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Segundo Reinado Brasil Vitoriano

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HISTÓRIA DA MODA NO BRASIL
O SEGUNDO REINADO: 
O BRASIL VITORIANO
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O Brasil teve um único período imperial dividido em dois reinados, o de D. Pedro I, e após sua abdicação, o de D. Pedro II, que herdou o país em 1931 com apenas cinco anos de idade. Durante a regência, o país foi governado por representantes dos três grupos políticos, liberais, conservadores e militares. 
O jovem Pedro de Alcântara foi educado por um padre conservador, o resultado dessa educação refletiu na personalidade reservado do imperador.
Dom Pedro, e sua irmãs Dona Francisca e Dona Januária, de Félix Émilie Taunay (1795-1881), c. 1835. Museu Imperial, Petróplis.
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Os liberais resolveram antecipar a maior idade de D. Pedro, ideia bem recebida pela população, de tal modo que, em 1940, com 15 anos, o imperador foi coroado. Um ano após, os liberais lutaram com os conservadores, a disputa consolidou a centralização do poder num único comandante, D. Pedro II.
Manuel de Araújo Porto-Alegre , estudo para a sagração de Dom Pedro II, c. 1840. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
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Em 1844, o governo elevou as tarifas de importações, equilibrando suas contas e abrindo caminho para as primeiras indústrias no país. Produtos, como tecidos começaram a ser fabricados por empresas nacionais, os altos lucros da economia cafeeira propiciaram investimentos nas indústrias.
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O fotógrafo e pintor francês Jean Victor Frond (1821/1881) foi o primeiro fotógrafo a registrar o Brasil. Na foto ao lado uma usina de açúcar e abaixo, produção de farinha.
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Marc Ferrez (Rio de Janeiro, 1843 — 1923) foi um fotógrafo franco-brasileiro que retratou cenas do Segundo Reinado ao início da República, entre 1865 e 1918. Na foto ao lado, senhora na liteira com dois escravos, Bahia, 1860, abaixo, locomotiva na estrada de ferro Rio-Minas, em 1880 e menino Índio de Mato Grosso, 1896.
 
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Os paulistas aprovam uma lei que financiava a vinda de imigrantes, o futuro não seria mais escravocrata, e estaria na mão-de-obra européia. A Inglaterra, que tinha interesses comerciais na África, intensificou a repressão ao tráfico de escravos. 
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[...] Decorre a vida nos cafés da [rua] Ouvidor, então o ponto máximo da cidade e centro do comércio elegante, local de encontros ao cair da tarde, de exibições da moda - como o resto, vinda da Europa. A vida das sinhazinhas divide-se entre bailes e namoricos, feitos nos vaivéns das cartas de amor, levadas e trazidas por mucamas. Os acontecimentos máximos são ainda o entrudo, então festa grosseira e semibárbara e, para uns poucos, o teatro Lírico, com suas prima-donas importadas da França e da Itália.  Machado de Assis
Entrudo, charge de jornal do séc. XIX. 
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Detalhe, Botafogo, tomado do Morro da Viúva,
Iluchar Desmons (1803 -?),
c. 1853-1860.
MAR, Rio de Janeiro.
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(...)O fim do tráfico de escravos pôs na praça um dinheiro ocioso que deu origem a um outro ciclo de sofisticação, agora sob nova forma. Em vez de grandes cerimônias públicas, os brasileiros ricos, sobretudo os cariocas, passaram a realizar festas particulares, tal como na Europa: uma mistura de celebração aristocrática e culto da individualidade burguesa, prática adequada a uma classe de ricos subitamente aliviados da mais pesada atividade econômica que praticavam, o tráfico de escravos. (CALDEIRA, 1996, p.201)
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Sem muito o que fazer além de desfrutar de suas aplicações, passaram a se convidar uns aos outros para festins em suas residências. Duas modalidades eram preferidas. A primeira eram os saraus, em que cantores e músicos das famílias apresentavam poemas e canções, em geral europeias; quem não se interessava por arte bebia e jogava em outra sala. A segunda eram os bailes, com danças em vez de apresentações, mantendo-se o espaço de jogadores e conversadores. (CALDEIRA, 1996, p.201)
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Um sarau, gravura do séc. XIX.
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A típica cena de 1850: um elegante e bem vestido casal faz uma pausa no baile visível no fundo da imagem, para conversar com outra senhora, sentada em um ornamentado divã.
