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A POLUIÇÃO DA ÁGUA ERA TÃO SEVERA QUANTO A DO AR. HUGH MILLER RELATOU A CONTAMINAÇÃO DO RIO IRWELL POR tinturas de tecido, esgoto e outros resíduos, de modo que se assemelhava “consideravelmente menos a um rio do que a uma inundação de adubo líquido, em que toda a vida morre”. Os danos ambientais da fabricação de algodão iam muito além do local das próprias fábricas. O cultivo de algodão exigia o desmatamento e rapidamente esgotou o solo, uma das razões pelas quais nos Estados Unidos ele migrou (junto com a força de trabalho escrava) do litoral leste para o vale do Mississippi. A mine- ração de carvão poluía rios e deixava cicatrizes na paisagem. Aquela que é talvez a crítica mais famosa do sistema fabril – pelo menos a mais lembrada em nossa época – captou a espoliação da natureza em poucas palavras: a denúncia das “negras fábricas satânicas” que maculavam “o verde das montanhas” e as “pastagens agradáveis” da Inglaterra, em um verso escrito por William Blake em 1804 que fazia parte do prefácio de seu longo poema visionário Milton. Musicadas em 1916, com o título de “Jerusalém”, as palavras de Blake são hoje cantadas em todo o mundo de língua inglesa, tanto em igrejas como em estádios de futebol. FREEMAN, Joshua B. Mastodontes: a história da fábrica e a construção do mundo moderno. São Paulo: Todavia, 2019, arquivo digital sem paginação. Disponível em: https://www.google.com.br/books/ edition/Mastodontes/71-IDwAAQBAJ?hl=pt-BR&gbpv=1. Acesso em: 18 jul. 2024. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL METODOLOGIAS ATIVAS EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL A força da natureza nas máquinas A palavra “artesanato” é utilizada para defi nir o processo produtivo e ma- nual no qual uma pessoa, o artesão, domina todas as etapas da produção. O termo “manufatura”, por sua vez, caracteriza uma produção manual em que há divisão do trabalho e especialização das etapas. Na passagem para a Idade Moderna, a burguesia passou a organizar a produção em locais co- nhecidos como corporações de ofício, estas instituições marcaram tanto a sistematização quanto a segmentação do processo produtivo. No fi nal do século XVIII, por volta das décadas de 1770 e 1780, o artesanato e a manufatura deram lugar à maquinofatura, um processo que modifi cou completamente a forma e o tempo de produção, bem como as relações de trabalho. Dessas profundas transformações, desenvolveram-se novas confi gurações econômicas e sociais, que foram vivenciadas no nascimento da indústria e que pode- mos observar até hoje. Por se tratar de uma modifi cação tão intensa e que engloba diversos setores – econômico, político, social e cultural –, podemos falar em revolução, pois a transformação foi profunda e ampla. Nesse sentido, as inovações tecnológicas, ocorridas a partir do século XVIII, construíram um cenário revolucionário com a introdução das má- quinas. Essas mudanças deram início a um processo produtivo respon- sável por alterar, de maneira irreversível, a velocidade da produção e as relações de trabalho em todo o mundo. Portanto, a Revolução Industrial pode ser considerada uma revolução plena, pois consolidou o capitalismo e o poder burguês e, ao mesmo tempo, criou uma nova classe social, a dos trabalhadores fabris, chama- dos também de operários. William Hincks, Engravings illustrating the manufacture of linen in Ireland, 1783. Gravura. Biblioteca Britânica, Londres, Reino Unido. A imagem mos- tra as raízes da industrialização britâ- nica em uma produção ainda caseira, de base familiar: o desmantelamento das fi bras de algodão ou lã para a preparação da fi ação. William Hincks/BibliotecaBritân ci a Prisma/Universal Images/Fotoarena Interior de uma fábrica inglesa, fi nal do século XVIII. 66 História | 8o ano Como aconteceu a Revolução Industrial? Ao estudar qualquer processo revolucionário, precisamos entender como ele foi construído. Por isso, levantar os antecedentes da Revolução Industrial é essencial para compreendê-los com a devida importância e impac- tos. Iniciamos respondendo a duas perguntas: como a Revolução Industrial aconteceu? E por que ela ocorreu primeiro na Inglaterra? A ascensão burguesa e o acúmulo de capital Um dos principais antecedentes da industrialização foi o fortalecimento da burguesia. A Europa Ocidental, que durante séculos foi marcada pela fragmentação política do período medieval, assistiu ao surgimento da burguesia após o Renascimento Comercial. Depois, com a expansão das relações de comércio e o estabelecimento de im- portantes rotas comerciais em direção ao Oriente, o poder burguês foi sendo ampliado. No entanto, na Idade Mo- derna, o mercantilismo – política econômica vigente na época, por meio da qual os reis absolutistas controlavam a economia, ampliando os lucros do Estado – levou ao descontentamento dessa camada da sociedade. Portanto, foi esse processo de consolidação do poder político e econômico da burguesia que possibilitou o sur- gimento da indústria. Os acontecimentos políticos na Inglaterra do século XVII, vistos no capítulo anterior, evidenciam bem essa situação e demonstram como ela contribuiu também para o pioneirismo inglês na Revolução Industrial. O choque ocorrido na Inglaterra entre os monarcas e o Parlamento, no conjunto de revoluções que fi cou conhecido como Revolução Inglesa, e a solução dada pela Revolução Gloriosa, limitando a autoridade real, consolidaram o poder burguês, tanto político como econômico. Esses eventos possibilitaram a essa burguesia viabilizar os investimentos que levariam à industrialização. Em relação ao aspecto econômico, com a acumulação de metais preciosos e as vantagens econômicas, a In- glaterra, especialmente, pôde concentrar uma quantidade de riqueza que permitiu, do ponto de vista fi nanceiro, a Revolução Industrial. Dessa forma, verifi camos que outro fator importante foi o acúmulo de capital, isto é, o acúmulo de riquezas exploradas nas colônias americanas. A posse de colônias era uma atividade altamente lucrativa para as me- trópoles. A Inglaterra utilizou as práticas mercantilistas e explorou as riquezas do continente americano tanto diretamente, pelas suas próprias colônias, quanto indiretamente, por meio de acordos comerciais com outras metrópoles. Além disso, o país realizava o comércio de escravizados, que era bastante lucrativo. Essa situação intensifi cou as diferenças sociais entre a classe burguesa e a dos operários. Joseph Nash, The great industrial exhibition of 1851, c. 1851, Biblioteca do Congresso, Washington, DC, Estados Unidos. Pintura retratando a primeira exposição universal da indústria (Londres, em 1851), que evidencia a formação de uma sociedade com um novo sentido de civilização, com base na tecno- logia e no poder econômico da burguesia. Library of Congress, Washington 67 Capítulo 4 | Revolução Industrial 1 (Uece 2016) Relacione corretamente os fatos históricos com seus respectivos períodos, numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I. Coluna I Coluna II 1. Revolução Industrial ( ) Idade Média 2. Formação das monarquias nacionais ( ) Idade Moderna 3. Criação da democracia ( ) Idade Antiga 4. Reforma e Contrarreforma ( ) Idade Contemporânea A sequência correta, de cima para baixo, é: a. ( ) 3, 4, 2, 1. b. ( ) 1, 2, 4, 3. c. ( ) 4, 2, 1, 3. d. ( ) 2, 4, 3, 1. 2 Por que podemos considerar a Revolução Industrial como uma revolução burguesa? Aumento da produção agrícola A produção de algodão possibilitou o desenvolvimento da indústria têxtil, que marcou o início da industriali- zação inglesa. O cultivo de algodão nas terras das colônias americanas colaborou para que houvesse a matéria- -prima necessária ao desenvolvimento dessa atividade. Na Inglaterra, a criação de ovinos para a produção de lã também foi essencial para a industrialização do país. Para tanto, as terras comuns foram cercadas, devido à medida parlamentar conhecida por lei dos cercamentos. Com essa política, as áreas que antes eram de uso comum aos camponeses foram cercadas pela pequena no- breza rural, ampliando as áreas de cultivo