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APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 3. Progressão: Definição: Fase em que há acúmulo de mutações adicionais (alterações genéticas) que levam a uma proliferação celular ainda mais desregulada, com características como: Crescimento autônomo Evasão de apoptose Invasão tecidual Angiogênese Metástase A célula passa a ser maligna e autossuficiente em sinais de crescimento. Alterações Moleculares da Carcinogênese: 1. Ativação de Oncogenes Oncogenes são formas mutadas ou superexpressas de proto-oncogenes que promovem crescimento celular. Exemplo: KRAS: ativa vias de sinalização mitogênicas (MAPK/ERK). MYC: regula transcrição de genes relacionados à proliferação e metabolismo. 2. Inativação de Genes Supressores Tumorais Esses genes normalmente inibem a proliferação celular ou promovem apoptose. Exemplo: TP53: "guardião do genoma", induz parada do ciclo celular ou apoptose em resposta a dano no DNA. RB (retinoblastoma): controla o ponto de restrição G1/S do ciclo celular. 3. Alterações em Genes Relacionados a Outros Mecanismos Apoptose: Mutação ou regulação negativa de genes como BAX, ou superexpressão de BCL-2, que inibe a morte celular. Angiogênese: Tumores estimulam VEGF (fator de crescimento endotelial vascular) para garantir suprimento sanguíneo. Imortalidade celular: Reativação da telomerase (hTERT) permite divisões ilimitadas. Resumo com exemplos: Iniciação Mutação inicial irreversível no DNA Radiação UV → mutação TP53 em câncer de pele; Promoção Estímulo proliferativo sem mutação Estrogênio estimulando mama com mutações; Progressão Acúmulo de mutações, malignidade Invasão da membrana basal em carcinoma. S11P1: CANCÊR DE PULMÃO Objetivos: Estudar a carcinogênese; Compreender a epidemiologia, etiologia, tipo histológico, do câncer de pulmão; Entender os fatores de risco, fisiopatologia e as manifestações clínicas, do câncer de pulmão; Elucidar as classificações, diagnóstico, complicações, rastreamento e prevenção do câncer de pulmão. 1. Carcinogênese A carcinogênese é o processo multietápico e multifatorial pelo qual células normais se transformam em células malignas. Essa transformação resulta de uma acumulação de mutações genéticas e alterações epigenéticas que conferem vantagens seletivas às células tumorais, promovendo seu crescimento descontrolado, resistência à morte celular e capacidade de invadir tecidos. Fases principais da carcinogênese: 1. Iniciação: Definição: Exposição a um agente carcinógeno (químico, físico ou biológico) que induz mutações permanentes no DNA de uma célula. Exemplos de agentes iniciadores: Químicos: Hidrocarbonetos policíclicos do tabaco. Físicos: Radiação ionizante e UV. Biológicos: Vírus oncogênicos como HPV (papilomavírus humano), EBV (vírus Epstein-Barr). Essas mutações, por si só, não são suficientes para formar câncer, mas tornam a célula mais suscetível a transformações subsequentes. 2. Promoção: Definição: Estímulo da proliferação das células iniciadas por agentes promotores (não mutagênicos), como hormônios ou mediadores inflamatórios (inflamação crônica). Importante: A promoção é reversível, depende da persistência do estímulo, e não envolve mutações genéticas adicionais. Exemplo clássico: Estrogênio promovendo crescimento de células com mutações em tecidos mamários. APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 2. Exposição Ocupacional Trabalhadores de determinadas indústrias estão em risco devido à exposição prolongada a agentes carcinógenos: Asbesto (amianto): Amplamente associado ao mesotelioma pleural, mas também ao carcinoma broncogênico. Risco aumenta exponencialmente quando associado ao tabagismo. Radônio: Gás radioativo natural encontrado em minas subterrâneas. Segunda maior causa de câncer de pulmão nos EUA. Arsênio, berílio, cromo, níquel: Exposições industriais ligadas ao aumento do risco de neoplasias pulmonares. 3. Poluição Atmosférica A poluição por partículas finas (PM2.5) tem sido associada ao aumento do risco de câncer de pulmão, principalmente em áreas urbanas densamente povoadas. Compostos como óxidos de nitrogênio, derivados de combustão de veículos e indústrias, têm potencial carcinogênico. 4. Predisposição Genética Embora menos comum, algumas pessoas possuem polimorfismos genéticos que aumentam a suscetibilidade ao câncer pulmonar, mesmo sem exposição intensa a fatores ambientais. Exemplo: variantes dos genes envolvidos na reparação do DNA ou no metabolismo de carcinógenos. 5. Radiação Radioterapia torácica prévia (como no tratamento de linfoma ou câncer de mama). Exposição ambiental a radiações ionizantes, incluindo acidentes nucleares. 