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Prévia do material em texto

ROCA
Cory F. Newman
Robert L. Leahy
Aaron T. Beck
Noreen A. Reilly-Harrington
Laszlo Gyulai
Newman-AB.p65 20/09/06, 11:023
NOTA
As opiniões e declarações publicadas neste livro são de responsabilidade dos autores.
A EDITORA
Newman-AB.p65 08/09/06, 16:592
Sobre os Autores
CORY F. NEWMAN, PhD, ABPP. É diretor do Centro de Terapia
Cognitiva da Faculdade de Medicina da Universidade da
Pensilvânia, onde também é professor adjunto de psicologia
no Departamento de Psiquiatria. O Dr. Newman é Membro
Fundador da Academia de Terapia Cognitiva e Diplomata do
Conselho Americano de Psicologia Profissional, especializado
em Psicologia Comportamental. É autor de dezenas de arti-
gos e capítulos e co-autor de quatro livros, além de ministrar
palestras internacionalmente sobre tópicos relacionados
com a terapia cognitiva. É o moderador do painel cognitivo-
comportamental da Corporação de Broadcasting Psicológico,
oferecendo simpósios virtuais de educação continuada apro-
vados pela APA.
ROBERT L. LEAHY, PhD. Doutorado na Universidade de Yale, é
editor do Journal of Cognitive Psychotherapy: An International
Quarterly e presidente eleito da Associação Internacional
para Psicoterapia Cognitiva. O Dr. Leahy participa da Co-
missão Executiva da Academia de Terapia Cognitiva. Seus
livros mais recentes incluem: Cognitive Therapy: Basic
Principles and Applications; Practicing Cognitive Therapy: A
Guide to Interventions; Treatment Plans and Interventions for
Depression and Anxiety Disorders (com Stephen Holland) e
Overcoming Resistance in Cognitive Therapy. O Dr. Leahy é
diretor do Instituto Americano para Terapia Cognitiva em
Nova York (www.cognitivetherapynyc.com) e professor
clínico adjunto do Departamento de Psiquiatria da Faculdade
de Medicina da Universidade Weill-Cornell, em Ithaca, NY.
AARON T. BECK, MD. Professor Universitário de Psiquiatria da
Universidade da Pensilvânia, formou-se na Universidade
Brown (1942) e na Faculdade de Medicina de Yale (1946).
Tendo recebido vários prêmios e títulos honoris causa, ele
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:007
VIII � Sobre os Autores
é o único psiquiatra que recebeu prêmios de pesquisas da Associação Psicológica
Americana e da Associação Psiquiátrica Americana. Autor e co-autor de mais de
400 artigos, publicou recentemente um novo livro: Prisoners of Hate: The Cognitive
Basis of Anger, Hostility and Violence. É também presidente do Instituto Beck de
Terapia Cognitiva.
NOREEN A. REILLY-HARRINGTON, PhD. É instrutora de Psicologia da Faculdade de
Medicina de Harvard e faz parte da equipe do Programa de Pesquisas Bipolares
de Harvard, no Hospital Geral de Massachusetts. Formou-se na Universidade da
Pensilvânia e na Universidade Temple. A Dra. Reilly-Harrington é Membro
Fundadora da Academia de Terapia Cognitiva, e recebeu prêmios de pesquisas
da Sociedade para Pesquisas em Psicopatologia, da Associação para o Avanço da
Terapia Comportamental e do Hospital Geral de Massachusetts, pelo seu trabalho
no exame do papel do estresse da vida e da cognição no curso dos transtornos
bipolares de humor. Ministra palestras tanto nacional como internacionalmente
sobre o tópico de terapia cognitiva para o transtorno bipolar e é Líder Pathway do
Programa de Aprimoramento do Tratamento Sistemático para Transtorno Bipolar
do Instituto Nacional de Saúde Mental.
LASZLO GYULAI, MD. É professor adjunto de psiquiatria e diretor do Programa de
Transtornos Bipolares do Centro Médico da Universidade da Pensilvânia. Graduou-se
summa cum laude na Universidade Médica Semmelweis, em Budapeste, Hungria,
e tornou-se membro do Departamento de Bioquímica e Biofísica da Universidade
da Pensilvânia em 1980, onde conduziu e publicou pesquisas sobre neuroquímica
cerebral usando espectroscopia de ressonância magnética. Juntou-se ao corpo
docente do Centro Médico da Universidade da Pensilvânia em 1989. Tem publicações
sobre tratamentos inovadores de imagens mentais cerebrais e espectroscopia de
ressonância magnética com lítio para o transtorno bipolar e conduziu estudos
clínicos com novos medicamentos para o tratamento de transtorno bipolar.
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:008
Prefácio
Na década de 1980, surgiram relatos de casos na litera-
tura sugerindo que a terapia cognitiva (A. T. Beck, Rush, Shaw
e Emery, 1979) poderia ser usada para ajudar pacientes
bipolares, equipando-os com uma série de habilidades de
auto-ajuda com o propósito de moderar suas reações
subjetivas ao estresse cotidiano e desenvolver uma noção
mais forte de eficácia ao lidar com uma ampla gama de
exigências da vida (Chor, Mercier e Halper, 1988; Jacobs,
1982). Isso fez sentido intuitivamente. A terapia cognitiva
visa claramente trabalhar a parte do “estresse” do par
diátese-estresse no transtorno bipolar. Isso acarreta uma
modificação abrangente da abordagem pessoal do paciente
em relação à vida – sua crença sobre si mesmo e sua doença,
como interpreta as situações, como define e resolve os
problemas, como mobiliza seus sistemas de apoio, como
reconhece e usa seus pontos fortes pessoais e como vê seu
futuro. Todas essas variáveis afetam a experiência subjetiva
do estresse, de modo que o paciente bem informado sobre
as estratégias cognitivo-comportamentais de auto-ajuda
pode ter uma vantagem significativa ao lidar com inci-
dentes com probabilidade de desencadear instabilidade
de humor e desregulação comportamental sobre o paciente
que não está igualmente preparado. Também é razoável
presumir que os pacientes que possuem boas habilidades
psicossociais levam a vida de tal maneira que reduzem a
probabilidade de incorrer em problemas passíveis de serem
evitados em comparação com o paciente que tem menos
habilidades psicossociais bem desenvolvidas. Isso leva, por
sua vez, a menos eventos estressantes e a uma redução
ainda maior da probabilidade de recorrências da diátese
biológica desencadeadas por estresse em pacientes com
transtorno bipolar.