dematéria-prima necessária à indústria e aumentando, consequente- mente, a produção agrícola. Tal medida demonstra a força da burguesia inglesa construída, principalmente, após as revoluções inglesas. Leia com atenção o trecho a seguir. Ele é a resposta de uma pergunta que deverá ser elaborada por você. Releia o capítulo e tire suas dúvidas antes de escrevê-la. A ascensão política da burguesia e a limitação do poder real viabilizaram os investimentos necessários para o surgimento da indústria. No mercantilismo, o monarca tinha o controle da economia e, na Inglaterra do século XVII, os movimentos políticos colocaram fi m a esse controle. Questão invertida Mão de obra disponível Os cercamentos também provocaram profundas mudanças sociais, pois, com essa política, grande parte dos trabalhadores do campo foi para as cidades em busca de emprego, o que levou a um intenso crescimento po- pulacional nesses locais. No entanto, como não havia trabalho para todos, esses trabalhadores se tornaram uma massa de desempregados. Esse fato favoreceu as primeiras indústrias, que contavam com uma grande quantidade de mão de obra dis- ponível. Diante disso, a burguesia industrial conseguia contratar os operários com baixíssimos salários, sendo as mulheres e as crianças uma grande parte deles, como veremos adiante. 3 Explique a relação entre as leis dos cercamentos e o aumento da população nas cidades inglesas. 4 A indústria têxtil foi a primeira a se desenvolver na Inglaterra na Revolução Industrial. Explique o porquê. L. Jewitt, Nugent. “Interior of Marshall’s Flax-Mill”. In: J.S. Fletcher. The Story of the English Towns. Londres: Society for Promoting Christian Knowledge, 1919, p. 78. Biblioteca Britânica, Londres Auguste Hervieu, The life and adventures of Michael Armstrong, the factory boy, 1876. Gravura. Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra. Trabalho infantil em fábrica de te- cidos na cidade de Manchester, na Inglaterra. Operárias trabalhando em fábrica de linho, em Leeds, na Inglaterra, 1843. 69 Capítulo 4 | Revolução Industrial Jazidas minerais de ferro e de carvão A Inglaterra possuía jazidas minerais, principalmen- te de carvão mineral, sufi cientes para que a indústria pudesse se desenvolver. O minério era encontrado lar- gamente no território inglês e ele é capaz de alcançar temperaturas superiores às do carvão vegetal. A queima de carvão mineral viabilizou a obtenção de ferro de maior qualidade, pois serviu como combus- tível para o funcionamento das máquinas que fabrica- vam o próprio ferro. Jazida: local no solo ou subsolo onde é possível encontrar um produto mineral ou fóssil com valor econômico. Máquina a vapor: uma revolução O desenvolvimento da maquinofatura atendeu o projeto da burguesia de aumentar a produtividade. Tal desenvolvimento também ocorreu diante das condi- ções favoráveis inglesas, entre elas, podemos destacar a abundância tanto de matéria-prima como de mão de obra, além das mudanças políticas e sociais oriundas da Revolução Inglesa, ocorrida no século anterior. National Trust, Northumberland, Reino Unido William Bell Scott, In the Nineteenth Century the Northumbrians show the World what can be done with Iron and Coal, 1861. Óleo sobre tela. Wallington, National Trust, Northumberland, Reino Unido. Ilustração representando crianças trabalhando em minas de carvão. 70 História | 8o ano Em meados do século XVIII, James Watt aperfeiçoou o sistema que deu origem ao motor a vapor – inventado por Thomas Newcomen, no início do século –, o que possibilitou a ampliação da atividade produtiva e relegou ao trabalhador o papel de controlar o funcionamento das máquinas. Watt conseguiu descobrir que, para melhorar seu funcionamento, era necessário elevar a temperatura do vapor, resfriando-o depois bruscamente durante a expansão. Acrescentou o condensador de vapor e outros artifícios destinados a melhorar o rendimento do motor. Depois dessas modificações, o resultado era muito semelhante ao do motor ainda hoje em uso [...]