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Seminário II - A Política Econômica e o Ordenamento Jurídico

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
 Curso de Direito – Turma NA1
Economia - Profª. Dora Nogueira Porto 
Seminário II: A Política Econômica e o Ordenamento Jurídico
Elaborado por Ana Clara T. de C. P. Spaziante, Isabella C. Urnikes, Julia C. Garcez, Maria Fernanda Ferrero, Marília R. de B. Vidal
São Paulo, 12 de agosto de 2013.
Sumário
1. Liberalismo Econômico
 1.1. Adam Smith e a “mão invisível” 
 1.2. O indivíduo e a sociedade
 1.3. Sistema de preços
 1.4. Interferência governamental na livre concorrência:
 1.1.4. Funcionamento dos mercados
2. Elementos da Política Econômica
 2.1. Fenômenos Econômicos e Dados
 2.2. Transformações e Modificações dos Fenômenos Econômicos
 2.3. Maior Centralização do Estado
 
3. Os Instrumentos e os Meios
 3.1. Os Três Primeiros
 3.1.1. Instrumentos de Finanças Públicas
 3.1.2. Instrumentos Monetários e Creditícios:
 3.1.3. Instrumentos Cambiais
 3.2. Meios de Controle Direto
 3.3. Adaptação institucional 
 3.4. Medidas Negativas
4. Intervenção do Estado
 4.1. Modalidades de Atuação:
 4.1.1. Por Direção;
 4.1.2. Absorção ou Participação;
 4.1.3. Indução;
 4.2. Justificativas para a Intervenção Governamental
 4.2.1. Falhas de Mercado:
 4.2.1.1. Externalidades;
 4.2.1.2. Falhas de Informação;
 4.2.1.3. Monopólio;
 4.2.2. Obtenção de Recursos para os Bens Coletivos
5. Como Acontece no Brasil
 5.1. Anos 60
 5.2. Constituição de 1988
 5.2.1. Princípios Básicos de Atuação
 5.2.2. Forma de Lei
 5.3. Órgãos Fiscalizadores da Defesa da Concorrência
 5.3.1. Repressão ao Abuso do Poder Econômico
 5.3.2. Atuação do SBDC
 5.3.2.1. Controle das Estruturas 
 5.3.2.2. Controle das Condutas 
6. Bibliografia
Liberalismo Econômico
A teoria do liberalismo econômico tem como principal fundamento, a defesa da liberdade individual nos campos econômico, político, religioso e intelectual. Assegura também o direito da propriedade privada e da supremacia do indivíduo contra as intervenções e atitudes coercitivas do poder estatal.
1.1. Adam Smith e a “mão invisível”:
 Adam Smith é considerado como o pai da economia moderna e também possui o título de teórico mais importante do liberalismo econômico. Em meio ao cenário do Iluminismo, formulou uma tese no qual acreditava que iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. A expressão “mão invisível” apareceu no livro “A Riqueza das Nações” uma única vez, mas passou a significar o pensamento do autor no qual os agentes econômicos, quando atuam livremente, chegariam a uma situação de eficiência, dispensando assim a ação do Estado. Desse modo, os mercados seriam regidos por uma mão invisível que o regula automaticamente sempre chegando a situação ótima ou de máxima eficiência. 
1.2. O indivíduo e a sociedade:
 Segundo o capítulo 3 “Economia e Direito” de Marco Antonio S. Vasconcellos e Manuel E. Garcia, ainda na teoria do liberalismo, cada indivíduo, ao atuar na busca apenas de seu próprio bem-estar, está realizando o que é mais conveniente para o conjunto da sociedade.
1.3. Sistema de preços:
 A problemática do sistema de preços está vinculada à concorrência perfeita e sem falhas no mercado. Esse sistema permite que se extraia a máxima quantidade de bens e serviços úteis do conjunto de recursos disponíveis na sociedade, conduzindo a economia a uma eficiente alocação dos recursos. 
1.4. Interferência governamental na livre concorrência:
 Qualquer interferência governamental na livre concorrência é prejudicial, tanto para os compradores como para vendedores de mercadorias ou serviços. 
 
