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* * BIOGRAFIA: 1896 – nasceu em Plymouth (Inglaterra) 1920 – formou-se em medicina/pediatria 1923 – Iniciou sua carreira profissional no Paddington Green Children`s Hospital de Londres; começou análise com James Strachey. Casou-se com uma artista plástica (Alice Taylor) 1927 – começou sua formação analítica pela Sociedade Britânica de Psicanálise. 1933 – submeteu-se a um segundo processo de análise com Joan Rivière (discípula de Melanie Klein) 1934 – concluiu sua formação como analista de adulto 1935 – Habilitou-se como analista de criança 1939 – Início da 2ª Guerra Mundial – consultor psiquiátrico do Governo, atendendo crianças separadas da família durante a evacuação de cidades sob ameaça de bombardeio. * * 1940/44 – começou supervisão com Klein 1945 – final do período das Controvérsias Freud-Klein: formaram três grupos: o anafreudismo; o kleinismo e o “Middle Group” (coordenado por Winnicott) 1049 – separou-se de Alice Taylor 1951 – Casou-se com Clare Britton 1956 – Tornou-se presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise 1965 – Foi eleito pela segunda vez presidente de tal sociedade psicanalítica 1971 – Morreu em Londres – decorrente de problemas cardíacos * * Teórico do desenvolvimento emocional do ser humano (estudava as precoces relações de objeto) Interessa-se pela influência decisiva do ambiente na determinação do psiquismo e menos pelos fenômenos de estruturação interna da subjetividade. O “bom funcionamento do laço” com a mãe é que permite a criança organizar o seu eu de maneira saudável. As falhas ambientais nas etapas iniciais do desenvolvimento são percebidas como a etiologia principal dos diferentes quadros psicopatológicos. Não aceitava a explicação freudiana da agressividade em termos de pulsão de morte. Reduzia o lugar do pai ao mínimo indispensável. * * Importância da relação mãe-bebê para o desenvolvimento emocional do ser humano desde os primórdios da vida Célebre aforismo (1964) – “O bebê não existe” O centro de gravidade do ser não se inicia com a criança, mas com a mônada mãe-bebê. “Não existe um bebê se não houver uma mãe e, consequentemente, não pode existir uma mãe sem um pai, ainda que no imaginário da mãe e referido, eventualmente, ao próprio pai da mãe. A mãe só poderá exercer a preocupação materna primária se houver um pai suficientemente bom”. * * Tendências inatas (integração e crescimento) + cuidados maternos (holding, handling, apresentação do objeto)= promove a constituição de um ego sadio da criança. A tarefa da mãe é oferecer um suporte adequado para que as condições inatas do bebê alcancem um desenvolvimento ótimo. Este cuidado que a mãe proporciona a seu filho não tem apenas implicações fisiológicas, destinadas a garantir a sobrevivência, mas também o ajuda a integrar os estímulos provenientes do exterior quanto a representação de si mesmo e dos demais, adquirindo um ego sadio (experiência de ser, continuidade existencial) As falhas ambientais são traduzidas em uma experiência subjetiva de ameaça que obstaculariza o desenvolvimento normal – construção de falso-self. * * DEPENDÊNCIA ABSOLUTA: Estado fusional do bebê com a mãe. “Preocupação materna primária” – estado psicológico especial que capacita a mãe a se identificar com as necessidades do bebê – sensibilidade especial em relação ao bebê. “Mãe suficientemente boa” - adapta-se quase perfeitamente às necessidades da criança; a mãe propicia o encontro do bebê com o objeto – objeto concebido subjetivamente – experiência de onipotência; fornece à criança a simplicidade e a monotonia necessárias para o going-on-being A mãe promove o momento de ser através do elemento feminino puro. Falhas maternas produzem angústias inomináveis (de aniquilação) que ameaçam a continuidade do ser. * * DEPENDÊNCIA RELATIVA: O apoio materno, que funciona como uma concha protetora, vai sendo gradualmente retirado. Desadaptação progressiva materna – promove a prova da realidade – objeto objetivamente percebido. O bebê vai ocupando um espaço separado dela e personalizado – surgem o “eu” e o “não-eu” e a afirmação “eu sou” – identidade como ser diferenciado da mãe e consciente de sua dependência em relação a ela. Momento de fazer possibilitado pelo elemento masculino puro. Surge o sentimento de ser real – é mais do que existir; é encontrar o caminho próprio de existir e de se relacionar consigo mesmo e com os demais; é