquiais e ao plexo nervoso cardíaco profundo). No feto, no nível da bifurcação, a artéria pulmonar está conectada ao arco da aorta pelo ducto arterial, o qual se encontra na mesma direção que a artéria pulmonar. Relações Aartéria pulmonar encontra-se inteiramente no interior do pericárdio, envolvida com a parte ascendente da aorta em um tubo comum da lâmina visceral do pericárdio seroso. O pericárdio fi broso gradual- mente desaparece no interior da adventícia das artérias pulmonares. Ante- riormente, ela está separada da extremidade esternal do segundo espaço intercostal esquerdo pela pleura, pelo pulmão esquerdo, e pelo pericárdio. Posteriormente encontram-se a parte ascendente da aorta e a artéria coro- nária esquerda inicialmente, e em seguida o átrio esquerdo. A parte ascen- dente da aorta, no fi nal das contas, encontra-se à sua direita. Uma aurícula e uma artéria coronária se encontram a cada lado de sua origem. O plexo cardíaco superfi cial encontra-se entre a bifurcação pulmonar e o arco da aorta. A bifurcação da traqueia, linfonodos e nervos estão acima, bilate- ralmente e à direita. Durante a vida fetal, quando a pressão sanguínea é similar na artéria pulmonar e na aorta, a estrutura dos vasos é similar. Após o nascimento, os pulmões se expandem e as arteríolas pulmonares se dilatam, de modo que a resistência vascular pulmonar diminua, enquanto o fl uxo sanguíneo aumenta. A pressão sistólica na artéria pulmonar consequentemente diminui e isto é acompanhado por uma remodelação estrutural de sua parede. O material do sistema elástico, o qual originalmente tinha uma estrutura lamelar, torna-se agregado em unidades estreladas unidas a muitas células musculares. A quantidade de tecido muscular cresce exten- sivamente após o nascimento e excede aquele encontrado na aorta. A espessura da parede da aorta é cerca de duas vezes a da artéria pulmonar. Artérias pulmonares direita e esquerda As artérias pulmonares estão descritas na página 996. Parte torácica da aorta Parte descendente da aorta A parte descendente da aorta tem tipicamente 5 cm de comprimento e se inicia na base do ventrículo esquerdo, ao nível da borda inferior da terceira cartilagem costal esquerda; ela ascende obliquamente, curvando-se para frente e para a direita, atrás da metade esquerda do esterno, até o nível da borda superior da segunda cartilagem costal esquerda (Figs. 53.2, 56.2A e B, 56.8, 56.18A-C, 57.8). Em sua origem, proximal ao anel da aorta, o perfi l transversal é maior e não é circular por causa de três saliências hemisféricas para fora (seios da aorta), uma posterior (não coronária), uma esquerda e uma direita, as quais correspondem às três válvulas da valva da aorta (veja anteriormente). Distalmente ao anel da aorta, existem três seios da aorta, abaixo dos quais o calibre do vaso é ligeiramente aumentado por uma saliência de sua parede direita. Este bulbo aórtico dá ao vaso um corte transversal oval. Relações A parte descendente da aorta encontra-se no interior do peri- cárdio fi broso, envolvida em um tubo de pericárdio seroso com o tronco pulmonar (Figs. 56.1 e 56.2A e C). Anteriormente à sua parte inferior estão o cone arterial, o segmento inicial do tronco pulmonar e a aurícula direita. Superiormente, ela está separada do esterno pelo pericárdio, pela pleura direita, pela margem anterior do pulmão direito, por tecido conjuntivo frouxo e pelos restos do timo. Posteriormente encontram-se o átrio esquerdo, a artéria pulmonar direita e o brônquio principal direito. Late- ralmente à direita estão a veia cava superior e o átrio direito e, em um nível mais alto, o tronco pulmonar. Pelo menos duas estruturas, os corpos aorticopulmonares (reminiscentes dos quimiorreceptores e barorrecepto- res arteriais caróticos), encontram-se entre a parte ascendente da aorta e o tronco pulmonar. O corpo aorticopulmonar inferior encontra-se Esôfago Arco da aorta Artéria carótida comum esquerda Tronco braquiocefálico Artéria pulmonar esquerda Artéria subclávia esquerda Veia cava superior Tronco simpático esquerdo Terceiro gânglio simpático torácico Nervo vago esquerdo Nervo laríngeo recorrente direito Ramo cardíaco torácico do nervo vago Nervo laríngeo recorrente esquerdo Nervo vago direito Ramo cardíaco torácico do nervo vago Ramos cardíacos (simpáticos) torácicos Ramos cardíacos (simpáticos) torácicos Nervo laríngeo recorrente esquerdo Plexo cardíaco profundo Traqueia Nervo laríngeo recorrente direito Tronco simpático direito Plexo cardíaco superficial Ligamento arterial Fig. 56.20 O plexo cardíaco humano; sua origem a partir das partes cervicais dos nervos vagos e troncos simpáticos e suas extensões, os plexos pulmonar, atrial e coronário. Observe as numerosas junções entre os ramos simpáticos e parassimpáticos (vagais) que formam o plexo. Principais vasos sanguíneos CORAÇÃO E GRANDES VASOS 984 S E Ç Ã O 7 próximo ao coração e anterior à aorta, e o corpo aorticopulmonar médio encontra-se próximo ao lado direito da parte ascendente da aorta. Arco da aorta O arco da aorta continua a partir da parte ascendente da aorta (Figs. 56.1 e 56.2A e C). Sua origem, ligeiramente à direita, está no nível da borda superior da segunda articulação esternocostal direita. O arco primeiro ascende diagonalmente para trás e para a esquerda por sobre a superfície anterior da traqueia, em seguida por trás através de seu lado esquerdo e fi nalmente desce à esquerda do corpo da quarta vértebra torácica, conti- nuando como a parte torácica da parte descendente da aorta. Ele termina ao nível da extremidade esternal da segunda cartilagem costal esquerda. Deste modo, o arco da aorta se encontra totalmente no mediastino supe- rior. Ele se curva ao redor do hilo do pulmão esquerdo, e se estende para cima ao nível médio do manúbrio do esterno. A sombra do arco é facil- mente identifi cada em radiografi as anteroposteriores e seu perfi l esquerdo é, às vezes, denominado de “nó aórtico” (Fig. 55.16). O arco pode também ser visível em vistas oblíquas anteriores esquerda envolvendo um espaço pálido, a “janela aórtica”, na qual sombras do tronco pulmonar e de seu ramo esquerdo podem ser discernidas. Seu diâmetro na origem é o mesmo que na parte ascendente da aorta, 28 mm, mas é reduzido para 20 mm ao fi nal, após a emissão de seus grandes ramos colaterais. Na borda com a parte torácica da aorta, um pequeno estreitamento (istmo aórtico), seguido por uma dilatação, pode ser reconhecido. Na vida fetal, o istmo se encontra entre a origem da artéria subclávia esquerda e a abertura do ducto arterial. Relações Anteriormente e à esquerda do arco da aorta está a pleura mediastinal esquerda. Abaixo da pleura, ele é cruzado em ordem ante- roposterior pelas seguintes estruturas: nervo frênico esquerdo, ramo car- díaco cervical inferior esquerdo do nervo vago, ramo cardíaco cervical superior esquerdo do tronco simpático e do nervo vago esquerdo (Figs. 56.1 e 56.20). À medida que o nervo vago esquerdo cruza o arco, seu ramo laríngeo recorrente se engancha abaixo do vaso à esquerda e atrás do ligamento arterial (sob o ponto de vista do desenvolvimento, caudal- mente a este ligamento), e em seguida ascende à direita do arco. A veia intercostal superior esquerda ascende obliquamente à frente do arco, superfi cialmente ao nervo vago esquerdo, abaixo do nervo frênico esquerdo. O pulmão e a pleura esquerdos separam todas estas estruturas da parede torácica. Posteriormente e à direita encontram-se a traqueia e o plexo cardíaco profundo, o nervo laríngeo recorrente esquerdo, o esôfago, o ducto torácico e a coluna vertebral. Acima, o tronco braquiocefálico, as artérias carótida comum esquerda e subclávia esquerda surgem a partir de sua convexidade, e são cruzadas anteriormente próximo às suas origens pela veia braquiocefálica esquerda. Abaixo estão a bifurcação pulmonar, o brônquio principal esquerdo, o ligamento arterial, o plexo cardíaco superfi ciale o nervo laríngeo recorrente esquerdo. Mais bem visualizada pelo lado esquerdo, a concavidade do arco da aorta é o limite curvo supe- rior através do qual as estruturas ganham acesso ou saem do hilo do pulmão esquerdo. Variações do arco e de seus ramos O ápice do arco está nor- malmente a 2,5 cm abaixo da borda superior do esterno, mas pode diver- gir desta. No bebê, ele está mais próximo à borda superior do esterno; o mesmo é frequente no caso da idade avançada, por causa da dilatação do vaso. Às vezes, a aorta se curva por sobre o hilo do pulmão direito e desce à direita da coluna vertebral. Isto é usualmente acompanhado pela trans- posição das vísceras torácicas e abdominais. Menos frequentemente, após se arquear sobre o hilo direito, ela passa atrás do esôfago para assumir sua posição normal (isto não é acompanhado pela transposição visceral). A aorta pode se dividir em troncos ascendente e descendente, o primeiro se dividindo em três ramos para suprir a cabeça e os membros superiores. Em alguns casos ela se divide próximo à sua origem, sendo os dois ramos logo se reunindo, com o esôfago e a traqueia passando normalmente através do intervalo entre eles. Ramos Três ramos se originam a partir da face convexa do arco: o tronco braquiocefálico, a artéria carótida comum e a artéria subclávia esquerda (Figs. 56.1 e 56.2A-D). Eles podem se ramifi car a partir do início do arco ou da parte superior da parte ascendente da aorta. A distância entre essas origens varia, sendo a mais frequente a aproximação da artéria carótida comum esquerda ao tronco braquiocefálico. Os principais ramos derivados do arco da aorta podem estar reduzidos a um, contudo é mais comum ocorrerem dois. A artéria carótida comum esquerda pode surgir a partir do tronco braquiocefálico (7%). Mais rara- mente, as artérias carótida comum esquerda e subclávia esquerda podem surgir a partir de um tronco braquiocefálico esquerdo, ou as artérias caró- tida comum direita e subclávia direita podem se originar separadamente; neste caso, a última se ramifi ca mais frequentemente a partir da extremi- dade esquerda do arco e passa por trás do esôfago. A artéria vertebral esquerda pode surgir entre as artérias carótida comum esquerda e a sub- clávia esquerda. Muito raramente, as artérias carótidas externa e interna surgem separadamente, sendo a carótida comum ausente em um ou em ambos os lados, ou ambas as carótidas e uma ou ambas as artérias verte- brais podem ser ramos separados. Quando uma “aorta direita” ocorre, a organização de seus três ramos é invertida. As artérias carótidas comuns podem ter um tronco único. Outras artérias podem se ramifi car dele, mais comumente uma ou ambas as artérias bronquiais e a artéria tireóidea ima. Uma análise da variação nos ramos de 1.000 arcos de aorta mostrou o padrão usual em 65%; uma artéria carótida comum esquerda compar- tilhou o tronco braquiocefálico em 27% (contraste com a percentagem citada acima) e as quatro grandes artérias se ramifi caram separadamente em 2,5%. Os demais 5% mostraram uma grande variedade de padrões, sendo o mais comum (1,2%) a presença de troncos braquiocefálicos direito e esquerdo simétricos. Coarctação da aorta O lúmen aórtico é ocasionalmente parcialmente ou completamente obli- terado, seja acima (tipo pré-dutal ou infantil), oposto, ou logo abaixo (tipo pós-natal ou adulto) da entrada do ducto arterial. No tipo pré-dutal, o comprimento da coarctação é variável, a hipoplasia do arco da aorta é comum e a artéria subclávia esquerda e até mesmo o tronco braquiocefá- lico podem estar envolvidas. Formas severas de coarctação infantil e sua forma extrema (interrupção aórtica) podem ser dependentes de um ducto arterial patente, uma vez que não há tempo para se desenvolver uma efetiva circulação colateral. A infusão de prostaglandinas antes da transfe- rência, e a cirurgia em um centro terceirizado, frequentemente fornecem uma perspectiva muito boa de médio a longo prazo para tais bebês. O tipo pós-dutal de coarctação tem sido atribuído à extensão anormal do tecido dutal para dentro da parede aórtica, estenosando ambos os vasos à medida que o ducto se contrai após o nascimento. Esta forma pode permitir anos de vida normal, viabilizando o desenvolvimento de uma extensa circulação colateral para a aorta distalmente à estenose (Fig. 56.21). A alta vascularização da parede torácica é importante e clinica- mente característica; muitas artérias que surgem indiretamente da aorta, proximalmente ao segmento de coarctação, se anastomosam com vasos conectados a ela distalmente ao bloco, e todos esses vasos se tornam grandemente aumentados. Deste modo, na parede torácica anterior, as artérias toracoacromial, torácica lateral e subescapular (derivadas da artéria axilar), a artéria supraescapular (derivada da artéria subclávia), e a primeira e a segunda artérias intercostais posteriores (derivadas do tronco costocervical), se anastomosam com outras artérias intercostal posteriores, e a artéria torácica interna e seus ramos terminais se anastomosam com as artérias intercostais posteriores inferiores e epigástricas inferiores. As artérias intercostais posteriores estão sempre envolvidas, e o aumento de seus ramos posteriores pode fi nalmente formar um sulco (“incisura”) nas margens inferiores das costelas. A sombra radiográfi ca da artéria subclávia esquerda ingurgitada também está aumentada. O aumento dos vasos escapulares e as anastomoses podem levar a uma pulsação interescapular disseminada (facilmente apreciada com a palma da mão, e às vezes ouvida à ausculta). Formação de aneurisma da aorta Um aneurisma (dilatação anormal) pode se formar em qualquer parte da aorta. A degeneração da parede medial da aorta e dissecção da túnica íntima ocorre na maioria dos aneurismas torácicos, afetando particular- mente a parte ascendente da aorta e o arco da aorta. Estes são frequente- mente o resultado de anormalidades do tecido conjuntivo, tais como ocorre na síndrome de Marfan, homocistenúria e síndrome de Ehlers- Fig. 56.21 Angiografi a cardíaca por ressonância magnética mostrando uma reconstrução em 3D da coarctação aórtica nativa em um paciente adulto com extenso fl uxo colateral. Observe a marcante dilatação da artéria subclávia esquerda, suprindo a maior parte dos vasos colaterais e uma leve hipoplasia do arco da aorta. (Cortesia do Dr Raad Mohiaddin, Royal Brompton Hospital, London.) 985 C A P ÍT U L O 5 6 Danlos, ou podem estar relacionados a uma valva da aorta bicúspide ou ser secundários à sífi lis. Aneurismas da parte descendente da aorta são geralmente causados por aterosclerose (90%); os demais resultam de doença micótica ou trauma. Alguns aneurismas da aorta são achados incidentais de raios X de tórax ou escaneamentos por tomografi a compu- tadorizada. Casos sintomáticos se apresentam com falta de respiração, dor torácica, dor nas costas, voz rouca, tosse e hemoptise. Murmúrios diastó- licos iniciais podem ser audíveis à ausculta cardíaca e são causados pela regurgitação aórtica. O reparo é realizado em pacientes com sintomas ou dilatação fusiforme medindo mais de 5 cm de diâmetro. Dissecção aórtica A dissecção aórtica ocorre como o resultado de degeneração da face medial da parede da aorta como o resultado do envelhecimento, hipertensão persistente ou em doenças da fi brilina, tais como a síndrome de Marfan. Um rasgo na túnica íntima pode ocorrer, produzindo uma fenda na parede medial, a qual cria um falso lúmen. Estes casos se apresentam agudamente com severa dor torácica retroesternal ou intraescapular. Dependendo da extensão da dissecção, eles podem estar associados a sinais neurológicos, diarreia ou fraqueza nas pernas. A extensão para dentro do pericárdio causa um tamponamento cardíaco e colapso circu- latório. O diagnóstico é estabelecidopor ecocardiografi a e por tomografi a computadorizada intensifi cada por contraste, ou por escaneamentos de ressonância magnética. O reparo cirúrgico é essencial para a dissecção da parte ascendente da aorta ou do arco da aorta. Tronco braquiocefálico O tronco braquiocefálico, o maior ramo do arco da aorta, apresenta 4-5 cm de comprimento (Figs. 28.14, 56.2A e C). Ele surge a partir da conve- xidade do arco, posterior ao centro do manúbrio do esterno, e ascende posterolateralmente para a direita, primeiro anteriormente à traqueia, e em seguida à sua direita. No nível da borda superior da articulação ester- noclavicular direita, ele se divide nas artérias carótida comum direita e subclávia direita. Relações Os músculos esterno-hióideo e esternotireóideo, os restos do timo, as veias braquiocefálica direita e tireóidea inferior direita, cruzando sua raiz e às vezes os ramos cardíacos direitos do nervo vago, todos separam o tronco braquiocefálico do manúbrio. Posteriormente encon- tram-se a traqueia (superiormente) e a pleura direita (inferiormente). O nervo vago direito está posterolateral antes de passar lateralmente à tra- queia. Lateralmente à direita estão a veia braquiocefálica direita, a parte superior da veia cava superior e da pleura, e lateralmente à esquerda estão os restos tímicos, a origem da artéria carótida comum esquerda, as veias tireóideas inferiores e a traqueia. Ramos A artéria braquiocefálica geralmente tem apenas ramos termi- nais, a artéria carótida comum direita e a artéria subclávia direita. Ocasio- nalmente, um ramo tímico ou bronquial, ou uma artéria tireóidea ima, surge dela. A artéria tireóidea ima é uma pequena e inconstante artéria que pode se originar da aorta, da carótida comum direita, da subclávia ou das artérias torácicas internas; ela ascende sobre a traqueia até o istmo da tireoide, onde ela termina. Parte torácica da parte descendente da aorta A parte torácica da aorta é o segmento da parte descendente da aorta confi nado ao mediastino posterior (Fig. 55.4B). Ela começa no nível da borda inferior da quarta vértebra torácica, contínua com o arco da aorta, e termina anteriormente à borda inferior da 12a vértebra torácica no hiato aórtico. Em sua origem ela se encontra à esquerda da coluna vertebral: à medida que ela desce, se aproxima da linha mediana, e em sua terminação encontra-se diretamente anterior a ela. Relações Anteriormente à parte torácica da parte descendente da aorta, de cima para baixo, estão o hilo do pulmão esquerdo, o pericárdio que a separa do átrio esquerdo, o esôfago e o músculo diafragma. Posterior- mente estão a coluna vertebral e a veia hemiázigo. Lateralmente à direita estão a veia ázigo e o ducto torácico, e abaixo estão a pleura e o pulmão direito, e lateralmente à esquerda estão a pleura e o pulmão. O esôfago, com seu plexo de nervos, está na lateral direita e acima, mas se torna anterior na parte inferior do tórax e próximo ao músculo diafragma ele está anterolateral à esquerda. Em um grau limitado, a parte descendente da aorta e o esôfago estão mutuamente espiralizados. Anatomia de superfície A parte torácica da parte descendente da aorta pode estar projetada como uma larga faixa de 2,5 cm a partir da extremidade esternal da segunda cartilagem costal esquerda até uma posição mediana 2 cm acima do plano transpilórico. Ramos A parte torácica da aorta emite ramos viscerais para o pericárdio, pulmões, brônquios e esôfago, e ramos parietais para a parede torácica. Ramos pericárdicos Alguns pequenos vasos são distribuídos para a face posterior do pericárdio. Artérias bronquiais As artérias bronquiais variam em número, tamanho e origem. Normalmente existe apenas uma artéria bronquial direita, a qual se origina a partir da terceira artéria intercostal posterior ou da artéria bronquial esquerda superior, e segue posteriormente sobre o brônquio direito. Seus ramos suprem estas estruturas, além do tecido conjuntivo frouxo pulmonar e os linfonodos broncopulmonares, pericár- dio e esôfago. As artérias bronquiais esquerdas, usualmente duas, surgem a partir da parte torácica da aorta, a superior próxima à quinta vértebra torácica, a inferior abaixo do brônquio esquerdo, e seguem posterior- mente ao brônquio esquerdo; elas estão distribuídas como no lado direito. Ramos mediastinais Numerosos pequenos vasos suprem os linfo- nodos e o tecido conjuntivo frouxo no mediastino posterior. Ramos frênicos Os ramos frênicos se originam a partir da parte inferior da parte torácica da aorta e estão distribuídos posteriormente à superfície diafragmática superior. Eles se anastomosam com