Eugène Gaujean 
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As novas atividades exigiam paramentos próprios. Para cada festa era preciso uma indumentária, o que exigia tempo e dedicação. Os dias eram ocupados com visitas aos cabeleireiros, às lojas especializadas nas últimas novidades da moda européia. Inaugurava-se uma nova atividade: ver e ser visto, trocar olhares, exibir riquezas – e sonhar com a vida parisiense, modelo de toda a mudança. (CALDEIRA, 1996, p.201)
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Detalhe, O Passeio Público, 
Rosalbino Santoro, 1884. 
MAR, Rio de Janeiro.
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A rua do Ouvidor
Embora pelo menos desde a segunda década do século XIX modistas e cabeleireiros estivessem lá instalados, o período áureo da rua começou a partir de 1845, ano da promulgação da Lei Alves Branco, que aboliu o privilégio desfrutado pelas mercadorias inglesas. Começaram a entrar no Brasil produtos de outros países, sobretudo da França. A difusão da moda francesa logo se tornou mais que uma operação comercial: para as mulheres mais abastadas, vestir-se com modistas francesas e enfeitar-se segundo padrões parisienses era condição básica para uma correta inserção na sociedade. (CALDEIRA, 1996, p.201)
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Já os homens suportavam estoicamente o calor tropical sob negras casimiras. (CALDEIRA, 1996, p.201)
Rua do Ouvidor, século XIX.
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Esse padrão de consumo e de comportamento no Brasil da segunda metade do século XIX tinha como centro e emblema a rua do Ouvidor, “a via-crúcis dos maridos endividados”, local de encontros, de boatos, de olhares dardejantes e suspiros profundos às sinhazinhas acompanhadas de pajens envergonhados sob caixas e pacotes. Caixas e pacotes que traziam em seu interior verdadeiros instrumentos de tortura: espartilhos apertados, anáguas metálicas; vestidos de veludo, gorgorão ou lã, adequados apenas às temperaturas europeias – o oposto do modo como vestiam os brasileiros normais. (CALDEIRA, 1996, p.201)
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Dona Tereza Cristina, por Victor Frond, 1861. Representada pelo mesmo artista e na mesma circunstância que o real esposo Dom Pedro II, é representada como quem revela apego pelos livros e pela escrita. 
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Dom Pedro II
A estratégia da informalidade
Em maio de 1871, D. Pedro II, já com 45 anos de idade, partiu em sua primeira viagem ao exterior (...) porém, recusou qualquer tipo de tratamento diferenciado alegando que viajava como “Pedro de Alcântara”, um cidadão como outro qualquer, e não como chefe de estado (...) O imperador viajava e se apresentava publicamente “vestido de cidadão comum”, privilegiando especialmente roupas pretas e evitando completamente o uso de uniformes e a ostentação de condecorações. 
Na verdade, a predileção de D. Pedro por roupas típicas de um cidadão comum não surgiu de modo repentino (...) Já a partir do final da década de 1840, D. Pedro era visto em público sem pompa que, pelo menos em princípio, as pessoas poderiam esperar de um monarca. (ARAUJO, 2012, p.21-22)
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Dom Pedro II, por Victor Frond, 1861. Por volta de seus trinta e cinco anos, o imperador já exercia plenamente o Poder Moderador, mas continuava demonstrando sua aptidão para os estudos. Aqui, em “pose napoleônica” que é anterior a famosa representação de Napoleão Bonaparte em 1812, nos séculos XVIII e XIX, deixar-se retratar com a mão direita sob a roupa, na altura do abdômen, era uma postura “agradável e sem afetação”, uma convenção inglesa para retratos.
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D. Pedro costumava ser visto em Petrópolis, desde 1847, vestindo casaca preta e cartola. Convém lembrar que, nessa época, a cartola ainda não evocava a imagem de uma aristocrata, ou do industrial abastado (...) era a imagem do homem comum, sem associações com privilégios sociais e econômicos, é proporcionado, por exemplo, pela célebre pintura de Eugène Delacroix conhecida como A Liberdade Guiando o Povo (1830), em que um revolucionário
usando uma cartola é retratado logo atrás da figura feminina representando a liberdade. (ARAUJO, 2012, p.22)
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A adoção de casacas, sobrecasacas, cartolas e outros acessórios do guarda-roupa do cidadão comum era a principal forma pela qual D. Pedro buscava promover, tanto no Brasil, quanto no exterior, a imagem de um “imperador-cidadão” (...) foi o primeiro monarca a se valer das roupas que vestia para exprimir sua proximidade do cidadão comum. 
