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Canalopatias Associadas aos Canais de Cloro Fibrose Cística Evanildo Junior, Jefferson Medeiros, Maria Zilda e Ticiane Costa INTRODUÇÃO Relembrando a Biologia Celular; Canalopatia; Canais para Cloreto; Fibrose Cística Relembrando a Biologia Celular Algumas propriedades da Membrana Plasmática: Bicamada lipídica com interior hidrofóbico que dificulta a passagem de solutos hidrofílicos; Necessidade de túneis responsáveis pelo transporte de substâncias entre a célula e o meio extracelular. Transporte passivo pela membrana: Canais: seletivos (muitas vezes, bastante restritos a certos íons inorgânicos), apresentam mecanismos de gatting; Seletividade limitada quanto ao caráter hidrofílico do canal. Canalopatias Toda doença produzida por uma anomalia no funcionamento dos canais iônicos. Origens: Genética – afetando subunidades dos canais ou proteínas reguladoras desses canais; Adquirida – Drogas, anticorpos, outros. Canais para Cloreto Quantitativamente, o Cl- é o mais importante ânion do meio extracelular; Interfere na DDP elétrica da MP; Na regulação do pH e do volume intracelular; Pelos canais de cloreto também atravessam outros íons (Br- ;HCO3- ;NO3- e I-); A mutação de um canal de Cl-, como o CFTR, leva a disfunção da fisiologia de órgãos secretores. Fibrose Cística É uma doença genética: HEREDITÁRIA – transmitida de pai para filho; AUTOSSÔMICA – ocorre em um cromossomo que não determina o sexo do bebê; RECESSIVA – é necessário obter uma cópia do gene defeituoso do pai e da mãe. Alteração no cromossomo 7, que é responsável pela codificação da proteína CFTR – Regulador Transmenbrana da Fibrose Cística. Fibrose Cística – Características A mutação de um canal de Cl-(CFTR) leva à disfunção da fisiologia de órgãos secretores; Os canais de cloreto deixam de se abrir, mesmo sendo estimulado pelo cAMP; Secreções espessas, persistentes e desidratadas nas vias aéreas; Atinge os Sistemas Respiratório, Reprodutor e Digestório, além das glândulas sudoríparas. Fibrose Cística – Histórico da Doença Acomete, em maior proporção, a população branca; Proporção no mundo: Caucasiano – 1 doente em cada 700 a 6.500 recém-nascidos; Negros – 1 doente em cada 17.000 recém-nascidos; Asiáticos – 1 doente em cada 25.000 recém-nascidos; Brasil e EUA – 1 doente em cada 2.500 recém-nascidos; Perspectiva de vida: 1960 – sobrevida média de 10 anos; Atualmente – sobrevida média de 30 anos; Alguns casos – sobrevida média de 40 a 50 anos. O acometimento pulmonar é responsável por cerca de 95% das mortes precoces. FISIOPATOLOGIA Fisiopatologia da Fibrose Cística Epitélios secretores de líquido: Túbulo renal; Glândulas salivares; Trato gastrintestinal (TGI); Epitélio das vias aéreas; Separando o compartimento luminal do compartimento interno (perfundido por sangue); Lumen: onde ocorre/para onde ocorre o processo de secreção; Envolve o transporte de sódio e de cloreto. Fisiopatologia da Fibrose Cística Nas células do epitélio ciliado: Canais epiteliais de sódio; Bombas de Na+/K+ trifosfatase; Co-transportadores de Na+/ K+ /2Cl- Canais de cloreto na porção apical; “Regulador de condutância transmembrana da fibrose cística” (CFTR); Reabsorção passiva de íons cloreto e sódio; Importante nas vias aéreas e no trato gastrointestinal; Fisiopatologia da Fibrose Cística Perda da condutância dos canais CFTR (sintomas): Aumento de cloreto no suor; Íleo meconial; Funcionamento da CFTR Os canais de Na+ geralmente estão abertos, mas seu fluxo extensivo requer um fluxo de íons de carga oposta; Se canal CFTR está aberto, o Cl- torna-se o contra-íon e o NaCl flui através da membrana; A água então flui entre as células para manter a pressão osmótica; Resultado: fluxo de solução isotônica de NaCl do sangue para o lúmen (ou vice-versa). Fisiopatologia da Fibrose Cística Quando o CFRT perde a função: Lúmen altamente