as artérias musculofrêni- cas e pericardicofrênicas. Artérias intercostais posteriores As artérias intercostais posteriores e seus ramos estão descritos no Capítulo 54. Artérias subcostais As artérias subcostais são os últimos ramos pares da parte torácica da aorta, em série com as artérias intercostais posteriores, e abaixo das décimas segundas costelas. Cada uma segue lateral e ante- riormente ao corpo da décima segunda vértebra torácica e posteriormente aos nervos esplâncnicos, tronco simpático, pleura e músculo diafragma. A direita também se encontra posteriormente ao ducto torácico e à veia ázigo, e a esquerda é posterior à veia hemiázigo acessória. Cada uma em seguida entra no abdome na borda inferior da 12a costela, acompanhada pelo 12a nervo torácico (subcostal), dispondo-se posteriormente ao liga- mento arqueado lateral e ao rim, e anteriormente ao músculo quadrado do lombo. A artéria direita segue posteriormente ao colo ascendente, e a esquerda posteriormente ao colo descendente. Perfurando a aponeurose do músculo transverso do abdome, cada artéria segue entre este músculo e o músculo oblíquo interno do abdome, e se anastomosa com as artérias epigástrica superior, intercostal posterior inferior e lombares. Cada uma apresenta um ramo posterior, distribuído como os das artérias intercostais posteriores. Artéria aberrante Uma pequena artéria, às vezes, sai da parte torácica da aorta à sua direita, próximo à origem da artéria bronquial direita. Ela ascende para a direita, por trás da traqueia e do esôfago, e pode se anas- tomosar com a artéria intercostal superior direita. Ela é um vestígio da aorta dorsal direita; ocasionalmente está aumentada como a primeira parte de uma artéria subclávia direita. Ruptura aórtica no trauma A ruptura aórtica resultante de um trauma de contusão é uma lesão letal. Ela ocorre comumente em acidentes de trânsito e tem um índice de sobre- vivência ruim, 20%. Usualmente existe uma laceração transversal na parede da aorta, o que pode envolver a túnica íntima através da túnica média da aorta. A pressão no interior da circulação sistêmica pode em si causar a formação de um falso aneurisma. A ruptura da região do istmo da aorta descendente é mais comum, provavelmente porque o istmo tende a ser a junção entre as porções móvel e fi xa da aorta. Outros locais incluem a parte ascendente da aorta proximal à origem do tronco braquiocefálico, o arco da aorta e a parte abdominal da aorta. A ruptura é provavelmente o resultando de um número de fatores, incluindo torção e forças de atrito e distensão, e é possivelmente composta pela pressão hidrostática. Aterosclerose ou calcifi cação aórtica A esclerose aórtica ou calcifi cação pode estar implicada em eventos embó- licos e derrames. A ecocardiografi a, e particularmente a ecografi a transe- sofágica, permite uma avaliação muito detalhada da região proximal da aorta. A extensão do fl uxo turbulento aparece como uma perda de sinal na aorta ascendente usando a RM, e pode ser usada para avaliar qualquer estreitamento funcional. A RM também permite uma apurada avaliação da composição e do tamanho de placas ateroscleróticas, o que permite a avaliação do risco de ruptura de placase da formação de trombos. Glomos para-aórticos Os glomos para-aórticos se desenvolvem progressivamente durante a vida fetal. Eles adquirem um tamanho máximo nos três primeiros anos pós- natais, quando os maiores são dois corpos acastanhados, de 1 cm de comprimento, os quais fl anqueiam a parte abdominal da aorta e encon- Principais vasos sanguíneos CORAÇÃO E GRANDES VASOS 986 S E Ç Ã O 7 tram-se normalmente unidos anteriormente a ela através de uma massa horizontal imediatamente acima da artéria mesentérica inferior, conse- quentemente formando um crescente invertido ou um arranjo em formato de letra H, o qual está fi nalmente relacionado aos plexos intermesentérico e hipogástrico superior (Fig. 15.16). Suas células constituintes se disper- sam e atrofi am, e por volta dos 14 anos eles podem estar completamente desintegrados. Quando bem desenvolvidos, eles consistem em massas de células cromafi ns poligonais embebidas em plexos de capilares de malha larga e secretam noradrenalina (ou norepinefrina). Outros pequenos corpos cromafi ns também se encontram disseminados no feto nos plexos abdominal e simpático pré-vertebral pélvico. Eles atingem um tamanho máximo entre o quinto e oitavo meses fetais, e sobrevivem em adultos principalmente próximos ao tronco celíaco e a artéria mesentérica supe- rior e como coleções microscópicas de células que persistem nas partes inferiores do plexo intermesentérico. Artérias subclávias Artéria subclávia direita A artéria subclávia direita surge a partir do tronco braquiocefálico. A artéria subclávia direita é formada por trás da borda superior da articula- ção esternoclavicular direita. Ela ascende acima da clavícula em posição superomedial, e em seguida posteriormente ao músculo escaleno anterior. A seguir, ela desce lateralmente até o músculo escaleno anterior, até a borda externa da primeira costela, onde ela se torna a artéria axilar. Artéria subclávia esquerda Na maioria dos indivíduos, a artéria subclávia esquerda se origina inde- pendentemente a partir do arco da aorta após a origem do tronco braquio- cefálico e da artéria carótida comum esquerda. A artéria subclávia esquerda se origina do arco da aorta abaixo da artéria carótida comum esquerda e sobe em direção ao pescoço, lateralmente à borda medial do músculo escaleno anterior, cruza por trás deste músculo e em seguida desce em direção à borda externa da primeira costela, onde ela se torna a artéria axilar. Uma origem comum existe ocasionalmente entre a artéria subclávia esquerda e a artéria vertebral esquerda. Raramente, existem troncos bra- quiocefálicos bilaterais, os quais subsequentemente se dividem em ambos os lados em artérias carótidas comuns e subclávias. Relações No tórax, a artéria subclávia esquerda está relacionada ante- riormente com a artéria carótida comum esquerda e a veia braquiocefálica esquerda, da qual está separada pelo nervo vago esquerdo e pelos nervos cardíacos e frênicos. Mais superfi cialmente, a margem anterior do pulmão, a pleura e os músculos esternotireóideo e esterno-hióideo se encontram entre o vaso e a área esquerda superior do manúbrio do esterno. O lado esquerdo do esôfago, o ducto torácico e o músculo longo do pescoço são posteriores. A artéria subclávia esquerda está em contato posterolateral- mente com o pulmão e a pleura esquerdos. A traqueia, o nervo laríngeo recorrente esquerdo, o esôfago e o ducto torácico estão mediais. Lateral- mente, a artéria forma um sulco na parte mediastinal da pleura e do pulmão esquerdos, e também invadindo suas faces anterior e posterior. Artérias carótidas comuns As artérias carótidas direita e esquerda diferem em comprimento e origem. A carótida direita é exclusivamente cervical e surge a partir do tronco braquiocefálico por trás da articulação esternoclavicular direita. A caró- tida esquerda se origina diretamente do arco da aorta, imediatamente posterolateral ao tronco braquiocefálico e, portanto, tendo partes torácica e cervical. Artéria carótida comum direita A artéria carótida comum direita e suas relações estão descritas no Capí- tulo 28. Artéria carótida comum esquerda A artéria carótida comum esquerda (Fig. 28.14) ascende até o nível da articulação esternoclavicular esquerda, onde ela entra no pescoço. Ela tem 20-25 mm de comprimento e se encontra primeiramente à frente da tra- queia, e em seguida se inclina para a esquerda. O trajeto subsequente da artéria está descrito no Capítulo 28. Relações Os músculos esterno-hióideo e esternotireóideo, as partes anteriores da pleura e do pulmão esquerdos, a veia braquiocefálica esquerda e os restos tímicos estão anteriores e separam a artéria carótida comum esquerda do manúbrio. A traqueia, a artéria subclávia esquerda, a margem esquerda do esôfago, o nervo laríngeo recorrente esquerdo e o ducto torácico são posteriores. À direita encontram-se o tronco braquio- cefálico (abaixo) e a traqueia, as veias tireóideas inferiores e os remanes- centes tímicos (acima). À esquerda estão os nervos vago esquerdo e frênico, a pleura e pulmão esquerdos. VEIAS Veia cava superior A veia cava superior devolve o sangue ao coração a partir dos tecidos acima do diafragma. Ela tem aproximadamente 7 cm de comprimento e é formada pela junção das veias braquiocefálicas por trás da borda inferior da primeira cartilagem costal direita, próximo ao esterno. Ela desce verti- calmente por trás dos primeiro e segundo espaços intercostais e termina na porção superior do átrio direito atrás da terceira cartilagem costal direita. Sua metade inferior encontra-se dentro do pericárdio fi broso, o qual ela perfura no nível da segunda cartilagem costal. Coberta anterola- teralmente pelo pericárdio seroso (do qual um recesso retrocaval se projeta), ela é ligeiramente convexa para a direita (Figs. 28.14, 56.1, 56.3). A veia cava superior não apresenta valvas. Relações As margens anteriores do pulmão e da pleura direitos estão anteriores e o pericárdio encontra-se interveniente abaixo: estas estruturas separam a veia cava superior da artéria torácica interna, dos primeiro e segundo espaços intercostais, e da segunda e terceira cartilagens costais. A traqueia e o nervo vago direito estão posteromediais, o pulmão e a pleura direitos estão posterolaterais e o hilo do pulmão direito encontra-se pos- terior. O nervo frênico direito e a pleura direita encontram-se lateralmente à direita, e o tronco braquiocefálico e a parte descendente da aorta encon- tram-se lateralmente à esquerda, com a aorta se sobrepondo à veia cava superior (Fig. 58.3). Variações As veias braquiocefálicas podem entrar no átrio direito sepa- radamente, com a veia direita descendo como uma veia cava superior normal. Uma veia cava superior esquerda pode ter uma delicada conexão com o lado direito e em seguida cruzar para o lado esquerdo do arco da aorta de modo a passar anteriormente ao hilo do pulmão esquerdo antes de se voltar para entrar no átrio direito. Ela substitui a veia oblíqua do átrio esquerdo e o seio coronário e recebe todas as tributárias do seio coronário. A veia braquiocefálica esquerda às vezes se projeta acima do manúbrio (mais frequentemente na infância) e cruza a incisura jugular em frente à traqueia. Tributárias As tributárias da veia cava superior são a veia ázigo e peque- nas veias derivadas do pericárdio e de outras estruturas mediastinais (Fig. 55.6). Obstrução da veia cava superior A obstrução da veia cava superior é caracterizada por dores de cabeça, congestão facial e edema facial, refl etindo a drenagem venosa impedida da cabeça, do pescoço e dos membros superiores. Ela é frequentemente causada por um carcinoma bronquial que envolve o lobo superior direito do pulmão, ou por envolvimento metastático dos linfonodos paratraque- ais direitos, resultando em um estreitamento circunferencialou uma com- pleta obstrução da veia cava superior. Isto é usualmente considerado como uma emergência oncológica e os sintomas devem ser aliviados pela inser- ção de um stent vascular ou por radioterapia na região afetada após um diagnostico tecidual ter sido estabelecido. Veia cava inferior A veia cava inferior devolve o sangue para o coração a partir dos tecidos abaixo do diafragma. Ela passa através do diafragma entre o folheto direito e a área central do centro tendíneo do músculo diafragma ao nível da oitava e nona vértebras torácicas, e drena para a parte inferoposterior do átrio direito (Fig. 58.1). A parte torácica é muito curta, e está parcialmente dentro e parcialmente fora do saco pericárdico. A parte extrapericárdica está separada da pleura e do pulmão direitos pelo nervo frênico direito, e a parte intrapericárdica é coberta, exceto posteriormente, pelo pericárdio seroso fl exionado. O trajeto abdominal da veia cava inferior está descrito no Capítulo 62. Canais venosos colaterais Na obstrução da parte superior da veia cava inferior, as veias ázigo e hemiázigo e plexos venosos vertebrais são os principais canais colaterais que mantêm a circulação venosa. Eles conectam as veias cavas superior e inferior e se comunicam com a veia ilíaca comum através das veias lom- bares ascendentes e com muitas tributárias da veia cava inferior. Veias braquiocefálicas As veias braquiocefálicas direita e esquerda se unem para formar a veia cava superior. Veia braquiocefálica direita A veia braquiocefálica direita tem cerca de 2,5 cm de comprimento e se inicia posteriormente à extremidade esternal da clavícula direita. Ela desce 987 C A P ÍT U L O 5 6 quase verticalmente para se unir à veia braquiocefálica esquerda, for- mando a veia cava superior, posteriormente à borda inferior da primeira cartilagem costal direita, próximo à margem direita do osso esterno. Ela se encontra anterolateral ao tronco braquiocefálico e ao nervo vago direito; a pleura direita, o nervo frênico direito e a artéria torácica interna direita estão posteriores a ela acima, e se tornam laterais abaixo (Fig. 28.14). Suas tributárias são as veias vertebral direita, torácica interna direita, tireóidea inferior e, às vezes, as veias intercostais posteriores direitas. Veia braquiocefálica esquerda A veia braquiocefálica esquerda é mais longa que a direita, apresentando cerca de 6 cm de comprimento. Ela se inicia posteriormente à extremi- dade esternal da clavícula esquerda, anterior à parte cervical da pleura, e desce obliquamente para a direita, posterior à metade superior do manú- brio do esterno, até a extremidade esternal da primeira cartilagem costal direita, onde ela se junta à veia braquiocefálica direita para formar a veia cava superior. Ela está separada da articulação esternoclavicular esquerda e do manúbrio pelos músculos esterno-hióideo e esternotireóideo, pelo timo ou seus resquícios, e por tecido conjuntivo frouxo; terminalmente, ela é sobreposta pela pleura direita. Ela cruza anteriormente às artérias torácica interna, subclávia, tronco braquiocefálico e carótida comum esquerdas, nervos frênico e vago esquerdos, e a traqueia. O arco da aorta encontra-se inferior a ela. Suas tributárias são as veias vertebral, torácica interna, tireóidea inferior, intercostais superiores esquerdas, e às vezes as primeiras veias intercostais posteriores esquerdas, as veias tímicas e as veias pericárdicas. REFERÊNCIAS Anderson RH, Ho SY, Becker AE 1983 The surgical anatomy of the conduc- tion tissues. Thorax 38: 408–20. Carvalho JS, Moscoso G, Ville Y. 1998 First-trimester transabdominal fetal echocardiography. Lancet 351: 1023–7. Federative Committee on Anatomical Terminology 1998 Terminologia Anatomica. Stuttgart: Thieme. Ho SY, McCarthy KP, Josen M, Rigby ML 2001 Anatomic-echocardiographic correlates: an introduction to normal and congenitally malformed hearts. Heart 86: 3–11. James TN 1993 Congenital disorders of cardiac rhythm and conduction. J Cardiovasc Electrophysiol 4: 702–18. Mizeres NJ 1963 The cardiac plexus in man. Am J Anat 112: 141–51. Principais vasos sanguíneos 247 Irrigação sanguínea e drenagem do encéfalo CAPÍTULO 17 O encéfalo é um órgão altamente vascular, e seu profuso suprimento sanguíneo é caracterizado por uma rede densamente ramifi cada de arté- rias. Ele possui uma alta taxa metabólica que refl ete a necessidade de energia da constante atividade neural. Ele recebe cerca de 15% do débito cardíaco e utiliza 25% do consumo total de oxigênio do corpo. O encéfalo é irrigado pelas duas artérias carótidas internas e pelas duas artérias verte- brais que formam uma complexa anastomose (círculo arterial do cérebro, “círculo de Willis”) na base do encéfalo. Os vasos divergem a partir desta anastomose para suprir as várias regiões do encéfalo. Em geral, as artérias carótidas internas e os vasos originados a partir delas suprem o prosencé- falo, com exceção do lobo occipital do hemisfério cerebral, e as artérias vertebrais e seus ramos suprem o lobo occipital, o tronco encefálico e o cerebelo. O sangue venoso do encéfalo é drenado para os seios no interior da dura-máter (Cap. 27). Uma interrupção aguda do suprimento sanguí- neo para o encéfalo por mais do que poucos minutos causa danos neu- rológicos permanentes. Assim, acidentes vasculares isquêmicos junto com hemorragias intracranianas são as principais fontes contemporâneas de morbidade e mortalidade. SUPRIMENTO ARTERIAL DO ENCÉFALO O suprimento arterial do encéfalo é derivado da artéria carótida interna e das artérias vertebrais que se localizam, juntamente com seus ramos prin- cipais, no interior do espaço subaracnóideo na base do encéfalo. ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA As artérias carótidas internas (Fig. 17.1) e seus ramos principais (o sistema carótico ou circulação “anterior”) suprem o sangue para a maior parte do cérebro. Algumas partes dos lobos occipital e temporal são irrigadas por ramos do sistema vertebrobasilar (Fig. 17.5). A artéria carótida interna origina-se da bifurcação da artéria carótida comum, ascende no pescoço e entra no canal carótico do osso temporal. Em seu curso subsequente, ela demonstra as seguintes partes: petrosa, cavernosa e cerebral. Parte petrosa A parte petrosa da artéria carótida interna ascende no canal carótico, curva-se anteromedialmente e então superomedialmente acima da carti- lagem que preenche o forame lacerado, e entra na cavidade do crânio. Ela está localizada primeiramente em local anterior à cóclea e à cavidade timpânica, e é separada desta e da tuba auditiva por uma fi na lamela óssea que é cribriforme no jovem e parcialmente absorvida no idoso. Mais anteriormente, ela é separada do gânglio trigeminal pelo fi no teto do canal carótico, embora, isto seja muitas vezes defi ciente. A artéria é circundada por um plexo venoso e pelo plexo carótico autônomo, derivado do nervo carótico interno do gânglio cervical superior. A parte petrosa da artéria dá origem a dois ramos. A artéria caroticotimpânica é um vaso pequeno e geralmente duplo que entra na cavidade timpânica por um forame no canal carótico e se anastomosa com a artéria timpânica anterior, ramo da artéria maxilar e com a artéria estilomastóidea. A artéria do canal pterigóideo é inconsistente: quando presente, ela entra no canal pterigóideo com o nervo de mesmo nome, e se anastomosa com um ramo (recorrente) da artéria palatina maior. A B Parte cavernosa da artéria carótida interna Parte petrosa da artéria carótida interna Artéria corióidea anterior Artéria cerebral anterior Artéria oftálmica Parte cavernosa da artéria carótida interna Artéria cerebral média Parte cavernosa da artéria carótida interna Artéria comunicante posterior Fig. 17.1 Angiografi as daartéria carótida interna. A, projeção lateral B, projeção de Towne. IRRIGAÇÃO SANGUÍNEA E DRENAGEM DO ENCÉFALO 248 S E Ç Ã O 3 Parte cavernosa A parte cavernosa da artéria carótida interna ascende para o processo cli- noide posterior. Ela se curva anteriormente para o lado do esfenoide no interior do seio cavernoso e então curva-se para cima medialmente ao processo clinoide anterior, para emergir através do teto dural do seio. Os nervos oculomotor, troclear, oftálmico e abducente estão laterais a ela, no interior do seio cavernoso (Fig. 27.9). Ocasionalmente, os dois processos clinoides formam um anel ósseo ao redor da artéria. Esta parte da artéria dá origem a certo número de pequenos vasos. Ramos cavernosos suprem o gânglio trigeminal, as paredes do seio caver- noso e do seio petroso inferior e aos nervos contidos neles. Um ramo meníngeo mínimo passa sobre a asa menor do esfenoide para suprir a dura-máter e os ossos na fossa anterior do crânio e também se anastomo- sar com um ramo meníngeo da artéria etmoidal posterior. Numerosos pequenos ramos hipofi sários suprem a neuro-hipófi se e são de particular importância porque formam o sistema porta-hipofi sário (Fig. 21.11). Parte cerebral Após perfurar a dura-máter, a artéria carótida interna curva-se para trás, abaixo do nervo óptico, para seguir entre ele e o nervo oculomotor. Ela alcança a substância perfurada anterior na extremidade medial do sulco lateral e termina dividindo-se em artérias cerebrais anterior e média. Vários vasos pré-terminais deixam a parte cerebral da artéria carótida