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GEST�O+P�BLICA+MPOG+AULA+00.pdf Ponto dos Concursos www.pontodosconcursos.com.br Atenção. O conteúdo deste curso é de uso exclusivo do aluno matriculado, cujo nome e CPF constam do texto apresentado, sendo vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação e distribuição. É vedado, também, o fornecimento de informações cadastrais inexatas ou incompletas – nome, endereço, CPF, e-mail - no ato da matrícula. O descumprimento dessas vedações implicará o imediato cancelamento da matrícula, sem prévio aviso e sem devolução de valores pagos - sem prejuízo da responsabilização civil e criminal do infrator. Em razão da presença da marca d’ água, identificadora do nome e CPF do aluno matriculado, em todas as páginas deste material, recomenda-se a sua impressão no modo econômico da impressora. GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO Olá pessoal! É um enorme prazer poder estar com vocês nesta caminhada rumo ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, para assumirem o cargo de Analista de Planejamento e Orçamento. Normalmente os APO são alocados na SPI (Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos) ou na SOF (Secretaria do Orçamento Federal), a meu ver, as mais interessantes do Ministério. A SPI tem como missão ―Garantir a convergência da ação de governo, orientar a definição de prioridades e auxiliar na promoção do desenvolvimento sustentável, através da coordenação e elaboração de planos de médio e longo prazos e sua respectiva gestão estratégica‖. Ela acompanha o planejamento, a implantação, a execução e realiza a avaliação dos programas de governo, incluindo o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que está a toda hora na mídia. Já SOF tem como principal competência ―coordenar, consolidar e supervisionar a elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Proposta Orçamentária da União, compreendendo os Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, em articulação com a Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos‖. As duas secretarias precisam interagir e o fato dos APO constituírem a base (e as vezes até o topo!!) da burocracia das mesmas facilita e muito o cumprimento dessa interessante e importante missão. Como fator motivador há o salário inicial de mais de oito mil reais e a perspectiva maravilhosa de ir para bem mais do que isso, caso as negociações salariais das carreiras do Ciclo de Gestão, da qual faz parte a carreira de APO, tenham sucesso. Algumas dicas para uma boa prova: - Muita gente boa se perde estudando materiais ―avançados‖ e esquece-se do principal, daquilo que as bancas realmente cobram. Além do esforço e do foco, é importantíssimo que vocês resolvam um grande número de questões de provas anteriores, a fim de se acostumarem com o estilo da banca (ESAF). - Uma estratégia adequada para a prova é fundamental, evitando-se perder tempo demasiadamente em questões difíceis. Nesse caso, pule para outra. Isto parece óbvio, mas na hora ―H‖ vocês podem cometer tal deslize se isto não ficar claro em suas mentes. Um lema fundamental: manter a tranqüilidade a qualquer custo. Na última prova do TCU, caiu uma questão de contabilidade geral que aterrorizou grande parte dos candidatos e tirou muitos deles do páreo. Quem manteve a calma, percebeu que era só organizar as contas no Balanço Patrimonial e elaborar a DRE. A dificuldade estava somente em somar os valores. Quem conseguiu manter a calma se deu bem. Neste curso iremos cobrir toda a matéria que está listada no edital do MPOG. Serão 5 (cinco) aulas no total, além desta aula introdutória. Cada aula, além da parte teórica, trará uma boa carga de questões da ESAF, e também do CESPE, visto que este também apresenta questões de alto nível sobre a disciplina aqui tratada. Como recebemos diversas sugestões de alunos para não colocarmos a resolução das questões imediatamente após o enunciado da mesma, faremos sempre uma seção somente com o enunciado das questões e outra seção contendo novamente o enunciado e a resolução da mesma, para facilitar os estudos de vocês. As aulas serão disponibilizadas nas seguintes datas: aula 1 – 14 de abril, aula 2 – 28 www.pontodosconcursos.com.br 1 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO de abril, aula 3 – 5 de maio, aula 4 – 15 de maio e aula 5 – 23 de maio. Os assuntos a serem tratados no curso, a princípio, serão os seguintes: 0. Conceitos básicos: administração, organização, administração pública, dimensões de desempenho (5 ―E‖s). OBS: esse tópico é pré-requisito para se estudar Administração Pública, apesar de não estar explicitamente colocado no edital. 1. Conceitos de Estado, sociedade e mercado. 2. Evolução da administração pública no Brasil (após 1930). Reformas Administrativas. 3. Modelos de gestão pública: patrimonialista, burocrático (Weber) e gerencial. 4. Conceitos de Eficácia e Efetividade aplicados à Administração Pública: avaliação e mensuração do desempenho governamental. 5. Processos participativos de gestão pública: orçamento participativo, parceria entre governo e sociedade, ouvidorias, governança interna e externa. 6. Caracterização das organizações: tipos de estruturas organizacionais, aspectos comportamentais (motivação, clima e cultura). 7. Desenvolvimento Institucional. Abordagens da mudança organizacional. 8. Evolução dos modelos/paradigmas de gestão. 9. Novas formas de gestão de serviços públicos: formas de supervisão e contratualização de resultados; horizontalização; pluralismo institucional; prestação de serviços públicos e novas tecnologias. 10. Instrumentos gerenciais contemporâneos: gestão por processos, melhoria de processos e desburocratização. 11. Modelos de gestão de pessoas: gestão de pessoas por competências; liderança e desempenho institucional. 12. Gestão do conhecimento. Organizações como comunidades de conhecimento; processos de disseminação do conhecimento. 13. Os controles interno e externo. Responsabilização e Prestação de Contas. Controle e Desempenho. Transparência 14. Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, instituído pelo Decreto nº 1.171, de 22/06/94. 15 Elaboração e gerenciamento de projetos. Farei tudo para proporcionar a vocês um curso de qualidade, a fim de que possam ter em mãos a base necessária para se darem bem na parte de Gestão Pública. Além disso, o sítio do Ponto dos Concursos tem o grande diferencial de permitir que vocês tirem suas dúvidas, desde as simples até as mais complexas, por meio do fórum. Isto adiciona um ingrediente fenomenal ao ensino, visto que permite aos mais tímidos, os quais têm receio de levantarem a mão e fazerem perguntas numa sala de aula presencial, exporem seus raciocínios à vontade. Portanto, usem e abusem deste fantástico recurso e cheguem no dia da prova prontos para arrebentar! Bem, ainda não me apresentei. Meu nome é Eduardo Fávero, engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e oficial da reserva não remunerada da Marinha do Brasil. Nesta permaneci durante 18 (dezoito) anos, desde minha entrada no Colégio Naval, www.pontodosconcursos.com.br 2 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO onde fui Comandante-Aluno (1º da turma) e ganhei o prêmio ―Honra ao Mérito Excepcional‖, passando pela Escola Naval e outras organizações militares, até minha saída, em 2006. No ano anterior (2005) havia sido aprovado em 1º lugar no concurso para Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental – Área Gestão e Políticas Públicas e tomei posse no cargo em junho de 2006, após o Curso de Formação na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). Neste, pude ter aulas com os célebres mestres Francisco Gaetani (atual Secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) e Fernando Abruccio (cientista político famoso) sobre Administração Pública. Como gestor governamental, atuei na área de formulação e implementação de políticas na área de tecnologia da informação e sistemas para a Administração Pública Federal, tendo trabalhado no processo de modernização do SIAPE (sistema de pessoal civil do Poder Executivo Federal) e do SIAPA (sistema de patrimônio da União). Finalmente, no ano de 2007 fui aprovado em 4º lugar no concurso de Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas da União – TCU – Auditoria Governamental - DF, tendo tomado posse no cargo em janeiro de 2008. Atualmente, sou o professor da disciplina de Administração Pública do Curso Cathedra em Brasília/DF, especializado na preparação para os concursos do TCU, da CGU e MPOG (APO e EPPGG). Também já dei aulas em Belo Horizonte/MG, na Turma de Estudos, preparando o pessoal para o concurso da CGU 2008. Bem pessoal, vamos começar a trabalhar porque temos muita coisa pela frente! 