eletronegativo; Cessamento do transporte virtual; Lúmen com alto teor de sal. Fisiopatologia da Fibrose Cística Regulação do volume do líquido periciliar das vias aéreas: Realizada pelo transporte epitelial de sódio e cloreto; Com excesso de líquido: Ação dos canais de sódio e cloreto; Influxo de sódio, cloreto e água; Com redução do líquido: Inativação do canais de sódio; Secreção de cloreto. Fisiopatologia da Fibrose Cística Na fibrose cística... Bloqueio da secreção de cloreto; Acúmulo de cloreto e entrada de água e sódio no interior da célula; Desidratação da superfície celular; Muco espesso. Fisiopatologia da Fibrose Cística A proteína CFTR tem dupla função: Conduzir os íons cloreto; Regular os canais de sódio dos epitélios; Ausência do CFTR: Aumento da absorção de sódio; Falência da secreção de cloreto. Obs.: O Mensageiro para a ativação do CFRT é o AMPc. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Considerações Gerais As manifestações clínicas da fibrose cística derivam da disfunção da proteína CFTR, cuja principal função é agir como canal de cloro e na regulação do balanço entre íons e água através do epitélio em que se encontra. Fatores de Influência Diversos fatores influenciam nas manifestações clínicas: Tipo de mutação que originou a disfunção da proteína CFTR; Ambiente; Metabolismo; Idade. FC Clássica versus FC Atípica A Forma clássica da fibrose cística, na qual a função da CFTR está praticamente ausente, é caracterizada por um conjunto geral de sintomas relacionados aos seguintes quadros: insuficiência pancreática exócrina; doença sino-pulmonar crônica e progressiva; suor com elevada concentração de cloretos. A comumente chamada “fibrose cística atípica” apresenta manifestações sutis, muitas vezes únicas (pacientes monossintomáticos). Sítios da proteína CFTR A proteína (CFTR) é encontrada nas células epiteliais de diversos tecidos: Trato reprodutivo; ductos sudoríparos; fígado (ductos biliares); pâncreas exócrino; intestino; trato respiratório. Trato Reprodutivo Desenvolvimento prejudicado dos tecidos dos canais deferentes; Praticamente todos os homens com FC apresentam agenesia bilateral dos canais deferentes, de forma que a esterilidade está comumente presente mesmo nos casos atípicos da doença. Em mulheres observa-se o espessamento do muco cervical, geralmente acompanhado de alterações bioquímicas. Ductos das Glândulas Sudoríparas ”Infeliz da criança que, quando beijada na fronte, apresente sabor salgado. Ela está fadada a morrer precocemente”. (Antigo dizer folclórico norte-europeu). Má reabsorção dos cloretos: ”Suor salgado”, com alta concentração de sódio e cloretos, e depósitos de cristais de sal na pele; Sudorese excessiva: desidratação grave, podendo levar o paciente ao coma. Fígado (recém-nascido e lactente) Ductos biliares obstruídos: Estase intra-hepática; Hepatomegalia; Icterícia prolongada. Fígado (adulto) Ductos biliares obstruídos: Congestão do fígado: icterícia nos olhos, boca pastosa, problemas cutâneos; Esteatose hepática; Cirrose hepática; Maior probabilidade de ocorrerem cálculos biliares. Pâncreas Maior acidez da secreção pancreática e obstrução dos ductos exócrinos pancreáticos: Síndrome disabsortiva: fezes volumosas, oleosas e de forte odor; Comprometimento nutricional; Perda protéica e deficiência de vitaminas lipossolúveis: hipovitaminose A, D , E ou K; Diabetes relacionado à FC; Pancreatite aguda recorrente e pancreatite crônica. Intestino (recém-nascido e lactente) Espessamento do material fecal: Íleo meconial; Distensão abdominal; Vômitos biliosos. Intestino (adulto) Espessamento do material fecal: Obstrução fecal, completa ou incompleta, na região íleo-cecal; Constipação; Prolapso retal. Sistema Respiratório Hidratação da superfície celular comprometida – muco espesso. Pulmões praticamente normais ao nascimento; Ciclo de obstrução, infecção e inflamação após o nascimento: danos progressivos; Intensas respostas inflamatórias; Quadros virais com pior evolução clínica; Sistema Respiratório Obstrução nasal; Peso na face; Cefaleia; Síndrome de bronquiolite: sibilância e dispneia; Broncoespasmos; Pólipos nasais; Tosse; Com o tempo o escarro torna-se purulento, amarelado ou esverdeado; Hemoptise; Redução do apetite; Perda de peso; Lesões pulmonares permanentes; Comprometimento da troca de gases; Cor pulmonale Hipoxemia gradual; Óbito pela doença pulmonar crônica. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO Diagnóstico Manifestações Clínicas; Histórico Familiar; Exames de triagem: Dosagem da tripsina imunorreativa (IRT); Teste do suor: estimulação da produção de suor pela pilocarpina; Valores acima de 60 mEq/l confirmam o diagnóstico; Entre 60 mEq/l e 40 mEq/l é duvidoso; Valores abaixo de 40 mEq/l são normais. Diagnóstico – Outros Exames Teste do pezinho; Teste da secretina pancreosimina: quantifica a função pancreática exócrina; Dosagem da gordura fecal: avalia a má digestão e má absorção de gorduras; Detecção de enzimas nas fezes; Determinação de nitrogênio fecal; Detecção sérica de proteína associada à pancreatite; Dosagem sérica de triacilgliceróis. Tratamento Objetivo: adiar as manifestações clínicas recorrentes, como as infecções pulmonares, deficiências nutricionais e infertilidade; Fase experimental das técnicas de terapia genética; Custo médio é elevado, mas acesso garantido pelo SUS; Variedade de medicamentos e procedimentos, com inclusão de uma equipe multidisciplinar de profissionais; Acompanhamento familiar. Biogenética dos Medicamentos Influência de diversos fatores sobre a proteína CFTR desde a sua migração Retículo Endoplasmático –> Golgi –> Membrana Plasmática –, sua expressão gênica e a sua ativação por fosforilação; Assim, existem diversos possíveis alvos moleculares para o controle da ausência de efluxo epitelial de Cl- e diminuição do influxo de Na+: Reguladores da migração citoplasmática; Ativadores da expressão gênica; Moduladores da fosforilação; Inibidores de “stop codons”. Reguladores da Migração Citoplasmática Potencial uso como chaperones moleculares, aumentando a disponibilidade citoplasmática de CFTR. Devido a isso, o total de canais CFTR na membrana apical aumenta, aumentando efluxo de Cl-. Poliálcoois: glicerol, sorbitol e mio-inositol; Aminas: betaína e N–óxido de trimetilamina (TMAO); Solventes: dimetil sulfóxido – DMSO e D2O; “Deoxyspergualin” (DSG). Ativadores da Expressão Gênica Atuam causando uma “upregulation” do gene FC, aumentando os níveis de transcrição e levando a uma maior síntese da proteína CFTR. Essa maior quantidade levaria a um maior número de canais CFTR na membrana apical e aumentaria o efluxo de Cl-; Sódio 4 - fenilbutirato (4 – PBA). Moduladores da Fosforilação Atuam internamente em diversos pontos para afetar a fosforilação e a ativação do CFTR; Inibidores de fosfodiesterases (PDE): Substâncias que inibem essa enzima favorecem a fosforilação de CFTR, pois bloqueiam a degradação de AMPc, o qual ativa a PKA que fosforila esta proteína. Drogas: IBMX e CPX; Inibidores de fosfatase: Destaque para a isoflavona genisteína, um inibidor de tirosina cinase que é capaz de aumentar o efluxo de Cl- via CFTR em combinação com a foscolina; Nucleotídios trifosfatados como ativadores de outros canais de cloreto: Uma estratégia para aumentar o efluxo de cloreto seria estimular a abertura de outros canais de Cl-. Um canal que aparentemente responderia bem a essa técnica é o canal de retificação por saída de cloreto (ORCC). Inibidores de “Stop Codons” O uso de aminoglicosídios encobre os códons de parada na leitura pelo ribossomo, evitando o truncamento da proteína, a qual mesmo geneticamente anormal pode migrar pelo citoplasma e chegar à membrana plasmática, como no caso de CFTR.
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