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MANUAL DA REFORMA DO SECTOR PÚBLICO Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino á Distância Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de Ensino à Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais. Autoria de: FERNANDO GIL NOÉ Administrador Civil, Diplomado pela Universidade de Poitiers Consultor na Área de Formação em Administração Pública, Governação Local e Autárquica e colaborador do Sistema de Formação em Administração Pública e Autárquica (SIFAP) Revisão de: JOÃO GERAL PATRÍCIO Licenciado em Ciências Sociais pela Univercidade Técnica de Lisboa Mestrado em Ciências Politicas: Relações Internacionais e Governação Consultor na Área de Formação em Administração Pública, Governação Local e Autárquica Universidade Católica de Moçambique (UCM) Centro de Ensino à Distância (CED) Rua Correia de Brito No 613 – Ponta-Gêa Beira – Sofala Telefone: 23 32 64 05 Cell: 82 50 18 440 Moçambique Fax: 23 32 64 06 E-mail: ced@ucm.ac.mz Website: www.ucm.ac.mz Agradecimentos A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual, agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos. Pela contribuição do conteúdo: a Drª Augusta Amaral Prólogo Este trabalho, constitui uma recolha de elementos, fruto de acções de assessoria aos Órgãos e instituições locais da Administração do Estado e de consultoria na área de formação em Administração Pública, esperando que venha a ser um valioso instrumento de consulta, de preparação e de esclarecimento de dúvidas aos seus destinatários ou utilizadores. Justo é, que o dedique aos meus filhos, aos com que actualmente privo mais amiúde e me apoiam incondicionalmente, aos meus antigos Mestres da Universidade de Poitiers e ainda aos estudantes para que este trabalho lhes sirva, efectivamente, de proveito estudantil e profissional. Admito a possibilidade de existir nele algumas lacunas, falta de alguns dados complementares nos temas e alguns estrangeirismos derivados, talvez, da tradução imperfeita dos pensamentos e línguas brasileira e francesa, o que corrigirei, numa próxima revisão, para nova edição. Lembro e sublinho que este trabalho não esgota as matérias nele retratadas, ele constitui uma porta aberta para os estudantes, do curso universitário à distância, entrarem em contacto com a ideia da Reforma e Modernização Administrativa do Sector Público, aos quais se exige uma preparação mais aprofundada e cuidada. Tal facto foi determinante na escolha do título do manual, título sobre o qual o autor admite ser questionável dada a interdisciplinaridade dos temas apresentados no trabalho, mas bastante sugestivos aos olhos do grupo utilizador destinatário. Fernando Gil NOÉ Universidade Católica de Moçambique i Índice Visão geral 1 Benvindo a Inserir título do curso/Módulo aqui Inserir sub-título aqui ........................... 1 Objectivos do curso ....................................................................................................... 3 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 4 Como está estruturado este módulo................................................................................ 4 Ícones de actividade ...................................................................................................... 5 Acerca dos ícones ........................................................................................ 5 Habilidades de estudo .................................................................................................... 5 Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 5 Avaliação ...................................................................................................................... 6 Unidade Inserir aqui no. da unidade 6 Inserir aqui o título da unidade .................................................................................... 91 Introdução ............................................................ Erro! Marcador não definido. Sumário ......................................................................... Erro! Marcador não definido. Exercícios...................................................................... Erro! Marcador não definido. Universidade Católica de Moçambique 1 Visão geral Benvindo a Reforma doSsector Público Apresentação Não foi fácil pensar em começar a escrever algo cuja base motivacional seria diversificada: a convicção da capacidade que me atribuo a mim mesmo, qualidade de trabalho acima da média, a alegria de introduzir um autor promissor, a satisfação do cumprimento da missão de, assessor, consultor, professor, facilitador e orientador, a identificação com a linha de pesquisa escolhida, a postura metodológica e a satisfação da Universidade Católica de Moçambique, os seus estudantes e tutores de Ensino à Distância. Mas decorrente das inúmeras dificuldades da nossa sociedade, também seria difícil que todos os factores escolhidos se conjuguem, como ora pretendo. O autor deste trabalho, Fernando Gil Noé, ”est un Maître en Administration Publique”, formado pela Universidade de Poitiers. na França, pretende que este seu trabalho seja uma empreitada bem séria e dedicada, uma profunda pesquisa e actualizada, uma colocação rigorosamente científica e técnica, um pensamento límpido e coerente, uma linguagem clara e impecável. Este manual tem como referência a história de vida de pessoas que, ao longo de uma série de encontros, tiveram a oportunidade de compartilhar suas Universidade Católica de Moçambique 2 experiências na área de assessoria e consultoria. De um lado, as que, dia-a-dia, estão envolvidas com uma nobre e de fundamental importância tarefa: liderar e implementar a Estratégia Global da Reforma do Sector Público, o Programa da Reforma do Sector Público – Fase II e Estratégia Anti-corrupção, no Sector Público moçambicano. De outro lado, o grupo de parceiros da cooperação estrangeira no financiamento das políticas públicas do Governo da República de Moçambique. Em função do carácter dinâmico da experiência educacional, o manual tem a perspectiva de referência e não a de receita. Esta postura sinaliza o respeito às especificidades da matéria nele retratada. É expectativa do autor que este manual seja uma referência rica e dinâmica, assim como vivo e transformador foi o processo da sua concepção. A publicação foi estruturada em cinco dossiers, sendo que os dois primeiros descrevem os conceitos e de referência sobre o Estado, as Organizações e Administração Pública. O terceiro dossier aborda os aspectos relacionados com a Reforma do Sector Público em si. O quarto retrata as reformas moçambicanas. No quinto dossier se fala de uma perspectiva para reforma do sector público. No sexto são apresentados aspectos sobre a boa governação e corrupção política. O sétimo trata da Sociedade Civil. E, finalmente, uma breve conclusão. UniversidadeCatólica de Moçambique 3 Tenho consciência das dificuldades a serem enfrentadas pelos utilizadores na localização da bibliografia usada, pelo autor, para os necessários aprofundamentos dos temas. Contudo, espero que os conteúdos organizados neste material, possam contribuir para o estudo e debates sobre a figura da Reforma do Sector Público, em particular a do Sector Público moçambicano. Fernando Gil NOÉ Objectivos do curso Ao terminar o estudo do Módulo da Reforma do Sector Público espera-se que os formandos sejam capazes de: 1. Perceber que o Estado, como uma organização, não existe em si ou por si, que tem fins e objectivos próprios a alcançar e um importante papel sobre a Sociedade; 2. Estabelecer relações entre organizações burocráticas e Administração Pública; 3. Identificar e analisar criticamente os problemas administrativos contemporâneos; 4. Analisar o papel do Estado no mundo contemporâneo; 5. Conhecer as reformas moçambicanas 6. Usar o conhecimento para identificar e analisar os grandes desafios do Sector Público; 7. Usar o conhecimento adquirido para influenciar mudanças no Sector Público, com vista à sua transformação e modernização; 8. Fundamentar as suas opiniões sobre a importância das acções de simplificação de processos e procedimentos que Universidade Católica de Moçambique 4 imperam a celeridade no tratamento de assuntos nas instituições do Sector Público; 9. Perceber a importância dos instrumentos da gestão do atendimento e de avaliação da satisfação dos clientes do Sector Público; 10. Reconhecer a influência negativa da corrupção sobre a boa governação; 11. Perceber a importância do envolvimento da Sociedade Civil na gestão dos assuntos públicos. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para todos aqueles que com nível médio de escolaridade, no subsistema de Ensino Secundário Geral (ESG) na subdivisão que contem Matemática, ou que no subsistema do Ensino técnico profissional (instituto comercial), profficionais em exercício na administração, c Como está estruturado este módulo A publicação foi estruturada em cinco dossiers, sendo que os dois primeiros descrevem os conceitos e de referência sobre o Estado, as Organizações e Administração Pública. O terceiro dossier aborda os aspectos relacionados com a Reforma do Sector Público em si. O quarto retrata as reformas moçambicanas. No quinto dossier se fala de uma perspectiva para reforma do sector público. No sexto são apresentados aspectos sobre a boa governação e corrupção política. O sétimo trata da Sociedade Civil. E, finalmente, uma breve conclusão. Universidade Católica de Moçambique 5 Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Acerca dos ícones Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia. Os ícones incluídos neste manual são... (ícones a ser enviados - para efeitos de testagem deste modelo, reproduziram-se os ícones adrinka, mas foi-lhes dada uma sombra amarela para os distinguir dos originais). Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada um com uma descrição do seu significado e da forma como nós interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao longo deste curso / módulo. Clique aqui e seleccione Inserir elementos (imagem/tabela/nova unidade) da janela do Modelo para Ensino à Distância. Escolha ou Todos os ícones abstractos ou Todos os ícones adrinka da lista dada. Habilidades de estudo Inclua aqui alguns parágrafos curtos para aconselhar os alunos a planear o seu tempo, dê dicas sobre tomada de notas, como estudar à distância, etc. Precisa de apoio? Apresente aqui pormenores do sistemas de apoio ao aluno: quem devem contactar em caso de precisarem de apoio em relação a vários tipos de problemas. Tarefas (avaliação e auto- avaliação) Apresente aqui pormenores sobre as tarefas que o aluno terá de realizar. Por ex.: Como devem ser entregues as tarefas, a quem. Inclua também questões relacionadas com: utilização de materiais de pesquisa, regras de direitos de autor, plagiarismo, etc. Universidade Católica de Moçambique 6 Avaliação Apresente aqui os pormenores sobre as regras e procedimentos para a avaliação. Por exemplo: em que condições se irá processar a avaliação. Dossier: 1 Unidade 1 INTRODUÇÃO GERAL E PONTOS DE PARTIDA Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Definir o conceito do Estado; 2. Perceber os fins e os objectivos do Estado e o seu papel sobre a Sociedade; 3. Entender a função administração do Estado; 4. Identificar e explicar as funções do Estado. 1.Conceitos e notas sobre o Estado O Estado é uma comunidade política independente, organizada de forma permanente sobre um determinado território, criador exclusivo do Direito (só o Estado pode ser legislador), administração pública da imposição da lei e da ordem (só o Estado Universidade Católica de Moçambique 7 é polícia e juiz) e da promoção da defesa armada (só o Estado pode fazer a guerra e a paz), com vista à realização do bem-estar social dos seus cidadãos. O Estado como uma organização não existe em si ou por si: Existe para resolver os problemas da sociedade, quotidianamente; Existe para garantir a segurança, fazer justiça, promover a comunicação entre os homens, dar-lhes a paz e bem-estar e progresso. É um poder de decisão no momento presente, de escolher entre opções diversas, de praticar os actos pelos quais satisfaz pretensões generalizadas ou individualizadas das pessoas e dos grupos; É autoridade e é um serviço; É o dever de um Estado atender ao interesse público, satisfazendo o comando decorrente dos actos normativos. O cumprimento do comando legal, deverá decorrer da função exercida por pessoa jurídica de direito público. Para alcançar os seus fins e objectivos (veja, por exemplo, os Objectivos Fundamentais do Estado moçambicano, artigo 11º da sua Constituição), qualquer Estado moderno, isto é, o Estado Social e de Direito (Estado social, porque visa promover o desenvolvimento económico, o bem-estar, a justiça social; e Estado de Direito, porque não prescinde do legado liberal oitocentista em matéria de subordinação dos poderes públicos ao Direito e o esforço das garantias particulares frente á Administração Pública) deverá contar com uma Função Administrativa muito forte, o que Universidade Católica de Moçambique 8 pressupõe existência de um Serviço Geral do Estado também forte e moderno. O tal Serviço Geral do Estado é «Administração Pública». Função administrativa é uma das funções básicas do Estado (ou dos seus delegados). A função administrativa é activa, pois em regra é independente de provocação do cidadão para ser exercitada; É subordinada à lei, portanto, é uma actividade infra-legal; A função administrativa é actividade infra-legal, activa, hierarquizada, de realização do interesse público; A função administrativa é o modo ordinário de realização dos fins públicos do Estado, em termos concretos, mais próximo ao cidadão. Em termos práticos a função administrativa do Estado consiste no desenvolvimento de actividades de forma permanente e homogénea, para prossecução dos objectivos que lhe são constitucionalmente cometidos. É comum no seio dos especialistas em Administração Pública designar as actividades desenvolvidas peloEstado no quadro da sua função administrativa de Funções do Estado. As Funções do Estado podem ser agrupadas da seguinte maneira: o FUNÇÕES DE CARÁCTER JURÍDICO e o FUNÇÕES DE CARÁCTER NÃO JURÍDICO Universidade Católica de Moçambique 9 As Funções de carácter jurídico são as que estão ligadas a criação de Direito: Função Constituinte (por vezes chamada Poder Constituinte) - faculdade de criar regras de Direito que representam a própria definição suprema e a organização do Estado-Colectividade, ou seja, faculdade de criar a Constituição. A esta função ou poder está intimamente ligado o poder de revisão constitucional, que consiste na possibilidade de alterar as regras constantes na Constituição em sentido material. b) Função legislativa - corresponde a prática de actos provenientes dos órgãos constitucionalmente competentes e que revestem a forma externa de lei; c) Função Executiva/ Governamental e Administrativa – que consiste na direcção, pelo Estado (através do Governo), dos interesses superiores da Nação nos domínios interno e externo; d) Função judicial ou jurisdicional - consiste no julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, ou privados e públicos, bem como na violação da Constituição e das leis, através de Tribunais e da Polícia Ela se traduz na aplicação da lei, e do seu exercício nasce a Jurisprudência. As Funções de carácter não jurídico consistem na definição de macro-políticas e na escolha de melhores opções sociais e na produção de bens materiais e imateriais, sendo: Universidade Católica de Moçambique 10 Função política – se traduz na definição e prossecução pelos órgãos do poder político dos interesses essenciais da colectividade, realizando, em cada momento, as opções para o efeito consideradas adequadas; Função técnica – consiste na produção de bens e serviços destinados à satisfação de necessidades colectivas de carácter material e cultural. Função técnica é exercida pela Administração Pública e corresponde à administração pública. Os Bens e Serviços Materiais e Imateriais se concentram essencialmente nos domínios que mais interessam a vida dos cidadãos: 1. Manutenção da ordem pública, baseando-se na defesa de diversos fins e correspondendo, a tranquilidade, segurança e salubridade; 2. Satisfação de outras necessidades de interesse geral ou colectivo, de carácter cultural e social, por ex: educação e ensino, cultura, investigação científica, intervenção nos domínio sociais (para melhorar a saúde pública ou para diminuir os efeitos negativos do desemprego, etc), nos sectores comercial e industrial ou no sector agrícola, nas obras públicas e habitação, etc. Exercícios 1. Conceituar o Estado, apresentar e explicar as suas funções. Universidade Católica de Moçambique 11 2. Identificar os fins da existência do Estado e a maneira como pode alcançá-los. Respostas: 1. Designam-se funções do Estado as actividades desenvolvidas pelo Estado no quadro da sua função administrativa, podendo ser agrupadas da seguinte maneira: o FUNÇÕES DE CARÁCTER JURÍDICO e o FUNÇÕES DE CARÁCTER NÃO JURÍDICO As Funções de carácter jurídico são as que estão ligadas a criação de Direito: Função Constituinte (por vezes chamada Poder Constituinte) - faculdade de criar regras de Direito que representam a própria definição suprema e a organização do Estado-Colectividade, ou seja, faculdade de criar a Constituição. A esta função ou poder está intimamente ligado o poder de revisão constitucional, que consiste na possibilidade de alterar as regras constantes na Constituição em sentido material. b) Função legislativa - corresponde a prática de actos provenientes dos órgãos constitucionalmente competentes e que revestem a forma externa de lei; c) Função Executiva/ Governamental e Administrativa – que consiste na direcção, pelo Estado (através do Governo), dos interesses superiores da Nação nos domínios interno e externo; d) Função judicial ou jurisdicional - consiste no julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, Universidade Católica de Moçambique 12 ou privados e públicos, bem como na violação da Constituição e das leis, através de Tribunais e da Polícia. Ela se traduz na aplicação da lei, e do seu exercício nasce a Jurisprudência. As Funções de carácter não jurídico consistem na definição de macro-políticas e na escolha de melhores opções sociais e na produção de bens materiais e imateriais, sendo: Função política – se traduz na definição e prossecução pelos órgãos do poder político dos interesses essenciais da colectividade, realizando, em cada momento, as opções para o efeito consideradas adequadas; Função técnica – consiste na produção de bens e serviços destinados à satisfação de necessidades colectivas de carácter material e cultural. Função técnica é exercida pela Administração Pública e corresponde à administração pública. 