0. CONCEITOS BÁSICOS: ADMINISTRAÇÃO, ORGANIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DIMENSÕES DE DESEMPENHO (5 ―E‖s) 0.1 ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÃO O primeiro conceito que temos de Administração é o estudo das organizações. Mas o que seriam essas organizações? Para entender tal conceito, precisamos saber o que significam as palavras RECURSOS e OBJETIVOS: RECURSOS: são entidades reais ou virtuais que possuem um valor que pode ser avaliado. Por exemplo: pessoas, conhecimento, tempo, dinheiro, informação, espaço, instalações, matéria-prima, etc. OBJETIVOS: são resultados específicos que se pretende atingir. Por exemplo: uma situação ou estado futuro desejado, a construção de um produto físico ou conceitual ou a realização de um determinado evento. Juntando as duas palavras acima, obtemos a definição de organização: ORGANIZAÇÃO: SISTEMA DE RECURSOS estruturado com a finalidade de alcançar OBJETIVOS. A Sociedade Humana é formada por organizações, as quais fornecem as condições para o atendimento das necessidades das pessoas. Como exemplo, podemos citar os serviços de água, energia, telefone, alimentação, saúde, educação, etc. Todos têm pelo menos uma organização preocupada em prestar os serviços citados com qualidade mínima (objetivo) e para isso emprega os recursos que possui. Na verdade, podemos dizer que há poucos aspectos da vida contemporânea que não sejam influenciados por alguma espécie de organização e por isso nossa sociedade é chamada de ORGANIZACIONAL. Os objetivos, normalmente, envolvem a entrega de produtos e/ou serviços que resolvam o(s) problema(s) do usuário (também chamado ―cliente‖) da organização. Para isso, a organização emprega os recursos disponíveis, transformando-os inclusive, para atingir o objetivo. www.pontodosconcursos.com.br 3 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO E como ela faz isso? Por meio dos PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO e da DIVISÃO DO TRABALHO, que são outros componentes importantes da organização, além dos RECURSOS e dos OBJETIVOS. Mas como juntar todos esses componentes e fazer a organização atingir o resultado esperado? Antes disso, como definir quais os objetivos da organização? Como alocar os recursos da melhor forma possível? Como verificar se a organização está se comportando de acordo com o esperado? Quem pode fornecer essas respostas é a ADMINISTRAÇÃO! ADMINISTRAÇÃO: processo de tomada de decisão sobre OBJETIVOS e utilização de RECURSOS. Viram como tudo está interligado? Ela é que faz com que as pessoas que dirigem as ORGANIZAÇÕES (e aquelas que as auxiliam nessa tarefa) tenham o embasamento necessário para tomar as decisões mais apropriadas para cada situação a fim de melhorar o desempenho da organização. Muitos pensam que a Administração é uma ciência moderna, surgida no final do século XX. Na verdade ela já é praticada desde a Antiguidade, na civilização suméria (primeiros livros de contabilidade), nos egípcios (construção das pirâmides!), babilônios (código de Hamurabi) e romanos (organização e administração de um império multinacional, com o estabelecimento de administradores provinciais, fundação de colônias e construção de estradas). Todavia, foi com o advento da Revolução Industrial e com a necessidade de se melhorar o desempenho das indústrias, que começaram a surgir os primeiros conceitos e técnicas administrativas que possibilitaram à Administração se consolidar como uma disciplina. Surgiu um novo profissional: o administrador de organizações. Ele precisava de treinamento especializado e por isso surge, em 1881, nos EUA, a primeira escola de Administração do mundo. Na virada para o século XX, surge a Administração Científica e outras importantes tendências da moderna administração. Iremos estudar superficialmente tais tendências durante nosso curso, pois não estão mencionadas explicitamente no edital do TCU, mas é importante ter conhecimento do que elas tratam. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: - a palavra ―Administração‖ possui ainda outros significados, sendo empregada também para se referir aos dirigentes de uma organização e ao local nas organizações onde se tomam providências administrativas. - a palavra ―Organização‖ também pode significar qualquer empreendimento humano criado e moldado intencionalmente para atingir determinados objetivos, como uma unidade ou entidade social, podendo ser visualizado sobre dois aspectos: organização formal (planejada, que está oficialmente no papel) e a informal (que emerge espontânea e naturalmente entre as pessoas a partir dos relacionamentos interpessoais). Há também outro significado para essa palavra: função administrativa de organizar, parte integrante do processo administrativo, ato de organizar, estruturar e integrar os recursos e órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer relações entre eles e suas atribuições. 0.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública pode ser encarada de duas formas distintas: em sentido subjetivo (formal) ou em sentido objetivo (material). No primeiro, é o conjunto de entes (pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos) que tem a incumbência de exercer uma das funções do Estado: a função administrativa. No segundo, a função administrativa é a própria definição de Administração Pública. Segundo Di Pietro, Administração Pública ―em sentido subjetivo, formal www.pontodosconcursos.com.br 4 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO ou orgânico, designa os entes que exercem a atividade administrativa; compreende pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos incumbidos de exercer uma das funções em que se triparte a atividade estatal: a função administrativa‖. Ou seja, é o conjunto de organizações públicas (órgãos e entidades) instituídos para consecução dos objetivos do Governo. Por isso definimos organização no item anterior, perceberam? E a ciência da administração ajuda a melhor conduzir tais organizações. É claro que temos que levar em consideração as peculiaridades do setor públicos e isto será bem explorado neste curso. Di Pietro também afirma que ―em sentido objetivo, material ou funcional, designa a natureza da atividade exercida pelos referidos entes; nesse sentido, a Administração Pública é a própria função administrativa que incumbe, predominantemente, ao Poder Executivo‖. Falando de outra forma, é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em beneficio da coletividade. Numa visão global, a Administração Pública é, pois, todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas. 0.3 DIMENSÕES DE DESEMPENHO Agora, para podermos ir adiante, temos que definir novos conceitos, pois um dos objetivos da administração é melhorar o desempenho da organização. Por isso, vamos definir os conceitos de eficácia, eficiência e efetividade. Acredito ser importante que vocês conheçam também a definição de economicidade e eqüidade, termos muito usados em Administração Pública, que são algumas das dimensões adotadas para se avaliar os desempenhos das organizações. Bem, vamos lá. O desempenho das organizações e seus processos podem ser avaliados de diversas formas segundo o enfoque adotado. Se formos empregar o enfoque da EFICÁCIA, iremos verificar qual o grau de realização de objetivos da organização. Exemplo: se o objetivo da Secretaria de Educação do Município de Taylorandia é construir 10 escolas no ano de 2008, bastará verificar se, no final deste ano, as 10 escolas estão construídas de acordo com o especificado. Caso afirmativo, a Secretaria terá sido EFICAZ. Não são levados em consideração os custos envolvidos, os processos adotados na construção. Portanto: EFICÁCIA: grau de alcance das METAS programadas em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados. Quanto mais alto o grau de realização dos objetivos e metas, mais a organização é eficaz. Ops, que estória é essa de METAS? Não estávamos falando de OBJETIVOS? Pois é, se adicionarmos um prazo e uma quantificação associada a indicadores de desempenho ao objetivo, ele se torna uma meta. No nosso caso, o objetivo mais amplo da Secretaria de Educação seria reduzir o índice de analfabetismo para 10% ou menos até o final de 2010. Há um prazo e uma quantificação. Logo, é uma meta. Para conseguir cumpri-la, estabeleceu um sub-objetivo de aumentar o número de escolas. Escolheu construir 10 escolas no ano de 2008. Também há um prazo e há uma quantificação. Logo também é uma meta. Vamos supor que os servidores públicos da Secretaria se esmeraram, especificaram bem a realização da obra, promoveram a concorrência entre as diversas empresas e conseguiram, com o mesmo orçamento inicial, construir 12 escolas em 2008. Conseguiram reduzir os custos e melhorar o processo. Desta forma, foram EFICIENTES. EFICIÊNCIA: relação entre PRODUTOS (bens e serviços) gerados por uma atividade e www.pontodosconcursos.com.br 5 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO os CUSTOS dos insumos empregados, em um determinado período de tempo. Uma