Buscar

Belle Epoque no Brasil

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
*
HISTÓRIA DA MODA NO BRASIL
A BELLE ÉPOQUE TROPICAL
*
*
BELLE ÉPOQUE
A Belle Époque (bela época em francês) é normalmente entendida como um momento na História da França que teve seu início no final do século XIX, mais ou menos por volta de 1880, e se estendeu até a Primeira Guerra Mundial, em 1914. Contudo, não é possível demarcar tão rigorosamente seus limites, uma vez que ela é mais um estado de espírito do que um acontecimento histórico. 
Designa o clima intelectual e artístico do período, a arte é subvertida com o nascimento do Impressionismo, do Pós-impressionismo e da Art Nouveau. 
Henri de Toulouse-Lautrec, 
La danse au Moulin Rouge, 1890. 
*
*
(No Brasil) A consolidação política e econômica da República sob o domínio do café coincidiu com a expansão das exportações de dois outros produtos que deram ao Brasil a supremacia do mercado mundial: a borracha e cacau. 
O súbito aumento da receita cambial permitiu um alívio financeiro e sustentou os projetos de investimento do presidente Rodrigues Alves (mandato 1902 a 1906) - num esquema ainda vinculado ao café. Os capitais privados foram dirigidos para a construção de ferrovias, enquanto os recursos públicos eram destinados a uma série de grandes obras. (CALDEIRA, 1997, p.242)
No fundo, Teatro Amazonas, Manaus, inaugurado em 1896.
*
*
A realização das promessas da República, seguindo a visão elitista de liberais e positivistas, pôde afinal ser tentadas por Rodrigues Alves. Para isso, concentrou poderes nas mãos de técnicos, que impuseram suas ideias com violência. Limitou suas obras à capital do país, o Rio de Janeiro, a fim de transformá-la em modelo de metrópole. Demoliu meia cidade colonial para abrir uma avenida belle époque, arrasou morros para construir um porto e uma segunda avenida. Em nome da higiene, fez guerra aos pobres, afastados do centro para longe do cenário de progresso urbano. (CALDEIRA, 1997, p.243)
Demolições para a construção da avenida Central, 1904-1905. Foto João Martins Torres .
Acervo Instituto Moreira Salles.
*
*
Avenida Central
Na virada do século, mesmo em pontos como a rua do Ouvidor, o centro do Rio de Janeiro ainda preservava a estrutura da cidade colonial, com casas de taipa (pau-a-pique) espremidas em ruas estreitas e de saneamento precário. Mas era o local de moradia dos pobres, pela proximidade dos locais de trabalho, pelas habitações a preço acessível – em geral quartos das velhas casas coloniais ou cortiços – e pela facilidade de serviços de toda espécie. (CALDEIRA, 1997, p.244)
Cortiço no centro do Rio
*
*
Os ricos moravam longe do centro, instalados em chácaras e casarões nos espaços arejados de Botafogo, Catete e Laranjeiras. Mas continuavam realizando seus negócios no centro apinhado e sujo, onde ficavam os escritórios e o grande comércio.
Rodrigues Alves queria mudar isso radicalmente. Queria uma cidade “civilizada”, na versão dos mais ricos: espaço para carruagens, belos prédios comerciais, distância da araia-miúda (plebe) com que eram obrigados a conviver todos os dias. A construção da avenida central atendia a esses imperativos. Traçada a compasso, rasgava pelo meio o quadrilátero onde se concentravam o grosso da população. (CALDEIRA, 1997, p.244)
Casa de Rui Barbosa, Botafogo, 
Rio de Janeiro.
