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Foto: Ivan CONTROLE QUANDO A SOLUÇÃO ESTÁ NA PRÓPRIA NATUREZATexto: Rose Lane César Arte: Alexandre Esteves Neves A agricultura brasileira é fortemente trole registrados no Brasil, enquanto tóxico. Daí o interesse de pesquisa- dependente do uso de defensivos hoje existem 44, quase o dobro, e dores em estudar plantas e animais e químicos e aplica, por ano, cerca de somente no ano de 2013 foram regis- suas interações. 260 mil toneladas de agroquímicos trados dez novos produtos. Nesta edição vamos conhecer nas lavouras. No entanto, uma maior Bettiol estima que a comerciali- alguns exemplos desses trabalhos, conscientização sobre a preservação zação desses produtos poderá chegar a como os que procuram controlar dos recursos naturais e a crescente cerca de do mercado de agro- vespas, percevejos, besouros, lagartas busca por alimentos mais saudá- tóxicos em 2020, no Brasil. Mais e ácaros, algumas das pragas presentes veis têm incentivado a adoção do otimista, o Ministério da Agricultura, em diferentes culturas no Brasil, como controle biológico de doenças, pragas Pecuária e Abastecimento (Mapa) nos plantios florestais, na soja, no e plantas daninhas. Entre as vantagens tem esse índice como meta para 2015. milho e na produção de hortaliças. dessa prática estão a produção com "Para atingir essa parcela, porém, E os resultados estão extrapolando o custos mais baixos, a diminuição dos um longo caminho deverá ser percor- campo e atingindo também os centros impactos ambientais, o aumento da rido, especialmente no desenvolvi- urbanos, como é o caso do controle do segurança alimentar e a menor expo- mento de produtos com características mosquito Aedes aegypti, transmissor sição dos trabalhadores rurais a subs- que viabilizem seu uso comercial em da dengue. tâncias tóxicas. maiores escalas", explica o pesqui- No entanto, todos os pesquisa- Atualmente o mercado brasileiro sador, que afirma ainda ser possível dores são unânimes em afirmar que a de biopesticidas ou dos agentes de reduzir em até 60% a aplicação de tecnologia por si só não é a chave para biocontrole gira em torno de apenas I agrotóxicos, realizando-se o manejo a questão. É necessário um trabalho a 2 % do total de agrotóxicos comer- ecológico adequado. conjunto da pesquisa, da extensão cializados. Segundo Wagner Bettiol, De grande importância para a rural e do produtor, que deve estar pesquisador da Embrapa Meio agricultura sustentável, os inimigos atento à sua lavoura e utilizar práticas Ambiente, em 2011, havia somente 26 naturais podem substituir ou reduzir sustentáveis como o Manejo Integrado produtos à base de agentes de biocon- a necessidade de utilização de agro- de Pragas. » TIPOS DE CONTROLE BIOLÓGICO APLICADOS A PRAGAS Os agentes de controle biológico natural (conservação) - trata-se de aplicado (multiplicação) preceitua podem ser parasitoides (vespas), uma população de inimigos que ocorre a liberação de agentes após a criação Foto: Fernando Hercos Valicente/Embrapa predadores (joaninhas e ácaros) ou naturalmente, por isso, basta conservá- massal em laboratório, visando reduzir entomopatógenos (fungos, bacté- -la e manipular ambiente de forma rapidamente a população da praga rias e nematoides), sendo que a favorável para preservar seu habitat e para seu nível de equilíbrio. escolha depende da praga que se quer fontes de alimentação. combater. Após a definição do melhor inimigo natural, é hora de escolher clássico (introdução) medida de a melhor forma de aplicar. Além do controle a longo prazo que se refere à controle biológico natural, existem importação e colonização de agentes, procedimentos básicos de controle liberados em pequeno número por uma biológico (CB), são eles: ou mais vezes no mesmo local.SUSTENTABILIDADE PEQUENOS INSETOS QUE DEVASTAM FLORESTAS Por Katia Pichelli sário conhecer melhor o inseto, saber ladas árvores já atacadas. nematoide como monitorar e detectar sua presença se multiplica no interior da árvore. Um inseto de I a 3 cm de compri- além, é claro, do explica. A Quando uma fêmea do nematoide, mento seria capaz de matar árvores de aplicação de produtos químicos não era já acasalada, encontra uma larva do até 25 metros de altura? Pode parecer viável economicamente nem susten- inseto, penetra nesta larva e libera uma cena improvável, mas determi- tável do ponto de vista ambiental. centenas de nematoides juvenis, que nados insetos são pragas com poten- Pesquisas realizadas na Austrália por sua vez se dirigem para o aparelho cial devastador, destruindo centenas de apontavam um nematoide e três parasi- reprodutor de machos e fêmeas, este- hectares de plantios florestais. A vespa- toides como possíveis inimigos naturais rilizando as fêmeas. Dessa forma, uma -da-madeira (Sirex noctilio), natural da vespa-da-madeira, mas era neces- fêmea parasitada vai fazer posturas da Europa, Ásia e Norte da África, foi sário testar sua adaptação e efetivi- de ovos inférteis, que podem conter registrada pela primeira vez no País dade para as condições brasileiras. A até 200 nematoides em seu interior. em 