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Imagem e Comportamento

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- -1
IMAGEM E COMPORTAMENTO
CAPÍTULO 1 – O QUE É COMPORTAMENTO?
Francisco Bruno Costa Ceppi
- -2
Introdução
Quando analisamos o comportamento das pessoas, nem sempre percebemos que ele traduz muito mais de uma
pessoa do que aparenta. Desde suas expressões, modo de falar, de se movimentar, e, inclusive, as
microexpressões de seu rosto, nos dizem muito, se soubermos como interpretar. Mas há muitos fatores
envolvidos nessa interpretação, começando pelos biopsicossociais e, certamente a influência social e cultural. 
Para compreender o que é comportamento, vamos começar abordando tanto a Psicologia Comportamental,
quanto a Psicologia Cognitiva, para compreender as seguintes questões: do que é feito o comportamento e quais
funções pode apresentar? Como se pode analisá-lo? O que o controla? Como ele se desenvolve a partir do
aparato biológico, evoluindo para as práticas sociais?
Considerando esses questionamentos, definiremos comportamento dentro de duas perspectivas psicológicas: o
behaviorismo radical (aportuguesadamente, lê-se “birreiviorismo”) e o behaviorismo cognitivista. Em seguida,
aprofundaremos mais as variáveis e os fatores externos e internos, imediatos e históricos, biológicos e sociais,
que controlam o comportamento. Ao final, conseguiremos analisar um comportamento de maneira geral, tendo
como parâmetro a cultura e a subjetividade.
Leia o conteúdo com atenção. Bons estudos!
1.1 Definições de comportamento
Dentre os sistemas teóricos que tomam o comportamento como objeto de estudo, destacam-se o behaviorismo
radical de Burrhus Frederic Skinner (SKINNER, 2003) e o behaviorismo cognitivista de Edward Tolman
(STERNBERG, 2010). Essas duas formas de conceber o comportamento vêm sendo integradas a fim de produzir
uma explicação mais completa do comportamento humano, tanto em suas estruturas como em suas funções.
Sendo assim, o conteúdo a seguir o ajudará a ter uma noção geral do que define o comportamento e de como se
pode analisá-lo, sendo você um psicólogo ou não.
1.1.1 Definição behaviorista e cognitivista do comportamento humano
Historicamente, os behavioristas propunham modelos comportamentais baseados em paradigmas R-S (isto é,
interação física entre respostas emitidas pelo sujeito e estímulos ambientais). Já os cognitivistas baseiam-se em
paradigmas S-O-R (isto é, mediação por processos internos/cognitivos da interação física entre estímulos
ambientais e respostas emitidas pelo sujeito).
- -3
Figura 1 - O comportamento é um dos principais objetos de estudo da psicologia.
Fonte: Wright Studio, Shutterstock, 2018.
O behaviorismo radical influencia até hoje perspectivas estritamente comportamentais em psicologia, ou seja,
que explicam os fenômenos humanos a partir de relações diretas entre o comportamento e o ambiente físico
(CATANIA, 1999). O cognitivismo, inaugurado por Tolman, considera processos cognitivos que medeiam a
relação entre o comportamento e o ambiente físico, tendo influenciado perspectivas mais recentes, como a
abordagem cognitiva de Aaron Beck (FALCONE; OLIVEIRA, 2012).
Na perspectiva behaviorista radical, o comportamento é definido como qualquer interação entre o indivíduo ou o
sujeito, como um todo, e o comportamento à sua volta, podendo ser classificado como inato ou aprendido em sua
origem, em que temos um repertório herdado (por exemplo, reflexos) e um repertório adquirido, como a fala, a
escrita, usar um celular etc. (SKINNER, 2003).
Dois tipos de comportamento podem ser classificados a depender se há ou não mediação social na sua execução,
são eles: o comportamento verbal e o comportamento não verbal. Segundo Skinner (1957), o comportamento
verbal é uma forma de comportamento aprendido que é selecionado e mantido por consequências mediadas
pelo outro, isto é, um ouvinte, contextualizado dentro de uma comunidade verbal, que representaria a cultura da
VOCÊ QUER LER?
Se você quer saber um pouco mais sobre a história da psicologia científica, leia o livro “História
da psicologia moderna”, dos autores Duane Schultz e Sydney Schultz (2014). Nesse livro, eles
abordam de maneira agradável histórias interessantes sobre alguns bastidores da evolução da
psicologia como disciplina científica.
- -4
pelo outro, isto é, um ouvinte, contextualizado dentro de uma comunidade verbal, que representaria a cultura da
qual o indivíduo faz parte. Portanto, comportamento verbal não se restringiria a fala, escrita e leitura, mas a
qualquer comportamento interpretado por outro sujeito a partir de um sistema arbitrário de códigos ou sinais.
Dentre exemplos de comportamento verbal estão dialogar, acenar com a mão, escrever uma poesia, instruir
alguém etc. Já comportamento não verbal refere-se a todo comportamento aprendido cujo contato direto com
suas consequências, isto é, não mediado socialmente, é que o seleciona e mantém no repertório do indivíduo, por
exemplo, os hábitos, habilidades motoras, aptidões físicas etc.
Na perspectiva cognitivista, o comportamento é definido como o resultado psicomotor de processos cognitivos,
como o pensamento, em que a experiência do sujeito seria moldada por algum tipo de esquema mental
(STERNBERG, 2010). Essa ideia de esquema mental é baseada em teorias do processamento da informação, que
utiliza a metáfora do computador para explicar o funcionamento da mente humana. O princípio básico é que um
evento do cotidiano poderia ser interpretado de maneira diferente pelas pessoas que o presenciaram, a
depender de como o “ ” de cada uma está funcionando. Assim, esses processos cognitivos são no geralsoftware
representados por nossos pensamentos, opiniões, sentimentos, crenças e expectativas.
