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A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E A SOCIEDADE BRASILEIRA Muitas pessoas não sabem o que é, nem tampouco que a presunção de inocência é um direito fundamental reconhecido constitucionalmente a qualquer pessoa. Quando o povo tem conhecimento de um crime surge quase que simultaneamente o desrespeito a este direito. A condenação social sem prévia análise dos fatos é uma prática comum no cotidiano brasileiro. Se não bastasse, ainda contamos com veículos de comunicação que só estimulam a essas atitudes. Presente no art. 5º, inciso LVII da Constituição Federal de 1988 e, consequentemente cláusula pétrea, que quer dizer não estar sujeita a mudanças que visem abolir, significa dizer que até que se prove o contrário todos são inocentes. Com este dispositivo, o Constituinte preza pela inocência do agente, preferindo manter-lhe esse estado até que surjam provas concretas que não o é. O mencionado inciso do art. 5º tem algumas consequências no Processo Penal, como a inversão do ônus da prova, o conhecido in dubio pro reo, na dúvida se interpreta em favor do acusado. Travar uma discussão com uma pessoa sem conhecimento jurídico ou até mesmo com quem o tenha sobre a presunção de inocência é muito complexo. A criminalidade no país atrelada à impunidade dos seus agentes são fatores determinantes para um posicionamento de reprovação quanto a este assunto. É comum qualquer veículo de comunicação estampar em seus destaques relatos de crimes que comovam o público, e que questionem sobre quais serão as consequências perante o Poder Judiciário. Ao primeiro contato quase que a maioria logo formula uma sentença para o suposto infrator. Sob o argumento de justiça muitos defendem a imediata prisão, a morte do possível culpado pelo ato criminoso. Mas faço um questionamento, isso é justiça? Ou melhor, qual nosso conceito de justiça? Permitam-me fazer um pequeno apontamento, mas defender penas desumanas e condenar sem assegurar seu direito de defesa não é justiça, pelo menos não no conceito de uma sociedade civilizada. Não estamos mais no período da Inquisição da Idade Média, na qual mesmo sem provas de transgressão ao catolicismo uma pessoa poderia ser levada ao tribunal da Inquisição e posteriormente condenado a severas torturas. Muitos poderão argumentar que é um absurdo o que ocorrera na inquisição. Mas existe muita diferença atualmente? Inúmeros telejornais brasileiros expõem comentários inaceitáveis num Estado Democrático de Direito. Não quero desmerecer o trabalho destes profissionais, afinal, possuem relevante importância para nossa democracia, mas alertar para o caminho que estão seguindo. É preciso se ponderar os dois princípios. É evidente que há certos crimes que despertam revolta popular pela gravidade. E é normal uma pré-condenação daquela pessoa. A presunção de inocência é taxada muitas das vezes como meio de “defender bandido”, “proteger criminoso”. Mas trago interessante apontamento do jurista Aury Lopes Jr. sobre o tema, o qual afirma que defender a presunção de inocência é se policiar de que as penas e julgamentos arbitrários também serão afastados. Colocação perfeita. Conforme citou o autor, a presunção de inocência nos proporciona segurança jurídica, pois por força deste princípio todos seremos inocentes até a prova do contrário, o que assegura a oportunidade do acusado em defender sua inocência livrando-o de ser condenado a responder por um crime que não cometeu. Defender a presunção de inocência é defender ao não retrocesso ao período medieval, defender a democracia, a paz social etc. Não é razoável em pleno século XXI retroceder a práticas nas quais causaram sofrimento a humanidade. A sociedade deve contribuir com a recuperação dos transgressores, e não condená-los ao repúdio social sem até mesmo existir julgamento prévio. O Judiciário tem exemplos suficientes que provam o quão grave é desconsiderar a presunção de inocência. O caso de Heberson Lima de Oliveira é um exemplo recente e clássico, pois dentre outras falhas, houve a falta de uma devida averiguação do caso o que levou a autoridade competente adotar procedimentos errados. Desta feita, fica a reflexão sobre o quanto é importante à presunção de inocência. Autor: Carlos Henrique de Lima Andrade é natural de Ribeirópolis, interior de Sergipe. Atualmente é graduando em Direito Pela Faculdade Pio Décimo, como Bolsista Integral do Programa Universidade para Todos (PROUNI), mas já foi aluno do curso de História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Já fora aprovado em diversos cursos em distintas Universidades Federais do País, é concursado público municipal na Prefeitura de Pinhão-SE. Também é pesquisador em Filosofia e Fundamentos Sócio-Antropológicos aplicados ao Direito na PIO X. Email: carloshenrique_lima16@hotmail.com
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