organização é eficiente quando utiliza seus recursos da forma mais produtiva e econômica possível, também conhecida como forma racional de utilização. Este conceito envolve os processos de trabalho e o custo dos insumos. Agora, será que a construção das escolas efetivamente conseguiu reduzir o analfabetismo para 10% ou menos? Caso afirmativo, a Secretaria de Educação foi efetiva. EFETIVIDADE: relação entre os resultados de uma ação ou programa, em termos de efeitos sobre a POPULAÇÃO-ALVO (IMPACTOS OBSERVADOS) e OBJETIVOS PRETENDIDOS (IMPACTOS ESPERADOS). Alguns autores consideram EFETIVIDADE como a união da EFICÁCIA com a EFICIÊNCIA e a ESAF cobrou assim na última prova. Portanto tenham atenção! Outro conceito bastante cobrado em prova e que poderá vir a ser inserido no edital deste ano é o de Economicidade, que implica a minimização dos custos dos recursos utilizados na consecução de uma atividade, sem comprometimento dos padrões de qualidade. Muita gente pensa que economicidade consiste simplesmente em comprar mais barato. Não é só isso. É comprar mais barato mantendo as especificações estabelecidas. Se o projeto original da escola continha uma biblioteca e uma quadra de esportes, estaríamos obedecendo ao princípio da economicidade construindo as dez escolas sem tais itens? Certamente cada escola sairia mais em conta. Mas não estaríamos obedecendo ao princípio. Para fecharmos os chamados 5 ―E‖s, falta abordar o conceito de eqüidade. A Secretaria de Educação estaria obedecendo a tal princípio se fornecesse aos diversos segmentos da população em idade escolar condições para que pudessem aproveitar, as escolas construídas. Desta forma, as crianças mais pobres teriam todo o apoio necessário para que pudessem freqüentar as aulas, em igualdade de condições com as crianças mais bem aquinhoadas. EQÜIDADE: tratar da mesma forma aos indivíduos com iguais necessidades e proporcionar tratamentos diferenciados a indivíduos com necessidades diferentes, objetivando justiça social. EFETIVIDADE ECONOMICIDADE OBJETIVOS INSUMOS / RECURSOS AÇÃO PRODUTO IMPACTOS / RESULTADO EFICIÊNCIA EFICÁCIA A figura acima resume bem os conceitos dos 4 primeiros ―E‖s, para vocês nunca mais errarem em prova! www.pontodosconcursos.com.br 6 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO EFICÁCIA: relação entre OBJETIVO e PRODUTO. Se o produto atendeu o objetivo, a organização foi eficaz. EFICIÊNCIA: relação entre os INSUMOS/RECURSOS e o PRODUTO. Se o produto foi conseguido com uma alocação racional dos recursos e empregando processos otimizados de trabalho a organização foi eficiente. EFETIVIDADE: relação entre os OBJETIVOS estabelecidos e os IMPACTOS/RESULTADOS observados. Se estes estão de acordo com aqueles, a organização foi efetiva. ECONOMICIDADE: relação entre os INSUMOS/RECURSOS e a AÇÃO que foi desenvolvida. Se para desenvolver a ação planejada com a qualidade necessária foram empregados os insumos com o menor custo possível , a organização foi econômica. 0.4 QUESTÕES I - (CESPE- INSS2008): Acerca de instituição, organização e empresa, julgue o item subseqüente: No âmbito da ciência da administração, o conceito de organização pode ser visto sob dois prismas: o primeiro como um grupo de indivíduos associados, com um objetivo comum, e o segundo como uma das atividades administrativas, relativa à função de organizar, isto é, estruturar, dividir e seqüenciar o trabalho. II – (CESPE – CEF2006 – ENG. AMBIENTAL) Em relação às organizações formais modernas e aos conceitos de administração, julgue o item a seguir: Pode-se conceituar administração como a forma de orientar, dirigir e controlar os esforços de um grupo de indivíduos para a consecução de um objetivo comum. III – (CESPE – EPPGG/ES 2007) A respeito de novas tecnologias, modelos e excelência nos serviços públicos, julgue o seguinte item. Considerando-se que, conforme critérios correntes de avaliação, a escola pública no Brasil venha formando grande quantidade de alunos, mas que a qualidade do ensino seja baixa, pois as pessoas não saem capacitadas para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e as dificuldades de inserção social, é correto concluir que o sistema de ensino tem efetividade, mas não é eficaz. IV - (ESAF- CGU2006): Correlacione a coluna A com a coluna B e escolha a opção correta. Coluna A Coluna B A1 Administração B1 Conjunto de pessoas e de recursos deliberadamente estruturado para alcançar objetivos. A2 Organização B2 Alcance das metas predefinidas www.pontodosconcursos.com.br 7 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO A3 Eficiência B3 Processo de tomar decisões e realizar ações A4 Eficácia A5 Efetividade B4 Uso racional dos recursos B5 Capacidade de alcançar resultados por meio de pessoas e da alocação eficiente de recursos B6 Avaliação dos resultados B7 Estudo das organizações a) A1-B7; A2-B1; A3-B4 b) A3-B6; A4-B3; A5-B2 c) A1-B5; A2-B7; A4-B4 d) A2-B3; A4-B4; A5-B6 e) A1-B3; A3-B2; A5-B4 V - Julgue como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das definições de administração e assinale a opção que responde corretamente à questão: ( ) Campo de estudo em que se analisa o funcionamento das organizações e se busca formas de melhorar seu desempenho ( ) Ação de alocar recursos, orientar e supervisionar pessoas com objetivo de alcançar um fim ou fins que garantam a sobrevivência de uma organização. ( ) Designação dada aos dirigentes de uma organização ( ) Local nas organizações onde se tomam providências administrativas, como as relativas a aspectos legais e registros. a) V-V-V-V b) V-V-V-F c) F-V-F-V d) V-F-V-F e) V-F-V-V 0.5 QUESTÕES COMENTADAS I - (CESPE- INSS2008): Acerca de instituição, organização e empresa, julgue o item subseqüente: No âmbito da ciência da administração, o conceito de organização pode ser visto sob dois prismas: o primeiro como um grupo de indivíduos associados, com um objetivo comum, e o segundo como uma das atividades administrativas, relativa à função de organizar, isto é, estruturar, dividir e seqüenciar o trabalho. Gabarito: CERTA. Segundo Chiavenato, a palavra ―Organização‖ pode significar qualquer empreendimento humano criado e moldado intencionalmente para atingir determinados objetivos, como uma unidade ou entidade social. É uma outra forma de dizer que organização pode ser entendida como um grupo de indivíduos associados, com um objetivo comum. www.pontodosconcursos.com.br 8 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO Há também outro significado para essa palavra: função administrativa de organizar, parte integrante do processo administrativo, ato de organizar, estruturar e integrar os recursos e órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer relações entre eles e suas atribuições. Ou seja, a organização é uma das atividades administrativas, relativa à função de organizar, isto é, estruturar, dividir e seqüenciar o trabalho. II – (CESPE – CEF2006 – ENG. AMBIENTAL) Em relação às organizações formais modernas e aos conceitos de administração, julgue o item a seguir: Pode-se conceituar administração como a forma de orientar, dirigir e controlar os esforços de um grupo de indivíduos para a consecução de um objetivo comum. Gabarito: CERTA. A questão apresenta o conceito de administração como a forma de guiar um grupo a atingir seus objetivos. Para isso, o administrador se valerá de recursos humanos, financeiros, tempo, etc. III – (CESPE – EPPGG/ES 2007) A respeito de novas tecnologias, modelos e excelência nos serviços públicos, julgue o seguinte item. Considerando-se que, conforme critérios correntes de avaliação, a escola pública no Brasil venha formando grande quantidade de alunos, mas que a qualidade do ensino seja baixa, pois as pessoas não saem capacitadas para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e as dificuldades de inserção social, é correto concluir que o sistema de ensino tem efetividade, mas não é eficaz. Gabarito: ERRADA. É justamente o contrário. Como o produto da ação é a pessoa formada, e o sistema educacional consegue formar as pessoas, ele é eficaz. Todavia, a ação não consegue produzir o impacto esperado, que seria a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, ou seja, ela não é efetiva. IV - (ESAF- CGU2006): Correlacione a coluna A com a coluna B e escolha a opção correta. Coluna A Coluna B A1 Administração B1 Conjunto de pessoas e de recursos deliberadamente estruturado para alcançar objetivos. A2 Organização B2 Alcance das metas predefinidas A3 Eficiência B3 Processo de tomar decisões e realizar ações A4 Eficácia A5 Efetividade B4 Uso racional dos recursos B5 Capacidade de alcançar resultados por meio de pessoas e da alocação eficiente de recursos B6 Avaliação dos resultados B7 Estudo das organizações a) A1-B7; A2-B1; A3-B4 b) A3-B6; A4-B3; A5-B2 c) A1-B5; A2-B7; A4-B4 d) A2-B3; A4-B4; A5-B6 www.pontodosconcursos.com.br 9 