. Matemático, engenheiro e inventor escocês: James Watt. Página 3 Pedagogia & Comunicação. UOL Educação, 20 ago. 2005. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/biografi as/james-watt.htm. Acesso em: 16 ago. 2024. Com o tempo, as indústrias cresceram e as técnicas foram aprimoradas, em busca de uma maior produtividade e de um lucro mais expressivo. As máquinas a vapor e agrícolas, teares industriais e outros instru- mentos de trabalho substituíram os métodos artesanais de fabricação. Os barcos a vapor, as ferrovias e as locomotivas transportavam matéria-prima, produtos industrializados e pessoas, com maior rapidez, efi ciência e em menos tempo, ampliando os lucros da bur- guesia industrial. Nicolás Pérez/Escola Superior Técnica de Engenharia Industrial de Madri/Enciclopédia Livre Motor a vapor, de James Watt. Marzolino/Shutterstock.com 71 Capítulo 4 | Revolução Industrial The New York Public Library, Estados Unidos Ilja Enger Tsizikov/Dreamstime/Easypix Brasil Mike Robbins/Flickr Library of Congress, Washington George Walker, Robert Havell, Daniel Havell, The collier, 1814. Água-tinta. The New York Public Library, Nova York, Estados Unidos. Representação de um mineiro inglês e uma locomotiva ao fundo. Trem de alta velocidade em uma estação na cidade Locomotiva com turbina a vapor. alemã de Frankfurt em 2021. Autor desconhecido, The progress of the century – the lightning steam press, the electric telegraph, the locomo- tive, [and] the steamboat, c. 1876. Litografi a. Biblioteca do Congresso, Washington, DC, Estados Unidos. O desenvolvimento da indústria foi, de fato, revolucionário e deixou legados importantes para as sociedades atuais, visto que muitos produtos utilizados hoje têm origem naquela época. Esses objetos facilitaram nosso co- tidiano, ao possibilitarem a melhoria dos transportes e da comunicação, por exemplo. Em termos tecnológicos, uma das maiores mudanças provocadas pela Revolução Industrial foi a substituição da energia humana pela das máquinas. De todos os inventos da época, um dos que mais encantou e se fixou na memória das pessoas foi a ferrovia. Em um período em que as distâncias eram intransponíveis para a maioria da população e em que a visão de mundo ficava restrita às áreas mais próximas aos locais de nascimento, a chegada da ferrovia se transformou em um símbolo da capacidade inventiva dos seres humanos. Com ela, as distâncias foram encurtadas, as mercadorias transportadas de forma eficiente e o poderio econômico dos ingleses conquistou o mundo. Francisco M. P. Teixeira. Revolução Industrial Consequências da Revolução Industrial Apesar do grande desenvolvimento tecnológico – com a invenção de máquinas e ferramentas que facili- taram o cotidiano das pessoas – e de um considerável crescimento econômico, o processo da Revolução In- dustrial também se caracterizou pelo aumento dos pro- blemas sociais, como pobreza, violência e desigualdade. Além disso, a industrialização causou um grande prejuízo para a natureza, com altos níveis de poluição e degrada- ção dos recursos naturais. Antes das fábricas: o trabalho no campo Ainda no século XV, a maioria dos camponeses na Inglaterra era livre e economicamente autônoma. Antes da Revolução Industrial, grande parte dos in- gleses, por exemplo, se sustentava por meio da pro- dução comunitária, utilizando ferramentas manuais. Com essa produção era possível manter a família, e o excedente era comercializado. Somente em poucos casos havia empregados que viviam do recebimento de salários. A produção no campo se dava em um ritmo de trabalho mais fl exível, orientado pela natureza e pelas tradições da comunidade. De acordo com o historiador Edward Palmer Thompson, os camponeses estabeleciam horários para o trabalho, mas também reservavam partes da semana para o descanso e para outras ativi- dades, como ir à igreja. Já nessa época, as mulheres tinham de exercer dupla jornada: trabalhavam tanto no campo quanto na casa. Como estudamos, a situação dos trabalhadoresingleses mudou de modo considerável com a aplica- ção das leis de cercamentos, pois ela