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A Psicologia Evolutiva da Personalidade
David M. Buss. Annual Review of Psychology, 1991, v. 42, pp. 459 – 491.
Trad. Dwain P. Santee, Ph.D.
Está surgindo uma nova disciplina chamada “Psicologia Evolucionista”. Seu
objetivo central e identificar mecanismos psicológicos e estratégias comportamentais como
sendo soluções que evoluíram para problemas adaptativos encarados pela nossa espécie ao
longo de milhares de anos. Como a psicologia da personalidade se dedica ao estudo da
natureza humana e todas as manifestações das diferenças individuais, esse campo se coloca
numa posição única de contribuir e ser informado pela psicologia evolutiva.
Essa revisão difere de outras anteriores por articular uma meta-teoria evolucionária
para organizar os diferentes segmentos da atual pesquisa em personalidade e clarificar
muitas das suas preocupações centrais. Estas incluem: clarificar o debate sobre a
consistência da personalidade, clarificar o estado causal das suas disposições, compreender
o interacionismo, identificar características importantes do contexto, identificar a estrutura
das estratégias orientadas para um objetivo, explicar a origem das diferenças individuais e
colocar o modelo de cinco fatores da personalidade no contexto adaptativo. Ao esclarecer
esses assuntos vários mal-entendidos devem ser corrigidos – a “falácia sociobiológica”, o
“erro situacional fundamental” e a “falácia do determinismo genético”.
POR QUE A PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE PRECISA DA TEORIA EVOLUTIVA?
Uma revisão recente da literatura sobre personalidade argumenta que “a psicologia
em geral e a teoria e o acesso à personalidade em particular, tem pago um preço bastante
alto pela recusa em seguir o modelo físico (Rorer & Widiger 1983). Meu ponto de vista é
exatamente o oposto. A física nos fornece um modelo bastante fraco de psicologia porque
os princípios que governam os fenômenos puramente físicos são fundamentalmente
diferentes dos que governam a vida orgânica. Se eu andar por aí descalço por algumas
semanas, o solado dos meus pés e meus calcanhares desenvolverão calos. O mecanismo de
produção de calos são adaptações contingentes ao ambiente complexas, que se tornam
ativos em resposta à fricção; eles funcionam para proteger as estruturas anatômicas e
fisiológicas debaixo da pele. Se eu andar por aí de carro por algumas semanas, no entanto,
os pneus do carro não ficam mais grossos. Meus pés, sujeitos às mesmas leis físicas que os
pneus do carro, são também modelados pela seleção natural orgânica. Eles exibem
adaptações que existem por causa dos benefícios para a aptidão colhidos no passado.
Apenas três teorias tem sido propostas para explicar as origens desses mecanismos
orgânicos complexos conhecidos como adaptações. A primeira é a evolução pela seleção
natural (Darwin 1859; Hamilton 1964). A segunda é o “criacionismo”. A terceira é a teoria
“semente”, a idéia de que organismos extraterrestres visitaram a Terra muitos anos atrás e
plantaram a semente da vida. O criacionismo e a teoria da “semente”, incapazes de serem
verificadas ou desaprovadas pela observação ou experimentação, não são teorias científicas.
A evolução pela seleção natural, em contraste, é uma teoria poderosa e bem articulada que
tem organizado com sucesso e explicado milhares de fatos diversos com um princípio
(Alexander 1979).
A teoria evolucionista pretende contornar a pletora de teorias aparentemente
arbitrárias da personalidade, ancorando a teoria da natureza humana a processos que
sabemos governam toda a vida. Não há razões para se acreditar que os humanos estão
isentos das forças organizadoras da evolução pela seleção natural. Teorias da personalidade
inconsistentes com a teoria evolucionista tem poucas chances de estarem corretas.
A PERSONALIDADE É COMPOSTA DE MECANISMOS PSICOLÓGICOS E
ESTRATÉGIAS COMPORTAMENTAIS
O erro fundamental situacional
Em geral parece não ser reconhecido na psicologia social e da personalidade que
todos os comportamentos observáveis são o produto dos mecanismos residentes dentro do
organismo, combinados com informações do ambiente e do organismo que ativam esses
mecanismos (Cosmides e Tooby 1987). Nenhum comportamento pode ser produzido na
ausência de mecanismos. Não existe tal coisa como a causa puramente ambiental ou
situacional do comportamento. Se uma pessoa responde à presença de um grupo com a
conformidade ( e.g. Asch 1955) ou moldagem (Latane 1981), mas uma barata, um rato ou
um chimpanzé não conformam nem se moldam em resposta a informações ambientais
idênticas, então deve ter algo em relação aos mecanismos psicológicos que difere dos das
baratas, dos ratos ou dos chimpanzés.
Tais mecanismos são uma parte central e necessária de qualquer explicação causal
razoável para o comportamento observado. O erro situacional fundamental é presumir que,
como a variância situacional pode “explicar” variações de comportamento (i.e., mudanças
nas situações podem se correlacionar com mudanças na obediência, conformidade e
moldagem social), uma explicação coerente não precisa evocar mecanismos psicológicos
estáveis (i.e., disposições, regras de decisão, estruturas e processos) que residem no
organismo. Sem mecanismos internos não pode haver comportamento. O erro situacional
fundamental é tão freqüentemente cometido na sociobiologia e na ecologia comportamental
quanto na psicologia social e da personalidade (ver Symons 1990).
Num nível fundamental de descrição, a evolução pela seleção natural é o processo
que cria os mecanismos fisiológicos, anatômicos e psicológicos. Assim sendo, a pergunta
crucial não é se a evolução é relevante para a compreensão do comportamento humano,
mas como ele é relevante.
O problema da especificidade dos mecanismos psicológicos
Como a evolução biológica tem afetado os mecanismos psicológicos? Um contínuo
de possíveis respostas pode ser avaliado. Num extremo está a possibilidade de que a
seleção natural tenha produzido nos humanos alguns mecanismos de domínio geral – i.e.,
capacidade de aprender pelo condicionamento operante ou de raciocinar de forma indutiva.
Se isso fosse o caso então os psicólogos poderiam legitimamente enfocar no como esses
mecanismos de domínio geral desenvolvem estruturas psicológicas mais ou menos
arbitrárias durante a ontogenia (i.e., estudar a história da aprendizagem e razões de
reforçamento). A teoria evolutiva não acrescentaria nada à psicologia e poderia ser
ignorada em grande parte. O pressuposto dos mecanismos psicológicos de domínio geral,
promulgado neste século por Watson (1924) e Skinner, permanece implícito em muito da
teoria psicológica corrente (ver Rozin e Schull 1988 e Simmons 1987 para discussões
úteis).
No outro extremo do contínuo está a possibilidade da seleção natural ter criado
muitos mecanismos psicológicos de domínio específico que resolvem problemas
adaptativos particulares (Cosmides e Tooby 1987; Symons 1987). A teoria evolutiva pode
se tornar uma metateoria útil para a psicologia da personalidade no grau em que os
mecanismos psicológicos humanos (a) operam de acordo com diferentes princípios através
de domínios, (b) ocorrem em dezenas, centenas ou milhares, e (c) são soluções complexas
para problemas específicos.
Mecanismos psicológicos humanos sem dúvida variam em termos da generabilidade
do seu domínio. Alguns aparentemente resolvem problemas específicos (p.ex., um medo de
estranhos exibido por uma criança de 8 a 24 meses de idade resolve um problema de
segurança), enquanto outros podem resolver vários problemas (p.ex., mecanismos de busca
de status parcialmente resolvem o problema de atrair parceiros e assegurar recursos para a
prole). Trabalhos recentes na psicologia evolucionista, no entanto, sugerem que os efeitos
da seleção natural não podem ter produzido apenas, ou primariamente, poucos mecanismos
de domínio geral (Barkow et al. 1990; Cosmides e Tooby 1987; Symons 1987, 1990;
Tooby e Cosmides 1990a).
Existemduas bases para essa conclusão, uma empírica e outra conceitual. Primeiro,
muitos experimentos nos últimos 25 anos tem documentado violações sistemáticas de “leis”
de domínio geral propostas para a aprendizagem (Herrnstein 1977; Rozin & Schull 1989).
Considere o fato que os objetos do medo humano e as fobias não ocorrem randomicamente:
Mais pessoas temem altura, cobras, escuridão, aranhas e estranhos do que temem armas de
fogo, carros ou tomadas elétricas (Seligman 1972). Os humanos estão aparentemente
predispostos a aprenderem com maior facilidade e rapidez a evitar algumas coisas (p.ex.,
aquelas que foram perigosas no ambiente de evolução humana) do que outras (p.ex., as
coisas novas no ambiente). Achados psicológicos evolutivos recentes sobre a agressão,
atração (Langois & Roggman 1990), troca social (Cosmides 1989), auto-enganação
(Lockard & Paulhus 1988), teoria da decisão (Cooper 1987), psicofísica da percepção
(Shepard 1984), Linguagem (Pinker e Bloom 1990) e muitos outros, todos apontam para
uma única a forte conclusão: A psicologia humana envolve muitos mecanismos complexos
e de domínio específico, cada um adequado para servir uma função particular.