interna. A artéria oftálmica origina-se da parte anterior da artéria carótida interna quando ela deixa o seio cavernoso, muitas vezes no ponto de perfuração da dura-máter, e entra na órbita através do canal óptico. A artéria comunicante posterior (Figs. 17.2, 17.3) segue atrás da carótida interna acima do nervo oculomotor, e se anastomosa com a artéria cere- bral posterior (um ramo terminal da artéria basilar), contribuindo desse modo para o círculo arterial do cérebro ao redor da fossa interpeduncular. A artéria comunicante posterior é geralmente muito pequena. No entanto, às vezes ela é tão grande que a artéria cerebral posterior é irrigada mais por ela do que pela artéria basilar (‘artéria comunicante posterior fetal’); ela é muitas vezes grande em apenas um dos lados. Pequenos ramos de sua metade posterior perfuram a substância perfurada posterior junta- mente com ramos da artéria cerebral posterior. Coletivamente eles suprem a face medial do tálamo e as paredes do terceiro ventrículo. A artéria corióidea anterior deixa a artéria carótida interna próximo de seu ramo comunicante posterior e segue para trás acima da parte medial do unco. Ela cruza o trato óptico para alcançar e suprir o pilar do cérebro do mesen- céfalo, e então curva-se lateralmente, atravessa novamente o trato óptico, e chega à região lateral do corpo geniculado lateral, o qual ela supre com vários ramos. Ela fi nalmente entra no corno temporal do ventrículo lateral pela fi ssura corióidea e termina no plexo corióideo. Este pequeno porém importante vaso também contribui para o suprimento sanguíneo do globo pálido, núcleo caudado, corpo amigdaloide, hipotálamo, túber cinéreo, núcleo rubro, substância negra, ramo posterior da cápsula interna, radiação óptica, trato óptico, hipocampo e fímbria do fórnice. ARTÉRIA CEREBRAL ANTERIOR A artéria cerebral anterior é o menor dos dois ramos terminais da artéria carótida interna (Fig. 17.3). A nomenclatura cirúrgica divide o vaso em três partes: Segmento A1 – da terminação da artéria carótida interna à junção com a artéria comu- nicante anterior; Segmento A2 – da junção com a artéria comunicante anterior à origem da artéria calosomarginal; e Segmento A3 – distal à origem da artéria calosomarginal; este segmento é também chamado de artéria pericalosa. A artéria cerebral anterior inicia na extremidade medial da base do sulco lateral. Ela segue anteromedialmente acima do nervo óptico para a fi ssura longitudinal do cérebro onde se conecta com sua companheira do lado oposto por uma curta e transversa artéria comunicante anterior. A artéria comunicante anterior tem cerca de 4 mm de comprimento e pode ser dupla. Ela dá origem a numerosas artérias centrais anteromediais que suprem o quiasma óptico, a lâmina terminal, o hipotálamo, as áreas paraolfatórias, as colunas anteriores do fórnice e o giro do cíngulo. As duas artérias cerebrais anteriores seguem juntas na fi ssura longitu- dinal do cérebro. Elas passam ao redor da curva do joelho do corpo caloso e depois ao longo de sua face superior até sua extremidade posterior, onde Artéria cerebelar inferior posterior Artéria basilar Nervo abducente Nervo oculomotor Infundíbulo Artéria comunicante anterior Artéria cerebral anterior Nervo facial Artéria cerebelar inferior anterior Artéria vertebral Artéria cerebral posterior Artéria espinal anterior Artéria cerebral média Artéria carótida interna Artéria cerebelar superior Artéria corióidea Artéria do labirinto Nervo óptico Fig. 17.2 Artérias da base do encéfalo. A parte anterior do lobo temporal esquerdo foi removida para mostrar o curso inicial da artéria cerebral média no interior do sulco lateral. 249 C A P ÍT U L O 1 7 Artéria cerebral anterior Artéria comunicante anterior Artéria estriada medial Artéria carótida interna Grupo estriado lateral Grupo posteromedial Grupo posterolateral Artéria cerebral posterior Artéria cerebelar superior Grupo anteromedial Artéria cerebral média Artéria comunicante posterior Artéria corióidea anterior Nervo oculomotor Nervo troclear Artérias da ponte Quiasma óptico Nervo óptico Infundíbulo Ponte Trato olfatório Trato óptico Artéria basilar Fig. 17.3 O círculo arterial do cérebro na base do encéfalo mostrando a distribuição dos ramos centrais (perfurantes ou ganglionares). Suprimento arterial do encéfalo Artéria vertebral Artéria basilar Artéria temporal anterior Artéria cerebral média Artéria pré-frontal Artéria do sulco central Artéria do sulco pré-central Artéria cerebral anterior Artéria do sulco pós-central Artéria parietal superior Ramo do giro angular Ramo temporal posterior Ramo temporal médio Artéria cerebelar superior Artéria cerebelar inferior anterior Artéria cerebelar inferior posterior Artéria pericalosa Artéria calosomarginal Artéria polar frontal Artéria cerebral anterior Artéria cerebral posterior Artéria frontobasilar medial Ramo calcarino Ramo parieto-occipital A B Fig. 17.4 Principais artérias irrigando as faces medial A, e lateral B, do encéfalo. elas se anastomosam com as artérias cerebrais posteriores (Fig. 17.4). Elas dão origem aos ramos corticais e centrais. Os ramos corticais da artéria cerebral anterior são nomeados de acordo com sua distribuição. Dois ou três ramos orbitais se ramifi cam sobre a face orbital do lobo frontal e suprem o córtex olfatório, o giro reto e o giro orbital. Ramos frontais suprem o corpo caloso, o giro do cíngulo, o giro frontal medial e o lóbulo paracentral. Ramos parietais suprem o pré- cúneo, enquanto ambos os ramos, frontal e parietal enviam ramos sobre a margem superomedial do hemisfério cerebral para suprir uma faixa do território sobre a face superolateral (Fig. 17.5). Ramos corticais da artéria cerebral anterior, portanto, suprem as áreas corticais motora e somatosen- sorial que representam os membros inferiores. Ramos centrais da artéria cerebral anterior se originam de sua parte proximal e entram na substância perfurada anterior (Fig. 17.3) e na lâmina IRRIGAÇÃO SANGUÍNEA E DRENAGEM DO ENCÉFALO250 S E Ç Ã O 3 A B Giro frontal superior Giro frontal médio Giro frontal inferior Giro pré-central Giro pós-central Lóbulo parietal superior Lóbulo parietal inferior Arco parieto- occipital Giro temporal superior Giro temporal médio Giro temporal inferior Giro frontal medialGiro do cíngulo Corpo caloso Fórnice Unco Giro para-hipocampalGiro lingual Cúneo Istmo do giro do cíngulo Pré-cúneo Lóbulo paracentral Área irrigada pela artéria cerebral anterior Área irrigada pela artéria cerebral média Área irrigada pela artéria cerebral posterior Fig. 17.5 Suprimento arterial do hemisfério cerebral esquerdo. A, Face superolateral. B, Face medial. terminal. Coletivamente, eles suprem o rostro do corpo caloso, o septo pelúcido, a parte anterior do putame, a cabeça do núcleo caudado e as partes adjacentes da cápsula interna. Imediatamente proximal ou distal a sua junção com a artéria comunicante anterior, a artéria cerebral anterior dá origem às artérias estriadas mediais que suprem a parte anterior da cabeça do núcleo caudado e regiões adjacentes do putame e cápsula interna. ARTÉRIA CEREBRAL MÉDIA A artéria cerebral média é o maior ramo terminal da artéria carótida interna. A nomenclatura cirúrgica divide o vaso em quatro partes: Segmento M1 – da terminação da artéria carótida interna até a sua bi/trifurcação, sendo este segmento também chamado de parte esfenoidal; Segmento M2 – o segmento que segue no sulco lateral, também chamado de parte insular; Segmento M3 - saindo do sulco lateral (“fi ssura de Sylvius”), também chamado de parte opercular; e Segmento M4 – porções corticais. A artéria cerebral média segue em primeiro lugar no sulco lateral, depois posterossuperiormente sobre o lobo insular, e divide-se em ramos distribuindo-se para o lobo insular e a face superolateral adjacente do cérebro (Figs. 17.3, 17.4, 17.5). Como a artéria cerebral anterior, ela possui ramos corticais e ramos centrais. Os ramos corticais enviam vasos orbitais para o giro frontal inferior e para a face orbital lateral do lobo frontal. Ramos frontais suprem os giros pré-central, frontal médio e frontal inferior. Dois ramos parietais são distribuídos para o giro pós-central, para a parte inferior do lóbulo parietal superior e para todo o lóbulo parietal inferior. Dois ou três ramos tempo- rais suprem a face lateral lobo temporal. Ramos corticais da artéria cerebral média, portanto, suprem os córtices motor e somatossensorial que repre- sentam a totalidade do corpo (a não ser os membros inferiores), área auditiva e o lobo insular. Pequenos ramos centrais da artéria cerebral média, os ramos estriados laterais (ou lenticuloestriados), se originam e entram na substância per- furada anterior junto com a artéria estriada medial. Os ramos estriados laterais ascendem na cápsula externa sobre a face lateral inferior do núcleo lentiforme, depois curvam-se medialmente, atravessam o núcleo lenti- forme e a cápsula interna e estendem-se até o núcleo caudado. ARTÉRIA VERTEBRAL A artéria vertebral e seus ramos principais (às vezes referidos como sistema vertebrobasilar) basicamente provêm sangue para a região superior da medula espinal, para o tronco encefálico, cerebelo e uma signifi cante, porém variável, parte dos hemisférios cerebrais posteriormente (Fig. 17.6). As artérias vertebrais são derivadas das artérias subclávias (Cap. 30). Elas ascendem através do pescoço nos forames transversários das seis vértebras cervicais superiores e entram na cavidade do crânio através do forame magno, próximo à face anterolateral do bulbo (Fig. 17.2). Elas convergem medialmente enquanto sobem pelo bulbo e se unem para formar a artéria basilar na linha mediana aproximadamente no nível da junção entre o bulbo e a ponte. Um ou dois ramos meníngeos se originam da artéria vertebral próxi- mos ao forame magno e se ramifi cam entre o osso e a dura-máter na fossa posterior do crânio. Eles suprem o osso, a díploe e a foice do cerebelo. Uma pequena artéria espinal anterior se origina perto do fi nal da artéria vertebral e ascende anterior ao bulbo para unir-se com sua compa- nheira do lado oposto no nível médio do bulbo. O tronco ímpar desce então sobre a região ventral mediana da medula espinal e é reforçada sequencialmente por pequenos ramos espinais a partir das artérias verte- bral, cervical ascendente, intercostal posterior e da primeira artéria lombar, que entram no canal vertebral pelos forames intervertebrais. Ramos a partir da artéria espinal anterior e do início de seu tronco comum são distribuídos para o bulbo. O maior ramo da artéria vertebral é a artéria cerebelar inferior posterior (Fig. 17.6A). Ela se origina próximo da extremidade inferior da oliva e depois sobe por trás das raízes dos nervos glossofaríngeo e vago para chegar à margem inferior da ponte. Aqui ela se curva e desce ao longo da margem inferolateral do quarto ventrículo antes de curvar-se lateralmente na valécula do cerebelo entre os hemisférios e dividir-se em ramos medial e lateral. O ramo medial segue para trás entre o hemisfério cerebelar e a parte inferior do verme do cerebelo, suprindo ambos. O ramo lateral supre a face inferior do cerebelo até sua margem lateral e se anastomosa com a artéria cerebelar inferior anterior e a artéria cerebelar superior (ramos da artéria basilar). O tronco da artéria cerebelar inferior posterior supre o bulbo, posteriormente ao núcleo olivar e lateralmente ao núcleo do nervo hipoglosso e suas raízes nervosas emergentes. Ela também supre o plexo corióideo do quarto ventrículo e envia um ramo lateral para a tonsila do cerebelo pra suprir o núcleo denteado. A artéria cerebelar inferior posterior algumas vezes está ausente. Uma artéria espinal posterior geralmente se origina a partir da artéria cerebelar inferior posterior, mas pode se originar diretamente da artéria vertebral próxima ao bulbo. Ela passa posteriormente e desce como dois ramos que se localizam anterior e posteriormente às raízes posteriores dos nervos espinais. Elas são reforçadas por ramos espinais das artérias verte- bral, cervical ascendente, intercostal posterior e a primeira artéria lombar, que chegam ao canal vertebral pelos forames intervertebrais e mantêm as artérias espinais posteriores nos níveis espinais inferiores. Artérias medu- lares mínimas se originam da artéria vertebral e de seus ramos e são dis- tribuídas amplamente para o bulbo. ARTÉRIA BASILAR A artéria basilar é um grande vaso mediano formado pela união das arté- rias vertebrais no nível médio do bulbo (Figs. 17.2, 17.3, 17.6). Ela se 251 C A P ÍT U L O 1 7 coclear no interior do meato acústico interno e é distribuída para a orelha interna. A artéria cerebelar inferior anterior (Fig. 17.3) surge da parte inferior da artéria basilar e segue posterolateralmente, em geral anterior aos nervos abducente, facial e vestibulococlear. Ela comumente exibe uma alça no meato acústico interno abaixo dos nervos, e, quando isso ocorre, a artéria do labirinto pode se originar da alça. A artéria cerebelar inferior anterior supre a face inferior do cerebelo anterolateralmente e se anastomosa com a artéria cerebelar inferior posterior, ramo da artéria vertebral. Alguns poucos ramos suprem as partes inferolaterais da ponte e ocasionalmente também suprem a parte superior do bulbo. A artéria cerebelar superior (Figs. 17.3, 17.6) se origina próxima da porção distal da artéria basilar, imediatamente antes da formação das artérias cerebrais posteriores. Ela segue lateralmente abaixo do nervo ocu- lomotor que a separa da artéria cerebral posterior e curva-se ao redor do pedúnculo cerebral abaixo do nervo troclear para alcançar a face superior do cerebelo. Aqui ela divide-se em ramos que se desdobram na pia-máter suprindoesta face do cerebelo, e também se anastomosando com ramos da artéria cerebelar inferior. A artéria cerebelar superior supre a ponte, a glândula pineal, o véu medular superior e a tela corióidea do terceiro ventrículo. ARTÉRIA CEREBRAL POSTERIOR A artéria cerebral posterior (Figs. 17.2, 17.3, 17.4) é um ramo terminal da artéria basilar. A nomenclatura cirúrgica divide o vaso em três partes: Segmento P1 – da bifurcação da artéria basilar à junção com a artéria comunicante pos- terior; Segmento P2 – da junção com a artéria comunicante posterior até a porção na cisterna circundante; e Segmento P3 – a porção que segue no sulco calcarino. A artéria cerebral posterior é maior do que a artéria cerebelar superior, da qual é separada próximo de sua origem pelo nervo oculomotor, e, lateralmente ao mesencéfalo, pelo nervo troclear. Ela segue lateralmente, paralela com a artéria cerebelar superior, e recebe a artéria comunicante posterior. Ela então se enrola ao redor do pedúnculo cerebral e chega à face inferior do cérebro, onde ela supre os lobos temporal e occipital. Como as artérias cerebrais anterior e média, a artéria cerebral posterior possui ramos corticais e centrais. Os ramos corticais da artéria cerebral posterior são nomeados de acordo com sua distribuição. Os ramos temporais, geralmente dois, são distribuídos para o unco, para o giro para-hipocampal, giros occipitotem- porais medial e lateral. Os ramos occipitais suprem o cúneo, o giro lingual e a face posterolateral do lobo occipital. Ramos parieto-occipitais suprem o cúneo e o pré-cúneo. A artéria cerebral posterior supre as áreas visuais do córtex cerebral e outras estruturas na via visual. Os ramos centrais suprem estruturas subcorticais. Vários pequenos ramos centrais posteromediais originam-se do início da artéria cerebral posterior (Fig. 17.3) e, juntos com ramos similares da artéria comunicante posterior, penetram na substância perfurada posterior para suprir a região anterior do tálamo, o subtálamo, a parede lateral do terceiro ventrículo e o globo pálido. Um ou mais ramos corióideos posteriores passam sobre o corpo geniculado lateral e o suprem antes de entrar na parte posterior do corno occipital do ventrículo lateral pela parte inferior da fi ssura coriói- dea. Ramos também se enrolam ao redor da extremidade posterior do tálamo e seguem através da fi ssura transversa do cérebro ou vão ao plexo corióideo do terceiro ventrículo, ou ainda atravessam a região superior da fi ssura corióidea. Coletivamente estes ramos suprem o plexo corióideo do terceiro ventrículo, dos ventrículos laterais e o fórnice. Pequenos ramos centrais posterolaterais originam-se da artéria cerebral posterior adiante do pedúnculo cerebral e supre o pedúnculo e a parte posterior do tálamo, os colículos superior e inferior, a glândula pineal e o corpo geniculado medial. CÍRCULO ARTERIAL DO CÉREBRO O círculo arterial do cérebro (“círculo de Willis”) é uma grande anasto- mose arterial que une a artéria carótida interna e o sistema vertebrobasilar (Figs. 17.3, 17.6B). Ele se localiza no espaço subaracnóideo no interior da cisterna interpeduncular, e circunda o quiasma óptico e o infundíbulo. Anteriormente, as artérias cerebrais anteriores derivadas da artéria carótida interna são unidas pela pequena artéria comunicante anterior. Posterior- mente, as duas artérias cerebrais posteriores, formadas pela divisão da artéria basilar, se juntam à artéria carótida interna ipsilateral por uma artéria comunicante posterior. A Artéria cerebral posteriorArtéria cerebelar superior Artéria basilarArtéria vertebral Artéria cerebelar inferior posterior Artéria cerebelar superior Artéria cerebelar inferior anterior Artéria vertebral esquerdaArtéria Artéria cerebral posterior direita B Fig. 17.6 Arteriografi as vertebrais. A, projeção lateral; B, projeção de Towne. localiza na cisterna pontina e segue em um sulco mediano raso sobre a face ventral da ponte. Termina dividindo-se nas duas artérias cerebrais posteriores em um nível variável posteriormente ao dorso da sela turca, geralmente na cisterna interpeduncular. Numerosas e pequenas artérias da ponte se originam a partir das regiões frontal e lateral da artéria basilar ao longo de seu curso e suprem a ponte. A longa e delgada artéria do labirinto possui uma origem variá- vel. Ela geralmente se origina da artéria cerebelar inferior anterior, mas variações em sua origem incluem a parte inferior da artéria basilar, a artéria cerebelar superior ou, ocasionalmente, a artéria cerebelar inferior posterior. A artéria do labirinto acompanha os nervos facial e vestibulo- Suprimento arterial do encéfalo IRRIGAÇÃO SANGUÍNEA E DRENAGEM DO ENCÉFALO 252 S E Ç Ã O 3 Existem consideráveis variações individuais no padrão e calibre dos vasos que fazem parte do círculo arterial do cérebro. Embora um canal circular completo quase sempre exista, em geral um vaso está sufi ciente- mente estreitado, o que reduz seu papel como uma rota colateral, fazendo com que o círculo raramente esteja funcionalmente completo. Artérias cerebrais e comunicantes podem estar ausentes individualmente, ser varia- velmente hipoplásticas, duplas ou ainda triplas. A hemodinâmica do círculo é infl uenciada por variações no calibre das artérias comunicantes e nos segmentos das artérias cerebrais anterior e posterior que se localizam entre suas origens e suas junções com as artérias comunicantes correspon- dentes. A maior variação no calibre entre os indivíduos ocorre na artéria comunicante posterior, que é normalmente muito pequena, sendo que apenas um fl uxo limitado é possível entre a circulação anterior e a poste- rior. Comumente o diâmetro da parte pré-comunicante da artéria cerebral posterior é maior do que da artéria comunicante posterior, caso em que o suprimento de sangue para os lobos occipitais se dá principalmente pelo sistema vertebrobasilar. No entanto, às vezes o diâmetro da parte pré-co- municante da artéria cerebral posterior é menor do que o da artéria comunicante posterior, caso em que o suprimento de sangue para os lobos occipitais se dá principalmente pela artéria carótida interna via artéria comunicante posterior. Já que a proposta primária do círculo arterial é prover canais anastomóticos se um vaso for ocluído, é importante notar que uma artéria comunicante posterior de dimensões normais usualmente não pode cumprir esse papel. A agenesia ou hipoplasia do segmento inicial da artéria cerebral anterior são mais frequentes que anomalias na artéria comunicante anterior e contribuem para uma circulação defi ciente em cerca de um terço dos