Casacas e sobrecasacas pretas eram, com e feito, a manifestação material de atitudes como circunspecção e austeridade, que caracterizavam em larga medida a moralidade da era vitoriana. (ARAUJO, 2012, p.24-25)
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Um indício bastante claro do comprometimento de D. Pedro como o simbolismo em torno do trajes masculinos vitorianos é a sua passagem pela renomada casa de alfaiataria Henry Poole, em 1871, por ocasião da sua primeira visita à Inglaterra. (...) Entre seus clientes figuravam diversos membros da aristocracia europeia, incluindo a rainha Vitória e seu filho, o futuro rei Edward VII. D. Pedro chegou a reconhecer a firma Henry Poole, em 1874, como “fornecedora estrangeira da casa Real”. (ARAUJO, 2012, p.25)
Savile Row, Londres, século XIX.
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(As encomendas na Henry Poole não objetivavam apenas a renovação do seu guarda-roupas) Sua intensão era contribuir para a modernização do país, e isso poderia muito bem incluir, como as passagens de seu diário sugerem, um incremento na qualidade de roupas, calçados e acessórios manufaturados no Brasil. (ARAUJO, 2012, p.77)
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(Entretanto) Aos olhos de americanos e ingleses, D. Pedro parecia “excêntrico” do que vitoriano, pois tinha uma predileção para evitar protocolos, solenidades oficiais e, sobretudo, para ignorar as regras que então regulavam, ainda que de modo difuso, a utilização de casacas, sobrecasacas, gravatas e demais acessórios da burguesia. (ARAUJO, 2012, p.25)
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Como a sobrecasaca era considerada mais informal do que a casaca, D. Pedro acabava privilegiando esse tipo de vestimenta até mesmo nas ocasiões em que as pessoas tinham expectativa de que ele vestisse a casaca. A informalidade da sobrecasaca tinha também uma clara conotação política (...) em 1879, por exemplo, a Revista Ilustrada publicou lado a lado os desenhos de uma sobrecasaca e de uma casaca, explicando a diferença entre eles: A verdadeira democracia está na sobrecasaca e não na casaca bordada. (ARAUJO, 2012, p.28)
sobrecasaca
casaca
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Durante a primeira viagem de D. Pedro à Europa, o hábito de carregar em uma das mãos um guarda-chuva e, na outra, uma mala, rendeu ao imperador, inclusive, o apelido de “Pedro da Mala” (...) Assim como a mala, a imagem de um guarda-chuva, da mesma forma, era repleta de significado para os homens do século XIX (...) O hábito de carregar um guarda-chuva acabou se tornando também motivos de diversas caricaturas em que D. Pedro foi ridicularizado por ter adotado para si um dos emblemas mais sugestivos da burguesia daquela época. (ARAUJO, 2012, p.40-42)
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Desinteressado da monarquia e da política, Dom Pedro II se deixa fotografar ao lado de Dona Tereza Cristina em 1889 no jardim da residência de Petrópolis. Na mão, como sempre, um livro. 
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Joaquim Nabuco (1849 – 1910)
Jovem, desenvolveu uma visível vaidade: gostava de se vestir bem, de viajar, de frequentar salões. (Retornou a Recife em 1867) Pela cidade, o belo Nabuco despontou como um dândi, vaidoso, preocupado com a aparência, elegante no trajar e sensível aso modismos: usava robe de chambre de seda japonesa e, quando viajava, fazia-se acompanhar de malas Louis Vuitton. Nas fotografias sempre fazia poses, com os dedos na cintura ou no bolso do colete, apelando para alguma forma que chamasse a atenção, que o reconhecessem como o dono do mundo. (FERNANDES, 2012, p. 87)
Como político e parlamentar, ficou vulnerável à crítica da imprensa, que ironizava suas roupas e sua pulseira de ouro, presente da noiva Eufrásia: ‘coisas de senhora’. (FERNANDES, 2012, p. 96)
Joaquim Nabuco, 1878.