1988 e rapidamente se instalou Embrapa Florestas trabalhou, então, além da fêmea não se repro- em plantios de pínus na região Sul, em estreita parceria com a Organi- duzir mais, também vai ajudar a causando grandes prejuízos. zação de Pesquisa da Comunidade disseminar o nematoide para outras desafio da pesquisa era entender Científica e Industrial (CSIRO) da árvores e até para outros locais, auxi- a ecologia da praga, seus hábitos, Austrália, o Departamento de Agri- liando na efetividade do forma de ação para, então, propor cultura dos Estados Unidos (USDA explica a pesquisadora Susete Chiarello uma forma de controle. "Como é uma Forest Service), e CABI, da Inglaterra. Penteado, da Embrapa Florestas. praga exótica, a vespa-da-madeira Se a pequena vespa pode acabar Atualmente, o nematoide é o prin- foi introduzida sem seu complexo com um plantio inteiro de pínus, por cipal agente de controle da praga, com de inimigos naturais, portanto, sua vez o microscópico nematoide eficiência média de 70%, podendo trabalho de pesquisa foi realizado em Deladenus (=Beddingia) siricidi- chegar a 100% em algumas regiões. diversas frentes, afirma o pesquisador cola conseguiu se mostrar eficiente inimigo natural, Ibalia leucospoides, Edson Tadeu Iede, do Laboratório de no controle do inseto. Por meio de um que foi introduzido no Brasil junto Fotos: Francisco Santana/Embrapa Entomologia Florestal da Embrapa preparo à base de gelatina onde são com seu hospedeiro, apresenta uma Florestas (Curitiba, PR). "Era neces- colocados os nematoides, são inocu- eficiência média de 25% e auxilia no 44 XXI Ciência para a vidacontrole da praga. As espécies Rhyssa para estudar as melhores formas de novo surto da praga". sucesso do persuasoria e Megarhyssa nortoni, ação, o que culminou com a criação do programa brasileiro hoje é modelo introduzidas da Tasmânia, reproduzidas Fundo Nacional de Controle da Vespa- para outros países e garantiu ao País em laboratório e liberadas em áreas -da-madeira (Funcema), que subsidiou, protagonismo em discussões interna- atacadas pela praga, ainda não apresen- com áreas de estudo e recursos finan- cionais sobre a vespa-da-madeira, com taram resultados efetivos no combate ceiros, o desenvolvimento de pesquisas. a Embrapa Florestas sendo considerada à vespa-da-madeira, embora estudos A junção de controle bioló- pelo Comitê de Sanidade Vegetal do ainda estejam sendo feitos. gico, uso de árvores-armadilha para Cone Sul (COSAVE), como centro de detecção precoce da praga, melhorias referência para os países do Cone Sul MANEJO PARA PREVENÇÃO no manejo e um amplo programa de no monitoramento e controle da praga. Além do controle biológico com transferência de tecnologia junto a nematoide, resultados de pesquisa essas empresas e demais produtores PERCEVEJO-BRONZEADO indicam que a principal forma de de pínus atingidos pela praga, resultou Se para a vespa-da-madeira o caminho prevenção da praga é a adoção de um no sucesso do controle da vespa-da- para o controle já está traçado e sendo rigoroso manejo florestal. Grande parte -madeira no Brasil. Em 2012, foram aplicado, no que se refere a uma praga dos plantios atacados quando a praga distribuídas cerca de cinco mil doses de eucalipto o caminho está apenas chegou ao Brasil foram implantados do nematoide em mais de 500 mil começando. percevejo-bronzeado com um número restrito de espé- hectares de plantios, que estão hoje (Thaumastocoris peregrinus) foi detec- cies e com alta densidade de plantas, com a praga sob controle. tado pela primeira vez no Brasil em utilizando-se regimes inadequados de Segundo Carlos Mendes, secre- 2008. É um inseto sugador que, com manejo florestal. tário-executivo da Associação Parana- sua alimentação, reduz a capacidade de Essas características proporcio- ense das Empresas de Base Florestal a árvore realizar fotossíntese. Depen- naram as condições ideais para o esta- (APRE), "na maioria das regiões dendo da densidade populacional, pode belecimento da praga, pois a vespa- de ocorrência, a vespa é uma praga desfolhar de forma parcial ou total a -da-madeira é uma praga oportunista controlada, mas monitoramento árvore, com a possibilidade de levá-la que ataca árvores estressadas e a má constante e os cuidados silvicultu- à morte. As folhas ficam com aspecto condução dos plantios é a situação rais com a floresta fazem parte dos bronzeado e, progressivamente, ideal para seu ataque. Quando a praga trabalhos das empresas em campo. sintoma afeta toda a copa. foi detectada no Brasil, empresas de É preciso estar ciente de que a falta Os mesmos passos dados para a base florestal se uniram à Embrapa dessas atividades pode levar a um vespa também são necessários para esta Copa amarelada, respingos de resina no tronco e orifícios de emergência dos adultos são os principais sintomas que comprovam que a árvore está atacada. A fêmea da vespa-da-madeira, depois de fecundada, deposita ovos no tronco da árvore adulta. Junto com os ovos, são colocados uma muco-secreção e um fungo, o Amylostereum areolatum, que serve de alimento para as larvas durante seu desenvol- vimento no interior do tronco. Tanto o muco quanto o fungo são tóxicos e provocam a morte da planta. Além disso, o fungo se espalha pelo interior da árvore, causando seu apodrecimento. Já a larva da vespa constrói galerias para alcançar o fungo, o que inutiliza comercialmente a madeira. Após o estágio de larva, que dura cerca de dez meses, a vespa passa para o estágio de pupa, já perto da casca da árvore. Ali ela completa o seu desenvolvimento e constrói um orifício para sair do tronco. 