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO e) A1-B3; A3-B2; A5-B4 Resolução: Comecemos pela coluna B, que detém as possíveis definições para os termos da coluna A. − B1 é a definição de ORGANIZAÇÃO − B2 está relacionado com a definição de EFICÁCIA − B3 é uma das definições de ADMINISTRAÇÃO − B4 está relacionado com a definição de EFICIÊNCIA − B5 une os conceitos de EFICÁCIA (alcance de resultados) e de EFICIÊNCIA (alocação eficiente de recursos). Deseja que o candidato perceba que este é um dos conceitos de EFETIVIDADE. − B6 fala em avaliação dos resultados. Este é um processo necessário para se verificar se a organização foi eficaz, mas não está diretamente relacionado com um termo na coluna A. Consideraria EFICÁCIA se não houvesse outra melhor. − B7 traz outra definição de ADMINISTRAÇÃO. Desta forma vemos logo que a ALTERNATIVA ―A‖ ESTÁ CORRETA. Os erros nas outras são: b) Avaliação dos resultados tem a ver com EFICÁCIA e não com EFICIÊNCIA. É importante que o processo de tomar decisões e realizar ações seja eficaz, mas não nenhuma correlação direta entre termo (A4) e definição (B3). Efetividade é um termo bem mais abrangente do que simplesmente alcançar metas predefinidas. c) Administração pode ser efetiva, mas não obrigatoriamente. A organização não pode ser o estudo das organizações. O uso racional dos recursos tem a ver com EFICIÊNCIA. d) O processo de tomar decisões e realizar ações tem a ver com administrar a organização, mas não é a organização em si. O uso racional dos recursos tem a ver com EFICIÊNCIA. Efetividade é um termo muito mais abrangente que simplesmente avaliar os resultados (EFICÁCIA). e) O alcance das metas tem a ver com EFICÁCIA. Efetividade é um termo muito mais abrangente que simplesmente utilizar racionalmente os recursos (EFICIÊNCIA). V - Julgue como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das definições de administração e assinale a opção que responde corretamente à questão: ( ) Campo de estudo em que se analisa o funcionamento das organizações e se busca formas de melhorar seu desempenho ( ) Ação de alocar recursos, orientar e supervisionar pessoas com objetivo de alcançar um fim ou fins que garantam a sobrevivência de uma organização. ( ) Designação dada aos dirigentes de uma organização ( ) Local nas organizações onde se tomam providências administrativas, como as relativas a aspectos legais e registros. www.pontodosconcursos.com.br 10 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO a) V-V-V-V b) V-V-V-F c) F-V-F-V d) V-F-V-F e) V-F-V-V Resolução: A ALTERNATIVA CORRETA É A ―A‖, tendo em vista que todas as sentenças trazem os diversos significados para a palavra ―administração‖. Vamos agora entrar no conteúdo propriamente dito do edital, por um tópico que cai em todas as provas de Administração Pública e é de grande importância no entendimento do assunto. Irei manter a numeração do edital, para facilitar os estudos de vocês. 3. MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA: PATRIMONIALISTA, BUROCRÁTICO (WEBER) E GERENCIAL 3.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PATRIMONIALISTA O aparelhamento do Estado evoluiu de acordo com a História, sendo inicialmente adotado o modelo patrimonialista, que definiu as monarquias absolutas. A característica que definia o governo nas sociedades pré-capitalistas e pré-democráticas era a privatização do Estado, ou a interpermeabilidade dos patrimônios público e privado. ―Patrimonialismo‖ significa a incapacidade ou a relutância de o governante distinguir entre o patrimônio público e seus bens privados. No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, o qual utiliza os bens públicos da forma que achar conveniente, particularmente em seu próprio benefício. Seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. A ―res publica‖, ou seja, ―a coisa pública‖ não é diferenciada da ―res principis‖, quer dizer, do patrimônio do príncipe ou do soberano. Logo, o patrimônio público e o privado são confundidos, havendo uma ligação ou interdependência entre os dois. Como a autoridade deriva do poder do soberano, este usa da ―res publica‖ da forma que bem entende, sem prestar contas a quem quer que seja. Os cargos públicos são considerados prebendas ou sinecuras, ou seja, empregos rendosos que exigem pouco ou nenhum trabalho de quem o exerce, e são distribuídos da forma que for mais adequada ao soberano. O nepotismo, o empreguismo e a corrupção eram a norma. Logo, a administração do Estado pré-capitalista era uma administração patrimonialista. Todavia, em tal estado de coisas o capitalismo encontrava grande dificuldade para se desenvolver, visto que não havia estabilidade das normas e das decisões dos governantes. Havia a necessidade da implantação de um Estado de Direito para que a nova economia liberal pudesse florescer e se desenvolver. É essencial para o capitalismo a clara separação entre o Estado e o mercado. As Revoluções Liberais ocorridas na França e nos Estados Unidos prepararam o terreno para que um novo tipo de Administração Pública pudesse ser implantada, inicialmente nos países europeus na segunda metade do século XIX e depois se espalhasse por outros países em desenvolvimento. As democracias parlamentares que surgiram nesse século não toleravam mais o modelo patrimonialista de administração pública. Só pode existir democracia quando a sociedade civil, formada por cidadãos, distingue-se do Estado ao mesmo tempo em que o controla. Desta forma, tornou-se necessário desenvolver um tipo de administração que www.pontodosconcursos.com.br 11 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO partisse não só da clara distinção entre o público e o privado, mas também da separação entre o político e o administrador público. Surge, então, a administração pública burocrática moderna, racional-legal. No Brasil, tal revolução só viria a ocorrer nos anos 30 do século passado. 3.2 O ESTADO OLIGÁRQUICO BRASILEIRO. O Estado brasileiro de 1900 é ainda um Estado oligárquico em que uma pequena elite de senhores de terra e de políticos patrimonialistas dominavam amplamente o país. Para Faoro o poder político do Estado está concentrado em um estamento aristocrático-burocrático de juristas, letrados, e militares, que derivam seu poder e sua renda do próprio Estado. Enquanto os senhores de terra e os grandes comerciantes e traficantes de escravos (até 1850) se ocupavam da economia, este estamento dominava com relativa autonomia o Estado e a política. Havia a formação de uma nova classe média, uma classe burocrática, composta por um estamento de políticos e burocratas patrimonialistas, que se apropriavam do excedente econômico no seio do próprio Estado, e não diretamente através da atividade econômica. O mais importante naquele momento, porém, era a ainda a marca da colonização portuguesa. Manoel Bomfim escolheu como subtítulo a expressão ―Males de Origem‖ para salientar que nosso subdesenvolvimento – ou, nas suas palavras, o nosso ―atraso geral‖ , assim como o atraso dos demais países latino-americanos, estava diretamente ligado ao caráter decadente das duas nações colonizadoras, Portugal e Espanha. É tradicional a idéia de que uma função fundamental do Estado nessa época era garantir empregos para a classe média pobre ligada por laços de família ou de agregação aos proprietários rurais. No Império, seguindo uma tradição portuguesa secular, formara-se uma elite dirigente patrimonialista, que vivia das rendas do Estado ao invés de das rendas da terra, e detinha com razoável autonomia um imenso poder político. Em um primeiro momento eles, a partir de sua base estamental ou de suas relações com o patriciado rural, estudavam em Coimbra, depois, nas faculdades de direito da Olinda e São Paulo. Apoiados nesse conhecimento vinham a ocupar os altos postos do Império. Havia no Brasil uma aliança do estamento patrimonialista com burguesia mercantil de senhores de terra e grandes comerciantes. Esta burguesia transformou-se, no decorrer do século XIX, de uma oligarquia principalmente de senhores de engenho para uma oligarquia cafeeira paulista. Tivemos assim um Estado Patrimonial-Mercantil no Império, que se estendeu ainda pela Primeira República. A elite patrimonialista imperial é caracterizada pelo o saber jurídico formal, transformado em ferramenta de trabalho e instrumento de poder. A absoluta maioria dos ministros, conselheiros, e presidentes de província, e deputados é formada em direito. São todos burocratas porque sua renda deriva essencialmente do Estado; são patrimonialistas porque os critérios de sua escolha não são racional-legais, e porque constroem um complexo sistema de agregados e clientes em torno de si, sustentado pelo Estado, confundindo o patrimônio privado com o estatal. Sérgio Buarque de Holanda foi quem pela primeira vez utilizou o conceito de patrimonialismo para caracterizar as elites políticas brasileiras. Diz ele que ―não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidades, formados por tal ambiente (família patriarcal), compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público‖. www.pontodosconcursos.com.br 12 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO É essa elite política letrada e conservadora que manda de forma autoritária ou oligárquica. Não há democracia. As eleições são uma farsa. A distância educacional e social entre a elite política e o restante da população, imensa. E no meio dela temos uma camada de funcionários públicos, donos antes de sinecuras do que de funções, dada a função do Estado patrimonial de lhes garantir emprego e sobrevivência. O emprego público, embora não garantisse plena estabilidade, dada a prática das ―derrubadas‖ quando mudavam ministérios de um partido para o outro, era o único emprego possível para uma ampla classe média desempregada. Desta forma percebe-se que os critérios administrativos eram pessoais, e a preocupação com a eficiência da máquina estatal, nula. Aos poucos, a burocracia estamental, de caráter aristocrático, começa a ser infiltrada por elementos externos, de origem social mais baixa, como aconteceu com o clero e, dentro do aparelho do Estado propriamente dito, com os militares do Exército. Começa a surgir administração pública burocrática e o autoritarismo burocrático-capitalista emerge através principalmente dos militares e das revoluções que promovem em nome de uma abstrata ―razão‖, cujas fontes capitalistas e burocráticas clássicas são claras. 3.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA Baseada nos princípios de administração do exército prussiano, a administração pública burocrática constituía-se numa alternativa muito superior à administração patrimonialista do Estado. Tal modelo foi adotado inicialmente nas empresas, principalmente em organizações industriais, em decorrência da necessidade de ordem e exatidão e das reivindicações dos trabalhadores por um tratamento justo e imparcial. Segundo Chiavenato, o modelo burocrático de organização surgiu como uma reação contra a crueldade e o nepotismo e contra os julgamentos tendenciosos e parciais, típicos das práticas administrativas desumanas e injustas do início da Revolução Industrial. Veio com a finalidade de organizar detalhadamente e de dirigir rigidamente as atividades das empresas com a maior eficiência possível. Quem melhor definiu o modelo burocrático de organização foi Max Weber (1864- 1920), por meio de estudos sobre as organizações formais identificando-lhes características comuns. Segundo ele, tais organizações baseiam-se em leis escritas, que as pessoas aceitam por acreditarem que são racionais1 e que definem antecipadamente como a organização irá funcionar. A autoridade não mais tem origem no soberano e sim no cargo que a pessoa ocupa na organização e a obediência é devida às leis e aos regulamentos, formalmente definidos. A administração pública burocrática utiliza, como instrumento para combater o nepotismo e a corrupção, os princípios de um serviço público profissional e de um sistema administrativo impessoal, formal e racional. Foi um grande progresso o surgimento, no século XIX, de uma administração pública burocrática em oposição às formas patrimonialistas de se administrar o Estado. O tipo ideal de burocracia, segundo Weber, apresenta como características principais: - FORMALIDADE: organizações são formadas baseadas em estatutos, normas e regulamentos explícitos, que estipulam direitos e deveres dos ocupantes de cada cargo e regulam sua conduta e atividades, que devem ser executadas de acordo com as rotinas e procedimentos fixados pelas regras e normas técnicas. As comunicações são sempre feitas por escrito, a fim de proporcionar comprovação e documentação adequadas. A empresa em que www.pontodosconcursos.com.br 13 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO você trabalha ou a escola/universidade em que você estuda ou estudou está regulada por normas racionais. Seu comportamento como aluno ou profissional da empresa não depende dos caprichos pessoais dos administradores, como era no modelo patrimonialista. Desta forma, na burocracia, todos são iguais perante a lei. - IMPESSOALIDADE: a obediência dos subordinados ao chefe é devida pelo cargo que este ocupa, não pela tradição ou pelo carisma deste2. As normas instituídas racionalmente são aplicadas a todos. As relações profissionais são isentas de ódios ou paixões, possuindo caráter impessoal. - PROFISSIONALISMO: as burocracias são formadas por funcionários especializados remunerados, ocupantes de cargos, e oferecem a estes uma carreira profissional. - MÉRITO: os funcionários são selecionados por suas qualificações (mérito), às quais são aperfeiçoadas por treinamento especializado. A atribuição de responsabilidades e a evolução na carreira são realizadas por critérios de mérito. - HIERARQUIA e DISCIPLINA: a burocracia é uma organização que tem seus cargos previamente estabelecidos segundo os princípios da hierarquia. Cada cargo inferior deve estar sob controle e supervisão de um superior, ou seja, as relações de trabalho possuem caráter hierárquico. - DIVISÃO DO TRABALHO: a fim de se atingir a eficiência da organização, há uma sistemática divisão do trabalho, que estabelece as atribuições de cada participante, suas funções específicas e sua esfera de competência e responsabilidade. - SEPARAÇÃO DA PROPRIEDADE: os administradores da burocracia não necessariamente seus donos ou proprietários, surgindo a figura do profissional que se especializa em gerenciar a organização. Os meios de produção não são propriedade dos burocratas, mas estão acima destes. Para Weber, a burocracia é a organização eficiente por excelência e para conseguir essa eficiência, precisa detalhar antecipadamente e nos mínimos detalhes como as coisas deverão ser feitas. A conseqüência desejada é a previsibilidade do comportamento dos seus membros, ou seja, a forma como os funcionários irão agir será perfeitamente previsível, pois está prescrita nos regulamentos. Sabemos que aí Weber cometeu um pecado capital: não considerou nenhuma diferenciação no comportamento humano na organização, nem as chamadas organizações informais3, que influenciam o desempenho do funcionário. A forma burocrática de Administração foi implantada nos principais países europeus no final do século, nos EUA no começo do século XX e no Brasil em 1936, com a reforma administrativa promovida por Maurício Nabuco e Luiz Simões Lopes. A implantação da burocracia teve como pano de fundo inicial o liberalismo econômico, que pregava que o Estado deveria se restringir a suas funções típicas (defesa nacional, aplicação da justiça, elaboração de leis, diplomacia, etc) sem intervir na economia, deixando para o mercado a tarefa de resolver os problemas do desemprego e da pobreza. Posteriormente, atingiu seu apogeu com o Estado de Bem-Estar Social, onde a burocracia deveria atender às demandas crescentes da população. É importante citar que a administração pública burocrática não conseguiu eliminar completamente o Patrimonialismo, passando os dois modelos a subsistirem juntos. OBSERVAÇÃO: atenção aqui! É muito comum cair em prova que o modelo burocrático eliminou o modelo patrimonialista. Não caiam nessa! www.pontodosconcursos.com.br 14 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO 3.4 DISFUNÇÕES DA BUROCRACIA Será que as organizacionais reais são realmente como Weber as retratou em seu tipo ideal? Este não será uma abstração por demais idealizada? Essas questões estimularam o trabalho de vários autores, dentre os quais citamos CHARLES PERROW e ROBERT MERTON, os quais se puseram a expor as chamadas ―disfunções da burocracia‖. Perrow afirmava que ―o tipo ideal de Weber nunca é alcançado, porque as organizações são essencialmente sistemas sociais, feitos de pessoas, e as pessoas não existem apenas para as organizações. Estas têm interesses independentes e levam para dentro das organizações em que trabalham toda sua vida externa. Além disso, a organização burocrática que Weber idealizou parece servir melhor para lidar com tarefas estáveis e rotinizadas. Não trata as organizações dinâmicas, para quais a mudança é constante, somente as organizações mecanicistas, orientadas basicamente para as atividades padronizadas e repetitivas.