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PEDALADAS FISCAIS
Pedalada fiscal e o nome dado à uma atividade que o governo teria usado para cumprir as suas metas fiscais, atrasando de forma proposital o repasse do dinheiro referente a bancos e públicos e privados, incluindo autarquias, ou seja instituições como o INSS. O objetivo do governo neste caso era melhorar artificialmente as contas federais do país.
Ao deixar de transferir o dinheiro, o governo apresentava todos os meses despesas menores do que elas deveriam ser de verdade e, assim, enganava o mercado financeiro e especialistas em contas públicas. Um exemplo claro dos fatos ocorreu por meio do sistema de distribuição dos benefícios sociais do governo federal. A população recebe esses benefícios em agências da Caixa Econômica Federal e o Governo Federal, por sua parte, tem um contrato com a Caixa Econômica que prevê o pagamento ao banco pelos custos operacionais destes serviços de distribuição. Como a população recebem este dinheiro dos programas sociais pela Caixa, o Governo Federal deve manter, junto a Caixa econômica federal uma conta com saldo positivo para que faça tais pagamentos. À medida que pagamentos são feitos, o governo deve automaticamente depositar mais dinheiro nessas contas, mantendo assim um saldo sempre positivo. Sendo assim historicamente, esse modelo funcionou corretamente. A despeito de breves débitos com a Caixa (que usualmente não duravam mais de um mês), o governo entre 2004 e 2012 manteve um saldo junto ao banco público. Porém, a partir de 2013 o governo passou a acumular várias dívidas em seu saldo com a Caixa Econômica Federal deixando a conta no vermelho. A questão é que quando o governo deixa de pagar a Caixa econômica por meio dos depósitos automáticos, os governantes estão inflando artificialmente o resultado primário do governo. Sendo assim, apesar do gasto social ter efetivamente ocorrido, ele ainda não saiu das contas do Governo Federal e sim da Caixa Econômica Federal. O governo federal somente saldou sua dívida de 2013 com a Caixa Econômica em janeiro de 2014, o resultado de 2013 ficou artificialmente quitado. Igualmente, o resultado do primeiro semestre de 2014, usado como referência para as eleições presidenciais, dando a impressão que a situação fiscal do governo era boa.
As pedaladas foram reveladas pelos jornais, no primeiro semestre de 2014, mas já aviam sido analisadas desde o começo de 2013. Em 2015, a nova equipe econômica admite que as pedaladas existiram e que elas começaram a ser corrigidas. No entanto, a discussão já deixou o campo econômico e foi para o campo político e judicial, nos quais as pedaladas são vistas como um possível crime de responsabilidade fiscal. A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe, que um banco público financie os gastos do governo que a administra. No caso da Caixa Econômica Federal, a entidade controladora é o Governo Federal. A ideia por trás desta proibição tem dois princípios. O primeiro é incentivar o governo a terem orçamentos mais racionalizados, com gastos primários financiados com receitas primárias, sem que haja dívidas deixadas para administrações futuras. O segundo é fruto da experiência inflacionária brasileira. Até 1984, uma das causas da alta inflação no Brasil era por que os governos estaduais e federal podiam financiar gastos por meio de bancos públicos. Depois desse financiamento, os bancos eram recapitalizados pelo Banco Central através de um mecanismo complicado chamado de conta movimento que na verdade significava que os políticos estaduais e federais poderiam produzir quantidades ilimitadas de moeda, gerando assim uma ampla inflação. Para que esta pratica não se ocorra mais, foi adotada uma lei chama Responsabilidade fiscal. O Tribunal de Contas da União entendeu que o atraso constante do governo em seu pagamento com a Caixa era equivalente a um financiamento de gastos públicos. Isso porque o governo acabou obrigando a Caixa a utilizar recursos próprios para arcar com obrigações que eram suas. A Caixa Econômica Federal deveria ser apenas uma entidade prestadora de serviços que usa de sua rede de agências para distribuir o dinheiro aos beneficiários. Mas, com esses longos e robustos atrasos, ela precisou usar receitas próprias para pagar em dia essas despesas primárias da União com gastos sociais. Esse ciclo é o que caracteriza o financiamento ilegal a pedalada fiscal. 
Quando as pedaladas fiscais foram reveladas, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu a abertura de uma investigação na equipe econômica do governo Dilma Rousseff. O Tribunal de Contas da União acatou e, entre os meses de outubro e dezembro de 2014, os auditores técnicos do TCU levantaram documentos, contratos e ordens de pagamentos do Tesouro Nacional, do Banco Central, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos ministérios da Fazenda, do Trabalho, do Desenvolvimento Social e das Cidades. Foram realizadas entrevistas com servidores de todas essas áreas.
Ao final, o relatório produzido pelos auditores do TCU comprovou as pedaladas fiscais. De fato, o Tesouro tinha transferido com atraso o dinheiro para bancos e autarquias. De posse do relatório técnico, o procurador do MP, Júlio Marcelo de Oliveira, produziu seu parecer concluindo que as pedaladas, agora comprovadas, constituíam crime de responsabilidade fiscal. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) proíbe que uma instituição financeira pública (como a Caixa) financie seu controlador (o Tesouro Nacional). Dentre todos os atrasos de dinheiro do Tesouro, o da Caixa foi o mais volumoso e o que caracterizou o crime fiscal, segundo o procurador. Como a Caixa continuou pagando as obrigações do governo, como o programa Bolsa Família e os benefícios do Seguro-Desemprego, ela precisou usar recursos próprios para honrar esses pagamentos. Ao fazer isso, a Caixa "financiou" o Tesouro.
Com o relatório técnico e o parecer do procurador, o caso das "pedaladas fiscais" foi a julgamento no Tribunal de Contas. A sessão, realizada em abril deste ano, terminou com a decisão, unânime, dos ministros do TCU pela condenação do governo. Foi decidido também que 17 autoridades do governo se expliquem e apresentem justificativas para as pedaladas.

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