 1.1.4. Funcionamento do mercado: O que ocorre nos mercados de bens também é observado pelos mercados de fatores de produção: o trabalho, a terra, os bens de capital e a tecnologia permitem que as empresas maximizem sua produção aos menores custos possíveis o que se traduz em menores preços para os consumidores.
Elementos da Política Econômica
2.1. Fenômenos Econômicos e Dados: 
 No palco da política econômica, diferenciam-se duas ordens de elementos: os fenômenos econômicos e os dados. Os fenômenos econômicos basicamente são variáveis que são explicadas através dos dados. Essas variáveis geralmente envolvem os interesses e as preferências da comunidade, como preços, a taxa de poupança da comunidade – e, portanto, o seu ritmo de crescimento – importações e exportações, etc. “O campo dos fenômenos econômicos é por excelência o do mercado” (NUSDEO, Fábio. Curso de Economia. 7a ed., p. 192-193). Os dados, por outro lado, são elementos concretizados geralmente pelo Estado. Ou seja, eles condicionam o comportamento dos fenômenos, o que quer dizer que as variáveis posteriormente transformam-se em dados. Há vários tipos de dados: físicos, climatológicos, psicológicos, culturais, etc. Todos esses dados juntos (antigas variáveis) representam a estrutura do sistema econômico, do mercado. Há aqueles dados que podem e aqueles que não podem ser modificados. De acordo com o “horizonte de tempo” da política econômica, um grande número da dados, a curto prazo, será não modificável. A longo prazo, é o oposto: todos os dados, inclusive os culturais, podem ser modificáveis. 
2.2. Transformações e Modificações dos Fenômenos Econômicos: 
 Como citado anteriormente, os fenômenos econômicos podem ser transformados, posteriormente, em dados. Ou seja, deixam de ser vistos como possíveis objetivos para se tornarem meios (qualitativos) ou instrumentos (quantitativos) de política econômica. Um exemplo disso que Fábio Nusdeo providenciou é o da taxa cambial. A princípio, “ela era determinada pelo livre jogo da oferta e da procura, oscilando ao sabor da maior ou menor abundância de moedas estrangeiras face à nacional” (p. 195). A taxa cambial estabelecia um objetivo (fenômeno econômico) da política econômica. Quando o Estado realiza a fixação do câmbio, o que antes era uma variável torna-se um dado (meio ou instrumentos passível de controle pelos governos). Os fenômenos, quando controlados pelo Estado, podem seguir mais um caminho: “alterar a definição legal de certas faculdades dos agentes econômicos, seja em termos de direito de propriedade, seja no que se refere aos direitos obrigacionais, seja ainda quanto ao poder da polícia” (p. 195). Em outras palavras, a configuração para o conjunto de variáveis que retratam os fenômenos econômicos é modificada, podendo, assim, relaxar as exigências ambientais, por exemplo.
2.3. Maior Centralização do Estado: 
 É possível, então, compreender que, a princípio, as variáveis dependem dos dados. Posteriormente, quando administradas pelo governo, elas podem se modificar (seja em sua configuração estrutural) ou se transformar, por completo, em dados. Quanto maior esse número de variáveis a serem passadas para a categoria de dados, maior será o grau de centralização desse governo” (p. 197). Ou seja, quando isso ocorre, os “mecanismos de controle automático do mercado estarão sendo substituídos pela iniciativa estatal, característica dos regimes centralizados” (p. 197). Aqui, podemos retomar à teoria da “mão invisível” de Adam Smith, onde ela pode ser substituída agora pela “mão visibilíssima” do poder público.
Os Instrumentos e os Meios
As cinco grandes categorias dos meios e instrumentos que o Estado dispõe para a condição de sua política econômica:
Instrumentos de Finanças Públicas
Instrumentos Monetários e Creditícios
Instrumentos Cambiais
Meios de Controle Direto
Adaptação Institucional