*
*
Para realizar seus planos, na prática o presidente transformou em ditador o prefeito que nomeara para a capital, Francisco Pereira Passos. Por meio de decretos, concedeu-lhe poderes para desapropriar e tomar posse de casas sem a necessidade de nenhum procedimento judicial. Com isso, as obras avançaram rapidamente (...) A única preocupação da municipalidade foi organizar um concurso arquitetônico para premiar a mais bela fachada dos edifícios a serem construídos no espaço aberto com tanta violência. (CALDEIRA, 1997, p.245)
*
*
Baseada em fatos históricos, a novela “Lado a Lado” (2012) mostrou o bota-abaixo do prefeito Pereira Passos com a destruição do cortiço em que moravam os personagens Isabel, Zé Maria, Afonso, Berenice e Isidoro. As populações pobres reagiram mas não puderam impedir as desapropriações e o bota-abaixo que as expulsaram de suas casas, obrigando-as a buscar moradia nos subúrbios ou a viver em um dos morros que rodeavam o centro da cidade. 
(fonte: http://gshow.globo.com/novelas/lado-a-lado)
*
*
Em menos de um ano, o leiro da avenida de 28 metros de largura (as antigas tinham entre cinco e dez metros) estava assentado. Os terrenos ao longo da via foram vendidos para interessados em construir prédios comerciais no estilo eclético então vigente na Europa. Agora havia o que mostrar para os estrangeiros: uma cidade “civilizada” na qual os pobres passavam a ser mantidos a distância. (CALDEIRA, 1997, p.245)
*
*
Theatro Municipal (inaugurado em 1909), uma das obras mais importantes de Pereira Passos na avenida Central (atual Rio Branco).
*
*
O Rio de Janeiro parecia uma filial de Paris, não apenas na fala, mas nas atitudes de elegância, vestuário e moda. A Rua do Ouvidor, que lembrava um comprido shopping center aberto, era o local onde se encontravam as lojas mais chiques, que também se espalhavam pela vizinha Gonçalves Dias. As cariocas lançavam para todo o país seu estilo, elegância, sensualidade e moda, claro du diable, expressão já usada no século XVII, identificando uma beleza diabólica. (CHATAIGNIER, 2010, p.94)
*
*
As musas da moda não eram mais as princesas e marquesas de sangue azul, mas as mademoiselles Lili, Gigi, Naná, coquetes, atrizes, comediantes e cantoras de ópera, muitas delas imortalizadas em cartões postais, outra mania em colecionismos femininos no final do século XIX. (CHATAIGNIER, 2010, p.94)
Fonte: http://postaisdelili.blogspot.com.br/
*
*
Surgem as revistas o Malho, Revista da Semana e Fon-Fon, todas com noticiários variados e pertinentes ao que acontecia na cidade. A moda dominava o periódico Fon-Fon, considerada uma típica revista para mulheres, com uma precoce ideologia feminista. (CHATAIGNIER, 2010, p.104)
*
*
Acima, “Reclame” Maison Alexandre de Paris, ao lado, cartoon, Revista Fon-Fon, Nº14, 18/01/1908. 
Fonte: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_1908/fonfon_1908.htm
*
*
Recordando a Moda Feminina
Na primeira década do século XX, os seios e o ventre ainda eram comprimidos pelo espartilho com barbatanas, a silhueta fazia referência a ampulheta, mas de perfil, a silhueta formava um “S”.
	A forma da letra sinuosa era produzida por um busto grande, projetado para frente, e uma cintura achatada e fina; nas costas, em contrapartida, as nádegas ficavam projetadas para trás
A saia longa, alargava-se em forma de sino e cobria os pés, prolongando-se até formar uma cauda
Colarinhos de renda, golas e peitilhos eram frequentes.
Os chapéus eram enfeitados com plumas pesadas, sobre o cabelo preso no alto da cabeça.
*
*
Henriqueta Martins Catharino, 1909. Foi fundadora do Instituto Feminino da Bahia no bairro do Politeama, Salvador, Bahia. Tal empreendimento só foi possível pois, acreditando no sonho da filha, seu pai, o Comendador Bernardo Martins Catharino, grande empreendedor da indústria têxtil da Bahia do início do século, antecipou em vida a parte que lhe caberia na herança. O destaque do acervo do instituto fica por conta da coleção de Indumentária do Museu do Traje e do Têxtil.
Disponível em http://www.institutofeminino.org.br
*
*
Destaques para os tecidos: algodão (batista e popeline), linho, seda (tafetá, moiré, charlote), lã, renda, musselina, cashmere e drap (lã ou lã mista com seda com trama bem fechada).
