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Introdução Aos nossos alunos e colaboradores Se constatarem que utilizamos – na íntegra ou em parte e sem a devida citação da fonte – obras protegidas por direito autoral, solicitamos entrarem em contato para que, procedente a reclamação, providenciemos a imediata retirada do material indevidamente disponibilizado. Enfatizamos, contudo, o caráter excepcional, inadvertido e de boa-fé dos procedimentos, pois é nosso objetivo principal difundir o conhecimento e a cidadania, por meio de oferta gratuita, plural e democrática. Equipe de Educação a Distância do ILB Guia do estudante parte 1 Guia do Estudante As orientações abaixo ajudarão você, estudante a distância, a utilizar melhor os recursos didáticos do nosso curso. Estas instruções visam a auxiliá-lo durante todo o seu percurso, levando-o a um maior aproveitamento e sucesso em seus estudos. O material didático, elaborado conforme os preceitos da Educação a Distância, está dividido em Módulos, cujos conteúdos são colocados de maneira clara e compreensível. Familiarize-se com os recursos disponíveis em nosso ambiente virtual de aprendizagem, o Trilhas: Guia do Estudante parte 2 Ao acessar o curso, explore as funcionalidades localizadas no menu lateral: COMUNICAÇÃO Guia do Estudante parte 3 APOIO Guia do Estudante parte 4 AVALIAÇÃO FINAL Guia do Estudante parte 5 Guia do Estudante parte 6 RECOMENDAÇÕES Apresentação Apresentação Olá! Seja bem-vindo ao curso de Administração Pública do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), na modalidade de Educação a Distância sem tutoria. Conhecer a Administração Pública deixou de ser, desde há muito, do interesse exclusivo dos agentes públicos, sejam eles gestores ou servidores. O conhecimento do aparelho estatal e das diversas vertentes de desenvolvimento institucional e humano da Administração atrai o interesse de todos os cidadãos. Para melhor compreender a disciplina, torna-se necessário certo conhecimento prévio de Administração Geral, com seu histórico e conceituação. Na verdade, muito do que se busca implantar na área decorre de releituras e adaptações daquilo que existe na Administração como ciência social. Outros pré-requisitos recomendáveis são o Direito Administrativo e a Ciência Política. Na fronteira entre as ciências, pode-se considerar que a Administração Pública aconteça no encontro entre a Ciência Política, o Direito Administrativo e a Administração de Empresas. Daí surge o modo operacional do Estado, na forma de sua máquina pública. Trata-se de um conteúdo bastante diversificado, abrangente e, ainda assim, distante do esgotamento do assunto. É voltado ao conhecimento introdutório da Administração. A este, muito se pode acrescentar em termos de profundidade, especificidade e temas adicionais. Compõem o curso, além do material teórico, exercícios de autoavaliação e fóruns aberto à comunidade onde você poderá se colocar e interagir com seus colegas. Aproveite bem esse espaço que é notadamente vivencial. Comecemos agora e tenha você, então, muito sucesso nesta caminhada de aprendizado que ora se inicia. MÓDULO I - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: INTRODUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL Unidade 1 - O estado, o mercado e o bem público estatal Olá, Antes de iniciarmos nosso estudo da Administração Pública, devemos ter como ponto de partida o reconhecimento do espaço que o Estado ocupa ao lado dos demais setores da sociedade. Para isso, vamos aprender quais são os papeis e pontos de vista do Estado, do mercado e do bem público não estatal, que são o 1º, o 2º e o 3º setores da sociedade respectivamente. Será que seria possível imaginar a vida numa sociedade sem qualquer tipo de gestão? Vejamos: A relação entre o público e privado, em termos de propriedade, no mundo todo ganhou forte evidência com a falência das monarquias a partir do século XVIII e o consequente surgimento da organização político-administrativa nacional conhecida como “Estado Moderno”. Até então, tudo pertencendo ao monarca, a gestão se dava em razão de seus interesses próprios, sem que houvesse a identidade do bem comum, ou patrimônio de todos. Pág. 2 O Estado Moderno e suas concepções: Com o advento do Estado Moderno, o tamanho da máquina pública e sua interferência na vida nacional passaram a fundamentar-se na orientação ideológica dos governos. Nesse sentido, presenciamos ao longo do século XX uma polarização entre os Estados liberais (Estado mínimo), tidos como “de direita”, e os Estados sociais (Estado provedor e garantidor de direitos), tidos como “de esquerda”. No tênue e instável ponto de equilíbrio entre esquerda e direita, que variou de país para país, cada Estado se acomodou e vimos, ao longo das décadas, constituírem-se as sociais-democracias, ou “Estados do bem-estar social”, vertentes intermediárias entre as extremas direita e esquerda, dentre as quais se posicionou o Brasil. As principais características desse modelo ideológico refletem-se no papel desempenhado pelo Estado em cada realidade nacional e na dimensão de sua consequente máquina de governo. Pág. 3 A concepção liberal do Estado No modelo liberal, é deixado grande espectro de liberdade de ação ao particular, ou mercado, com sua livre iniciativa. Nessa linha, o empreendedorismo e a competição acontecem de maneira solta, fracamente regulada. Sobrevivem e prosperam os mais fortes, os mais preparados, os mais capazes, os mais bem providos. Quem a esse grupo não pertença, simplesmente perde espaço. É o modelo da meritocracia pura, ou seja, prospera aquele que consiga fazer de maneira autônoma. O que se observa nesse modelo é uma tendência à exclusão social. Os mais ricos tornam-se cada vez mais prósperos e os mais pobres cada vez mais afastados das possibilidades de progresso. Aí, afastado do domínio econômico, o Estado liberal observa e age tão somente na garantia da propriedade privada, dos Direitos Humanos e pouco mais do que isso. É a repetição do paradoxo burguesia x proletariado, existente lá atrás no tempo, à época das revoluções burguesas, dentre as quais a Revolução Francesa, que marcou o início da era contemporânea. Pág. 4 Nos Estados Unidos não existem hospitais públicos. Lá, ou a pessoa paga grandes somas por tratamentos de saúde quando deles necessite ou contribui, ao longo de sua vida, para o seguro social, que, dessa maneira, garante-lhe o atendimento devido. Naquele país, quem não se inclui entre uma dessas opções simplesmente não tem acesso a tratamentos de saúde. São críticas que se apresentam ao Estado liberal: 1. O liberalismo tende a perpetuar a desigualdade social pela abusiva concentração de riqueza nas mãos de minorias. 2. A contínua e irreversível exclusão dos que empobrecem colapsa o mercado pela falta de consumidores. Sob esse ponto de vista, o modelo liberal desmorona por si somente, uma vez que apenas os ricos não conseguem fazer com que a economia funcione. Foi a falência do modelo liberal que levou os Estados Unidos à depressão de 1930, e a humanidade à 1ª Guerra Mundial. Pág. 5 A concepção social do Estado O modelo de Estado social, ou Estado provedor, surgido também na primeira metade do século XX, inclusive como contraponto ao modelo liberal, propõe políticas públicas onde o Estado passa a assumir papéis de intervenção no domínio econômico. Então, a máquina administrativa avoluma-se de forma a prover a sociedade com serviços públicosque estejam à disposição de todos, independentemente de situação social. Um exemplo disso é o sistema público de ensino brasileiro. Nele, o Estado provê educação gratuita a quem não possa contratá-la de escolas da rede privada, ou que dessa forma opte. Assim, ricos e pobres passam a ter acesso à educação. O custo disso corre por conta da arrecadação de impostos, que, a cada nova política social, avoluma-se. Pág. 6 Um claro exemplo de evidente política de cunho social e intervencionista do Poder Público no acesso à educação de nível superior é a Lei nº 12.711, de 2012, que estabelece cotas sociais para alunos das universidades federais. Com a lei, 50% das vagas devem ser preenchidas por alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas, com reservas para alunos negros, pardos e indígenas, em percentuais que variam conforme a distribuição dessas etnias no respectivo estado da federação. Outro exemplo de política notadamente social é a transferência direta de renda, na forma de programas como o Bolsa Família. Nele, famílias com baixa renda per capita mensal recebem um benefício assistencial do Estado, a título de apoio à cobertura de suas necessidades mínimas de subsistência. São críticas que se apresentam ao Estado social: Pág. 7 isfatória. As pessoas queixam-se por pagarem muito e não desfrutarem do respectivo retorno. O discurso geral é o de que as pessoas pagam duplamente pelos serviços, ou seja, tanto pelo recolhimento de impostos quanto na contratação de serviços de mercado, para terem atendidas as necessidades para as quais a opção do Estado não seja sat Esses são argumentos muito fortes, que têm desafiado os gestores públicos no sentido de que a Administração elimine, ou reduza ao mínimo possível, a ineficiência, o desperdício e a corrupção, o que resultará