Uma segunda razão para a considerarmos os mecanismos psicológicos numerosos,
específicos e complexos, deriva da natureza e do número de problemas adaptativos que os
humanos e seus ancestrais tem confrontado. Considere, como uma analogia, uma adaptação
animal que favoreça a sobrevivência física. A maioria dos mamíferos terrestres tem
evoluído soluções para o problema de sobreviver no calor extremo (glândulas sudoríparas e
outros mecanismos de evaporação), no frio (tremer), doenças e parasitas (sistema
imunológico), predadores (capacidades específicas de fuga), ferimentos (coágulos) e para o
tipo de alimento consumido (preferências por açúcares, sais e gordura). No aspecto
reprodutivo muitas espécies de primatas tiveram que resolver problemas sociais de
competição intrassexual, atração de parceiros, seleção de parceiros, retenção de parceiros,
negociação de hierarquia, estabelecimento de alianças e investimento parental, nomeando
apenas alguns destes. Agora, glândulas sudoríparas não fazem nada para resolver o
problema referente ao tipo de comida que colocamos na boca ou como combatemos os
parasitas. As soluções para os problemas de escolha de parceiros contribuem pouco para a
solução dos problemas de detecção de trocas sociais não reciprocadas. Problemas diferentes
tipicamente selecionam diferentes soluções adaptativas; a seleção natural resulta em
adaptações específicas múltiplas ao longo do tempo. Psicólogos evolucionistas esperam que
os mecanismos psicológicos sejam muitos e de domínio específico.
A falácia sociobiológica
A psicologia evolucionista (ou evolutiva) é melhor considerada uma teoria sobre as
origens ao invés do conteúdo da natureza humana (Symons 1990; Tooby e Cosmides
1989). Alguns escritos sociobiológicos erram por presumir que a seleção natural produziu
nos humanos uma motivação geral para maximizar a aptidão abrangente - i.é., mecanismos
psicológicos de domínio geral como o “maximizador de aptidão abrangente”1. Um dos
problemas com esse ponto de vista é que a aptidão não pode ser rastreada ao longo da vida
do indivíduo; apenas correlatos com a aptidão (como o sucesso de acasalamento ou
obtenção de alimento) podem ser rastreados. Um segundo problema é que o que constitui
aptidão difere radicalmente entre as espécies, sexos, idades e domínios adaptativos. Assim,
mesmo em princípio, não pode haver um meio de domínio geral de maximizar a aptidão e o
sucesso reprodutivo. Assim os humanos não podem ter mecanismos psicológicos com o
objetivo de maximizar o sucesso reprodutivo (consciente ou inconscientemente). Ao invés
disso, temos mecanismos que existem na sua presente forma porque no nosso passado
evolutivo foram bem sucedidos na solução de problemas adaptativos. O fato das soluções
adaptativas evoluírem por um processo de reprodução diferenciada não significa que os
mecanismos de solução são maximizadores de aptidão de domínio geral.
Estratégias comportamentais, táticas e atos
Psicólogos da personalidade buscam caracterizar mecanismos psicológicos
relativamente duradouros ou estáveis, incluindo as maneiras quantitativas e qualitativas que
tais mecanismos diferem entre os indivíduos (p.ex., Tellegen 1990). Mecanismos
psicológicos evoluem porque tem consequências comportamentais. Mecanismos de busca
de status, por exemplo, não poderiam ter evoluído a não ser que produzissem classes de
atos que de fato levassem ao aumento ou manutenção de uma posição dentro da hierarquia
social de forma confiável. Assim, estratégias comportamentais, táticas e classes de atos são
uma parte essencial de uma descrição correta de mecanismos psicológicos evoluídos. De
acordo com esse ponto de vista, uma teoria geral da personalidade deve correlacionar os
mecanismos psicológicos que evoluíram, suas estratégias comportamentais e o problema
adaptativo específico para o qual foram desenhados.
OS FUNDAMENTOS EVOLUTIVOS DA PERSONALIDADE
Problemas adaptativos e suas soluções
 Problemas adaptativos são de dois tipos principais - os da sobrevivência individual
e os da reprodução. Todos os organismos vivos tem ancestrais que resolveram com sucesso
 
1 A aptidão abrangente pode ser definida como “a soma da aptidão darwiniana do indivíduo (sucesso
reprodutivo individual) e sua influência na aptidão darwiniana dos seus parentes, pesado de acordo com seus
coeficientes de parentesco com o indivíduo em foco” (Daly e Wilson 1983: 393).
problemas de sobrevivência e reprodução. Algumas soluções são anatômicas, algumas
fisiológicas e algumas implicam mecanismos psicológicos pelos quais as informações são
processadas de acordo com regras de decisão que produzem resultados que sovem um
problema adaptativo específico2 . Algumas soluções adaptativas ocorreram a muito tempo
atrás na linhagem de mamíferos e de primatas e levou ao ser humano. Cada espécie, no
entanto, possui adaptações que são únicas, bem como aquelas compartilhadas com algumas
outras espécies.
PROBLEMAS DE SOBREVIVÊNCIA. Darwin (1859) identificou muitos dos problemas
principais de sobrevivência dos organismos, incluídos no que ele chamou de “forças hostis
da natureza”. Esses incluem falta de alimento, climas extremos, doenças, parasitas,
predadores e outros perigos naturais. Contribuições psicológicas evoluídas para solucionar
algumas destas (p ex., medo de estranhos) são de preocupação dos psicólogos
evolucionistas. No entanto, como o sucesso reprodutivo diferenciado é o processo chave na
evolução pela seleção natural, problemas reprodutivos, muitos dos quais são inerentemente
sociais, são mais centrais à psicologia evolutiva da personalidade, como ilustrado abaixo.
PROBLEMAS REPRODUTIVOS. Classes principais de problemas que os humanos (como
muitas espécies antes deles) tiveram que resolver para terem sucesso reprodutivo foram: 1.
Sucesso na competição intrassexual: ganhar dos membros do mesmo sexo para ter acesso
aos membros desejáveis do outro sexo; 2. Seleção de parceiros: escolher dentre o
reservatório de parceiros aqueles com o maior valor reprodutivo; 3. Concepção bem
sucedida: engajar nos comportamentos sociais e sexuais necessários para fertilizar uma
parceira, ou ser fertilizada por um parceiro; 4. Retenção de parceiros: evitar a aproximação
de competidores do mesmo sexo e evitar que seu parceiro/a fuja (esse problema surge
apenas quando se busca uma estratégia reprodutiva a longo prazo e não se aplica a
estratégias de acasalamento desenhadas para cópulas breves e oportunísticas); 5. Formação
de alianças diádicas recíprocas: iniciar relacionamentos diádicos caracterizados por
cooperação e reciprocidade; 6. Construção e manutenção da coalisão: participar de grupos
cooperativos cujos interesses estão mais próximos entresi do que com membros de grupos
concorrentes (Manson e Wrangham 1990, Tooby e Cosmides 1988); 7. Cuidados parentais
e socialização: engajar em atos que assegurem a sobrevivência e o sucesso reprodutivo da
prole; e 8. Investimento extra-parental nos parentes: incorrendo em custos para si que
beneficiam parentes genéticos que não são descendentes 3.
Cada um desses problemas inclui outros subproblemas. A competição intrassexual
bem sucedida entre humanos, por exemplo, provavelmente inclui: (a) a aquisição de
recursos exigidos por um parceiro em potencial (p.ex., Townsend 1989), (b) negociação
 
2 Previamente defini um “mecanismo psicológico” evoluído como um conjunto de processos dentro do
organismo que 1. Existem daquela forma porque eles (ou outros mecanismos que os produzem de forma
confiável) resolveram problemas específicos de sobrevivência e reprodução individual; 2. Pegam apenas
certas classes de estímulos, onde esses estímulos (a) poder ser externos ou internos, (b) podem ser ativamente
extraídos do ambiente ou passivamente recebidos do ambiente, e (c) especificam ao organismo o problema
adaptativo que encaram; e 3. Transformam aquela informação em estímulo por um procedimento (p.ex., regra
de decisão) onde o resultado (a) regula a atividade fisiológica, fornece informações para outros mecanismos
psicológicos ou produzem ação, e (b) resolvem um problema adaptativo particular. As espécies tem evoluído
psicologias no mesmo grau que possuem mecanismos desse tipo.
3 É claro que a solução para alguns desses problemas (p.ex., construção de coalisões e formação de alianças)
contribui para a sobrevivência individual e a reprodução.
bem sucedida de hierarquias sociais (Kyl-Heku 1990), (c) a formação de alianças
recíprocas e coalisões bem sucedidas (Cosmides 1989), (d) apaziguamento, ou pelo menos
a não-alienação, com amigos e parentes do parceiro em potencial (Buss 1988a,b), (e)
cortejamento bem sucedido do parceiro em potencial (Buss 1988a,b) e (f) derrota dos
competidores do mesmo sexo pelo parceiro em potencial (Buss e Dedden 1990). Um
psicólogo da personalidade que entende em detalhes os problemas de sobrevivência e
reprodução deparados pelos humanos antigos (e suas espécies ancestrais) estará na posição
de identificar as soluções psicológicas relativamente duradouras.
AS LIMITAÇÕES DA TEORIA EVOLUCIONÁRIA: RESTRIÇÕES NA DETECÇÃO
DE PREVISÃO DE ADAPTAÇÕES. Enquanto a teoria evolucionária geral delineia de
forma ampla o que provavelmente não evoluiu (p.ex., adaptações que favorecem outras
espécies ou competidores coespecíficos), ela raramente especifica o que deveria ter
evoluído. Nada na teoria geral da evolução poderia ter previsto, por exemplo, adaptações
como a casca da tartaruga, o pescoço da girafa, calvície humana, locomoção bipedal ou a
gramática lingüística universal.
Modelos de domínio específico baseados na evolução, em contraste, podem
restringir a abrangência de possíveis adaptações e assim ter valor preditivo e heurístico. Por
exemplo, podemos prever que nas espécies (como a nossa) que engajam em trocas sociais,
mecanismos para a detecção de fraudadores devem evoluir (Cosmides 1989). Da mesma
forma, espécies (como a nossa) que forma hierarquias sociais devem possuir mecanismos
de monitorar o status, posição e reputação (Buss 1986; Stone 1989). Não há substituto para
modelos evolutivos de domínios específicos como as trocas sociais (Cosmides 1989),
formação de alianças (Tooby e Cosmides 1988) e negociação hierárquica (Stone 1989). É
no nível dos modelos para domínios adaptativos específicos baseados na evolução, ao invés
do nível da teoria evolutiva geral, que as hipóteses específicas podem ser confirmadas ou
falseadas.