2. O Estado como uma organização não existe em si ou por si: existe para resolver os problemas da sociedade, quotidianamente; existe para garantir a segurança, fazer justiça, promover a comunicação entre os homens, dar-lhes a paz e bem-estar e progresso. É um poder de decisão no momento presente, de escolher entre opções diversas, de praticar os actos pelos quais satisfaz pretensões generalizadas ou individualizadas das pessoas e dos grupos; É autoridade e é um serviço; Universidade Católica de Moçambique 13 É o dever de um Estado atender ao interesse público, satisfazendo o comando decorrente dos actos normativos. O cumprimento do comando legal, deverá decorrer da função exercida por pessoa jurídica de direito público. Para alcançar os seus fins e objectivos qualquer Estado moderno deverá contar com uma Função Administrativa muito forte, o que pressupõe existência de um Sector Público também forte e moderno. Em suma, duplo é o fim do Estado: A) garantia da soberania externa, B) manutenção da paz interna. No primeiro caso o Estado é uma pessoa jurídica, defendendo seus interesses contra a intromissão estrangeira, contra a turbação de terceiros. No segundo caso, o Estado é uma instituição social, um aparelho de organização social para manter império da lei, o domínio do Direito, a boa administração da coisa pública, a distribuição da justiça, da riqueza, etc. Dossier: 2 Unidade 2 ORGANIZAÇÕES E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – alguns conceitos de referência Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Universidade Católica de Moçambique 14 Objectivos 1. Conceituar a organização; 2. Identificar e distinguir as organizações. 1..Organizações e Administração Pública – alguns conceitos de referência Não se trata propriamente de matéria desta cadeira. Todavia, entendo que os estudantes precisam de alguns conceitos referência para melhor compreender a figura da Reforma do Sector Público. 1.1..As organizações burocráticas ou burocracias O termo “organização” tem várias acepções ou sentidos: pode designar um acto ou efeito de organizar, uma das funções de gestão, como pode referir-se à realidades sociais como operações de natureza múltipla, como um banco, uma indústria, uma escola, um hospital, um ministério, uma ONG, um sindicato, em clube, etc. É com este último significado que será tratado neste manual. Neste caso – organização é uma colectividade instituída com vista a alcançar objectivos previamente definidos, tais como produção e/ou distribuição de bens ou serviços, formação de pessoas, etc. Em sentido geral, organização é o modo como se organiza um sistema. É a forma escolhida para arranjar, dispor ou classificar objectos, documentos,e informações. Em Administração organização tem dois sentidos: Universidade Católica de Moçambique 15 Grupo de indivíduos associados com um objectivo comum. Ex.: Empresas, associações, órgãos do Estado, do Governo, órgãos da Administração Pública ou Privada, ou seja, qualquer entidade pública ou privada. As organizações são compostas de estrutura física, tecnologia e pessoas; Modo como foi estruturado, dividido e sequenciado o trabalho. Segundo Idalberto CHIAVENATO, in Recursos Humanos, 7ª edição compacta, “ a organização é um sistema de actividades conscientemente coordenadas de duas ou mais pessoas. E que a cooperação entre elas é essencial para a existência da organização...” Existem vários tipos e tamanhos de organizações Sociais, políticas, etc.; Nacionais; Internacionais; Infra-estatais; Supra-estatais; Simples; Complexas. Etc. Mais o Organização – Duas ou mais pessoas trabalhando juntas de modo estruturado para alcançar um objectivo específico ou um conjunto de objectivos; o Organização é uma colectividade instituída com vista a objectivos definidos, tais como a produção e/ou a distribuição de bens ou serviços, a formação de pessoas. Universidade Católica de Moçambique 16 O estudo das organizações passou a constituir campos específicos de conhecimento, em virtude da complexidade e diversidade de problemas e conflitos criados pela burocracia, que é o modo de estrutura e funcionamento da quase totalidade das organizações. É assim que surgiram a Teoria da Administração, a Sociologia das Organizações, a Psicologia Organizacional, a Formação e Desenvolvimento de Recursos Humanos, entre outras. Os objectivos dessas áreas de conhecimento não é apenas o estudo das organizações, numa perspectiva analítica, que permita a compreensão dos fenómenos que nelas decorrem, mas também contribuir para o aperfeiçoamento da sua operacionalização e funcionamento, de forma a assegurar o alcance da sua eficiência, eficácia e efectividade. O sociólogo alemão Max Weber é até hoje reconhecido como um dos mais importantes estudiosos das organizações burocráticas, ou simplesmente burocracias. Ele demonstrou que as diferentes organizações sociais, desde do Estado até a uma ONG com vocação de salvaguardar os direitos da criança, por exemplo, possuem em comum o sistema de administração que tende à racionalidade integral e têm as seguintes características: i. São colectividades instituídas para administrar e racionalizar o trabalho de um grupo de pessoas em direcção a objectivos definidos e que pode estar relacionados à produção e/ou distribuição de bens ou de serviços; ii. São estruturas de poder, em que as relações entre as pessoas são definidas a partir de uma rede de mando e de subordinação, que reflecte a desigual distribuição de poder existente; Universidade Católica de Moçambique 17 iii. Reflectem a crença na justiça dos instrumento legais, que determinam a autoridade dos diferentes cargos e os mecanismos de acesso aos postos de maior poder ou responsabilidade. As organizações burocráticas ou burocracias constituem, portanto, uma estrutura social, na qual a direcção das actividades colectivas é exercida por um aparelho impessoal, hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios e métodos racionais. Nelas as decisões são tomadas por um corpo de dirigentes ou gestores, que orientam a sua direcção, utilizando um conjunto de regras e normas racionais, formalmente definidas e reconhecidas, para dar legitimidade à sua acção. Como se pode facilmente compreender, a forma de estruturação do poder, as regras e normas que orientam o seu funcionamento, os actos administrativos, os modelos de exercício de gestão adoptados e todos os componentes que fazem a parte da vida organizacional não são instrumentos neutros: reflectem e reproduzem as formas de dominação e estrutura de poder vigente no sistema-organização e, as vezes, no ecossistema de que faz parte. Lembre-se Vulgarmente se chama “burocracia” as disfunções burocráticas, o disfuncionamento de uma burocracia, o burocratismo, ou seja os desvios ou as consequências imprevistos ou indesejáveis, gerados pelo modelo burocrático. Universidade Católica de Moçambique 18 Exercícios EXERCÍCIOS: 1. Apresentar o conceito de organização; 2. Conceituar as organizações burocráticas e apresentar as características do seu sistema de administração. Respostas: 1. Organização é uma colectividade instituída com vista a alcançar objectivos previamente definidos, tais como produção e/ou distribuição de bens ou serviços, formação de pessoas, etc. 2. As organizações burocráticas são uma estrutura social, na qual a direcção das actividades colectivas é exercida por um aparelho impessoal, hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios e métodos racionais. Nelas as decisões são tomadas por um corpo de dirigentes ou gestores, que orientam a sua direcção, utilizando um conjunto de regras e normas racionais, formalmente definidas e reconhecidas, para dar legitimidade à sua acção. Elas possuem, em comum, o sistema de administração que tende à racionalidade integral e têm as seguintes características: i. São colectividades instituídas para administrar e racionalizar o trabalho de um grupo de pessoas em direcção a objectivos definidos e que pode estar relacionados à produção e/ou distribuição de bens ou de serviços; ii. São estruturas de poder, em que as relações entre as pessoas são definidas a partir de uma rede de mando e de Universidade Católica de Moçambique 19 subordinação, que reflecte a desigual distribuição de poder existente; iii. Reflectem a crença na justiça dos instrumento legais, que determinam a autoridade dos diferentes cargos e os mecanismos de acesso aos postos de maior poder ou responsabilidade. Unidade 3 Características das organizações burocráticas Introdução Apresente aqui uma breve introdução ao conteúdo desta unidade / lição. Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Perceber e identificar as características das organizações burocráticas; 2. Identificar e analisar criticamente “disfunções burocráticas”. 