numa menor necessidade de impostos e sua utilização mais racional, com consequente aumento da qualidade dos serviços públicos. Outra crítica, subliminar, é a de que as pessoas atendidas por políticas públicas tendem a se acostumar e acomodar com o benefício concedido pelo Estado. Assim, deixam de buscar condições melhores, por meio da conquista de independência da política social. Exemplo: uma disfunção do programa Bolsa Família surge quando o beneficiário, por opção própria, recusa chances de emprego formal, pois assim será excluído do programa, optando, então, pelo mercado informal, que não gera impostos e nem garante proteção ao trabalhador. Pág. 8 As Organizações Não Governamentais (ONGs) Atuando paralelamente a essa aparente disputa entre o Estado e o mercado, com muita competência a sociedade se organizou e constituiu as Organizações Não Governamentais (ONGs), também chamada de 3º setor. Nessa classificação, o Estado é o 1º setor e o mercado o 2º. Passou a existir, assim, o bem público não estatal. O que são as ONGs? Regidas pela Lei nº 9.790, de 1999, são entidades da sociedade civil organizada sem fins lucrativos, com personalidades jurídicas do direito privado que, por iniciativa autônoma e voluntária de seus membros, organizaram-se para atuar em espaços públicos desocupados tanto pelo Estado quanto pelo mercado. Uma das principais características dessas organizações sociais é o desinteresse pelo lucro. Realizam trabalhos sociais de cunho relevante para a comunidade, na qualidade de entidades filantrópicas. Os valores que porventura recolham de sua clientela servem, exclusivamente, para a realimentação da própria organização. Devido à natureza filantrópica dessas entidades, que contam com o reconhecimento do Estado, podem elas se conveniarem com o Poder Público para, a partir daí, receberem subvenções. A esses valores aplicam-se as mesmas obrigações dos gastos públicos, posto que se trate de dinheiro público, como a prestação de contas e a contratação por meio de concorrência pública. São exemplos bem conhecidos de ONGs: Federação Nacional das APAES (FENAPAES) e a União dos Escoteiros do Brasil (UEB). Pág. 9 Estado x Mercado Outra abordagem acerca do dilema Estado x mercado bastante pertinente ao nosso estudo diz respeito aos motivos que colocam as organizações públicas e privadas para funcionar. Que interesses distintos movem a Administração Pública e a organização privada? Embora tenham convivência harmônica, Estado e mercado atuam em áreas bastante distintas, havendo fortes diferenças entre um e outro. Na lida privada, o objetivo principal das organizações é a obtenção de lucro, com ampliação de mercado por meio da competitividade. Com esse resultado, uma empresa privada bem sucedida tende a prosperar e estabelecer-se, enquanto que mal sucedida tende a perder posição no mercado competitivo, ou mesmo a desaparecer. Outro aspecto de forte evidência no mercado é a liberdade para investir e inovar. Os administradores do mercado possuem total liberdade para adquirir tecnologias, selecionar pessoal, adotar metodologias, criar padrões, seguir rumos gerenciais e fazer tudo o mais que possa proporcionar maiores crescimento e lucro. O ônus dessa liberdade reside na consequência do insucesso, qual seja, o prejuízo financeiro e a perda de mercado. Nesse caso, os administradores gerenciam bens privados, respondendo diretamente aos seus proprietários pela gestão patrimonial que executam. Podem eles ser valorizados, premiados, demitidos à livre vontade do patrão. É o direito privado que cuida dessa relação. Nesse caso, a legislação a tudo permite, exceto o que seja expressamente proibido. Pág. 10 E o gestor, o que move seu interesse na Administração Pública? Não é o lucro, ou a competitividade, mas sim a qualidade dos serviços prestados à sociedade e o pleno atendimento do cidadão, sinônimos que são da supremacia do interesse público. Além disso, enquanto que no mercado a liberdade de gestão é absoluta, no Estado o gestor deve conduzir-se conforme a Lei determina. Na área pública, a liberdade de ação encontra-se estritamente vinculada à legislação vigente, ou seja, só pode ser feito aquilo que seja expressamente permitido, sendo tudo o mais tacitamente proibido – Trata-se do império das Leis. Na atividade pública é o direito público que cuida das relações. Há que ser assim, posto que o gestor público lida com o patrimônio comum da nação. Não presta contas ou se reporta diretamente aos “donos da firma”, mas sim à coletividade, representada pelos Poderes Constituídos. Nessa situação é o legislador, representante do povo, por meio das Leis que elabora e que o Presidente da República sanciona, quem define o que seja, ou não, permitido fazer. Fica claro, dessa distinção, que o mercado caminha com passos muito mais rápidos que o Estado. Comparação injusta é aquela que busca colocar lado a lado um e outro. É essa diferença de ritmo, imposta pela natureza diversa de ambos os setores, a responsável pela desigualdade que resulta da mera comparação que muitos fazem entre Estado e mercado. Pela distinção de desenvoltura, muitos associam ao mercado, e seus trabalhadores, a vantagem da eficiência, enquanto que ao Poder Público, e seus servidores, a pecha da ineficiência. Há que se compreender, e aceitar, que o processo de mudança e inovação na atividade pública seja bem mais demorado do que na atividade privada. Pág. 11 Visando propiciar caminhos legislativos para o melhor entrosamento entre o Estado e o mercado, o Poder Público tem criado e aperfeiçoado legislações que regulam a interação entre um e outro. Dentre estas, destacam-se a Lei nº 8.666, de 1993, que institui normas para licitações e contratos da Administração Pública, e a Lei nº 11.079, de 2004,que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Conforme a lei, na contratação de parceria público-privada serão observadas as seguintes diretrizes: Pág 12 Unidade 2 - A Administração Pública, do estado novo aos dias de hoje Vimos, na unidade anterior, a posição que o Estado ocupa ao lado dos demais setores da sociedade. Agora veremos a evolução histórica da Administração Pública brasileira, com as diversas tentativas de modernização da máquina, levadas a efeito a partir da década de 1930, momento histórico a partir do qual a preocupação com o aperfeiçoamento da Administração tornou-se mais evidente nos planos de governo. Pág. 2 Vamos conhecer a evolução dos fatos políticos mais marcantes acontecidos no país neste período? A primeira tentativa de estruturação da Administração Pública brasileira data da década de 1930, com o Estado Novo de Getúlio Vargas. Até então, desde a transferência da corte portuguesa para o Brasil, a Administração era fortemente marcada pelo predomínio do improviso e raramente voltada ao interesse público. Era o tempo do coronelismo, numa época em que prevalecia sobremaneira a prática do patrimonialismo na Administração, que é o uso da máquina conforme os interesses particulares nada republicanos do administrador. A criação do DASP e o modelo burocrático Pretendendo dar uma solução austera à situação existente, à mão forte Getúlio Vargas promoveu novo rumo para a máquina administrativa do País. Com a Constituição de 1937, criou o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), que, adotando o modelo burocrático de Max Weber, tão bem sucedido na Alemanha pré-nazista, representou a primeira reforma do Estado, lançada por Vargas logo no início de seu período autoritário, que perdurou de 1937 até 1945. Vargas pretendia industrializar o País, tornando-o liberto do acentuado índice de importações então existente. Para tanto, considerava necessária a construção de uma máquina pública ágil, profissionalizada e capaz de dar as respostas de que se necessitava. Foram de sua criação a Companhia Vale do Rio Doce (VALE), para a prospecção de minério de ferro, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), para a produção de aço, a PETROBRAS, para a exploração do petróleo, dentre outras. Pág. 3 O modelo rígido e hierarquizado foi pautado pelo controle minucioso das atividades-meio, o que não poderia ter sido diferente àquela época, posto que houvesse forte necessidade de corrigirem-se os rumos da administração do Estado. Segundo Chiavenato (2008), era a intenção de Vargas atingir a três objetivos principais: Foram marcantes, naquele momento, o surgimento das primeiras carreiras de Estado, a adoção do concurso público como forma de acesso ao serviço público e, como jamais antes acontecera, a adoção de planos de capacitação para a formação de quadros profissionalizados de servidores públicos. O Brasil estava ganhando novo rumo, com um forte viés desenvolvimentista, num cenário de fortalecimento da indústria nacional. Nesse contexto, o Estado assumiu papel acentuadamente interventor no domínio da produção de bens e serviços. Pág. 4 Nesse movimento, ficou patente que a adoção do modelo burocrático proveria a Administração com pessoal e serviços compatíveis com o capitalismo de vanguarda emergente no País. Era a adoção do modelo de administração científica, de Frederick Taylor, com ênfase nas tarefas, racionalização, padronização e simplificação. Para Taylor, o funcionário era negligente, desinteressado