indivíduos. Aneurismas cerebrais Aneurismas são dilatações, como um balão, que ocorrem nas artérias como resultado de defeitos nas paredes do vaso. Eles são mais comumente encontrados nos vasos do círculo arterial do cérebro, particularmente na junção dos vasos ou próximo a essas junções. Aneurismas na artéria carótida interna próximos à sua terminação podem comprimir a face lateral do quiasma óptico, e comprometer axônios deri- vados da região temporal da retina ipsilateral, que causa um défi cit no campo visual nasal. Aneurismas nas proximidades do nervo oculomotor, por exemplo, na artéria comunicante posterior, na artéria cerebelar supe- rior ou na extremidade da artéria basilar, podem causar paralisia do ter- ceiro nervo craniano por compressão (Fig. 17.7). Hemorragia subaracnóidea Sangramento no compartimento subaracnóideo, hemorragia subaracnóidea, é a patologia mais comum que envolve o espaço subaracnóideo. Existem muitas causas; em adultos a mais comum é a ruptura de um aneurisma dos vasos intracranianos que seguem no interior do espaço subaracnóideo. Uma pessoa que teve uma hemorragia subaracnóidea geralmente queixa-se de uma dor de cabeça de início muito repentinoque é frequentemente descrito como sendo sua “pior dor de cabeça de todas” ou “como sendo golpeada na cabeça com um martelo”. Quando há essa suspeita a primeira investigação é um exame de tomografi a computadorizada que possui uma sensibilidade muito alta para detecção de hemorragia recente. O sangue será visto nas cisternas basais e entrando na profundidade dos sulcos corticais, isto é, delineando a anatomia do espaço subaracnóideo, uma apresentação que permite um acurado diagnóstico (Fig. 17.8). Em um marcado contraste, a dissemina- ção do sangue numa hemorragia subdural é limitada pela aracnoide-máter em sua face profunda e o sangue, portanto, permanece sobre a superfície do encéfalo. ARTÉRIAS CENTRAIS OU PERFURANTES Numerosas e pequenas artérias centrais (perfurantes ou ganglionares) se originam do círculo arterial do cérebro, ou a partir de vasos próximos a ele (Fig. 17.3). Muitas delas entram no encéfalo através das substâncias perfuradas anterior e posterior. Ramos centrais suprem estruturas nas redondezas da base do encéfalo ou bem próximas a ela juntamente com o interior do hemisfério cerebral, incluindo a cápsula interna, os núcleos da base e o tálamo. Estes ramos formam quatro grupos principais. O grupo anteromedial origina-se da artéria cerebral anterior e da artéria comuni- cante anterior passando através da parte medial da substância perfurada anterior. Estas artérias suprem o quiasma óptico, a lâmina terminal, áreas anterior, pré-óptica e supraóptica do hipotálamo, o septo pelúcido, as áreas para-olfatórias, as colunas anteriores do fórnice, o giro do cíngulo, o rostro do corpo caloso e a parte anterior do putame e a cabeça do núcleo caudado. O grupo posteromedial origina-se de todo o comprimento da artéria comunicante posterior e da porção proximal da artéria cerebral posterior. Anteriormente, estas artérias suprem o hipotálamo e a hipófi se, e também as partes anterior e medial do tálamo via artéria perfurante do tálamo. Inferiormente, ramos do grupo posteromedial suprem os corpos mamilares, o subtálamo, a parede lateral do terceiro ventrículo, incluindo a região medial do tálamo, e o globo pálido. O grupo anterolateral é, na maioria das vezes, composto de ramos da parte proximal da artéria cere- bral média que são também conhecidos como artérias centrais anterola- terais. Elas entram no encéfalo através da substância perfurada anterior e suprem o corpo estriado posteriormente, o globo pálido lateralmente e o ramo anterior, o joelho e o ramo posterior da cápsula interna. A artéria estriada medial, derivada das artérias cerebral média ou anterior, supre a parte rostral do núcleo caudado, o putame, o ramo anterior e o joelho da cápsula interna. O grupo posterolateral é derivado da artéria cerebral posterior, distalmente a sua junção com a artéria comunicante posterior, e supre o pedúnculo cerebral, os colículos, a glândula pineal e, via artérias talamogeniculadas, a parte posterior do tálamo e o corpo geniculado medial. Aneurisma Artéria comunicante posterior Fig. 17.7 Angiografi a com subtração digital intra-arterial da artéria carótida interna direita em um paciente com uma paralisia completa do nervo oculomotor direito. Projeção lateral. Hemorragia subaracnóidea na fissura longitudinal do cérebro Hemorragia subaracnóidea na cisterna suprasselar Hemorragia subaracnóidea no sulco lateral Fig. 17.8 Imagem de TC axial (sem meio de contraste endovenoso) no nível dos processos clinoides posteriores. Existe uma alta atenuação anormal nas cisternas basais e no espaço subaracnóideo da fi ssura longitudinal do cérebro, indicando uma hemorragia subaracnóidea aguda, que mostrou ser subsequente a uma ruptura de aneurisma na artéria comunicante anterior. 253 C A P ÍT U L O 1 7 SUPRIMENTO ARTERIAL REGIONAL DO ENCÉFALO Tronco encefálico O bulbo é irrigado por ramos das artérias vertebral, espinal anterior e posterior, cerebelar inferior posterior e basilar, que entram ao longo da fi ssura mediana anterior e do sulco mediano posterior. Vasos que suprem a substância central entram ao longo das radículas dos nervos glossofarín- geo, vago, acessório e hipoglosso. Existe um suprimento adicional via plexo pial a partir das mesmas artérias principais. A ponte é irrigada pela artéria basilar e as artérias cerebelar superior e cerebelar inferior anterior. Ramos diretos da artéria basilar entram na ponte ao longo do sulco basilar. Outros vasos entram ao longo dos nervos trigêmeo, abducente, facial e vestibulococlear e a partir do plexo pial. O mesencéfalo é irrigado pela artéria cerebral posterior, pela artéria cerebelar superior e pela artéria basilar. Os pilares do cérebro são irrigados por vasos que entram em suas regiões medial e lateral. Os vasos mediais entram na região medial do pilar e também irrigam a parte superomedial do tegmento do mesencéfalo, incluindo o núcleo do nervo oculomotor, e os vasos laterais suprem a parte lateral do pilar e o tegmento do mesen- céfalo. Os colículos são irrigados por três vasos de cada lado a partir da artéria cerebral posterior e da artéria cerebelar superior. Um suprimento adicional para o pilar, e para os colículos e seus pedúnculos, chega a partir do grupo posterolateral dos ramos centrais da artéria cerebral posterior. Cerebelo O cerebelo é irrigado pelas artérias cerebelar inferior posterior, cerebelar inferior anterior e cerebelar superior. As artérias cerebelares formam anas- tomoses superfi ciais sobre a face cortical. Anastomoses entre os ramos profundos e subcorticais têm sido postulados. O plexo corióideo do quarto ventrículo é irrigado pelas artérias cere- belares inferiores posteriores. Quiasma óptico, trato óptico e radiação óptica O suprimento sanguíneo do quiasma óptico, trato óptico e radiação óptica são de considerável importância clínica. O quiasma óptico é irrigado em parte pelas artérias cerebrais anteriores, mas sua zona mediana depende de ramos das artérias carótidas internas que chegam a ela via infundíbulo hipofi sária. As artérias corióidea anterior e comunicante posterior suprem o trato óptico, e a radiação óptica recebe sangue através de ramos profun- dos das artérias cerebrais posteriores e médias. Diencéfalo O tálamo é irrigado principalmente por ramos das artérias comunicantes posteriores, cerebrais posteriores e a artéria basilar. Uma contribuição da artéria corióidea anterior é muitas vezes destacada, porém isto tem sido alvo de discussão. O ramo medial da artéria corióidea posterior supre a comissura posterior, a região habenular, a glândula pineal e a parte medial do tálamo, incluindo o pulvinar do tálamo. Pequenos ramos centrais, que se originam do círculo arterial do cérebro e seus vasos associados, suprem o hipotálamo. A hipófi se é irrigada pelas artérias hipofi sárias derivadas da artéria carótida interna e as artérias cerebral anterior e comunicante ante- rior suprem a lâmina terminal. O plexo corióideo do terceiro ventrículo e dos ventrículos laterais são irrigados por ramos da artéria carótida interna e da artéria cerebral posterior. Núcleos da base A maior parte do suprimento arterial dos núcleos da base vem das artérias estriadas, que são ramos a partir das raízes das artérias cerebrais anterior e média. Elas entram no encéfalo através da substância perfurada anterior e também suprem a cápsula interna. O núcleo caudado recebe sangue adicional das artérias corióideas anterior e posterior. A região posteroin- ferior do núcleo lentiforme é irrigada pelos ramos talamoestriados da artéria cerebral posterior. A artéria corióidea anterior, um ramo pré-termi- nal da artéria carótida interna, contribui para o suprimento sanguíneo de ambos os segmentos do globo pálido e o núcleo caudado. Notoriamente, a ligação deste vaso durante um procedimentoneurocirúrgico em um paciente sofrendo da Doença de Parkinson leva ao alívio dos sintomas parkinsonianos, presumivelmente como uma consequência do infarto do globo pálido. Esta observação ao acaso levou ao início da cirurgia palidal (palidotomia) para esta condição (Cap. 22). Cápsula interna A cápsula interna é irrigada pelas artérias centrais ou perfurantes, que se originam do círculo arterial do cérebro e seus vasos associados. Estas incluem as artérias estriadas lateral e medial originárias das artérias cere- brais média e anterior e que também suprem os núcleos da base. As artérias estriadas laterais suprem o ramo anterior, o joelho e muito do ramo posterior da cápsula interna, e estão comumente envolvidas em acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos. Um dos grandes ramos estriados da artéria cerebral média é conhecido como “artéria de hemor- ragia cerebral de Charcot”. A artéria estriada medial, um ramo da parte proximal da artéria cerebral média ou anterior, supre o ramo anterior, o joelho da cápsula interna e os núcleos da base. A artéria corióidea anterior também contribui para o suprimento da parte ventral do ramo posterior e a parte retrolenticular (retrolentiforme) da cápsula interna. Acidente vascular isquêmico Um acidente vascular refere-se a uma síndrome clínica de um défi cit neu- rológico focal desenvolvido rapidamente que não se deve à crise convul- siva. Se a causa é a falta de suprimento sanguíneo ou sua redução para uma porção do encéfalo, então o termo acidente vascular isquêmico (Fig. 17.9) é usado, como o oposto a um acidente vascular hemorrágico, por exemplo, uma hemorragia subaracnóidea. A falta do fl uxo sanguíneo pode ser devido a patologias no lúmen do vaso, como uma trombose ou êmbolo (comum), patologias fora do vaso sanguíneo, como uma oclusão por efeito de massa de um tumor ou hematoma (raro), ou patologias da parede do vaso, como uma arterite infl amatória ou infecciosa (raro). Os sintomas e sinais de um acidente vascular isquêmico dependem do local e da extensão do infarto arterial. Em certos locais, cada pequena diminui- ção do volume pode causar efeitos devastadores. Por exemplo, a cápsula interna e a maioria dos núcleos da base adjacentes são irrigadas por pequenas artérias perfurantes, que estão em um local comum para aci- dentes vasculares isquêmicos. As vias motoras corticonuclear e corticospi- nal e fi bras talamocorticais de terceira ordem passam através da cápsula interna, sendo que ela é efetivamente a única rota de conexão do córtex cerebral com outras regiões do neuroeixo. Os défi cits neurológicos que resultam do acidente vascular na cápsula interna, portanto, podem incluir hemiparesia espástica contralateral, perda hemissensorial contralateral e défi cits psicológicos. É possível para um vaso principal, como a artéria carótida interna no pescoço, tornar-se ocluído e o indivíduo permanecer assintomático se um fl uxo sanguíneo apropriado puder ser recrutado para suprir a região do encéfalo afetada a partir de outras fontes (suprimento colateral). O papel primário do círculo arterial do cérebro é permitir nesta eventualidade o redirecionamento do sangue de outras fontes como a artéria carótida interna contralateral e o sistema vertebrobasilar no exemplo dado acima. Se o círculo arterial do cérebro está completo, duas ou três de cada quatro artérias principais que suprem o encéfalo podem ocluir sem produzir um acidente vascular isquêmico. Infelizmente o círculo arterial do cérebro é raramente completo (um achado em aproximadamente 15% dos indiví- duos): o acidente vascular isquêmico é, portanto, muitas vezes causado porque o suprimento colateral é inadequado. Por exemplo, um indivíduo em que nem a artéria comunicante anterior nem a artéria comunicante posterior são patentes sofrerá um acidente vascular isquêmico se houver oclusão de uma artéria carótida interna, porque as artérias cerebrais ante- rior e média proximalmente não podem receber fl uxo colateral do círculo arterial do cérebro incompleto. Algum fl uxo colateral pode ser avaliado a partir das anastomoses entre os ramos distais da artéria carótida externa (p. ex., artéria meníngea média), mas invariavelmente isto não é sufi ciente para suprir o hemisfério todo. De maneira um tanto paradoxal, quanto mais distal a oclusão ocorre na vascularização cerebral, mais comumente ela causa um acidente vascu- lar isquêmico (embora o volume do tecido infartado será menor). Isto se dá porque a capacidade principal para formar colateralização é proximal, principalmente no círculo arterial do cérebro. Por exemplo, um êmbolo formado na região proximal da artéria carótida interna pode seguir para o segmento M1 da artéria cerebral média ipsilateral e ocluir o vaso. Existe um escopo muito pequeno para colateralização neste lado e um acidente vascular isquêmico é inevitável, a menos que o êmbolo possa ser remo- vido e o fl uxo restaurado em tempo hábil. Córtex cerebral Todo o suprimento sanguíneo do córtex cerebral vem dos ramos corticais das artérias cerebrais anterior, média e posterior (Figs. 17.4 e 17.5). Em geral, ramos longos atravessam o córtex e penetram na substância branca Suprimento arterial do encéfalo IRRIGAÇÃO SANGUÍNEA E DRENAGEM DO ENCÉFALO 254 S E Ç Ã O 3 são irrigados pela artéria cerebral média, e o restante das faces medial e inferior é irrigado pela artéria cerebral posterior. Próximo ao polo occipital, a zona juncional entre os territórios das artérias cerebrais média e posterior corresponde ao córtex visual (estriado), o qual recebe informação da mácula. Quando a artéria cerebral posterior é ocluída, um fenômeno chamado de ‘moderação macular’ pode ocorrer, no qual a visão com a parte central da retina está preservada. A circulação colateral do sangue proveniente dos ramos da artéria cerebral média para o interior dos ramos da artéria cerebral posterior pode justifi car este fenô- meno. Além disso, em alguns indivíduos, a artéria cerebral média pode suprir sozinha a área macular. Áreas divisórias Regiões do encéfalo localizadas nas margens extre- mas dos principais territórios arteriais cerebrais são chamadas de áreas divisórias: elas são as primeiras a serem privadas do fl uxo sufi ciente de sangue em um evento de hipoperfusão cerebral. Infartos isquêmicos do córtex e da substância branca subcortical adjacente nas margens da zona entre estes territórios são chamados de áreas divisórias, zona limite ou zona de fronteira de infarto. Existem algumas evidências que uma segunda zona de fronteira arterial, a zona de fronteira arterial interna, existe no interior da substância branca do centro semioval e da coroa radiada (entre as artérias centrais anterolaterais e os ramos penetrantes profundos da parte distal da artéria cerebral média). Fluxo sanguíneo cerebral O encéfalo é desprovido de estoque de glicose ou de um meio de arma- zenar oxigênio, e é, portanto, dependente minuto a minuto de um ade- quado suprimento sanguíneo. Ele possui uma alta taxa metabólica em comparação com outros órgãos, o que refl ete a demanda metabólica da constante atividade neural. O suprimento sanguíneo da substância cin- zenta é mais copioso do que o da substância branca. O fl uxo sanguíneo cerebral no encéfalo humano é aproximadamente de 50 ml g-1 min-1. O fl uxo sanguíneo cerebral global é autorregulado, isto é, ele permanece constante nos indivíduos normais apesar das varia- ções na média da pressão sanguínea arterial sobre uma média de 8,7 – 18,7 kPa (65-140 mmHg). Se a pressão sanguínea cair abaixo desta média, o fl uxo sanguíneo cerebral diminui. De modo alternativo, se a pressão aumentar acima desta média, o fl uxo sanguíneo pode subir. A pressão arterial e arteriolar intraluminal controlam diretamente a contra- ção do músculo intramural, de modo que um aumentona pressão arte- rial, por exemplo, causa constrição arterial e o fl uxo sanguíneo permanece constante. Embora a autorregulação normalmente garanta que o fl uxo sanguíneo cerebral global permaneça constante, o fl uxo sanguíneo regional varia em resposta ao nível de atividade neural e, assim, à demanda metabólica local. Isto tem sido demonstrado por muitas áreas cerebrais incluindo as regiões corticais sensoriais e motoras, áreas envolvidas em atividade convulsiva e mesmo áreas corticais envolvidas em processos de pensamento complexo. Os principais fatores locais que afetam o fl uxo sanguíneo regional são os íons de hidrogênio locais (H+) ou a concentração de dióxido de carbono, que causa a dilatação arterial por ação direta sobre o endotélio e através de mediadores indiretos, como o óxido nítrico. Nem todas as substâncias circulantes no sangue arterial têm acesso ao parênquima cerebral. Partículas em suspensão, tais como bactérias, são excluídas. Em geral, moléculas lipofílicas e pequenas moléculas, tais como oxigênio e dióxido de carbono, podem atravessar a barreira hematoence- fálica, mas as hidrofílicas (excluindo a glicose) não podem. A base celular para a barreira hematoencefálica é discutida no Capítulo 3. DRENAGEM VENOSA DO ENCÉFALO A drenagem venosa do encéfalo ocorre através de um sistema complexo de veias superfi ciais e profundas. Estas veias não possuem válvulas e possuem paredes fi nas desprovidas de tecido muscular. Elas perfuram a aracnoide-máter e a camada interna da dura-máter para abrir-se no inte- rior dos seios venosos da dura-máter (Cap. 27). DRENAGEM VENOSA DA FOSSA POSTERIOR As veias do tronco encefálico formam um plexo venoso superfi cial pro- fundo em relação às artérias. As veias do bulbo drenam para o interior das veias da medula espinal, para os seios venosos adjacentes da dura-máter, ou para as veias radicula- res variáveis que acompanham os últimos quatro nervos cranianos tanto para o seio petroso inferior, como para o seio occipital, ou o para bulbo Estenose A Infarto B Fig. 17.9 A, Projeção frontal de uma angiografi a por cateter da artéria carótida interna esquerda, mostrando um estreitamento focal na terminação da artéria carótida interna esquerda e a origem da artéria cerebral média. B, Imagem de ressonância magnética coronal ponderada em T2 do encéfalo no nível dos núcleos da base. Existe um alto sinal anormal no putame esquerdo e na substância branca adjacente, consistente com um infarto. É provável que o infarto seja devido à oclusão de pequenos vasos perfurantes originados na área da estenose e que suprem os núcleos da base. subjacente por 3 ou 4 cm sem comunicação entre elas. Ramos curtos são restritos ao córtex cerebral e formam uma compacta rede na zona média da substância cinzenta, enquanto as zonas externa e interna são irrigadas moderadamente. Embora vasos adjacentes se anastomosem sobre a super- fície do encéfalo, eles se tornam artérias terminais assim que entram nele. Em geral, anastomoses superfi ciais apenas ocorrem entre ramos microscópi- cos das artérias cerebrais, e há poucas evidências de que elas podem prover uma circulação alternativa efetiva após a oclusão de grandes vasos. A face lateral do hemisfério é principalmente irrigada pela artéria cere- bral média. Isto inclui o território dos córtices motor e somatosensorial que representam todo o corpo, a não ser o membro inferior e também o córtex auditivo e a área da linguagem. A artéria cerebral anterior supre uma faixa próxima à margem superomedial do hemisfério, já no sulco