1..Características das Organizações Burocráticas As burocracias modernas têm como traços mais marcantes: A fonte da sua legitimidade reside num poder raciona-legal; nelas, a autoridade deriva de normas legais escritas, em vez de decorrer de tradições de qualquer natureza; As atribuições dos seus funcionários são fixadas oficialmente, mediantes leis, regulamentos ou outros dispositivos formais/administrativos; Universidade Católica de Moçambique 20 Uma hierarquia de funções integradas, num sistema de mando, de tal modo que, em todos os níveis, essa hierarquia toma a forma de uma pirâmide; Existe, nelas, também, uma divisão horizontal de trabalho, pela qual, através de cargos, as actividades são distribuídas de forma impessoal, ou seja, independentemente das pessoas que vão realizá-las, o critério dessa distribuição é dado pelos objectivos que a organização deve atingir; A administração/gestão das burocracias modernas é formalmente planificada e organizada; a actividade administrativa se realiza mediante documentos escritos, por vezes extremamente detalhados; Nelas o exercício funcional do trabalho pressupõe algum tipo de pirâmide profissional. Elas são dirigidas por administradores civis com as seguintes características: i. Têm alguma especialidade; ii. Têm como única (ou principal) actividade o exercício do seu cargo; iii. Não são possuidores dos meios de administração e produção (são apenas funcionários; iv. Identificam-se com a organização de forma impessoal e sãoremunerados em dinheiro; v. São nomeados por superiores hierárquicos, com mandato definido; vi. Segue uma carreira, tendo direito, no final desta, os benefícios da aposentação ou da reforma. Apesar de toda a racionalidade do modelo burocrático, ele apresenta um conjunto de desvios e anomalias, a que denominou “disfunções burocráticas”, que levam à sua ineficiência e à ineficácia. Podem-se destacar, entre elas: Universidade Católica de Moçambique 21 - Despersonalização do relacionamento entre os participantes – trata-se de uma maneira formalizada, levando em conta o cargo que cada um ocupa; - Forte internalização de directrizes, regulamentos e normas, concebidos inicialmente para favorecer o alcance dos objectivos organizacionais, que logo que entrarem em vigor, adquirem valor próprio e absoluto, deixando de ser meios para se transformarem em objectivos; - O funcionário que possui categoria hierárquica mais elevada tem a prerrogativa do processo decisório, independentemente da sua competência profissional sobre a matéria ou o assunto a ser decidido; - Excesso de formalismo e de “papelório”: forte tendência de documentar e formalizar todas as comunicações, a ponto de prejudicar o processamento dos trabalhos de organização; - Exibição de sinais de autoridade: como a hierarquia, como meio de controle do desempenho dos participantes, é muito valorizada, surge a necessidade de utilização de sinais ou símbolos que destaquem a autoridade e o poder; - Super conformidade em relação às regras e regulamentos, que passam a adquirir fundamental importância para o funcionário; - Resistência à mudança e tendência dos participantes a se defenderem de pressões (internas e/ou externas), para a modernização, percebidas como ameaça às posições que desfrutam e à estabilidade adquirida. Exercícios EXERCÍCIOS: Universidade Católica de Moçambique 22 1. Com base nos assuntos abordados nesta unidade e da sua experiência profissional indique algumas características que, até agora, vinham influenciando vossa prática como servidores públicos. 2. Faça, agora, a sua lista pessoal de disfunções burocráticas que ocorrem na sua organização. Unidade 4 Especificidades da Administração Pública Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Entender as especificidades da Administração Pública; 2. Identificar e distinguir as três categorias da Administração do Estado. 1..Especificidades da Administração Pública A Administração Pública, além das características comuns a qualquer organização burocrática, anteriormente indicadas, tem suas especificidades, grande parte delas determinadas por variáveis de Sociedade de que faz parte e do Governo que a dirige. Os membros de uma Sociedade tendem a ter diferentes interesses e valores, de acordo com o grupo ou classe social a que pertencem, profissão que exercem, ou ainda, de acordo com os factores que marcam as origens ou experiência de vida de Universidade Católica de Moçambique 23 cada indivíduo. Esses valores se expressam, em geral, através das associações, sindicatos, grupos de pressão, partidos políticos, etc. O Governo, entidade formada pelo conjunto de poderes e órgãos constitucionais, responsável pela condução política dos negócios públicos e privados do Estado, tem como ponto de partida para a sua acção, alguns interesses e valores organizados, ou mesmo a resultante da interacção entre os diversos agrupamentos. É próprio do Governo ter determinados interesses e valores, conforme o contexto social, nos diferentes momentos históricos. Por outro lado, os governantes vinculam-se necessariamente a algum partido político e têm, portanto, o compromisso de implementar as directrizes contidas no seu programa. Essa vinculação partidária, bem como os instrumentos do poder de que se dispõem, contribuem para que se defina a acção do Governo como uma acção política (nunca poderá ser neutra, pois não poderá atender e satisfazer indistintamente a todos os sectores e interesses dos grupos que constituem a Sociedade). A Administração Pública vem a ser o sistema, ou macro- organização, ou o conjunto dos órgãos oficiais, responsável pela concretização das acções do Governo; ela implementa e executa as decisões políticas por ele determinadas; é braço operacional dos actos governamentais, que a distingue das demais organizações da Sociedade e o confere o carácter de público. Assim, Governo e Administração Pública são entidades diferentes, mais indissociáveis e interdependentes. A Administração Pública varia no plano organizativo, segundo os modelos de governo, e conforme as características de cada país nos níveis económico, social e cultural. Actua, também de Universidade Católica de Moçambique 24 acordo com as formas e os limites estabelecidos pelo Direito Público. De modo geral, a Administração Pública abrange: A Administração Directa centralizada, da qual fazem parte: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. Lembre-se Poder ( do latim potere) é, literalmente, o direito de deliberar agir, e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força. a possibilidade atribuída a alguém de eficazmente ou ineficazmente impor aos outros a respeito da própria conduta ou traçar a conduta alheia. Numa outra formulação – poder é capacidade de influenciar ideias, comportamentos, atitudes de pessoas ou grupos através das várias formas – coerção, persuasão, recompensa, sanção, referência (respeito, admiração) e competência. Numa gestão participativa o tipo de poder que prepondera é o poder de competência, legitimado pelo reconhecimento do conhecimento e das capacidades do líder no desempenho eficiente e eficaz de seu papel. A política define o poder como a capacidade de impor algo sem alternativa para a desobediência. O poder político, quando reconhecido como legítimo e sancionado como executor da ordem estabelecida, coincide com autoridade, mas há poder político distinta com esta que até se lhe opõe, como acontece na revolução ou nas ditaduras. A Sociologia define o poder , geralmente, como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se estes resistirem da Universidade Católica de Moçambique 25 sua maneira. Existem, dentro do contexto sociológico, diversos tipos de poder: o poder social, o poder económico, o poder militar, o poder político, o poder tradicional, entre outros. Foram importantes para o desenvolvimento da actual concepção de poder os trabalhos de Michel Foucault, Max Weber, Pierre Bourdieu. Dentre as principais teorias sociológicas relacionadas ao poder podemos destacar a teoria dos jogos, o feminismo, o machismo, o campo simbólico, o especismo, etc. OS PRINCIPAIS PODERES DO ESTADO A. Poder Legislativo O Poder Legislativo é o poder de legislar, criar e sancionar as leis. No sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder legislativo é representado pelos legisladores, homens que devem elaborar as leis que regulam o Estado. O poder legislativo na maioria das repúblicas e monarquias é constituído por um congresso, parlamento, assembleias ou câmaras. O objectivo do poder legislativo é elaborar as normas de direito de abrangência geral ou individual que são aplicadas a toda sociedade, objectivando a satisfação dos grupos de pressão; a administração pública; em causa própria e distender a sociedade. Em regimes ditatoriais o poder legislativo é exercido pelo próprio ditador ou por uma câmara legislativa nomeada por ele. Entre as funções elementares do poder legislativo está a de fiscalizar o poder executivo, votar leis orçamentárias, e, em situaçõesespecíficas, julgar determinadas pessoas, como o Presidente da República ou os próprios membros da assembleia. B. Poder Executivo O Poder Executivo é o poder do Estado que, nos moldes da Constituição de um país, possui a atribuição de governar o povo e administrar os interesses públicos, cumprindo fielmente as Universidade Católica de Moçambique 26 ordenações legais. O executivo pode assumir diferentes faces, conforme o local em que esteja instalado. No presidencialismo o líder do poder executivo, denominado Presidente é escolhido pelo povo para mandatos regulares acumulando a função de chefe de Estado e de chefe de governo. No parlamentarismo o poder executivo