6. Outros fatores de risco Infecções pulmonares de repetição (como tuberculose crônica). Doenças pulmonares crônicas: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Enfisema pulmonar Bronquite crônica Desequilíbrios nutricionais, como deficiência ou excesso de vitamina A. 2. Epidemiologia O câncer de pulmão é um dos tumores malignos mais comuns e letais no mundo todo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2024) e a Organização Mundial da Saúde (OMS): É o segundo tipo de câncer mais comum em incidência global, atrás apenas do câncer de mama. É o câncer mais letal no mundo, com cerca de 1,8 milhão de mortes por ano. A taxa de sobrevivência em 5 anos permanece baixa (cerca de 18%), principalmente porque a maioria dos casos é diagnosticada em estádios avançados. 🇧🇷 Dados no Brasil (INCA, 2024): Estimativa para 2024: mais de 32 mil novos casos por ano. Homens: é a primeira causa de morte por câncer. Mulheres: é a segunda causa de morte por câncer, perdendo apenas para o câncer de mama. Alta mortalidade associada ao diagnóstico tardio e à baixa eficácia terapêutica em estágios avançados. 3. Etiologia – Fatores de Risco para Câncer de Pulmão 1. Tabagismo – Principal fator Responsável por cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão. Contém mais de 60 substâncias carcinogênicas (ex.: benzeno, nitrosaminas, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos). Fatores associados: Duração e intensidade do hábito (número de maços/ano). Fumo passivo também é um fator de risco documentado. Importante: Mesmo após cessar o tabagismo, o risco permanece elevado por décadas, embora vá diminuindo progressivamente. APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 2. Carcinoma de Pequenas Células (CPC) (Small Cell Lung Carcinoma – SCLC) Representa cerca de 15% dos casos Origina-se das células neuroendócrinas dos brônquios. Altamente agressivo, com crescimento rápido e tendência precoce à metástase. Com frequência produz síndromes paraneoplásicas (ex.: SIADH, síndrome de Cushing ectópica). Histologia: células pequenas, com escasso citoplasma, cromatina granular, mitoses frequentes. Relação com fatores de risco: Quase exclusivamente associado ao tabagismo (>95% dos casos). Raramente ocorre em não fumantes. Considerações Finais A histologia influencia diretamente no tratamento: CPCNP: cirurgia, terapias-alvo (EGFR, ALK), imunoterapia. CPC: geralmente não operável, tratado com quimio e radioterapia sistêmicas. A detecção precoce, especialmente nos fumantes ou ex-fumantes, é crucial. Atualmente, recomenda- se rastreamento com TC de baixa dose para indivíduos de alto risco (ex.: ≥55 anos, ≥30 maços/ano de tabagismo). 4. Tipos Histológicos de Câncer de Pulmão O câncer de pulmão é dividido em dois grandes grupos principais, de acordo com critérios histopatológicos e terapêuticos: 1. Carcinoma de Não Pequenas Células (CPCNP) (Non-Small Cell Lung Carcinoma – NSCLC) Representa cerca de 85% dos casos Subtipos principais:a) Adenocarcinoma (~40–50% dos CPCNP) Mais comum em não fumantes e em mulheres. Origina-se das células epiteliais glandulares das vias aéreas periféricas. Fortemente associado a mutações em EGFR, ALK, KRAS, entre outras. Tende a crescer lentamente, mas pode metastatizar precocemente. Relação com fatores de risco: Poluição, predisposição genética, mutações espontâneas. Menor relação com tabaco comparado ao carcinoma escamoso. b) Carcinoma Epidermoide (ou Espinocelular, escamoso) (~25–30%) Altamente associado ao tabagismo. Surge frequentemente nos brônquios centrais. Histologicamente, apresenta ceratinização e pontes intercelulares. Pode formar cavitações e crescer localmente. Relação com fatores de risco: Tabagismo é o fator predominante. Também associado à exposição ocupacional (asbesto, cromo). c) Carcinoma de grandes células (~10–15%) Diagnóstico de exclusão: não se enquadra nas outras categorias. Tumor indiferenciado, agressivo, com crescimento rápido. Pode ocorrer em qualquer região do pulmão. APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 4. Mecanismos de Invasão e Metástase O câncer de pulmão pode invadir localmente estruturas como brônquios, vasos e pleura. Metástases ocorrem por: Via linfática → linfonodos hilares e mediastinais Via hematogênica → cérebro, fígado, ossos, adrenais 5. Relação com o Tabagismo A fumaça do cigarro contém mais de 60 agentes carcinógenos (como nitrosaminas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos). O fumo causa mutações diretamente nos genes supressores tumorais (ex.: TP53). Cessação do tabagismo reduz risco, mas alterações genéticas podem permanecer. 6. Fisiopatologia Clínica O crescimento tumoral obstrui vias aéreas, causando: Tosse persistente Hemoptise Dispneia Dor torácica Pode haver síndromes paraneoplásicas (ex.: hipercalcemia, SIADH, síndrome de Cushing ectópico). 