parieto-occipital. O lobo occipital e a maioria do giro temporal inferior (excluindo o polo temporal) são irrigados pela artéria cerebral posterior. As faces medial e inferior do hemisfério são irrigadas pelas artérias cerebrais anterior, média e posterior. A área irrigada pela artéria cerebral anterior é a maior, e se estende quase até o sulco parieto-occipital incluindo a parte medial da face orbital. O restante da face orbital e o polo temporal 255 C A P ÍT U L O 1 7 superior da veia jugular. As veias medulares anterior e posterior podem seguir ao longo da fi ssura mediana anterior e do sulco mediano posterior, tornando-se contínuas com as veias espinais em posições corresponden- tes. Veias da ponte, que podem incluir uma veia mediana e uma veia lateral de cada lado, drenam no interior da veia basilar, das veias cerebelares, dos seios petrosos, dos seios transversos ou do plexo venoso do forame oval. Veias do mesencéfalo juntam-se à veia cerebral magna ou à veia basilar. As veias do cerebelo drenam principalmente para os seios adjacentes a elas, ou a partir da face superior, para o interior da veia cerebral magna. As veias cerebelares seguem na superfície cerebelar e consistem dos grupos superior e inferior. As veias cerebelares superiores seguem anteromedial- mente através da região superior do verme do cerebelo até o seio reto ou até a veia cerebral magna, ou então elas seguem lateralmente aos seios transverso e petroso superior. As veias cerebelares inferiores incluem um pequeno vaso mediano que segue para trás sobre a região inferior do verme do cerebelo para entrar no seio reto ou no seio sigmóideo. Vasos em curso lateral se juntam aos seios petroso inferior e occipital. DRENAGEM VENOSA DO HEMISFÉRIO CEREBRAL Veias cerebrais internas e externas drenam as superfícies e o interior do hemisfério cerebral (Figs. 17.10, 17.11, 17.12 e 17.13). As veias cerebrais externas podem ser divididas em três grupos, nomea- dos de superior, médio e inferior. Cerca de 8 a 12 veias cerebrais superiores drenam as faces superolateral e medial de cada hemisfério. Elas seguem principalmente os sulcos, embora algumas passem através dos giros. Elas ascendem para a margem superomedial do hemisfério, onde recebem pequenas veias da face medial, e então se abrem no seio sagital superior. As veias cerebrais superiores na parte anterior do hemisfério juntam-se ao seio quase no ângulo direito. As veias posteriores maiores são direcionadas obliquamente para trás, contra a direção do fl uxo no seio, uma organização que resiste a seu colapso quando a pressão intracraniana é aumentada. A veia cerebral superfi cial média drena a maior parte da face lateral para terminar no seio cavernoso. Uma veia anastomótica superior segue posterossuperiormente entre a veia cerebral superfi cial média e o seio sagital superior, conectando assim o seio sagital superior e o seio caver- noso. Uma veia anastomótica inferior segue sobre o lobo temporal e conecta a veia cerebral superfi cial média ao seio transverso. A veia cerebral profunda média drena a região insular e junta as veias cerebrais anterior e estriada para formar uma veia basilar. As regiões drenadas pelas veias cerebrais anterior e estriada correspondem aproximadamente àquelas irri- gadas pela artéria cerebral anterior e os ramos centrais que entram na substância perfurada anterior. A veia basilar passa atrás e ao longo da região da fossa interpeduncular e do mesencéfalo, recebe tributárias desta região vizinha e junta-se à veia cerebral magna. Veias cerebrais inferiores sobre a face orbital do lobo frontal juntam-se às veias cerebrais superiores e então drenam para o seio sagital superior. Aquelas sobre o lobo temporal se anastomosam com a veia basilar e com a veia cerebral média e drenam para os seios cavernosos, petroso superior e transverso. A veia basilar inicia-se na substância perfurada anterior pela união de uma pequena veia cerebral anterior, que acompanha a artéria cerebral anterior, uma veia cerebral profunda média, que recebe tributárias do lobo insular e giros vizinhos seguindo pelo sulco lateral, e veias estriadas que emergem da substância perfurada anterior. A veia basilar passa posterior- mente ao redor do pedúnculocerebral e segue para a veia cerebral magna recebendo tributárias da fossa interpeduncular, corno inferior do ventrí- culo lateral, giro para-hipocampal e mesencéfalo. Seio sagital inferior Veia cerebral interna Veia cerebral magna Veia basilar Seio reto Veia anastomótica inferior Seio transverso Seio occipital Seio sigmóideoSeio petroso inferior Seio petroso superior Seio cavernoso Veia cerebral profunda média Veia cerebral superficial média Veia cerebral anterior Veias talamoestriadas e corióideas Veia anastomótica superior Seio sagital superior Veia cerebral superficial média Veias cerebrais superficiais Seio sagital superior Veia anastomótica superior Veia anastomótica inferior Seio transverso Seio sigmóideo Veia jugular interna Septo pelúcido Veia corióidea Núcleo caudado Plexo corióideo Veia basilar Corpo caloso Veia talamoestriada Tálamo Veia cerebral interna Veia cerebral magna Fig. 17.10 Sistema venoso do encéfalo mostrando as principais veias superfi ciais e profundas do encéfalo e suas relações com os seios venosos da dura-máter, visto a partir do lado esquerdo. Fig. 17.11 Veias superfi ciais (externas) do hemisfério esquerdo e suas relações com os seios venosos da dura-máter. Fig. 17.12 Veias cerebrais profundas (internas), vistas superiormente após remover a porção central do corpo caloso. Drenagem venosa do encéfalo IRRIGAÇÃO SANGUÍNEA E DRENAGEM DO ENCÉFALO 256 S E Ç Ã O 3 A Veia cerebral magna Seio reto Seio transverso Seio sigmóideo Confluência dos seios Seio sagital superior B Veias corticais Seio sagital superior Confluência dos seios Seio sigmóideo Seio transverso C Seio sagital superior Confluência dos seios Seio transverso Veias corticais Seio sigmóideo A veia cerebral interna drena as partes profundas do hemisfério e plexo corióideo do terceiro e quarto ventrículo. Ela é formada próximo ao forame interventricular, atrás da coluna do fórnice, primariamente pela união das veias talamoestriadas e corióideas, embora numerosas pequenas veias a partir de estruturas circundantes também convirjam aqui. A veia talamoestriada segue anteriormente, entre o núcleo caudado e o tálamo, e recebe muitas tributárias de ambas as áreas. A veia corióidea segue um curso convoluto ao longo de todo o plexo corióideo e recebe veias do hipocampo, fórnice, corpo caloso e estruturas adjacentes. Após sua forma- ção, as duas veias cerebrais internas seguem para trás, paralelas uma a outra, sob o esplênio do corpo caloso onde se unem para formar a veia cerebral magna. A veia cerebral magna é um vaso curto mediano que se curva repentinamente para cima ao redor do esplênio do corpo caloso e se abre na extremidade anterior do seio reto após receber as veias basilares direita e esquerda. Trombose venosinusal intracraniana Uma das patologias mais sérias que afetam o sistema venoso intracraniano é a trombose venosi- nusal. Nesta condição, coágulos de sangue no interior dos seios venosos da dura-máter e/ou nas veias intracranianas, e a obstrução resultante da drenagem venosa, podem produzir complicações que trazem risco à vida. Em muitos casos a causa da trombose venosinusal não é encontrada: trauma envolvendo os seios venosos da dura-máter ou infecções na vizinhança dos seios (p. ex., mastoidite) apresentam riscos signifi cantes. Condições que aumentam a coagulabilidade do sangue, como o uso de contraceptivos orais, gravidez, desidratação e anormalidades inatas das vias de coagulação, são também fatores de risco. Na sua forma mais grave, indivíduos com trombose venosinusal intra- craniana apresentam-se moribundos, em coma ou privados de suas ativi- dades principais; nestas situações o prognóstico é ruim. O coágulo no interior dos seios venosos da dura-máter e/ou veias corticais obstrui a drenagem do sangue venoso do encéfalo e causa hipertensão venosa. Como a pressão no sistema venoso aproxima-se da pressão arterial, a perfusão do sangue das partes afetadas do encéfalo diminui. Se ela dimi- nuir abaixo de um nível crítico, o tecido do encéfalo se tornará isquêmico e poderá morrer (infarto venoso). Como o suprimento arterial para o encéfalo está ainda presente, as áreas infartadas do encéfalo frequente- mente sofrem séria hemorragia, sendo este muitas vezes o fator que mata o paciente. Embora elas possam ocorrer juntas, os clínicos distinguem entre a trombose que afeta o sistema venoso “superfi cial” e o sistema venoso “profundo” (Fig. 17.10). A trombose superfi cial usualmente ocorre no seio sagital superior (com ou sem envolvimento de veias corticais), ao passo que a doença trombótica intracraniana profunda geralmente afeta a veia cerebral magna e o seio reto. As partes do hemisfério cerebral afetadas são diferentes em duas situações; a trombose superfi cial afeta os hemisférios cerebrais (particularmente a substância branca) e a trombose profunda afeta o tálamo e os núcleos da base. No entanto, uma característica comum é a tendência pelo envolvimento bilateral, pois todos os principais canais de drenagem venosa estão na linha mediana e aceitam a drenagem venosa de ambos os hemisférios. Se a extensão da trombose venosinusal intracraniana for menos severa, ou se uma drenagem venosa alternativa foi acomodada por canais colate- rais razoáveis, o paciente pode ter sintomas mais modestos como dores de cabeça ou distúrbios visuais. Estes sintomas são devido ao aumento de pressão intracraniana e, se não tratados, podem tornar-se crônicos. Fig. 17.13 Angiorressonância magnética na fase de contraste venoso, feita em 3.0T em projeção A, lateral; B, frontal e C, superior. REFERÊNCIAS Andeweg J 1996 The anatomy of collateral venous fl ow from the brain and its value in aetiological interpretation of intracranial pathology. Neuro- rad 38: 621–8. Inclui uma breve revisão histórica. Bogousslavsky J,Caplan L (eds) 2002 Stroke Syndromes, 2nd edn. Cambridge: Cambridge University Press. Duvernoy HM, Delon S, Vannson JL 1981 Cortical blood vessels of the human brain. Brain Res Bull 7: 519–79. Duvernoy H, Delon S, Vannson JL 1983 The vascularization of the human cerebellar cortex. Brain Res Bull 11: 419–80. Kaplan HA, Ford DH 1966 The Brain Vascular System. Amsterdam: Elsevier. Plets C, De Reuck J, Vander Eecken H, Van den Bergh R 1970 The vascular- ization of the human thalamus. Acta Neurol Belg 70: 687–770. Puchades-Orts A, Nombela-Gomez M, Ortu-o-Pacheco G 1976 Variation in form of the circle of Willis. Some anatomical and embryological con- siderations. Anat Rec 185: 119–23. Sengupta RP, McAllister VL (eds) 1986 Subarachnoid Haemorrhage. Berlin: Springer-Verlag: 9–31. Inclui detalhes sobre as variações do círculo de Willis. PESCOÇO 444 S E Ç Ã O 4 Suprimento vascular Todos os músculos escalenos são supridos principalmente pelo ramo cervical ascendente da artéria tireóidea inferior. O escaleno posterior recebe um suprimento adicional da artéria cervical superfi cial. Inervação O escaleno posterior é inervado pelas ramifi cações dos ramos ventrais dos três nervos espinhais cervicais inferiores. Ações Quando a segunda costela é fi xada, o escaleno posterior fl ete a extremidade inferior da parte cervical da coluna vertebral para o mesmo lado. Quando sua inserção superior é fi xada, ajuda a elevar a segunda costela. MÚSCULOS VERTEBRAIS POSTERIORES O esplênio da cabeça e o esplênio do pescoço são descritos no Capítulo 42. SUPRIMENTO VASCULAR E DRENAGEM LINFÁTICA ARTÉRIAS DO PESCOÇO As artérias carótida comum, carótida interna e carótida externa fornecem a principal fonte sanguínea para a cabeça e o pescoço (Figs. 28.7A e 28.8).As artérias adicionais surgem de ramos da artéria subclávia, especialmente a artéria vertebral. As artérias carótidas comum, interna e externa e as veias e nervos acompanhantes, todos situam-se em uma fenda que é ligada posterior- mente pelos processos transversos das vértebras cervicais e músculos inse- ridos, medialmente pela traqueia, esôfago, glândula tireoide, laringe e constritores faríngeos, e anterolateralmente pelo esternocleidomastóideo e, em diferentes níveis, pelos músculos omo-hióideo, esterno-hióideo, esternotireóideo, digástrico e estilo-hióideo. As artérias carótidas interna e comum situam-se dentro da bainha carótica, acompanhadas pela veia jugular interna e o nervo vago. Artéria submentual Artéria carótida externa Nervo laríngeo superior Artéria carótida interna Artéria laríngea superior Artéria tireóidea superior Nervo vago Artéria carótida comum Alça cervical Artéria tireóidea inferior Artéria cervical ascendente Nervo frênico Tronco tireocervical Veia jugular interna Veia jugular externa Nervo hipoglosso Veia jugular interna Nervo acessório Artéria occipital Artéria supraescapular Artéria facial Veia retromandibular Artéria vertebral A <1% 4% 12% 30% 35% 12% 5% 1% C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 B Fig. 28.7 A, Vasos e nervos do pescoço, visão lateral esquerda: o esternocleidomastóideo, a parte maior do omo-hióideo e a veia jugular interna foram removidos. Comparar com Fig. 28.17, que mostra um nível mais profundo de dissecação. (A, De Sobotta, 2006.) B, Variação nos níveis de bifurcação da artéria carótida comum, relacionada com as vértebras cervicais. (Redesenhado com permissão de Sobotta, 2006.) 445 C A P ÍT U L O 2 8 Artéria carótida comum As artérias carótidas comuns diferem nos lados direito e esquerdo com relação às suas origens. À direita, a carótida comum origina-se da artéria braquiocefálica quando esta passa posteriormente à articulação esterno- clavicular. À esquerda, a artéria carótida comum vem diretamente do arco da aorta no mediastino superior. A carótida comum direita tem, portanto, apenas uma parte cervical, enquanto a carótida comum esquerda tem partes cervical e torácica. Após um curso semelhante em ambos os lados, a artéria carótida comum sobe, divergindo lateralmente a partir da parte posterior da articulação esternoclavicular no nível da margem superior da cartilagem tireóidea da laringe (articulação C3-4), onde se divide em artérias carótidas interna e externa. Esta bifurcação pode ser, por vezes, em um nível superior. A artéria pode ser comprimida contra o processo trans- verso proeminente da sexta vértebra cervical (tubérculo de Chassaignac) e, acima deste nível, é superfi cial e sua pulsação pode ser facilmente perceptível. Relações Na parte inferior do pescoço, as artérias carótidas comuns são separadas por um intervalo estreito que contém a traqueia. Acima deste, as artérias são separadas pela glândula tireoide, laringe e faringe. Cada artéria carótida é contida dentro da bainha carótica da fáscia cervical profunda, que também inclui a veia jugular interna e o nervo vago. A veia situa-se lateral à artéria, e o nervo situa-se entre elas e posterior a ambas. A artéria é cruzada anterolateralmente, no nível da cartilagem cricoide, por meio do tendão intermediário – algumas vezes o ventre superior – do omo-hióideo. Abaixo do omo-hióideo, é localizada profundamente, coberta por pele, fáscia superfi cial, platisma, fáscia cervical profunda, e esternocleidomastóideo, esterno-hióideo e esternotireóideo. Acima do omo-hióideo, é mais superfi cial, coberta apenas por pele, fáscia superfi - cial, platisma, fáscia cervical profunda e margem medial do esternoclei- domastóideo, e é cruzada obliquamente do seu lado medial para o lateral pelo ramo esternocleidomastóideo da artéria tireóidea superior. A raiz superior da alça cervical, ligada por sua raiz inferior a partir do segundo e terceiro nervos espinhais cervicais, situa-se anterior a, ou incorporada no interior da bainha carótica quando ela atravessa-a obliquamente. A veia tireóidea superior geralmente cruza perto da margem superior da cartila- gem tireóidea, e a veia tireóidea média cruza um pouco abaixo do nível da cartilagem cricoide. A veia jugular anterior cruza a artéria carótida comum acima da clavícula, separada dela pelo esterno-hióideo e pelo esternotireóideo. Posteriores à bainha carótica estão os processos transver- sos da quarta à sexta vértebras cervicais, aos quais estão inseridos o longo do pescoço, o longo da cabeça e as faixas tendíneas do escaleno anterior. O tronco simpático e o ramo cervical ascendente da artéria tireóidea infe- rior situam-se entre a artéria carótida comum e os músculos. Abaixo do nível da sexta vértebra cervical, a artéria está em um ângulo entre o esca- leno anterior e o longo do pescoço, anterior aos vasos vertebrais, tireoide inferior e artérias subclávias, tronco simpático e, do lado esquerdo, o ducto torácico. O esôfago, traqueia, artéria tireóidea inferior e nervo larín- geo recorrente e, em um nível superior, a laringe e a faringe são mediais à bainha e seu conteúdo. A glândula tireoide sobrepõe-se a ela anterome- dialmente. A veia jugular interna situa-se lateral e, na parte inferior do pescoço também anterior, à artéria, enquanto o nervo vago situa-se pos- terolateralmente no ângulo entre a artéria e a veia. No lado direito, em posição inferior no pescoço, o nervo laríngeo recorrente cruza obliquamente posterior à artéria. A veia jugular interna direita diverge dela a partir da porção inferior, mas a veia esquerda apro- xima-se e frequentemente sobrepõe sua artéria. Em 12% dos casos, a artéria carótida comum direita origina-se acima do nível da articulação esternoclavicular, ou pode ser um ramo separado da aorta. A artéria carótida comum esquerda varia de origem mais do que a direita e pode originar-se com a artéria braquiocefálica. A divisão da carótida comum pode ocorrer mais acima, próximo do nível do osso hioide; ou, mais raramente, em um nível inferior ao lado da laringe. Muito raramente, ela sobe sem divisão, de forma que as artérias carótidas externa ou interna estão ausentes, ou elas podem ser substituídas pelas artérias carótidas internas e externas que se originam diretamente da aorta, de um lado, ou bilateralmente. Embora a artéria carótida comum geralmente não tenha ramifi cações, ela pode, ocasionalmente, dar origem às artérias vertebral, tireóidea supe- rior, laríngea superior, faríngea ascendente, tireóidea inferior ou occipital. Artéria carótida externa A artéria carótida externa (Figs. 28.7A e 28.8) começa lateral à margem superior da cartilagem tireóidea, ao nível do disco intervertebral entre a terceira e quarta vértebras cervicais. Um pouco curvada e com um suave espiral, ela primeiro ascende ligeiramente à frente e, em seguida, inclina para trás e um pouco lateralmente, passando a meia distância entre a extremidade do processo mastoide e o ângulo da mandíbula. Aqui, na substância da glândula parótida atrás do colo da mandíbula, divide-se em seus ramos terminais, as artérias temporal superfi cial e maxilar. À medida que sobe, dá origem a vários ramos grandes e diminui rapidamente de calibre. Em crianças, a carótida externa é menor do que a carótida interna, mas nos adultos as duas têm quase o mesmo tamanho. Na sua origem, está no trígono carotídeo e situa-se anteromedial à artéria carótida interna. Mais tarde, ela torna-se anterior; em seguida, lateral à carótida interna na medida em que sobe. Nos níveis mandibulares, o processo estiloide e suas estruturas anexas passam pelos vasos: a carótida interna é profunda, e a carótida externa superfi cial, ao processo estiloide. Uma ponta do dedo colocada no trígono caróticopercebe uma pulsação arterial poderosa, que representa o término da carótida comum, as origens das carótidas interna e externa, e os troncos dos ramos iniciais da carótida externa. Relações A pele e a fáscia superfi cial, a alça entre o ramo cervical do nervo facial e o nervo cervical transverso, a fáscia cervical profunda e a margem anterior do esternocleidomastóideo, todos situam-se superfi ciais à artéria carótida externa no trígono carótico. A artéria é cruzada pelo nervo hipoglosso e sua veia acompanhante e pelas veias lingual, facial e, por vezes, tireóidea superior. Saindo do trígono carótico, a artéria carótida externa é cruzada pelo ventre posterior do digástrico e pelo estilo-hióideo, e sobe entre estes e a superfície posteromedial da glândula parótida, na qual ela entra em seguida. Dentro da