depende do apoio directo ou indirecto do parlamento para ser constituído e para governar. Este apoio costuma ser expresso por meio de voto de confiança. Não há, neste sistema de governo, uma separação nítida entre os poderes Executivo e Legislativo, ao contrário do que acontece no Presidencialismo. No semipresidencialismo no qual o chefe de governo (geralmente com o título de primeiro-ministro) e o chefe de Estado (geralmente com o título de presidente) compartilham em alguma medida o poder executivo, participando ambos, do quotidiano da administração pública de um Estado. O Presidente cuida das relações exteriores, o Primeiro-Ministro das relações internas, sob observação do Presidente. C. Poder Judicial O Poder Judicial ou Poder Judiciário é um dos três poderes do Estado moderno na divisão preconizada por Montesquieu em sua teoria de separação dos poderes. É exercido pelos juízes e possui a capacidade e a prerrogativa de julgar, de acordo com as regras constitucionais e leis criadas pelo Poder Legislativo em determinado país. O suíço Benjamin Constant idealizou a existência de quatro poderes; ao lado do Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário, o poder moderador que seria responsável pelo equilíbrio entre os demais. Da forma como foi concebido, situa- Universidade Católica de Moçambique 27 se hierarquicamente acima dos demais poderes do Estado. Esse poder seria pessoal e privativo do imperador, assessorado por um Conselho de Estado. Em termos do âmbito territorial do seu exercício, o poder do Estado pode ser Central ou Local. Poder Central resulta da aspiração de um povo unido em torno de ideais mobilizadores comuns, tais como a nação e vontade de viver em colectividade. Esta tendência chama apelo ao regime centralizado ou ao globalismo. Poder Local resulta da necessidade dos indivíduos de se exprimir no seio de estruturas de proximidade e de dimensões modestas directamente ligadas ao tratamento de certos assuntos ditos locais. Trata-se de uma situação acordada ao regime descentralizado e ao localismo. Portanto, é central o poder que emana de um órgão ou de um conjunto de órgãos investidos de atribuições, competências ou funções, conforme o tipo de órgão, com respeito a uma colectividade inteira, isto é, a todos os seus membros sem distinção, como o é o caso dos poderes exercidos pelos órgãos centrais. Inversamente, é poder local um poder que emana de um órgão investido de uma função ou competência para somente uma parte dos seus membros, por exemplo os poderes exercidos pelos órgãos autárquicos ou pelos órgãos locais do Estado. Princípio de Separação de Poderes Trata-se de um princípio preconizado por John Locke e celebrizado por Montesquieu, consistindo na dupla distinção: 1) Distinção das funções do Estado; 2) Distinção política dos órgãos que devem desempenhar ou Universidade Católica de Moçambique 28 exercer tais funções. Entende-se que para cada função deve existir um órgão próprio, diferente dos demais ou um órgãos próprios. O Princípio de Separação de Poderes teve a sua consagração efectiva no séc. XVIII, primeiro na Revolução americana e depois na Revolução francesa. O princípio se encontra traduzido nos planos do Direito Constitucional e do Direito Administrativo. No plano do Direito Constitucional, o princípio visa retirar ao rei e aos seus ministros a função de legislar, deixando-os apenas com a função política e a função administrativa. E foi assim que se deu a separação entre o Executivo e o Legislativo; No plano do Direito Administrativo, o princípio visa retirar à Administração Pública a função judicial e aos tribunais a função administrativa. Foi a separação entre a Administração Pública e a Justiça. Consequência directa do princípio 1. Separação dos órgãos administrativo (executivo), legislativo e judicial, e a cada órgão com atribuições próprias; 2. Aparecimento de incompatibilidades das magistraturas; 3. Independência recíproca da Administração e da Justiça, etc. Em Moçambique a Constituição consagra o princípio de separação de poderes e interdependência ( artº 134º ). Universidade Católica de Moçambique 29 A Administração descentralizada, composta por órgãos e unidades componentes, com personalidade jurídica de Direito Público e com autonomia administrativa e financeira, como as autarquias locais e institutos; A Administração Indirecta, integrada por instituições e organizações com personalidade jurídica de Direito Privado que actuam por concessão da Administração Pública, como as Empresas Públicas. Lembre-se 1. No Direito Administrativo e na Administração Pública a autarquia administrativa ou local é uma entidade da Administração Descentralizada do Estado; 2. Administração Indirecta do Estado é conjunta de pessoas administrativas que, vinculadas à Administração Directa do Estado, têm objectivo de desempenhar actividades administrativas de forma descentralizada; 3. Quando o Estado cria pessoas administrativas o seu objectivo é a execução de algumas tarefas do seu interesse por outras pessoas jurídicas; 4. Isto é, quando não pretende executar certa actividade através de seus próprios órgãos (Administração Directa do Estado – SPA`s – Serviços Públicos Administrativos) o PODER PÚBLICO/ESTADO transfere a sua titularidade ou execução a outras entidades. 5. Tal delegação quando é feita por contrato ou mero acto administrativo dá lugar ao aparecimento da figura de concessionário; 6. Quando é lei que cria entidades administrativas, surge a Universidade Católica de Moçambique 30 Administração Descentralizada e Indirecta: autarquias locais e SPIC`s – Serviços Públicos Industriais e Comerciais; 7. Algumas categorias de entidades administrativas (ligadas ao Estado) dotadas de personalidade jurídica própria: o Autarquias; o Empresas Públicas; o Sociedades de economia mista; o Fundações Públicas; o Institutos Públicos, Universidades, etc. Ao conjunto de todas essas organizações ou seja, à Administração Pública (também denominado por Aparelho do Estado), como braço executor do Governo, compete a gestão eficiente, eficaz e efectiva das políticas públicas em todos os sectores: saúde, educação cultura, economia, administração, agricultura, habitação, saneamento do meio, meio ambiente, etc. Exercícios EXERCÍCIOS: 1. A Administração Pública pode variar segundo alguns factores. Comente. 2. Indique os três tipos da Administração Pública. Respostas: Universidade Católica de Moçambique 31 O comentário que pode fazer é de concordar com a afirmação. Pois, a Administração Pública varia no plano organizativo, segundo os modelos de governo, e conforme as características de cada país nos níveis económico, social e cultural. E, actua também de acordo com as formas e os limites estabelecidos pelo Direito Público. Os três tipos de Administração Pública são: A Administração Directa centralizada, da qual fazem parte: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário; A Administração descentralizada,composta por órgãos e unidades componentes, com personalidade jurídica de Direito Público e com autonomia administrativa e financeira, como as autarquias locais e institutos; A Administração Indirecta, integrada por instituições e organizações com personalidade jurídica de Direito Privado que actuam por concessão da Administração Pública, como as Empresas Públicas. Unidade 5 Agentes Públicos Administrativos e Agentes Públicos Políticos Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Identificar as duas categorias de pessoas que trabalham no Estado; 2. Diferenciar os agentes públicos administrativos dos agentes públicos políticos. Universidade Católica de Moçambique 32 1..Agentes Públicos Administrativos e Agentes Públicos Políticos O Estado exerce a sua Função Administrativa e desenvolve as suas actividades através: 1. Da Administração Pública; 2. De pessoas. O conjunto de pessoas que trabalham no Estado e/ou ao serviço deste ou da Colectividade se chama FUNÇÃO PÚBLICA. A Função Pública é a massa humana que trabalha no Estado e para o Estado, ou seja no interesse deste. Essa massa é constituída por: Agentes Públicos Administrativos – Funcionários e Agentes do Estado; Agentes Públicos Políticos – Políticos. a. Agentes Públicos Administrativos – Funcionários e Agentes do Estado A maioria das pessoas que trabalham na Administração Pública são funcionários ou agentes do Estado de carreira, exercendo as suas funções, independentemente de quem assume o Governo, são os agentes públicos administrativos ou funcionários administrativos. É funcionário todo aquele que é empregado de uma administração estatal. Sendo uma designação geral, engloba todos aqueles que Universidade Católica de Moçambique 33 mantêm vínculos de trabalho com entidades governamentais, integrados em cargos ou empregos das entidades político- administrativas, bem como em suas respectivas autarquias, fundações, institutos, universidades, … de Direito Público, ou ainda, é uma definição a todo aquele que mantém um vínculo laboral com o Estado, e seu pagamento provém da arrecadação pública de impostos, sendo sua actividade chamada de "Típica de Estado", geralmente é originário de concurso público pois é defensor do sector público, que é diferente da actividade do Político, detentor de um mandato público, que está directamente ligado ao Governo e não necessariamente ao Estado de Direito, sendo sua atribuição a defesa do Estado de Direito, principalmente contra a Corrupção Política ou Governamental de um eleito, que costuma destruir o Estado (Historicamente); Pois um Estado corrompido demonstra geralmente que essa função, cargo ou serventia não funciona adequadamente. b. Agentes Públicos Políticos – Políticos Há, no entanto, outras pessoas que chegam ao poder e ao serviço do Estado (?) mediante mecanismos instituídos pelo sistema político. São os responsáveis pela ligação entre a definição e a implementação das acções do Governo. São os agentes públicos políticos. Cabe a eles a condução e a gestão estratégicas da Administração Pública e dos negócios do Estado em geral e, por consequência, a tomada das macro-decisões, a formulação das políticas públicas e das directrizes e o controlo da sua execução. São os dirigentes superiores do Estado: o presidente, os ministros, os secretários a todos os níveis e instituições, os governadores, os administradores de unidades territoriais. Eles estão no topo da pirâmide organizacional do Estado e têm a particularidade de ter alcançado o poder por intermédio de uma coalizão de forças políticas. Em geral cumprem um mandato de cinco anos e actuam no nível estratégico. Universidade Católica de Moçambique 34 Abaixo desse grupo, estão, como acima indico, os funcionários e agentes do Estado que actuam nas funções de implementação e execução administrativas, de acordo com a distribuição piramidal, própria das burocracias, actuando nos níveis táctico, técnico e operacional. Note Governo Esta palavra pode, antes de mais, significar a acção de governar ou a maneira de governar. É neste sentido que Montesquieu distinguia várias formas do governo. Na linguagem mais corrente, o termo governo designa o órgão que governa. Tomado neste sentido, o termo cobre realidades diferentes, partindo de uma significação sem conteúdo jurídico preciso evocando de maneira vaga o conjunto de pessoas e de instituições que exercem o poder político e executivo, até aos sentidos técnicos apropriados aos diversos regimes políticos. Num regime presidencial do tipo americano, o governo é composto por chefe de Estado ( o Presidente) e os seus colaborares(Secretários e Sub-secretários). Em regime parlamentar, o termo tem um conteúdo delicado a precisar. No sentido constitucional estrito, o governo é um órgão colegial composto por Primeiro-Ministro, Ministros, Ministros- Delegados ou Secretários de Estado. Neste regime (parlamentar) o chefe de Estado não faz parte do governo. Todavia, noutros regimes similares, o chefe de Estado preside o Conselho de Ministros, e neste sentido estima-se que ele participa no governo. Para além dessa abordagem global deve-se reter o seguinte: Que o governo é um órgão de condução da política geral Universidade Católica de Moçambique 35 do Estado e órgão superior da Administração Pública. É uma instituição complexa, variando de País para País ou de regime em regime, normalmente, fazendo parte dela os seguintes órgãos singulares: A. O chefe de Estado (o presidente), quando é igualmente chefe do governo (regime presidencialista); B. Primeiro-Ministro (como chefe do governo ou não e/ou chanceler); C. Os Ministros, Ministros-Delegados, Secretários e Sub-secretários de Estado; É órgão encarregado da aplicação das leis e da direcção política do Estado. É braço executivo do Estado. O governo possui as seguintes competências: Política, regulamentar (legislativa?) e administrativa. O governo é, portanto, instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação. Normalmente chama-se o governo ou gabinete ao conjunto dos dirigentes executivos do Estado, ou ministros ( por isso, também se chama Conselho de Ministros ). Governo da República de Moçambique – arts. 200º e seguintes – C.R. Definição e composição: definição, composição, convocação e presidência; Competência e responsabilidade (colectivas e individuais?): competências, do Primeiro-Ministro, relacionamento com Assembleia da República, responsabilidade e competências do Conselho de Ministros, responsabilidade política dos membros do CM, Universidade Católica de Moçambique 36 Solidariedade governamental, forma dos actos e imunidades. A forma ou regime do governo pode ser República ou Monarquia. A forma de governo é um conceito que se refere à maneira como se dá a instituição do poder na Sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. É a maneira como, num determinado Estado, o poder político está distribuído e é exercido. As formas do governo sobressaem quando é analisada a posição ou a participação do chefe de Estado neste órgão e, quando é analisado o seu funcionamento. Sistema do governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes ( Legislativo, Executivo e Judicial ). Exercícios EXERCÍCIO: “A Política é arte ou ciência da organização, direcção e governação/administração de Nações, Estados ou partes deste; Universidade Católica de Moçambique 37 Esta arte é aplicada nos negócios internos(Política Interna) e nos negócios externos (Política Externa). A política como forma de actividade ou de praxis humana,está estreitamente ligada ao do poder. O poder político é o poder do homem sobre outro homem descartado do exercício deste poder. O exercício da política deve alcançar pela acção dos políticos, em cada situação e em cada momento: a satisfação das necessidades de carácter colectiva/ as prioridades das populações/cidadãos. nas convulsões sociais - a unidade do Estado; em de estabilidade interna e externa - o bem-estar; em tempos de agressão ou de ditadura - a liberdade, os direito civis e políticos; em tempo de dependência - a independência; O exercício da Política não se compadece com a exclusão e com corrupção; O seu correcto exercício política deve resultar em Boa Governação. A esfera política é da relação amigo – inimigo. A origem e o exercício da política é o antagonismo. Nas relações sociais e sua função se liga à actividade de associar e defender os amigos e desagregar e combater os inimigos. O exercício da política gera conflitos políticos nas relações entre as pessoas e entre grupos/partidos. Esses conflitos instigam os homens, os grupos, mas porque a democracia multipartidária o exige, as pessoas e os grupos antagónicos se agregam internamente, formando órgãos onde se confrontam entre si. Por exemplo uma assembleia. Universidade Católica de Moçambique 38 As crises políticas resultantes do mau relacionamento político sugerem uma reflexão sobre o problema da ética na Política. Nenhuma profissão é mais nobre do que a Política, porque quem a exerce assume responsabilidades que só são compatíveis com grandes qualidades morais e de competência. O exercício político só se justifica se o político tiver uma visão e um espírito republicanos, ou seja, se as suas acções, para além de procurar conquistar o poder, forem dirigidas na busca do bem público – do bem-estar dos cidadãos. Um político corrupto, ladrão ou que influência negativamente as decisões fragiliza e destrui as instituições do Estado, perpetua o subdesenvolvimento e a pobreza, influenciando de forma grave a vida dos cidadãos”. - Discutir e analisar, em grupos, os aspectos mais salientes apresentados no texto e encontrar uma perspectiva que possa tornar a Administração Pública uma organização constituída por equipas de alto desempenho, mesmo sabido que ela conta com o concurso de duas categorias de agentes, cujas directrizes de actuação nem sempre são os mesmos. o Apresentar uma síntese. Unidade 6 Administração Pública nos Países em Desenvolvimento Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos - Analisar os desafios da Administração Pública nos países em via de desenvolvimento. Universidade Católica de Moçambique 39 1..Administração Pública nos Países em Desenvolvimento Nesses países, as políticas públicas são formuladas no sentido de superar enormes carências básicas, especialmente relacionadas às áreas sociais: na área de alimentação, da saúde, da educação, do trabalho. Um projecto político de desenvolvimento requer vontade política dos governantes, uma formulação cuidadosa e adequada das políticas públicas e a criação de uma Administração Pública eficiente, eficaz e efectiva, capaz de: • Perceber um cidadão como seu “cliente” e a própria razão da existência da organização; • Priorizar a relação com o cidadão, isto é, considerar sua participação no desenvolvimento dos trabalhos do Aparelho do Estado; • Contribuir para o aumento da produtividade; • Prestar serviços com qualidade; • Contar com espaços políticos para a gestão participativa; • Promover a desconcentração; • Promover a descentralização; • Ser transparente, o que se associa directamente com a democratização das informações. Em resumo, o grande desafio para a Administração Pública é desenvolver suas competências técnica e administrativa para, num amplo esforço, juntamente com a Sociedade (os cidadãos clientes) e Governo, contribuir para a democratização e o desenvolvimento da Sociedade em todos os níveis e aspectos. Universidade Católica de Moçambique 40 Lembre-se Fora de outras tantas ideias, opiniões e visões que possam existir, sugiro que a Política Pública seja entendida como uma “linha condutora e/ou directora, ou ainda uma tendência de uma acção colectiva que procura concretizar direitos sociais declarados e garantidos em leis. É mediante as políticas públicas que são distribuídos ou redistribuídos bens sociais, em resposta às demandas da Sociedade. Por isso, o direito que as fundamenta é direito colectivo e não individual”. (Pereira, citada por Degennszaij, 2000: 59). Ao se pensar em política pública torna-se necessária a compreensão do termo público e sua dimensão. Nesse sentido, Pereira destaca: O termo público, associado à política, não é uma referência exclusiva do Estado, como muitos pensam, mais sim a coisa pública, ou seja, de todos, sob a égide de uma mesma lei e o apoio de uma comunidade de interesses. Portanto, embora as políticas públicas sejam reguladas e frequentemente providas pelo Estado, elas também englobam preferências, escolhas e decisões privadas podendo (e devendo) ser controladas pelos cidadãos. A política pública expressa, assim, a conversão de decisões privadas em decisões e acções públicas, que afectam a todos. (Pereira, 1994). Exercícios EXERCÍCIO: Foi dito que o grande desafio para a Administração Pública é desenvolver suas competências técnica e administrativa para, num Universidade Católica de Moçambique 41 amplo esforço, juntamente com a Sociedade (os cidadãos clientes) e Governo, contribuir para a democratização e o desenvolvimento da Sociedade em todos os níveis e aspectos. Sendo você um futuro administrador civil, equipado com todas as ferramentas necessárias para o desempenho das suas funções, e, sabido que Moçambique é um país em via de desenvolvimento, apresentar um projecto de que possa desenvolver as competências técnica e administrativas da instituição onde trabalha. Unidade 7 REFORMA DO SECTOR PÚBLICO E MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Identificar os grandes problemas administrativos do mundo contemporâneo; 3. Discutir sobre o impacto dos problemas da Administração na vida do cidadão. 1..Os Grandes Problemas Administrativos do Mundo Contemporâneo Largamente ligados ao crescimento de intervenções, tais (esses) problemas não param de se agravar, sobretudo nos países em via de desenvolvimento, entre eles Moçambique. O aumento contínuo de Agentes Públicos Administrativos (os Funcionários e agentes do Estado) e dos Agentes Públicos Políticos (os Políticos na Administração Pública ou no Sector Público) é neles o reflexo mais Universidade Católica de Moçambique 42 notável. Mais insidiosa e mais preocupante é o aumento do grau da complexidade de estruturas administrativas. A multiplicação de serviços antigos, pela cissiparidade, se duplicou devido a uma criação política de novos organismos. As razões invocadas são diversas e muitas vezes justificadas a priori, embora as consequências afectem, de forma grave, o funcionamento geral do aparelho administrativo, o que suscita muitas e duras críticas. As dificuldades de coordenação, a má circulação de informação, por causa da compartimentalização, a diluição de responsabilidades, as práticas corruptivas e desvios colossais, falta de transparência e integridade, nos servidores públicos, o desperdício de energia em reuniões intermináveis ou em relatórios muitas vezes vazios e rapidamente arquivados e esquecidos, conduzem a opinião pública a pôr em causa ou a acusar a Administração Pública ou o Sector Público. Geralmente as palavras mestras usadas nesse requisitório são: Potência e opressão. É verdadeque ao longo do séc. XX o respeito do Direito pelas autoridades administrativas, sobretudo nos Estados mais modernos, visivelmente foi reforçado, com um desenvolvimento de sistemas de controlo das suas acções ou decisões e, particularmente, do controlo jurisdicional. Contudo, a Administração Pública ou o Sector Público são visados pela contestação que abala todos os poderes, especialmente os poderes políticos. A sua extensão, a sua complexidade senão o seu hermetismo a transforma num universo kafkaїano. Os administrados ou os clientes sofrem mas eles não sabem nem como a Administração age nem porquê ele lhes impõe esta ou aquela decisão ou medida. E mesmo que nos últimos decénios ela não para de apresentar uma vontade aparente de querer agir com transparência, mas a sua opacidade parece aumentar ainda mais a distância que separa os cidadãos das instâncias de que tanto necessitam ou dependem, levando-os a uma situação de cativos ou reféns. Universidade Católica de Moçambique 43 A procura de solução para essa situação passa, antes de tudo, por uma reflexão sobre os Poderes Públicos e sobre as instituições da Administração Pública ou do Sector Público e seu lugar na Sociedade. A ideia de Poderes Públicos e da Administração Pública nos remete, particularmente, à questão fundamental e complexa do poder normativo do Estado: quais são fundamentos, o conteúdo e os limites de tal poder de editar regras jurídicas? Qual é o papel do Direito na regulação da Sociedade, da vida em Sociedade ou na Sociedade e qual é, hoje, o lugar do Direito do Estado? Se o Estado intervém demasiadamente, então que intervenha menos! Mas então que o Estado deve fazer exactamente? Primeiro a questão da redefinição do seu papel se coloca ao tanto que a da reforma ou da modernização dos seus serviços. O Direito do Estado é uma etapa superior do Direito Público, fixada em instituições permanentes, ao contrário do Direito Público governativo, vinculado a grupos políticos determinados ou a orientações políticas contingentes. O Direito do Estado denota o direito de cidadania, pois é o direito garantidor da cidadania. As normas que o condensam reclamam crescente participação popular na sua produção e vigorosa submissão a critérios materiais de legitimação, como o respeito aos direitos fundamentais e os valores da democracia, da igualdade e da segurança jurídica. O Direito Público é o conjunto de normas que dispõem sobre interesses ou utilidades imediatas da comunidade, como: o Direito Constitucional ou Político, o Direito Administrativo, o Direito Criminal ou Penal, o Direito Processual ou Judiciário, o Direito Fiscal ou Tributário, o Direito Económico ou Financeiro, o Direito Público Universidade Católica de Moçambique 44 Internacional. Regula as relações e interesses do Estado entre seus agentes e a colectividade. Visa o bem-estar comum, especificado em normas aprovadas por representantes do Povo, escolhidos democraticamente. Sob perspectiva da cidadania, como conjunto de normas de protecção contra o abuso, a arrogância, a demagogia, a prepotência, o autoritarismo, a ditadura do poder do governo ou dos políticos, o Direito Público também é denominado Direito do Estado ( em contraposição do direito do governo ou direito especial do poder ). Outro ponto que distingue o Direito Público é o princípio que o rege: o Princípio da Supremacia do interesse público em face do interesse individual. Com isso será sempre priorizado o interesse geral em detrimento do interesse individual de cada pessoa, devendo este submeter- se àquele. A Administração Pública moçambicana não está isenta dos problemas administrativos do mundo contemporâneo. Exercícios EXERCÍCIO: Discutir e analisar o impacto dos problemas administrativos do mundo contemporâneo na vida do cidadão. o Apresentar uma síntese. Universidade Católica de Moçambique 45 Unidade 8 O PAPEL DO ESTADO Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Identificar e perceber o papel do Estado; 2. Analisar criticamente o papel do Estado. 1..O Papel do Estado Não se trata, evidentemente, de uma questão própria ou unicamente de Moçambique. As intervenções do Estado têm tendências de aumentar quase em todas as esferas da vida dos cidadãos. Foi assim nos Estados Socialistas que realizaram mais ou menos a apropriação colectiva dos meios de produção. Nos jovens Estados surgidos da descolonização, incluindo o nosso, também foi assim, tiveram grandes dificuldades de abandonar totalmente iniciativas públicas nas tarefas do desenvolvimento, a favor do sector privado. Mesmo nos países industrializados que escolheram as democracias pluralistas, se o estatismo ou a intervenção demasiada do Estado foi condenado por alguns, podia-se pensar que a acção do Estado foi necessária devido à dificuldades de conjuntura económica. Acima de tudo, ela pareceu indispensável para atingir, por meio de políticas sociais apropriadas, o “bem-estar” (welfare state). Universidade Católica de Moçambique 46 Na verdade, o papel do Estado constitui um debate antigo e actual pelo mundo fora, e, também em Moçambique. Quando de ninguém se perguntam o que deve fazer – se ele deve, mais precisamente, «fazer ou mandar fazer» - muitos estão sempre prontos a denunciar o intervencionismo demasiado do Estado. Em Moçambique o debate se tornou particularmente vivo em 1976, quando o país se engaja no processo de intervencionismo. Com efeito, as nacionalizações atingiram o papel económico do Estado. Metendo- lhe ao lado das suas principais funções de assistência (segurança social, ajuda ou apoio social...), passando, mais do que nunca, a ser banqueiro, segurador, transportador, construtor, montador, importador, distribuidor, comerciante, agricultor, carpinteiro, mecânico, pescador, etc. Na mesma época, outros países davam o exemplo contrário e a tendência geral foi mais refluxo. A senhora Margaret Thatcher no Reino Unido, o senhor Ronald Reagan nos Estados Unidos, confiaram apenas nos mecanismos do mercado, lutaram por desregulamentação e reduzir ao mínimo estrito as prestações asseguradas, indo na limitação de esforço de solidariedade a favor dos mais desfavorecidos. Em Moçambique, com o início, em 1986, da segunda geração das reformas moçambicanas novos discursos e tendências aparecem. O unilateralismo do Estado deixou de ser credível e o «tudo Estado», sobretudo após o desmoronamento dos regimes comunistas da Europa do Leste, não era mais defensável. Um consenso parece que se impõe para se ultrapassar a alternativa de mais ou de menos intervenção. «Melhor fazer», diga, tudo nele se acordando sobre a necessidade do recuo do Estado produtor e da necessidade da sua centragem nas missões essenciais de protecção, regulação e solidariedade. Universidade Católica de Moçambique 47 Nesta perspectiva, o «posicionamento» do Estado é analisado ou deve ser analisado a partir de duas questões (1) sobre a legitimidade própria da acção pública e (2) sobre o nível de pertinência que ela deve ser conduzida. Tratando-se da legitimidade da acção pública, é claro que se o Estado não tem a vocação de administrar a economia, de substituir as empresas, o seu papel resta neste domínio considerado indispensável. Ele (o papel do Estado) é duplo: (1) regular os mercados, que como sabemos, com a mundialização económica se generaliza a lógica de concorrência desleal e de confrontações, (2) promover a competitividade nacional. A regulamentação e a incitação se afiguram instrumentos privilegiados, mesmo se o primeiro necessite de ser completado pela criação de uma entidade reguladora com uma certa autonomia, de carácter jurisdicional, para exercer um controlo a posterior, sobre o funcionamentodos mercados, enquanto o Estado se ocupa da regulamentação a priori. Também é reafirmada a responsabilidade do Estado em matéria de «repartição do risco social… solidariedade social… difusão do saber». O Estado deve-se manter como o garante do interesse geral, garante da solidariedade, livre de tarefas fora do seu principal negócio, de forma a poder repensar a sua acção e ultrapassar a crise do Estado-providência que se mostra mais aguda do que nunca. Como, com efeito, em diante poderá o Estado financiar as despesas sociais? Enquanto a população activa não para de aumentar e também o aumento do número de excluídos, a criação ou invenção de novos mecanismos de redistribuição de riquezas se torna necessária. A questão sobre o nível de pertinência no qual deve ser conduzida a acção pública não é menos decisiva. A construção comunitária (SADC) e do Estado de Direito e de Justiça Social de um lado, a Universidade Católica de Moçambique 48 descentralização e a desconcentração do outro, nos levam a nos perguntarmos se os Estados da Comunidade, pouco a pouco, não virão a ser inúteis. Se recusarem de admitir e considerar que a transferência de competências em proveito da SADC deve ser limitada ao estrito necessário e que em respeito das colectividades descentralizadas e desconcentradas dos Estados permaneçam o garante da unidade nacional – não dispensa, ao contrário, uma reavaliação do seu papel. O muito solicitado, nos últimos anos, o princípio de subsidiariedade nos dá um quadro de um raciocínio aplicável a todos os níveis. É necessário, ainda, decidir que cada nível (local ou municipal) pode fazer da melhor forma possível. Exercícios o Em grupos ou individualmente discutir o papel do Estado e apontar uma perspectiva para o futuro dos papeis dos Estados membros da SADC. Apresentar uma síntese. Unidade 9 O SECTOR PÚBLICO Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Conceituar o Sector Público; 2. Identificar o objectivo e a missão do sector público; 3. Identificar e discutir os problemas e os desafios do sector público. 1..O Sector Público Universidade Católica de Moçambique 49 O Sector Público é o conjunto de instituições e agências que sendo directa ou indirectamente pelo Estado têm como objectivo final a provisão de serviços públicos. Isto é, serviços para a satisfação de necessidades de carácter colectivo, nomeadamente: Manutenção da ordem pública, baseando-se na defesa de diversos fins e correspondendo, a tranquilidade, segurança e salubridade; Satisfação de outras necessidades de interesse geral ou colectivo, de carácter cultural e social, por ex: educação e ensino, cultura, investigação científica, intervenção nos domínio sociais (para melhorar a saúde pública ou para diminuir os efeitos negativos do desemprego, etc ), nos sectores comercial e industrial ou no sector agrícola, nas obras públicas e habitação, etc. Ao conjunto de todas as Instituições e Agências do Estado ou seja, à Administração Pública em sentido orgânico (também denominado por Sector Público), como braço executor do Governo, compete a gestão eficiente, eficaz e efectiva das políticas públicas em todos os sectores: saúde, educação cultura, economia, administração, agricultura, habitação, saneamento do meio, meio ambiente, etc. Como foi dito, apesar de toda a racionalidade do modelo administrativo do Estado, ele apresenta um conjunto de desvios e anomalias, a que se denominou “disfunções burocráticas”, que levam à sua ineficiência e à ineficácia. Podendo-se destacar, entre elas: - Despersonalização do relacionamento entre os participantes – trata-se de uma maneira formalizada, levando em conta o cargo que cada um ocupa; Universidade Católica de Moçambique 50 - Forte internalização de directrizes, regulamentos e normas, concebidos inicialmente para favorecer o alcance dos objectivos organizacionais, que logo que entrarem em vigor, adquirem valor próprio e absoluto, deixando de ser meios para se transformarem em objectivos; - O funcionário que possui categoria hierárquica mais elevada tem a prerrogativa do processo decisório, independentemente da sua competência profissional sobre a matéria ou o assunto a ser decidido; - Excesso de formalismo e de “papelório”: forte tendência de documentar e formalizar todas as comunicações, a ponto de prejudicar o processamento dos trabalhos de organização; - Exibição de sinais de autoridade: como a hierarquia, como meio de controlo do desempenho dos participantes, é muito valorizada, surge a necessidade de utilização de sinais ou símbolos que destaquem a autoridade e o poder; - Superconformidade em relação às regras e regulamentos, que passam a adquirir fundamental importância para o funcionário; - Resistência à mudança e tendência dos participantes a se defenderem de pressões (internas e/ou externas), para a modernização, percebidas como ameaça às posições que desfrutam e à estabilidade adquirida. Também importa sublinhar que nos países como Moçambique, as políticas públicas são formuladas no sentido de superar enormes carências básicas, especialmente relacionadas às áreas sociais: na área de alimentação, da saúde, da educação, do trabalho. Nesses países um projecto político de desenvolvimento requer vontade política dos governantes, uma formulação cuidadosa e adequada das políticas públicas e a criação de uma Administração Pública eficiente, eficaz e efectiva, capaz de: Universidade Católica de Moçambique 51 • Perceber um cidadão como seu “cliente” e a própria razão da existência da organização; • Priorizar a relação com o cidadão, isto é, considerar sua participação no desenvolvimento dos trabalhos do Aparelho do Estado; • Contribuir para o aumento da produtividade; • Prestar serviços com qualidade; • Contar com espaços políticos para a gestão participativa; • Promover a desconcentração; • Promover a descentralização; • Ser transparente, o que se associa directamente com a democratização das informações. Em resumo, o grande desafio para a Administração Pública é desenvolver suas competências técnicas e administrativas para, num amplo esforço, juntamente com a Sociedade (os cidadãos clientes) e Governo, contribuir para a democratização e o desenvolvimento da Sociedade em todos os aspectos e níveis. Para vencer esse desafio o Sector Público precisa de realizar reformas. Exercícios 1. Conceitue o Sector Público. 2. Diga que entende por uma Administração Pública eficiente, eficaz e efectiva. Respostas: 1. O Sector Público é o conjunto de instituições e agências que sendo directa ou indirectamente pelo Estado têm como objectivo final a provisão de serviços públicos. Isto é, Universidade Católica de Moçambique 52 serviços para a satisfação de necessidades de carácter colectivo. 2. Uma Administração Pública eficiente, eficaz e efectiva, é aquela que é capaz de: - Perceber um cidadão como seu “cliente” e a própria razão da existência da organização; - Priorizar a relação com o cidadão, isto é, considerar sua participação no desenvolvimento dos trabalhos do Aparelho do Estado; - Contribuir para o aumento da produtividade; - Prestar serviços com qualidade; - Contar com espaços políticos para a gestão participativa; - Promover a desconcentração; - Promover a descentralização; - Ser transparente, o que se associa directamente com a democratização das informações. Unidade 10 REFORMA DO SECRO PÚBLICO Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos 1. Definir a reforma do sector público; 2. Identificar os objectivos da reforma do sector público. 1..Reforma do Sector Público A Reforma do Sector Público é um conjunto de acções de carácter transversal e
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