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DPC1_T8_Audiencia de instruçao e julgamento

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR - UCSAL
FACULDADE DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I
Tema 08: 	Da audiência de instrução e julgamento. Conciliação. Debate oral e julgamento. Substituição por memoriais. Critica.
DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
C O N C I L I A Ç Ã O 
A audiência de instrução e julgamento é ato processual complexo. No período destinado a esse ato, são praticados tantos atos quantos sejam necessários, e permitidos pela lei processual, e que são próprios dessa fase instrutória e de julgamento, tais como exemplificados: requerimentos preliminares dos advogados das partes, e conseqüente deferimento ou indeferimento do juiz; apresentação e, quando no procedimento sumário, juntada de contestação e de documentos; depoimentos, tomados por termos, das partes e das testemunhas; esclarecimentos dos peritos também tomados por termos; registro dos debates orais; lavratura da ata ou termo da audiência; registro da sentença, quando o juiz decide a causa na própria audiência logo após a instrução e o debate oral, etc. 
 
Com a audiência, instaura-se a fase probatória e de investigação da verdade dos fatos alegados na inicial e na contestação, não somente por meio dos documentos que forem acostados como também através dos depoimentos e dos esclarecimentos do perito; dos assistentes técnicos, debates orais ou memoriais.
A audiência é a culminância do princípio da oralidade processual. Aí, também, se concretiza a identidade do juiz com a causa (princípio da identidade física do Juiz).
 