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Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930)
...Eufrásia Teixeira Leite, esbelta, com porte de rainha, cabelos muito negros, sobrancelhas marcantes. Já demostrava ser uma mulher do futuro, usava belos trajes que fugiam do convencional, vestidos elegantes, criados e confeccionados pelos mais renomados estilistas franceses. Muito dos trajes ‘trazem a assinatura de mestres da Alta Costura, como Jacques Doucet, Francis et Co. e Felix Brevete, Rouff’. (FERNANDES, 2012, p.56)
Eufrásia Teixeira Leite, com 18 anos.
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A mãe de Eufrásia e Francisca, Ana Esméria, morreu em 1871, e seu pai Joaquim José, no ano seguinte. As irmãs tinham à época mais de vinte anos de idade e não haviam se casado, portanto recebendo integralmente a herança do pai. Em 1873, um ano após a morte do pai, as irmãs partem para Paris.
Talvez por não ter tido filhos homens, e numa atitude que contraria a tradição da época, Joaquim José Teixeira Leite ofereceu às filhas uma educação que contemplava os aspectos administrativos e econômicos. Na Europa, elas fizeram investimentos em diversos setores como bolsas de valores em pelo menos sete capitais europeias, estradas de ferro, exploração de minérios e petróleo, commodities, indústria têxtil, serviços públicos e bancos. Mesmo depois da morte de Francisca, em 1899, Eufrásia continuou fazendo negócios. Ela possuía em sua casa um telefone, o qual tinha linha direta com a Bolsa de Valores de Paris.
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Eufrásia e Nabuco se conheceram quando jovens. E em 1873, se reencontraram no navio Chimborazo, rumo à Europa, e começaram o romance. Noivaram e romperam o namoro, iniciando uma relação de idas e vindas que durou quase 14 anos.
As cartas entre eles, até 1876, tem tratamento amigável. Nos anos seguintes tiveram mais desencontros. 
As mensagens voltam a ter regularidade a partir de 1883. Nelas observamos os conflitos e as frustações devido a incompatibilidade política, econômica, geográfica e das expectativas de ambos. E claro, a má influência do julgamento social e da irmã da Eufrásia, que era contra o relacionamento. 
Numa carta de 1887, a milionária Eufrásia oferece dinheiro para endividado Nabuco. Segundo os historiadores foi o golpe final para o término do relacionamento.
Eufrásia pediu para que queimassem todas as cartas escritas por Nabuco, só resta uma cópia de apenas uma guardada na fundação dele em Pernambuco junto com as cartas dela. Dessa forma, só conhecemos a fala da Eufrásia.
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Eufrásia Teixeira Leite, com 30 anos de idade.
No período que residiu em Paris, Eufrásia Teixeira Leite imprimiu uma personalidade forte em ambientes normalmente frequentados por homens. Sua independência financeira e seu tino para negócios reforçaram seu caráter elegante e comportamento a frente de seu tempo. A herdeira do café estava longe de ser uma figura provinciana, Eufrásia foi retratada normalmente de cabelos curtos, costume incomum na época, e com poucas joias, o que não condizia com sua fortuna, mas harmonizava-se com seu estilo progressista, ganhou admiradores.
Ao voltar para o Brasil na década de 1920, se instalou no Bairro da Glória, Rio de Janeiro, e mesmo com mais de 75 anos investiu em terras na região de Copacabana, que ainda estava pouco habitado.
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O Baile da Ilha Fiscal
No dia 9 de novembro de 1889 ocorreu O Baile da Ilha Fiscal, organizado pelo visconde de Ouro Preto, presidente do conselho de ministros, em homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane". Teve como cenário a Ilha Fiscal, próxima à praça XV, foi a última grande festa da monarquia antes da Proclamação da República Brasileira no dia 15 desse mesmo mês e ano.
Francisco Figueiredo, O Último Baile, 1905. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
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Referência Bibliográficas
ARAUJO, Marcelo de. Dom Pedro II e a Moda Masculina na Época Vitoriana. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2012.
ASSIS, Machado. Dados
biográficos. In: Contos Fluminenses. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 204, com adição e modificação.
CALDEIRA, Jorge, e outros. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Editora Schwarcz, 1997.
CHATAIGNIER, Gilda. História da Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
FERNANDES, Neusa. Eufrásia e Nabuco. Rio de Janeiro, Mauad X, 2012.
SILVA, Luiz Geraldo. Símbolos e emblemas do segundo reinado. Disponível em <http://people.ufpr.br/~lgeraldo/brasil2imagensC.html> Acesso em 20/08/13.
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