‖ Perrow apontou 4 disfunções da burocracia: - PARTICULARISMO: as pessoas levam para dentro das organizações os interesses dos grupos de que participam fora dela. - SATISFAÇÃO DE INTERESSES PESSOAIS: utilização da organização para fins pessoais do funcionário. - EXCESSO DE REGRAS: as burocracias exageram na tentativa de regulamentar tudo o que for possível a respeito do comportamento humano, criando regras em excesso e muitos funcionários ficam encarregados de fiscalizar o cumprimento das mesmas. - HIERARQUIA: para Perrow, seria a negação da autonomia, liberdade, iniciativa, criatividade, dignidade e independência. Seria a maior responsável pela RESISTÊNCIA ÀS MUDANÇAS, as quais atrapalham o comodismo dos que estão no topo da hierarquia. Merton também critica o modelo weberiano que, em sua opinião, negligencia o peso do fator humano e não são racionais como ele retrata. Para ele, as principais disfunções da burocracia são: - EXAGERADO APEGO AOS REGULAMENTOS E SUPERCONFORMIDADE ÀS ROTINAS E PROCEDIMENTOS: as regras passam a se transformar de meios em objetivos. O funcionário esquece que a flexibilidade é uma das principais características de qualquer atividade racional. Trabalha em função do regulamento e não em função dos objetivos organizacionais. - EXCESSO DE FORMALISMO E PAPELÓRIO: devido à necessidade de se documentar por escrito todas as comunicações e procedimentos. - RESISTÊNCIA ÀS MUDANÇAS: o funcionário, por se tornar um mero executor de rotinas e procedimentos definidos, passa a dominar seu trabalho com segurança e tranqüilidade. Qualquer possibilidade de mudança que surja no horizonte passa a ser interpretada como ameaça à sua posição e, portanto, altamente indesejável. Tal resistência pode ser manifestada de forma velada e discreta ou ativa e agressiva. - DESPERSONALIZAÇÃO DO RELACIONAMENTO: o chefe não considera mais os funcionários como indivíduos, mas sim como ocupantes de cargos, sendo conhecidos pelo título do cargo e até mesmo pelo número interno que a organização lhes fornecem. - CATEGORIZAÇÃO COMO BASE DO PROCESSO DECISORIAL: A burocracia se assenta em uma rígida hierarquização da autoridade, ou seja, na burocracia quem toma as www.pontodosconcursos.com.br 15 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO decisões são as pessoas que estão no mais alto nível da hierarquia, mesmo que não saibam nada do assunto, visto que são os únicos com real poder de decisão. No momento em que o ―pequeno‖ Estado liberal do século XIX, onde o Estado só se preocupava com a justiça, defesa, fazenda e relações exteriores, cedeu definitivamente lugar ao ―grande― Estado social e econômico do século XX, verificou-se que ela não garantia nem rapidez, nem boa qualidade, nem custo baixo para os serviços prestados ao público. A administração pública burocrática é lenta, cara, auto-referida, pouco ou nada orientada para o atendimento das demandas dos cidadãos. Agora, ao invés de três ou quatro ministros, era preciso ter 15 ou 20. 3.5 O ESTADO BUROCRÁTICO BRASILEIRO A Primeira República pretendia ser uma revolução de classe média, como seriam depois as outras três revoluções militares no Brasil – 1930, 1945, e 1964 – mas o regime militar teve vida breve, com apenas os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Com a eleição, em novembro de 1894, de Prudente de Morais, a oligarquia cafeeira volta ao poder, restabelecendo-se a aliança dos tempos do Segundo Império do estamento burocrático- aristocrático com a oligarquia principalmente cafeeira. Todavia, a presença efetiva dos militares do Exército na aliança de poder era um fato novo, porque estes militares, diferentemente dos da Marinha, não podiam ser legitimamente incluídos no estamento burocrático-aristocrático do Império. Os representantes da classe média tecnoburocrática, de uma classe média burocrática moderna, que, no século XX, teria enorme expansão e diversificação, apareciam, assim, pela primeira vez na história brasileira por intermédio do Exército. O golpe militar não tinha base real na sociedade, de forma que não envolveu de fato a população que, segundo Aristides Lobo(*), assistiu bestializada à proclamação da República. Passado o entusiasmo inicial provocado pela proclamação da República, no campo das idéias nem mesmo a elite conseguia chegar a um certo acordo quanto à definição de qual deveria ser a relação entre o cidadão com o Estado. No campo da ação política fracassaram sistematicamente as tentativas de mobilizar e organizar a população de acordo com os padrões conhecidos nos sistemas liberais. O regime continuava oligárquico, as eleições, fraudulentas; o eleitorado subira apenas de um para dois por cento da população com a República. A estrutura econômica e a estrutura de poder não haviam mudado. Pelo contrário, com o estabelecimento da federação na Constituição de 1891, e a decorrente descentralização política de um Estado que no Império fora altamente centralizado, o poder dos governadores e das oligarquias locais aumentara ao invés de diminuir. Surge a política dos governadores, que definiria os rumos políticos do país até 1930. Mas o aumento do poder dos governadores era contraditório: se de um lado tinham mais poder em relação à União, tinham menos em relação aos coronéis locais, dos quais passavam a depender. Estes problemas estavam na base da insatisfação crescente dos militares, que demandavam a ordem e o progresso anunciados na bandeira republicana, e da indignação de liberais clamando por democracia. O resultado é a aliança política instável de 1930, que levou não ao Estado liberal sonhado pelos últimos, mas ao Estado burocrático e autoritário do primeiro Vargas. O movimento revolucionário, que desembocará na Revolução de 1930 e no governo Vargas, era intrinsecamente contraditório. De um lado, no seu componente principalmente civil, www.pontodosconcursos.com.br 16 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO era liberal: protestava contra a farsa das eleições, propondo ampliar-se o eleitorado e instituir-se o voto secreto, demandava anistia dos condenados por razões políticas, queria terminar com o poder das oligarquias locais, de coronéis e jagunços, e regionais, de presidentes de província. De outro, era um movimento conservador, na medida em que muitos dos seus aderentes constituíam as próprias oligarquias estaduais, principalmente nos Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. De um terceiro lado, entretanto, possuía um forte componente militar, tenentista, burocrático e autoritário. Seu objetivo maior era centralizar o poder nacional, colocando sob controle os coronéis locais e dos estados federados. O terceiro aspecto do movimento sagra-se vencedor, e durante quinze anos Getúlio Vargas permanece no poder, sendo que nos últimos oito anos, nos quadros de um regime estritamente autoritário. Estabelece o poder da União sobre os estados federados e as oligarquias locais, e dá impulso ao processo de industrialização. A República fora descentralizadora e oligárquica. O novo Estado fundado pela Revolução de 1930, ainda que conserve elementos da velha aristocracia, será um Estado antes do que qualquer coisa autoritário e burocrático no seio de uma sociedade em que o capitalismo industrial se torna afinal dominante. Duas classes novas sobem ao poder: a burguesia industrial e a nova classe média tecnoburocrática. Ambas eram originárias de classes ou estamentos antigos: a burguesia industrial originava-se da burguesia mercantil; a moderna burocracia evoluiu do estamento burocrático patrimonialista. Diferentemente da sua antecessora, a burocracia não tinha caráter aristocrático, nem estava circunscrita ao Estado. Além da clássica tarefa política e administrativa, a nova burocracia passava a ter uma função econômica essencial: a coordenação das grandes empresas produtoras de bens e serviços, fossem elas estatais ou privadas. Enquanto no setor público Getúlio Vargas realizava, nos anos 30, a reforma burocrática, a ―civil service reform”, que na França, Inglaterra e Alemanha, acontecera na segunda metade do século anterior, e nos Estados Unidos, na primeira década deste século, no setor privado o surgimento de grandes organizações empresariais públicas e privadas promovia o surgimento de uma burocracia moderna, voltada para a voltada para produção. O Estado Patrimonial teve longa duração no seio da Sociedade Mercantil e Senhorial, o Estado Burocrático, na Sociedade Capitalista, Industrial teve vida curta. Curta porque a industrialização chegou tarde e logo começou a ser substituída pela sociedade pós-industrial do conhecimento e dos serviços, curta porque a Reforma Burocrática de 1936 também chegou tarde e foi atropelada pela reforma gerencial, que a globalização imporia e a democracia tornaria possível. 