ter um self para se recolher em momentos de relaxamento. * * INDEPEDÊNCIA PROGRESSIVA: Caminho em direção à independência, enfatizando que ela nunca é absoluta. O indivíduo sadio nunca vive isoladamente, mas se relaciona com o ambiente de tal modo que se pode dizer que ele e o ambiente se tornam interdependentes. Metáfora: quando um navegante se orienta por uma estrela, ele sabe que não irá alcançá-la, mas que tomará seu rumo em direção dela. Aquisição do senso social. * * Os objetos transionais constituem a “primeira posse não-eu” da criança - são uma espécie de ponte entre o mundo externo e o externo – está ligado à transição da dependência absoluta para a dependência relativa. O objeto transicional está situado em uma zona intermediária, na qual a criança se exercita na experimentação com objetos que, mesmo que estejam fora, sente como partes de si mesma. O conceito de objeto transicional recebe três usos diferentes: Etapa do desenvolvimento (tipo evolutivo) Nível defensivo – vinculado às angústias de separação e as defesas contra ela. Espaço dentro da mente do indivíduo * * A criança regula a distância entre ela e o objeto; diferentemente da relação com o seio: quando sente que não necessita dele, deixa-o de lado; quando necessita dele, reclama-o. Não é importante o objeto que está sendo utilizado, mas o uso que a criança faz dele. Habitualmente, é algo que a mãe coloca à disposição do bebê. Ele não pode ser substituído, lavado, trocado por outro semelhante, porque causaria ruptura da experiência de familiaridade e continuidade. O objeto transicional é tratado pela criança com muito amor, mas também com agressividade – é importante que o objeto sobreviva a destruição. Se houver afastamento de mãe além do tolerável pelo bebê, o objeto subjetivo, cuja existência depende da eficácia do objeto externo, perde o sentido. * * Com o processo de maturação, o objeto transicional será esquecido, não é perdido e nem pranteado, simplesmente cairá no limbo. O fenômeno ou o objeto transicional pode ter uma evolução patológica, expressa em três quadros: A fetichismo A adição O roubo Este processo deixa em todos nós uma marca: fica na mente do indivíduo um espaço que, assim como o objeto transicional, é intermediário entre o interno e o externo. Desenvolvem-se, neste espaço, muitas das atividades criativas do homem (arte, religião e viver imaginativo, assim como o trabalho criador científico), e também se produz o processo analítico * * Conceito de Self – não é o ego; é a pessoa que eu sou, que é somente eu; resultante das operações do processo maturativo + cuidados maternos. Self-nuclear – é o potencial herdado que está experimentando, ao seu modo e ritmo, uma realidade psíquica e um esquema corporal. A proteção desta experiência é dada pelos cuidados maternos que facilitam o going-on-being (sentido do ser e da experiência autêntica). Ainda em gestação, o feto já tem uma íntima singularidade chamada de self-nuclear, cujas potencialidades vão ou não se efetivar no período de desenvolvimento. Verdadeiro self - vai se efetivando indefinidamente, mantendo sempre um elemento incomunicado, algo como um santuário ecológico, sempre como uma reserva de potencialidades para os processos que vão do nascimento à morte com a singularidade daquele ser humano. * * Falso-self – invasões maternas intensas e reiteradas levam a construção de defesas do tipo falso-self que encapsulam o núcleo do verdadeiro self,, o qual renuncia as suas pulsões, em favor de uma adaptação “bem sucedida”. O indivíduo se desenvolve a partir da casca defensiva, com extrema submissão ao referencial alheio ao seu ser – surgindo angústias impensáveis (sensações de aniquilação, desintegração, fragmentação, perda da unidade psicossomática, perda do senso real e, até, a perda da capacidade de estabelecer relações objetais). Há uma gradação de matizes, na qual o falso self estaria presente, embora com diferentes níveis de implicação patológica: Casos mais próximos da saúde, o falso-self age como defesa do verdadeiro self, a quem protege sem substituir Casos mais graves,o falso self substitui o verdadeiro self e o indivíduo (assim como os que o rodeiam) acredita reconhecer o núcleo da pessoa, quando na realidade apenas conhece a “casca” com que se rodeou – traz sensação subjetiva de vazio, futilidade e irrealidade. * * 1) INTEGRAÇÃO E PERSONALIZAÇÃO: Integração: O bebê nasce em estado de não integração