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Marx e a crítica da Ideologia I Contribuição à Crítica da Economia Política

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Teoria Política Contemporânea
Marx e a crítica da Ideologia I
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2008, pp. 19-44.
Na Contribuição à crítica da Economia Política Marx estuda a mercadoria e o dinheiro ou a circulação simples, desenvolvendo de modo sistemático e completo sua teoria do valor e sua teoria monetária. 
Marx recebeu a herança que a Economia Política poderia dar-lhe no século 19, após uma longa evolução que começa no mercantilismo - relativamente a Marx podemos situar o início dessa evolução nas contribuições parciais dos gregos - e culmina nos trabalhos de Adam Smith e de toda a Escola Clássica. Esta também era um produto direto da época que mais o interessava, motivo por que deu maior atenção aos seus representantes, à sua crítica, e ao seu desenvolvimento.
A obra de Marx representa uma ruptura profunda com a orientação científica dos economistas da Escola Clássica. As críticas mais severas que esta recebeu, e que têm sido utilizadas posteriormente contra pontos
de vista semelhantes, foram na maior parte elaboradas por Marx. O homo economicus [homem econômico - latim] dos clássicos e as abstrações calcadas sobre ele por Adam Smith e David Ricardo são violentamente rebatidos como "robinsonadas",5 depois de uma minuciosa interpretação das suas raízes históricas e sociais. Contra essa concepção individualista, Marx antepõe um novo critério de realismo econômico, o qual situa esta obra como a primeira contribuição séria aos estudos da Sociologia Econômica. Eram, pois, os "indivíduos sociais", na expressão do próprio Marx, que substituíam aquele homem metafísico no cenário da Economia Política. Marx evidencia que não se tratava apenas de mostrar que a produção é determinada socialmente, mas que, exatamente por isso, era preciso considerá-la em sua diferenciação temporal e espacial. As leis da Economia, por conseguinte, se tinham em comum com
as leis das ciências físicas um duplo caráter de necessidade e de generalidade, não se confundiam com aquelas quanto à forma e ao funcionamento. As diferenças pareciam-lhe evidentes. O problema não era a natureza, como nas ciências físicas, mas o homem diante da natureza e dos outros homens, isto é, de seres dotados de consciência e de vontade, capazes de modificar, inclusive, a natureza e de orientar a sua ação em direções socialmente determinadas. As leis a que as "ciências históricas" - todas as ciências não naturais - podem chegar são leis históricas, porque cada período histórico se rege por suas próprias leis.
na concepção naturalista sacrifica-se a diferença essencial à unidade. De outro lado, se Marx fizesse somente o contrário, isto é, se sacrificasse a última à oposição, entraria em conflito aberto com sua concepção da realidade. O impasse foi resolvido dentro da lógica hegeliana: o próprio movimento da realidade estabelece uma lei de interpenetração dos contrários, por meio da qual é possível compreender inclusive o elemento comum e sua validade como fator explicativo. Sem os elementos comuns, o próprio desenvolvimento acumulativo da cultura e as transições bruscas de um período histórico para outro, com as correspondentes mudanças de organização social motivadas pelas transformações das relações de produção, seriam inexplicáveis. Os resultados a que Karl Marx chegou marcaram uma nova etapa na história das investigações científicas, pois desdobraram diante das "ciências históricas" – ou ciências sociais como dizemos atualmente - novas possibilidades de desenvolvimento científico. 
A passagem da economia feudal para a economia capitalista e a concomitante substituição das leis que regiam a vida social nas sociedades feudais pelas leis que regem a vida social moderna puderam receber uma explicação científica. As diferenças, que afugentaram os clássicos e os "comtistas" - obrigando-os a lidar com elementos que, se explicavam a economia e a sociedade, não o faziam completamente -transformaram-se num dos elementos fundamentais, ao lado dos antigos critérios, da investigação e da explicação científica tanto da estática quanto da dinâmica social. Outras consequências do método introduzido por Marx são: 1) as condições em que a generalização é legítima: as leis sociais e econômicas só são válidas para determinadas formas sociais e durante um período determinado de seu desenvolvimento; 2o) a noção de determinismo: existe regularidade nos fenômenos sociais, mas a vontade humana intervém nos acontecimentos históricos - só na natureza ocorre o inevitável; em O 18 brumário de Luís Bonaparte escreveu a esse respeito: "os próprios homens fazem a sua história, mas não a fazem arbitrariamente, e sim em certas condições determinadas"; 3o) a noção de interdependência dos fatos sociais: os fatos sociais articulam-se entre si por conexões íntimas; a antiga noção de consensus [consenso - latim] de Augusto Comte recebe uma formulação mais objetiva: "o resultado a quechegamos não é que a produção, a distribuição, a troca, o consumo são idênticos, mas que todos eles são membros de uma totalidade, diferenças numa unidade"; 4o - existência de fatores dominantes: um fator desempenha a função de fator dominante - a produção nas modernas sociedades capitalistas - atuando sobre os demais fatores em termos de "relações recíprocas determinadas".
A barreira que tem afastado de Marx uma grande parte dos
cientistas sociais é ao mesmo tempo um dos elementos fundamentais
da teoria marxista do conhecimento. Trata-se das relações entre teoria e prática. A Economia, a Sociologia etc. nasceram e se desenvolveram sob o signo da ação; o ideal de seus fundadores era conseguir o controle da vida social para os homens, como já havia sido parcialmente realizado em relação às forças da natureza. Mais do que isso, pensavam em obter, por meio das ciências sociais particulares, técnicas sociais tão perfeitas que se poderia, no futuro, organizar racionalmente a sociedade, segundo planos sociais, econômicos etc., de modo a reduzir ao mínimo os desperdícios de energia humana e os desajustamentos sociais.
Marx e a crítica da Ideologia I

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