45SUSTENTABILIDADE DO FIO DE OURO Uma outra praga de impacto econômico em plantios florestais é o pulgão-gigante-do-pínus. Hoje já com o controle bioló- gico definido e aplicado com sucesso, o estudo desta praga trouxe uma nova forma de pesquisar insetos: a técnica conhe- cida como monitoramento eletrônico EPG (Electrical Penetration Graph), que analisa o comportamento alimentar de insetos sugadores e, com isso, pode fornecer pistas sobre sua sistemática de ataque às plantas. trabalho é feito dentro de uma gaiola Faraday, para isolamento elétrico. Com auxílio de uma lupa, fios de ouro são colo- cados no dorso dos insetos e conectados a um aparelho que faz a leitura dos eletrodos. Os insetos são colocados em folhas ou ramos do seu hospedeiro, que podem ser diversas espécies de plantas, e o aparelho vai fazer a leitura. Essa leitura é transferida para um computador que transforma a informação em "ondas", as quais são previamente determinadas para cada grupo de inseto sugador. Por exemplo, há uma onda específica para quando o inseto está somente inserindo o estilete na planta (como se estivesse provando o alimento), outra quando atinge o floema (que é quando efetivamente suga a seiva). Também são registrados o tempo de duração de cada procedimento. A técnica tem sido amplamente utilizada para estudar o comportamento de insetos sugadores, com distintos propósitos, como em hospedeiros resistentes, com a finalidade de localizar os fatores de resistência; nas avaliações das alterações do comportamento devido a determinados componentes da planta; em avaliações da ação de inseticidas e em estudos de corre- lação entre o comportamento dos pulgões e os mecanismos de transmissão de vírus. Essas informações subsidiam novas pesquisas com o objetivo de entender a diferença entre as espécies cultivadas e que ações podem ser tomadas para evitar a praga, como por exemplo, o melhoramento genético, clonagem ou mesmo alterações na forma de manejar os cultivos. praga: conhecer sua dinâmica, forma com sucesso no Laboratório de Entomo- erva-mate (Hedypathes betulinus), um de ação, controle biológico e manejo logia da Embrapa Florestas. "A viabi- fungo entomopatogênico, que causa integrado. Em 2012 foi introduzido o lização da multiplicação massal deste danos somente a insetos, foi a solução parasitoide Cleruchoides noackae, uma inimigo natural em laboratório é uma encontrada. O Beauveria bassiana vespinha inimiga natural do percevejo- das chaves para o controle da praga. deu origem ao inseticida biológico -bronzeado. trabalho é cooperativo e Em paralelo, estamos também estu- Bovemax®, um óleo que, quando apli- faz parte do Programa de Proteção de dando métodos para liberação do cado nas plantas de erva-mate, conta- Pragas Florestais PROTEF, do Instituto parasitoide em campo e avaliando mina os adultos da praga, que morrem de Pesquisa e Estudos Florestais, IPEF, sua dispersão e informa o após cerca de um mês. com a participação da Universidade pesquisador Leonardo Barbosa. "Até Para chegar à formulação final, Estadual Paulista/UNESP (campus o momento já liberamos o parasitoide foram realizados bioensaios para Botucatu), Esalq/USP, Embrapa em mais de empresas e também já seleção do isolado do fungo mais Florestas e Embrapa Meio Ambiente. enviamos para o Instituto Nacional de promissor para o controle. Em seguida, Assim como o percevejo-bronzeado Investigação Agropecuária (INIA), no testes em campo avaliaram a eficácia é uma praga nova e precisa ser conhe- Uruguai", completa o pesquisador. deste isolado, bem como as dife- cida, também é necessário entender Um nematoide para a vespa-da- rentes formulações e concentrações melhor os aspectos biológicos do para- -madeira, uma vespinha para o perce- adequadas para o controle do inseto. sitoide, uma espécie também desco- vejo- bronzeado. A diversidade de As estratégias de aplicação (forma e nhecida. Um dos desafios é a criação agentes utilizados no controle bioló- quantidade) também passaram pelo massal desse inimigo natural em labora- gico é grande. Para a principal praga crivo dos pesquisadores da Embrapa tório, com a definição de protocolos de da erva-mate, o besouro-corintiano, Florestas e da empresa parceira neste trabalho. Esta tarefa tem sido realizada também conhecido como broca-da- projeto, a Novozymes. 