Além da hipótese de redução de estresse citada an-
teriormente, há evidências indicativas de que a terapia
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:009
X � Prefácio
cognitiva pode ser usada para ajudar os pacientes a se tornarem mais dispostos a
envolver-se na farmacoterapia necessária (Cochran, 1984; Rush, 1988). Em parte,
a justificativa para essa abordagem é que os pacientes têm concepções errôneas
de sua doença, suas medicações prescritas e seu “relacionamento” com suas
medicações. A terapia cognitiva pode ser utilizada para testar tais crenças, reduzir
medos injustificados e modificar pressupostos antiterapêuticos sobre o tratamento.
O estudo de Cochran (1984), em especial, foi um trabalho pioneiro; ela esboçou
um estudo randomizado controlado para demonstrar que a terapia cognitiva era
mais eficaz do que o tratamento usual para melhorar o emprego apropriado de
lítio por pacientes bipolares durante a terapia, assim como no acompanhamento.
Esses achados despertaram o interesse em desenvolver ainda mais os modelos
de tratamento cognitivo-comportamentais para o transtorno bipolar. No início dos
anos de 1990, iniciamos um estudo-piloto na Universidade da Pensilvânia no qual
tratamos pacientes bipolares com até um ano de sessões semanais de terapia
cognitiva coordenadas com as intervenções farmacológicas fornecidas no mesmo
centro. Os terapeutas que administraram a terapia cognitiva guiaram-se pelo
manual de tratamento desenvolvido para o projeto (Newman e Beck, 1992). De
modo geral, os pacientes ficaram satisfeitos em incluir a terapia cognitiva em seus
regimes de medicação. O feedback verbal e escrito de alguns dos participantes
indicou que eles tiveram uma sensação de poder proveniente do modelo, no qual
prevaleceu uma atmosfera de colaboração entre terapeuta e paciente e foram
ensinadas habilidades de auto-ajuda de uma maneira gradual e controlável.
Este livro representa o desenvolvimento e a expansão do manual de tratamentooriginal. Ele aborda a maioria das principais estratégias e técnicas associadas com
a terapia cognitiva padrão, fazendo livremente empréstimos dos métodos
empiricamente sustentados utilizados no tratamento da depressão unipolar e dos
transtornos de ansiedade. No entanto, para adaptar a terapia cognitiva ao
tratamento de pacientes com transtorno bipolar, levamos em consideração o forte
componente biológico da hipomania e da mania; incorporamos a literatura sobre
estresse, sua percepção subjetiva e seu papel no desencadeamento de episódios
depressivos ou maníacos; e demos especial atenção à natureza longitudinal do
transtorno, com seu alto risco de suicídio.
Por definição, a terapia cognitiva postula que a mudança clínica durável e
significativa acarreta mudanças no estilo de pensamento. Em outras palavras, de
uma perspectiva cognitiva, é desejável, mas não suficiente, que os pacientes
bipolares demonstrem moderação de seus estados de humor e mudança em seus
comportamentos de modo que não sejam nem vegetativos nem impulsivos. Os
pacientes também devem demonstrar que vêem a si mesmos, as situações em
suas vidas e seu futuro de maneiras mais construtivas e benignas. Levanta-se a
hipótese de que tais mudanças cognitivas resultem em pacientes bipolares menos
vulneráveis a problemas tais como:
• Reagir exageradamente a estressores situacionais.
• Considerar o significado de reveses e decepções como catástrofes.
• Chegar a conclusões errôneas sobre as medicações com base em efeitos
anteriores.
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:0010
Prefácio � XI
• Passar por enormes oscilações na auto-estima.
• Supor que o modo como se sentem em determinado momento é o modo
como sempre se sentirão, portanto acentuando a desesperança e exacer-
bando o risco de suicídio.
Acreditamos que a terapia cognitiva oferece a base para uma tecnologia clínica
eficaz para auxiliar na luta contra uma doença psiquiátrica séria que ameaça a
vida e que anteriormente contestou as tentativas de uma abordagem farmacológica
simples e direta. Também levantamos a hipótese de que o uso da terapia cognitiva,
especialmente se conduzida no início do curso do transtorno, torna menos
necessário que os pacientes submetam-se a regimes repetidos, mal-sucedidos e
cada vez mais complicados de medicação. Mais exatamente, prevemos que as
intervenções logo no início usando a terapia cognitiva resultam em melhor
continuidade de cuidados em farmacoterapia, com menos interrupções, mudanças
e reações adversas.