7. Sinais e sintomas do câncer de pulmão Tosse persistente ou agravada (mais comum em fumantes): Devido à irritação brônquica provocada pelo tumor; Hemoptise (presença de sangue no escarro): Pode ocorrer por invasão tumoral dos vasos sanguíneos nas vias respiratórias.; Dor torácica: que pode ser constante ou se intensificar com a respiração profunda, tosse ou risos: Resulta do comprometimento da pleura ou da parede torácica; Rouquidão: Indicativa de comprometimento do nervo laríngeo recorrente esquerdo; Dispneia (falta de ar, frequentemente progressiva): Pode surgir por obstrução brônquica, derrame pleural ou acometimento pulmonar extenso; Infecções pulmonares recorrentes (como pneumonias ou bronquites): Devido à obstrução brônquica por massa tumoral, dificultando a drenagem adequada das vias aéreas. Perda de peso involuntária e inapetência: São sinais inespecíficos, comuns em neoplasias avançadas, associados a efeitos metabólicos sistêmicos do câncer; 5. Fisiopatologia do Câncer de Pulmão 1. Alterações Genéticas Iniciais: O câncer de pulmão tem início com mutações genéticas adquiridas, geralmente causadas por exposição prolongada a agentes carcinogênicos (ex.: fumo, radônio, poluentes ambientais, sílica, asbesto). As mutações ocorrem em genes reguladores do ciclo celular: Proto-oncogenes → se tornam oncogenes, promovendo proliferação anormal. Genes supressores tumorais (como TP53, RB) → perdem função, permitindo o crescimento descontrolado. Genes de reparo do DNA → sua inativação contribui para instabilidade genômica. 2. Estágios da Carcinogênese Pulmonar A carcinogênese é um processo multifásico e sequencial: a) Iniciação Exposição a agentes carcinógenos (ex.: benzo[a]pireno do cigarro) leva a mutações irreversíveis no DNA. Essas células ainda não se proliferam descontroladamente, mas estão "marcadas". b) Promoção Exposição contínua a carcinógenos age como estímulo para proliferação clonal das células iniciadas. A exposição sustentada e cumulativa é crucial nesta fase. c) Progressão As células sofrem novas mutações e adquirem agressividade, invasão tecidual e capacidade de metástase. Há aumento da angiogênese tumoral, evasão da resposta imune, ativação de telomerase, e perda de adesão celular. 3. Microambiente Tumoral no Pulmão Células tumorais liberam citocinas inflamatórias (ex.: IL-6, TNF-α), criando um ambiente pró-tumoral. Ocorre angiogênese induzida pelo VEGF, promovendo nutrição e crescimento tumoral. O tumor escapa da imunidade por meio da expressão de PD-L1, que inibe linfócitos T citotóxicos. APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 10. Complicações Metástases: Cérebro, ossos, fígado, glândulas adrenais. Obstrução brônquica: Leva a atelectasia e infecções pulmonares. Derrame pleural maligno. Síndromes paraneoplásicas. 11. Rastreamento O rastreamento com tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD) é recomendado para: Indivíduos entre 55 e 80 anos. História de tabagismo de 30 maços/ano ou mais. Fumantes atuais ou que cessaram o tabagismo nos últimos 15 anos. Esse rastreamento pode reduzir a mortalidade por câncer de pulmão em populações de alto risco. 12. Prevenção Primária: Cessação do tabagismo, controle da exposição a carcinógenos ambientais e ocupacionais. Secundária: Rastreamento com TCBD em populações de risco. Terciária: Tratamento adequado para prevenir complicações e recorrências. Fadiga e fraqueza generalizada: Relacionada ao estado inflamatório crônico e à perda de massa muscular. Sintomas menos comuns (indicativos de doença avançada): Edema facial ou cervical, devido à síndrome da veia cava superior; Dor óssea, indicando possível metástase; Alterações neurológicas, como cefaleia, tontura ou convulsões, sugerindo metástases cerebrais; Baqueteamento digital (hipocratismo digital), associado a tumores periféricos crônicos. Importante: Em muitos casos, os sintomas respiratórios são confundidos com doenças benignas, como DPOC ou infecções respiratórias, atrasando o diagnóstico. A persistência ou a piora dos sintomas deve motivar investigação mais aprofundada. 8. Classificações O estadiamento do câncer de pulmão é realizado pelo sistema TNM: T (Tumor): Tamanho e extensão do tumor primário. N (Nódulos linfáticos): Envolvimento de linfonodos regionais. M (Metástase): Presença de metástases à distância. Esse estadiamento é essencial para determinar o prognóstico e orientar o tratamento. Estadiamento TNM (Tumor, Linfonodo, Metástase): define prognóstico e tratamento. Gradação histológica: grau de diferenciação celular. 9. Diagnóstico História clínica e exame físico. Exames de imagem: Radiografia de tórax, tomografia computadorizada (TC), PET-CT. Citologia do escarro. Broncoscopia com biópsia. Biópsia por agulha guiada por TC. Análise molecular: Testes para mutações em genes como EGFR, ALK, ROS1, que podem orientar terapias-alvo.