46 XXI Ciência para a vidaMANTENHA INIMIGOS POR PERTO! Por Paula Rodrigues o controle químico, a partir do uso gico natural ou conservativo mostrou- de agrotóxicos seletivos, capazes de -se uma boa opção para o manejo desta A preservação de populações de afetar o inseto-praga sem, entretanto, praga do morango. inimigos naturais no campo é uma comprometer a sobrevivência dos "Como a população de inimigos das principais estratégias de controle inimigos naturais ou impactar negativa- naturais ocorre espontaneamente, biológico de ácaros-praga no cultivo mente o ambiente. sugere-se a utilização de estraté- do morangueiro. Assim, a estratégia Uma pesquisa conduzida pela gias que promovam a sobrevivência e de promover condições ideais para Embrapa Hortaliças aponta o uso melhor desempenho dos ácaros preda- o desempenho dos inimigos naturais excessivo de acaricidas sintéticos não dores no campo", assinala o ento- preexistentes no campo assegura que seletivos em cultivos de morango no mologista Miguel Michereff Filho. a população da praga fique aquém dos Distrito Federal. Com isso, os ácaros Dessa forma, com o manejo adequado níveis de dano econômico. benéficos da família Phytoseiidae, o agricultor cria condições ideais ao O produtor rural Cloilton Brahin, predadores do ácaro-praga Tetranychus desenvolvimento dos ácaros predadores da Coopgrande Cooperativa Agrí- urticae, também denominado ácaro- que irão regular a população do ácaro- cola de Campo Grande (MS), optou -rajado, têm os níveis populacionais -rajado e mantê-la abaixo dos níveis de pela adoção do controle biológico em reduzidos, dando margem para maior dano econômico. » cultivo de hortaliças. "Quando o agri- disseminação da praga nas lavouras. cultor utiliza o produto químico em Devido aos surtos populacio- excesso, a praga pode adquirir resis- nais, que podem reduzir em até 80% Foto: SXC tência. Neste caso, o controle biológico a produção de morangos, o ácaro- acaba sendo uma alternativa bastante -rajado é tido como praga-chave da eficiente", observa. cultura, principalmente no período Contudo, para assegurar a efici- seco, compreendido entre os meses ência do método, é preciso conci- de junho e agosto. Ele injeta toxinas liar o monitoramento das lavouras na planta, causando manchas nas com o controle preventivo, a fim de folhas e reduzindo a capacidade saber qual inimigo natural deve ser de fotossíntese, o que ocasiona utilizado. "A escolha do agente de enfraquecimento e queda controle biológico varia em virtude da prematura da folhagem. praga que se quer combater e, antes Em áreas de sistema de liberá-lo no ambiente, é preciso convencional foi obser- averiguar se não haverá impactos, vada a incidência de por isso a importância de consultar duas espécies de órgãos de extensão rural ou institutos ácaros-predadores, de assinala o entomologista sendo o dobro de Alexandre Pinho de Moura, pesqui- espécies encon- sador da Embrapa Hortaliças. tradas sob cultivo O controle biológico integra as orgânico. Assim, alternativas de controle previstas no independente- Manejo Integrado de Pragas (MIP) mente do sistema e, para que seja eficiente, é preciso de produção, o considerar sua compatibilização com controle bioló- 47SUSTENTABILIDADE Foto: SXC INFORMAÇÃO ÉA SOLUÇÃO PARA CONTROLE DO PERCEVEJO NA SOJA Por Carina Gomes maiores cooperativas agrícolas brasileiras, mostrou que é preciso retomar com urgência Preocupada com o crescimento dos casos as práticas de Manejo Integrado de Pragas. de resistência de percevejos a inseticidas na De acordo com o pesquisador Samuel Roggia, cultura da soja, a Embrapa Soja (Londrina, um dos autores do estudo, é cada vez mais PR) vem desenvolvendo pesquisas para comum se deparar com situações como densi- compreender as práticas de manejo de praga dades elevadas de percevejos, resistência a em campo. "Têm sido cada vez mais comuns inseticidas, falhas de controle e desequilíbrio relatos de 5, 6 e até 7 aplicações para o ambiental, fatores que potencializam o ataque controle de percevejos em soja, o que nos de outras pragas como ácaros e lagartas que mostra uma situação preocupante do ponto atacam vagens. de vista ambiental e econômico. Há um certo O estudo contemplou 189 lavouras de agri- descontrole, mas, por outro lado, há muita cultores, onde se testou o controle de percevejos informação disponível para se reverter esse de acordo com o programa de Manejo Integrado quadro", explica a entomologista Clara Beatriz de Pragas (MIP), comparando-o com o sistema Hoffmann Campo. de controle utilizado pelos produtores e com Uma pesquisa inédita, desenvolvida em uma área testemunha sem controle da praga. O áreas de produtores da Coamo, uma das estudo foi desenvolvido no contexto de novos 48 XXI Ciência para a vidae modernos sistemas produtivos de tores em todo o Brasil e, em especial, correto das aplicações, explica Roggia. soja, e a maior parte das unidades foi indica o baixo uso de técnicas de moni- É preciso retomar a consciência de implantada em áreas com cultivares de toramento das lavouras para a tomada que o monitoramento das lavouras é soja de hábito de crescimento inde- de explica Samuel Roggia, subsídio básico para as decisões de terminado (72,75%), de ciclo precoce pesquisador da Embrapa Soja. "Estas controle", acrescenta. (51,3%) e semiprecoce (27,8%), nos aplicações realizadas preventivamente, estados do Paraná, Mato Grosso do