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Alienação capitalista sob o prisma do mito da caverna

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Alienação capitalista sob o prisma do mito da caverna 
Por Marcos Glêdson.
A sociedade vive um momento de prisão consumista, onde já não consegue discernir entre a sua real necessidade, e o gozo descartável dos objetos adquiridos, aprisionados em fetiches psicológicos na busca pela felicidade. A indústria publicitária tem aceitado seu papel e o vem fazendo com grande zelo, sendo a ferramenta crucial para acorrentar os seus escolhidos. 
 A obra, Capitalismo Parasitário (Zahar, 2010, 92 páginas) do sociólogo Zygmunt Bauman. Que traz um conjunto de idéias em poucas palavras, mas que nos deixa um legado intelectual um tanto iluminador diante da cegueira moderna.
 Já no primeiro capítulo dessa obra, Bauman faz uma correlação do capitalismo com um parasita, mostrando a que veio o título de seu livro, nos transportando pra uma visão analítica sobre os fatos modernos de sociedade alienada que carece ser desacorrentada. O consumo desenfreado, a perda de bom senso, a inversão dos valores sociais e a busca frenética pela realização dos sonhos e sacio de desejos consumistas, são os principais destaques. 
 A análise sobre a aquisição e o uso dos cartões de créditos, citando inclusive a uma frase que foi usada a mais de 30 anos atrás, com o slogan extremamente sedutor de: “NÃO ADIE A REALIZAÇÃO DE SEUS DESEJOS” ao que parece, esse egocentrismo pós-moderno que, com o cair das escamas de nossos olhos, através de iluminadas questões, como as que Zygmunt e outros sociólogos e pensadores nos trazem, faz com que a sociedade vivencie um vazio existencial em que, tudo é liquido; o trabalho; o amor; a existência em sua essência. As pessoas para se satisfazerem, compram cada vez mais, na tentativa de saciar um fetiche avassalador, na busca de um equilíbrio psicológico e da felicidade. 
 Ainda nessa obra, o autor faz uma reflexão sobre o consumismo, enfatizando o gozo descartável dos objetos adquiridos e, a correlação do “pacote de conhecimentos” absorvido nas universidades, onde os conhecimentos, criado para ser usado e jogar fora, seriam bem mais atraentes do que a absorção pelas faculdades mentais.
A ortodoxia sociológica afirma que o consumismo equivale à opressão: o marketing habilidoso tem-nos manipulado, diz a ortodoxia, deixando-nos num papel de vítimas passivas, consumindo perpetuamente e sem objetivo quantidades sempre crescentes, a mando de uma indústria publicitária que nos cria falsos desejos, levando-nos a acreditar que comprar um objeto equivale a comprar a felicidade. Os estudos acerca do consumismo e daquilo que ele envolve - marketing, marcas, moda, compras, embalagens, lixo, poluição, rivalidade social, mentalidade do descartável e transformação do valor em bem — constituem uma leitura perturbante porque sugerem que os mecanismos de persuasão e coerção subjacentes ao capitalismo são fundamentalmente malignos.
A ortodoxia diz-nos que os executivos do marketing transformam-nos em criaturas ansiosas mas dóceis, a quem falsamente se faz crer que o caminho para o paraíso passa por comprar coisas. Imensos comentadores distintos — entre eles Thorstein Veblen, John Kenneth Galbraith, Vance Packard, Ralph Nader e os filósofos da Escola de Frankfurt — condenam o desperdício, a sandice, a falsa consciência da sociedade consumista e a sua transformação das pessoas em vítimas, que descrevem como uma conspiração que nos empurra para o trabalho, para podermos comprar as migalhas de prazer que o sistema deixa cair das mesas daqueles cujos produtos desnecessários compramos. E, entretanto, somos inundados de lixo e poluição, enquanto nos sentamos à luz tremeluzente dos anúncios televisivos, comendo os nossos jantares insalubres preparados nos microondas. Mas é difícil não deixar de pensar que, se a felicidade é o que interessa, seria possível alcançar o mesmo grau de felicidade mais rápida e economicamente colocando uma droga adequada nas reservas aquíferas. E deixa de fora uma questão tão familiar que se tornou há muito o lugar-comum dos lugares-comuns: de todas as coisas que vale a pena ter na vida — nomeadamente gentileza, sabedoria e afetos humanos —, nenhuma se encontra à venda nos centros comerciais do mundo.
Referencias 
A. C. Grayling
Retirado do livro O Significado das Coisas, de A. C. Grayling (Gradiva, 2003)
Lendo essa obra, senti-me transportado para um mito muito conhecido no meio acadêmico, do eterno filósofo e pensador Platão, chamado de: “A Alegoria da caverna” em minha encenação o ilustre Bauman, era o ser que havia sido libertado e, que saindo daquela caverna constatou-se que nada anteriormente vivido era realmente o real, que a verdade estava encoberta e de lá de dentro jamais poderia ter noção do que acontecia no mundo. Ao retornar tempos depois, agora com seu conhecimento realista do mundo, tenta resgatar aqueles que ainda se encontravam presos, acreditando em sombras de falsas imagens. Mesmo em meio a tanta rejeição, aquele regressado, se torna insistente na tentativa de ascender uma fagulha de intelecto na alma daqueles aprisionados, para mostrar-lhes que precisamos olhar a vida de outro ângulo e assim contemplarmos o óbvio não percebido.

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