e sem capacidade para analisar e estabelecer racionalmente o processo de trabalho que fosse mais eficiente, necessitando ser orientado, conduzido, fiscalizado. Com a administração científica ocorreu a divisão de responsabilidades: a administração ficou com o planejamento e a supervisão, enquanto que o trabalhador executava a tarefa. Taylor propunha organizar e descrever os cargos e as tarefas para a racionalização do trabalho. Tal foi o modelo adotado nos primórdios da Administração Pública do Brasil, perfeitamente adaptável à burocracia weberiana. Diretamente vinculado à Presidência da República, coube ao Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) elaborar o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União, primeiro documento de referência para o servidor público, que equivaleu ao atual Regime Jurídico Único do Servidor Público Civil (RJU) – Lei nº 8.112, de 1990. Ocorre que a Administração pública brasileira, embora carregue consigo fortes ligações com a racionalidade da administração como ciência social, sofre com a irracionalidade das relações políticas existentes no País, especialmente as que regem as relações de governo. Dessa forma, a burocracia não logrou êxito em afastar de maneira definitiva o patrimonialismo da máquina pública, que prevalece ativo em intensidade mais discreta até os dias de hoje, apesar dos planos e reformas administrativas que se sucederam ao longo das décadas. O modo burocrático, contudo, devido à baixa credibilidade e confiança que se depositava no servidor público de então, mostrou-se ser a forma mais adequada para a época. Pág. 5 Com o passar dos anos, percebeu-se que a burocracia emperrava sobremaneira a área-meio, causando fortes entraves na realização das políticas de Estado. Sua falta de flexibilidade tornava inviável uma gestão ágil para o Brasil. Ao longo dos governos que se sucederam, em meio a atribulações políticas, promoveram-se diversas tentativas no sentido de que o entrave burocrático fosse reduzido e a tão necessária agilidade conquistada. JK, com seu slogan desenvolvimentista 50 anos de desenvolvimento em 5 de governo, criou a Comissão de Simplificação da Burocracia (COSB), com subcomissões ministeriais, por meio do Decreto-Lei nº 39.605, de 1956. Vinculada ao DASP, a COSB tinha por finalidade a simplificação das normas e rotinas administrativas, visando o funcionamento racional das repartições públicas federais e dos órgãos autárquicos. As subcomissões ministeriais tinham a mesma finalidade atribuída à Comissão, nas áreas de jurisdição relativas aos respectivos ministérios ou órgãos. Eram resultados esperados da COSB: Pág. 6 Na escolha de propostas de modernização de rotinas, levou-se em conta a maior produção; a maior rapidez; a maior precisão e adequação aos fins visados; o menor custo de implantação e operação. Acerca da Administração Pública, dizia o Decreto-Lei nº 39.605, de 1956 Art. 17. Nas propostas relativas a atividades de administração geral, ter-se-á em vista: a) servir ao público com eficiência e presteza; b) adotar um sistema de arquivamento que permita a pronta identificação e localização dos papéis; c) adotar um sistema de cadastro de pessoal simples, mas completo; d) adotar um sistema de comunicação que produza a distribuição rápida dos papéis, maior segurança nas informações, controle do andamento dos processos e funcionamento mais dilatado do expediente de protocolo; e) controlar os gastos de combustível e outros com veículos oficiais; f) padronizar os métodos de aquisição, estocagem, fornecimento e recuperação de material, adotando-se formulários de fácil entendimento; g) controlar os gastos de manutenção, mediante o confronto dos serviços prestados com a despesa realizada; h) estabelecer um sistema de processamento rápido dos débitos da Administração, para maior facilidade de pagamento. ... Anos após, já no regime militar, nova tentativa de modernização da máquina foi posta a efeito,por meio do Decreto-Lei nº 200, de 1967. Nesse período, a vertente de planejamento ganhou acentuada importância, num ambiente institucional de elevados centralismo político e presença do Estado no setor produtivo. Ganhou força a administração indireta e a descentralização administrativa, com coordenação e controle. Fortemente valorizados nos regimes militares, para os servidores o sistema de mérito e a estruturação de cargos públicos conquistaram acentuado avanço. Grande impulso foi dado à presença do Estado em setores da economia por meio da criação de empresas de governo, na forma de sociedades de economia mista e empresas públicas; de autarquias; e também de organismos independentes, que eram as fundações públicas. Pág. 7 O DL 200-67 estabeleceu ampla descentralização executória na Administração Pública, sendo mantido, contudo, o absoluto controle político, por meio da nomeação de altos gestores e cadeias inteiras de comando que fossem alinhadas com o regime. Decreto-Lei nº 200, de 1967.. Art. 10 - A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada. § 1º A descentralização será posta em prática em três planos principais: a) dentro dos quadros da Administração Federal, distinguindo-se claramente o nível de direção do de execução; b) da Administração Federal para a das unidades federadas, quando estejam devidamente aparelhadas e mediante convênio; c) da Administração Federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões. § 2° Em cada órgão da Administração Federal, os serviços que compõem a estrutura central de direção devem permanecer liberados das rotinas de execução e das tarefas de mera formalização de atos administrativos, para que possam concentrar-se nas atividades de planejamento, supervisão, coordenação e controle. § 3º A Administração casuística, assim entendida a decisão de casos individuais, compete, em princípio, ao nível de execução, especialmente aos serviços de natureza local, que estão em contato com os fatos e com o público. § 4º Compete à estrutura central de direção o estabelecimento das normas, critérios, programas e princípios, que os serviços responsáveis pela execução são obrigados a respeitar na solução dos casos individuais e no desempenho de suas atribuições. § 5º Ressalvados os casos de manifesta impraticabilidade ou inconveniência, a execução de programas federais de caráter nitidamente local deverá ser delegada, no todo ou em parte, mediante convênio, aos órgãos estaduais ou municipais incumbidos de serviços correspondentes. § 6º Os órgãos federais responsáveis pelos programas conservarão a autoridade normativa e exercerão controle e fiscalização indispensáveis sobre a execução local, condicionando- se a liberação dos recursos ao fiel cumprimento dos programas e convênios. § 7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e controle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução. § 8º A aplicação desse critério está condicionada, em qualquer caso, aos ditames do interesse público e às conveniências da segurança nacional. ... Percebe-se neste trecho do decreto que se tratava de uma descentralização apenas operacional. Nela, inexistia qualquer aspecto de liberdade administrativa real. Pág. 8 Outra grande novidade trazida pelo DL 200-67 foi a adoção da contratação no regime da CLT para os trabalhadores das autarquias, das empresas públicas e das sociedades de economia mista. Esse dispositivo garantiu a necessária flexibilidade nas relações de emprego dessas organizações, por meio da captação de profissionais de mercado, que poderiam ser contratados e demitidos sem os entraves burocráticos existentes no caso da administração direta. Decreto-Lei nº 200, de 1967 ... Art . 182 - Nos casos dos incisos II e III do art. 5º e no do inciso I do mesmo artigo, quando se tratar de serviços industriais, o regime de pessoal será o da Consolidação das Leis do Trabalho; nos demais casos, o regime jurídico do pessoal será fixado pelo Poder Executivo. ... O DL 200-67 possibilitou a descentralização que as entidades da administração indireta necessitavam para atuar em seus nichos de mercado. Senão, o engessamento em uma máquina gigantesca tornaria inviável qualquer possibilidade de sucesso. Pág. 9 A iniciativa que se seguiu datou do ano de 1979 e foi lançada pelo último governo do regime militar. Tratou-se do Programa Nacional de Desburocratização, criado pelo Decreto-Lei nº 83.740, de 1979, que tinha a condição de ministério extraordinário, com o intuito de dinamizar e simplificar o funcionamento da Administração Pública Federal. Decreto-Lei nº 83.740, de 1979 ... Art. 3º O programa terá por objetivo: a) contribuir para a melhoria do atendimento dos usuários do serviço público; b) reduzir a interferência do Governo na atividade do cidadão e do empresário e abreviar a solução dos casos em que essa interferência é necessária, mediante a descentralização das decisões, a simplificação do trabalho administrativo e a eliminação de formalidades e exigências cujo custo econômico ou social seja superior ao risco; c) agilizar a execução dos programas federais para assegurar o cumprimento dos objetivos prioritários do Governo; d) substituir, sempre que praticável, o controle prévio pelo eficiente acompanhamento da execução e pelo reforço da fiscalização dirigida, para