parótida, a artéria situa-se medial ao nervo facial e à junção das veias temporal superfi cial e maxilar. A parede faríngea, o nervo laríngeo superior e a artéria faríngea ascendente são as relações mediais iniciais da artéria. Em um nível superior, ela é separada da artéria carótida interna pelo processo estiloide, estiloglosso e estilo- faríngeo, nervo glossofaríngeo, ramo faríngeo do nervo vago e parte da glândula parótida. A artéria apresenta uma probabilidade igual de situ- ar-se medial à glândula parótida ou dentro dela. A artéria carótida externa tem oito conhecidos ramos distribuídos na cabeça e pescoço. As artérias tireoide superior, lingual e facial originam-se da sua superfície anterior; as artérias occipital e auricular posterior surgem da sua superfície posterior; e a artéria faríngea ascendente, de sua superfí- cie medial. As artérias maxilar e temporal superfi cial são os seus ramos terminais dentro da glândula parótida. Artéria tireóidea superior A artéria tireóidea superior é o primeiro ramo da artéria carótida externa e surge da superfície anterior da carótida externa logo abaixo do nível do corno maior do osso hioide (Figs. 28.7A e 28.8). Ela desce ao longo da margem lateral do tireo-hióideo, atingindo o ápice do lobo da glândula tireoide. Situados medialmente estão o músculo constritor inferior e o Artéria faríngea ascendente Ramo faríngeo do vago Artéria carótida interna Estilofaríngeo Nervo glossofaríngeo Nervo laríngeo superior Artéria carótida externa Artéria auricular posterior Artéria facial Nervo hipoglossso Artéria lingual Ramo interno do nervo laríngeo superior Artéria tireóidea superior Ramo externo do nervo laríngeo superior Raiz superior da alça cervical Raiz inferior da alça cervical Alça cervical Artéria carótida comum Nervo acessório Processo estiloide Ramo esternocleidomastóideo superior da artéria occipital Digástrico, ventre posterior Artéria occipital Nervo vago Ramo esternocleidomastóideo inferior da artéria occipital Veia jugular interna Artéria maxilar Artéria temporal superficial Fig. 28.8 Ramos da artéria carótida externa. Observar as estruturas que cruzam a veia jugular interna e as artérias carótidas ou passam entre as artérias carótidas externa e interna. Suprimento vascular e drenagem linfática PESCOÇO 446 S E Ç Ã O 4 ramo externo do nervo laríngeo superior: o nervo é frequentemente pos- teromedial e, portanto, em risco quando a artéria está sendo ligada. Oca- sionalmente, pode ter origem diretamente da carótida comum. Ramos A artéria tireóidea superior supre a glândula tireoide e parte da pele adja- cente. Os ramos glandulares são: um anterior, que corre ao longo do lado medial do polo superior do lobo lateral para suprir principalmente a superfície anterior; um ramo que cruza acima do istmo para anastomosar com o ramo contralateral; e um posterior, que desce sobre a margem posterior para suprir as superfícies medial e lateral e anastomosa com a artéria tireóidea inferior. Às vezes, um ramo lateral supre a superfície lateral. A artéria também tem os seguintes ramos conhecidos: infra- hióideo, laríngeo superior, esternocleidomastóideo e cricotireóideo. Artéria infra-hióidea A artéria infra-hióidea é um pequeno ramo que corre ao longo da margem inferior do osso hioide abaixo do tireo-hióideo e anastomosa com o seu ramo contralateral para suprir os músculos infra- hióideos (em fi ta). Artéria laríngea superior A artéria laríngea superior acompanha o ramo interno do nervo laríngeo superior. Abaixo do tireo-hióideo, ela perfura a parte inferior da membrana tireo-hióidea para suprir os tecidos da parte superior da laringe. Anastomosa com o seu ramo contralateral e com o ramo laríngeo inferior da artéria tireóidea inferior. Artéria esternocleidomastóidea A artéria esternocleidomastóidea desce lateralmente através da bainha carótica e supre a região média do esternocleidomastóideo. Tal como a própria artéria de origem, ela pode originar-se diretamente da artéria carótida externa. Artéria cricotireóidea A artéria cricotireóidea cruza no alto do liga- mento cricotireóideo anterior, anastomosa com o seu ramo contralateral e supre o cricotireóideo. Artéria faríngea ascendente A artéria faríngea ascendente é o menor ramo da carótida externa. É um vaso longo, delgado, que surge da superfície média (profunda) da artéria carótida externa perto da origem dessa artéria. Ela sobe entre a artéria carótida interna e a faringe até a base do crânio. A artéria faríngea ascen- dente é cruzada pelo estiloglosso e pelo estilofaríngeo, e o longo da cabeça situa-se posterior a ela. Dá origem a numerosos ramos pequenos para suprir o longo da cabeça e o longo do pescoço, o tronco simpático, os nervos hipoglosso, glossofaríngeo e vago, e alguns dos linfonodos cervi- cais. Anastomosa com o ramo palatino ascendente da artéria facial e com o ramo cervical ascendente da artéria vertebral. Seus ramos conhecidos são as artérias faríngea, timpânica inferior e meníngeas. Artéria faríngea A artéria faríngea dá origem a três ou quatro ramos para suprir os músculos constritores da faringe e estilofaríngeo. Um ramo variável supre o palato, e pode substituir o ramo palatino ascen- dente da artéria facial. A artéria desce anteriormente entre a margem superior do constritor superior e o levantador do véu palatino até o palato mole, e também supre um ramo até a tonsila palatina e o tubo faringotimpânico. Artéria timpânica inferior A artéria timpânica inferior é um pequeno ramo que atravessa o canalículo temporal com o ramo timpânico do nervo glossofaríngeo e supre a parede medial da cavidade timpânica. Ramos meníngeos Os ramos meníngeos são vasos pequenos que suprem os nervos que atravessam o forame lácero, forame jugular e canal do hipoglosso, e a dura-máter associada e osso adjacente. Um ramo, a artéria meníngea posterior, atinge a fossa cerebelar através do forame jugular, e geralmente é considerado como o ramo terminal da artéria faríngea ascendente. Artéria lingual A artéria lingual fornece o principal suprimento sanguíneo para a língua e o assoalho da boca (Fig. 28.8; Cap. 30). Surge anteromedialmente da artéria carótida externa no lado oposto à extremidade do corno maior do osso hioide, entre a tireoide superior e as artérias faciais. Frequentemente, surge com a artéria facial ou, menos frequentemente, com a artéria tireóidea superior. Ela pode ser substituída por um ramo da artéria maxilar. Ascendendo medialmente, em primeiro lugar, ela faz uma alça inferior e anterior, passa medial à margem posterior do hioglosso e depois corre horizontalmente para a frente abaixo dele. A artéria lingual, em seguida, sobe de novo quase verticalmente, e cursa sinuosamente para a frente na superfície inferior da língua até o seu ápice. Um curso adicional da artéria lingual é descrito na página 505. Relações Sua relação com o hioglosso naturalmentedivide a artéria lingual em “terços” descritivos. Na sua primeira parte, a artéria lingual está no trígono carótico. Pele, fáscia e platisma são superfi ciais a ela, enquanto o músculo constritor médio da faringe é medial. A artéria sobe um pouco medialmente, e depois desce até o nível do osso hioide, e a alça assim formada é cruzada externamente pelo nervo hipoglosso. A segunda parte passa ao longo da margem superior do osso hioide, abaixo do hioglosso, os tendões do digástrico e estilo-hióideo, a parte inferior da glândula submandibular e a parte posterior do milo-hióideo. O hioglosso separa-a do nervo hipoglosso e sua veia acompanhante. Aqui a sua face medial junta-se ao músculo constritor médio e atravessa o ligamento estilo- hióideo acompanhada pelas veias linguais. A terceira parte é a artéria profunda da língua, que desvia superiormente perto da margem anterior do hioglosso e, em seguida, passa anterior próximo da superfície lingual inferior perto do frênulo, acompanhada pelo nervo lingual. O genioglosso é uma relação medial e o músculo longitudinal inferior da língua situa-se lateral a ele abaixo da membrana mucosa lingual. Perto do ápice da língua, a artéria lingual anastomosa com a artéria contralateral. Seus ramos conhecidos são as artérias supra-hióidea, dorsal da língua e sublingual. Artéria supra-hióidea A artéria supra-hióidea é um ramo pequeno que corre ao longo da margem superior do osso hioide para anastomosar com a artéria contralateral. Ela supre as estruturas adjacentes. Artérias dorsais da língua As artérias dorsais da língua são descritas na página 505. Artéria sublingual A artéria sublingual é descrita na página 505. Artéria facial A artéria facial (Figs. 28.7 e 28.8; Figs. 29.13 e 29.18) origina-se anterior- mente da carótida externa no trígono carótico, acima da artéria lingual e imediatamente acima do corno maior do osso hioide. No pescoço, de onde se origina, é coberta somente pela pele, platisma, fáscias e frequen- temente pelo nervo hipoglosso. Corre superior e anteriormente abaixo do digástrico e estilo-hióideo. Primeiramente no constritor médio da faringe, pode atingir a superfície lateral do estiloglosso, separada, neste local, da tonsila palatina apenas por esse músculo e pelas fi bras linguais do constri- tor superior. Medial ao ramo mandibular, ela arqueia superiormente e sulca a parte posterior da glândula submandibular. Em seguida, desvia inferiormente e desce até a margem inferior da mandíbula em um sulco lateral sobre a glândula submandibular, entre a glândula e o pterigóideo medial. Ao atingir a superfície da mandíbula, a artéria facial curva ao redor de sua margem inferior, anterior ao músculo masseter, entrando na face: o seu curso adiante é descrito na página 490. A artéria é muito sinuosa em toda sua extensão. No pescoço, esta característica é tão acentuada que a artéria é capaz de se adaptar aos movimentos da faringe durante a deglutição; e de maneira semelhante na face, de modo que a artéria pode adaptar-se aos movimentos da mandíbula, lábios e bochechas. A pulsação da artéria facial é mais palpável onde a artéria cruza a base da mandíbula, e também perto do ângulo da boca. Suas ramifi cações no pescoço são as artérias palatina ascendente, tonsilar, submentual e glandular. Artéria palatina ascendente A artéria palatina ascendente inicia-se próximo à origem da artéria facial. Ela passa superiormente entre o estilo- glosso e o estilofaríngeo para atingir o lado da faringe, ao longo da qual sobe entre o constritor superior da faringe e o pterigóideo medial em direção à base do crânio. Ela bifurca perto do levantador do véu palatino. Um ramo acompanha este músculo curvando-se sobre a margem superior do constritor superior da faringe para suprir o palato mole e anastomo- sando com seu ramo contralateral e com o ramo palatino maior da artéria maxilar. O outro ramo penetra o músculo constritor superior para suprir a tonsila e o tubo faringotimpânico e anastomosando com as artérias tonsilar e faríngea ascendente. Artéria tonsilar A artéria tonsilar promove o suprimento sanguíneo principal para as tonsilas palatinas. Ela sobe entre o pterigóideo medial e o estiloglosso, penetra o constritor superior da faringe na margem superior do estiloglosso e entra no polo inferior da tonsila. Seus ramos ramifi cam na tonsila e na musculatura da parte posterior da língua. A artéria tonsilar pode algumas vezes originar-se na artéria palatina ascendente. Artéria submentual A artéria submentual é o maior ramo cervical da artéria facial (Fig. 28.7). Surge quando a artéria facial afasta-se da glândula submandibular e volta-se anteriormente no milo-hióideo abaixo da mandíbula. Supre a pele e músculos sobrejacentes e anastomosa com o ramo sublingual do ramo lingual e milo-hióideo da artéria alveolar infe- rior. Na região mentual, ascende sobre a mandíbula e divide-se em ramos 447 C A P ÍT U L O 2 8 superfi cial e profundo, que anastomosam com as artérias labial inferior e mentual para suprir a região mentual e lábio inferior. Ramos glandulares Três ou quatro vasos grandes suprem a glândula salivar submandibular e linfonodos associados, músculos e pele adjacente. Artéria occipital A artéria occipital origina-se posteriormente da artéria carótida externa, a aproximadamente 2 cm de sua origem (Figs. 28.7A e 28.8). Na sua origem, a artéria é cruzada superfi cialmente pelo nervo hipoglosso, que a circunda a partir da parte posterior. Em seguida, a artéria passa posterior, superior e inferiormente do ventre posterior do digástrico, e cruza a artéria carótida interna, veia jugular interna, hipoglosso, e nervos vago e acessório. Entre o processo transverso do atlas e do processo mastoide, a artéria occipital atinge a margem lateral do reto lateral da cabeça. Ela então corre no sulco occipital do osso temporal, medial ao processo mastoide e à inserção do esternocleidomastóideo, esplênio da cabeça, longo da cabeça e digástrico, e situa-se sucessivamente no reto lateral da cabeça, oblíquo superior e semiespinal da cabeça. Finalmente, acompanhada do nervo occipital maior, ela tem trajeto superior perfurando a camada de revestimento da fáscia cervical profunda e ligando as inserções cranianas do trapézio e do esternocleidomastóideo, e sobe tortuosamente na fáscia superfi cial densa do couro cabeludo, onde se divide em muitos ramos. A artéria occipital tem dois ramos principais (superior e inferior) em direção à parte superior do esternocleidomastóideo no pescoço. O ramo menor nasce próximo à origem da artéria occipital e pode, por vezes, surgir diretamente da artéria carótida externa. Ele desce posteriormente sobre o nervo do hipoglosso e veia jugular interna, entra no esternocleidomastói- deo e anastomosa com o ramo esternocleidomastóideo da artéria tireói- dea superior. O ramo superior surge à medida que a artéria occipital cruza o nervo acessório, e corre inferior e posteriormente superfi cial à veia jugular interna. Ele entra na superfície profunda do esternocleidomastói- deo com o nervo acessório. Artéria auricular posterior A artéria auricular posterior é um pequeno vaso que tem origem poste- riormente a partir da carótida externa pouco acima do digástrico e do estilo-hióideo. Ela sobe entre a glândula parótida e o processo estiloide até o sulco entre a cartilagem auricular e o processo mastoide, e divide-se em ramos auricular e occipital, que são descritos juntamente com a face na página 491. No pescoço, fornece os ramos para suprir o digástrico, estilo-hióideo, esternocleidomastóideo e a glândula parótida. Além disso, dá origem à artéria estilomastóidea – descrita como um ramo indireto da artéria auricular posterior em cerca de um terço dos indivíduos – que entra no forame estilomastóideo para suprir o nervo facial, cavidadetimpânica, células aeríferas do antromastóideo e canais semicirculares. Nos jovens, o seu ramo timpânico posterior forma uma anastomose circular com o ramo timpânico anterior da artéria maxilar. Artéria carótida interna A artéria carótida interna supre a maior parte do hemisfério cerebral ipsi- lateral, olhos e órgãos acessórios, fronte e, em parte, o nariz. A partir de sua origem na bifurcação carótica (Fig. 28.8), onde, geralmente, tem um seio carotídeo, ela sobe anterior aos processos transversos das três vérte- bras cervicais superiores à abertura inferior do canal carótico na parte petrosa do osso temporal. Aqui, entra na cavidade craniana e curva-se anteriormente através do seio cavernoso no sulco carótico na parte lateral do corpo do osso esfenoide. Ela termina abaixo da substância perfurada anterior pela divisão em artérias cerebral anterior e média. Pode ser con- venientemente dividida em partes cervical, petrosa, cavernosa e cerebral. Relações A artéria carótida interna é inicialmente superfi cial no trígono carótico; em seguida, passa mais profundamente, medial ao ventre poste- rior do digástrico. Salvo próximo ao crânio, a veia jugular interna e o nervo vago são laterais a ela no interior da bainha carótica. A artéria carótida externa é primeiro anteromedial, mas em seguida curva-se de volta situ- ando-se superfi cialmente. Posteriormente, a carótida interna junta-se ao longo da cabeça e o gânglio simpático cervical superior situa-se entre eles. O nervo laríngeo superior cruza obliquamente posteriormente a ela. A parede faríngea situa-se medial à artéria, que é separada por gordura e veias faríngeas a partir da artéria faríngea ascendente e do nervo laríngeo superior. Anterolateralmente, a artéria carótida interna é coberta pelo esternocleidomastóideo. Abaixo do ventre posterior do digástrico, o nervo hipoglosso, a raiz superior da alça cervical, e as veias lingual e facial são superfi ciais à artéria. Ao nível do digástrico, a carótida interna é cruzada pelo estilo-hióideo e pelas artérias occipital e auricular posterior. Acima do digástrico, é separada da artéria carótida externa pelo processo estiloide, pelo estiloglosso e estilofaríngeo, pelo nervo glossofaríngeo e o ramo faríngeo do vago, e pela parte mais profunda da glândula parótida. Na base do crânio, os nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso situam-se entre a artéria carótida interna e a veia jugular interna, que aqui se tornou posterior. O comprimento da artéria varia com o comprimento do pescoço e o ponto da bifurcação carótica. Ela pode surgir a partir do arco aórtico, caso em que reside medial à carótida externa até a laringe, onde cruza posterior a ela. A porção cervical é normalmente reta, mas pode ser muito tortuosa quando fi ca mais próximo à faringe do que o habitual, muito perto da tonsila. A artéria carótida interna entra no crânio sem dar origem a nenhum ramo. Ocasionalmente, ela pode estar ausente. A doença aterosclerótica oclusiva dentro da carótida interna ou caró- tida comum pode causar AVC ou ataques isquêmicos transitórios (AIT), caracterizados por fraqueza do lado contralateral. Ela também pode resul- tar em distúrbios visuais classicamente caracterizados como uma “cortina” caindo sobre o campo visual (amaurose fugaz). Estes fenômenos serão experimentados no olho ipsilateral. Seio carótico e glomo carótico A artéria carótida comum apresenta dois órgãos especializados nas pro- ximidades de sua bifurcação, o seio carótico e o glomo carótico. Eles retransmitem as informações relativas à pressão e à composição química do sangue arterial, respectivamente, e são inervados principalmente pelo(s) ramo(s) carótico(s) do nervo glossofaríngeo, com pequenas con- tribuições do tronco simpático cervical e do nervo vago. O seio carótico geralmente aparece como uma dilatação da extremi- dade inferior da carótida interna e funciona como um barorreceptor. O glomo carótico é uma estrutura oval, castanho-avermelhada, de 5-7 mm de altura e 2,5-4 mm de largura. Encontra-se posterior à bifurcação carotídea ou entre seus ramos, e é fi xada a, ou, por vezes, parcialmente incorporada, à sua adventícia. Ocasionalmente, assume a forma de um grupo de nódulos separados. Corpos caróticos aberrantes em miniatura, microestruturalmente semelhantes, mas com diâmetros de 600 µm ou menos, podem aparecer na adventícia e no tecido adiposo perto do seio carótico. O glomo carótico é envolvido por uma cápsula fi brosa a partir da qual septos dividem o tecido encapsulado em lóbulos. Cada lóbulo contém células glômicas (tipo I) que são separadas de uma extensa rede de sinu- soides fenestrados por células sustentaculares (tipo II) (Fig. 28.9). As células glômicas armazenam um número de peptídeos, particularmente encefalinas, bombesina e neurotensina e aminas que incluem dopamina, serotonina, adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina), e são portanto consideradas paraneurônios. Os axônios desmielinizados situ- am-se em uma matriz colagenosa entre as células sustentaculares e o endotélio sinusoidal e muitos sofrem sinapse nas células glômicas. Eles são aferentes viscerais que trafegam no seio carótico juntando-se ao nervo glossofaríngeo. Os axônios simpáticos pré-ganglionares e as fi bras do seio carótico sofrem sinapse nas células ganglionares simpáticas e parassimpá- ticas, que se encontram, quer de forma isolada ou em grupos pequenos, perto da superfície de cada glomo carótico. Os axônios pós-ganglionares trafegam para vasos sanguíneos locais: as fi bras eferentes parassimpáticas são provavelmente vasodilatadoras e as simpáticas são vasoconstritoras. O glomo carótico