3.6 O ESTADO DE BEM ESTAR No momento em que o Estado se converteu no grande Estado social e econômico do século XX, assumindo um número crescente de serviços sociais – educação, saúde, cultura, previdência e assistência social, pesquisa científica – e de papéis econômicos – regulação do sistema econômico interno, das relações econômicas internacionais, estabilidade da moeda e do sistema financeiro, provisão de serviços públicos e de infra-estrutura, o problema da eficiência tornou-se essencial. www.pontodosconcursos.com.br 17 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO Esse estado tinha três dimensões: - ECONÔMICA: caracterizada pela influência keynesiana, que pregava a ativa intervenção estatal na economia, procurando garantir o pleno emprego e atuar em setores considerados estratégicos para o desenvolvimento nacional — telecomunicações e petróleo,por exemplo. No Brasil, através da autonomia dada às empresas de economia mista viabilizava-se o grande projeto de industrialização com base em grandes empresas estatais de infra-estrutura e serviços públicos que já havia sido iniciado nos anos 40, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, e acelerado nos anos 50, com a criação da Petrobrás, da Eletrobrás, e da Telebrás, e do BNDES. Por outro lado, são então criadas ou desenvolvidas novas agências reguladoras, como o Banco Central, que regulam também com autonomia as atividades econômicas, tendo sempre como critério a promoção do desenvolvimento industrial. - SOCIAL: correspondente ao ―Welfare State‖ ou ―Estado do Bem-Estar‖, adotado em maior ou menor grau nos países desenvolvidos, tinha como objetivo primordial a produção de políticas públicas na área social (educação, saúde, previdência social, habitação, etc.) para garantir o suprimento das necessidades básicas da população. É uma conseqüência do modelo intervencionista adotado a partir da década de 30 por causa da grave crise financeira que assolou o mundo no final dos anos 20, tendo como ápice a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Suas características são baseadas na concepção de que o Estado deve prover todas as necessidades do cidadão, e assim fornecer direta ou indiretamente todos os serviços necessários ao bem-estar social, inclusive o fornecimento direto de renda ao cidadão, caso este necessite, sem haver nenhuma necessidade de contraprestação por parte deste. - ADMINISTRATIVA: relativa ao funcionamento interno do Estado, o chamado modelo burocrático weberiano tinha a missão de manter a impessoalidade, a neutralidade e a racionalidade do aparato governamental. No Brasil e nos países latino-americanos da periferia do mundo capitalista, a dimensão social não foi aplicada da mesma forma que nos países desenvolvidos. O Estado nacional- desenvolvimentista é característico desse grupo nessa época, e se preocupava em promover a industrialização por meio da ação direta do Estado, como criador e impulsionador de empresas estatais industriais. Nesses países, ocorreu a industrialização POR SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES (SI), que, segundo Maria Conceição Tavares, é um processo de desenvolvimento parcial e fechado que, respondendo às restrições de comércio exterior, procurou repetir aceleradamente (nos países em desenvolvimento), em condições históricas distintas, a experiência de industrialização dos países desenvolvidos. Isto porque os países em desenvolvimento eram exportadores de matérias-primas e importadores de produtos manufaturados, de maior valor agregado. Desta forma, a política residia em criar condições para que a indústria nacional produzisse internamente o que antes era importado lá fora. Visava a possibilitar o surgimento de um setor industrial, produtor de manufaturados, que permitisse uma acumulação de capital suficiente para desencadear um processo de desenvolvimento econômico auto-sustentável e duradouro. O problema era que, ao mesmo tempo em que se substituía, se criava novas necessidades de importações qualitativamente distintas, o que terminava por exigir novas rodadas de substituição. Além disso, o surto de substituição de importações na América Latina se deu www.pontodosconcursos.com.br 18 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO através da implantação de atividades produtoras de bens de consumo duráveis, o que requereria a aquisição no exterior de determinadas peças, componentes e equipamentos (bens de capital), de alto custo. Nessa fase, o Estado desempenha um papel decisivo em apoiar a indústria nascente, realizando inclusive políticas cambiais e alfandegárias altamente favoráveis a importação, mas prejudiciais às contas públicas, em virtude do aumento do endividamento externo. No caso particular do Brasil, o processo de SI teve seu início efetivo no segundo governo de Getúlio Vargas, atingindo seu ápice no chamado ―milagre econômico‖. Todavia, as duas crises do petróleo (1973 e 1979) colocaram em xeque o modelo de intervenção estatal. Uma grande crise econômica mundial pôs fim a ―era dourada‖, como afirma o historiador Eric Hobsbawn, período em que não só os países capitalistas desenvolvidos, mas até países do bloco socialista e parte do Terceiro Mundo apresentaram elevadas taxas de crescimento econômico. Tal crise constitui-se no primeiro de quatro fatores que desencadearam a CRISE DO ESTADO montado no pós-guerra, o estado de bem-estar. A CRISE FISCAL, entendida como a perda em maior grau de crédito público e incapacidade crescente do Estado de realizar uma poupança pública que lhe permitisse financiar políticas públicas, foi causada principalmente pela grave crise econômica mundial citada anteriormente. Os países não tinham mais como financiar seus crescentes ―déficits‖, surgindo a necessidade imperativa de corte de gastos públicos. E os problemas fiscais tendiam a se agravar, na medida em que se iniciava, principalmente nos EUA e na Grã-Bretanha, uma revolta dos contribuintes contra a cobrança de mais tributos, devido ao fato de que estes não conseguiam enxergar uma relação direta entre o acréscimo de recursos governamentais e a melhoria de serviços públicos. A crise fiscal é o segundo fator que desencadeou a crise do Estado. O ESGOTAMENTO DAS FORMAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO, pela crise do ―Estado de Bem Estar Social‖ ou ―Welfare State‖ no primeiro mundo, o esgotamento da industrialização por substituição de importações nos países em desenvolvimento e o colapso do estatismo nos países comunistas formam o terceiro fator. Os governos estavam, ainda, sobrecarregados de atividades — acumuladas ao longo do pós-guerra —, ―com muito a fazer e com poucos recursos para cumprir todos os seus compromissos‖. Estava caracterizada uma situação de ―ingovernabilidade‖: os governos estavam inaptos para resolver seus problemas. Com a globalização e as inovações tecnológicas (quarto fator) que transformaram a lógica do setor produtivo, o Estado também foi afetado. Os governos não mais conseguiam controlar os fluxos financeiros e comerciais. Este fato, somado ao aumento do poder das grandes multinacionais, resultou na perda de parcela significativa do poder dos Estados nacionais de ditar políticas macroeconômicas. A crise do Estado afetou diretamente a organização das burocracias públicas. Os governos tinham menos recursos e mais déficits. O corte de custos virou prioridade, o que produziu dois efeitos: - REDUÇÃO DE GASTOS COM PESSOAL; - NECESSIDADE DE AUMENTAR A EFICIÊNCIA GOVERNAMENTAL. Voltado cada vez mais para si mesmo, o modelo burocrático tradicional vinha caminhando para um sentido contrário aos anseios dos cidadãos. A incapacidade de responder às www.pontodosconcursos.com.br 19 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO demandas destes, a baixa eficiência de suas estruturas, aliadas a captura do Estado por interesses privados, obrigavam a realização de modificações profundas no modelo weberiano, considerado como lento e excessivamente apegado a normas. A burocracia era classificada mais como um grupo de interesse do que como um corpo técnico neutro a serviço dos cidadãos. Teorias extremamente críticas à burocracia estatal, tais como a public choice4 nos EUA, abriu espaço para a crítica ao modelo de organização do setor público. Os serviços sociais eram prestados com baixa qualidade, ineficientes e com custos crescentes. Os cidadãos tornam-se cada vez mais conscientes de que a administração pública burocrática não corresponde às demandas que a sociedade civil apresenta aos governos no capitalismo contemporâneo. Era preciso urgentemente aumentar a eficiência governamental. Segundo Abrucio, ―o aparato governamental precisava ser mais ágil e mais flexível, tanto em sua dinâmica interna como em sua capacidade de adaptação às mudanças externas‖. Este cenário impulsionou o surgimento de uma novo modelo de administração pública, mais preocupado com os resultados e não com procedimentos e que levava em consideração sobretudo a eficiência: produzir mais aproveitando ao máximo os recursos disponíveis, com a maior produtividade possível. O Estado teria que inovar, ser criativo, e se aproximar mais dos princípios que regem a Administração de Empresas Privadas, reduzindo custos e maximizando resultados. Desta forma, iremos estudar, em seguida, a Administração Pública Gerencial. 