a identificação e correção dos eventuais desvios, fraudes e abusos; e) intensificar a execução dos trabalhos da Reforma Administrativa de que trata o Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, especialmente os referidos no Título XIII; f) fortalecer o sistema de livre empresa, favorecendo a empresa pequena e média, que constituem a matriz do sistema, e consolidando a grande empresa privada nacional, para que ela se capacite, quando for o caso, a receber encargos e atribuições que se encontram hoje sob a responsabilidade de empresas do Estado; g) impedir o crescimento desnecessário da máquina administrativa federal, mediante o estímulo à execução indireta, utilizando-se, sempre que praticável, o contrato com empresas privadas capacitadas e o convênio com órgãos estaduais e municipais; h) velar pelo cumprimento da política de contenção da criação indiscriminada de empresas públicas, promovendo o equacionamento dos casos em que for possível e recomendável a transferência do controle para o setor privado, respeitada a orientação do Governo na matéria. ... Pág. 10 Acerca desse movimento de simplificação cartorial, há que se reconhecer que a burocracia excessiva contribui com a maior incidência de corrupção. Fica patente que a burla de procedimentos detalhados, inúteis e dispensáveis constitua campo propício para a simplificação, ou celeridade, mediante recompensa indevida. Desburocratizar, então, implica diretamente na redução da corrupção. Um dos intuitos do Programa foi o de conter o danoso ritmo de crescimento da máquina administrativa que fora promovido pelo DL 200-67, propiciando condições para que a iniciativa privada ocupasse espaços então tomados pelo Estado. Isso permitiria o recuo da atividade pública àquelas que lhe fossem típicas. Esse foi o primeiro indicativo de que, anos mais tarde, haveria um forte processo de rearranjo do Estado, com asprivatizações. A Nova República Então, assistiu-se ao fim do regime militar, que deu abertura ao período político-administrativo conhecido como Nova República. Era a transição democrática, que necessitava alterar os rumos de uma máquina pública por um lado dispersa e fragmentada em termos de estrutura, e, por outro, excessivamente centralizada em termos de comando. Necessitava-se de algo mais ágil e democrático, com entes públicos autônomos, voltados à missão pública do Estado, com menor volume e maior capacidade de se movimentar, conforme a dinâmica de uma democracia. Acrescente-se a isso o movimento de globalização pelo qual o mundo tem passado desde a década de 80, no qual se perceberam, em diversos países, processos de reengenharia administrativa no setor público sendo levados a efeito. O Brasil buscou esse rumo. Pág. 11 A reforma administrativa da Nova República Em 1985, o Presidente da República José Sarney editou o Decreto nº 91.309, de 1985, que dispunha sobre a Reforma da Administração Pública Federal, com o qual incumbia ao Ministro de Estado Extraordinário para Assuntos de Administração promover a execução do Plano de Reforma da Administração Pública Federal, praticando ou propondo os atos necessários à sua efetivação. Compunham o plano: A reforma administrativa da Nova República, contudo, não logrou êxito, em primeiro lugar devido a dificuldades com o Congresso Nacional. Recentemente saído do autoritarismo político imposto pelo regime militar, o Congresso encontrava-se fragmentado em partidos pequenos. O bipartidarismo ARENA– MDB fora substituído por um multipartidarismo incipiente, o que dificultava a formação de uma base de apoio aos planos de governo que fosse consistente. Além disso, a crise econômica ganhou forte importância, tendo sido lançado o Plano Cruzado, que visou pôr ordem na economia e conter a inflação galopante de então. O debate da reforma administrativa acabou, por fim, perdendo importância diante de questões ligadas ao tamanho do mandato presidencial, que fora reduzido de seis para cinco anos, e também sobre necessidade de alterações no sistema de governo brasileiro. Pág. 12 A Constituição de 1988 Ainda no início do governo de José Sarney, instalou-se a Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de elaborar uma nova Constituição para o País, promulgada em 1988. Acerca da Administração Pública, foram as seguintes algumas das inovações trazidas pela Constituição de 1988: É certo que a ascensão do município à condição de ente federado acarretou a principal alteração da estrutura administrativa promovida pela Carta. A partir de então, deixou de existir a figura do Decreto-Lei, tão empregado para a propositura das reformas administrativas pelo Executivo sem a participação do Congresso. Com isso, por meio do novo instituto da Medida Provisória, as políticas administrativas lançadas pelo Executivo passaram a ser deliberadas pelo Legislativo. Nesse processo, os projetos de autoria do Presidente da República são analisados pela Câmara, depois pelo Senado e, finalmente, pela Câmara novamente, nesse último retorno exclusivamente acerca das modificações apresentadas pelos senadores. Somente então vai à sanção e conversão em Lei. Pág. 13 Especificamente, quanto à reforma proposta pelo Presidente Sarney, a Constituição de 1988 trouxe, em seu artigo 24, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, referência à reforma administrativa de 1985, deixando definida a necessidade de que uma reforma dessa natureza devesse ser levada a efeito, em até 18 meses, a partir da promulgação da nova Carta. Art. 24- A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios editarão leis que estabeleçam critérios para a compatibilização de seus quadros de pessoal ao disposto no art. 39 da Constituição e à reforma administrativa dela decorrente, no prazo de dezoito meses, contados da sua promulgação. No governo subsequente, tendo sido encontrado um considerável déficit público, o Presidente Collor promoveu acentuado desmonte da máquina administrativa, com achatamento salarial dos servidores, ditos por ele como sendo “marajás”. Servidores não estáveis foram demitidos e aqueles que o eram foram postos em disponibilidade. Collor considerava a máquina administrativa por demais ineficiente e incapaz de contribuir com o avanço do Estado e da economia nacionais – era um verdadeiro “elefante branco”, segundo ele. Na época, o governo vislumbrou adotar o modelo do Estado mínimo com contas públicas saneadas, o que seria condição indispensável para a atração de investimentos externos, que abriria uma presença brasileira mais competitiva no cenário estrangeiro. Com o impeachment, Collor foi sucedido pelo vice, Itamar Franco, que lançou o bem sucedido Plano Real. Esse sucesso possibilitou ambiente político e institucional necessários a uma Reforma Administrativa em novos moldes, proposta no governo seguinte, do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que teve no ministro Bresser Pereira, da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), seu principal mentor. O governo de FHC ficou conhecido pela onda de privatizações, realizadas com o objetivo de promover acentuado recuo no tamanho da máquina pública. A telefonia foi o principal exemplo disso. Nessa situação, o Estado, por meio das agências reguladoras, passou a exercer o papel de regulamentador/fiscalizador de uma atividade pública provida pelo mercado, livre da ação direta do governo. Uma questão que os críticos das privatizações colocam diz respeito ao destino dado aos patrimônios das empresas privatizadas. Pág. 14 Fez parte desse período o Programa de Desligamento Voluntário (PDV), amplamente empregado na Administração, na forma da Lei nº 9.468, de 1997. O PDV tinha como objetivo incentivar pecuniariamente demissões espontâneas de servidores públicos estáveis. Despreparados para o empreendedorismo da iniciativa privada, contudo, muitos desses servidores constituíram negócios próprios que, em curto tempo, resultaram em falência. Ainda hoje tramita no Congresso Nacional projeto de lei que visa anistiar os servidores optantes do PDV, com o forte argumento de que se tratou de verdadeiro “estelionato oficial”, uma vez que nem todas as promessas feitas pelo governo foram cumpridas, como a de prestar apoio e assessoria ao empreendedorismo dos servidores que aderissem ao Programa. FHC descreveu sua Reforma Administrativa Gerencial no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE). A inovação do plano estava nas premissas da reforma, que propunha adotar na gestão pública práticas comuns às empresas privadas. Pág. 15 Até o final de seu primeiro mandato, FHC fez aprovar no Congresso duas emendas constitucionais, promulgadas em 1998, com a finalidade de preparar o caminho legislativo para a adoção de sua reforma gerencial. Uma delas foi a Emenda nº 19, que dispôs sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes públicos. A outra foi a Emenda nº 20, que modificou o sistema de previdência social do servidor. A Emenda nº 19: Já a Emenda nº 20: Pág. 16 Tendo promulgadas as duas emendas constitucionais no último ano de seu primeiro período de governo, após se reeleger, FHC extinguiu o MARE e transferiu a reforma administrativa para a pasta do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Nesse momento, Bresser Pereira deixou o