Sul antes do surgimento das primeiras SITUAÇÃO COMPARÁVEL À DÉCADA e Santa Catarina, abrangendo regiões vagens, não resultaram em benefícios DE 1980 com diferentes pressões populacionais para a produtividade ou qualidade dos O estudo procurou levantar dados em da praga. grãos, e não reduzem a intensidade de lavouras comerciais, em áreas abran- Ao comparar o sistema adotado ataque da praga na fase crítica da soja gentes e com diferentes pressões popu- pelo produtor e as áreas conduzidas ao dano por percevejos", acrescenta lacionais de percevejo, que compro- segundo as estratégias do MIP, cons- o pesquisador. varam a importância de se aplicar tatou-se que o número médio de apli- "Além da eliminação precoce dos as técnicas de Manejo Integrado de cações de inseticidas foi aproximada- inimigos naturais, a aplicação antes Praga, por meio das quais o País já foi mente duas vezes menor nas áreas que do período crítico eleva o custo de exemplo na década de 1980. Naquele seguiram o MIP, ou seja, menos da produção e favorece o desenvolvi- período, as médias de aplicações foram metade do que foi utilizado habitual- mento de populações de percevejos reduzidas de cinco para duas por safra. mente pelo produtor. De modo geral, o resistentes, pois os mesmos prin- Contudo, recentemente houve uma sistema do produtor usou de 1,3 a 7,8 cípios ativos são aplicados nova- redução substancial na adoção do MIP- vezes mais aplicações de inseticidas mente em outras fases da cultura", -Soja. Em consequência, o número de do que seria necessário a partir das explica Daniel Ricardo Sosa-Gomez, aplicações voltou a atingir a média de recomendações do MIP, que usa o pano da Embrapa Soja. manejo inade- quatro a seis aplicações por safra, e já de batida como ferramenta de monito- quado traz também outros problemas, não é tão incomum encontrar casos de ramento. "É importante destacar que, como surtos de pragas que antes sete aplicações ou mais. com a utilização do MIP é possível eram consideradas secundárias, um trabalho técnico-científico reduzir o uso de inseticidas sem perdas como lagartas e ácaros. Estudos têm que validou, de maneira definitiva, de produtividade e qualidade da mostrado que nas áreas onde se faz o dúvidas sobre os parâmetros fixados produção. É uma situação comparável MIP, os riscos de ocorrência, assim pela pesquisa visando à aplicação no aos resultados obtidos há 35 anos, antes como a intensidade, de ataques de manejo de percevejos na cultura da soja da implantação do MIP no Brasil", pragas secundárias são reduzidos. no Brasil", avalia Joaquim Mariano explica a pesquisadora Beatriz Spal- momento correto para a aplicação Costa, chefe da fazenda experimental ding Corrêa-Ferreira. foi outro ponto analisado na pesquisa. da Coamo Agroindustrial Cooperativa. estudo constatou também os acompanhamento das lavouras estudo comprovou que o MIP- malefícios de uma prática muito mostrou situações em que as aplica- -Soja é viável para os modernos comum no campo: a aplicação preven- ções foram realizadas muito cedo, ou sistemas produtivos de soja. MIP- tiva de inseticidas. Nas áreas que não seja, com níveis abaixo do nível de -Soja protege a lavoura de perdas seguiram o MIP, 64,4% das aplica- controle ou em períodos não críticos ao causadas por pragas, utilizando inse- ções para percevejo foram realizadas ataque e que, em muitas vezes, acabou ticidas de forma racional, com menor de forma preventiva, sendo, 29,8% se deixando de fazer o controle mais risco de contaminação do agricultor, delas realizadas antes do aparecimento tarde, quando a soja está na fase repro- alimentos e ambiente. Além disso, das primeiras vagens, portanto fora do dutiva, quando a planta é mais susce- a preservação de inimigos naturais período crítico para o dano do perce- tível aos danos da praga. "Os resul- presentes na lavoura reduz os riscos de vejo. "Esta situação reflete práticas tados reforçam a necessidade de uso ocorrência de surtos de pragas como atualmente adotadas por muitos sojicul- das amostragens para o posicionamento ácaros e lagartas que atacam vagens. 49SUSTENTABILIDADE Foto: Fernando Hercos Valicente Embrapa BACULOVÍRUS CONTROLA COM EFICÁCIA A Por Guilherme Viana é disponibilizar a tecnologia em às folhas das culturas, aumentando a mil hectares de milho no País em eficiência desse revela. O método de produção em larga escala um período de cinco anos. O uso do Uma das grandes vantagens do de bionseticida desenvolvido pela biopesticida à base de Baculovirus é Baculovírus, segundo o pesquisador Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, ideal para ser usado em culturas Bt e Fernando Hercos Valicente, do Núcleo MG) do Baculovirus spodoptera (sigla em áreas de refúgio. de Biologia Aplicada da Embrapa comercial 'SfNPV'), tipo de vírus que De acordo com Bittar, um dos desa- Milho e Sorgo, é a segurança que controla com eficácia a lagarta-do- fios para a produção comercial do Bacu- o produto proporciona tanto para o -cartucho, uma das principais pragas lovírus é o desenvolvimento de uma homem quanto para a natureza, já que da cultura do milho, será explorado formulação que ofereça proteção ultra- pode reduzir drasticamente o uso de comercialmente pelo Grupo Vitae violeta ao bioinseticida, de forma que inseticidas, que chega a aplicações Rural, empresa mineira especializada ele possa ser aplicado em qualquer hora durante o ciclo da cultura em algumas no desenvolvimento de produtos home- do dia nas lavouras de milho. "Devemos regiões do Brasil. opáticos para o agronegócio intensificar esforços também no desenvol- O bioinseticida age especifica- Segundo o empresário Paulo vimento de propriedades que permitam mente contra a lagarta-do-cartucho, Bittar, do Grupo Vitae Rural, a meta que o bioinseticida tenha maior aderência preservando outros insetos na lavoura. 