Durante os anos em que desenvolvemos este livro, ficamos muito felizes em
testemunhar o trabalho de estimados colegas que estão aplicando a terapia
cognitiva, de maneira independente, no tratamento de pacientes com transtorno
bipolar, incluindo as pesquisas clínicas conduzidas no Reino Unido (por exemplo,
Lam, Jones, Hayward e Bright, 1999; Palmer, Williams e Adams, 1995; Scott,
1996a), bem como o trabalho de nossos colegas nos Estados Unidos (por exemplo,
Basco e Rush, 1996; Hirshfeld et al., 1998; Otto, Reilly-Harrington, Kogan, Henin
e Knauz, 1999). Acreditamos estar testemunhando o início de uma nova e pro-
missora era no tratamento do transtorno bipolar, na qual a validade concomitante
representada pelo trabalho que emana dos locais anteriormente mencionados
será sustentada pelos dados.
A intenção não é minimizar as dificuldades impostas pela doença que estamos
estudando e tratando, nem ignorar os complexos processos biológicos envolvidos
ou as abordagens psicossociais alternativas que estão atualmente sendo estudadas.
Estamos, sim, entusiasmados com o fato de a terapia cognitiva – um modelo de
psicoterapia altamente sustentado empiricamente – estar sendo desenvolvida para
os rigores do âmbito bipolar e para a colaboração com a farmacoterapia. Isso
representa esperança de aprimoramento no conhecimento para ajudar a
população de pacientes que poderão fazer uso de toda a assistência que pudermos
reunir para eles.
Devemos acrescentar aqui uma breve nota sobre nossa escolha de nomen-
clatura. Durante a elaboração deste livro, usamos predominantemente o termo
moderno transtorno bipolar, como indica o título do texto. Mas há vezes em que
usamos o termo depressão maníaca, não para confundir as coisas, mas sim para
fazer uma conexão com o passado e fazer referência à visão coloquial da doença.
Também é nossa resposta respeitosa a Jamison (1995), que argumentou que o fato
dos profissionais evitarem dizer depressão maníaca serve para limitar a questão
de quão caótico e doloroso é vivenciar diretamente o transtorno.
Nossos agradecimentos vão para Susan Reynolds e Kristine Enderle da APA
Books (juntamente com sua equipe editorial, incluindo Casey Reever, Chris Davis
e Linda McCarter), por zelar por este projeto com entusiasmo, confiança e sábio
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:0011
XII � Prefácio
aconselhamento. Seu apoio prático e moral a este livro foi inestimável ao nos ajudar
a transformar nosso manual informal em um texto maduro. Também agradecemos a
Claudia Baldassano por sua colaboração como especialista sobre questões
referentes à farmacoterapia e ao modo como foi discutida em nosso volume. Nossa
gratidão também a Jennifer Strauss por ter feito comentários pronta e minucio-
samente sobre todo o manuscrito conforme ele se desenvolvia. Seus comentários
criteriosos e suas perguntas que nos faziam pensar foram extremamente úteis para
adicionar concisão e clareza ao texto. Da mesma forma, o texto foi aprimorado
pelos valiosos e abrangentes comentários de Randy Fingerhut sobre os capítulos
que trazem visão geral do transtorno bipolar e do modelo cognitivo. Igualmente,
devemos muito a Julie Jacobs por sua revisão do produto final imediatamente
antes de ser enviado à editora. Sua sagacidade como jornalista e psicóloga fez dela
a melhor escolha para servir como nossa “sentinela” final, e somos gratos
principalmente por seu conhecimento especializado e diligência nessa tarefa.
Créditos especiais também vão para Tina Inforzato e Elizabeth Gable, da
Universidade da Pensilvânia, por sua assistência administrativa leal, eficiente e
sempre competente a este projeto.
Também expressamos nossa consideração por todos os colegas cujo interesse
por nosso manual nos deu o impulso para promover nosso trabalho sobre o
transtorno bipolar. Agora que nossa tarefa está finalizada, todos podemos rir juntos
das dezenas de vezes, nos últimos anos, em que tivemos de concordar (com
embaraço) quando nossos colegas nos diziam: “Estava realmente na hora de vocês
transformarem seu manual em um livro, não acham?”
Finalmente, e mais importante, agradecemos pelas contribuições centrais de
nossos pacientes. Eles não escolheram ter transtorno bipolar e, se pudessem
escolher, com certeza prefeririam fazer qualquer outra coisa menos contribuir
pessoal e dolorosamente para o desenvolvimento da abordagem da terapia
cognitiva para o tratamento de sua doença. Contudo, o simples fato é que nossos
pacientes merecem não somente nossa compaixão, mas nosso respeito e gratidão,
pois foi sua participação na terapia cognitiva e sua luta contra o transtorno que
tornaram possível para nós avançar no conhecimento de nossa área.