Vários outros cuidados devem ser notados. Primeiro, alguns fenômenos biológicos
surgem através de processos que não a seleção natural. Exemplos incluem aqueles que
podem ser por deriva genética, pleiotropia ou acaso (ver Dawkins 1982). Segundo, algumas
mutações podem ser neutras com respeito à seleção natural a assim persistirem sem serem
adaptativas. Terceiro, o padrão científico de evidências para que se invoque o conceito de
adaptação é freqüentemente difícil de ser alcançado (Williams 1966).
Finalmente, a divisão de fenômenos psicológicos e comportamentais em unidades
funcionalmente significativas continua sendo uma tarefa teórica central e
extraordinariamente difícil para o psicólogo evolucionista. A psicologia evolucionista tenta
firmar suas descrições dos mecanismos psicológicos básicos nas funções adaptativas e
assim foge da arbitrariedade.
Natureza humana
Todas as grande teorias da personalidade tem hipóteses sobre os conteúdos da
natureza humana como centrais, sejam motivos para o sexo e agressão (Freud), auto-
realização (Maslow), afeto (White), busca da superioridade (Adler), busca por status, poder,
popularidade ou intimidade (Hogan, McAdams, McClelland, Wiggins). Até mesmo os
behavioristas mais radicais tem uma teoria implícita da natureza humana - i.e., de que ela
consiste de alguns mecanismos psicológicos de domínio geral, como os do
condicionamento operante (Symons 1987). Se os humanos tem uma natureza diferente da
dos gorilas, cães, ratos ou baratas, quais são seus conteúdos e como descobrí-los?
Numa edição especial da Journal of Personality, Tooby e Cosmides (1990b)
argumentam que a natureza humana é formada das soluções típicas da espécie que os
humanos tem evoluído em resposta às pressões seletivas que enfrentamos na nossa
condição ancestral. Eles argumentam que as restrições da recombinação sexual e a natureza
necessariamente poligênica das adaptações complexas virtualmente ditam uma natureza
humana que é unitária, embora susceptível a variações quantitativas. Isso torna improvável
a idéia de “tipos distintos de personalidade” baseados em conjuntos completamente
diferentes de genes. Apesar da clara distinção genética entre eles, se espera até mesmo que
machos e fêmeas partilhem uma estrutura funcional universal na maioria dos sentidos,
diferindo apenas naqueles domínios onde tenham encarado problemas adaptativos
recorrentemente diferentes.
Vários artigos recentes tentam identificar as particularidades desta natureza humana
unitária. Wiggins (1990), por exemplo, argumenta que dois modos motivacionais, agência
(busca pelo poder e maestria que diferenciam o indivíduo) e comunhão (busca da
intimidade, união e solidariedade para com os outros), fornecem coordenadas conceituais
para a compreensão do comportamento interpessoal. Ele revisa a literatura sobre agência e
comunhão de uma variedade de perspectivas teóricas, incluindo uma evolutiva. As
diferenças sexuais na agência e na comunhão (p.ex., níveis mais elevados de agressividade
física nos homens; níveis mais elevados de empatia nas mulheres) podem se originar de
problemas reprodutivos distintos que os homens e as mulheres tem enfrentado no ambiente
ancestral - problemas de obter acesso aos parceiros pela competição intrassexual e
problemas de elevação de investimentos parentais nas crianças.
Hogan (1990) argumenta que os motivadores humanos básicos são o status e a
popularidade. De acordo com Hogan o problema social mais importante que os humanos
primitivos tinham que resolver para sobreviver envolvia o estabelecimento de relações
cooperativas com outros membros do grupo e a negociação de hierarquias. A obtenção de
status e popularidade provavelmente dava ao possuidor de recursos relevantes para a
reprodução, incluindo mais proteção, mais alimento e parceiros mais desejáveis.
Como Wiggins e Hogan, Baumeister (1990) aponta a importância da vida em grupo.
Ele propõe que a ansiedade é uma adaptação típica da espécie que evita a exclusão social.
Os que ficam indiferentes à exclusão social podem ter experienciado um sucesso
reprodutivo menor do que o daqueles cujos mecanismos psicológicos faziam-nos manter a
inclusãono grupo evitando atos que pudessem eliciar a crítica.
A importância da vida em grupo também está evidente nos trabalhos de Cosmides
(1989). Ela conclui, a partir de uma análise evolucionária, que numa troca social complexa
e recíproca os indivíduos seria favorecidos se possuíssem mecanismos psicológicos que os
alertassem dos “fraudadores” - i.é., os que levam sem contribuir. Suas evidências de que os
humanos exibem tal mecanismo para detectar fraudadores mostra como os psicólogos
podem documentar experimentalmente adaptações específicas de um domínio que formam
uma parte importante da natureza humana.
Daly e Wilson (1990) usam a razão baseada na evolução para argumentar que o
complexo de Édipo universal de Freud é inconsistente com a biologia evolucionária.
Usando a teoria de Trivers (1974) sobre conflitos entre pais e prole, eles argumentam que
Freud falhou em distinguir dois tipos de conflitos - um conflito precoce não-sexual entre o
pai e o filho sobre o como os esforços reprodutivos da mãe devem ser utilizados, e uma
rivalidade sexual posterior, não sobre a mãe (que possivelmente nessa altura já tem baixa
fertilidade) mas sobre parceiros em potencial. Daly e Wilson revisam dados prévios e
apresentam dados novos refutando a afirmação Freudiana central de uma contingência de
ser do mesmo sexo no antagonismo pai-prole durante a fase Edipiana. Eles então se
utilizam de um argumento evolucionário e dados empíricos para fornecer um retrato mais
preciso da natureza humana.
Essas tendências evolucionárias recentes na teoria da personalidade, no entanto,
representam exceções à norma histórica. Teorias da personalidade tipicamente tem sido
formuladas na inocência em relação aos processos que moldam a personalidade. Considere,
por exemplo, a afirmação de Epstein (1990) de que “a pessoa no cotidiano é motivada a
viver sua vida emocional de forma satisfatória ... Teorias pessoais da realidade tem quatro
funções básicas: assimilar os dados da realidade ...manter um equilíbrio favorável entre
prazer-dor, manter a relação com os outros e manter níveis favoráveis de auto-estima”
(p.166). Epstein pode muito bem ter atingido alguns “ïnsights” chave, mas a teoria não
explica porque a natureza humana foi construída dessa maneira.
Uma perspectiva evolucionista pode fornecer restrições sobre afirmações não
fundamentadas a respeito da motivação. Por exemplo, o pensamento evolucionista aponta
para os outros em particular com os quais as pessoas tentarão “manter um relacionamento”-
os que forem bons aliados recíprocos (Cosmides 1989), os de status hierárquico elevado
(Stone 1989), parceiros de alto valor reprodutivo (Buss 1989a), os aparentados genéticos
(Hamilton 1964) e aqueles que forem bons membros de uma coalisão (Tooby e Cosmides
1988). Esses cinco tipos de relacionamentos - diádicos, alianças, relações hierárquicas,
relações de acasalamento, relações fraternas e coalisões - incluem as relações humanas
mais importantes. As pessoas não simplesmente mantém relacionamentos, elas cuidam e
treinam seus filhos de formas específicas (Low 1989), ajudam suas coalisões a vencerem
outras coalisões, cooperam com seus parceiros reprodutivamente valiosos, protegem e
defendem seus parentes e trocam recursos reprodutivamente relevantes com seus aliados.
O progresso na identificação dos mecanismos psicológicos e estratégias
comportamentais fundamentais que formam a natureza humana deve acelerar uma vez que
o estudo desses mecanismos seja baseado numa análise cuidadosa dos problemas de aptidão
que os humanos provavelmente evoluíram para resolver na sua condição ancestral. Os que
falharam na resolução desses problemas não foram ancestrais; seja lá quais forem os
mecanismos que os levaram a falhar, nós não os herdamos. Os humanos atuais e seus
mecanismos funcionais são todos frutos de um sucesso evolucionário.
Táticas e estratégias direcionadas ao um objetivo como unidades de análise
Mecanismos psicológicos evoluídos não residem passivamente dentro dos crânios
dos humanos. Eles nos propelem a agir para metas particulares, a conquista das quais
historicamente levou ao sucesso reprodutivo. As ações geradas pelos mecanismos
psicológicos não são meros “atos fisicalísticos” (Fiske 1988) mas são carregados de
emoções e específicos ao contexto. De fato, estratégias comportamentais dirigidas formam
parte de uma descrição essencial dos mecanismos psicológicos evoluídos.
Uma tendência emergente dentro do campo da psicologia da personalidade tem sido
a proposta e a exploração de táticas e estratégias como unidades de análise (Buss e Cantor
1989; Pervin 1989). Esses tem recebido diferentes rótulos dados por diferentes
investigadores: projetos pessoais e atos que os conquistaram (Cantor 1990; Langston e
Cantor 1989; Zirkel e Cantor 1990), lutas pessoais e a iniciação dos seus atos (Emmons
1990), preocupações atuais (Klinger 1975) e metas reprodutivamente relevantes e as táticas
usadas para alcançá-las (Buss 1988a,b). Esses estudos tem em comum a idéia de que os
humanos se utilizam de estratégias emocionais, cognitivas, motivacionais e
comportamentais para alcançarem metas particulares (p.ex., Carver e Scheier 1990; Pervin
1989).
Muitos pesquisadores estudam aspectos dessas unidades em que os indivíduos se
diferem. As pessoas diferem, por exemplo, no seu uso do pessimismo defensivo como uma
estratégia cognitiva (Cantor 1990), no grau dentro do qual sentem que seus vários projetos
conflitam (Little 1989) e nos esforços que alocam para a intimidade e aproveitamento
(Emmons 1990). A fascinante diversidade de buscas e estratégias humanas, no entanto, não
deveria divergir os investigadores da probabilidade de que em algum nível fundamental de
descrição muitas metas serão compartilhadas por todos os humanos.