50 XXI Ciência para a vidaLaboratório de Micologia de Invertebrados (LMI), da Embrapa Recursos Gené- Baculovírus contamina a lagarta ticos e Biotecnologia, realiza pesquisas que contribuem para desenvolvimento de por via oral, quando ela ingere as produtos à base de fungos, os chamados micoinseticidas, destinados ao controle folhas da planta que foram pulve- de insetos-praga. Nos últimos anos a indústria de micoinseticidas cresceu e passou rizadas pelo produto, provocando a ocupar alguns nichos de mercado, como é caso do fungo Metarhizium aniso- sua morte em até oito dias após a pliae utilizado em lavouras de cana-de-açúcar para controle de cigarrinhas. ingestão", afirma o pesquisador. Avanços na qualidade desses produtos não têm ocorrido em ritmo que atenda às expectativas dos produtores rurais. Aspectos industriais pós-produção CENÁRIO explicam, em parte, a variabililidade dos resultados de campo e a ainda limitada A lagarta-do-cartucho (Spodoptera inserção mercadológica. Dentre esses fatores, destacam-se os processos de frugiperda) é uma das principais pragas extração e secagem de ingredientes ativos, formulações, métodos de empacota- do milho no Brasil, podendo reduzir mento para aumento do tempo de estocagem sob condições tropicais, metodo- a produção de grãos em mais de 50%. logias para avaliação da qualidade dos ingredientes ativos produzidos, além de No início ela apenas raspa a folha, mas, estratégias de liberação dos patógenos em campo visando maior contato com quando desenvolvida, perfura a folha, alvo e persistência no ambiente. danificando-a por completo e destruindo o Para pesquisador Marcos Faria, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecno- cartucho (caule da planta). O inseto ataca logia, "sem pesquisas desta natureza, atualmente conduzidas no LMI, a partici- a planta desde sua emergência, cortando- pação dos micoinseticidas no mercado de agrotóxicos poderá ficar comprome- -a rente ao solo, até a fase produtiva, tida nos anos vindouros". destruindo as espigas em formação. O período crítico é o próximo ao floresci- mento. No milho, ocorre tanto nos cultivos de verão como nos de segunda safra. HELICOVERPA ARMIGERA Em relação à mais nova ameaça à agri- Larvas ingerem Bt cultura brasileira, que tem surpreendido produtores e pesquisadores pelo seu poder de destruição, causando prejuízos, principalmente, às lavouras de milho, soja e algodão, a Embrapa identificou 2_A toxina se une a receptores cepas eficientes de Baculovírus e de do intestino, a larva deixa de se Infográfico: Alexandre Esteves Embrapa http://mbio.asm.org Bt. O pesquisador Fernando Hercos alimentar e perde a mobilidade Valicente, da Embrapa Milho e Sorgo, é um dos responsáveis pela pesquisa. "Fizemos coletas da H. armigera em Luís Eduardo Magalhães e identifi- 3_0 intestino se rompe e os esporos camos isolados de Baculovírus que penetram no corpo do inseto estão sendo multiplicados em lagartas sadias da criação artificial. Encontramos também quatro cepas da nossa coleção de Bacillus thuringiensis que contro- larva morre de septicemia e os laram eficientemente essa praga. No esporos germinam no corpo do inseto momento, estamos na fase de identifi- cação de meio básico para a produção de revela Valicente. 51SUSTENTABILIDADE MENSAGENS ALIADAS Por Marita Cardillo e Fernanda Diniz Pesquisadores da Embrapa têm se debruçado sobre o estudo de diferentes Outra linha de pesquisa, diferente do insetos-praga mariposas do milho, controle biológico, mas também forte broca-do-fruto-do-cupuaçu, coleópteros aliada do manejo e controle de pragas de algodão e percevejos que atacam e doenças, tem sua base na Ecologia culturas como arroz, algodão, milho, Química, ciência voltada ao estudo feijão e soja. Reproduzem em labora- de substâncias os chamados semio- tório as condições encontradas na natu- químicos mediadoras da interação reza, extraem feromônios de interesse entre plantas, insetos e patógenos. e os colocam em armadilhas que vão Esses organismos trocam mensagens ajudar a controlar os insetos-praga. químicas entre si, gerando reações As pesquisas conduzidas no labo- como a atração e repulsão. ratório de Semioquímicos da Embrapa No caso de indivíduos da mesma Recursos Genéticos e Biotecnologia espécie, essa comunicação se expressa geraram um produto comercial do fero- através de substâncias químicas deno- mônio sexual do