impossibilitou os camponeses de usar a terra, forçando-os a migrar para as cidades. Jornada: O trabalho nas fábricas Esse êxodo rural fez aumentar as populações das cidades inglesas onde existiam fábricas, como Londres, Liverpool e Manchester. Alguns autores indicam que a população de Londres cresceu aproximadamente cinco vezes entre 1780 e 1880. Com o aumento da população, também cresceram diversos problemas sociais, como a miséria e a violência. Se, na atualidade, depois de muitas reivindicações, os trabalhadores conquistaram vários direitos, naquela épo- ca, ainda não existiam leis trabalhistas. Por causa dessa situação, a vida dos trabalhadores das indústrias, espe- cialmente das mulheres e crianças, era muito difícil. Nas indústrias, ao contrário do que acontecia no campo, os trabalhadores não tinham controle sobre os meios de produção e não podiam regular o próprio ritmo de trabalho. Tal ritmo passou a ser controlado pela burguesia capitalista quando o trabalhador vendia a própria mão de obra. Havia supervisores responsáveis por realizar um controle rígido do tempo de trabalho. O ritmo era repetitivo e mecanizado, e os trabalhadores eram considerados apenas uma peça a mais nas engrenagens das unidades fabris. Os operários, normalmente, trabalhavam 12, 14 e, em certos casos, até 18 horas por dia, desempenhando, mui- tas vezes, uma carga de 80 horas de trabalho semanais. Caso eles não cumprissem os horários exigidos pelos proprietários das fábricas, poderiam ser castigados. O relógio, que era o instrumento utilizado para regular o ritmo de trabalho dos operários, tornou-se também um instrumento de prestígio social. [...] O pequeno instrumento que regulava os novos ritmos da vida industrial era ao mesmo tempo uma das mais urgentes dentre as novas necessidades que o capitalismo industrial exigia para impulsionar o seu avanço. Um relógio não era apenas útil; conferia prestígio ao seu dono, e um homem podia se dispor a fazer economia para comprar um. Havia várias fontes, várias oportunidades. Durante décadas, uma série de relógios bons, mas baratos passou das mãos do batedor de carteira para o receptador, a casa de penhores, a taverna. Até os trabalhadores, uma ou duas vezes na vida, podiam ter um ganho inesperado e gastá-lo comprando um relógio: a gratificação da milícia, os rendimentos da colheita ou os salários anuais do criado. Em algumas partes do país, fundaram-se Clubes do Relógio – para compras em prestações coletivas. Além disso, o relógio era o banco do pobre, o investimento das poupanças: nos tempos difíceis, podia ser vendido ou posto no prego. E. P. Thompson. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. Tradução de Rosaura Eichemberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 279. Strohmeyer & Wyman/Library of Congress, Washington Trabalho infantil em uma fábrica de salsichas nos Estados Unidos, em 1893. Além disso, mulheres e crianças também eram empregadas nas fábri- cas e viviam em um ritmo de trabalho muito pesado, em troca de péssi- mos salários. Era comum que as crianças trabalhassem no campo, porém o ritmo e as condições de trabalho nas fábricas eram piores. Não havia momentos para brincar ou frequentar escolas – o que só começou a acontecer entre o fi m do século XIX e o começo do XX. Durante a Revolução Industrial, muitas crianças viviam somente para o trabalho. A vida fora das fábricas Além da carga horária pesada, o salário pago aos operários não proporcionava um sustento adequado – em geral, eles não tinham boa alimentação e viviam em péssimas condições de moradia. O alto custo de alguns ali- mentos, por exemplo, o pão, fazia com que eles recorressem a outros mais baratos, como a batata. Dessa forma, sem uma alimentação adequada, a saúde dessas pessoas era bastante prejudicada. Os operários viviam em moradias sem conforto algum, perto das fábricas, geralmente em cortiços superlota- dos e insalubres. As moradias não contavam com água potável, nem com saneamento básico. Então havia muita sujeira e mau cheiro, que contribuíam para a proliferação de doenças entre os trabalhadores. Eles ainda tinham as condições de saúde comprometidas pela carga de trabalho desumana, por isso, muitas pessoas morriam antes dos 40 anos de idade. Cortiço: habitação coletiva de pessoas de baixa renda. Insalubre: sem condições adequadas de saúde. Proliferação: algo que se espalha, se multiplica. 