Os humanos falam uma diversidade de línguas mas o órgão da linguagem evoluiu
em todos os humanos e mostra muitas evidências de desenho adaptativo (Pinker e Bloom
1990). Os humanos comem diversas comidas mas todos os humanos partilham a
preferência por substâncias ricas em gordura, açúcar, sal e proteína (Rozin 1976). A ciência
geralmente procede descobrindo as estruturas profundas que explicam a superfície desta
estrutura complexa e variada. Os geólogos, por exemplo, ficavam espantados com os
fenômenos complexos e aparentemente únicos como os vulcões, terremotos, deriva
continental e formações montanhosas até que a teoria das placas tectônicas mostrou que
todos esses eram causados por interações entre as placas sobre as quais ficam os oceanos e
continentes. A psicologia da personalidade agora pode se posicionar para fazer um avanço
científico análogo, mas não pode fazer isso sem compreender os mecanismos fundamentais
subjacentes à diversidade manifesta.
Os programas de pesquisa orientados para uma meta realizados por diferentes
investigadores freqüentemente identifica metas fundamentalmente semelhantes. Considere
esses exemplos: “fazer os homens (mulheres) atraentes me notar mais” (busca pessoal),
“fazer sexo” (projeto pessoal), “arrumar um namorado ou namorada” (tarefa de vida), “
atrair parceiros” (tarefa evolucionista geral), e “para manter meu relacionamento marital”
(Preocupação atual). De uma perspectiva evolutiva todas essas formas de esforços
constituem uma esforço de acasalamento e estão ligadas tematicamente relacionadas com a
reprodução. O acasalamento bem sucedido é uma tarefa que deve ser cumprida para a
reprodução sexual. Indivíduos cujas propriedades psicológicas os tenham levado ao sucesso
nas eras passadas foram nossos antepassados. O fato do tema de sucesso no acasalamento
surgir repetidamente das pesquisas sobre a personalidade orientada a um objetivo sugere
que esses métodos fornecem ferramentas poderosas para a exploração de tarefas vitais
funcionalmente significantes.
Dois outros comportamentos que tem significância evolutiva são as negociações de
hierarquias e a formação de alianças recíprocas(Buss 1986). Pesquisas mostram
repetidamente as pessoas listando os objetivos pessoais como a obtenção de um promoção,
formar da universidade, ser mais produtivo no trabalho, dominar as pessoas em certas
situações e fazer amigos (Emmons 1990). Como a posição dentro da hierarquia social
historicamente se apoiou numa gama de recursos reprodutivos bem sucedidos (p.ex., mais
comida, melhores oportunidades de acasalamento), a subida na hierarquia ou a busca do
status provavelmente constitui uma das fontes principais dos objetivos típicos da espécie
(Betzig 1986; Buss 1986; Hogan 1983; Sadalla et al. 1987; Symons 1990). Como o
estabelecimento de intercâmbios sociais cooperativos representam uma forma efetiva de
competição reprodutiva, a formação de alianças recíprocas também formam uma motivação
principal dos humanos (Axelrod 1984; Cosmides 1989; Trivers 1971).
Não é por acaso que muita atenção tem sido dada aos motivos humanos como o
sucesso (McClelland 1989), poder (Winter 1987) e intimidade (McAdams 1988). Não é por
acaso que o poder e o amor emergem consistentemente em todas as culturas como os dois
eixos mais importantes do comportamento interpessoal (Carlson 1990; Kiesler 1990; White
1980; Wiggins 1990). Esses objetivos são estruturados de formas um tanto diferentes para
pessoas diferentes e as estratégias utilizadas para alcançá-las diferem, mas tal variabilidade
individual não nos deveria levar a ignorar as características partilhadas da nossa natureza
humana. O esforço humano (lutas, projetos, tarefas, preocupações e suas estratégias de
execução e ação) é comumente direcionado por metas que historicamente tem sido ligadas
à aptidão inclusiva. As metas e suas estratégias de obtenção ao longo da vida
provavelmente foram o foco central das pesquisas em personalidade na década de 1990
(veja Caspi e Bem 1990; Eder 1989; Helson e Picano 1990; Ozer e Gjerde 1989).
Esforços estratégicos dirigidos para um objetivo surgem de mecanismos
psicológicos que devem sua existência e forma à evolução pela seleção natural. Embora a
maioria das pesquisas baseadas num objetivo tenham enfocado tarefas articuladas
conscientemente, nada numa perspectiva evolutiva requer que os humanos estejam cientes
dos mecanismos psicológicos ou das funções ultimas da busca do objetivo. O assunto
crucial é se essa busca e seus mecanismos psicológicos subjacentes mostram evidencias da
função e cumprem as exigências rigorosas da adaptação. Por exemplo, tais mecanismos
devem mostrar evidencias de eficiência, economia, precisão e complexidade de desenho
que sejam unicamente desenhados para solução de um problema particular. Mais ainda, um
relato plausível de uma história de seleção que poderia tê-las criado e evidências de
desenho funcional típico da espécie e crença maior numa adaptação hipotética. A
descoberta de uma estrutura de objetivos típica da espécie subjacente às estratégias
comportamentais observadas constituirá um avanço maior e mais duradouro na psicologia
da personalidade.
Personalidade como uma paisagem adaptativa: O modelo de cinco fatores na perspectiva
evolutiva
Um capítulo em outra Annual Review (Digman 1990) meticulosamente revisou os
trabalhos empíricos sobre o modelo de cinco fatores da personalidade (veja Botwin e Buss;
John 1990; Peabody e Goldberg 1989; Watson 1989). Os cinco fatores, rotulados de forma
variada, são: surgência (extroversão), concordância, conscienciosidade (vontade de
conquista), estabilidade emocional e intelecto (abertura).
Esse trabalho é primariamente descritivo e mostra a robusteza do modelo dos cinco
fatores ao longo do tempo, contextos, culturas e fonte de dados. Precisamos apenas
acreditar que existem apenas cinco dimensões importantes da personalidade (p.ex., DeRaad
e Hosken 1990; Tellegen 1985) para chegar à conclusão de que esses cinco deveriam ser
incluídos em qualquer taxonomia da personalidade. Os trabalhos descritivos documentam a
robustez desses fatores mas não elucidam o porque são tão freqüentemente encontrados.
Duma perspectiva evolutiva existem três maneiras de explicar a proeminência dos
cinco fatores: 1. Esses fatores podem representar diferenças fundamentais nas estratégias
humanas de conseguir metas típicas da espécie; 2. Eles podem, por outro lado significar
simplesmente ruído no sistema variações que eram neutras em relação à seleção natural e
portanto evolutivamente sem importância; ou 3. Os cinco fatores podem resumir as
dimensões mais importantes do cenário social ao qual os humanos tiveram que se adaptar
(Buss 1989c). Eu considero a primeira opção primeiro.
O núcleo da visão da “personalidade como o cenário adaptativo” é que perceber,
atentar para e agir sobre as diferenças nos outros é crucial para a resolução de problemas de
sobrevivência e reprodução. Uma evidência favorável a isso é o achado de que os termos
usados para os traços são inerentemente avaliativos. Peabody (1985) achou que menos de
3% dos termos para os traços eram neutros em termos avaliativos; mais de 97% tem
definitivamente aspectos avaliativos (também veja Hofstee 1990). Hogan (1990) argumenta
que os termos usados para os traços representam as avaliações dos observadores sobre os
outros. Borkenau (1990) propõe que os traços são avaliativos de categorias sociais e
fornece evidencias disso. Por exemplo, os indivíduos devem avaliar a conscienciosidade
dos outros (fator III) para poder decidir em quem confiar determinadas tarefas. Borkenau
argumenta que as vantagens seletivas seriam obtidas por pessoas com as habilidades de
perceber e agir sobre essas grandes diferenças individuais dos outros. De uma forma
semelhante, Graziano e Eisenberg (1990) colocam a complacência(fator II) em perspectiva
evolutiva, argumentando que ações coordenadas grupais são melhor conseguidas quando os
indivíduos estão dispostos a cooperar e conformar com normas grupais e suspender suas
preocupações individuais para o bem do grupo (ver Wiggins 1990 para um relato
semelhante). Isso implica que é crucial para as pessoas avaliarem diferenças individuais na
complacência para decidirem sobre a inclusão dos indivíduos no grupo.
Como espécie os humanos vivem em grupos (p.ex., Tooby e DeVore 1987). Os
grupos historicamente podem se proteger dos predadores e de machos agressores, caçar
cooperativamente grandes presas e criar um reservatório de parceiros em potencial. Mas os
grupos também impões um custo. A vida em grupo traz a intensificação da competição, dos
riscos de doenças transmissíveis, exaustão dos recursos e agressão por outros membros do
grupo. Outros humanos são nossa “força hostil da natureza” primária. Outros humanos
definem muitos dos problemas aos quais devemos nos adaptar e são capazes de facilitar ou
interferir com nossas estratégias reprodutivas (Byrne e Whiten 1988).
Eu tenho hipotetizado (1989c) que traços de personalidade como a surgência,
complacência e conscienciosidade são as dimensões psicológicas mais importantes do
nosso cenário adaptativo social. Eles fornecem informações para responder a perguntas
adaptativas importantes sobre a vida: Quem está numa posição elevada e baixa na
hierarquia social? Quem tem probabilidade de subir no futuro? Quem será um bom membro
para uma coalizão? Quem tem os recursos dos quais preciso? Quem compartilhará seus
recursos comigo? Com quem devo compartilhar meus recursos? Para quem devo pedir
conselhos? Em quem posso depender quando precisar? Com quem devo me acasalar?
Quem será um bom cooperador ou reciprocador? Quem poderia me machucar? Em quem
posso confiar? Quem trairá minha confiança? Eu hipotetizo que as pessoas evoluíram
mecanismos psicológicos sensíveis às diferenças individuais nos outros que são relevantes
para responder a essas perguntas críticas.
Grupos humanos são 1. Freqüentemente intensamente hierárquicos, com
importantes recursos reprodutivos vinculados de perto à posição na hierarquia (p.ex.,
Hogan 1983; Lopreato 1984) e 2. Caracterizadospor formas relevantes de cooperação e
formação de alianças recíprocas quando comparados a outras espécies de mamíferos
(Axelrod 1984; Tooby e Cosmides 1989; Trivers 1971). A importância da hierarquia sugere
que a posição dos outros na hierarquia e as diferenças nas tendências naturais dos outros de
ascender na escala, são características extremamente importantes no cenário adaptativo
humano. A prevalência da formação de alianças recíprocas sugere que a segunda
característica crítica do cenário adaptativo humano são as tendências naturais dos outros de
“cooperar” ou de “agredir”.
Tenho argumentado (1989c) que o surgimento persistente da surgência (fator I) e
complacência(fator II) como os dois eixos taxonômicos principais na taxonomia
interpessoal e como os dois fatores principais nas taxonomias que descrevem a
personalidade (McCrae e Costa 1989; Trapnell e Wiggins, no prelo), resulta das vantagens
que os humanos obtém de poderem discernir a posição social dos outros e sua tendência
natural de formar alianças recíprocas. Ao longo do curso da evolução humana os indivíduos
que eram capazes de discernir com precisão essas dimensões do contexto social e agir sobre
elas certamente obtiveram uma vantagem reprodutiva sobre aqueles que não eram. Estudos
sobre competição e acasalamento apoiam previsões específicas oriundas de uma análise
evolutiva das características desse cenário adaptativo humano (Buss 1989c).
Em suma, os cinco fatores de personalidade, neste relato, representam dimensões
importantes no terreno social aos quais os humanos foram selecionados para atenderem e
agirem. Quando os indivíduos diferem de maneiras relevantes aos problemas de
sobrevivência e reprodução que devem resolver, uma vantagem seletiva viria para aqueles
cuja a capacidade de discernir as diferenças os permitia aumentar sua aptidão abrangente.
Agora nos viramos para a questão de porque haveriam tais diferenças importantes
entre indivíduos para começar.
A explicação das origens de diferenças individuais – disposições como estratégias
evolutivas de solução de problemas
Explicações evolutivas da origem das diferenças individuais caem em três
categorias básicas: 1. Os indivíduos podem diferir nas suas estratégias adaptativas; 2. As
diferenças individuais poderiam ser sub-produtos incidentais de diferenças de estratégias;
ou 3. Diferenças individuais poderiam se um produto de ruído no sistema (p.ex., mutações
que eram seletivamente neutras, e não eliminadas pela seleção natural). Embora as
explicações “sub-produto incidental” e “ruído” sejam alternativas viáveis, a explicação das
“diferenças estratégicas” é a possibilidade teórica mais intrigante, então a examinarei
detalhadamente.
Existem quatro rotas evolutivas principais para o surgimento de diferenças
individuais consistentes em estratégias disposicionais (discutido melhor abaixo). 1.
Estratégias alternativas herdáveis: diferenças estratégicas geneticamente baseadas devido
‘a seleção dependente da freqüência ou seleção dentro de nichos alternativos (Tooby e
Cosmides 1990a; Hamilton 1987); 2. Calibragem herdável de mecanismos psicológicos:
quando ótimo adaptativo mudou ou tem flutuado ao longo do tempo ou entre lugares,
produzindo variações herdáveis na calibragem ou limiar de um mecanismo típico da
espécie; 3. Estratégias alternativas contingentes à situação: ativação situacional de
diferentes estratégias, todas as quais formam um repertório típico da espécie inerente a cada
indivíduo; e 4. Calibragem ontogenética dos mecanismos psicológicos: quando
experiências individuais diferentes durante o desenvolvimento calibram e estabelecem um
limiar para o mecanismo típico da espécie de maneira contínua, produzindo a distribuição
das diferenças individuais.
Para ilustrar essas alternativas considere os achados sobre diferenças individuais nas
estratégias de acasalamento de rãs (Howard 1981). Machos dominantes emitem coachos
altos para atrair as fêmeas. Rãs menores às vezes permanecem quietos ali por perto e
interceptam as fêmeas quando elas se aproximam dos coachos ressonantes – uma estratégia
“satélite”. Se as diferenças genéticas podem restringir a rã a um dos dois comportamentos,
então temos um exemplo de estratégias reprodutivas alternativas herdáveis. Em contraste,
se todos as rãs machos podem utilizar qualquer uma das estratégias e o comportamento
observado varia diretamente com as circunstâncias (p.ex., quer as rãs grandes dominem a
lagoa ou não) então esse exemplo mostra estratégias alternativas contingentes ao ambiente.
Uma terceira possibilidade pode ocorrer quando o limiar ótimo para mudar de uma
estratégia dominante para uma estratégia satélite tem flutuado ao longo do tempo ou através
dos nichos ocupados por essas rãs. Nesse caso poderiam haver diferenças herdáveis no
limiar de mudança de uma estratégia para outra, ou, calibragem ambiental do limiar de
mudança de uma estratégia para outra.
ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS HERDÁVEIS. Tooby e Cosmides (1990a) delineiam
as observações que poderiam apoiar a determinação herdável das estratégias disposicionais:
1. Para cada estratégia uma abrangência de variáveis de personalidade deveria covariar de
maneira organizada e coodenada; 2. As variáveis devem covariar de maneiras que cumpram
os critérios para adaptação; 3. As disposições alternativas deveriam mostrar evidencias de
seleção dependente de freqüência (i.é., que o ganho adaptativo de qualquer um dos tipos
diminui quando a freqüência relativa daquele tipo aumenta na população). É claro que os
métodos da genética comportamental devem mostrar que as diferenças individuais são
hereditárias.
Esses padrões de evidência são extraordinariamente difíceis de cumprir. A diferença
entre machos e fêmeas de fato seguem esse padrão rigoroso (Buss 1990; Savin-Williams e
Wiesfeld 1989). Homens e mulheres diferem numa gama de variáveis fisiológicas e de
personalidade que covariam de maneira adaptativa e mostram evidências da seleção
dependente da freqüência (Symons 1979). Embora não tenha sido mostrado que nenhum
outro tipo proposto de personalidade, ou de diferenças, alcancem os padrões, existem vários
candidatos promissores.
Snyder et al. (1986) e Gangestad e Simpson (1990) tem identificado uma gama de
características de personalidade que covariam junto com a “orientação sociossexual”
feminina (essa última captura uma tendência individual para formar acasalamentos
duradouros ao invés de buscar encontros sexuais breves); e existe evidências de que esses
são hereditários (veja também Rowe et al. 1989). Esses pesquisadores argumentam que
mulheres que utilizam a estratégia a curto prazo aumentam suas chances de serem
inseminadas por homens mais atraentes, enquanto as mulheres que utilizam a estratégia a
longo prazo eliciam substancialmente mais investimento parental masculino. Gangestad e
Simpson (1990) relatam evidencias empíricas de bimodalidade na orientação sociossexual,
assim apoiando uma das previsões para sua teoria. Essa teoria (que requer mais testes
empíricos - p.ex., para determinar se as características em questão são mantidas pela
seleção dependente da freqüência) ilustra a possibilidade de estratégias alternativas
herdáveis dentro do sexo. Além disso, como a orientação sociossexual é claramente ligada
com a surgência (fator I) and conscienciosidade (fator III), essa pesquisa fornece ligações
fortes entre as variáveis de personalidade tradicionais, o conceito de disposições como
estratégias e a teoria da evolução.
CALIBRAGEM HEREDITÁRIA DOS LIMIARES SOBRE OS MECANISMOS
PSICOLÓGICOS. A maioria das disposições de personalidade parecem ser continuamente
distribuídas na população, uma observação que levanta dúvidas de que representem
adaptações alternativas hereditárias. No entanto, a moderada hereditariedade associada a
essas distribuições contínuas (p.ex., Bouchard e McGue 1990; Eysenck 1990; Goldsmith
1989; Loehlin et al 1990) é compatível com a hipótesede que o ótimo adaptativo para
algumas estratégias tem flutuado ao longo do tempo ou lugares.
Zuckerman (1990), por exemplo, argumenta que diferenças individuais hereditárias
na busca de sensações podem representar variações na tendência ou no limiar de
aproximação ou evitação dos recursos (incluindo parceiros), com diferentes limiares
incorrendo custos bem como benefícios. Nos ambientes ancestrais aqueles com uma
tendência maior de buscar sensações podem ter obtido recursos reprodutivos através de
vigorosos comportamentos de abordagem, mas também podem ter se exposto a riscos
substanciais no processo. Aqueles com uma tendência menor de busca de sensações podem
ter evitado esses riscos mas também falharam em colher os benefícios reprodutivos
probabilisticamente associados com a aproximação. Como a busca de sensações está
associada à normalidade e não distribuída bimodalmente, diferentes limiares para a busca
de sensações evidentemente não são estratégias alternativas distintas. Mas talvez
representem diferenças no limiar que representam os ambientes ou nichos passados que
impuseram diferentes situações adaptativas ótimas. Os nichos onde os recursos alimentares
são escassos, por exemplo, talvez tenham favorecido um limiar mais baixo para o
comportamento de correr riscos e busca de sensações, enquanto os nichos onde os recursos
estavam confiavelmente presentes talvez tivessem favorecido um limiar mais alto para o
correr riscos.
As dimensões de personalidade tendem a ser distribuídas de forma contínua ao
invés de bimodalmente. Variações na surgência, conscienciosidade, estabilidade emocional
e abertura intelectual (mas não complacência) são moderadamente hereditárias (Plomin e
Nesselroade 1990). Esses achados são consistentes com a hipótese de que essas dimensões
principais da personalidade representam calibragens herdáveis de mecanismos psicológicos
básicos, mas não a comprovam. Elas excluem a hipótese de que tais diferenças individuais
representam estratégias alternativas disjuntivas. Essa explicação de diferenças individuais
permanece especulativa porque nos faltam conhecimentos precisos sobre as flutuações
ambientais relevantes.
CALIBRAGEM ONTOGENÉTICA OU SITUACIONAL DOS MECANISMOS
PSICOLÓGICOS. Evidencias da baixa hereditariedade dos fatores de personalidade são
compatíveis com a hipótese de estratégias ambientais contingentes da variedade disjuntiva
ou contínua. (Crawford e Anderson 1989). Como essas estratégias são possuídas por todos
os membros de uma espécie, as variações genéticas não as explicam. Ao invés disso, os
indivíduos diferem em função das condições externas variáveis.
Dois programas de pesquisa em psicologia da personalidade tem explorado
estratégias contingentes ao ambiente e típicas da espécie. Draper e Belsky (1990) propõe
que as pessoas cujos pais estiveram presentes durante o início da infância apresentavam
puberdade tardia, início tardio da atividade sexual, estabilidade nas relações a dois quando
adultos e um conjunto de características de personalidade que inclui baixo auto-
monitoramento e alta cooperação (alta complacência nos modelos de cinco fatores). As
pessoas cujos pais estiveram ausentes durante o início da infância desenvolvem uma
constelação alternativa de personalidade e estratégias reprodutivas envolvendo o início
precoce da puberdade e amadurecimento sexual, relações a dois instáveis na vida adulta,
baixo investimento parental, alto nível de auto-monitoramento e alta agressividade.
A teoria de Draper-Belsky é consonante com o recente relato de que a dimensão
complacente-agressivo nos modelos de cinco fatores difere dos outros quatro em mostrar
baixa hereditariedade (Plomim e Rende 1991). Diferenças individuais na complacência
parecem advir do ambiente e não de diferenças genéticas. O fato de que os estudos
ontogenéticos mostram que a agressividade é relativamente estável ao longo do tempo
(Olweus 1979) sugere que a calibragem no desenvolvimento provavelmente ocorre no
início da vida. Assim, se qualquer diferença importante de personalidade resultar da
calibragem ontogenética de mecanismos psicológicos geneticamente invariáveis, o fator
complacência é o candidato mais promissor.
Essas, é claro, não são as únicas explicações possíveis para a origem das diferenças
individuais. As explicações do tipo “ sub-produto acidental” e “ruído” não podem ser
desconsideradas (Tooby e Cosmides 1990a). De forma semelhante algumas diferenças de
personalidade podem ser sub-produtos acidentais do acasalamento seletivo ou outros
processos que conhecidamente aumentam a variabilidade genética. Existem evidências, por
exemplo, que pelo menos algumas diferenças individuais no QI talvez sejam por causa do
efeito do acasalamento seletivo da inteligência ao longo das quatro ou cinco gerações
passadas – um processo em parte atribuído às instituições culturais como os cursos
superiores. Em casos como esses, seria um erro ver as diferenças individuais como
diferenças estratégicas que evoluíram.
Todos esses relatos são recentes e exigem mais pesquisas sistemáticas antes de
chegarmos a conclusões firmes. Psicólogos da personalidade nos anos 90 provavelmente se
concentrarão no teste dessas explicações alternativas para as origens e natureza das
diferenças individuais. O conceito de disposição como estratégia (quer seja por diferenças
genéticas básicas, calibragem hereditária de mecanismos psicológicos, elicitação
situacional das estratégias possuídas por todos, ou para calibragem dos mecanismos
psicológicos pelo limiar ontogenético) deverá estimular o estudo da personalidade na
próxima década.
Resumo interino
A teoria Evolucionista da personalidade envolve os seguintes componentes
essenciais:
1. Identificação dos problemas adaptativos enfrentados pelas populações ancestrais
humanas (com ênfase dos problemas sociais). Essa tarefa inclui a caracterização do
provável cenário adaptativo humano daquele período – isso é, as ameaças e benefícios
produzidos por competidores específicos e cooperadores. Esses colegas humanos
provavelmente diferiam de duas maneiras principais, como na sua tendência hierárquica
natural (surgência), sua disposição para cooperar (complacência), sua capacidade para o
trabalho confiável e dedicação duradoura (conscienciosidade), sua habilidade de lidar como
stress (estabilidade emocional) e sua propensidade para inovações ou astucia na solução de
problemas (abertura, intelecto).
2. Correlação dos fatores de personalidade atualmente observados com os problemas
propostos para a população ancestral, para apoiar a hipótese de que esses primeiros
evoluíram porque eram soluções para o segundo. Tais adaptações incluem mecanismos
psicológicos relativamente duradouros e as estratégias comportamentais que elas produzem.
3. Identificação das principais diferenças individuais nas maneiras que os humanos
adotam e utilizam estratégias disposicionais.
CLARIFICANDO CONTROVÉRSIAS NA PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE
O pensamento evolutivo pode guiar a teoria da personalidade e pesquisa de vários
modos: 1. Sugerindo domínios importantes de perguntas (p.ex., hierarquias, coalisões,
alianças, fraternidade e acasalamento); 2. Ele “previne certos tipos de erros… e levanta
suspeitas de certas explicações ou observações” (Lloyd 1979:18); 3. “fornece um critério
seguro para o reconhecimento de observações significantes sobre fenômenos
naturais”(p.18); 4. Oferece precisão para afirmativas vagas sobre a natureza humana (p.ex.,
prevê especificamente os outros com os quais as pessoas tentarão “manter-se relacionadas”;
5. Explica os fenômenos da personalidade observados dentro de estruturas teóricas mais
abrangentes (p.ex., vê os modelos de cinco fatores no contexto dos problemas adaptativos
que os humanos devem ter resolvido); e 6. Em domínios limitados ele pode às vezes prever
corretamente fenômenos não vistos antes (p.ex., Cosmides 1989).
A psicologia evolucionista tambémfornece uma forma de trabalho para a
reavaliação de várias controvérsias centrais no campo. Ela pode, por exemplo, ajudar a
clarificar o debate sobre a consistência da personalidade, clarificar o status causal das
disposições da personalidade, explicar o interacionismo, identificar as características mais
importantes do contexto e do ambiente e clarificar o papel das emoções, motivação e
cultura no funcionamento da personalidade.
Uma solução evolutiva para o debate da consistência da personalidade: Mecanismos
psicológicos duradouros e comportamento discriminativo manifesto
O assunto consistência da personalidade tem gerado muito debate ao longo de duas
décadas (ver Ozer 1986). Agora está claro que muitas das hipóteses alternativas sobre os
traços (p.ex., que os achados sobre consistência refletem simplesmente “semelhanças
semânticas” sobre o julgamento dos traços, ou que os traços são construtos que só existem
“nos olhos do dono”) podem ser eliminadas (Kenrick e Funder 1988; Mervielde e Pot
1989). Uma concordância modesta pode ser observada para alguns traços (Funder 1989).
Fatores como a amizade parecem se generalizar por entre as pessoas alvo que variam em
termos de sexo e familiaridade (Moskowitz 1988). Mesmo assim, uma elevada consistência
trans-situacional nos atos manifestos é raramente encontrada e o comportamento mostra
marcante sensibilidade até para leves variações nas situações (p.ex., Wright e Mischel
1987).
A psicologia evolucionista oferece uma clarificação conceitual relevante para
assuntos sobre a consistência da personalidade, distinguindo (a) mecanismos psicológicos
evolutivos de (b) psicologia e comportamento manifesto (Tooby e Cosmides 1990a). De
acordo com uma perspectiva da psicologia evolucionista, os mecanismos psicológicos
básicos que evoluíram porque solucionavam problemas de sobrevivência e reprodução,
seriam relativamente estáveis ao longo do tempo. As exceções seriam as que mudam em
função da história de vida – p.ex., intensificação dos esforços de acasalamento no início da
puberdade e uma mudança do esforço de acasalamento para o esforço parental depois do
nascimento do infante. A personalidade, no sentido de ser uma coleção de mecanismos
psicológicos, tipicamente será relativamente consistente ao longo do tempo.
A psicologia e o comportamento manifestos, no entanto, resultam da interação entre
mecanismos psicológicos evoluídos e os fatores ambientais que as ativam diferencialmente
entre os indivíduos. O comportamento então deverá ser dependente do contexto e
discriminativo pelo menos por três razões: Primeiro, cada pessoa confronta diferentes
problemas ao longo do tempo e ao longo de situações (p.ex., problemas de troca social,
negociação hierárquica, formação de coalisões), que ativam diferentes mecanismos
psicológicos e produzem diferentes comportamentos. Os mecanismos ativados quando
ameaçados por um homem irado com a mão em punho diferem dos ativados quando ele
está engajado em trocas cooperativas mutuamente benéficas. Embora o comportamento
manifesto difira ao longo da dimensão complacência-agressividade, os mecanismos
psicológicos permanecem estáveis e confiavelmente ativados quando se confrontam com
aquelas classes de estímulos contextuais.
Segundo, cada mecanismo psicológico pode gerar uma gama de atos diversos,
dependendo do contexto, cada um dos quais desempenha as funções do mecanismos. Os
mecanismos de busca de status hipotetizados subjacentes à surgência, por exemplo,
produzem atos tão diversos quanto o trabalhar por longas horas, socialização seletiva,
sugestão de novas idéias para o grupo e exagero fraudulento do status de alguém (Kyl-Heku
1990). Atos diferentes podem expressar um mecanismo que evoluiu porque uma vez ele
resolveu um único tipo de problema. Terceiro, um ato pode representar os resultados
agrupados de vários mecanismos psicológicos. De acordo com esse ponto de vista a
consistência na personalidade deve ser procurada a nível dos mecanismos psicológicos
básicos e, os eventos que os ativam de forma confiável, e não a nível do comportamento
manifesto, o que tipicamente tem sido o caso na psicologia da personalidade (p.ex., Mischel
e Peake 1982).
A aparente oposição freqüentemente desenhada entre a “consistência da
personalidade” e “discriminabilidade e especificidade comportamental” desaparecem de
acordo com essa análise. Relatos evolutivos prevêem que comportamentos manifestos serão
altamente discriminativos e sensíveis ao contexto, enquanto os mecanismos psicológicos
subjacente permanecem estáveis ao longo do tempo e confiavelmente ativados quando
expostos aos mesmos estímulos contextuais. Estímulos contextuais variáveis para os
mecanismos psicológicos estáveis produzem comportamentos discriminativos manifestos.
Dentro desta formulação existem quatro contextos primários dentro das quais se
espera que a personalidade difira de forma consistente entre os indivíduos:
1. Quando existem determinantes genéticos alternativos para os traços de personalidade ou
seus limiares (p.ex., os que especificam diferenças de personalidade entre machos e fêmeas,
os tipos restritos e irrestritos de sociossexualidade propostos por Gangestad e Simpson, e as
diferenças hereditárias na busca de sensações postuladas por Zuckerman).
2. Quando ambientes ancestrais dirigem indivíduos diferentes para diferentes estratégias ou
estabelecem diferentes limiares para os mecanismos psicológicos (p.ex., os efeitos na
personalidade da precoce ausência ou presença do pai na personalidade afirmados por
Belsky e Draper).
3. Quando diferentes indivíduos ocupam nichos diferentes que evocam confiavelmente
evocam diferentes freqüências comportamentais (p.ex., habitar um ambiente local populado
por fraudadores poderá eliciar uma não-cooperação consistente enquanto que um ambiente
populado por cooperadores poderá eliciar a cooperação).
4. Quando diferenças individuais de habilidades ou morfologia produzem diferenças na
efetividade com a qual as estratégias alternativas podem ser adotadas ou executadas (p.ex.,
mesomorfos poderão adotar uma estratégia mais agressiva, fisicamente intimidadora,
porque eles podem agir com maior efetividade do que os ectomorfos).
Relatos anteriores sobre a consistência da personalidade (ou aparentes
inconsistências) às vezes enfatizaram a consistência no nível “intrapsíquico” (p.ex., Alport
1937; Block 1968; Wachtel 1973). Esses relatos, no entanto, fornecem explicações para o
porque haveriam mecanismos psicológicos estáveis para começar. A psicologia
evolucionista da personalidade é uma tentativa de dar precisão para afirmativas vagas sobre
a “consistência intrapsiquica” fornecendo relatos específicos sobre (a) mecanismos
psicológicos como soluções evolutivas para problemas adaptativos e (b) as condições que
ativam esses mecanismos de forma confiável (p.ex., Buss 1989; Cosmides 1989).
Uma perspectiva evolucionária para o interacionismo
A formulação de um conceito adequado de interacionismo tem sido o objetivo
principal da psicologia da personalidade, pelo menos desde Murray (1938). Embora as
interações no sentido da ANOVA (Análise de Variância) geralmente não capturam a
essência do interacionismo de nenhuma maneira dinâmica (Golding 1975), nenhuma
estrutura interacionista subsequente tem ganhado endosso tão amplo, a despeito do fato de
que a maioria dos psicólogos da personalidade afirmam ser interacionistas.
Desenvolvimentos recentes tem se concentrado no papel da pessoa na seleção,
evocação, reestruturação cognitiva e características manipulativas dos seus ambientes
(p.ex., Buss 1987; Caspi e Bem 1990; Caspi e Herbener 1990; Coyne et al. 1990; Emmons
et al. 1986; Hettema 1989; Kenrick et al. 1990a; Plomin et al. 1977; Scarr e McCartney
1983; Swann et al. 1989; Van Heck 1990). Esses processos ativos e reativos criados p elas
pessoas criam ligações entre as características das pessoas e seus ambientes.
Crianças agressivas,por exemplo, aparentemente esperam que as outras sejam
hostis, assim eliciando hostilidade dos outros e criando um ambiente populado com atos
mais beligerantes do que um ambiente criado por crianças menos agressivas (Dodge e Coie
1987). As pessoas seletivamente atendem e eliciam comportamentos nos outros que
confirmam seus auto-conceitos (Markus e Cross 1990; Swann et al. 1989. Adultos
escolhem como parceiros outros com semelhanças nas predisposições de personalidade,
atitudes e interesses, assim criando um ambiente duradouro que talvez habitem por anos ou
décadas (Caspi e Herbener 1990). Meninos de temperamento ruim tendem a interromper
seus estudos mais cedo, conseguem status ocupacional menor e divorciam mais
freqüentemente do que os com temperamento bom (Caspi e Bem 1990). A seleção, a
evocação e a manipulação descrevem processos interacionais que vinculam características
de pessoas com características de seus ambientes, criando correspondências entre a pessoa
e seu ambiente.
Modelos evolutivos específicos de metas e tarefas vitais nos fornecem uma estrutura
teórica para prever formas particulares de interações pessoa-ambiente. Existem evidencias
replicáveis, por exemplo, de que mulheres reprodutivamente valiosas4 selecionam como
parceiros machos que se destacam capazes do fornecimento de recursos abundantes, sociais
 
4 Valor reprodutivo é definido em unidades de reprodução futura esperada – o quanto uma pessoa de um
determinado sexo ou idade contribuirá, em média, para a ancestralidade das futuras gerações.
e materiais, para elas e seus filhos, criando um mundo material e experiencial diferente do
obtido por mulheres de valor de acasalamento mais baixo ( ,Borgerhoff Mulder 1988; Buss
1989a). De semelhante forma, atos e atributos reprodutivamente danosos evocam repulsão
social nos outros (p.ex., incompetência, desvios, falta de atratividade, adultério, roubo de
parceiros, agressão) (Baumeister e Tice 1990). Finalmente a manipulação é dirigida para as
mesmas metas proximais (p.ex., obtenção de status, competição por parceiros e formação
de alianças) que levaram o sucesso reprodutivo entre nossos ancestrais (Buss 1988a,b).
Esses exemplos de interações entre a pessoa e o ambiente, baseados na evolução,
são meramente interativos e fornecem uma fórmula mágica para prever interações em
outros domínios. Como se espera que muitos mecanismos psicológicos sejam específicos
de um domínio, não há substitutos para o desenvolvimento de modelos conceituais
específicos de interações entre pessoa e ambiente dentro de cada domínio adaptativo
específico. O processo de seleção, evocação e manipulação, no entanto, representam
processos interativos que ocorrem em muitos domínios de funcionamento da personalidade.
Juntamente com modelos baseados na evolução eles nos fornecem uma estrutura
interacionista poderosa.
Contexto, situação e ambiente
Os psicólogos da personalidade sabem que o comportamento humano é altamente
sensível ao contexto, mas ainda não determinamos quais características ou dimensões do
contexto são importantes ou as maneira pelas quais são importantes (mas veja Van Heck
1990). De um ponto de vista evolutivo da personalidade, o organismo é o árbitro final de
dimensões contextuais importantes. De fato, o mecanismo psicológico produzido pela
seleção natural é sensível apenas a certas formas de estímulos ambientais: “o ambiente em
si não tem poder para agir sobre a psique do animal, exceto de maneiras especificadas pelo
programa de desenvolvimento e o mecanismo psicológico que já existe naquele animal num
dado momento ... O relacionamento verdadeiro entre o ambiente e o comportamento é
criado ... pela natureza e desenho dos mecanismos de processamento de informação que por
acaso existem no animal” (Tooby e Cosmides 1990a:4).
“Organismo” e “situação” não afetam independentemente a personalidade ou o
comportamento. Não tem sentido criar uma “taxonomia de situações” independentemente
dos mecanismos psicológicos dentro dos humanos. Os mecanismos psicológicos evoluíram
porque recebem, processam e respondem apenas a certas formas de estímulos ambientais.
Nesse ponto de vista a dimensão do estímulo contextual importante para as pessoas
depende dos objetivos proximais para os quais os humanos dirigem a ação e os mecanismos
psicológicos específicos ativados por cada meta proximal. Quando os mecanismos de fome
são ativados e o objetivo proximal é o consumo de alimento, as dimensões contextuais
relevantes envolvem substancias que diferem no seu valor nutritivo, localidades que variam
no conteúdo de tais substâncias e os custos e benefícios da ação que poderia ser usada para
adquirir aquelas substâncias. Como nossas estratégias de personalidade são facilitadas e
primariamente obstruídas por outros humanos, nosso estímulo contextual mais importante é
o social (veja a seção acima sobre a personalidade como cenário adaptativo). Mecanismos
psicológicos evoluídos asseguram que essas dimensões contextuais chave serão
valorizadas. Da mesma forma que frutas de variados graus de maturidade diferem em
termos de valor nutritivo, parceiros potenciais diferem em termos de potencial de
acasalamento, cooperadores em potencial diferem em termos de valor para coalisões e
amigos em potencial diferem em valor para alianças diádicas.
 A seleção natural tem criado nos humanos mecanismos psicológicos que são
altamente sensíveis ao contexto, e não instintos rígidos que operam apesar do contexto. O
progresso na compreensão de quais dimensões do contexto são importantes dependerá de
desenvolvermos a idéia de que o contexto pode ser compreendido independentemente dos
objetivos proximais e mecanismos psicológicos da pessoa. Compreender a importância do
contexto depende do progresso na compreensão dos mecanismos psicológicos evolutivos.
O ambiente experienciado por um organismo é em si um produto da evolução.
Emoções, desejos, preferencias: mecanismos psicológicos evolutivos que sinalizam
características adaptativamente significativas do ambiente
O estudo das emoções, definido de forma ampla para incluir o afeto, estado de
humor, desejos, excitação, atração, repulsão e preferência, fornece um caminho para a
identificação de estímulos ambientais adaptativamente relevantes. Esses processos
organísmicos tem recebido crescente atenção dentro da psicologia da personalidade na
última década (p.ex., Clark e Watson 1988; Kagan 1989; Larsen e Kasimatis 1990; Lazarus
1990; Revelle 1990; Tellegen 1985; Watson 1989). Várias linhas de trabalho tem explorado
as funções adaptativas das emoções, preferencias e desejos.
Ellsworth e Smith (1988), por exemplo, documentou padrões de apreciação que
apoiam a hipótese de que as emoções sovem problemas adicionais. A tristeza, por exemplo,
produz uma expressão de desconforto que elicia o comportamento de ajuda dos outros.
Numa série de estudos relacionados, eu (1989b) propus que a demonstração de raiva alerta
os outros sobre a sensação que a pessoa enfurecida tem de que sua estratégia foi
interrompida e sinaliza uma exigência de que a interferência seja removida (também veja
Frijda 1988). Como os homens e as mulheres praticam estratégias sexuais um tanto
diferentes, os eventos que levam à interferência estratégica nesse domínio deveriam diferir
entre os sexos. Encontrei que as mulheres tinham mais raiva do que os homens sobre
agressividade sexual no sexo oposto, enquanto os homens tinham mais raiva do que as
mulheres em relação à recusa sexual pelo sexo oposto. Essa observação apoia a hipótese de
Trivers sobre uma ligação entre o investimento parental e seletividade e a hipótese de que a
raiva funciona para alertar as pessoas sobre a interferência na estratégia. Noutra linha de
trabalho Nesse (1990) desenvolveu uma taxonomia das funções específicas de diferentes
formas de medo e pânico. A ansiedade social, por exemplo, aparentementealerta o
organismo para as ameaças ao status e pertença a um grupo (veja também Baumeister e
Tice 1990). O pânico, para citar outro exemplo, é provocado pelo ataque iminente.
As pessoas antecipam com prazer ou repulsão a possibilidade comerem certas
comidas de modos que revelam nossas adaptações evolutivas para o problema de consumo
de comida (p.ex., afetos positivos para o consumo de doces; afetos negativos para o
amargo, azedo ou pútrido). De forma análoga, nossas reações afetivas a potenciais
membros da coalisão, rivais ou parceiros, revela nossas adaptações evolutivas para
problemas sociais.
O desejo universal das mulheres por homens que mostram indicadores para a
aquisição de recursos (p.ex., ambição, esperteza, status) e o desejo universal que os homens
mostram por mulheres que mostram indicadores de valor reprodutivo (p.ex., juventude,
atratividade física) são reações afetivas que revelam as soluções evolutivas para dois tipos
de problemas de acasalamento (Buss 1989a).
A emoção do ciúme tem recebido crescente atenção pelas pesquisas. As evidências
são fortes de que o ciúme é a causa principal da violência interssexual no mundo,
particularmente a violência perpetrada por homens contra suas parceiras (Daly e Wilson
1988). Entre os homens o ciúme é eliciado pela suspeita ou pelas evidências de infidelidade
sexual, provavelmente funcionando como um mecanismo evolutivo para proteger contra a
incerteza de paternidade (Daly et al. 1982). Diferenças consistentes entre os sexos no ciúme
tem sido documentados, com os homens se concentrando nos aspectos sexuais e a mulher
enfocando mais a perda do tempo, atenção e recursos ao longo do relacionamento
(Teismann e Mosher 1978; White e Mullen 1989). Finalmente existem evidências de que as
mulheres às vezes intencionalmente eliciam o ciúme masculino (p.ex., mostrando interesse
por outro homem ou dando atenção a ele) como tática de reter seu parceiro (Buss 1988b).
Emoções, estados de humor, preferencias e desejos são claramente produtos da
seleção natural. A estrutura do afeto e das preferências sociais mostram uma generalidade
transcultural marcante (p.ex., Buss et al. 1990; Russell et al. 1989). As emoções sinalizam
características adaptativamente significativas no contexto e no ambiente. A área deverá
experienciar um surto de interesses em ligar esses estados com as dimensões tradicionais da
personalidade e compreender suas funções na psicologia evolutiva humana (p.ex., Tellegen
1985; Tooby e Cosmides 1990b).
Cultura e personalidade
A maioria da pesquisa em personalidade tende a ser paroquial no sentido que é
formulada e executada dentro de uma única cultura. Com o estabelecimento recente da
European Journal of Personality tem havido um aumento de pesquisas transculturais sobre
a personalidade (p.ex., Angleitner et al. 1990; Hettena 1989; Hofstee 1990; Strelau et al.
1989; Van Heck 1990). Existem tanto benefícios conceituais e empíricos a serem derivados
da mistura entre psicólogos da personalidade do mundo.
Algumas das questões mais importantes e persistentes na área exigem estudos
transculturais. A pergunta colocada por Goldberg (1981) a uma década atrás e mais
recentemente por John (1990), “o modelo de cinco fatores da personalidade é universal?”,
ainda tem que ser respondida. No entanto, usando amostras das Filipinas, Church e
Katigbak (1989) fornecem evidências não ocidentais para o modelo de cinco fatores. Um
estudo recente em 37 sociedades pelo mundo encontrou que a bondade (fator 2),
confiabilidade (fator 3), estabilidade emocional e maturidade (fator 4) e inteligência (fator
5) estavam entre os mais valorizados entre 31 possíveis características de parceiros em
potencial (Buss et al. 1990). Esses achados indicam a intrigante possibilidade de que o
modelo de cinco fatores talvez de fato descreva dimensões universais adaptativamente
relevantes dos valores e ações humanas.
Embora as hipóteses evolutivas freqüentemente se referem a coisas típicas da
espécie, do sexo ou mecanismos graduados com a idade, a cultura fornece estímulos
importantes para esses mecanismos. O valor que se coloca na coragem física e
agressividade entre os Yanomamo da América do Sul (Chagnon 1988), por exemplo, está
aparentemente ligado a níveis de violência mais elevados do que os da Islândia, Dinamarca
ou Canadá (Daly e Wilson 1988). De fato, existem evidências de que entre os Yanomamo
matar um rival atualmente leva a uma elevação de status e sucesso reprodutivo (Chagnon
1989).
Acredita-se amplamente que as práticas de socialização influenciam as
características de personalidade da criança, mas pouco se sabe sobre isso
transculturalmente. No talvez seja o maior estudo transcultural já feito, Low (1989)
examinou o treino de socialização da personalidade (p.ex., surgência, complacência e
conscienciosidade) em 93 sociedades. Low encontrou apoio marcante para três previsões
evolutivas sobre o treino da criança: 1. Meninos, entre as culturas, são treinados para
mostrar mais força, agressão e auto-confiança do que as meninas; 2. As meninas, entre as
culturas, são treinadas para ser mais responsáveis, obedientes e controladas do que os
meninos (especialmente sexualmente); e 3. Quanto mais poligínica a sociedade mais
intensamente os meninos eram treinados para serem competitivos. Esses achados acentuam
o valor heurístico do pensamento evolucionário na identificação de variações importantes,
bem como a uniformidade entre as culturas.
A cultura, no entanto, não pode ser compreendida independentemente dos nossos
mecanismos psicológicos evolutivos (Tooby e Cosmides 1989). Os indivíduos não são
receptáculos passivos de influencias culturais, são estrategistas ativos cujos mecanismos
psicológicos os dispõe a agir seletivamente sobre dimensões adaptativamente relevantes
dos estímulos ambientais – talvez mais importantemente sobre os estímulos vindos do
próprio grupo ou cultura. Nossa psicologia evolutiva é necessária para os processos
culturais, e não separada dela. A despeito de dificuldades práticas tremendas, a pesquisa
transcultural será indispensável para respondermos muitas das perguntas mais importantes
na psicologia evolutiva da personalidade.
CONCLUSÃO
A meta-teoria evolutiva nos fornece uma estrutura sistemática para os assuntos
conceituais centrais na psicologia da personalidade. A teoria da personalidade, nesse ponto
de vista, deve incluir uma caracterização não arbitrária da natureza humana, incluindo
especificações de 1.os objetivos principais para os quais os humanos dirigem suas ações
(problemas que historicamente tiveram que ser resolvidos para permitir o sucesso
reprodutivo), 2. Os mecanismos psicológicos que evoluíram porque solucionavam esses
problemas, e 3. As estratégias individuais diferentes e típicas da espécie, ativadas por
mecanismos psicológicos, que as pessoas usam para atingir objetivos e solucionar
problemas adaptativos.
Táticas e estratégias direcionadas para um objetivo, então, são unidades
prometedoras para a psicologia da personalidade. Embora exista uma variabilidade
substancial no como os indivíduos estruturam seus objetivos e devotam seus esforços para a
solução de problemas, considerações evolucionistas sugerem uma estrutura não arbitrária
típica da espécie tanto para os objetivos quanto para os meios de alcançá-los. A descoberta
de uma estrutura subjacente típica da espécie e a solução estratégica evolutiva
correspondente constituirão uma contribuição científica duradoura dos psicólogos da
personalidade informados da teoria evolucionista.
Diferenças individuais coerente do tipo incorporadas pelo modelo dos cinco fatores
de personalidade serão analisados em dois níveis relacionados. O primeiro enfoca as
estratégias individuais e conceitualiza disposições como mecanismos para a resolução de
problemas, quer baseados na hereditariedade ou diferencialmente ativados pelas
contingências ambientais. O segundo enfoca

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