percevejo Euschistus minadas feromônios, que podem ser heros, em fase de comercialização, que usados para demarcar território, avisar irá auxiliar produtores a combater essa sobre a presença de um inimigo, praga nas plantações de soja, que causa detectar alimentos e encontrar o atrofia nos grãos, diminuindo seu valor parceiro para acasalar. A comunicação de mercado. química nos insetos é primordial para "As armadilhas feromonais o sucesso do acasalamento, mas outros funcionam como um método eficiente meios de comunicação também são e limpo de monitoramento da popu- explorados por estes como a comuni- lação de percevejos no campo. A ideia cação vibracional e visual. é que o produtor coloque as armadilhas Através da observação dessas inte- nas culturas e faça inspeções sema- rações é possível avaliar o comporta- nais em busca de percevejos. Sempre mento de determinado inseto-praga e que o número de insetos nas armadi- identificar o feromônio liberado que, lhas alcançar uma quantidade predeter- transportado pela atmosfera, ao ser minada a aplicação de inseticida será detectado, por exemplo, por outro indi- recomendada, aumentando a efetividade víduo da mesma espécie é usado por do controle e diminuindo o número este para encontrar o parceiro sexual, de aplicações de pesticidas", afirma o Foto: Cláudio Bezerra/Embrapa ao mesmo tempo também pode ser pesquisador Miguel Borges, da Embrapa detectado por seus inimigos naturais. Recursos Genéticos e Bioteconologia. XXI Ciência para a vidaALÉM DOS LABORATÓRIOS Por Marita Cardillo Nas lavouras, o trabalho é também de convencimento. produto de controle biológico age de forma diferente se comparado ao controle químico. Nesse último caso, se o produtor aplica em um dia, no outro Segundo ele, os semioquímicos ocupam já vê, por exemplo, lagartas mortas. No caso do controle biológico, hoje cerca de 30% do mercado de biopesticidas primeiro a lagarta para de comer e, portanto, não age mais nocivamente no mundo, perdendo apenas para os inseti- sobre a planta, mesmo que se apresente ainda viva no dia seguinte, até cidas bacterianos e os botânicos. No Brasil, morrer. preciso diz a pesquisadora Rose Monnerat. o mercado de semioquímicos está em franca A hora da aplicação também deve ser observada. Os raios ultravio- expansão, com mais de 15 produtos registrados letas podem fazer com que a ação do produto de controle biológico e outros em fase de registro. seja reduzida, pela sensibilidade da toxina ao sol. Como as lagartas, Novos resultados de sucesso nos laborató- por exemplo, continuam comendo durante a noite, a chance de elas rios e ensaios da Embrapa, segundo Borges, ingerirem um produto com sua ação maximizada se torna maior, caso estão em fase de patenteamento pela equipe a aplicação tenha sido feita a partir das 16 horas. De qualquer forma, do laboratório de Semioquímicos, como os avanços da nanotecnologia já preveem o encapsulamento da toxina, feromônios que controlam o cascudinho da de modo que ela fique protegida dos raios do sol. cama de frango (Alphitobius diaperinus) e Há casos de insetos resistentes às toxinas produzidas por microrga- a broca-do-mogno (Hypsipyla grandella), nismos do controle biológico, o que faz com que o monitoramento praga que tira o sono de cientistas e produ- da sua eficiência seja um trabalho constante. No caso do controle do tores de todo o mundo. Aedes aegypti, a bactéria que mata a larva do mosquito tem quatro Os semioquímicos proporcionam a redução toxinas que agem de forma sinérgica. Os produtos à base desta de aplicação de inseticidas, permitindo um bactéria estão sendo usados desde a década de 1990 e não foi ainda melhor equilíbrio ambiental no sistema agrí- detectada população resistente, nem mesmo em laboratório. Veja cola. Os pesquisadores lembram trabalhos que matéria "Eficiência também no meio contemplam a manipulação do comportamento Rose conta o caso de uma ação de combate ao mosquito trans- dos insetos benéficos. É o caso das vespinhas missor da malária em tanques de piscicultura. A Embrapa optou pelo que parasitam os ovos de percevejos e mari- produto líquido. concorrente, pela sua forma granulada. Os granu- posas, por exemplo. Em outra vertente, esses lados foram ingeridos por patos e não pelos mosquitos, que, sim, semioquímicos podem agir indiretamente e eram o alvo. Outro caso ocorreu na Alemanha. Precisava-se combater beneficamente sobre as abelhas, importantes mosquitos que se instalavam na borda de rios, rodeada por árvores. agentes de polinização. A opção de veículo para aplicação do produto de controle biológico O tema tem sido amplamente debatido na era o avião. risco de o produto em sua forma líquida não chegar ao programação de pesquisa da Empresa. Recen- solo, por causa da evaporação, foi considerado. A saída foi congelar temente, foi proposta a organização de um o produto. A bactéria chegou ao solo em cubos de gelo, que, mais portfólio de projetos em Ecologia Química. pesados, foram direto ao chão. Mais tarde derretidos, permitiram a A ideia é identificar novas substâncias deri- ação do microrganismo. vadas de insetos, patógenos, plantas, animais São casos que mostram que o sucesso da pesquisa depende de obser- e microrganismos para uso no manejo inte- vações que vão muito além dos laboratórios. grado de pragas e na defesa de uma agricul- tura mais sustentável. » 53SUSTENTABILIDADE EFICIÊNCIA TAMBÉM NO MEIO URBANO Por Marita Cardillo e Fernanda Diniz coleção é respeitável e atende a outras bianas da Embrapa Recursos Genéticos vertentes do controle biológico. Pesqui- e Biotecnologia estão contribuindo para Se a eficiência do controle biológico sadores vêm se dedicando à busca fazer da Unidade referência na coleta, de pragas e doenças, como alterna- de novos produtos para o combate a isolamento, caracterização e estocagem tiva ou em associação a outras formas lagartas, em parceria com o Instituto de vírus, fungos e bactérias destinados de manejo, se comprova nas lavouras, Mato-Grossense do Algodão (IMA), e ao controle de insetos-praga da agricul- o mesmo ocorre nas áreas urbanas. à identificação e ao patenteamento de tura e vetores de doenças (saiba mais na Bioinseticidas lançados pela Embrapa genes produtores de proteínas tóxicas a matéria sobre microrganismos, também em parceria com a Bthek Biotecno- lepidópteros (borboletas e mariposas) nesta edição da XXI Ciência para a logia, do Distrito Federal, prometem e a coleópteros (besouros). Outro foco vida). São, ao todo, contando as cepas combater agentes transmissores de de pesquisas, de acordo com Rose de microrganismos existentes nos vários doenças como malária ou dengue, e Monnerat, está dirigido ao controle do bancos da Unidade, 2.500 estirpes de foram testados com sucesso em alguns vetor do greening, que afeta os citros, bactérias, 1.500 de fungos e 70 de vírus municípios brasileiros. em parceria com outras Unidades da que formam apenas a coleção de agentes O mais recente é o inseticida bioló- Empresa. São apenas exemplos de um de controle biológico. gico "Fim da Picada", cujo alvo são os trabalho amplo. borrachudos, responsáveis por picadas O Banco e outras coleções micro- doloridas e por alergias em humanos e animais, inclusive nos de interesse para a agropecuária, como ovinos e bovinos. Ainda não está no mercado. Lançados antes dele, já são comercia- Foto:Thinkstock/Embrapa lizados o Sphaerus SC, para controle do mosquito da malária, e o Bt-horus, eficaz contra o mosquito da dengue. Um terceiro, o "Ponto.Final", foi lançado em 2008 e soma-se aos agentes de controle de lagartas que atacam culturas agrícolas, como a soja, o milho e as hortaliças. No caso de bioinseti- cidas, novos produtos foram desenvol- vidos pela Embrapa, que recentemente repassou para a ICB Bioagritec uma bactéria do seu banco, um meio de cultura, um processo de fermentação e uma formulação destinada ao controle de larvas do Aedes aegypti. As bactérias que tornaram possível o desenvolvimento de produtos como os bioinseticidas saíram do Banco de Bactérias de Invertebrados da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A 54QUALIDADE DOS PRODUTOS À BASE DE AGENTES DE BIOCONTROLE Por Maria Cristina Tordin Minas Gerais, Comissão Executiva de Plane- jamento da Lavoura Cacaueira e Embrapa Um dos problemas constantemente verifi- Arroz Feijão elaboraram o projeto Desenvol- cados pelos agricultores em relação ao controle vimento de Metodologia Analítica e Amostral biológico é quanto à qualidade dos produtos para Avaliação de Conformidade e da Inocui- disponíveis no mercado. Muitas vezes os dade de Produtos Comerciais formulados à produtos não apresentam as concentrações base de Agentes Microbianos de Biocontrole, indicadas no rótulo, nem a viabilidade espe- coordenados por Wagner Bettiol e Marcelo rada das estruturas do agente de biocontrole. Morandi, da Embrapa Meio Ambiente. Como Associado a isso, existe o problema rela- resultado, foram padronizadas metodologias cionado com as metodologias para avaliar a para avaliar a qualidade de diversos produtos à qualidade dos produtos. Assim, a Embrapa base de agentes de biocontrole para o controle Meio Ambiente, associada ao Instituto Bioló- de doenças de plantas e treinados mais de gico de São Paulo, Universidade Federal de profissionais, direta ou indiretamente envol- Pelotas, Empresa de Pesquisa Agropecuária de vidos com o setor. LABORATÓRIO Foto: Cláudio Bezerra/Embrapa DE QUARENTENA Laboratório de Quarentena "Costa Lima", situado na Embrapa Meio Ambiente, é o único no Brasil credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para introduzir inimigos naturais e outros benéficos para controle de pragas e outros fins científicos. Este laboratório inte- rage com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis sobre processos de importação e exportação de agentes para controle biológico de pragas e outros. Coopera, também, com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Superintendência de Cooperação Internacional, Diretoria de Programas Especiais/CNPq, na consulta e parecer sobre a licença especial de coleta de material destinado para fins científicos em território nacional. 55

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