6 Leia a afirmação sobre o contexto da Revolução Industrial e as condições de vida dos trabalhadores na- quele período: Com o trabalho nas fábricas, diferentemente do que acontecia no campo, os operários puderam melhorar suas condições de vida. A negociação direta com os industriais, sem leis trabalhistas e burocracias, permitiu aos trabalhadores receber mais e ter mais tempo livre. Os modos de vida e de consumo também foram alterados com a Revolução In- dustrial. A criação de mercadorias com base em novas técnicas despertava, na po- pulação, interesse por esses produtos, o que levou a uma mudança nos hábitos de consumo. Quando houve uma leve melhoria nas condições de trabalho, os trabalha- dores, que também eram consumidores, compravam, com seus ainda baixos salários, os produtos que eles próprios produziam. A industrialização e o aumento do con- sumo fi zeram surgir um outro problema: a degradação do meio ambiente. Isso por- que as fábricas tornaram-se grandes po- luidoras quando passaram a lançar detri- tos orgânicos e inorgânicos na natureza. As consequências da poluição da água, do solo e do ar são duradouras e se inten- sifi caram ao longo dos anos de tal forma que, ainda hoje, é possível sentir os seus efeitos. Desse modo, pode-se dizer que a Revolução Industrial não trouxe conse- quências negativas apenas para os seres humanos, mas também para a natureza Desde a Revolução Industrial, diversas cidades têm sofrido as consequências de processos de industrialização que não se preocupam com o meio ambiente, nem com um crescimento urbano planejado e sustentável. Na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, o Rio Tâmisa passou a ser conhecido como “O Grande Mau Cheiro”, por causa do alto nível de poluição. No Brasil, podemos citar dois grandes crimes ambientais, envolvendo empresas de mineração. Em 2015, o rompimento de barragens de rejeitos na cidade de Mariana (MG) deixou 19 pessoas mortas e centenas de desabrigados. O Rio Doce, que vai até o litoral do Espírito Santo, se tornou, com os rejeitos de minérios, um mar de lama. Dessa forma, boa parte da natu- reza foi destruída, com árvores e animais mortos. Em 25 de janeiro de 2019, um novo crime ambiental afetou o estado de Minas Gerais, dessa vez, na cidade de Brumadinho. O rom- pimento de uma barragem de rejeitos matou 267 pessoas e deixou 3 desaparecidos. Houve um rastro de destruição da natureza, incluindo o Rio Paraopeba, que se tornou um “rio morto”, segundo pesquisadores. A partir do texto acima, refl ita, junto com seus colegas, sobre o que leva as mineradoras de grande porte a não se preocuparem com o meio ambiente e, consequentemente, com as comuni- dades que ali estão inseridas. Refl exão 8 Leia o texto a seguir: [...] O trabalhador “médio’’ permaneceu muito próximo a um nível de mera subsistência, numa época em que se via rodeado por evidências acerca do aumento da riqueza nacional, transparentemente gerada, em boa parte, pelo seu trabalho, um fruto que passava, por vias igualmente transparentes, para as mãos dos seus patrões. Em termos psicológicos, esta situação equivalia a um declínio no padrão de vida. Sua participação nos “benefícios do progresso econômico” consistiu num maior número de batatas, em algumas roupas de algodão para sua família, sabão e velas, um pouco de chá e açúcar [...]. E. P. Thompson. A formação da classe operária inglesa: a maldição de Adão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. v. 2. p. 184. (Ofi cinas da história). Agora, responda:a) Os trabalhadores conseguiam, de fato, usufruir do que eles produziam? Justifi que sua resposta. b) Cite exemplos que mostrem como eram as condições de vida e moradia dos trabalhadores durante a Revo-