recebe um rico suprimento sanguíneo de ramos da artéria carótida externa adjacente, o que é compatível com o seu papel de quimiorreceptor arterial. Quando estimulado pela hipóxia, hipercapnia ou pelo aumento da concentração de íons hidrogênio (pH baixo) no sangue que fl ui através dele, desencadeia aumentos refl exos da taxa e volume de ventilação por meio de ligações com os centros respiratórios do tronco cerebral. Os glomus são mais proeminentes em crianças e nor- malmente involuem em idade avançada, quando eles estão infi ltrados por linfócitos e tecido fi broso. Os indivíduos com hipóxia crônica, ou os que vivem em grandes altitudes ou sofrem de doença pulmonar, podem ter glomus caróticos aumentados como resultado de hiperplasia. Outros pequenos corpos semelhantes aos glomus caróticos, e também considerados quimiorreceptores, ocorrem próximo às artérias do quarto e sexto arcos faríngeos e, por conseguinte, encontram-se perto do arco aórtico, do ligamento arterioso e da artéria subclávia direita e são supridos pelo nervo vago. Artéria subclávia A artéria subclávia direita surge a partir do tronco braquiocefálico e à esquerda do arco aórtico (Figs. 28.14 e 28.18). Para descrição, cada uma está dividida em uma primeira parte, a partir da sua origem até a margem medial do escaleno anterior, uma segunda parte, posteriormente a este músculo, e uma terceira parte, a partir da margem lateral do escaleno anterior até a margem externa da primeira costela, onde a artéria se torna a artéria axilar. Cada artéria subclávia curva-se em forma de arco sobre a pleura cervical e sobre o ápice pulmonar. As suas primeiras partes diferem, enquanto que a segunda e a terceira partes são quase idênticas. Suprimento vascular e drenagem linfática PESCOÇO 448 S E Ç Ã O 4 Partes das artérias subclávias Primeira parte da artéria subclávia direita A artéria subclávia direita ramifi ca a partir do tronco braquiocefálico posteriormente à margem superior da articulação esternoclavicular direita e passa superolateralmente à margem medial do escaleno anterior. Ela geralmente sobe 2 cm acima da clavícula, mas isso varia. RelaçõesA artéria fi ca abaixo da pele, fáscia superfi cial, platisma, nervos supraclaviculares, fáscia profunda, inserção clavicular do esterno- cleidomastóideo, esterno-hioide e esternotireóideo. Começa posterior- mente à origem da artéria carótida comum direita; mais lateralmente, é cruzada pelo nervo vago, ramos cardíacos do vago e cadeia simpática, e pela veia jugular interna e veias vertebrais; a alça subclávia simpática cir- cunda-a. A veia jugular anterior diverge lateralmente à frente dela, sepa- rada pelo esterno-hióideo e esternotireóideo. Abaixo e posteriormente à artéria, estão a pleura e o ápice pulmonar: estes são separados da artéria pela membrana suprapleural, pela alça subclávia, por uma veia vertebral acessória pequena e pelo nervo laríngeo recorrente que circunda as partes inferior e posterior do vaso. Primeira parte da artéria subclávia esquerda A primeira parte da artéria subclávia esquerda tem origem no arco aórtico, posteriormente à carótida comum esquerda, ao nível do disco entre a terceira e a quarta vértebras torácicas. Ela sobe para o pescoço e, em seguida, arqueia lateralmente à margem medial do escaleno anterior. Relações No pescoço, próximo à margem medial do escaleno anterior, a artéria é cruzada anteriormente pelo nervo frênico esquerdo e pela ter- minação do ducto torácico. Em outros aspectos, as relações anteriores são as mesmas que as da primeira parte da artéria subclávia direita. Posterior e inferiormente, as relações de ambos os vasos são idênticas, mas o nervo laríngeo recorrente esquerdo, medial à artéria subclávia esquerda no tórax, não está diretamente relacionado com a sua parte cervical. Segunda parte da artéria subclávia A segunda parte da artéria subclávia fi ca posteriormente ao escaleno ante- rior; é curta e é a parte mais alta do vaso (Fig. 28.18). Relações A pele, fáscia superfi cial, platisma, fáscia cervical profunda, esternocleidomastóideo e escaleno anterior são anteriores. O nervo frênico direito é frequentemente descrito como sendo separado da segunda parte da artéria subclávia pelo escaleno anterior enquanto ele atravessa a primeira parte da artéria subclávia esquerda. No entanto, ambos os nervos podem algumas vezes situar-se anteriores ao músculo. A membrana supra- pleural, a pleura, o pulmão e o tronco inferior do plexo braquial são posteroinferiores; os troncos superior e médio do plexo são superiores; a veia subclávia é anteroinferior, separada pelo escaleno anterior. Terceira parte da artéria subclávia A terceira parte da artéria subclávia desce lateralmente a partir da margem lateral do escaleno anterior até a margem externa da primeira costela, onde ela torna-se a artéria axilar. É a parte mais superfi cial da artéria e situa-se em parte no trígono supraclavicular, onde as suas pulsações podem ser sentidas e ela pode ser comprimida. A terceira parte da artéria subclávia é o segmento mais acessível da artéria. Como a linha da margem posterior do esternocleidomastóideo aproxima-se da margem lateral (mais profunda) do escaleno anterior, a artéria pode ser sentida no ângulo anteroinferior do trígono posterior. Ela só pode ser efi cazmente com- primida contra a primeira costela: com o ombro deprimido, exerce-se pressão inferior, posterior e medialmente no ângulo entre o esternocleido- mastóideo e a clavícula. Os troncos palpáveis do plexo braquial podem ser injetados com anestesia local, possibilitando a realização de procedi- mentos cirúrgicos de grande porte no braço. Relações A pele, fáscia superfi cial, platisma, nervos supraclaviculares e fáscia cervical profunda são anteriores. A veia jugular externa cruza sua extremidade medial e aqui recebe as veias supraescapular, cervical trans- versa e jugular anterior, que coletivamente formam muitas vezes um plexo venoso. O nervo da subclávia desce entre as veias e a artéria; esta última fi ca terminalmente posterior à clavícula e à subclávia, onde é cruzada pelos vasos supraescapulares. A veia subclávia é anteroinferior e o tronco inferior do plexo braquial é posteroinferior entre a artéria subclávia e o escaleno médio (e sobre a primeira costela). Os troncos superior e médio do plexo braquial (que são palpáveis aqui) e o tronco inferior do omo-hióideo são superolaterais. A primeira costela é inferior. A artéria subclávia direita pode originar-se superior ou inferiormente do nível esternoclavicular; pode ser um ramo aórtico separado e ser o primeiro ou último ramo do arco. Quando é o primeiro ramo, encontra-se na posição de um tronco braquiocefálico. Quando é o último ramo, ori- gina-se da extremidade esquerda do arco, e sobe obliquamente para a direita posterior à traqueia, esôfago e carótida comum direita até a pri- meira costela. Quando isto ocorre, o nervo laríngeo recorrente direito forma um arco ao redor da artéria carótida comum. Às vezes, quando a Axônio parassimpático pré-ganglionar Sinusoide Sinusoide Sinusoide Sinusoide Arteríola Axônio simpático pré-ganglionar Axônios glossofaríngeos Axônio simpático pós-ganglionar Axônio simpático pré-ganglionar Via vasoconstritora Via vasodilatadora Via quimiorreceptora Via glomeral eferente Secreção endócrina Transmissão sináptica Transmissão sináptica recíproca Transmissões pré-sináptica e axoaxonal Tipo I, células glômicas Tipo II, células sustentaculares (bainha) Endotélio Axônios e células ganglionares Célula ganglionar parassimpática Célula ganglionar simpática PSG SG SG PSG Fig. 28.9 Arquiteturas celular, neural e vascular do corpo carótico: vias funcionais são indicadas. 449 C A P ÍT U L O 2 8 os corpos vertebrais e outros comunicam-se com ramos similares através da linha média; a partir dessas conexões, pequenos ramos juntam-se aos ramos semelhantes localizados acima e abaixo, formando uma cadeia anastomótica mediana nas superfícies posteriores dos corpos vertebrais. Ramos musculares Os ramos musculares provêm da artéria vertebral à medida que ela curva ao redor da massa lateral do atlas. Eles suprem os músculos profundos da região suboccipital e anastomosam com as arté- rias occipital, cervical ascendente e profunda. Artéria torácica interna A artéria torácica interna origina-se inferiormente da primeira parte da artéria subclávia, 2 cm acima da extremidade esternal da clavícula, no lado oposto à raiz do tronco tireocervical. Tronco tireocervical O tronco tireocervical é uma artéria larga e curta que se origina anterior à primeira parte da artéria subclávia próximo à margem medial do esca- leno anterior, e divide-se quase de uma só vez nas artérias tireóidea infe- rior, supraescapular e cervical ascendente. Artéria tireóidea inferior A artéria tireóidea inferior faz uma alça superior anterior à margem medial do escaleno anterior, gira medialmente logo abaixo do sexto processo transverso cervical e, em seguida, desce sobre o longo do pescoço até a margem inferior da glândula tireoide (Figs. 28.7A e 28.17). Ela passa anterior aos vasos vertebrais e posterior à bainha carótica e seu conteúdo (e, em geral, ao tronco simpático, cujo gânglio cervical médio frequente- mente junta-se ao vaso). À esquerda, perto da sua origem, a artéria é cruzada anteriormente pelo ducto torácico à medida que este último curva inferolateralmente até seu término. As relações entre os ramos terminais da artéria e o nervo laríngeo recorrente são muito variáveis e de consi- derável importância cirúrgica. Na maioria das vezes, a artéria passa poste- riormente ao nervo à medida que ele aproxima-se da glândula. Entretanto, muito próximo à glândula, o nervo direito apresenta igual probabilidade de estar em posição anterior, posterior ou entre os ramos da artéria, e o nervo à esquerda em geral é posterior. A artéria não é acompanhada pela veiatireóidea inferior. Ramos musculares Esses ramos suprem os músculos infra-hióideos, longo do pescoço, escaleno anterior e constritor inferior da faringe. Artéria cervical ascendente A artéria cervical ascendente é um pequeno ramo que surge à medida que a tireoide inferior vira medial- mente atrás da bainha carótica e sobe nos tubérculos anteriores dos pro- cessos transversos cervicais entre o escaleno anterior e o longo da cabeça. Ela supre os músculos adjacentes e dá origem a um ou dois ramos espi- nhais que entram no canal vertebral através dos forames intervertebrais para suprir a medula espinal e as membranas e os corpos vertebrais e, assim, complementar os ramos espinhais da artéria vertebral. A artéria cervical ascendente anastomosa com as artérias vertebral, faríngea ascen- dente, occipital e cervical profunda. Laríngea inferior A artéria laríngea inferior ascende na traqueia com o nervo laríngeo recorrente, entra na laringe na margem inferior do cons- tritor inferior e supre os músculos da laringe e da mucosa. Anastomosa com o seu ramo contralateral e com o ramo laríngeo superior da artéria tireóidea superior. Ramos faríngeos Estes ramos suprem a parte inferior da faringe. Os ramos traqueais suprem a traqueia e anastomosam com as artérias bron- quiais; os ramos esofágicos suprem o esôfago e anastomosam com os ramos esofágicos da aorta torácica; os ramos glandulares inferiores e ascendentes suprem as regiões posterior e inferior da glândula tireoide e anastomosam com as artérias tireóideas contralateral inferior e ipsilateral superior. O ramo ascendente também supre as glândulas paratireoides. Artéria supraescapular A artéria supraescapular desce lateralmente através do escaleno anterior e do nervo frênico, posterior à veia jugular interna e ao esternocleidomas- tóideo (Fig. 28.7A). Em seguida, cruza anterior a artéria subclávia e o plexo braquial, posterior e paralelo à clavícula, subclávia e ventre inferior do omo-hióideo, atingindo a margem escapular superior. Artéria cervical ascendente A artéria cervical ascendente é originada em um nível superior ao da artéria supraescapular. Cruza anterior ao nervo frênico, escaleno anterior e plexo braquial, e é coberta pela veia jugular interna, esternocleidomastóideo e platisma. Cruza também o assoalho do trígono posterior alcançando a margem anterior do levantador da escápula, e sobe inferiormente à parte anterior do trapézio, que ela supre, juntamente com os músculos adja- centes e os linfonodos cervicais. Anastomosa com o ramo superfi cial do 2% 90% 5% 2% 1% C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 Fig. 28.10. Nível de entrada da artéria vertebral nos forames transversários das vértebras cervicais. Observar que 90% entram no nível da sexta vértebra cervical. (Redesenhado com permissão de Sobotta 2006.) Suprimento vascular e drenagem linfática artéria subclávia direita é o último ramo da aorta, passa entre a traqueia e o esôfago e pode causar disfagia, uma condição conhecida como disfagia lusória. Ela pode perfurar o escaleno anterior, e muito raramente pode passar anterior a ele. Outras vezes, a veia subclávia acompanha a artéria posteriormente ao escaleno anterior. A artéria pode subir até 4 cm acima da clavícula ou pode atingir apenas a sua margem superior. A artéria sub- clávia esquerda está ocasionalmente junta em sua origem com a artéria carótida comum esquerda. Artéria vertebral A artéria vertebral origina-se da face posterossuperior da primeira parte da artéria subclávia. Passa pelo forame transversário de todas as vértebras cervicais, exceto a sétima, curva-se medial e posteriormente à massa lateral do atlas, e entra no crânio através do forame magno (Fig. 28.11). Na margem pontina inferior, junta-se ao seu ramo contralateral formando a artéria basilar. Ocasionalmente, pode entrar na coluna vertebral cervical através da quarta, quinta ou sétima vértebra cervical (Fig. 28.10). Relações A primeira parte passa posterossuperiormente entre o longo do pescoço e o escaleno anterior, posterior à artéria carótida comum e à veia vertebral. É cruzada pela artéria tireóidea inferior e pelo ducto torácico à esquerda e pelo ducto linfático direito no lado direito. O sétimo pro- cesso transverso cervical, o gânglio cervical inferior e os ramos ventrais do sétimo e oitavo nervos espinhais cervicais situam-se posteriores à artéria. A segunda parte sobe através dos forames transversários das vértebras cervicais restantes, acompanhada por um ramo grande a partir do gânglio cervical inferior e por um plexo de veias que formam a veia vertebral inferiormente no pescoço. Situa-se anterior aos ramos ventrais dos nervos espinais cervicais (C.2-C.6) e sobe quase verticalmente passando pelo processo transverso do áxis, quando se curva lateralmente ganhando acesso ao forame transversário do atlas (Fig. 28.11). A terceira parte surge medial ao reto lateral da cabeça e curva posterior e medialmente atrás da massa lateral do atlas, sendo que o primeiro ramo espinal cervical ventral situa-se sobre o seu lado medial. Nesta posição, situa-se em um sulco na superfície superior do arco posterior do atlas, e entra no canal vertebral abaixo da margem inferior da membrana atlanto-occipital posterior. Esta parte da artéria, coberta pelo semiespinal da cabeça, situa-se no trígono suboccipital. O primeiro ramo espinal cervical dorsal separa a artéria do arco posterior. A quarta parte penetra a dura-máter e a aracnoide e sobe anteriormente às raízes do hipoglosso. Inclina anterior à medula oblonga e une-se com seu ramo contralateral, formando a artéria basilar na linha média na margem inferior da ponte. Ramos cervicais da artéria vertebral Ramos espinhais Os ramos espinhais entram no canal vertebral através dos forames intervertebrais e suprem a medula espinal e suas membranas. Eles bifurcam em ramos ascendente e descendente, que se unem com aqueles acima e abaixo, formando duas cadeias anastomóticas laterais sobre as superfícies posteriores dos corpos vertebrais próximo da fi xação de seus pedículos. Os ramos destas cadeias suprem o periósteo e PESCOÇO 450 S E Ç Ã O 4 ramo descendente da artéria occipital. Cerca de um terço das artérias cervi- cal ascendente e dorsal da escápula surge em comum a partir do tronco tireocervical, com um ramo superfi cial (artéria cervical ascendente) e um profundo (artéria dorsal da escápula) (Figs. 25.1, 25.2 e 46.26). Este último passa lateralmente anterior ao plexo braquial e, em seguida, pos- terior ao levantador da escápula. Tronco costocervical À direita, este vaso curto surge posteriormente a partir da segunda parte da artéria subclávia e, do lado esquerdo, a partir de sua primeira parte. Forma um arco acima da pleura cervical até o colo da primeira costela, onde se divide em ramos intercostal superior e cervical profundo. Artéria cervical profunda A artéria cervical profunda geralmente surge do tronco costocervical (Fig. 25.1). É análoga em seu primeiro segmento ao ramo posterior de uma artéria intercostal posterior e, ocasionalmente, é um ramo separado da artéria subclávia. Ela passa posterior acima do oitavo nervo espinal cervical entre o processo transverso da sétima vértebra cervical e o colo da primeira costela (por vezes entre os processos transversos das sexta e sétima vérte- bras cervicais). Em seguida, sobe entre o semiespinal da cabeça e do pescoço até o nível da segunda vértebra cervical. Supre os músculos adja- Tentório do cerebelo Incisura tentorial Nervo trigêmeo Seio venoso dural transverso Nervos facial e vestibulococlear Nervos glossofaríngeo, vago e acessório Nervo acessório, raiz espinal Artéria vertebral Primeiro nervo cervical (suboccipital) Atlas, arco posterior Dura-máter Terceiro ramodorsal cervical Ligamento denticulado Artéria vertebral Nervo vago (medialmente deslocado) Artéria carótida comum Ramo espinal do nervo acessório Gânglio simpático cervical superior Esternocleidomastóideo Veia jugular interna Nervo vago Segundo gânglio espinal cervical Ramo espinal do nervo acessório Atlas, processo transverso Digástrico, ventre posterior Artéria espinal posterior Nervo hipoglosso Sulco mediano do quarto ventrículo Nervo troclear Fig. 28.11. Dissecação do tronco cerebral e parte superior da medula espinal após remoção de porções grandes dos ossos occipital e parietal, cerebelo e teto do quarto ventrículo. À esquerda, os forames transversários do atlas e a terceira, quarta e quinta vértebras cervicais foram abertos para expor a artéria vertebral. Do lado direito, o arco posterior do atlas e as lâminas das vértebras cervicais seguintes foram divididos e removidos juntamente com as espinhas vertebrais e as lâminas contralaterais. O tentório do cerebelo e os seios transversos foram divididos e suas porções posteriores, removidas. A 30% B 10% C 30% D 8% E 1% F 4% Fig. 28.12 Variações nas origens das artérias tireóidea inferior, supraescapular, cervical transversa e torácica interna. (Redesenhado com permissão de Sobotta, 2006.) 