É, por bem dizer, a fase probatória do procedimento, em que as partes, por seus advogados, devem esgotar todos os meios de prova, para comprovar o seu alegado direito, possibilitando a justa e imparcial administração da justiça, com a menor margem de erro possível. Daí a necessidade de a instrução ser bem feita.
Vale lembrar sobre a diferença que existe entre a verdade real e a verdade processual. A sentença não pode diferir da verdade processual. O juiz assentará o seu livre convencimento sobre os argumentos, fundamentos e as provas carreadas para os autos. E disto ele não pode se afastar ao decidir a demanda. Daí porque aos advogados cabe o ônus de bem conduzir, em favor dos interesses e direitos dos seus clientes, sem se arredar do “munus” de contribuir para a administração da justiça, com adequada, sensata e ética parcialidade, de modo a dar a cada um o que de direito lhe pertence.
Assim, vencidos a fase postulatória e o momento das providências preliminares, do processo, em que se estabelece o contraditório, definindo a lide, o magistrado, no comando procedimental, declara saneado o processo, afastando a existência de qualquer vício de natureza processual. Inicia-se a fase probatória, que compreende a audiência de instrução e julgamento. Quando as questões forem de fato e de direito e houver necessidade de produzir prova e audiência, o juiz, valendo-se da sua prerrogativa do princípio do impulso oficial, encaminha o processo para a fase da instrução do feito, impulsionando-o para que sejam produzidas as provas requeridas e deferidas. Isto, mediante a designação da audiência de instrução e julgamento.
Conforme preceitua o parágrafo segundo do art. 331, o juiz adotará as seguintes providências : “Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário”.
Em face do princípio da publicidade do processo, a audiência é pública, salvo os casos em que os atos devem correr em Segredo de Justiça, quando assim exigir o interesse público, e a privacidade das partes, nas demandas relativas a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores, etc. (vide art. 444/445)
Nas audiências o juiz, além da função que lhe é própria (função jurisdicional), exerce igualmente o poder de polícia, objetivando manter a ordem e o decoro da audiência podendo, para tanto, requisitar a força policial, a fim de reprimir comportamento inconveniente de qualquer pessoa presente e recalcitrante. Cabe ainda ao magistrado dirigir os trabalhos da audiência, proceder direta e pessoalmente a colheita das provas, exortando os advogados e o órgão do Ministério Público a que discutam a causa com elevação e urbanidade e impedir aos advogados de intervir ou apartear, sem sua licença, enquanto depuserem as partes, o perito, os assistentes técnicos e as testemunhas. (vide art. 445/446)
Aberta a audiência, mandará o Juiz apregoar as partes e os seus representantes-advogados, pelo porteiro dos auditórios (oficial da justiça). Em seguida, depois de tentada a conciliação entre as partes, como reza o artigo 448, combinado com o 331, ambos do CPC, e esta não sendo possível, fixará os pontos controvertidos sobre os quais incidirá a prova, iniciando a instrução com o perito e os assistentes técnicos respondendo, oralmente, os quesitos de esclarecimentos; e prosseguindo com os depoimentos das partes e das testemunhas arroladas, tudo como bem disciplina o artigo 452, “in verbis” :
“	As provas serão produzidas na audiência nesta ordem :
I -	o perito e os assistentes técnicos responderão aos quesitos de esclarecimentos, requeridos no prazo e na forma do art. 435;
II -	o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu;
III -	finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu.”
Vale, porém, esclarecer que a tentativa de conciliação só tem cabimento nas causas que versarem sobre direitos patrimoniais e direitos disponíveis, de caráter privado, e nas demandas relativas à família, cabendo ao juiz, de ofício, determinar o comparecimento das partes para serem ouvidas, ao iniciar a audiência, tentando a conciliação ou a transação nos casos em que esta é permitida, tomando-se por termo o que for acordado para homologação por sentença. Frustada a conciliação, a lide avançará em seus atos procedimentais, como já devidamente explicitado no art. 452, podendo o juiz ordenar, de ofício ou a requerimento da parte, a inquirição de testemunhas referidas nas declarações das partes ou das testemunhas por estas arroladas e a acareação de duas ou mais testemunhas, entre si ou de algumas delas com a parte (art. 418).
CONTINUIDADE DA AUDIÊNCIA
Compondo os princípios fundamentais de concentração e de oralidade, voltou a lei processual a partir do Código Nacional do Processo de 1939 a trilhar os rumos do processo em suas etapas evolutivas mais distantes, em que predominava a oralidade para, em debates e provas públicas, seguir rituais solenes em que se afirmava autoridade do Estado em distribuir justiça. Era assim que a justiça era feita na Grécia e Roma, na fase das ações da lei e do direito formulário, o mesmo acontecendo entre os povos germânicos com as assembléias populares. É certo que voltamos à oralidade sem afastar o processo escrito, limitada à fase instrutória e, até certo ponto, de julgamento. Daí a importância da audiência, como ponto central do processo na primeira instância, ato uno e contínuo, concentrando a instrução probatória, o debate e o julgamento, preceituado no art. 455 : “ A audiência é una e contínua. Não sendo possível concluir, num só dia, a instrução, o debate e o julgamento, o juiz marcará o seu prosseguimento para dia próximo. ”