1.1.2 Estrutura e função do comportamento
Apenas identificar a forma como um comportamento ocorreu não é suficiente para explicá-lo, é necessário
também entender o porquê de alguém o ter emitido. Para isso, temos de observar as circunstâncias, as
motivações e as consequências imediatas e de longo-prazo das ações de uma pessoa, levando em conta também
sua história de vida e repertório comportamental.
Comportamentos podem ser vistos como mudanças no indivíduo correlacionadas a mudanças no ambiente à sua
volta, ou seja, é constituído de dimensões físicas do sujeito (por exemplo, ações, sinais fisiológicos, ondas
cerebrais) relacionáveis a dimensões físicas do ambiente natural ou social (por exemplo, condições climáticas,
estímulos estressores, elogios). Dessa forma, usar um guarda-chuva para se proteger da água, tremer e suar após
uma ameaça ou sentir satisfação por um elogio são formas de comportamento.
As consequências do comportamento podem ter duas funções básicas: i) efeito reforçador e ii) efeito punidor
(CATANIA, 1999). Clique nos itens abaixo para conhecê-los.
• 
Efeito reforçador
O efeito reforçador ocorre quando a consequência de um comportamento aumenta a ocorrência
futura desse mesmo comportamento. Por exemplo, quando executamos um bom trabalho e
recebemos um elogio sincero, é muito provável que repitamos nosso desempenho da mesma
maneira.
• 
Efeito punidor
VOCÊ QUER LER?
Para aprender mais sobre a aquisição da linguagem e o comportamento verbal em uma
perspectiva cognitivista, contrapondo à perspectiva comportamental de B. F. Skinner,
recomendamos a leitura do clássico texto de Noam Chomsky intitulado “The case against BF
Skinner” (1971). Nele, Chomsky critica o antimentalismo exacerbado de Skinner e alguns
pontos de seu modelo que não possuíam, à época, evidência empírica.
•
•
- -5
Efeito punidor
Já o efeito punidor ocorre quando a consequência de um comportamento reduzir a ocorrência
futura desse mesmo comportamento. Por exemplo, quando planejamos um orçamento e os
resultados são negativos, é muito provável que esse prejuízo nos leve a deixar de planejar daquela
forma.
Figura 2 - É importante saber mirar no sucesso, mas aprender com o fracasso nos torna mais fortes.
Fonte: iQoncept, Shutterstock, 2018.
Sendo assim, essas duas funções básicas do comportamento são extremamente importantes, pois nos fazem
seguir no que estásendo positivo e mudar quando está tendo consequências negativas. Lembre que o fracasso
também faz parte da vida e sua principal função é nos mobilizar para uma nova ação e uma nova forma de
- -6
também faz parte da vida e sua principal função é nos mobilizar para uma nova ação e uma nova forma de
enxergar o meio à nossa volta.
1.1.3 Dimensões de análise do comportamento
A análise de um comportamento deve abranger três aspectos fundamentais: a dimensão biológica, a dimensão
psicológica e a dimensão social. A partir disso, não surpreende que na área da saúde, tanto física como mental,
seja defendido o valioso modelo biopsicossocial. Em tal modelo, a saúde é vista como resultado de processos
fisiológicos, ambientais, subjetivos, interpessoais e até culturais (FAVA; SONINO, 2008).
Primeiramente, podemos considerar que a base biológica de todo comportamento é a fisiologia do organismo.
Isso significa dizer que há limites biológicos para a execução de algumas tarefas (nunca sentiremos odores tão
bem quanto cães), há eventos fisiológicos mediando reações do sujeito (a imunidade pode ser rebaixada pelo
estresse), há aprendizado devido à plasticidade de nosso cérebro (algo tão importante na recuperação de um
trauma cerebral ou um acidente vascular cerebral), assim como há sentimentos, emoções e sensações de
satisfação ou desprazer correlacionadas a atividades neurais em regiões mais primitivas de nosso cérebro.
Em segundo lugar, a dimensão psicológica do comportamento se refere à história particular de vida, às
peculiaridades, às características individuais e à constituição do sujeito. Tudo isso, forma o que conhecemos por
subjetividade, ou seja, o porquê de cada um ser do jeito que é. Esses aspectos internos ao sujeito, adquiridos na
sua experiência de vida, influenciam na forma como nos comportamos.
Por fim, Bronfenbrenner (1996) definiu muito bem a dimensão social do comportamento a partir de uma
perspectiva ecológica. Segundo ele, o comportamento humano está inserido em contextos sociais denominados
como microssistema, mesossistema e macrossistema. Clique nas abas abaixo e conheça mais sobre o tema.
•
Microssistema
O microssistema corresponde às relações familiares, escolares, amizades e vizinhança do sujeito.
•
Mesossistema
O mesossistema abrange os sistemas políticos, educacionais e econômicos da sociedade à qual o
sujeito faz parte.
•
Macrossistema
Já o macrossistema amplia o contexto do sujeito para os valores, princípios e normas gerais de sua
cultura.
Em resumo, devemos estar atentos às diversas dimensões que envolvem o comportamento de um indivíduo e
possamos ter um olhar holístico sobre as ações das pessoas. Nos tópicos a seguir, abordaremos mais
detalhadamente como o comportamento se desenvolve e as variáveis que o controlam.
•
•
•
- -7
1.2 O (auto)controle do comportamento
As pessoas comportam-se de várias maneiras e por várias razões, o que evidencia o comportamento
fundamentalmente como um fenômeno individual, interacional, processual e histórico. Clique nos itens e
conheça mais sobre o tema.
• 
Individual
Individual porque cada um vive cada experiência de forma particular e única, mesmo que em
relação ao outro.
• 
Interacional
Interacional porque envolve alterações no sujeito correlacionadas a alterações no seu ambiente
• 
Processual
Processual porque está em constante mudança.
• 
Histórico
Histórico porque é cumulativo, em que, ao longo do ciclo vital do indivíduo, é adquirido um
conjunto de repertórios, habilidades e hábitos (BRONFENBRENNER, 1996).
Compreender essa complexidade e conseguir explicar um comportamento depende da capacidade de identificar
e analisar as variáveis mais imediatas, assim como aquelas mais distantes (ou distais) da emissão do
comportamento. O conteúdo a seguir o ajudará a adquirir essa capacidade discriminativa.
1.2.1 Variáveis históricas que influenciam o comportamento
De acordo com Skinner (2007), a origem de um comportamento partiria de três tipos de história. Para conferir
mais sobre eles, clique nos abaixo.cards
História filogenética
Referente ao aparato biológico herdado geneticamente, característico de cada espécie de organismo.
História ontogenética
Referente às experiências particulares vividas pelo sujeito ao longo do ciclo vital (infância, adolescência, vida
adulta e velhice).
História cultural
Corresponde à comunidade na qual um indivíduo nasceu e se desenvolveu, remetendo a valores, costumes e
regras estabelecidas por um grupo social antes mesmo do nascimento do indivíduo.
Os comportamentos que resultam de contingências filogenéticas são aqueles adquiridos ao longo da história de
nossa espécie, a . O trabalho seminal de Charles Darwin, em 1859, intitulado “A origem dashomo sapiens
espécies”, apresentou várias evidências de que há uma continuidade entre as espécies, incluindo a nossa. Ele
denominou o processo que dá origem e modifica as espécies ao longo de milhões de anos de . Há seleção natural
muitos anos precisávamos coletar e caçar para sobreviver no dia a dia, e o mais interessante é que muitos
comportamentos que emitimos ainda parecem estar “presos” a esse período.
•
•
•
•
- -8
Comportamentos que resultam de contingências ontogenéticas são aqueles adquiridos ao longo da história de
uma pessoa. Ao nascer, somos equipados com um repertório mínimo de sobrevivência, embora completamente
dependentes dos cuidados de outro ser humano. No entanto, à medida que crescemos vamos aprendendo a agir
no mundo e a modificá-lo a nosso favor. Assim, adquirimos a fala, o planejamento de ação, as habilidades sociais
e o julgamento moral, isto é, todo um repertório que nos dá autoconhecimento e autonomia.
Por fim, comportamentos que resultam de contingências socioculturais são aqueles que somente adquirimos no
contato com sujeitos enculturados. Representam nossa linguagem, forma de vestir, gestos, gírias, valores e tudo
o mais que caracteriza nossa cultura, possibilitando uma espécie de identidade social ao indivíduo.
1.2.2 Variáveis proximais que influenciam o comportamento
Imagine que alguém recebeu um convite para uma festa no final de semana. Se nós refletirmos sobre todas as
possíveis razões para que esse convite seja aceito ou não, muito provavelmente especularemos motivos
sustentados em acontecimentos anteriores a esse convite, mas também, em contextos mais imediatos ou atuais.
Portanto, nós vamos agora detalhar mais tecnicamente o que seriam esses motivos, razões e contextos.
Em torno do comportamento existem circunstâncias que o afetam, as quais podem ser identificadas como fatores
que momentaneamente o explicam. Um importante fator são as próprias consequências, motivos, metas ou
objetivos do comportamento, que podem gerar efeitos mais imediatos, como a supressão ou a repetição do
comportamento, mas também podem gerar efeitos mais duradouros, como a aprendizagem, a formação de um
hábito e a elaboração de crenças pessoais. Por exemplo, ao estudar, há a consequência mais imediata de acessar
uma informação, mas também há o acúmulo de conhecimento que se espera conduzir à resolução de um
problema no futuro.
As motivações ou razões envolvem as tendências para uma ação, ou seja, os impulsos, desejos e necessidades.
Mesmo que um comportamento pareça ser emitido aleatoriamente, em algum grau há uma força o
impulsionando, embora algumas vezes não consigamos ter consciência dela. Já os contextos nos quais um
comportamento ocorre remetem a um tipo de influência norteadora, com a qual aprendemos a economizar
energia e tempo (ou até dinheiro) comportando-nos menos generalizadamente, ou seja, adequadamente para
cada contexto diferente.
VOCÊ QUER VER?
O documentário , do History Channel (2015), mostra a evolução da Do macaco ao homem
espécie humana ao longo de milhares de anos. Nele você conhecerá todas as mudanças
anatômicas e comportamentais adquiridas por nós seres humanos, o que possibilitou
desenvolvermos comportamentos mais sofisticados e sobreviver na luta contra outras
espécies. Disponível em: < >.https://www.youtube.com/watch?v=KUsLIVP_0fI- -9
Dessa maneira, tomando como exemplo o comportamento de um potencial cliente para aderir a um tratamento
estético, esse comportamento pode ter a mudança estética em si como motivo mais imediato, a elevação da
autoestima como efeito mais duradouro e estar sendo motivado pelo desejo de adquirir atenção social, porém
sob controle contextual de condições financeiras particulares.
1.2.3 Do controle ao autocontrole
Ao nascermos, nós somos completamente dependentes de nossos cuidadores. Se nós olharmos por essa
perspectiva, concluiremos que o ambiente externo à nossa volta, geralmente estabelecido pelos nossos
familiares, controla nossos primeiros comportamentos. Esse tipo de controle perdura até o final da vida, mas não
nos restringimos a ele porque processos comportamentais e cognitivos mais sofisticados sobrepõem-se a esses
controles externos e nos dá a capacidade de controlarmos a nós mesmos.
Nossa consciência pode ser interpretada comportamentalmente sob a forma de eventos, que apenas o sujeito
que os emite tem acesso, como seus pensamentos e sentimentos (HÜBNER; MOREIRA, 2013). Tudo começa com
nosso sistema sensorial capaz de nos dar informações sobre o mundo interno ou particular, que com auxílio de
nossa comunidade verbal nos leva a discriminá-los para que outros tenham acesso a eles também. Esse processo
é importante para que nós mesmos aprendamos a identificar mudanças nesse mundo interno e “alertar” a
nossos cuidadores o que está acontecendo conosco. Essa é a mais precoce forma de autoconhecimento que
adquirimos, mesmo que a comunidade não consiga ser tão precisa no ensino dela, já que apenas nós temos a
verdadeira percepção do que sentimos. Note que são as convenções estabelecidas pelo outro, e por isso externas,
que vão nos ajudando a formar uma identidade e subjetividade.
A partir desse repertório mais básico, adquirimos o comportamento de auto-observação, muito semelhante
funcionalmente ao comportamento de observação direcionado para o mundo externo. No entanto, serve para
produzir uma autoconsciência. Assim, nos tornamos cada vez mais autoconscientes quando somos capazes de
sentir e definir nossos próprios estados internos. A observação das sensações internas logo se expande para a
observação do próprio comportamento e das variáveis que o controlam. Por exemplo, a leitura deste capítulo
está tornando-o um pouco mais consciente do próprio comportamento, por causa das definições apresentadas
aqui, e não seria incomum que se estabelecesse nos leitores uma espécie de comportamento de autoanálise.
VOCÊ O CONHECE?
Abraham Harold Maslow (1908-1970) foi um psicólogo americano que criou a ideia de uma
hierarquia de necessidades, embora seu primeiro contato com a psicologia quase o tenha feito
desistir da disciplina. De acordo com esse autor, temos que satisfazer motivações mais básicas
para alcançarmos a autorrealização. Sua hierarquia obedece à seguinte ordem: necessidades
fisiológicas, de segurança, de relacionamento, estima e por fim, de realização pessoal.
- -10
O estágio final do processo de auto-observação e autoconsciência decorre de uma capacidade de controlar a si
mesmo. Assim, quando aprendemos a descrever o mundo também estamos aprendendo a descrever a nós
mesmos; controlando as variáveis que influenciam nossos comportamentos também adquirimos o repertório de
autocontrole. Controlamos a nós mesmos de duas formas, uma é controlando nosso ambiente imediato gerando
um contexto favorável para emissão de novos comportamentos no futuro; a outra é formando crenças e
pensamentos sobre nós, também denominado de controle verbal (CATANIA, 1999; STERNBERG, 2010). No
primeiro caso, se você quer acordar cedo, programe um despertador hoje para que amanhã ele crie um ambiente
“favorável” para que você acorde, embora isso também possa produzir efeitos colaterais, como irritabilidade
pelo barulho. No segundo caso, à medida que nos comportamos em grupo, progressivamente, autoconceitos vão
sendo formados pelas aprovações e sanções sociais, assim instruímos a nós mesmos sobre como nos comportar,
como acontece quando “pensamos antes de agir”.
Ao passo que conhecemos mais sobre os fatores que envolvem o comportamento, vemos como ele é complexo.
Com atenção e um mínimo de dedicação, vamos compreendendo como o comportamento funciona.
1.3 Base biológica do comportamento
A área da psicologia desenvolvida para tratar dos aspectos biológicos é denominada de ,neuropsicologia
definida justamente como a ciência que estuda as bases neurais do comportamento humano. Acrescenta-se
também a como disciplina científica que estuda semelhanças e diferenças entre as espéciespsicobiologia,
animais não humanas e o ser humano. Outra ciência psicológica relevante e que traz grandes contribuições para
a compreensão do comportamento é a , que estuda mecanismos adaptativospsicologia evolucionista
originados em um ambiente ancestral.
A partir da reunião de alguns conceitos e dados empíricos trazidos por essas três disciplinas, abordaremos os
principais processos biológicos que subjazem o comportamento. O estudo desses processos se faz útil a partir do
momento que intervenções farmacoterápicas, como em pós-cirúrgicos estéticos, ou nutricionais, como consumo
de antioxidantes, alteram o funcionamento neurofisiológico, repercutindo em potenciais alterações
comportamentais.
1.3.1 A evolução do cérebro
Um dos principais mecanismos funcionais presentes no nosso sistema nervoso é o de neurotransmissão.
Evidências evolutivas apontam que a transmissão neural em animais mais primitivos, os invertebrados, ocorria
predominantemente por sinapses elétricas, mas que nos vertebrados houve uma progressiva substituição por
sinapses químicas. Dessa forma, a primeira grande mudança comportamental foi a sobreposição de padrões
comportamentais mais estereotipados, controlados eletricamente, por um padrão comportamental mais plástico
VOCÊ SABIA?
Sigmund Freud (1856-1939), certamente o mais famoso psicanalista, era doutor em medicina
e, inclusive, participava de estudos experimentais, mas destacou-se por desenvolver uma
teoria sobre o funcionamento psíquico. Ainda mais interessante é o fato de que Freud já
afirmou ser ele seu paciente mais importante após realizar autoanálises por anos. Contudo,
também já afirmou que uma genuína autoanálise parece ser impossível. E você? Até onde
consegue conhecer a si mesmo? Ou, o quanto precisamos dos outros para nos conhecer?
- -11
comportamentais mais estereotipados, controlados eletricamente, por um padrão comportamental mais plástico
e gradativo, controlado eletroquimicamente (DALGALARRONDO, 2011).
Clique nas setas e conheça outros aspectos relacionados a evolução do cérebro.
O córtex cerebral corresponde a outra evolução ocorrida no cérebro, nesse caso, mudanças neuroanatômicas,
sendo responsável por diversas funções psicológicas mais sofisticadas. Houve uma mudança gradual do controle
das ações por estruturas mais superiores do cérebro em comparação a estruturas subcorticais mais primitivas,
como hipocampo, tálamo e hipotálamo, responsáveis mais por comportamentos emocionais e automáticos.
Interessantemente, nosso córtex continua a se desenvolver ao longo da vida em resposta aos desafios
ambientais, possibilitando ainda mais variabilidade comportamental.
Uma ciência de extrema relevância para a psicobiologia é a , que sintetiza duas outraspaleoantropologia
ciências: a paleontologia e a antropologia física. A paleoantropologia estuda os fósseis de hominídeos ancestrais
e de outras provas de sua existência, como pegadas, para assim poder compará-los com o homem atual. Em
interface com a neurociência cognitiva e comportamental, pode-se compreender como conseguimos sobreviver a
diversos habitats. A ampliação da capacidade de planejamento de ação, criação e elaboração simbólica
possibilitou o desenvolvimento de instrumentos e ferramentas, assim como a formação de culturas. Por
exemplo, controlar a respiração foi algo que favoreceu a aquisição da linguagem, não por acaso existe a
fonoaudiologia comouma especialidade em saúde que auxilia nas correções do aparelho fonador.
Observe a figura a seguir e perceba como o córtex cerebral humano está dividido.
Figura 3 - Córtex cerebral humano dividido pelos principais lobos.
Fonte: GraphicsRF, Shutterstock, 2018.
A paleoantropologia sugere que o processo de sapienização, surgimento do Homo sapiens, ocorreu em quatro
dimensões. Clique nas setas e conheça quais são elas.
 
Aquisição da linguagem articulada e complexidade simbólica.
 
Mudanças genéticas, neuroanatômicas e cognitivo-comportamentais.
 
Desenvolvimento de sociedades maiores e mais complexas, com formas peculiares de socialização.
- -12
Desenvolvimento de sociedades maiores e mais complexas, com formas peculiares de socialização.
 
Construção de ferramentas e tecnologias cuja finalidade era a autopreservação (DALGALARRONDO, 2011).
Portanto, nós concluímos que a história de nossa espécie, ou seja, nossa história filogenética, diz muito sobre
como nos comportamos até mesmo nos dias de hoje. A arte, a ciência, a religião e a filosofia são grandes
exemplos de empreendimentos exclusivamente humanos, possibilitados por mudanças anatômicas,
neuroanatômicas e funcionais (neurofisiológicas).
1.3.2 Evolução do comportamento humano
Uma vertente da psicologia que trata muito bem da evolução do comportamento humano em suas bases
biológicas é a , fundamentada na teoria da evolução de Darwin. A teoria da seleçãopsicologia evolucionista
natural descreve uma continuidade entre as espécies e a ideia de um ancestral comum, ao contrário do que
defendia o criacionismo, que afirmava serem as espécies criadas e diferenciadas por intervenção divina. Outra
obra científica valiosa de Darwin foi o livro sobre a expressão das emoções em seres humanos e outros animais,
considerada a primeira evidência empírica de bases biológicas do comportamento (DARWIN; LORENZ, 2000).
Portanto, a psicologia evolucionista defende que compartilhamos muito de nossos comportamentos com outros
animais e que ainda funcionamos, pelo menos em parte, com um cérebro desatualizado e ainda preso a um
ambiente ancestral.
A perspectiva evolucionista, apesar de considerar o homem como mais uma espécie animal, admite sua
singularidade evidente em algumas características, como a postura ereta, a elevada proporção cérebro/tamanho
corporal, a alta flexibilidade comportamental, a linguagem e a cultura. Ela também considera as histórias
filogenética, ontogenética e sociocultural, focando em estudos sobre a interação gene-ambiente, tão aplicável
hoje em dia em áreas como a farmacogenética e a medicina personalizada.
Há dois conceitos-chave dentro da psicologia evolucionista: mecanismos psicológicos evoluídos e ambiente de
adaptação evolutiva (OTTA; YAMAMOTO, 2009). Os mecanismos ou processos psicológicos evoluídos referem-se
a funções comportamentais adquiridas por seleção natural e transmitidos geneticamente. Por exemplo, nossa
capacidade empática, nossa sensibilidade à aprovação social e cooperação são “traços” herdados desde milhares
de anos, os quais exercem um papel essencial na formação de sociedades e instituições atuais. Esses processos
evoluídos funcionam por meio de mecanismos adaptativos de processamento de informação, que produzem
mudanças na interação organismo-ambiente a fim de promover a resolução de problemas ou desafios
ambientais. O ambiente de adaptação evolutiva refere-se ao ambiente ancestral que promoveu as pressões
seletivas, por exemplo, o número de indivíduos em um grupo social, a dispersão natal, a divisão do trabalho e o
VOCÊ O CONHECE?
A professora Maria Emília Yamamoto é um exemplo de mulher empoderada, com
doutoramento em psicobiologia, que já recebeu o título de professora emérita, a maior
titulação dentro do magistério, também sendo considerada uma das maiores referências em
psicologia evolucionista no Brasil. Para conhecer mais o trabalho da professora, acesse o
currículo dela pela plataforma Lattes (2018). Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br
>./buscatextual/visualizacv.do?id=K4783351D8
- -13
seletivas, por exemplo, o número de indivíduos em um grupo social, a dispersão natal, a divisão do trabalho e o
sistema de reprodução. Então, existem influências ecológicas na evolução da cognição humana, que podem ser
equilibradas com experiências atuais e contribuir para a construção do sujeito.
Figura 4 - Ambientes ancestrais gravados em rochas revelam muito sobre nosso comportamento passado.
Fonte: EcoPrint, Shutterstock, 2018.
Portanto, tendo compreendido em linhas gerais como ocorreram as mudanças biológicas, por exemplo, em nossa
neurofisiologia e estrutura cerebral, assim como as mudanças comportamentais ao longo da evolução, nós
podemos estudar um pouco mais sobre os processos neuropsicológicos que subjazem nossos comportamentos.
1.3.3 Processos neuropsicológicos da memória e o comportamento
A neuropsicologia busca correlacionar processos neurofisiológicos às funções psicológicas que sustentam o
comportamento, dessa forma contribuindo para áreas aplicadas, como o neuromarketing. Como os processos
neuropsicológicos são muitos, acabaria nos conduzindo para além do escopo de nossa proposta aqui; logo,
vamos focar no mais estudado e no que apresenta grande implicação para a compreensão do comportamento: a
memória!
- -14
A memória pode ser definida como o registro e manutenção de informações sobre eventos para uso posterior,
cujas funções são aquisição e organização do conhecimento, temporalidade, noção da continuidade dos eventos,
constituição do sujeito e consciência de si, e gerar uma reserva comportamental e cognitiva (STERNBERG, 2010).
São quatro os processos básicos de memória: aquisição, retenção, evocação e esquecimento. Sim, o esquecimento
faz parte da memória! Para conhecer mais sobre o tema, clique nas abas abaixo.
Aquisição 
O processo de é composto por dois mecanismos, a sensibilidade para captar eaquisição 
reagir a determinados eventos, por exemplo, nosso viés para a vocalização humana; e a
seleção perceptiva, que modula nossa sensibilidade aos eventos quando precisamos nos
concentrar.
Retenção
O processo de envolve a consolidação de eventos novos e a reconstrução dos retenção
eventos já retidos; esta promove a atualização daquilo que já conhecemos e aquela a
passagem de um evento da memória temporária para a memória duradoura, seja por
repetição, associação ou organização dos estímulos.
Evocação 
O processo de está relacionado à recuperação de eventos, que envolve o acesso aevocação 
evento retido ausente ao momento da evocação, e ao reconhecimento de eventos, que
envolve o acesso a evento retido presente no momento da evocação. Para ilustrar a diferença
entre recuperação e reconhecimento, considere que usamos o processo de recuperação
diante de uma exame com questões dissertativas, pois temos que evocar um conteúdo
completamente; por outro lado, em um exame com questões de múltipla escolha apenas
precisamos reconhecer o item certo, que inclusive está lá diante de nossos olhos.
Esquecimento 
Finalmente, pode parecer estranho, mas o tem uma função importantíssima esquecimento 
na memória, que é reduzir a sobrecarga sobre o sistema de retenção, pois ele corresponde a
uma espécie de perda funcional de evento retido pela passagem do tempo. Não confunda com
amnésia, que é uma disfunção ou perturbação dos processos de memória!
Em relação à neurobiologia da memória, as redes neurais envolvem principalmente as projeções do hipocampo,
responsável pela retenção da memória, para o córtex, amígdala e cerebelo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).
A via hipocampo-córtex é responsável pela retenção de eventos por todo o córtex de acordo com o papel
exercido pela região cortical, por exemplo, processamento visual que ocorre no lobo occipital o fará armazenar
informações derivadas de estímulos externos visuais. A via hipocampo-amígdala armazena as informações
emocionais relacionadas aos eventos vividos, então é a principal via ativada quando passamos por alguma
ameaça na nossa vida,como um assalto ou assédio. A via hipocampo-cerebelo já é responsável pela
VOCÊ QUER VER?
No vídeo . ., MiguelUm macaco que controla um robô com a força do pensamento Não, é sério
Nicolelis (2012), um reconhecido pesquisador e neurocientista brasileiro, tem mostrado que é
possível controlar imagens virtuais, e até máquinas, usando a mente. Esse tipo de pesquisa
mostra como o comportamento é complexo e que a integração de vários processos
neuropsicológicos pode promover a novas tecnologias aplicáveis em várias áreas, como na
medicina, na engenharia e quem sabe, até na estética. Disponível em: <https://www.ted.com
/talks/miguel_nicolelis_a_monkey_that_controls_a_robot_with_its_thoughts_no_really
>./transcript?language=pt-br#t-10037
- -15
ameaça na nossa vida, como um assalto ou assédio. A via hipocampo-cerebelo já é responsável pela
automatização do comportamento, ou seja, por aquelas situações em que agimos sem necessitar de muita
atenção, por exemplo, quando você já tem prática na execução de algum procedimento estético.
Figura 5 - Ilustração de estruturas subcorticais responsáveis pela memória.
Fonte: BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008, p. 683.
Por fim, muito provavelmente o processo neurobiológico mais conhecido relacionado à memória e ao
comportamento é a neuroplasticidade. Ela envolve alterações estruturais e funcionais a partir da experiência do
sujeito, que vão desde formação de novas sinapses (ligações neurônio-neurônio) até modulação da
neurotransmissão por moléculas pró ou anti-inflamatórias, antioxidantes ou psicoativas (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2008). Aliás, a neuroplasticidade é de extrema importância para nosso aprendizado e muito
provavelmente ela está ocorrendo agora enquanto você lê este capítulo.
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1.4 Comportamento e cultura
Para completar a visão biopsicossocial, faz-se necessário abordar os processos psicossociais que envolvem o
comportamento humano. Partindo disso, dentro de uma perspectiva analítico-comportamental existem três
aspectos centrais que envolvem os comportamentos de indivíduos em contexto sociocultural: o controle do
comportamento por regras, o comportamento social e as práticas culturais (MOREIRA, 2013).
O conteúdo a seguir abordará cada um desses três aspectos de forma básica, tentando deixá-los o mais claro
possível para leitores não psicólogos.
1.4.1 Comportamento governado por regras
Neste subtópico definiremos o controle verbal sobre nossos comportamentos, que em linhas gerais vem a ser a
influência do meio social por meio de instruções, orientações, solicitações, ordens e regras. A enculturação,
internalizar nossa cultura, passa prioritariamente pela nossa suscetibilidade a esse tipo de controle e pela
aquisição de um repertório comportamental de seguir-regras (MORTIMER, 1996). Clique nas setas e aprenda
mais sobre esse tema.
Primeiramente, diferenciemos controle do comportamento exercido pelas nossas experiências diretas do tipo de
controle exercido pelas experiências vividas pelos outros. O primeiro, denominaremos de comportamento
governado por contingências, ou CGC, já o segundo denominaremos de comportamento governado por regras,
ou CGR (CATANIA, 1999). Em princípio, ambos os tipos de comportamento são suscetíveis às suas
consequências. Por exemplo, ajudar alguém no presente e, por isso, ser ajudado no futuro provavelmente nos
leve a manter esse repertório de cooperação. A diferença básica entre eles é que o CGC é evocado por estímulos
antecedentes físicos (não verbais), como quando desviamos o caminho ao ver uma poça de água, e o CGR é
evocado por estímulos antecedentes simbólicos (verbais), por exemplo, ao desviarmos o caminho após ter lido
uma placa com a indicação de piso molhado.
O CGR tem duas vantagens, ele acelera o aprendizado e pode evitar que a pessoa se arrisque antecipando o
contato com uma situação. Emitimos CGR quando seguimos orientações sobre a execução de um procedimento,
por exemplo, aprendemos o manejo de um equipamento lendo seu manual de instruções ou ouvindo alguém,
assim aprendemos mais rápido do que por tentativa e erro, evitando também quebrar o aparelho pelo mau uso.
Contudo, apenas seguir-regras tem uma grande desvantagem, pois ela pode lhe deixar “cego” para as mudanças
no ambiente. Isso ocorre quando categoricamente seguimos uma instrução dada a nós e em vez de perceber que
ela não está funcionando, mesmo conduzindo ao fracasso, continuamos a segui-la por um motivo ou outro.
É importante conhecermos os fatores que nos deixam mais, ou menos, sensíveis ao controle por regras, ou como
dito no senso comum, à opinião alheia. Primeiro, uma regra que constantemente nos conduz ao sucesso, tenderá
a ser seguida. Segundo, quanto mais pobre for nosso repertório comportamental, ou seja, menos conhecimento
amplo tivermos, mais tenderemos a seguir regras. Terceiro, quanto mais precisa for uma regra, mais tenderemos
a segui-la, pois isso certamente nos levará a uma ação bem-sucedida. Quarto, quanto melhor for a reputação do
indivíduo ou da instituição que estabeleceu uma instrução, ou um conjunto de regras, mais tenderemos a
obedecê-los. Por fim, se estivermos sendo monitorados, obviamente será maior nossa tendência a seguir as
regras. Este último é facilmente observado em uma simples volta pelo trânsito de uma cidade grande, tanto da
parte de motoristas como de pedestres.
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Figura 6 - Regras são importantes para nortear nossos comportamentos.
Fonte: marinini, Fotolia, Shutterstock, 2018.
No geral, uma regra ou instrução podem ser definidas como descrições de contingências, ou seja, dos contextos
ambientais e das consequências que envolvem a emissão de um comportamento. Enquanto a instrução se refere
a uma situação específica e momentânea, como um guarda de trânsito o guiando para um desvio de uma obra na
estrada, a regra já tem uma característica mais ampla e de constância, por exemplo, todas as sinalizações que
aprendemos na autoescola para a condução.
Por fim, uma unidade funcional do seguir regras é o rastreamento, o qual significa que uma regra foi aprendida
pela sua correspondência com os efeitos da emissão do CGR. Por exemplo, quando alguém nos instrui a tomar
um medicamento para aliviar um mal-estar, imediatamente verificamos que o mal-estar foi amenizado e, dessa
forma, aprendemos a seguir essa regra, ou seja, “ao sentir tal incômodo eu uso o medicamento que me
indicaram”. Outra unidade funcional é estabelecida por mediação social, porque é a aprovação social que me
manterá seguindo uma regra, mesmo que eu demore a me beneficiar dos efeitos positivos de segui-la. Por
exemplo, quando um profissional nos orienta a fazer exercício físico, seguir essas instruções ou regras não nos
conduzirá ao efeito imediato de melhorar nossa saúde, mas o profissional e outras pessoas poderão estar ali nos
dando positivos e nos incentivando a manter nosso comportamento.feedbacks 
Portanto, é óbvia a importância para o convívio social da aquisição de comportamentos de seguir regras. Eles
nos fornecerão um repertório de habilidades sociais para relações interpessoais e assunção de uma identidade
pessoal, que certamente resultará em uma boa reputação.
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1.4.2 Comportamento social
O convívio social e a interação com outras pessoas não é uma escolha, mas uma condição minimamente
necessária para o desenvolvimento psicológico e formação do repertório comportamental. Não à toa, estudos
apontam para o prejuízo do isolamento social sobre a cognição e sua correlação com quadros demenciais na
velhice (CAIXETA, 2012).
O comportamento social envolve uma interação sujeito-sujeito em que ambos afetam um ao outro, ou seja, um é
ambiente para o outro e vice-versa. Podemos atribuir três origens para o comportamento social: uma
filogenética, como a empatia enquanto capacidade inata de compartilhar emoções; uma ontogenética, como a
reciprocidade característica de uma cooperação mútua adquirida; e uma cultural, como o seguir as leis de uma
sociedade.
Clique nas abas e conheça mais sobre o comportamento social.
Filogenéticos
Estudosem psicologia evolucionista sugerem três grandes mecanismos filogenéticos para a evolução do
comportamento pró-social: i) seleção de parentesco, ii) reciprocidade e iii) seleção de grupo (OTTA;
YAMAMOTO, 2009). A seleção de parentesco afirma que a seleção natural favoreceu a cooperação entre
indivíduos parentes genéticos. A reciprocidade envolve encontros repetidos entre indivíduos não parentes com
possibilidade de cooperação ou competição entre eles a cada encontro. Na reciprocidade, para ocorrência do
comportamento pró-social são consideradas a probabilidade de ocorrer um novo encontro, a reputação de cada
indivíduo e as redes sociais (reais e virtuais). Por fim, a seleção natural parece ter agido selecionando grupos de
cooperadores ao longo da nossa história filogenética, o que configura o mecanismo da seleção de grupo para a
promoção do comportamento pró-social.
Ontogenéticos
Em relação aos mecanismos ontogenéticos, o comportamento social pode ser adquirido por imitação, a partir da
observação do comportamento pró-social bem-sucedido do outro; mas também pode ser adquirido pelo contato
físico e o apoio recebido por alguém pode fortalecer em nós um repertório pró-social. E, ainda, podemos adquirir
comportamento social por controle verbal, principalmente a partir da aprovação social de pessoas ou
instituições de autoridade ou com boa reputação.
Acompanhe, na sequência, uma investigação científica interessante sobre a rede de interações.
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Mecanismos culturais do comportamento social serão abordados mais detalhadamente no próximo item.
Consideremos, até então, que estamos caminhando para uma compreensão cada vez mais complexa do
comportamento, tendo abordado desde definições cognitivas e comportamentais, passando pelas variáveis que o
controlam, até alcançar seus aspectos biopsicossociais. Sigamos para nosso último tema!
1.4.3 Práticas culturais
A cultura é um objeto de estudo clássico da antropologia, mas também é de interesse de outras disciplinas
científicas, principalmente dentro das ciências humanas. Portanto, a psicologia como ciência humana busca
compreender como a cultura ajuda na construção do sujeito e influencia seu comportamento.
A cultura influencia o comportamento exercendo seu papel como um mecanismo de seleção comportamental,
algo já descrito aqui. No entanto, a cultura pode ser vista também como um comportamento em si, não
individual, mas em grupo (HÜBNER; MOREIRA, 2013).
O ponto de partida é o comportamento social, em que relações interpessoais em rede sobrepõem díades sujeito-
sujeito e, a partir dessa rede, pode surgir uma prática social. Portanto, prática social configura-se como o
comportamento de um grupo, ou seja, o comportamento social de indivíduos em um ambiente social amplo, em
rede. Daí uma prática social que perpetue e seja transmitida entre diferentes gerações de indivíduos, inclusive
não sendo extinta pela morte dos membros da primeira geração, passará a ser denominada de prática cultural.
CASO
Uma proposta bem interessante de investigação científica de um comportamento social, que
envolveu uma rede complexa de interações, foi descrita na tese da pesquisadora Vívica Lé
Sénéchal-Machado, sob orientação do Prof. Dr. João Cláudio Todorov, na Universidade de
Brasília (LÉ SÉNÉCHAL-MACHADO; TODOROV, 2008). São poucas as cidades brasileiras que
respeitam a faixa de pedestres, mas na capital do Brasil isso não acontece. Os autores
buscaram identificar os processos comportamentais que poderiam explicar a mudança de
prática após uma campanha local de agentes sociais. Assim, descobriram que houve uma
espécie de entrelaçamento entre os comportamentos de pedestres e motoristas, por meio dos
feedbacks e das medidas tomadas pelas agências sociais, resultando em uma consequência
social, a redução de atropelamentos e mortes, que em si funcionaram como recompensa pelo
engajamento individual na campanha.
- -20
Para aprender mais sobre o tema, assista ao vídeo abaixo.
https://cdnapisec.kaltura.com/p/1972831/sp/197283100/embedIframeJs/uiconf_id/30443981/partner_id
/1972831?iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1548847596&entry_id=1_vmy44epb
Em uma perspectiva analítico-comportamental, a unidade funcional de uma prática cultural é a
metacontingência, definida por diversas contingências comportamentais entrelaçadas, isto é, comportamento de
pessoas em rede gerando um produto agregado a ela (MOREIRA, 2013). O produto agregado, por sua vez, é
demandado por um sistema social receptor, que “recompensa”, digamos assim, as pessoas por agirem
entrelaçadamente. Por exemplo, o governo no papel de sistema social demanda pela coleta seletiva de lixo, mas
esperar que cada um adira pode demorar muito e essa prática social pode nunca se estabelecer. Daí, pessoas
podem formar uma ONG (organização não governamental) em que cada pessoa assume um papel na coleta
seletiva de lixo, logo seus comportamentos em rede produzirão um produto, uma coleta mais sistemática e eficaz
que levará a menos desperdício e economia para toda a comunidade, podendo ser recompensado por algum
outro sistema social, como uma empresa privada, ou mesmo o próprio governo. Dessa maneira, essa prática
social poderia se transformar em uma prática cultural, perpetuando por gerações.
VOCÊ SABIA?
Elefantes têm capacidades cognitivas e emocionais que poderiam equipará-los a seres
humanos. Eles possuem uma espécie de capacidade para regular respostas emocionais sob
influência de “normas sociais” estabelecidas no bando (JACOBS, 2018). Isso é muito similar ao
que entendemos por controle verbal, algo dependente de processos culturais. Para saber mais,
acesse: <http://advocacy.britannica.com/blog/advocacy/2018/09/what-elephants-unique-
>.brain-structures-suggest-about-their-mental-abilities/
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Figura 7 - O entrelaçamento entre o comportamento das pessoas e a origem de uma prática cultural.
Fonte: Nagy-Bagoly Arpad, Shutterstock, 2018.
Concluindo, vemos que são necessárias as organizações sociais, públicas ou privadas, para que as práticas
culturais surjam. Essas organizações podem ser chamadas de agências controladoras, pois seriam responsáveis
por selecionar e manter a prática cultural (SKINNER, 2003). Dentre as agências de controle mais relevantes
estão o governo, a igreja, a educação, a economia e a mídia.
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Síntese
Tendo encerrado nossa temática sobre o comportamento, você já tem um conhecimento básico sobre ele, suas
variáveis de controle e os principais processos e mecanismos relacionados, tudo dentro de um modelo geral
biopsicossocial.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• aprender as diferentes definições de comportamento, focando em perspectivas cognitivas e 
comportamentais;
• conhecer as variáveis históricas e momentâneas que controlam o comportamento, indo do controle 
externo ao desenvolvimento do autocontrole;
• compreender o percurso do desenvolvimento do repertório comportamental de uma pessoa, indo desde 
as bases biológicas do comportamento até as influências socioculturais;
• conhecer a perspectiva analítico-comportamental para a seleção e manutenção de práticas culturais.
Bibliografia
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2008.
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CATANIA, A. C. : comportamento, linguagem e cognição. Tradução: D. G. Souza. Porto Alegre:Aprendizagem
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10037>. Acesso em: 06/11/2018.

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