governo, sem ter conseguido implementar, minimamente que fosse, sua reforma gerencial. Antes do final de seu segundo mandato, e considerando insuficientes as modificações levadas a efeito pela Emenda nº 20 no sistema previdenciário do servidor público, FHCencaminhou ao Congresso nova proposta de alteração constitucional, que somente foi aprovada já no governo subsequente – a Emenda nº 41, de 2003. Outro fato relevante do período FHC foi a aprovação, durante seu segundo mandato, da Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei Complementar nº 101, de 2000, que impôs forte ajuste fiscal e planejamento nos orçamentos públicos da União, Estados e Municípios. A LRF propiciou a necessária transparência do gasto público, além de condicionar a realização de despesa à capacidade de arrecadação. Depois disso, veio o governo Lula, que não apresentou proposta de reforma administrativa. Presenciou-se a continuidade da política de privatizações, sendo merecedora de destaque apenas a emenda constitucional que tratou, mais uma vez, do sistema previdenciário do servidor público. Foi a Emenda nº 47, de 2005. Críticos do governo destacam o grande aumento do número de cargos comissionados na Administração durante esse período, providos mais por critérios partidários do que propriamente por mérito ou especialização de ordem técnica. Pág. 17 Com isso, os servidores públicos empossados a partir da criação dos fundos passarão a ter suas aposentadorias limitadas ao teto pago pelo INSS ao trabalhador do regime geral de previdência. Passados todos esses governos, planos e tentativas de reforma, percebe-se que, de fato, a Administração Pública tem evoluído, inobstante o insucesso e os resultados parciais de incontáveis iniciativas de aprimoramento gerencial. Há uma grande contingência de fatores políticos, institucionais e econômicos que compuseram o plano de fundo das reformas propostas e aqui destacadas. Pág. 18 As tecnologias da informação Aspecto merecedor de menção tem sido o emprego de tecnologias da informação na automação de procedimentos. No Decreto-Lei nº 39.605, de 1956, JK demonstra preocupação com a adoção de um sistema de comunicação que produza a distribuição rápida dos papéis, maior segurança nas informações, controle do andamento dos processos e funcionamento mais dilatado do expediente de protocolo. Isso denuncia a carência dos recursos tecnológicos à época, atualmente existentes e muito bem empregados pela Administração. Prova dessa eficiência tem sido, por exemplo, o processo legislativo eletrônico das Casas do Congresso, que oferecem ao cidadão o conhecimento amplo e pontual da elaboração das leis. Outro exemplo de agilidade é a forma com que o INSS concede benefícios, com agendamento marcado e controle automático do histórico previdenciário do trabalhador. Outros exemplos são o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), o SIGA BRASIL, e as páginas de governo na Internet, com toda sorte de informações e conhecimentos sistematizados. Temos, hoje, acentuada preocupação com o desenvolvimento do servidor, explicitamente expressa nas escolas de governo, dentre as quais se destacam a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), do Executivo, e o Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), do Senado Federal, que, em conjunto com o Centro de Formação da Câmara dos Deputados (CEFOR), têm proporcionado aos servidores do Senado, da Câmara e de outros órgãos conveniados a capacitação de que necessitam para o desempenho eficiente de suas funções. Pág. 19 A Lei de Acesso à Informação Outro aspecto notável, que contribui sobremaneira com a eficiência geral, é o controle social cada vez mais atento e bem informado. Mencione-se a Lei de Acesso à Informação, Lei nº 12.527, de 2011, que visa garantir o acesso a informações, previsto em dispositivos constitucionais, com as seguintes diretrizes: Apesar disso, percebe-se na Administração ainda haver patrimonialismo, desperdício e casos de corrupção. Quem sabe se houvesse ações mais eficientes na redução desses desvios, restaria espaço mais amplo para a implantação de uma máquina administrativa predominantemente eficiente e orientada à finalidade pública do Estado. Levadas a efeito, efetivamente, sobressaem-se as restrições previdenciárias aplicadas aos servidores públicos, para os quais foram dedicadas três emendas constitucionais (nos 20, 41 e 47). Enquanto isso, uma série de dispositivos constitucionais importantes permanece sem efeito, aguardando pela aprovação de leis ordinárias e complementares que lhes proporcionem regulamentação. Pág. 20 Pág. 21 Unidade 3 - Tipos de Administração Pública A Administração Pública brasileira sempre se pautou pela prática político- administrativa de seus altos gestores, em um modelo predominantemente híbrido, no qual tendências teoricamente excludentes se mesclaram de forma mais ou menos evidente cada uma delas, o que dependeu da situação e do momento vivido. Agora que já conhecemos como se deu a evolução histórica da Administração Pública brasileira, com as diversas tentativas de modernização, vamos descrever e apontar os aspectos e o encadeamento organizacional dos modelos patrimonialista, burocrático e gerencial, na máquina estatal do país. Serão aqui pontuadas características, práticas e resultados dos três tipos de administração, com o intuito de fortalecer a nossa visão crítica perante diversas situações. Em uma abordagem geral, a administração do Estado pode ser: São esses os três modelos básicos, que muitas vezes se misturam ou se alternam, conforme a contingência política e administrativa de momento. Numa máquina pública com o porte e a complexidade da brasileira, por exemplo, observa-se a incidência dos três modelos, de forma mais ou menos evidente. Pág. 2 O Patrimonialismo Há que se ter em vista que a forma com que se administra o Estado está diretamente associada à sua própria natureza e concepção, que, no caso brasileiro, é a república, ou res publica – coisa pública. Numa república, o interesse do Estado é o bem comum, que é de todos e a todos deve servir. Qualquer emprego da máquina pública que se afaste desse objetivo resulta em desvio de finalidade. Portanto, o Estado republicano exclui, de imediato, a gestão patrimonialista. O patrimonialismo é originário dos regimes absolutistas, onde o soberano, proprietário do Estado, delegava a administração entre os seus – fossem eles nobres ou não –, que ao rei devendo obediência, priorizavam a defesa dos interesses particulares do monarca, em detrimento do interesse público. Tanto o povo quanto a administração serviam ao rei. Pág. 3 No Brasil, a gestão patrimonialista foi adotada desde a fase colonial, em que porções de terras eram concedidas pelo monarca aos seus donatários, sem que isso implicasse contrapartida para o bem comum da coletividade. Naquele tempo, o bem particular da autoridade se confundia com o patrimônio do Estado, sendo ambos utilizados indistintamente, conforme a conveniência do detentor. Foi assim durante o período imperial, indo até a República Velha, na década de 1930, com a adoção da burocracia weberiana. Embora isso aparente ser história passada, engana-se quem considere o patrimonialismo extinto da Administração brasileira. Com o tempo e a máscara do interesse público, o hábito de “dar-se jeito para tudo” demonstrou ser o patrimonialismo bastante presente, ainda, na atualidade. A gestão patrimonialista é, em essência, fisiológica, pois se baseia na troca de favores, no “toma-lá-dá-cá” clientelista, com a finalidade de garantir vantagens pessoais, conforme os interesses individuais, sem considerar o bem comum. Pode ser encontrada, de forma velada e discreta, dentro das estruturas administrativas dos órgãos de governo. Uma das características mais evidentes de uma gestãopatrimonialista é a inobservância de regras formais. Regras restringem a livre ação do administrador, e o gestor patrimonialista busca ter amplitude de ação para a prática do benefício próprio. Quando há regras, estas são pouco divulgadas e conhecidas, o que favorece o desvio. Sob esse aspecto, a Constituição estabeleceu os princípios da impessoalidade e da legalidade ao administrador público, com o intuito de prevenir a prática patrimonialista. Pág. 4 O gestor patrimonialista não aprecia a renovação de quadros. Essa situação é típica de órgãos que mantêm gestores em cargos de chefia ou de direção por longos períodos. Quando o gestor deixa um cargo é para assumir outro de hierarquia igual, ou superior. Essa perpetuação na gestão desestimula os novos talentos e o surgimento de lideranças. Toda organização bem administrada deve promover a formação de líderes e a capacitação continuada de seus servidores em habilidades gerenciais, com o intuito de ascensão às funções comissionadas típicas de servidores efetivos. Outro indício de patrimonialismo é a falta de programas de formação e capacitação de servidores. O gestor patrimonialista teme ser superado e substituído por outro que possua desempenho superior ao seu, conquistado a partir de ações de capacitação. Por isso previne-se, deixando de priorizar entre suas práticas administrativas a busca pela plena formação e capacitação funcional de seus colaboradores. Privilégios