Moiré
Batista ( Cambraia )
Musselina
Linho
*
*
Destaques para cores: no inicio da década eram mais escuras e neutras, exceção para o branco e o cru usados no verão. Depois vieram os tons médios e claros, como rosa, lilás, amarelo e o fúcsia. 
Cartelas de cores inspiradas na Belle Époque. Disponível em 
http://www.colourlovers.com/palettes/search?sortCol=votes&sortBy=DESC&query=belle+epoque&hex_logic=AND&page=2
*
*
Acessórios: chapéus pequenos, em especial o bibi florido, o médio com plumas (a indústria nacional produziu 400 chapéus femininos e masculinos em 1905); luvas curtas que depois se tornaram longas; bolsinhas para a noite bordadas com miçangas; sapatos bicolores e bicudos, com salto médios para o dia e um pouco mais altos e lisos para a noite; diversos: sombrinhas e guarda-chuva de seda em tons escuros e com cabos de prata ornados com pedras e monogramas; leques de renda com vareta de ouro ou marfim; enfeites variados; flores de tecido para a lapelas; joias, colares longos, broches tipo camafeu; bijuterias. (CHATAIGNIER, 2010, p.105-106 – com adaptações)
*
*
*
*
Maquiagem: leve e natural para o dia, com pó de arroz claro e ligeiro brilho nos lábios; à noite, batom em tom de vermelho transparente, pó e ruge nas faces. O escritor Luiz Edmundo já dizia com sua pena crítica: “Não há pinturas de olhos, de lábios, nem de rosto. As mulheres (...) são figuras de marfim ou cera, (...) evadidas de um cemitério. Quando passam em bando, lembram uma procissão de cadáveres”. (CHATAIGNIER, 2010, p.106)
*
*
Penteados: coque volumoso, levantado para o alto da cabeça; cabelos cheios, às vezes soltos e frisados com ferro quente. Uso de apliques e perucas, travessas, pregadores e fitas. Tinturas capilares já eram usadas no Brasil e possuíam nuances variadas ou próprias para retoques em cabelos grisalhos. (CHATAIGNIER, 2010, p.106)
*
*
Tempos de Mudança
A primeira década do século XX testemunhou a queda do espartilho, proposta do costureiro parisiense Paul Poiret. Entretanto, a preocupação de Poiret eram mais estética que libertária, ele considerava a silhueta em “S” uma aberração, foi dele também a criação da saia entravée, ou seja, travada, ou também saia-funil. 
*
*
Outra novidade foi parar nas primeira páginas dos jornais com a fotografia da Madame Lespinasse, comerciante francesa que possuía uma loja de camisas próxima à avenida Central, hoje Rio Branco: a jupe-culotte, ou seja, a saia-calça, hibridismo que mexeu com a hombridade brasileira. Homens que passavam no local começaram a atacar a elegante senhora com pedras e paus, fazendo-a esconder-se numa loja próxima à sua. Ainda por cima, o tecido do controvertido modelo era estampado com motivos de cobras na cor roxa. (CHATAIGNIER, 2010, p.108)
*
*
Madame Lespinasse, da Casa Raunier, lançou no Rio as jupe-culottes em 4/4/1911.
Revista Fon-Fon, ano V, nº14, 08 de abril de 1911. Fonte http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_1911/fonfon_1911_014.pdf
*
*
Quando estourou a Grande Guerra (1914-1918), outra bomba explodiu na moda: a jupe-fendue, ou a saia com fenda, deixando entrever não só os pés, que eram pequenos no Brasil (em geral na numeração 33 e 35), mas também as pernas. (CHATAIGNIER, 2010, p.109)
*
*
Referência Bibliográficas
BRAGA, João, e PRADO, Luís André do. História da Moda no Brasil: das influências às autorreferências. São Paulo: Pyxis Editorial, 2011.
CALDEIRA, Jorge, e outros. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Editora Schwarcz, 1997.
CHATAIGNIER, Gilda. História da Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
Prof. Flávio Bragança
*

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando