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CEN 0395 - Introdução à Nutrição Mineral de Plantas 
Absorção, transporte, translocação e redistribuição de nutrientes pelos vegetais 
Prof. Dr. Antonio Enedi Boaretto CENA-USP 
1 - INTRODUÇÃO 
A composição elementar dos vegetais e uma noção básica do solo, o meio de onde as plantas 
"mineram" os seus nutrientes, foram os assuntos das aulas anteriores. Os nutrientes da 
solução do solo e as raízes dos vegetais entram em contato, possibilitando que a planta se 
alimente, ou seja, absorva os nutrientes necessários ao seu ciclo vital. A figura 1 mostra os 
compartimentos que interrelaciona o solo e a planta. 
 
Figura 1 – O sistema solo-planta-atmosfera (M = elemento químico qualquer) 
Para que um elemento qualquer seja absorvido pelas raízes é necessário que esteja 
inicialmente na solução do solo. As setas indicam as relações entre os compartimentos e são 
denominados a seguir. (1) mineralização (matéria orgânica) ou intemperização (minerais); (2) 
imobilização (matéria orgânica) ou fixação (minerais); (3) dessorção; (4) adsorção; (5) 
absorção; (6) excreção, extrusão; (7) transporte a longa distância; (8) redistribuição. 
M (sólida)M (lábil)M (solução)M (raiz) 
M (parte aérea) 
M (sólida)M (lábil)M (solução)M (raiz) 
M (parte aérea) 
As composições da solução do solo com se apresenta naturalmente e modificada pela 
adubação e a calagem são mostradas na Tabela 1. 
Elemento Solução natural CaCO3 + fertilizante* 
mg/L % do total mg/L % do total 
Ca 12 Ca2+(97) 50 Ca2+ (90) 
TABELA 1 . Composição da solução do solo. 
0 (2) CaSO40(10) 
 
Mg 9 Mg2+(98) 6 Mg2+(92) 
MgSO4o(2) MgSO40(8) 
Na 15 Na+(100) 15 Na+ (92) 
Mn 3 Mn2+ (98) - 
 
ZnSO40 (2) ZnSO4 
Al (OH)2+ (6) - 
 
2- (20) HPO4 
 
2- (91) 30 SO4 
CaSO40 (2) CaSO40 (14) 
MgSO40 (2) MgSO40 (2) 
 
- (100) 110 HCO3 
pH da Solução 4,6 5,9 
* Fertilizantes: Uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio 
A calagem e os fertilizantes aplicados modificam o pH e alteram a concentração de alguns 
nutrientes do solo. 
Quando se comparam as composições mineral da planta e da solução do solo constata-se que 
é pequena a correlação entre os dois compartimentos. Por exemplo, o cálcio que está na 
solução do solo numa concentração de 12 mg/L não é o cátion em maior concentração na 
planta, pois nesta o potássio predomina. 
As raízes estão envoltas pela rizosféra, composta de material sólido e a solução do solo, mas 
para que o nutriente entre no citoplasma e possa ser metabolizado há necessidade primeiro 
que se estabeleça o contato nutriente e a raiz. Separando a solução do solo e a solução no 
protoplasma celular existe uma barreira, denominada de membrama citoplasmática ou 
plasmalema, que por suas características impedem que as duas soluções entrem em equilíbrio. 
2 - O CONTATO RAIZ-NUTRIENTE 
O contato entre nutriente da solução do solo e a raiz pode ocorrer por três diferentes 
processos: intercepção pela raiz, fluxo massal e difusão, processos que ocorrem 
simultaneamente. A figura 2 ilustra esse contato. 
 
Figura 2 - Contato do nutriente com a raiz e vias de entrada do nutriente no xilema (Peres, s.d.) 
Fluxo de massa: O contato entre o nutriente e a raiz se dá quando o nutriente é carregado 
juntamente com a água (solução do solo) que vai de um local de maior umidade (maior 
potencial de água) para um local de menor potencial de água, nas proximidades das raízes. No 
fluxo de massa, o nutriente dissolvido na fase líquida é carregado pela massa líquida. É como 
um barco solto dentro de um rio: a massa de água caminhando de um local para outro arrasta 
o barco. Neste caso, a quantidade do nutriente que pode atingir as raízes é proporcional ao 
volume de água absorvido e à concentração do nutriente na solução do solo. 
Difusão: O nutriente entra em contato com a raiz ao passar de um local de maior concentração 
na solução do solo para outro de menor concentração do mesmo nutriente na mesma solução 
do solo. A difusão é o caminhamento de um nutriente através da solução do solo que está 
parada, obedecendo a um gradiente de concentração, ou seja, caminha de locais de maior 
para de menor concentração do nutriente. Pode-se comparar o nutriente como um barco num 
lago, pois é este que se desloca de um lugar para outro, enquanto a água do lago está parada. 
A intercepção radicular: neste caso o contato se dá quando a raiz ao crescer encontra o 
nutriente, ou seja, é a raiz que encontra o nutriente. As micorrizas presentes nas raízes são 
como extensões do sistema radicular dos vegetais, e podem aumentar o contato da solução 
com o sistema radicular, sendo importante principalmente para o contato do fósforo. 
A quantidade que cada nutriente da solução do solo que entra em contato com as raízes pode 
ser estimado. Considerando-se um solo rico em nutriente e que apresenta condições 
favoráveis ao desenvolvimento dos vegetais, as quantidades dos nutrientes da solução do solo 
que entram em contato com as raízes pelos diferentes processos mencionados estão na 
Tabela 2. 
Pelas estimativas apresentadas, verifica-se que as quantidades dos nutrientes que chegam até 
a raiz por intercepção radicular são de pequena importância para todos os nutrientes. O fluxo 
de massa é um processo importante para o N, Ca, Mg, S, B, Cu, Mn, e Mo. O processo de 
difusão é importante para que o P e o K entrem em contato com as raízes e possam ser 
absorvidos. Para o Fe e Mn os processos de fluxo de massa e difusão são igualmente 
importantes. 
Tabela 2. Quantidade estimada de nutriente que atinge a raiz pelos diferentes processos. 
kg/ha % kg/ha % kg/ha % 
N 170 2 1 168 9 0 0 
P 36 1 2 2 4 3 94 
K 175 4 2 35 20 136 7 
Ca 35 60 171 150 428 0 0 
Mg 40 15 38 100 250 0 0 
S 20 1 5 19 95 0 0 
B 0,2 0,02 10 0,7 350 0 0 
Cu 0,1 0,01 10 0,4 400 0 0 
Fé 1,9 0,2 1 1,0 53 0,7 37 
Mn 0,3 0,1 3 0,4 13 0 0 
Mo 0,01 0,001 10 0,02 200 0 0 
Zn 0,3 0,1 3 0,1 3 0,1 3 
Elemento kg/ha(1) Intercepção Radicular Fluxo de massa Difusão 
(1) Quantidade absorvida de nutrientes para produzir 9,5 t/ha de grãos e uma colheita total 
(parte aérea) de 15,7 t/ha. 
Os nutrientes estão na solução do solo em quantidades que variam de solo para solo, e um 
exemplo é apresentado na Tabela 3. Comparando as quantidades exigidas por uma cultura, 
como, por exemplo, o milho (tabela 2) com as quantidades dos nutrientes existentes na solução 
do solo num determinado momento, constata-se que a quantidade dos nutrientes na solução é 
menor que a exigência do milho para completar o seu ciclo. Isto demonstra a importância da 
fase sólida do solo em repor os nutrientes na solução do solo, pois há um certo equilíbrio entre 
a fase sólida do solo e a solução do solo. Quanto mais fértil é o solo, maior é a quantidade de 
vezes que o mesmo pode repor os nutrientes na solução do solo. 
Na solução do solo, os vegetais encontram os nutrientes que necessitam para satisfazer a sua 
exigência nutricional. É nesta solução que se dá à maioria dos processos químicos e biológicos 
que acontecem no solo e é através dela que se dá a movimentação dos nutrientes e outros 
materiais no solo. 
Tabela 3. Quantidades dos nutrientes existentes no solo e na solução do solo. 
Nutriente Quantidade disponível (1) 
Solução do solo (2) 
P 45 0,5 200 g/ha 
K 190 10 4 kg/ha 
Ca 30 50 20 kg/ha 
Mg 800 30 12 kg/ha 
B 1 0,20 80 g/ha 
Cu 0,6 0,10 40 g/ha 
Fe 6 0,15 60 g/ha 
Mn 6 0,015 6 g/ha 
Zn 6 0,15 60 g/ha 
1 Determinada pela análise química do solo 2 Solo saturado (400.0 L/ha de solução, na 
profundidade de 0-20 cm). 
Para que a nutrição de uma cultura seja ótima, cada nutriente deve estar, na solução do solo, 
em quantidade e proporção adequadas durante todaa vida do vegetal e as condições 
ambientais sejam favoráveis, para que ocorram a absorção, a translocação e o uso do nutriente 
pelo vegetal. Todos os nutrientes podem ser absorvidos através das folhas, mas não é a via 
comum, pois com exceção do N e do S, todos os outros nutrientes precisam ser pulverizados 
nas folhas. 
Distinguem-se três processos desde a entrada do nutriente no citoplasma, depois a sua 
caminhada para outras células, chegando no xilema e indo para a parte aérea dos vegetais, até 
ser novamente redistribuído para ir para as outras partes da plantas (por exemplo, ramos 
novos). São processos distintos, mas que podem ocorrem simultaneamente nos vegetais. 
Estes processos denominados de Absorção, transporte e redistribuição, que estão a seguir 
definidos. a. Absorção - é a entrada do elemento em forma iônica ou molecular nos espaços 
intercelulares ou em qualquer parte ou organela celular: parede celular, membrana, citoplasma, 
vacúolo, mitocôndria, cloroplasto, etc. 
b. Transporte ou translocação - é a transferência do nutriente em qualquer forma (igual ou 
diferente da absorvida) de um órgão ou região de absorção para outro qualquer. Por exemplo, 
o nitrogênio é absorvido da solução do solo principalmente na forma de nitrato e então é a 
seguir translocado, via xilema, até as folhas, onde é transformado em aminoácidos. c. 
Redistribuição - é a transferência de um nutriente de um órgão ou região de residência para 
outro ou outra, em forma igual ou diferente da absorvida. Exemplo: O nitrogênio das folhas 
mais velhas pode ser redistribuído para as folhas mais novas e para os frutos em 
desenvolvimento. 
3 - MECANISMOS DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELAS RAÍZES 
Anatomicamente pode-se dividir a planta em duas partes: o simplasto e o apoplasto. O 
apoplasto é constituído principalmente de celulose, hemicelulose, que são os componentes da 
parede celular (considerado como tecido morto), e que se entrelaçam e formam uma rede de 
fibras, contendo entre elas os espaços intermicelares. Do peso total da parede celular, 60% a 
70% são devidos à água. Esses espaços possibilitam o livre acesso de solutos e dos íons nele 
contidos. As fibras das paredes celulares apresentam grupos carboxílicos (R-COO-), que 
podem reter cátions. 
O simplasto, a parte viva contida no apoplasto, é constituído pelo protoplasma, que é composto 
pela fase aquosa, o citoplasma, a membrana citoplasmática (plasmalema, que envolve o 
citoplasma) e as organelas (núcleo, vacúolo, cloroplastos, mitocôndria etc.) também separadas 
do citoplasma por suas membranas respectivas. No citoplasma encontram-se proteínas e 
outras entidades químicas que compõem a maquinaria viva da célula. Com base no peso, o 
citoplasma e suas inclusões inertes como os vacúolos, constituem apenas uma pequena 
porcentagem da matéria seca da planta. 
Nos vegetais, o apoplasto forma um contínuo que vai desde as raízes até as folhas. Da mesma 
forma o simplasto, pois os citoplasmas das células estão interligados pelos plasmodesmas. 
A atividade metabólica da célula não está confinada apenas no citoplasma, pois o simplasto e o 
apoplasto estão comprometidos em uma vigorosa troca de benefícios. Por exemplo, o 
protoplasma excreta para o apoplasto todo o material e enzimas necessários para a formação 
da parede celular. 
A água penetra livremente na raiz, passando pelo apoplasto até chegar nas estrias de Caspary, 
e penetram no citoplasma, atravessando a plasmalema. Uma vez no citoplasma a água pode 
passar de célula para célula ou novamente atravessar a plasmalema, voltando a se difundir 
pelo apoplasto, e vai carregando os espaços vazios do xilema. Para atravessar a plasmalema, 
existem dois caminhos. A água pode atravessar difundindo as suas moléculas individuais na 
bicamada lipídica, ou por fluxo microscópico de massa de moléculas de água através de poros 
seletivos para a água, formandos por proteínas que atravessam a bicamada, canais estes 
chamados de aquaporinas. Por forças propulsoras geradas por vários mecanismos, a água 
movimenta-se, chega ao xilema e é levada para a parte aérea, chegando até as folhas. Nas 
folhas a água perde-se para atmosfera, na forma de vapor, no processo de transpiração, pelos 
estômatos principalmente, ou através da cutícula foliar. Pode-se perder também na forma 
líquida, através do fenômeno conhecido por gutação, e ocorre geralmente à noite 
quando a transpiração é suprimida e a umidade relativa é alta 
 
Após haver o contato entre os nutrientes da solução do solo e as raízes, o nutriente precisa 
chegar até o xilema para ser transportado para a parte aérea dos vegetais 
Como os nutrientes estão dissolvidos na água, a movimentação para dentro da planta segue os 
mesmos caminhos descritos para a água. O caminhamento é em parte por via apoplástica e 
parte por via simplástica, como é mostrado na figura 2. Os elementos absorvidos inicialmente 
via apoplasto, para que cheguem até o xilema, precisam entrar dentro no citoplasma quando 
atingem a endoderme. Isto ocorre porque as células da endoderme apresentam uma barreira, 
como que interrompendo o apoplasto, denominada faixa caspariana ou estrias de Caspary. No 
xilema os solutos voltam a cair no apoplasto, já que os elementos de vaso são células mortas. 
O processo pelo qual o íon deixa o simplasto e entra no xilema é chamado “carregamento do 
xilema” (Figura 3). Os autores estão de acordo de que pouco se sabe a respeito do 
carregamento do floema. 
A absorção dos nutrientes se dá em duas fases distintas, também denominadas de 
mecanismos ou processos de absorção: fase passiva (via simplasto e na membrana 
citoplasmática) e fase ativa (membrana citoplasmática). 
A fase passiva corresponde à entrada do nutriente na parede celular e nos espaços 
intercelulares, chegando até a plasmalema e mesmo atravessando a plasmalema. A fase ativa 
corresponde à entrada do nutriente no citoplasma ou no interior do vacúolo, com conseqüente 
gasto de energia. 
 
Figura 3 – Vias simplástica (A) e apoplástica (B) do caminhamento radial do nutriente desde o 
meio externo da raiz até o xilema. 
Na fase passiva o nutriente caminha a favor de um gradiente de concentração, ou seja, de uma 
região de maior concentração para uma de menor concentração. É o processo chamado 
“morro abaixo”. Neste caso, a concentração do nutriente fora da raiz é maior do que a 
concentração do mesmo nutriente nos espaços intercelulares, na parede celular e na superfície 
externa da plasmalema. Não há necessidade de gasto de energia. O processo passivo é 
reversível, isto é, se, por exemplo, uma chuva dilui a solução do solo, carregando nutrientes 
para os horizontes mais profundos do solo, pode haver saída de parte dos nutrientes que estão 
no apoplasto, principalmente nos espaços interecelulares, o chamado espaço livre aparente. O 
movimento passivo não é seletivo, podendo ser o fluxo de massa e a difusão. 
Solução do solo 
Os nutrientes que entram no apoplasto atingem a superfície da plasmalema. A plasmalema é 
uma estrutura complexa, cuja composição média é de 5% de proteínas, 40% de lipídeos e 5% 
de carbohidratos. O modelo proposto consiste essencialmente de duas camadas de lipídeos 
(fosfolipídios), associados a proteinas (Figura 4). Cada fosfolipídeo tem duas caudas 
hidrofóbicas dirigidas para o meio da membrana, e uma cabeça polar hidrofílica, voltada para 
meio externo ou para o interior do protoplasma. As duas camadas estão alinhadas, formando a 
membrana que envolve todo o citoplasma e os plasmodesmos, que são os canais que ligam os 
citoplasmas das células, formando assim uma estrutura contínua. As proteínas podem 
atravessar a membrana de tal sorte que uma extremidade esteja em contato com a solução 
externae a outra extremidade em contato com o citosol. A membrana celular é considerada 
uma das mais extraordinárias bioestruturas do planeta, pois com uma espessura de 
aproximadamente 7 nm (namômetros) forma uma barreira entre o meio externo e o meio 
externo das células, regulando a entrada no protoplasma de nutrientes e outros elementos 
existentes na solução do solo. 
hidrostático e de potencial osmótico Há muitas evidências que as plantas 
água 
A água passa vagarosamente através da membrana em resposta a gradiente exercem vários 
tipos de controle para facilitar o movimento da água através de seus tecidos. Um tipo de 
controle parece ser mediado por proteínas (aquaporinas) que fazem parte da membrana, que 
sevem como canais para a passagem da 
 
Figura 4 – Modelo esquemático da plasmalema. 
Dupla camada 
dos poros existentes na plasmalema A figura 5 mostra um esquema dos 
A passagem de solutos através de membranas pode ser por processo passivo, ou seja, sem 
gasto de energia. É um movimento espontâneo de um soluto qualquer de um local de maior 
concentração para um de menor concentração, ou seja, a favor de um gradiente químico. Nas 
células, a absorção passiva pode ocorrer quando a concentração de um nutriente contido no 
citoplasma é diminuída pela incorporação deste em estruturas orgânicas. Esse tipo de 
absorção passiva pode ocorrer com a ajuda de carregadores ou através processos de 
passagem de nutrientes através da plasmalema. Substâncias 
apolares como o CO2, passam livremente pela membrana 
 
Figura 5 – Resumo dos tipos de absorção de nutrientes através da plasmalema 
Alguns cátions, como o K+ , Ca2+ 
, NH4+ e Na+ podem atravessar a membrana, indo do meio externo para o citosol, a favor de 
um gradiente elétrico, pois o citosol tem um excesso de cargas negativas, que podem ser 
contrabalançadas pelas cargas positivas dos cátions que entram. Neste caso, o gradiente é 
elétrico, pois o pH do apoplasto é ao redor de 5,5, enquanto que o pH citosol do citoplasma é 
de 7,3 a 7,6. Até o momento evidenciou-se o papel da plasmalema neste processo de 
absorção, mas também se aplica para a membrana que envolve o vacúolo, denominada de 
tonoplasto. O pH do vacúolo varia entre 4,5 e 5,9. 
A passagem de ânions e cátions através da membrana pode exigir gasto de energia, e por isto 
é denominado de ativo. Na plasmalema, como também no tonoplasto, existem as bombas de 
prótons (H+) com a função de controlar o pH do citoplasma. Assim prótons são expulsos do 
citoplasma, criando um gradiente de pH e de potencial elétrico entre o meio externo e o interior 
da célula. Esse é o mecanismo principal que utiliza energia provida pelo ATP que é consumida 
na absorção principalmente de ânions e pode ocorrer também com cátions quando às 
concentrações dos mesmos na solução do solo são muito menores que as concentrações no 
citosol. A passagem dos ânions e dos cátions pelas membranas pode ser mediada por 
carregadores específicos ou por canais de íons. Nesse modelo, os ânions seriam transportados 
através da membrana plasmática num processo denominado de co-transporte próton-ânion 
(simporte), e existem forte evidências desse processo nas células de raízes para os ânions 
cloreto, fosfato, nitrato e sulfato. 
A energia requerida para que a absorção iônica ocorra é considerável, principalmente durante 
o desenvolvimento vegetativo. Estudos indicaram que a absorção iônica consumia 36% do total 
energético respiratório, expresso como consumo de ATP. 
Tabela 4. Comparação entre a absorção ativa e passiva de nutrientes. Fase passiva Fase ativa 
1. Processos físico ou químico, ocorre em sistemas vivos ou não. 1. Processo metabólico, 
ocorre em célula viva. 2. Não está ligado a respiração e fosforilação 2. Está ligado a respiração 
e fosforilação. 3. Não há consumo de energia. 3. Há consumo de energia. 4. Espontâneo. 4. 
Não é espontâneo. 
Os fatores que influem na absorção dos nutrientes pelas raízes estão relacionados a seguir: - 
Fatores externos à planta: Disponibilidade do nutriente no solo e sua concentração na solução 
do solo, do nutriente em si, da presença de outros Íons, do pH da solução do solo, da aeração 
do solo, da umidade do solo, da temperatura, etc. - Fatores inerentes a planta: Potencialidade 
genética, estado iônico interno, etc. 
Os íons que passam através da raiz e alcançam o xilema, movem-se para cima em direção às 
folhas, seguindo juntamente com a água transpirada pelas plantas. Movimentando-se para 
cima no xilema, os íons chegam nas nervuras terminais das folhas, e a partir delas estão livres 
para se mover em direção aos espaços formados pelas paredes das células do mesófilo. Estas 
células são então banhadas pela solução de íons, da mesma forma que as células do córtex 
radicular são banhadas pela solução contida no espaço livre das raízes. 
Para chegar novamente ao citoplasma das células da folha, os íons necessitam novamente de 
passar através da plasmalema, da forma já descrita. Os íons contidos no citoplasma pode 
passar de uma célula foliar para outra através dos plasmodesmos. 
A figura 6 ilustra o movimento de nutrientes orgânicos desde a solução do solo até as folhas. 
A seiva bruta contida na luz do xilema não é homogênea desde a raiz até as folhas. As paredes 
dos vasos e traqueídeos possuem cargas negativas que podem reter cátions (Ca2+ , Zn2+ 
, etc.), podendo mesmo ficar aí imobilizados, da mesma forma que acontece no apoplasto das 
raízes. Assim existem substâncias quelantes, que protegendo os íons, possibilitam que os 
mesmos sejam transportados para cima. Os íons do xilema, por processos ativos, podem 
atingir o protoplasma de células das raízes, do caule e das folhas. Isso faz com que haja um 
certo esgotamento dos íons da solução à medida que ascendem na luz do xilema, mudando a 
sua composição. A velocidade do transporte é variável e dependo do nutriente. 
Figura 6. Movimentação dos íons desde a solução do solo (A), através da raiz em direção as 
células das folhas. 
4 - MECANISMOS DE ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELAS FOLHAS 
Postula-se que a vida vegetal teve seu começo na água. Ai, neste habitat, onde hoje vive ainda 
a maioria das espécies vegetais, as plantas tinham a sua disposição todos os fatores 
necessários ao seu desenvolvimento e os nutrientes eram absorvidos pelos mesmos. Com a 
adaptação das plantas fora da água, através da evolução, as partes da planta se 
especializaram e passaram a executar determinadas funções. As raízes se especializaram em 
fixação e absorção de nutrientes, as folhas em fotossíntese e respiração e o caule em 
transporte de solutos, ligando as raízes e as folhas. Entretanto, a parte aérea não perdeu a 
capacidade de absorver nutriente. O contato entre o nutriente e a folha é feito através da 
adubação foliar principalmente, com exceção ao NH3 e o SO2, que são gases e estão presente 
na atmosféra. Na adubação foliar aplicam-se os nutrientes em solução aquosa e estes 
necessitam entrar na célula (citoplasma, vacúolo, organelas) para aí desempenharem suas 
funções. 
Há duas barreiras a serem vencidas para que isto aconteça. A primeira é a epiderme e a 
segunda é formada pelas membranas: plasmalema e tonoplasto. 
A epiderme reveste as partes superior e inferior das folhas, sendo a cutícula, que é a sua parte 
mais externa, de natureza química complexa, formada de ceras, cutina, pectinas e celulose. A 
cutícula é permeável à água. É a epiderme que confere as propriedades de molhabilidade e 
hidrofilia. A propriedade de troca iônica ocorre na epiderme, porque a pectina, cutina e cera são 
compostos que possuem um número muito grande de grupos-OH e -COOH, cujo hidrogênio se 
dissocia, permanecendo nos locais se sua ligação, cargas eletroquímicas negativas,que 
podem atrair cátions a superfície das cadeias e repelem ânions. 
A parede celular é constituída de moléculas de celulose que formam estruturas denominadas 
de micelas, que se reúnem formando as microfibrilas que se emaranham para formar a parede 
celular. Entre as microfibrilas há espaços microcapilares, onde podem ser depositadas 
substâncias diversas como: pectina, tanino, cera, suberina, etc, que também podem 
desenvolver cargas negativas e reter cátions. A parede das células das folhas também é 
permeável a água e a solutos. 
Envolvendo o protoplasma celular e o vacúolo, há membranas: plasmalema e tonoplasto, que 
são permeáveis à água, mas não a solutos. O caminhamento, do nutriente até as membranas, 
corresponderia à fase passiva da absorção e, ao atravessar as membranas, corresponderia a 
fase ativa. 
Todos os nutrientes podem ser absorvidos pelas folhas, com maior ou menor velocidade. 
Os nutrientes podem voltar para o solo, através do fenômeno da lixiviação foliar, quando os 
nutrientes (também outros íons ou substâncias) juntamente com a água sofrem o processo da 
gutação ou são lavados pela água da chuva ou do orvalho. O potássio, o cálcio, o magnésio e 
o manganês são os nutrientes lixiviados da folha em maior quantidade. As substâncias 
lixiviadas das folhas incluem os açúcares, pectinas, aminoácidos e hormônios vegetais. Os 
nutrientes poderão também voltar ao solo pela queda principalmente de folhas senescentes, 
ocorrendo então o que se chama de reciclagem de nutrientes. 
5 - TRANSPORTE E REDISTRIBUIÇÃO DOS NUTRIENTES 
Sendo os nutrientes absorvidos, quer seja pelas raízes quer pelas folhas, ele são translocados 
para as partes onde serão utilizados nos processos metabólicos. 
A planta dispõe de três sistemas que possibilitam o intercâmbio de substâncias entre as suas 
partes: o sistema transportador de solutos minerais (a seiva bruta), o sistema transportador de 
produtos assimilados (a seiva elaborada) e o sistema transportador de ar. Do ponto de vista de 
transporte de nutrientes, somente os dois primeiros serão comentados. 
elaborada O xilema é constituído de células que morreram e perderam o seu 
O sistema transportador de solutos está contido na parte central, e é denominado xilema. O 
floema que se localiza na casca, e transloca a seiva conteúdo celular, possuindo uma luz onde 
a seiva bruta é conduzida. O xilema é o sistema condutor por onde passam os solutos 
inorgânicos, isto é, os nutrientes que as raízes absorvem da solução do solo O floema é 
constituído de células vivas que contém citoplasma e se interligam através dos poros da placa 
crivada. Os protoplastos das células do floema são especializados, pois não possuem núcleo e 
parte do conjunto das organelas não está presente. No floema é transportado os 
fotossintetizados e alguns metabólitos orgânicos, que são os principais solutos transportados, 
mas também transportam nutrientes, fazendo a redistribuição destes na planta. 
A maioria dos elementos absorvidos é transportado no xilema na forma iônica em que são 
absorvidos, sendo o N a principal exceção, que pode ser transportado na forma inorgânica e na 
forma orgânica. O primeiro caso ocorre quando a redutase do nitrato se localiza nas folhas e 
nas raízes, no segundo caso. Outros elementos que podem ser transportados na forma 
orgânica são o P, S e Fe. 
As concentrações de nutrientes e de outras substâncias na seiva bruta, na seiva elaborada e 
na solução do solo encontram-se na Tabela 5. 
Tabela 5. Íons e outras substâncias na seiva do xilema e do floema e na solução do solo. 
Xilema Floema Solução do solo Íons ou 
 
Há também movimento transversal de íons entre o xilema e o floema, que pode ser muito 
intenso, como é o caso do K que possui concentração quase similar na solução dos dois 
sistemas de condução. 
Chegando às folhas, as ramificações do xilema estão em contato com as paredes celulares das 
células do mesófilo e os nutrientes podem passar para o citoplasma, por um transporte ativo. 
Os íons são então metabolizados ou aquela parcela que não é usada nas atividades 
metabólicas pode continuar circulando pela planta, o que não ocorre com o cálcio, que fica 
imobilizado na folha, principalmente imobilizado na parede celular. 
Os carboidratos (sacarose principalmente) são translocados no floema desde as folhas para as 
regiões de consumo (folhas novas, raízes, caule em crescimento) e de reserva (frutos, 
sementes e tubérculos). 
A seiva elaborada contém açúcares, na concentração de 10 a 25% em peso por volume, 
enquanto que aminoácidos e amidas ocorrem geralmente nos teores de 0,03 a 0,4% em peso 
por volume. 
Os nutrientes podem ser classificados quanto a sua redistribuição na planta 
Esta é uma classificação um tanto geral e serve somente para que se possa depois 
correlacionar com os sintomas de deficiência de nutrientes nas plantas. Nutrientes móveis no 
floema: nitrogênio, potássio, magnésio, fósforo, enxofre e cloro. Nutrientes com mobilidade 
intermediária no floema: Ferro, manganês, zinco, cobre e molibdênio. Nutrientes imóveis no 
floema: cálcio e boro. 
PERES, L. E. P. Nutrição Mineral de Plantas 
Bibliografia PAVAN, M.A. Ação de corretivos e fertilizantes na dinâmica de íons no solo. Curso 
de atualização em fertilizante do solo. Londrina, 14-17 de junho de 1983. Instituto Agronômico 
do Paraná, 1983. 
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caoMineral.pdf). 
EPSTEIN, E.; BLOOM, A. J. Mineral Nutrition of Plants: Principles and 
Perspectives, Second Edition Sinauer Associates, Inc. Sundeland, Massachussetts, 2005,. 
Capítulos 4, 5 e 6 
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Terceira edição. Porto Alegre: Artmed, 2004. Capítulos 
3, 4, 5 e 6.

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