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:0012
Índice
CAPÍTULO 1
Transtorno Bipolar: Questões Relacionadas
com Diagnóstico, Epidemiologia,
Etiologia e Prognóstico .................................. 1
Considerações sobre o Diagnóstico............................ 2
Co-morbidade no Diagnóstico ................................... 6
Epidemiologia e Curso da Doença Bipolar .................. 8
Fatores Etiológicos ..................................................... 10
Indicadores de Prognóstico ........................................ 14
Conclusão ................................................................. 21
CAPÍTULO 2
Papel da Cognição no Transtorno Bipolar
e seu Tratamento .............................................. 23
Apresentaçãodo Modelo de Tratamento
aos Pacientes ......................................................... 24
Testes Empíricos do Modelo de Tratamento ............... 30
Direções Atuais da Construção de um Modelo
Cognitivo do Transtorno Bipolar ............................ 31
Conclusão ................................................................. 43
CAPÍTULO 3
Como Moderar Mania e Hipomania .............. 45
Educação dos Pacientes sobre Início de Mania
e Hipomania .......................................................... 45
Como Testar a Realidade dos Pensamentos e Crenças
Hipervalentes ........................................................ 51
Redução da Impulsividade e da Imprudência .............. 59
Modulação do Afeto ................................................. 66
Como Combater Desorganização e Distratibilidade ... 70
Conclusão ................................................................. 72
Newman-AB.p65 08/09/06, 17:0013
XIV � Índice
CAPÍTULO 4
Controle Clínico da Depressão, Desesperança e Tendência
Suicida em Pacientes com Transtorno Bipolar ........................... 73
Avaliação....................................................................................................... 74
Intervenções .................................................................................................. 79
Contrato para a Segurança ............................................................................ 79
Conclusão ..................................................................................................... 92
CAPÍTULO 5
Farmacoterapia no Contexto da Terapia Cognitiva para
Pacientes com Transtorno Bipolar .................................................. 93
Terapias Medicamentosas Padrão .................................................................. 93
Desenvolvimentos Recentes na Farmacoterapia ............................................. 97
Questões Especiais na Farmacoterapia do Transtorno Bipolar ......................... 98
Como Fazer as Pazes com as Medicações ...................................................... 102
Quando os Pacientes Seguem Diariamente o Plano de Tratamento ................ 121
Modelo Cognitivo e Colaboração com Outros Profissionais ............................ 122
Conclusão ..................................................................................................... 124
CAPÍTULO 6
Transtorno Bipolar e a Família ............................................................. 125
Exemplos de Casos ........................................................................................ 126
Emoção Expressa nas Famílias ........................................................................ 128
Sessões de Casal e Família ............................................................................. 131
Questões Especiais com as Famílias ................................................................ 147
Conclusão ..................................................................................................... 151
CAPÍTULO 7
Estigma, Perda e Aceitação ................................................................... 153
Amor e Trabalho Perdidos .............................................................................. 154
Auto-acusação, Estigma e o Dilema da Revelação .......................................... 156
Aceitação ...................................................................................................... 171
Conclusão ..................................................................................................... 172
CAPÍTULO 8
Terapia Cognitiva para Pacientes com Transtorno Bipolar:
o Caso de “Carlos” ................................................................................ 173
Estágio 1: Início do Tratamento ...................................................................... 174
Estágio 2: Aplicação Rotineira do Modelo Cognitivo ...................................... 180
Estágio 3: Uso da Terapia Cognitiva para Lidar com Novos e Sérios Problemas .. 185
Estágio 4: Consolidação dos Ganhos e Proteção Contra o Risco de Recaída ... 197
Conclusão ..................................................................................................... 200
Epílogo: Direções Futuras ...................................................................... 203
Referências Bibliográficas ..................................................................... 207
Índice Remissivo ........................................................................................ 223
Newman-AB.p65 21/09/06, 17:0414
Farmacoterapia no
Contexto da Terapia
Cognitiva para Pacientes
com Transtorno Bipolar
CAPÍTULO 5
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1-
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0-
4
É de suma importância que a terapia cognitiva e a far-
macoterapia sejam parceiras na batalha contra a depressão
maníaca. Esperamos que os farmacologistas sejam capazes
de aprender e de usar os princípios da terapia cognitiva para
maximizar a adesão e elevar sua própria sensibilidade em
relação às experiências e crenças dos pacientes bipolares que
normalmente os afugentam de seu tratamento. Igualmente,
este capítulo foi escrito na esperança de que os terapeutas
cognitivos se familiarizem com a situação no campo da
farmacoterapia. Assim, a primeira metade do capítulo, con-
siste em um breve resumo do nível atual de conhecimento
no campo.
Na segunda metade do capítulo, é explicado como a
terapia cognitiva é usada para aumentar a capacidade do
paciente de fazer bom uso da farmacoterapia. No entanto,
o interesse é ir além de facilitar a simples adesão à medica-
ção. Também espera-se mostrar como o terapeuta bem
informado, consciencioso e habilitado pode ajudar seus
pacientes bipolares a fazer as pazes com as medicações.
TERAPIAS MEDICAMENTOSAS PADRÃO
LÍTIO
É interessante que a medicação que serviu como o pri-
meiro avanço científico sério na luta farmacológica contra
o transtorno bipolar continue a estar em geral no centro do
padrão de cuidados (Goldberg e Harrow, 1999b). Quando o
Newman-05.p65 15/09/06, 16:0793
94 � Farmacoterapia no Contexto da Terapia Cognitiva para Pacientes ...
85-7241- 640-4
paciente toma regularmente o lítio, várias evidências indicam que ele é um pode-
roso protetor contra a ameaça de suicídio (Isometsä, 1993; Isometsä e Lonnqvist,
1998; Jamison, 1999; Nilsson, 1999; Tondo et al., 1997). O lítio é considerado um
agente de primeira linha no tratamento da mania, tanto nos episódios agudos como
para prevenir futuras ocorrências (Bauer et al., 1999).
Uma das funções mais importantes do lítio é impedir que um paciente eutímico
entre em novos episódios afetivos. Isso representa tanto um benefício como um
ponto de fixação de tomar lítio. O lítio demonstra ter um bom efeito profilático quan-
do usado logo no início do curso de um transtorno bipolar do tipo I “clássico” que
não envolve co-morbidade ou características psicóticas incongruentes de humor
significativas (Bauer et al., 1999). Entretanto, às vezes os pacientes não entendem o
porquê de tomar a medicação quando estão se sentindo bem. Eles têm consciência
dos efeitos colaterais e concluem que estão se impondo sintomas aversivos desne-
cessariamente, sem nenhum benefício aparente (Jamison e Akiskal, 1983). Portanto,
sempre há o risco de os pacientes ponderarem consigo mesmos que estão assin-
tomáticos e, portanto, podem parar de tomar lítio e continuar bem. O clínico deve
avisar seus pacientes de que o lítio não serve apenas para os sintomas ativos, mas
também para prevenir futuros sintomas. Contudo, como observaram Solomon et
al. (1995), tomar lítio não garante, de modo algum, que futuros sintomas sejam evi-
tados. Podem ser necessárias outras medicações para prevenir os surtos de mania,
precisando-se talvez adicionar criteriosamente antidepressivos ao regime de medi-
cações nos casos de recorrência da depressão. É importante que os pacientesentendam isso, ainda que esta seja outra razão para ficarem pouco encantados com
a terapia de manutenção com lítio.