A integração é resultado da confluência de um processo maturativo (experiências pulsionais que reúnem a personalidade em um todo, a partir de dentro) e de cuidados maternos (holding, a partir de fora). Personalização: É a sensação de que o corpo aloja o verdadeiro self O sentimento de que a pessoa de alguém se encontra no próprio corpo (alcançando o esquema corporal – unidade psique-soma Alterações da integração e personalização: A desintegração e a despersonalização constituem uma regressão a estados precoces do desenvolvimento, que se expressam principalmente em transtornos psicóticos. Alguns adultos e crianças normais podem passar por estes estados em condição de fadiga extrema ou problemas emocionais intensos. * * 2) ADAPTAÇÃO À REALIDADE: Neste momento, o passo é obter uma relação ótima com o mundo externo O acoplamento entre a alucinação infantil e os elementos da realidade fornecidos pela mãe nunca poderá ser perfeito. O lactente poderá viver tal acoplamento como quase ótimo, graças a uma parte da psique humana denominada “mente”, que converte a falha do ambiente em um êxito, preenchendo o vazio entre a alucinação e a realidade – melhorando substantivamente suas relações com o mundo. 3) CRUELDADE PRIMITIVA (FASE DE PRÉ-INQUIETUDE) A criança tem uma cota inata de agressividade, que se exprime em condutas autodestrutivas ou condutas destrutivas dirigidas ao outro. A criança percebe a mãe como objeto total. Se a mãe lhe dá amor e reitera os cuidados, apesar da raiva que o bebê lança sobre ela, confirma que não apenas ela é um ser separado dele como também sobrevive a sua agressão. A criança aprende que as suas próprias pulsões não são tão danosas e pode, pouco a pouco, aceitar a responsabilidade que possui sobre elas. * * PSICOSE: Esta enfermidade está ligada à falha ambiental, em sua missão de possibilitar os processos de maturação, na fase de dependência absoluta. TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL: A inadaptação deste tipo de transtorno consiste em uma inadaptação originária do meio ambiente da criança, produzida em uma fase não precoce o suficiente para dar origem a uma psicose. Há uma lógica na atitude implícita de que o meio ambiente lhe deve algo. Esta tendência, longe de expressar pulsões agressivas e vingativas para com o meio ambiente frustrante, é uma manifestação de esperança de que este nota a falha e a corrija. PSICOPATIA: É um estado mais avançado do transtorno, no qual se produz um endurecimento das defesas diante do “desengano-total”. * * A regressão é o retorno a etapas muito primitivas do desenvolvimento emocional do ser humano. O espaço analítico convida o indivíduo à regressão por propiciar um ambiente de confiabilidade. Este espaço oferece uma segunda oportunidade para o desenvolvimento, outorgando a sustentação suficientemente boa (holding) que o indivíduo não teve na infância. Portanto, o analista deve estar na posição de uma mãe suficientemente boa. Neste enquadramento de análise, através da regressão, o indivíduo poderá expressar e superar as sensações decorrentes de “situações de fracasso ambiental” que foram vividas na primeira infância e que ficaram congeladas. O processo analítico promove a retomada do desenvolvimento, do ponto em que ficou congelado, em consequência da falha no meio ambiente. * * O paciente regressivo revive, como se fossem atuais, relações emocionais primitiva com a figura do analista. Os êxitos que o analista tiver, em se adaptar às necessidades regressivas do paciente, são aproveitados, por este, para retomar o desenvolvimento emocional que tinha sido interrompido. Os fracassos, por sua vez, servem para recuperar a vivência das más experiências originais. Quando verbalizadas as falhas do ambiente (analista) pelo paciente e admitidas pelo analista, permitirão que venha à luz a ira original. Quanto ao papel da família no tratamento dos doentes mentais – Winnicott optou por oferecer um suporte terapêutico à mãe de algumas crianças, para que elas corrigissem seus erros, ajudando os filhos a superar seus problemas. * * GOLSE, B. O desenvolvimento afetivo e intelectual da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. REVISTA VIVER MENTE & CÉREBRO. Coleção memória da psicanálise: Winnicott – os sentidos da realidade. Duetto Editoral, São Paulo. BLEICHMAR & BLEICHMAR. A Psicanálise depois de Freud. ARTMED, 1992.
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