3.1. Os três primeiros, acima, são ditos indiretos, pois não atuam diretamente sobre o mercado, mas sim sobre agentes financeiros - como bancos e instituições financeiras. Nesse caso, o governo manipula dados componentes do quadro institucional da economia, sendo algunsdeles: tributos, taxas de juros e cambiais e programas estatais de financiamento, podendo com isso interferir no grau de liquidez do sistema. Então, o governo controla, assim, sua economia, e consegue expandir ou retrair o fluxo de dinheiro no mercado de acordo com sua conveniência.
 3.1.1. Instrumentos de Finanças Públicas: 
 Exemplo: Corte nos gastos públicos, como redução de subsídios ou do número de funcionários.
 3.1.2. Instrumentos Monetários e Creditícios:
 Exemplo: Redução do IPI, depósito compulsório, programa “Minha casa, minha vida”.
 3.1.3. Instrumentos Cambiais:
 Exemplo: Oferta ou retirada de dólar no mercado. 
3.2. Os Meios de Controle Direto:
 São mecanismos que influenciam diretamente sobre a determinação de certas variáveis do sistema econômico. Exemplo: Fixação de preços e tabelamento cambial.
3.3. Adaptação Institucional: 
 Constitui um tipo de ação introdutória, por assim dizer, pois será mediante certas legislações ou a criação de mecanismos destinados a legitimar o uso de outros instrumentos da política econômica. Em outras palavras, ela é basicamente, quem dita regras do mercado e regula o seu funcionamento com a criação de leis e códigos de ética e comportamentos bem definidos, para que hajam atuações adequadas e justas dentro do mercado. Alguns exemplos conhecidos desses órgãos são: o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a OMC (Organização Mundial de Comércio) e, também, O Código de Defesa do Consumidor.
3.4. Medidas Negativas:
 Os governos têm a obrigação de serem responsáveis pelo acompanhamento econômico do país, todavia não podem ser tão intervencionistas – como o caso atual da Argentina, China e Coréia do Norte – mas também nem muito liberais, como foi o recente acontecido do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Esse último fato citado é um exemplo típico de medida negativa da economia, que é representada por abstenções governamentais ou estatais em adotar providências previstas em lei. Os denominados ‘incentivos fiscais’ são exemplos nítidos de medidas negativas, pois correspondem a ações as quais isentam determinadas exigências da lei para, assim, alcançarem suas conveniências. Exemplo: Infração de mecanismos de caráter ambiental, incentivos fiscais, formação de truste e cartel.
Intervenção do Estado
O professor Eros Grau defende que existem quatro formas de o Estado se fazer presente na economia.
4.1. Modalidades de Atuação: 
 4.1.1. Por direção: 	É quando o Estado cria normas regulamentares que impõem uma conduta aos agentes econômicos. Essas normas podem ser desde a obrigatoriedade do uso de filtros antipoluentes à fixação de preços ou uma quota de importação. 
 4.1.2. Por absorção ou participação: 							Dá-se quando uma determinada atividade economia é realizada diretamente pelo Estado. O que diferencia a absorção da participação é o fato de haver monopólio no primeiro caso. Porém, mesmo que existam outras empresas privadas realizando a mesma atividade, no caso da participação, a empresa estatal continua a ter alta capacidade de influencia.
 4.1.3. Por indução: 								Nesse caso o Estado não impõe regras de conduta, nem participa diretamente de nenhuma atividade economia. Ele incentiva ou desincentiva determinados setores da economia. Por exemplo, subsídios ou altas no imposto de importação entre outras possíveis medidas.
4.2. Justificativas para a intervenção governamental: 	 Pode-se dizer que existem dois motivos centrais: a correção ou atenuação das falhas de mercado e a obtenção de recursos para os bens coletivos.
 4.2.1. Falhas de mercado: 
 São constituídas por alguns desvios da economia, entre eles:
 
 4.2.1.1. Externalidades: a produção de um determinado produto pode acarretar efeitos negativos ou positivos sobre outros indivíduos, podendo esses serem empresas ou cidadãos. Ex.: A inauguração de um bar em determinado bairro pode ocasionar barulho durante a noite no local, o que atrapalha o sono dos moradores. Para evitar tal problema criou-se a lei do silêncio, que proíbe ruídos altos depois de um determinado horário, em locais que não sejam acusticamente isolados. Outras leis como a restrição do uso da terra, algumas leis antipoluição, proibição de determinadas atividades em alguns locais da cidade encontram embasamento em situações como essa.
 
 
4.2.1.2. Falhas de informação: se os agentes econômicos não possuem todas as informações de um bem ou serviço que queriam adquirir, tomar decisões corretas e coerentes com aquilo que deseja torna-se mais difícil. Então para a defesa do consumidor, fica estabelecido algumas informações que devem ser informadas. Ex.: Prazo de validade.
 
4.2.1.3. Monopólio: possibilita que um conjunto de empresas ou uma única determinada empresa manipule o comercio de determinado produto. Muitas vezes para aumentar o lucro, a qualidade diminui desse produto diminui, ou então há aumento nos preços.
 Esses são alguns exemplos de desvios da economia. Dessa maneira, a “mão do governo” vem se tornando mais abrangente, visando garantir os direitos do consumidor e a ampla concorrência.
 4.2.2. Obtenção de recursos para os bens coletivos: 	 Dá-se por meio da tributação. Porém, os tributos passaram a ser utilizados como uma forma de indução, assim como a utilização da renda por eles arrecadada. Ex.: Supondo a construção de uma estrada como uma despesa pública. Essas estradas podem tanto ser construída para ligar bairros de trabalhadores à zona fabril como para ligar a mesma zona à plataformas de exportação. Então, logo, vê-se a existência de uma questão político econômica na obra. Porém, o que geralmente acontece é que as industrias organizam-se e passam a pressionar e influir diretamente nessa decisão, e dessa maneira, muitas vezes, os interesses do público são esmagados pelos interesses privados.
Como Acontece no Brasil
5.1. Anos 60: 
 Desde à década de 60, o Brasil possui uma legislação em defesa da concorrência. Apesar disso, até meados dos anos 1990 ela se mostrava ineficaz principalmente devido às políticas protecionistas à indústria nacional somadas à alta inflação - características econômicas que prevaleceram durante o regime militar. Sua ineficácia demandou certas medidas governamentais, em especial o estabelecimento de preços fixos no mercado: o controle, pelo Estado, dos preços.
5.2. Constituição de 1988:	
 A Constituição Federal de 1988 trouxe mudanças expressivas na política econômica brasileira:
     
 5.2.1. Foram estabelecidos princípios básicos de atuação do Estado na Economia - a sujeição do sistema econômico ao Estado, na forma de proteção contra o abuso econômico;
     
 5.2.2. Na forma de lei, foram criadas funções de fiscalização, incentivo e planejamento, determinantes para o setor público e indicativo para o privado.  
5.3. Órgãos Fiscalizadores da Defesa da Concorrência: 
 Em 11 de junho de 1994, foi promulgada a Lei n°8.884 - que instituiu o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. O SBDC é composto por três órgãos: a Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça; a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), do Ministério da Fazenda; e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (SAE), uma autarquia ligada ao Ministério da Justiça. O objetivo principal do SBDC é a prevenção e repressão das infrações contra a ordem econômica.
 
 5.3.1. No que diz respeito à repressão ao abuso do poder econômico, a lei está sujeita todos - sejam pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado - às normas da concorrência- inclusive empresas estrangeiras que atuem em qualquer ramo no Brasil.
     
 5.3.2. O SBDC atua em duas frentes:
 
 5.3.2.1. No controle das estruturas de mercado, fiscalizando atos que resultem em concentração econômica de qualquer forma: seja por fusões, incorporações, qualquer tipo de agrupamento societário que resulte na participação do grupo/empresa igual ou superior a 20% de um mercado relevante ou em que quaisquer dos participantes tenha tido faturamento bruto anual registrado no último balanço equivalente a R$400 milhões. O CADE avalia os custos e os benefícios da operação. Se os benefícios forem maiores que os custos, a operação é aprovada; caso contrário, a mesma é negada ou até condicionada a certas exigências de mudança estrutural ou tática.
          
 
 5.3.2.2. No controle de condutas, que consiste na apuração de práticas concorrenciais de empresas que detêm poder de mercado. Caso haja suspeita de violação da legislação, a SDE promove a Averiguação Preliminar ou instaura Processo Administrativo, para apurar os fatos; o CADE, com base nos levantamentos dos outros dois órgãos, define se houve infração.
Bibliografia
NUSDEO, Fábio - Curso de Economia – Introdução ao Direito Econômico, 7ª ed. Cap. 9: A POLÍTICA ECONÔMICA E O ORDENAMENTO JURÍDICO
VASCONCELLOS, Marco Antonio S. e GARCIA, Manuel E. - Fundamentos de Economia, 2ª ed. Cap. 3: ECONOMIA E DIREITO

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