Obviamente, o lítio tem suas limitações. Sua eficácia é silenciosa quando a
doença está mais virulenta (Maj, 1999), na prevenção de episódios de transtorno
bipolar do tipo II e quando há co-morbidade significativa (Greil et al., 1998). O
mesmo é verdade quando os pacientes exibem características psicóticas incon-
gruentes de humor (Miklovitz, 1992), ciclagem rápida (Dunner e Fieve, 1974) e
episódios mistos (Himmelhoch, 1986; 1994). A não-responsividade ao lítio pode
ser combatida, em alguns casos, com a adição de carbamazepina (Tegretol®),
divalproex (Depakote®) ou outros estabilizadores de humor (Maj, 1999).
Embora existam dados preponderantes que sustentem a eficácia do lítio na re-
dução da morbidade, em geral, ele não elimina totalmente os episódios de humor, e
os níveis de funcionamento geral dos pacientes nem sempre são os ideais (Maj, 1999).
Esse achado demanda o uso concomitante de um tratamento psicossocial como a
terapia cognitiva para que os pacientes aprendam habilidades de enfrentamento
que melhorem sua qualidade de vida e em que o desenvolvimento de um relaciona-
mento terapêutico possa proporcionar apoio adicional contra a desesperança nos
momentos em que há recorrência de sintomas.
Uma qualidade de vida ruim também pode predispor o paciente bipolar estabi-
lizado à recaídas, apesar de continuar tomando lítio (Maj, 1999), o que é compatível
com os achados de que os eventos estressantes da vida servem como desen-
cadeadores em potencial tanto de episódios depressivos como de maníacos (por
exemplo, Johnson e Miller, 1997; Johnson e Roberts, 1995). Este é um achado impor-
tante, pois o transtorno bipolar em si pode criar uma baixa qualidade de vida, pelas
Newman-05.p65 08/09/06, 17:0494
Farmacoterapia no Contexto da Terapia Cognitiva para Pacientes ... � 95
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perdas na posição acadêmica e profissional, rupturas nos relacionamentos, tensão
quanto às finanças, hospitalizações, estigma e outros problemas (ver Cap. 7). Certa-
mente, a coordenação entre terapia cognitiva e tratamentos biológicos é necessária
para reduzir a intrusão do transtorno bipolar nas vidas dos pacientes.
DIVALPROEX (DEPAKOTE®)
A segunda medicação a ser aprovada pela Food and Drug Administration (FDA)
(o lítio foi a primeira) para o tratamento da mania foi o divalproex (Depakote®;
Post et al., 1999). O Depakote® está na classe de drogas usadas como agentes anti-
convulsivantes. Além de estudos controlados por placebo que sustentam a
eficácia do Depakote®, existem algumas evidências preliminares de seus efeitos
profiláticos (Bowden, 1998). Além disso, Walden, Normann, Langosch, Berger e
Grunze (1998) apontaram que o Depakote pode ser muito útil no tratamento
de mania mista e de ciclagem rápida, duas formas de transtorno bipolar difíceis de
tratar com lítio. Depakote e lítio não deveriam ser vistos como rivais. Na verdade,
muitas vezes eles são usados em combinação (Solomon et al., 1998).
CARBAMAZEPINA (TEGRETOL®)
Originalmente usada para o tratamento de transtornos com convulsões como
a epilepsia, a carbamazepina muitas vezes é usada no tratamento do transtorno
bipolar em pacientes que não apresentam boa resposta ao lítio sozinho. Evidências
consideráveis (inclusive vários estudos duplo-cegos) sustentam a eficácia
antimaníaca aguda da carbamazepina (Post et al., 1996; Post et al., 1999).
Pacientes bipolares muito resistentes ao tratamento podem se beneficiar de
uma combinação tripla de carbamazepina, Depakote e lítio (Denicoff et al., 1994).
Descobriu-se que pacientes com ciclagem rápida apresentam melhor resposta a
uma combinação de anticonvulsivantes e lítio do que a qualquer uma das medi-
cações sozinha (Denicoff et al., 1994). Da mesma forma, existem algumas
evidências de que anticonvulsivantes combinados com lítio durante períodos
eutímicos proporcionam melhor proteção contra a recorrência de sintomas
afetivos (Solomon et al., 1996).
MEDICAÇÕES ANTIDEPRESSIVAS
A depressão bipolar pode ser uma forma especialmente esmagadora e in-
capacitante da família das depressões. Em geral, durante o tempo de vida de
indivíduos com transtorno bipolar, as depressões tendem a ter duração mais longa
do que as manias, ocorrendo com maior freqüência do que os episódios
depressivos recorrentes em indivíduos com depressão unipolar (Roy-Byrne et al.,
1985). Na prática clínica, é muito importante ter consciência de que qualquer pa-
ciente deprimido que se apresente para tratamento pode ter tido um episódio
anterior de hipomania ou mania. Isso enfatiza a necessidade óbvia de um histórico
Newman-05.p65 08/09/06, 17:0495
96 � Farmacoterapia no Contexto da Terapia Cognitiva para Pacientes ...
85-7241- 640-4
minucioso. Senão, as medicações antidepressivas podem ser ingenuamente pres-
critas de maneira isolada, colocando assim o paciente em risco de surto maníaco.