funcionais, injustiça distributiva, nepotismo e corrupção são desvios comuns em gestões patrimonialistas. É certo que os resultados de uma administração dessa natureza surtam efeito vantajoso apenas para o “dono do cargo”. Por isso, o patrimonialismo se encontra totalmente desassociado da eficiência e do espírito público. Prova de que o patrimonialismo é ainda presente na Administração brasileira foi a edição, pelo Supremo Tribunal Federal, da Súmula Vinculante nº 13, de 2008, que estabeleceu como inconstitucional a prática do nepotismo nos casos que especifica. No nepotismo, a escolha entre familiares da autoridade nomeante para os cargos de agentes públicos afasta a seleção por mérito objetivo. Pág. 5 O Modelo Burocrático Como alternativa a essa forma personalista de gestão surgiu o modelo burocrático de administração, onde o privilégio deu lugar ao mérito. Trata-se a burocracia de um modelo administrativo idealizado pelo sociólogo alemão Max Weber, estando associado a cinco princípios básicos: hierarquia, normatização, capacitação, especialização e meritocracia. Nesse modelo, a gestão desatenta e a falta de critério são substituídas pelo controle extremo, com normas rígidas a serem seguidas. Num Estado de tamanho limitado, como o liberal, essa forma de gestão surte resultados eficientes. Exemplo disso foi a adoção do modelo de administração weberiana na Alemanha, Estado liberal, após a I Guerra Mundial, em uma experiência que ficou conhecida como República de Weimar. Os resultados foram tão eficientes em termos de máquina estatal, que tornaram possível àquele país promover a II Guerra Mundial. Num Estado social, entretanto, esse formalismo excessivo do poder racional- legal acaba por obstruir o ritmo e a dinâmica da Administração, que, em meio a tantas normas e procedimentos, perde agilidade na consecução de suas políticas públicas. Evitam-se abusos e usos indevidos, como a corrupção, o nepotismo e a prática patrimonialista, mas perde-se o foco na prestação do bom serviço público, na agilidade e na qualidade do resultado para a sociedade. Essa é a crítica que se faz à burocracia. A Administração volta-se para si mesma, para o formalismo, para o meio, para a minúcia do procedimento, deixando de atentar-se para a eficiência e a qualidade do serviço prestado. Pág. 6 No Brasil, uma solução que o constituinte de 1988 deu para a necessidade de agilidade na consecução de políticas públicas em face da urgência das normas legais foi a criação do instrumento legislativo da Medida Provisória Presidencial. Foi uma evolução do Decreto-Lei, com a diferença de que a medida provisória perde seus efeitos caso não seja apreciada e aprovada pelo Congresso em tempo determinado. Como na burocracia toda política pública necessita de autorização legal do Legislativo, devendo ser prevista em lei, há que existir um instrumento de aplicação imediata, que permita a adoção de medidas rápidas em face da dinâmica nacional. A medida provisória atende a isso. Uma vez editada e apresentada ao Legislativo, surte efeitos imediatos. Enquanto isso, o Congresso passa a dispor do prazo de 120 dias – 60 dias, prorrogáveis por mais 60 dias – para convertê-la em lei ordinária, com ou sem alterações. Se por um lado fica evidente que o patrimonialismo é incompatível com a finalidade pública, com o crescimento da Administração, tanto em volume quanto em complexidade, descobriu-se que a pouca agilidade imposta pelo modelo burocrático, com suas regras e procedimentos, acabava por comprometer o resultado da Administração. É certo que a agilidade seja um pressuposto necessário da ação administrativa, necessitando-se, então, que haja alternativa ao modelo burocrático que garanta a necessária agilidade, sem abrir-se caminho para o patrimonialismo. Pág. 7 O Modelo da Administração Gerencial (gerencialismo) Nesse tipo de gestão pública, o cidadão passa a ser visto como cliente que investe no Estado através dos impostos que recolhe. Deve ele, portanto, ter o respectivo retorno na forma de serviços públicos bem providos e administrados. Semelhantemente à lógica do mercado, em que o dono do negócio recebe seus lucros, o “dono do Estado”, que é o cidadão, recebe seu “lucro” na forma do atendimento com qualidade de suas necessidades por parte da Administração. São metas do gerencialismo: A palavra “eficiência”, incluída dentre os princípios constitucionais da Administração pela Emenda nº 19, traduz bem o espírito de uma gestão gerencial. A Reforma Administrativa do governo FHC, descrita no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), de 1995, propôs a adoção de critérios gerenciais, típicos da administração privada das empresas de mercado, no contexto da Administração Pública. Nesse sentido, a burocracia paralisante seria substituída por um modelo gerencial mais livre e autônomo, com indicadores de desempenho e foco no atendimento das necessidades do cliente- cidadão. Pág. 8 A administração pública gerencial não rejeita os princípios da burocracia que se propõe em suceder; pelo contrário, baseia-se: A grande diferença reside na forma de controle, que passa da área-meio, com foco nos processos, para a área-fim, com foco nos resultados, aferidos por intermédio de indicadores de qualidade. São todas estas questões para as quais o administrador terá que dar resposta no modelo gerencial. Outra diferença reside na qualidade e quantidade das regras, que devem ser flexíveis o suficiente para viabilizar o sucesso da gestão gerencial, em face de um cenário vivo e pleno de mudanças que a dinâmica nacional a cada dia apresenta. No modelo de gestão gerencial é mais natural e corriqueira a relação do Estado com as entidades privadas e as organizações sociais. Pág. 9 O modelo gerencial é baseado na confiança que se deposita no agente público, sem prescindir-se do controle, da fiscalização e da medição de resultados. No modelo, há descentralização decisória, com estruturas menos hierarquizadas e mais horizontalizadas. É um modelo que favorece a criatividade, o autodesenvolvimento e a qualidade de vida laboral para o servidor. É um ambiente que, ao reduzir a rigidez do formalismo, propiciaa iniciativa lúcida e responsável. São alguns dos princípios da administração pública gerencial: • orientação para resultados e disposição para obter resultados mesmo com recursos escassos; • foco no cidadão – usuário; • aumento da eficácia e eficiência; • transparência dos processos decisórios; • responsabilização e trabalho em equipe. É certo que futuras reformas administrativas devam visar à forma gerencial de lidar com a coisa pública. Para tanto, há que se fortalecerem os dispositivos de controle e fiscalização internos e externos, de maneira que impeçam, ainda mais, o avanço do patrimonialismo, sem que isso resulte em restrições ao movimento da máquina pública. Deve-se, da mesma forma, buscar incutir com maior destaque a finalidade pública como valor máximo da atividade. Profissionalização; emprego de tecnologias; adoção de legislações flexíveis; equilíbrio nas contas são também elementos necessários à reforma gerencial. Pág. 10 Unidade 4 - Plano diretor da reforma do aparelho do estado (PDRAE) Vimos até aqui os três modelos básicos de administração pública, que muitas vezes se misturam ou se alternam, conforme a contingência política e administrativa de momento. Vamos conhecer agora, o mais significativo movimento de modernização das práticas administrativas que se tem noticia nas últimas décadas de nossa história - . o Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado brasileiro - que pretendeu estabelecer e consolidar o modelo gerencial na Administração Pública diante da crise passada pelo estado moderno nas décadas de 1980 e seguinte. No final do século XX, o avanço generalizado da presença do Estado, especialmente no domínio da economia, sofreu forte abalo de ineficiência, especialmente em face dos exageros do modelo. O acirramento da crise no modelo do Estado do Bem Estar Social – Welfare State, havido a partir da década de 70, chegou à década de 1990 provocando, em diversos países, especialmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, uma tendência ao movimento de retorno ao liberalismo, com seu Estado mínimo (neoliberalismo), que, por ser utópico, já houvera fracassado nas décadas de 1930-40. No Brasil, por exemplo, o Estado possuía companhias aéreas (VASP e VARIG); possuía fábrica de aviões (EMBRAER); possuía supermercados – Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL); minerava ferro (VALE); produzia aço (CSN); possuía hotéis (Brasília Palace Hotel e Hotel Nacional, em Brasília); prestava diretamente serviços de telefonia (TELEBRAS) – todas essas atividades, dentre outras, típicas da iniciativa privada. É certo que toda essa presença oficial na vida nacional onerou por demais as contas públicas, uma vez que o Estado, em nenhum país do mundo, costuma ser bom gestor de empreendimentos de produção. Isso agravou, consequentemente, a crise econômica interna, com descontrole fiscal. Daí resultou redução de crescimento, desemprego e inflação. Era esse o cenário do início dos anos 1990. A crise do Estado estava levando à desaceleração econômica dos países, com mergulho na recessão. No Brasil, isso não era diferente. Pág. 2 A globalização Acrescente-se, ainda, que a globalização da economia tornou a competição entre os países muito mais acirrada, e o Estado não poderia continuar a representar empecilho ao desenvolvimento da economia brasileira, que necessitava conquistar espaço no cenário internacional, inclusive para reverter a situação de balanço comercial desfavorável, onde as importações superavam as exportações. A política nacional de substituição de importações de então não lograva o êxito pretendido. Carecia-se de um modelo estatal mais barato, menos hierarquizado, mais livre, menos participativo/concorrente, e mais fiscalizador, com menor rigidez de procedimentos, menos normas e regulamentos mais flexíveis. Formou-se, então, ambiente político propício para mudanças no modelo de gestão, do formato burocrático, e estruturalista, para o formato gerencial, cujos fundamentos mencionamos no tópico anterior. Para tanto era necessário, contudo, alterar-se a Constituição de 1988, que não previra originalmente essa necessidade e houvera, inclusive, acarretado forte movimento em direção oposta, rumo ao modelo burocrático, anacrônico e incapaz de dar as respostas de eficiência tão necessárias naquele momento. Isso se percebe na aplicação indistinta do instituto da estabilidade no emprego para todos os servidores da Administração Direta, absolutamente desvinculado de requisitos mínimos e indispensáveis de desempenho funcional. Pág. 3 Editado no governo FHC, o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) lançou as bases da Reforma Administrativa Gerencial, que seria levada a efeito pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), comandado por Bresser Pereira. Segundo o PDRAE, dada a crise do Estado e o irrealismo da proposta neoliberal de torná-lo mínimo, era necessário reconstruir o Estado, de forma que ele não apenas garantisse a propriedade e os contratos, mas também exercesse seu papel complementar ao mercado na coordenação da economia e na busca da redução das desigualdades sociais. Reformar o Estado significava melhorar não apenas a organização e o pessoal do Estado, mas também suas finanças e todo o seu sistema institucional-legal, de forma a permitir que esse tivesse uma relação harmoniosa e positiva com a sociedade civil. A reforma do Estado permitiria que seu núcleo estratégico tomasse decisões mais corretas e efetivas, e que seus serviços – tanto os exclusivos, que funcionavam diretamente sob seu comando, quanto os competitivos, que estavam apenas indiretamente subordinados na medida em que se transformassem em organizações públicas não estatais – operassem muito mais eficientemente. Pág. 4 Diagnóstico: Em seu diagnóstico, o Plano apontou que, como resultado do retrocesso burocrático de 1988, houve um encarecimento significativo do custeio da máquina administrativa, tanto no que se referia a gastos com pessoal como com bens e serviços, e acentuado aumento da ineficiência dos serviços públicos. Chegou-se ao ponto de, em 1995, 36% dos gastos com pessoal da União terem sido direcionados para o pagamento de inativos. Em relação à distribuição de servidores pelas esferas de governo, o Plano mostrou que os estados empregavam praticamente a soma (49%) do que empregavam municípios (26%) e a União (25%). Essa distribuição desigual em favor dos efetivos estaduais se apresentou incompatível com o municipalismo implantado na Constituição de 1988, que houvera transferido aos municípios grande esfera de responsabilidades, no que diz respeito aos serviços públicos. Do diagnóstico, ficou patente que a legislação brasileira refletia a ausência de uma política de recursos humanos coerente com as necessidades do aparelho do Estado: Pág. 5 Objetivos: Foram os objetivos globais do Plano: A estratégia da reforma do aparelho do Estado foi concebida a partir de três dimensões: Pág. 6 As emendas constitucionais da Administração Pública As emendas do capítulo da administração pública foram fundamentais no processo de transição para uma administração pública gerencial porque incorporaram ou viabilizaram uma nova perspectiva em relação à gestão e ao controle do aparelho do Estado. Os dispositivos compreendidos no projeto foram de importância estratégica para a consecução da reforma administrativa, contemplando os princípios e normas de gestão, as relações jurídicas dos servidores com a administração e as prerrogativas dos três poderes para a organização administrativa e a fixação de vencimentos doscargos de seus serviços auxiliares ou administrativos. A primeira proposta cobriu o capítulo da administração pública e resultou, com modificações, na Emenda nº 19, originalmente contemplando as seguintes disposições, tendo algumas das quais não logrado êxito: • O fim da obrigatoriedade do regime jurídico único, permitindo-se a volta de contratação de servidores celetistas. • A exigência de processo seletivo público para a admissão de celetistas e a manutenção do concurso público para a admissão de servidores estatutários. • A flexibilização da estabilidade dos servidores estatutários, permitindo-se a demissão, além de por falta grave, também por insuficiência de desempenho e por excesso de quadros. • No caso de exoneração por excesso de quadros, esta deveria obedecer a critérios gerais estabelecidos em lei complementar, sendo os cargos correspondentes automaticamente extintos, não podendo ser recriados em um prazo de quatro anos. • Possibilidade de se colocar servidores em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço como alternativa à exoneração por excesso de quadros. • Permissão de contratação de estrangeiros para o serviço público, sempre através de concurso ou processo seletivo público, desde que lei específica o autorizasse. • Limitação rígida da remuneração dos servidores públicos e membros dos Poderes, inclusive vantagens pessoais, à remuneração do Presidente da República. • Limitação rígida dos proventos da aposentadoria e das pensões ao valor equivalente percebido na ativa. • Facilidade de transferência de pessoal e de encargos entre personalidades políticas da Federação, a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios, mediante assinatura de convênios. • Eliminação da isonomia como direito subjetivo, embora mantivesse, implicitamente, o princípio, que é básico para qualquer boa administração. Pág. 7 O sistema previdenciário público A proposta de emenda da Previdência (resultante, com modificaçõ es, na Emenda nº 20) extinguiu a aposentado ria integral e as aposentadorias precoces. A aposentadoria dos funcionários passou a ocorrer por idade, com uma pequena correção para o tempo de serviço na regra de transição, sendo proporcional à contribuição do servidor. O sistema previdenciário público continuou distinto do setor privado, na medida em que o Estado prosseguiu garantindo integralmente o sistema previdenciário dos servidores, independentemente do seu nível de remuneração. Pág. 8 MÓDULO II - PRINCÍPIOS E FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Unidade 1 - A organização do estado - Poderes da República Vimos no primeiro módulo o papel do Estado em relação aos demais setores da sociedade, a evolução histórica da Administração Pública brasileira e características de algumas práticas gerenciais na maquina estatal do país. A partir de agora vamos consolidar o conhecimento do modelo republicano de governo; a forma federativa de organização; a tripartição de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Vamos começar entendendo o que é o Estado. Vejamos: O conceito de Estado pode ser abordado sob inúmeras perspectivas doutrinárias, e é muito difícil, senão impossível, encontrar um conceito que possa satisfazer todas as necessidades de entendimento de um instituto tão complexo quanto à sua forma e natureza. A palavra “Estado” pode ser utilizada em inúmeras oportunidades, o que, sem dúvida, dificulta qualquer tentativa de enquadramento simplista e redutor. De qualquer forma, o Professor Dalmo de Abreu Dallari considera que o Estado seja “a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território”. O autor consegue inserir no seu conceito todas as características do que é entendido modernamente como Estado. Sendo o Estado moderno a organização política da nação, por mais elementar que seja, são seus componentes o povo, seu território e a soberania, ou governo próprio, autônomo, independente. É amplamente aceita a tese de que o Estado primitivo surgiu de forma muito natural e espontânea, não contratual, a partir das necessidades organizativas de uma sociedade. Pág. 2 Para atender à conveniência da coletividade, o Estado é a entidade de máxima hierarquia perante outras existentes, assumindo sobre elas, ora o controle, ora a fiscalização, ora a regulação de ação, ora papel nenhum. Pode permitir-lhes liberdade total, parcial ou mínima, o que varia de Estado para Estado (se liberal – se social). O Estado brasileiro assemelha-se ao Estado romano, no sentido em que reconhece, na família, a base da sociedade, para a qual assegura especial proteção. A unidade nacional, conferida na forma federativa, caracteriza o modelo do Estado moderno no País, característica originária, também, do Estado Romano. Diz a Constituição: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. ... O Estado possui autoridade e poder para fazer cumprir suas determinações sobre todas as pessoas que estejam em seu território. Tem poder extroverso, ou seja, pode unilateralmente impor obrigações a terceiros, o que inclui o estabelecimento de tributos e de obrigações legais, na forma das leis que nele vigoram. Além disso, o Estado possui o monopólio da violência legal, que é aquela praticada pelas autoridades oficiais na defesa dos cidadãos e do patrimônio, seja ele público ou privado. Pág. 3 Quanto à ligação do Estado com a religiosidade de seu povo, podemos ter Estados teocráticos, Estados confessionais e Estados laicos. No Estado teocrático, a religião se imiscui com os assuntos públicos e os orienta. Nele, líderes religiosos conduzem a coisa pública conforme os preceitos da religião. No Estado confessional há distinta separação entre religião e Estado. Contudo, este adota posturas e costumes religiosos em seu modo de agir. Exemplo disso diz respeito a ter o Estado uma “religião oficial”, como foi o caso do Brasil de antes da Constituição de 1988. Já o Estado laico, atual situação do Brasil, é aquele totalmente dissociado de religião. Nele, o aspecto religioso pertence exclusivamente à sociedade, com sua diversidade de crenças, não interferindo nos assuntos do Estado. Diz a Constituição: Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; ... Pág. 4 A República Federativa do Brasil Acerca da organização do Estado brasileiro, diz o art. 1º da Constituição: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Conforme o artigo destacado, o Brasil adota a república como forma de Estado. Na república, o poder do Estado pertence ao povo, que o exerce de maneira indireta, através de representantes eleitos e, em menor escala, de maneira direta, na forma de institutos de democraciadireta que, no Brasil, são os plebiscitos e re ferendos. e governo é marcada r dois fundamentos: Pág. 5 Como forma de governo, o Brasil adota o presidencialismo, no qual os comandos político e administrativo do Estado decaem sobre uma única liderança, que é o Presidente da República. Essa forma d po Com a afirmativa acima a Constituição brasileira retirou do chefe do Estado, e do governo, o caráter de empoderamento personalista. Ele passa a ser mero representante da vontade popular, cujos interesses deve defender, no exercício de sua delegação temporária de poder. Para o Presidente da República, a vitaliciedade e a hereditariedade dão lugar à temporariedade e à eletividade, respectivamente. Já quando estabelece que o Brasil se constitui num “Estado democrático de direito”, a Constituição afirma que, no País, prevalece o império das Leis. Embora o chefe do Executivo exerça um poder político, é certo que sua gestão administrativa não prescinde da legalidade. Para tudo o que pretenda fazer, deve aprovar leis no Congresso. Pág. 6 Forma Federativa de União Garantindo que o Brasil é formado pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal, a Constituição estabelece a forma federativa de União. Esse modelo divide a administração do Estado em três esferas de governo: União, Estado e Município. Em cada uma delas existem estruturas administrativas próprias e, naquilo que seja cabido, análogas e concorrentes. Assim, em cada ente federado há um chefe do Executivo, que são o Presidente da República, o Governador e o Prefeito, para União, estados e Distrito Federal, e municípios, respectivamente. Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Para a afirmação de que as administrações, em suas três esferas, são concorrentes, deve-se considerar que cada uma delas atua dentro de suas prerrogativas constitucionais sobre um mesmo espaço de domínio. Assim, o Executivo federal exerce seu poder em um município de fronteira onde haja contrabando de armas ou tráfico de entorpecentes, por exemplo. Nessa situação, o prefeito não exerce seu poder, mas sim o chefe do Executivo federal, por meio das forças federais – Polícia Federal e Comando do Exército. Pág. 7 Dessa maneira, conforme suas atribuições, exclusivas ou concorrentes, cada um dos entes federados possui autonomia administrativa, com a sua respectiva máquina pública. Já o conceito de soberania, contudo, é pertinente somente para a União, pois se trata de prerrogativa de autonomia internacional, ligada ao direito público internacional, que coloca o País ao lado dos demais no cenário mundial, com independência e autodeterminação. Por esse motivo é prerrogativa privativa da União a defesa das fronteiras contra invasões estrangeiras no território brasileiro. Como no exemplo anterior, são as forças armadas e a polícia federal quem cuidam disso, e não as polícias estaduais ou guardas municipais. Cada ente federado possui território e administração próprios. Possuem, cada um deles, igualmente, legislações constitutivas, que são a Constituição Federal, a Constituição Estadual e a Lei Orgânica Municipal, obedecida essa exata ordem na hierarquia dessas leis. Possuem, ainda, legislações típicas de suas esferas de decisão, elaboradas pelas Assembleias Legislativas, onde há deputados estaduais, que elaboram as leis estaduais, e Câmaras Municipais, onde há vereadores, que elaboram as leis municipais. A casa legislativa do Distrito Federal se chama Câmara Legislativa, sendo composta por deputados distritais, que elaboram as leis distritais. Perante o pacto federativo, o Distrito Federal tem a equivalência de unidade da federação, ou estado. No DF não há prefeito, nem vereador. Brasília não é um município com distritos, mas sim o conjunto de algumas das regiões administrativas que compõem o Distrito Federal, como por exemplo Guará, Sobradinho, Gama, Planaltina, Ceilândia e Samambaia. Adotando a tripartição de poderes sugerida por Montesquieu, vigoram no Brasil o Poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário. É através desses poderes, divididos em instâncias da União, Estados e Municípios, que o Estado realiza suas funções. Diz o art. 2º da Constituição: Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Pág. 8 Vejamos algumas características de cada um dos Poderes. O Poder Executivo Garante o cumprimento das leis e promove a administração pública, prestando serviços públicos à sociedade. Faz isso seguindo a legislação vigente e a orientação política do governante. Fica claro aqui que o governante, ou chefe do Executivo, necessita aprovar suas políticas públicas na forma de leis. Isso explica a necessidade de que o governo constitua uma forte base de apoio no Legislativo, que é onde são elaboradas as is. orçamentária; a arrecadação de impostos; a sanção de leis aprovadas pelo le Compete ao Poder Executivo a administração do Estado; a execução Legislativo e a administração de maneira ampla de seus órgãos e pessoal, com a prestação final dos serviços públicos. O Poder Legislativo O Poder Legislativo elabora as Leis do país e fiscaliza o Executivo. Estados e municípios possuem Legislativos unicamerais, onde uma única casa legislativa faz o trabalho de elaboração legal (Estado – assembleia legislativa estadual; Distrito Federal – câmara legislativa; Município – câmara municipal). A União, por outro lado, possui um Legislativo mais complexo, bicameral, chamado de Congresso Nacional. Nele, Câmara dos Deputados e Senado Federal elaboram e revisam as leis federais, posteriormente remetidas à sanção presidencial. É o presidente do Senado quem preside o Congresso Nacional. É ele, portanto, o chefe do Legislativo. Pág. 9 Sistema bicameral A razão de ser do sistema bicameral, com Senado, reside na organização federativa da república, para que haja harmonia e equilíbrio entre as unidades da federação, papel exercido pelo Senado Federal, composto por 81 senadores eleitos em pleitos majoritários, para mandatos de duas legislaturas – oito anos. A renovação dos senadores não acontece a uma só vez, sendo de 1/3 e de 2/3 a cada legislatura subsequente. A igual representatividade de cada Estado no Senado, três senadores para cada um dos vinte e seis Estados e mais três para o Distrito Federal, atende ao equilíbrio federativo, posto que cada Estado, possuindo igual número de senadores votantes, participa da deliberação de matérias legislativas em igualdade numérica de votos. No Congresso, o senador representa a unidade da federação. Já a Câmara dos Deputados é formada por quinhentos e treze deputados federais, eleitos em pleitos proporcionais para mandatos de uma legislatura de duração – quatro anos, em bancadas estaduais que variam conforme seja o tamanho da população de cada Estado, podendo ir de oito a setenta parlamentares cada. Isso faz com que Estados menos populosos apresentem menor representatividade na Câmara do que Estados mais populosos. O deputado representa o povo, que, ao distribuir-se de forma desigual pelo país, estabelece a desigualdade numérica de votos entre as bancadas de cada Estado da federação. Enquanto a Câmara dos Deputados é a casa da proporcionalidade federativa, o Senado é a do equilíbrio. Pág. 10 O Poder Judiciário O Poder Judiciário resolve conflitos conforme as leis do País, produzindo decisões definitivas, que faz cumprir coercitivamente por aqueles que desobedeçam
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