451 C A P ÍT U L O 2 8 centes e anastomosa com o ramo profundo do ramo descendente da artéria occipital e com os ramos da artéria vertebral. Um ramo espinal penetra no canal vertebral entre a sétima vértebra cervical e a primeira vértebra torácica. Artéria dorsal da escápula A artéria dorsal da escápula surge a partir da terceira ou, menos frequen- temente, da segunda parte da artéria subclávia. Ela dá origem a um ramo pequeno (que algumas vezes surge diretamente da artéria subclávia) até o escaleno anterior. Ela passa lateralmente através do plexo braquial ante- riormente ao escaleno médio e, em seguida, abaixo do levantador da escápula até o ângulo superior da escápula. VEIAS DO PESCOÇO As veias do pescoço apresentam variação considerável. Elas são superfi ciais ou profundas à fáscia profunda, mas não são sistemas inteiramente dis- tintos. As veias superfi ciais são tributárias, algumas com nomes específi - cos, dados adiante, das veias jugular anterior, externa e posterior (Figs. 28.13 e 28.14). Elas drenam um volume muito menor de tecido do que as veias profundas. Estas últimas drenam todas as estruturas, exceto as subcutâneas, principalmente em direção à veia jugular interna e também à veia subclávia. Veia jugular externa A veia jugular externa drena principalmente o couro cabeludo e a face, embora também drene algumas partes mais profundas. A veia é formada pela união da divisão posterior da veia retromandibular com a veia auricu- lar posterior e começa perto do ângulo da mandíbula logo abaixo ou na glândula parótida (Fig. 25.3). Ela desce do ângulo até a clavícula média, correndo obliquamente, superfi cial ao esternocleidomastóideo, até a raiz do pescoço. Aqui ela atravessa a fáscia profunda e termina na veia subc- lávia, lateral ou anterior ao escaleno anterior. Há válvulas em sua desem- bocadura na subclávia, mas elas não impedem a regurgitação. Sua parede é aderente à extremidade da abertura fascial. Está coberta pelo platisma, fáscia superfi cial e pele, e é separada do esternocleidomastóideo pela fáscia cervical profunda. A veia cruza o nervo cervical transverso e situa-se paralela ao nervo auricular magno, posterior à sua metade superior. Em tamanho, a veia jugular externa é inversamente proporcional a outras veias do pescoço, e pode ser dupla. Entre a desembocadura da veia subclávia e um ponto aproximadamente 4 cm acima da clavícula, a veia frequente- mente é dilatada, produzindo o que se chama de seio. Tributárias Além das tributárias formativas, a jugular externa recebe a jugular externa posterior e, próximo de sua extremidade, as veias cervical transversa, supraescapular e jugular anterior. Na glândula parótida, é fre- quentemente unida por um ramo da jugular interna. A veia occipital ocasionalmente junta-se a ela. Veia jugular externa posterior A veia jugular externa posterior começa no couro cabeludo occipital e drena a pele e os músculos superfi ciais que se situam posterossuperiores no pescoço. Ela geralmente se une à parte média da veia jugular externa. Veia jugular anterior A veia jugular anterior surge próximo ao osso hioide a partir da confl uên- cia das veias submandibulares superfi ciais. Ela desce entre a linha média e a margem anterior do esternocleidomastóideo. Curvando-se lateral- mente na região inferior do pescoço, abaixo do esternocleidomastóideo mas superfi cial aos músculos em fi ta infra-hióideos, une-se à extremidade da veia jugular externa ou pode entrar na veia subclávia diretamente. Em tamanho, normalmente é inversa à veia jugular externa. Comunica-se com a veia jugular interna e recebe as veias da laringe e, por vezes, uma pequena veia tireóidea. Em geral, existem duas veias jugulares anteriores, unidas logo acima do manúbrio por um arco jugular transverso grande, rece- bendo as tributárias tireóideas inferiores. Elas não têm válvulas e podem ser substituídas por um tronco na linha média. Veia jugular interna A veia jugular interna recolhe sangue do crânio, cérebro, partes superfi ciais da face e grande parte do pescoço. Ela começa na base do crânio no com- partimento posterior do forame jugular, onde é contínua com o seio sigmoide. Na sua origem, é dilatada como o bulbo superior, que se situa abaixo da parte posterior do assoalho timpânico. A veia jugular interna desce na bainha carótica e une-se com a veia subclávia, posterior à extremi- dade esternal da clavícula, formando a veia braquiocefálica (Fig. 28.14). Próximo ao seu término, a veia dilata em direção ao bulbo inferior, acima do qual está um par de válvulas. Relações Superiormente, o reto lateral da cabeça, o processo transverso do atlas, o levantador da escápula, o escaleno médio, o escaleno anterior, o plexo cervical, o nervo frênico, o tronco tireocervical, a veia vertebral e a primeira parte da artéria subclávia situam-se posteriores à veia. À esquerda, a jugular interna cruza anterior ao ducto torácico. As artérias carótida interna e comum e o nervo vago são mediais à veia: o nervo situa-se entre veia e artérias, mas posterior a elas. Superfi cialmente, a veia jugular interna é sobreposta acima e, em seguida, coberta abaixo pelo esternocleidomastóideo e é cruzada pelo ventre posterior do digástrico e pelo ventre superior do omo-hióideo. Superiores ao digástrico, a glândula parótida, o processo estiloide, o nervo acessório e as artérias auricular posterior e occipital cruzam a veia. Entre o digástrico e o omo-hióideo, as artérias do esternocleidomastóideo e a raiz inferior da alça cervical cru- zam-na, embora o nervo frequentemente passe entre a veia e a artéria carótida comum. Abaixo do omo-hióideo, a veia é coberta pelos músculos infra-hióideos e pelo esternocleidomastóideo, e é cruzada pela veia jugular anterior. Linfonodos cervicais profundos situam-se ao longo da jugular interna, principalmente em sua face superfi cial. Na raiz do pescoço, a veia jugular interna direita é separada da artéria carótida comum, mas a esquerda em geral sobrepõe sua artéria. Na base do crânio, a artéria carótida interna é anterior à veia, separada dela pelos nono a 12o nervos cranianos. Tributárias O seio petroso inferior, as veias facial, lingual, faríngea, tireóidea superior e média e, ocasionalmente, a veia occipital são todos tributários da veia jugular interna. A veia jugular interna pode comuni- car-se com a veia jugular externa. O ducto torácico abre próximo à união das veias subclávia esquerda e jugular interna, bem comoo ducto linfático direito abre no mesmo local à direita. Seio petroso inferior O seio petroso inferior deixa o crânio através da parte anterior do forame jugular, cruza lateral ou medial do nono ao 11o nervos cranianos e junta-se ao bulbo jugular superior. Veia facial A parte inicial da veia facial quando ela situa-se na face é descrita na página 492. A partir da face, passa sobre a superfície do masseter, cruza o corpo da mandíbula e entra no pescoço onde corre obliquamente de volta sob o platisma. Aqui situa-se superfi cial à glândula submandibular, ao digástrico e ao estilo-hióideo (Fig. 28.14). Imediatamente anteroinferior ao ângulo mandibular, une-se pela divisão anterior da veia retromandibu- lar e então desce superfi cial à alça da artéria lingual, o nervo hipoglosso e as artérias carótidas internas e externa, entrando na jugular interna próximo do corno maior do osso hioide, isto é, no ângulo superior do trígono carótico. Próximo de sua extremidade, um ramo grande frequen- temente desce ao longo da margem anterior do esternocleidomastóideo até a veia jugular anterior. Seu segmento mais alto, acima de sua junção com a veia labial superior, é muitas vezes denominado veia angular. Tributárias As veias submentual, tonsilar, palatina externa (paratonsi- lar), submandibular, veia acompanhante do nervo hipoglosso (algumas vezes), faríngea e tireóidea superior são todas tributárias da porção da veia facial que se situa abaixo da mandíbula. Veia lingual As veias linguais seguem dois caminhos. As veias linguais dorsais drenam o dorso e os lados da língua, unem-se às veias linguais que acompanham a artéria lingual entre o hioglosso e o genioglosso e entram na jugular interna próximo do corno maior do osso hioide. A veia lingual profunda começa próximo ao ápice da língua e segue de volta, situando-se perto da membrana mucosa sobre a superfície inferior da língua. Perto da margem anterior do hioglosso, une-se a uma veia sublingual, a partir da glândula salivar sublingual, formando a veia acompanhante do nervo hipoglosso, que segue de volta entre o milo-hióideo e o hioglosso com o nervo hipo- glosso juntando-se à veia facial, à veia jugular interna ou à lingual. Veias faríngeas As veias faríngeas começam em um plexo faríngeo externo à faringe. Elas recebem veias meníngeas e uma veia do canal pterigóideo, e geralmente terminam na veia jugular interna, mas podem, por vezes, terminar na veia facial, lingual ou tireóidea superior. Veia tireóidea superior A veia tireóidea superior é formada por tributárias profundas e superfi ciais correspondentes aos ramos arteriais na parte superior da glândula tireoide (Figs. 28.13 e 28.14). Acompanha a artéria tireóidea superior, recebe as veias laríngea superior e cricotireóidea, e termina na veia jugular interna ou facial. Veia tireóidea média A veia tireóidea média drena a parte inferior da glândula e também recebe veias da laringe e da traqueia. Cruza anterior à artéria carótida comum, Suprimento vascular e drenagem linfática PESCOÇO 452 S E Ç Ã O 4 juntando-se à veia jugular interna posteriormente ao ventre superior do omo-hióideo. Corpo timpânico O corpo timpânico (glomo jugular) é ovoide, com 0,5 mm de compri- mento e 0,25 mm de largura, e encontra-se na adventícia da parte superior do bulbo superior da veia jugular interna. É semelhante em estrutura ao glomo carótico, e se presume que tenha uma função semelhante. O tipo de célula predominante tem semelhanças morfológicas com as células cromafi ns das suprarrenais e é derivado da crista neural. As células obtidas a partir de paragangliomas do glomo jugular apresentam supercresci- mento de neurite espontânea em cultura e têm atividade semelhante ao peptídeo intestinal vasoativo (VIP). O corpo timpânico pode estar pre- sente como duas ou mais partes próximas do ramo timpânico do nervo glossofaríngeo ou do ramo auricular do vago quando se situam dentro de seus canais na parte petrosa do osso temporal. Tumores de corpos timpâni- cos podem envolver os nervos cranianos adjacentes e a orelha média. Veia subclávia A veia subclávia é uma continuação da veia axilar e estende-se desde a margem externa da primeira costela até a margem medial do escaleno anterior, onde se junta à veia jugular interna para formar a veia braquio- cefálica (Fig. 28.14). A clavícula e o músculo subclávio situam-se anterior a ela; a artéria subclávia é posterossuperior, separada pelo escaleno ante- rior e o nervo frênico; e a primeira costela e a pleura são inferiores. A veia geralmente tem um par de válvulas a 2 cm de sua extremidade. Suas tributárias são a veia jugular externa, a escapular dorsal e, por vezes, a veia jugular anterior. Na sua junção com a veia jugular interna, a veia subclávia esquerda recebe o ducto torácico e a veia subclávia direita recebe o ducto linfático direito. Veia vertebral Numerosas tributárias pequenas dos plexos vertebrais internos deixam o canal vertebral acima do arco posterior do atlas e juntam-se a pequenas veias dos músculos profundos locais no trígono suboccipital. Sua união produz um vaso que entra no forame do processo transverso do atlas e forma um plexo em torno da artéria vertebral. Ela desce através de forames transversários sucessivos e termina como a veia vertebral. A veia surge a partir do sexto forame transversário cervical, de onde desce, em um primeiro momento, anterior e, em seguida, anterolateral à artéria verte- bral, se abrindo superoposteriormente em direção à veia braquiocefálica: a abertura tem uma válvula pareada. À medida que desce, passa posterior- mente à veia jugular interna e anteriormente à primeira parte da artéria subclávia. Uma pequena veia vertebral acessória em geral desce do plexo vertebral, atravessa o sétimo forame transversário cervical e curva-se para a frente entre a artéria subclávia e a pleura cervical, juntando-se à veia braquiocefálica. Tributárias A veia vertebral une-se com o seio sigmoide por um vaso no canal condilar posterior, quando este existe. Também recebe ramos da veia occipital, dos músculos pré-vertebrais, e dos plexos vertebrais interno e externo. A ela juntam-se as veias vertebral anterior e cervical profunda (ver adiante) e, por vezes perto de sua extremidade, a primeira veia intercostal. Veia vertebral anterior A veia vertebral anterior começa em um plexo ao redor dos processos transversários cervicais anteriores, desce próximo à artéria cervical ascen- dente entre as origens do escaleno anterior e o longo da cabeça, e abre em direção à extremidade da veia vertebral. Veia cervical profunda A veia cervical profunda acompanha sua artéria entre os músculos semiespinhais da cabeça e do pescoço. É formada na região suboccipital pela união de ramos comunicantes da veia occipital, das veias dos mús- culos suboccipitais e das veias dos plexos ao redor da coluna cervical. Ela Digástrico, ventre anterior Veia jugular anterior Veia submentual Veia facial Veia retromandibular Veia jugular interna Veia tireóidea superior Veia jugular externa Artéria carótida comum Esternocleidomastóideo Veia cervical superficial Veia cervical transversa Omo-hióideo, ventre inferior Veia tireóidea inferior Artéria facial Nervo hipoglosso Veia facial Veia occipital Veia tireóidea superior Veia jugular interna Istmo da glândula tireoide Veia jugular externa Veia jugular anterior Omo-hióideo Trapézio Veia cefálica Peitoral maior Veia toracoacromial Veia axilar Arco venoso jugular Veia facial Fig. 28.13 Veias do pescoço, observadas anteriormente. A maior parte do esternocleidomastóideo foi removida no lado esquerdo e as extremidades inferiores cortadas foram refl etidas sobre a clavícula. (De Sobotta, 2006.) 453 C AP ÍT U L O 2 8 passa anteriormente entre o sétimo processo transversário cervical e o colo da primeira costela, terminando na parte inferior da veia vertebral. Acesso venoso central A canulação venosa central permite o monitoramento da pressão venosa central e da administração de medicamentos diretamente na circulação central. Canulação da veia jugular interna O paciente é colocado em posição supina com a cabeça ligeiramente voltada para o lado contralateral. Os principais pontos de referência anatômicos são as duas cabeças inferiores do esternocleidomastóideo, que formam dois lados de um triângulo com a clavícula como sua base. A veia jugular interna situa-se entre as duas cabeças do músculo, ligeiramente lateral e anterior à artéria carótida comum. Após a pele ter sido preparada, injeta-se anestésico local em torno do vértice do triângulo. Com uma mão palpando a artéria carótida, o médico insere uma agulha no vértice do triângulo e a ponta é direcionada lateral ao ponto médio do triângulo, com uma angulação descendente de 30°. A partir de uma abordagem jugular interna alta, insere-se uma agulha no ponto médio da margem medial do esternocleidomastóideo e direciona-se para o mamilo ipsila- teral com uma angulação descendente de 30-45°. Quando a veia jugular interna esquerda é canulada, devem-se tomar cuidados adicionais para evitar o ducto torácico e a cúpula pleural, que é mais alta do que o lado direito, uma disposição que aumenta o risco de pneumotórax acidental. A veia jugular interna esquerda frequentemente tem diâmetro menor do que a direita. Canulação da veia subclávia A canulação da veia subclávia é realizada com o paciente em posição supina, a cabeça ligeiramente virada para o lado oposto e os braços colo- cados de lado. O leito é inclinado inferiormente em 10° e uma pequena almofada de rolo pode ser colocada entre as escápulas, a fi m de assegurar que a área infraclavicular esteja mais proeminente. Limpa-se a pele e injeta-se anestésico local na pele 3 cm lateralmente ao ponto médio da clavícula. A agulha venosa central é então inserida a partir da extremidade inferior da clavícula em direção à incisura supraesternal. A agulha é dire- cionada de maneira a passar logo abaixo da margem posterior da clavícula; deve-se tomar cuidado para evitar o direcionamento da agulha inferior- mente, o que pode causar um pneumotórax. A aspiração suave da seringa é realizada enquanto a agulha está sendo avançada até que a veia subclávia seja puncionada. GRUPOS DE LINFONODOS CERVICAIS Os linfonodos da cabeça e pescoço são distribuídos em grupos terminais e periféricos (Fig. 28.15; Fig. 25.5). O grupo terminal está relacionado com a bainha carótica e os linfonodos que ela contém são os linfonodos cer- vicais profundos. Todos os vasos linfáticos da cabeça e do pescoço drenam para este grupo, seja diretamente a partir de tecidos, ou indiretamente através de linfonodos nos grupos periféricos. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos cervicais profundos formam o tronco jugular. O tronco jugular direito drena linfa do membro superior direito e metade direita do tórax e parte direita da cabeça e pescoço e pode terminar na junção jugulossubclávia ou ducto linfático direito. O tronco jugular esquerdo em geral termina no ducto torácico, mas pode juntar-se à veia jugular interna ou subclávia. Drenagem linfática do pescoço Muitos vasos que drenam os tecidos cervicais superfi ciais margeiam as bordas do esternocleidomastóideo atingindo os linfonodos cervicais pro- fundos superiores ou inferiores. Outros passam para os linfonodos cervi- cais e occipitais superfi ciais. A linfa da região superior do trígono anterior drena para os linfonodos submandibulares e submentuais. Os vasos da pele cervical anterior, inferiores ao osso hioide, passam para os linfonodos Nervo vago Primeira costela Cartilagem tireóidea Veia jugular externa Artéria tireóidea superior Veia retromandibular Veia occipital Osso hioide Veia tireóidea superior Nervo hipoglosso Artéria subclávia Veia subclávia Veia tireóidea média Plexo braquial, parte supraclavicular Nervo frênico Nervo acessório Nervo vago Omo-hióideo Veia jugular interna Veia subclávia Artéria carótida comum, nervo laríngeo recorrente esquerdo Nervo laríngeo recorrente esquerdo Veias tímicasVeia braquiocefálica esquerda Veia cava superior Veia braquiocefálica direita Veia tireóidea inferior Veia torácica interna Veia jugular anterior Veia cervical transversa Artéria cervical transversa Fig. 28.14 Veias do pescoço, observadas anteriormente e em um nível mais profundo do que na Figura 28.13. Ambos os esternocleidomastóideos foram removidos e uma dissecação adicional expôs a glândula tireoide e algumas das estruturas que passam através da abertura torácica superior. (De Sobotta, 2006.) Suprimento vascular e drenagem linfática 489 C A P ÍT U L O 2 9 contração parcial dos músculos labiais superiores pode resultar em eleva- ção localizada de um segmento do lábio superior, em uma expressão postural que lembra o “rosnar do cão”. Normalmente, contudo, a ativi- dade dos músculos é modifi cada pela atividade subreposta do orbicular da boca e dos músculos modiolares. As ações resultantes variam desde ajustes delicados da tensão e do perfi l das margens do lábio até grandes aumentos da fi ssura oral com eversão dos lábios. A protrusão labial é passiva em seus estágios iniciais. Pode ser supri- mida pela contração poderosa de todo o orbicular da boca ou reforçada pela ativação seletiva de partes dos músculos labiais diretos. No entanto, os movimentos labiais devem acomodar a separação dos dentes produzida pelo abaixamento mandibular nas articulações temporomandibulares. Além de uma determinada faixa de abertura da boca, os movimentos labiais são quase totalmente dominados pelos movimentos mandibulares. Assim, ao longo dos últimos 2,5-3 cm de distância interincisal da separa- ção ampla da mandíbula, uma contração forte do orbicular da boca não é capaz de efetuar o contato dos lábios e, em vez disso, provoca infl exão de espessura total dos lábios superior e inferior, incluindo a zona do vermelhão, em direção à cavidade oral, envolvendo-os ao redor das extre- midades incisais, cúspides dos caninos e superfícies oclusais dos pré- molares. O envolvimento dos lábios na fala é descrito no Capítulo 34, mas alguns aspectos relevantes para as ações da parte marginal do orbi- cular da boca serão descritos neste capítulo. Acredita-se que a contração da parte marginal altera de tal maneira o perfi l transversal da margem livre da zona do vermelhão que tanto o perfi l suavemente bulboso do lábio superior como a convexidade posterossuperior lisa do lábio inferiormudam para um perfi l triangular simétrico estreito. As extremidades transforma- das, cujos comprimento e tensão podem ser delicadamente controlados, têm sido chamadas de cordões labiais. Sabe-se que estão envolvidas na produção de alguns sons consonantais (labiais). Um cordão labial também pode funcionar como uma “palheta de vibração” ao assobiar ou tocar um instrumento de sopro, como o trompete. Modíolo e seu papel nos movimentos faciais De cada lado da face, um determinado número de músculos converge em direção a um foco imediatamente lateral ao ângulo da boca, onde se entrelaça formando uma massa fi bromuscular densa, compacta, móvel, chamada de modíolo. Ele pode ser palpado de maneira mais efi caz com o uso do polegar e do dedo indicador opostos para comprimir a mucosa e a pele simultaneamente. Pelo menos nove músculos, dependendo da classifi cação utilizada, são fi xados a cada modíolo. Além disso, os múscu- los situam-se em diferentes planos, os seus troncos modiolares são fre-