É interessante que o uso de antidepressivos em pacientes bipolares depressivos
não é assim tão incomum. Eles podem ser usados legitimamente no tratamento
de depressão bipolar quando combinados com estabilizadores de humor (Frances,
et al., 1996). Se o paciente apresentar depressão bipolar grave ou recorrente, pode
ser necessário assumir o risco calculado de administrar medicação antidepressiva.
Mas quando começar a apresentar sinais de hipomania, mania ou um estado mis-
to, o uso de antidepressivos deve ser suspenso (Bauer et al., 1999).
Como o uso de agentes antidepressivos está associado com a passagem para a
hipomania ou mania, sua aplicação na depressão bipolar permanece uma maté-
ria de debate contínuo (Goldberg e Kocsis, 1999). Há algumas evidências de que
inibidores seletivos da recaptação de serotonina, bupropiona (Wellbutrin®) e
venlafaxina (Effexor®) podem ter uma probabilidade um tanto menor de evocar a
hipomania e mania do que os antidepressivos tricíclicos (ADT; ver Frances et al.,
1996). Mas Goldberg e Kocsis (1999) resumiram o pensamento atual no campo ao
afirmar que os clínicos em sua maioria geralmente recomendam utilizar “doses
menores que as habituais de antidepressivos por períodos mais curtos que o nor-
mal durante as fases depressivas da doença … [já que] garante a presença de um
nível sangüíneo ‘terapêutico’ de um estabilizador de humor primário antes de
adicionar qualquer medicação antidepressiva …” (p. 136).
O uso de inibidores de monoamina oxidase (IMAO) é uma opção intrigante.
Em um estudo controlado, conduzido por Himmelhoch et al. (1991), descobriu-se
que a tranilcipromina (Parnate®) é superior ao ADT imipramina no tratamento da
depressão bipolar quando a hipersonia e a hiperfagia eram sintomas predomi-
nantes. De um ponto de vista clínico, a dificuldade com os IMAO é a queixa
freqüentemente ouvida de que as restrições na dieta apresentam perigos especiais
em uma população como a dos pacientes bipolares, em que a baixa concentração
e impulsividade podem levar a uma perigosa não-adesão. Conseqüências médi-
cas como crises hipertensivas podem assustar pacientes e terapeutas e afastá-los
até mesmo das medicações mais promissoras. Não é de surpreender que esta seja
uma outra área na qual a terapia cognitiva tem um papel essencial no auxílio aos
pacientes para lidarem com sua abordagem à farmacoterapia de maneira ade-
quada e segura. A terapia cognitiva enfatiza, por exemplo, a importância de os
pacientes aprenderem a monitorar seus próprios pensamentos, sentimentos e
ações. Os pacientes praticam “coletar dados” sobre seu funcionamento, o que pode
ser estendido a suas dietas e rotinas de administração de medicações. Essa impor-
tante habilidade pode reduzir enganos e omissões potencialmente perigosos. Além
disso, a terapia cognitiva ajuda os pacientes a identificarem e testarem suas cren-
ças e temores quanto às medicações, inclusive aqueles relativos aos possíveisefeitos colaterais e perigos.
MEDICAÇÕES ANTIPSICÓTICAS
Às vezes, sintomas psicóticos fazem parte da apresentação clínica do trans-
torno bipolar. Isso se refere à presença de ilusões ou alucinações, podendo incluir
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comportamento bizarro ou disfunção no processo de pensamento formal (Bauer
et al., 1999). Não é de surpreender que as medicações neurolépticas sejam usadas
na prática clínica para tratar pacientes bipolares que apresentam essas caracterís-
ticas. Medicações antipsicóticas desenvolvidas mais recentemente, como a
risperidona (Risperdal®) e a olanzapina (Zyprexa®), parecem representar risco um
tanto reduzido de discinesia tardia para os pacientes bipolares. Existem algumas
evidências de que quando a risperidona é adicionada a um ou mais estabilizadores
de humor em resposta a um episódio disruptivo, o funcionamento global
adaptativo dos pacientes possa melhorar (Ghaemi et al., 1997).
DESENVOLVIMENTOS RECENTES NA FARMACOTERAPIA
Há uma proliferação de novas medicações anticonvulsivantes (além de ou-
tras) sendo testadas para o tratamento do transtorno bipolar. O campo está
avançando rapidamente em termos de desenvolvimento desses agentes. Entre-
tanto, os testes de sua eficácia requerem atenção minuciosa e sistemática (e às
vezes a longo prazo) ao detalhe metodológico que requer anos de estudo e
replicação. No entanto, essas aplicações farmacológicas recentes têm resultado
em uma onda de esperança temperada por incertezas à medida que os dados são
reunidos com cuidado e avaliados lentamente. O que se segue é uma revisão não
exaustiva de uma amostra dessas medicações.
LAMOTRIGINA (LAMICTAL®)
Anticonvulsivante recém-desenvolvido, a lamotrigina tem apresentado efei-
tos muito positivos no tratamento da epilepsia refratária (Post et al., 1999). Esse
resultado tem levado vários clínicos e pesquisadores a relatarem sua eficácia – em
especial quando usada como adjuvante – na depressão bipolar resistente ao trata-
mento (Labbate e Rubey, 1997), ciclagem rápida (Calabrese et al., 1999; Fatemi et
al., 1997) e fases mistas (Calabrese et al. , 1998).
Segundo Calabrese et al. (1999), os efeitos colaterais mais comuns da lamo-
trigina são tontura, tremor, sonolência, dor de cabeça e náuseas. Mas o efeito
colateral mais nocivo é uma erupção cutânea, mencionada pelos pacientes em
seu estudo como a principal razão para a interrupção do tratamento . É evidente
que essa erupção cutânea pode ser perigosa em uma população pediátrica
(Freeman e Stoll, 1999; Lovell, 1999). Felizmente, Kusumakar e Yatham (1997)
demonstraram que essas erupções cutâneas podem ser reduzidas elevando lenta-
mente a dose de lamotrigina.
Alguns pacientes que tomam lítio há muitos anos desenvolvem problemas no
funcionamento renal. O tratamento típico para esse problema médico envolve
esteróides, que infelizmente desencadeiam a mania. Isso coloca os pacientes em
uma situação muito difícil. Entretanto, um achado positivo no uso de lamotrigina
é que ela aparentemente reduz a probabilidade de mania induzida por esteróides
em tais pacientes (Preda et al., 1999).
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TOPIRAMATO (TOPAMAX®)
Goldberg e Kocsis (1999) defenderam que sejam conduzidos mais estudos con-
trolados do topiramato anticonvulsivante (Topamax®), ainda outro agente
promissor que está se tornando mais prevalecente na prática clínica. Normann et
al. (1999) publicaram um estudo de caso ilustrando os evidentes efeitos anti-
maníacos do topiramato. Isso deve ser contrabalançado com achados tais como
aqueles apresentados por Martin et al. (1999), que advertiram que o topiramato
pode produzir mais efeitos colaterais neurocognitivos do que a lamotrigina.1
MEDICAÇÕES ANTICONVULSIVANTES E ANSIOLÍTICAS
Quando o paciente bipolar experimenta insônia e agitação, estão sendo am-
plamente usados os anticonvulsivantes clonazepam (Klonopin®) e lorazepam
(Ativan®). Eles não induzem à mania ou à ciclagem rápida da maneira que se sus-
peita com o alprazolam (Xanax®; Arana et al., 1985). O clonazepam e o lorazepam
são relativamente seguros e em geral bem tolerados pelos pacientes. Portanto, são
excelentes alternativas aos neurolépticos nos momentos em que os pacientes quei-
xam-se de não conseguirem relaxar ou descansar (Chouinard et al. , 1993; Edwards
et al., 1991; Post et al., 1998). Outras medicações, como Ambien ou uma dosagem
mais baixa de trazodona (Desyrel®), também podem ser usadas numa tentativa de
regular o sono dos pacientes sem condições de agüentar ciclos interrompidos
de sono que podem desencadear a mania. Obviamente, tais medicações devem
ser usadas com critério, e os pacientes devem ser instruídos a respeito das dife-
renças entre seus estabilizadores de humor (que não viciam) e suas drogas
ansiolíticas, que podem viciar.
Alguns princípios básicos que orientam o campo da farmacoterapia para o
transtorno bipolar estão expostos no Quadro 5.1. São diretrizes simples que po-
dem ajudar a nortear pacientes e terapeutas. Contudo, não devem ser usadas
isoladamente, mas sim em combinação com uma consulta com o psiquiatra.
QUESTÕES ESPECIAIS NA FARMACOTERAPIA DO
TRANSTORNO BIPOLAR
DESAFIOS DA CICLAGEM RÁPIDA
Quando o lítio começou ser amplamente difundido e ter seu uso padronizado
nos anos de 1970, clínicos e pesquisadores notaram que um subgrupo de pacientes
1 Existem muitas outras medicações, incluindo anticonvulsivantes recém-desenvolvidos,
antipsicóticos, bloqueadores do canal de cálcio e outros agentes cuja discussão vai além do escopo
deste livro sobre terapia cognitiva. Para uma revisão mais completa, o leitor interessado pode con-
sultar o relatório do Expert Consensus Guideline chamado de Medication Treatment of Bipolar
Disorder (Sachs et al., 2000).
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QUADRO 5.1 – Alguns princípios básicos da farmacoterapia para pacientes
com transtorno bipolar
1. Uso de um estabilizador de humor, principalmente lítio ou divalproex (Depakote®),
é recomendável em todas as fases do tratamento, inclusive para prevenção a longo prazo
de futuros episódios após a remissão dos sintomas.
2. O divalproex (Depakote®) isoladamente é preferível como um tratamento inicial para
pacientes com depressão ou mania com ciclagem rápida. Este é o estabilizador de humor
de primeira linha preferível para estados mistos, podendo ser melhor que o lítio para
pacientes com extensas histórias de episódios maníacos anteriores (Swann et al., 1999).
3. Para pacientes com hipomania, o uso de um único estabilizador de humor isoladamente
é razoável.
4. Se nem o lítio nem o divalproex isoladamente funcionarem, é adequado usá-los em
combinação como a próxima tentativa.
5. A carbamazepina (Tegretol®) lidera os estabilizadores de humor alternativos. Outros
estabilizadores de humor anticonvulsivantes comumente usados incluem a lamotrigina
(Lamictal®) e o topiramato (Topamax®).
6. Nos casos de depressão bipolar leve, o uso de um único estabilizador de humor é razoável.
7. Para pacientes com depressão grave, um antidepressivo padrão deve ser combinado com
lítio ou divalproex, sendo reduzido dentro de alguns meses após a remissão.
8. Com respeito ao anteriormente descrito, são preferíveis os inibidores seletivos da recaptação
de serotonina; assim como o bupropiona (Wellbutrin®) ou venlafaxina (Effexor®).
9. Medicações antipsicóticas atípicas, como a olanzapina (Zyprexa®) e a risperidona (Risperdal®),
são recomendadas como adicionais quando há sintomas psicóticos, podendo ser usadas como
adjuvantes no tratamento de pacientes com episódios não psicóticos. Outras medicaçõesantipsicóticas atípicas incluem a clozapina (Clorazil®) e a quetiapina (Seroquel®).
10. A eletroconvulsoterapia (ECT) é uma opção de tratamento inicial viável nos casos de
depressão grave ou psicótica e quando as medicações são contra-indicadas.
11. Para alívio a curto prazo da insônia e agitação que às vezes acompanham a mania, podem
ser prescritos sedativos até que o estabilizador de humor comece a fazer efeito. Tais
sedativos, inclusive as benzodiazepinas, como lorazepam (Ativan®), clonazepam
(Klonopin®) e outros, devem ser cuidadosamente monitorados ou evitados em pacientes
com história de abuso de substâncias.
12. Prescrever mais de três medicações pode se tornar problemático, pois tal polifarmácia
ultrapassa as diretrizes disponíveis da prática. Essa abordagem precisa ser bem definida
e justificada (Staab, 2000).
Obs.: Consultar também Sachs et al. (2000). Este Quadro fornece um resumo geral simples das práticas básicas na
farmacoterapia do transtorno bipolar. Não deve ser tomado como uma declaração abrangente, nem como um reflexo de
uma abordagem uniforme para todos os pacientes. Por exemplo, há algumas medicações de segunda e de terceira linha –
algumas mais pesquisadas que outras – que não estão listadas aqui. Além disso, não foi a intenção discutir as questões
pertinentes à dosagem, níveis sangüíneos ou período de clearance. Também, os efeitos colaterais podem diferir de paciente
para paciente. Consultar Sachs et al. (2000) para uma revisão mais extensiva desse importante tópico.
bipolares era consideravelmente menos responsivo a ele do que os outro. Dunner
e Fieve (1974), em um estudo altamente citado, observaram que esse subgrupo
consistia principalmente em pessoas que exibiam quatro ou mais episódios
afetivos por ano. Este se tornou o critério central para a designação de ciclagem
rápida. Prien et al. (1974) endossaram a asserção de Dunner e Fieve (1974) ao des-
cobrir que pacientes com ataques freqüentes de depressão e mania tendiam a não
apresentar bom desempenho na terapia de manutenção com lítio.
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Existem muitas hipóteses sobre a etiologia da ciclagem rápida. Entre elas,
estão fatores tão diversos como abuso de substâncias, história de trauma na ca-
beça e lesão cerebral (Krauthammer e Klerman, 1978) e histórias psicossociais e
psiquiátricas compatíveis com o transtorno da personalidade borderline (Dunner,
1999). Uma das distinções bioquímicas mais significativas entre os que não têm
ciclagem rápida e os que têm, porém, é que os últimos (especialmente pacientes
do sexo feminino) tendem a ter uma história de doença da tireóide ou uma sen-
sibilidade tireoidiana marcante ao tratamento com lítio (Dunner, 1999; Joffe et
al., 1988). Isso originou importantes desenvolvimentos no uso de tiroxina para
tratar a ciclagem rápida (Bauer e Whybrow, 1990). É interessante que Bauer et al.
(1999) ainda assim sustentaram que o lítio deve ser o tratamento de primeira
linha para o transtorno bipolar de ciclagem rápida, embora seus benefícios para
essa população demorem (talvez seis meses ou mais) para ocorrer e os pacien-
tes devam ser monitorados para o surgimento de hipotireoidismo (Dunner,
1999). Bauer et al. (1999) recomendaram que também é normal aqueles com
ciclagem rápida se beneficiarem da descontinuação de qualquer medicação
antidepressiva que possam estar tomando e da adição de um estabilizador de
humor para complementar o lítio ou de “terapias alternativas”, inclusive levo-
tiroxina de alta dose.
Dunner (1999) mencionou um ponto que é pertinente a este livro em especial:
um tratamento psicossocial como a terapia cognitiva é altamente desejável quando
o paciente experimenta a depressão, mas não pode tomar medicação
antidepressiva com segurança sem correr o risco de exacerbar a ciclagem. No en-
tanto, os terapeutas cognitivos – um grupo que evita o pensamento do tipo “tudo
ou nada” – argumentariam que os antidepressivos não deveriam ser descartados
completamente já que podem ser utilizados como uma alternativa intermediária,
que parece estar na forma da sertralina (Zoloft®) e paroxetina (Paxil®). Esses anti-
depressivos têm uma meia-vida curta, dando aos clínicos a oportunidade de
promover a descontinuação aos primeiros sinais prodrômicos de hipomania ou
mania (Dunner, 1999). Mas esta é uma estratégia de alto risco, sendo mais bem usa-
da quando todos os meios conservadores de farmacoterapia tiverem falhado e depois
de dar tempo suficiente para uma tentativa de ensinar aos pacientes uma varie-
dade de habilidades de auto-ajuda com a terapia cognitiva.
A eletroconvulsoterapia (ECT) também foi proposta como uma opção para
a ciclagem rápida resistente ao tratamento. Contudo, ela impõe algumas com-
plicações e o lítio tem de ser descontinuado antes de iniciar a ECT para prevenir
a neurotoxicidade (Small et al., 1980). Novamente, quando as opções de medi-
cação específica tiverem sido descartadas, podem-se utilizar drogas secundárias
(por exemplo, outros estabilizadores de humor) e a terapia cognitiva pode surgir
como uma parte especialmente importante do programa de tratamento. Deve-
se notar que a ECT é uma opção de tratamento somático quando as medicações
em geral são desaconselhadas, como quando uma pessoa com transtorno bipolar
está no primeiro trimestre de gravidez e decide eliminar toda a farmacoterapia
como precaução contra possível teratogenicidade (Schou, 1990). Como ilustra-
ram Chor et al. (1988), a terapia cognitiva pode ter um papel central no tratamento
de tais pacientes.
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