3.7 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL Para responder ao esgotamento do modelo burocrático weberiano, foram introduzidos, em larga escala, padrões gerenciais na administração pública, inicialmente e com mais vigor em alguns países do mundo anglo-saxão (Grã-Bretanha, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia), e depois, gradualmente, na Europa continental e Canadá. No começo da década de 80, o modelo gerencial puro, denominado ―managerialism‖ ou gerencialismo sugeriu 3 providências básicas: - CORTE DE GASTOS – inclusive de pessoal; - AUMENTO DA EFICIÊNCIA – com a introdução da lógica da produtividade existente no setor privado; - ATUAÇÃO MAIS FLEXÍVEL DO APARATO BUROCRÁTICO. 3.7.1 O GERENCIALISMO INGLÊS O primeiro passo do modelo gerencial puro foi o corte de gastos e de pessoal, sendo o exemplo mais contundente o inglês, no governo de Margareth Thatcher. O ponto principal deste modelo é a busca da eficiência. Abrucio relata que ―contra essa visão de administração pública (modelo burocrático), o governo Thatcher propunha: a) definição clara das responsabilidades de cada funcionário dentro das agências governamentais; b) clara definição dos objetivos organizacionais, analisados em sua substância e não enquanto processo administrativo; c) aumento da consciência a respeito do ―valor dos recursos‖ (value money) públicos, www.pontodosconcursos.com.br 20 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO procurando maximizar a relação financeira entre os recursos iniciais e os gastos realizados para a produção de políticas, ou seja, incorporando o valor da eficiência na lógica de funcionamento da burocracia.‖ A busca pela qualidade na prestação de serviços, por meio de uma perspectiva voltada à satisfação do público, intitulada paradigma do consumidor, deu origem ao CONSUMERISM, evolução do modelo gerencial puro. Abruccio ainda nos dá uma palhinha sobre o PUBLIC SERVICE ORIENTATION, terceiro estágio do modelo gerencial, onde o cidadão não mais é encarado como simples consumidor de serviços, mas sim como cidadão e a preocupação com a eqüidade é levada em consideração. É importante ressaltar que cada estágio não elimina o anterior e sim acrescenta melhoramentos a ele. A tabela abaixo resume o que vocês devem saber sobre os 3 estágios do modelo gerencial, inicialmente adotado na Inglaterra: Fase do Gerencialismo Ênfase em: Beneficiários encarados como: Managerialism Economia/eficiência Contribuintes Consumerism Efetividade/qualidade Consumidores/ Clientes Public service Orientation Accountability/Eqüidade Cidadãos 3.7.2 O MOVIMENTO ―REINVENTANDO O GOVERNO‖ Nos EUA, surge no início da década de 1990, a obra de David Osborne e Ted Gaebler, "Reinventando o Governo", que deu origem a um movimento de modernização e de mudança de postura da administração pública, após o fracasso da tentativa de implantar o gerencialismo puro da forma inglesa no governo Reagan. Abrucio refere-se à obra como um marco na nova discussão da administração pública americana, tratando-se de rediscutir os fundamentos do governo no que se refere à administração pública. Para tanto, é estruturado um modelo híbrido e eclético de análise, incorporando conceitos que estiveram separados no desenvolvimento do modelo gerencial inglês, tais como a implantação de uma administração por objetivos — ou por missões —, a mensuração do desempenho das agências através dos resultados, a busca da qualidade total como método administrativo, a ênfase no cliente, a transferência do poder aos cidadãos e a tentativa de garantir a eqüidade. A discussão de Osborne e Gaebler começa subvertendo o ideal que impulsionou o gerencialismo na Grã-Bretanha no início da década. Em vez de propor o ―rolling back the state‖ thatcheriano, os autores propõem uma redefinição da atividade governamental.‖ ―Aqui está o grande problema do livro de Osborne e Gaebler. Eles conseguem enunciar uma conjugação de valores importantes para reinventar o governo, mas não criam um arcabouço teórico que explique e possibilite a implementação de reformas no setor público. A reforma do sistema significa, ao mesmo tempo, a introdução de métodos voltados para a produção qualitativa de serviços públicos com a prioridade dada aos clientes e cidadãos como razões últimas do setor público, o que quer dizer não só que eles devem ser bem atendidos, mas que devem ser também chamados a participar do governo, definindo os destinos de suas comunidades. A maioria dos exemplos do livro de Osborne e Gaebler mostra que a melhor resposta para tornar melhor um serviço público é chamar a comunidade a www.pontodosconcursos.com.br 21 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO participar de sua gestão, seja fiscalizando, seja trabalhando voluntariamente na prestação de serviços — constituindo-se numa resposta adequada tanto para a questão da eficiência como para o problema da transparência. Portanto, a modernização do setor público deve caminhar pari passu com o aumento da accountability. Mas a reinvenção do governo deve ser realizada ainda garantindo o princípio da eqüidade. Desta maneira, a introdução de mecanismos gerenciais, tais como são propostos no livro, não é incompatível com a busca de justiça redistributiva, um conceito que por muito tempo foi abandonado no debate sobre reforma administrativa. Osborne e Gaebler propõem dez princípios básicos para reinventar o governo, listados a seguir: 1 — Competição entre os prestadores de serviço; 2 — Poder aos cidadãos, transferindo o controle das atividades à comunidade; 3 — Medir a atuação das agências governamentais através dos resultados; 4 — Orientar-se por objetivos, e não por regras e regulamentos; 5 — Redefinir os usuários como clientes; 6 — Atuar na prevenção dos problemas mais do que no tratamento; 7 — Priorizar o investimento na produção de recursos, e não em seu gasto; 8 — Descentralização da autoridade; 9 — Preferir os mecanismos de mercado às soluções burocráticas; 10 — Catalisar a ação do setores público, privado e voluntário.‖ Bresser Pereira também faz sua análise sobre o movimento, quando afirma que "... Em conseqüência, nos anos 80 iniciou-se uma grande revolução na administração pública dos países centrais em direção a uma administração pública gerencial. ... Nos Estados Unidos, essa revolução ocorreu principalmente nos municípios e condados - revolução que o livro de Osborne e Gaebler, Reinventando o Governo, descreve de forma tão expressiva. Era a administração pública gerencial que estava surgindo, inspirada nos avanços realizados pela administração de empresas." 3.7.3 O GERENCIALISMO BRASILEIRO No Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), Bresser Pereira discorre sobre a Administração Pública Gerencial:―A administração pública gerencial constitui um avanço e até um certo ponto um rompimento com a administração pública burocrática. Isto não significa, entretanto, que negue todos os seus princípios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada na anterior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos seus princípios fundamentais, como a admissão segundo rígidos critérios de mérito, a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de desempenho, o treinamento sistemático. A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados, e não na rigorosa profissionalização da administração pública, que continua um princípio fundamental.‖ ― Na administração pública gerencial a estratégia volta-se (1) para a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade, (2) para a garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição para que possa atingir os objetivos contratados, e (3) para o controle ou cobrança a posteriori dos resultados. Adicionalmente, pratica-se a competição www.pontodosconcursos.com.br 22 GESTÃO PÚBLICA P/ MPOG ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PROFESSOR EDUARDO FÁVERO administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer concorrência entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).' ―Na burocracia pública clássica existe uma noção muito clara e forte do interesse público. A diferença, porém, está no entendimento do significado do interesse público, que não pode ser confundido com o interesse do próprio Estado. Para a administração pública burocrática, o interesse público é freqüentemente identificado com a afirmação do poder do Estado. Ao atuarem sob este princípio, os administradores públicos terminam por direcionar uma parte substancial das atividades e dos recursos do Estado para o atendimento das necessidades da própria burocracia, identificada com o poder do Estado. O conteúdo das políticas públicas é relegado a um segundo plano. A administração pública gerencial nega essa visão do interesse público, relacionando-o com o interesse da coletividade e não com o do aparato do Estado.‖ ―A administração pública gerencial vê o cidadão como contribuinte de impostos e como cliente dos seus serviços. Os resultados da ação do Estado são considerados bons não porque os processos administrativos estão sob controle e são seguros, como quer a administração pública burocrática, mas porque
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