A audiência poderá ser adiada (art. 453), por convenção das partes, admissível uma única vez, ou se não puderem comparecer, por motivo justificado, o perito, as partes, as testemunhas ou os advogados, cabendo a estes provar o impedimento até a abertura da audiência. É certo que o verbo no condicional - poderá - permite ao juiz, não convencido da motivação apresentada, realizar a audiência para a prática doato previsto, atendendo aos princípios de economia e brevidade do procedimento. O adiamento, muitas vezes provocado ardilosamente para retardar o andamento da causa, ou mesmo prejudicar a prova da parte contrária, apresentar-se-ia como desrespeitosa afronta aos que, intimados, tivessem comparecido sem proveito, com o forjado adiamento. Assim, mais justo seria a realização da audiência, marcando o juiz dia próximo para a sua continuação, com o comparecimento do faltoso para a prática dos atos seguintes, sem prejuízo dos já praticados.
Findo o debate, o escrivão lavrará, sob ditado do juiz, termo que conterá em resumo o que tiver ocorrido na audiência, bem como despachos, e a sentença quando oralmente proferida, rubricando o juiz as folhas quando datilografadas, subscrevendo o termo com os advogados, o órgão do Ministério Público e o escrivão. 
DEBATE ORAL E JULGAMENTO.
SUBSTITUIÇÃO POR MEMORIAIS. CRÍTICA.
Finda a instrução probatória, o juiz dará a palavra, sucessivamente, aos advogados das partes, autor e réu, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogável por mais 10 (dez); primeiro ao patrono do autor e depois ao do réu; o mesmo acontecendo ao órgão do Ministério Público nos casos em que deva funcionar. Nos casos de litisconsórcio e de intervenção de terceiro o prazo completo de 30 (trinta) minutos será dividido entre os procuradores do mesmo grupo, quando não convencionarem de forma diferente, sendo que nos casos de oposição - (art. 56 e seguintes do CPC), oferecerá o opoente as suas razões, no debate, em primeiro lugar.
O debate poderá ser substituído por memoriais, quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito : “caso em que o juiz designará dia e hora para o seu oferecimento”, como sôa o art. 454, parágrafo 3º. Quando seria mais prático, e conforme o princípio de concentração e economia, que o juiz marcasse prazo para a apresentação em cartório dos memoriais, (e é o que ocorre, na prática, nos dias atuais) sentenciando dentro de dez dias. A redação dada sugere a apresentação dos memoriais em dia e hora marcados para a continuação da audiência o que, certamente, impede o juiz de julgar imediatamente, nessa mesma audiência, sem examinar cuidadosamente os memoriais. E não sendo dado o julgamento imediato, inútil e supérflua se apresenta a apresentação de memoriais em audiência, como soa o art. 456, verbis: “Encerrado o debate ou oferecidos os memoriais, o juiz proferirá a sentença desde logo ou no prazo de 10 (dez) dias”.
Ora, somente nas causas de maior complexidade é que se permite a substituição do debate oral por memoriais, o que, como já foi salientado, impede o magistrado de julgar desde logo, sem melhor exame dos autos e dos próprios memoriais. Diante, portando, da alternativa apontada no art. 456, o juiz, acertada e prudentemente, acolherá a segunda, isto é, proferirá a sentença no prazo de 10 (dez) dias, excluída a continuação da audiência para a apresentação dos memoriais, supérflua e contrária ao princípio de economia processual, com prejuízo de tempo e melhor aproveitamento das atividades do juízo..
Vale ainda criticar a destemperada disposição do art. 451 ao impor: “ Ao iniciar a instrução, o juiz, ouvidas as partes, fixará os pontos controvertidos sobre que incidirá a prova”. É evidente o desajuste e inoportunidade da medida, como preceituada, uma vez que os pontos controvertidos, sobre os quais incidirá a prova, decorrem, necessariamente, do confronto das peças que configuram a fase postulatória, notadamente a petição inicial contestação e a reconvenção, não sendo, assim, necessária a audição das partes, “maxime” quando estas já tenham sido ouvidas, antes da inquirição, na tentativa de conciliação e - flagrante - destemperada quando tenha sido requerido o depoimento pessoal das partes, pela repetição desnecessária e sem real e prático sentido. É certo que o Código de 1939, regrou de forma mais acertada e racional, preceituando no art. 269, que o juiz, terminada a instrução, fixará: “o objeto da demanda e os pontos em que se manifestou a divergência”, para bem situar o debate oral, dando em seguida a palavra ao procurador do autor e ao do réu e ao órgão do Ministério Público.
Numa visão ampla, antecipando mesmo a crítica agora feita ao Código de 1973, em vigor, o Instituto dos Advogados Brasileiros, em parecer da Comissão Especial, datado de 18 de agosto de 1941, afirma : “Nestas condições, a Comissão do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros conclui pela conveniência da fixação das teses para o debate oral da audiência de julgamento ser feito no próprio despacho que designar o dia da audiência, podendo o juiz, após a produção das provas, fixar outros pontos secundários para o mesmo debate”.
Obs.: Os arts. 444 e seguintes são de consulta obrigatória do aluno.
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APOSTILA DE RESPONSABILIDADE DO PROFESSOR LUIZ SOUZA CUNHA.
AUTORES CITADOS E CONSULTADOS
Vicente Greco Filho 	Direito Processual Civil Brasileiro
 					2º Volume - 5ª Edição - 1992
Moacyr Amaral Santos 	Direito Processual Civil Brasileiro
 2º Volume - 14ª Edição - 1991
José Frederico Marques 	Manual de Direito Processual Civil
 	3º Volume - 9ª Edição – 1987
Atenção:	A apostila é, tão somente, um resumo da matéria que pode ser aprendida pelo aluno. Ela deve servir de guia do ensino-aprendizado, sob orientação pedagógica.
	
	Esta apostila se destina, pois, exclusivamente ao estudo e discussão do texto em sala de aula, como diretriz do assunto, podendo substituir os apontamentos de sala de aula, a critério do aluno.
 	
	Consulte a bibliografia anteriormente indicada além de outros autores.
Atualizada em maio/2010
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			DPCI_08_Da audiência de instrução

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